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Literatura (7º ano) – Trovadorismo R. Araxá, 260 - Nossa Sra. da Conceição, Paulista - PE, 53425-750 Página 1 de 2 O Trovadorismo: poesia e cortesia No século XII, o período das grandes invasões na Europa havia passado e isso permitiu o ressurgimento das cidades, o progresso econômico e o intercâmbio cultural. Os cavaleiros viram-se de uma hora para a outra sem função social. Era preciso criar para eles um novo papel. A solução desse quadro veio com a idealização de um código de comportamento amoroso, que ficou conhecido como amor cortês. Quem o idealizou foi Guilherme IX, nobre e senhor de um dos mais poderosos feudos da Europa. Esse código transferia a relação de vassalagem entre cavaleiros e senhores feudais para o louvor às damas da sociedade. O projeto literário do Trovadorismo As cantigas dos trovadores buscavam, por meio da literatura, legitimar uma nova ordem social que redefinia o papel dos cavaleiros na corte do senhor feudal, considerando seu contexto de produção, público-alvo e linguagem. Os agentes do discurso Nas cortes dos senhores feudais, centros de atividade artística da Europa medieval, se exibiam os jograis: recitadores, cantores e músicos ambulantes que eram contratados pelo senhor para divertir a corte. As cantigas apresentadas pelos jograis eram compostas, quase sempre, por nobre que se denominavam trovadores, porque praticavam a arte de trovar. Assim, enquanto nos mosteiros e nas abadias circulavam os textos escritos em latim, nos castelos e nas cortes circulava a literatura oral, produzida em língua local, voltada para o deleite dos homens e das mulheres da nobreza e para legitimar o novo papel social assumido pelos cavaleiros. As regras de condita social expressas no código de cavalaria passaram a definir o fazer literário medieval. Foi assim que os princípios básicos desse código – subordinação a Deus e às damas – tornaram-se o centro dos textos literários do período. O Trovadorismo e o público A lírica trovadoresca é uma poesia de sociedade. O seu forte convencionalismo pode ser mais bem entendido se nos lembrarmos da interação constante entre um trovador e seu público. Como testemunhas do comportamento do trovador e da dama a quem ele dirigia seus galanteios, os membros da corte julgavam o comportamento social de ambos. Era função da dama reconhecer e recompensar o trovador que cumprisse todas as regras do amor cortês. Se não fizesse isso, o trovador tinha o direito de denunciá-la publicamente por meio de cantigas satíricas. Outros trovadores também podiam censurar, em suas cantigas, o comportamento inadequado de trovadores que não seguissem as regras do amor cortês. R. Araxá, 260 - Nossa Sra. da Conceição, Paulista - PE, 53425-750 Página2de2 As regras da conduta amorosa Segundo o código do amor cortês, um trovador deveria expressar seus elogios e súplicas a uma mulher da nobreza, casada, que tivesse uma posição social reconhecida. Essa posição social era necessária para que fosse criada, nos textos literários, uma estrutura lírica equivalente à da relação de vassalagem. Por esse motivo, os termos que definiam as relações feudais foram transpostos para as cantigas, caracterizando a linguagem do Trovadorismo: a mulher era a senhora, o homem era o seu servidor; prezava-se a generosidade, a lealdade e, acima de tudo, a cortesia. O amor e a sátira no Trovadorismo As cantigas de amor do Trovadorismo desenvolvem um mesmo tema: o sofrimento provocado pelo amor não correspondido – a coita de amor. Como o princípio do amor cortês é a idealização da dama por seu trovador, os textos não manifestam a expectativa de que esse amor se concretize. As cantigas satíricas abordam uma variedade de temas, sempre expressando um olhar crítico para a conduta de nobres (homens e mulheres) nas esferas individual ou social. Assim, os trovadores podem ridicularizar um nobre que se envolve com uma serviçal ou aqueles que não percebem a traição da esposa. A linguagem da vassalagem amorosa Unindo poesia e música, os textos medievais eram divulgados de forma oral. Esse modo de circulação determinou algumas de suas principais características estruturais, como o emprego de metros regulares e a presença constante de rimas, por facilitarem a memorização das cantigas. Outra característica dessa produção literária era a obediência a algumas regras no uso de termos que definiam a vassalagem amorosa. Uma série de expressões era utilizada para nomear a dama (senhor, mia senhor, senhor fremosa, etc.) em função da posição que ela ocupava socialmente. Também é frequente identificarmos, nas cantigas de amor, a referência aos principais valores da sociedade cortês. Assim, o trovador fala da mesura (mérito, valor) de sua dama, pede que ela reconheça sua cortezia (ou prez) e lhe garanta o galardam (prêmio) a que tem direito por seguir as regras da vassalagem amorosa. As regras do amor Escrito no final do século XII por André Capelão, o Tratado do amor cortês codificou as regras da arte de amar. O texto teve grande circulação e contribuiu para consolidar o amor cortês na Europa. Algumas das regras podem ser identificadas nas cantigas dos trovadores. • O amor sempre abandona o domicílio da avareza. [...]; • A conquista fácil torna o amor sem valor; a conquista difícil dá-lhe apreço. [...]; • Todo amante deve empalidecer em presença da amante. [...]; • Só a virtude torna alguém digno de ser amado. [...]; • Quem é atormentado por cuidados de amor come menos e dorme pouco.