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TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA, EPIDEMIOLÓGICA E NUTRICIONAL NO BRASIL MIRELE VICENTE NUTRICIONISTA COMPORTAMENTAL MESTRE EM CONSUMO - UFRPE ESPECIALISTA EM SAÚDE PÚBLICA UNIFAVIP - PE GRADUADA EM NUTRIÇÃO PELA UNIFAVIP – PE GRADUADA EM GASTRONOMIA PELA UNIFAVIP - PE SAÚDE NO BRASIL Transformações sociais e econômicas Mudanças nas condições de vida Mudanças no Padrão de Saúde População Brasileira Transição O QUE É TRANSIÇÃO? DEMOGRÁFICA •Mortalidade •Fecundidade •Urbanização EPIDEMIOLÓGICA •Mortalidade •Morbidade NUTRICIONAL •Padrão da dieta •Atividade física TRANSIÇÃO PASSAGEM DE UM ESTADO A OUTRO TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA • Processo no qual ocorrem alterações nas características demográficas da população. Redução da mortalidade Redução da fecundidade Aumento da expectativa de vida + Envelhecimento populacional Melhorias nas condições de vida da população TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA • Caracterizada pela redução das prevalências das doenças infecciosas e parasitárias e aumento das doenças crônicas não transmissíveis. • Associadas à desnutrição, fome, falta de saneamento básico, pobreza. Doenças Infecciosas e parasitárias • Associadas a um padrão de vida mais urbano, industrializado. Doenças crônicas não transmissíveis PRINCIPAIS CAUSAS DE MORTE NO MUNDO E NO BRASIL Quando analisamos os grupos de doenças, as Causas Externas (homicídios, suicídios e acidentes de trânsito) ocupam a 2ª causa de mortes no Brasil. CARACTERÍSTICAS IMPORTANTES - A mortalidade por doenças cardiovasculares difere de um padrão moderno pela alta mortalidade em adultos jovens, principalmente homens; - Mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias ainda elevada, particularmente nas idades mais jovens; - Na mortalidade por causas externas observa-se um predomínio dos óbitos por homicídios em relação aos acidentes de trânsito; - As neoplasias constituem importante causa de óbitos (mama, pulmão e estômago), contudo, tumores de colo de útero e pênis, relacionados às precárias condições de higiene, ainda apresentam altos índices. TRANSIÇÃO NUTRICIONAL • Mudanças no padrão alimentar e de atividade física da população, que se refletem em mudanças na composição corporal e estatura dos indivíduos. Dieta rica em açúcar, gordura, sódio e pobre em fibras Redução da atividade física e atividades de lazer ao ar livre Aumento de peso e das doenças crônicas não- transmissíveis TRANSIÇÃO NUTRICIONAL • Popkin e colaboradores (2002) descreveram cinco padrões nutricionais: •Marcada pela caça aos alimentos •Alimentação é rica em carboidratos e fibras e pobre em gorduras, principalmente saturadas •Pessoas são mais ativas, com reduzida ocorrência de excesso do peso 1. Busca por alimentos •Alimentação em menor quantidade e menos variada • Períodos com escassez de alimentos •Déficit nutricional e redução na estatura 2. Escassez de alimentos (fome) •Consumo de frutas, vegetais e proteína animal prevalecia ao consumo de cereais •Redução da fome •Predomínio da inatividade 3. Redução da fome TRANSIÇÃO NUTRICIONAL •Alimentação é rica em gordura total, colesterol, açúcares e outros carboidratos refinados e pobre em gorduras poli-insaturadas e fibras •Aumento do sedentarismo •Aumento da obesidade e das DCNT 4. Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) • Redução da prevalência de obesidade e DCNT • Substituição do sedentarismo por atividades programadas e de lazer 5. Mudança de comportamento Estes padrões variam no tempo e no espaço TRANSIÇÃO NUTRICIONAL Algumas populações sofrem de fome (padrão 2); outras a estão superando (padrão 3); outras estão em padrões crescentes de DCNT (padrão 4) e poucas estão apresentando mudanças comportamentais significativas (padrão 5). Neste processo, diferentes subpopulações de um país também podem apresentar diferentes padrões e, ainda, compartilhar características de mais de um padrão. No Brasil, isso torna-se complexo e significante por seu tamanho continental e variabilidade regional. TRANSIÇÃO NUTRICIONAL EM PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO... • Processo de transição iniciou após os países desenvolvidos e ocorreu em maior ritmo que nestes (rápida passagem do padrão 3 para o 4); • Os primeiros atingidos pela oferta dos alimentos relacionados com o excesso de peso e doenças crônicas e pelos bens de consumo (sedentarismo) são os mais ricos; • Com o tempo, estes se informam sobre a necessidade de ter hábitos alimentares e estilos de vida saudáveis, e começam a mudar; • Paralelamente, aqueles alimentos e bens de consumo tornam-se mais acessíveis aos estratos mais pobres; POPKIN, 1998 TRANSIÇÃO NUTRICIONAL EM PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO... • Tais estratos passam a apresentar maiores taxas de excesso de peso e doenças crônicas associadas; • O rápido crescimento das prevalências de excesso de peso e doenças crônicas associadas coexiste com problemas relacionados com doenças infecciosas e desnutrição (dupla carga de doenças); • Maior impacto nos setores da saúde e economia; • Populações biologicamente mais vulneráveis e os governos não preparados para enfrentar estas mudanças; • Em pouco tempo os países em desenvolvimento atingiram taxas de sobrepeso e obesidade equivalentes às dos EUA e da Europa Ocidental. POPKIN, 1998 ENTÃO A TRANSIÇÃO NUTRICIONAL... • Determinada por uma série de variações econômicas, demográficas, ambientais e socioculturais→ alteram o perfil de saúde do indivíduo; • Contribuem para a redução da desnutrição: melhoria das condições de vida, maior acesso a serviços de saúde e melhoria no saneamento básico. • Contribuem para o aumento do excesso de peso: urbanização, renda, escolaridade, paridade, história familiar, fatores psicossociais, alimentação, atividade física, etc. Dietas tradicionais → Alimentos ultraprocessados Atividade física intensa → Sedentarismo ↑ Peso + ↑ Doenças crônicas não transmissíveis • Influenciam mudanças no consumo alimentar: • Maior oferta (quantidade e variedade) de alimentos, principalmente os ultraprocessados; • Produtos com maior validade (conservação) X produtos frescos e perecíveis; • Menor compatibilidade entre trabalho e preparação de refeições em domicílio → refeições rápidas, prontas para comer ou assar; • Maior poder de compra; • Maior influência da mídia; • Ambiente alimentar; • Maior utilização de bens de consumo que propiciam o sedentarismo, inclusive para preparo dos alimentos. INQUÉRITOS NACIONAIS DE ANTROPOMETRIA E CONSUMO ALIMENTAR As principais Pesquisas Nacionais PERFIL NUTRICIONAL DA POPULAÇÃO BRASILEIRA – COMO MENSURAR? Índices nutricionais obtidos por medidas antropométricas: • Peso/Idade • Altura/Idade • Peso/Altura Crianças • Altura/Idade • Índice de Massa Corporal/IdadeAdolescentes • Índice de Massa CorporalAdultos e idosos A avaliação destes índices deve seguir os pontos de corte recomendados para a faixa etária AS PRINCIPAIS PESQUISAS NACIONAIS • Estudos populacionais: conhecer o problema no período e analisar sua evolução • Estudo Nacional de Despesa Familiar (ENDEF): 1974-75 • Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN): 1989 • Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde (PNDS): 1986, 1996 e 2006 • Pesquisas de Orçamentos Familiares (POFs): 1986-87;1995-96; 2002-03; 2008-09 e 2017-18 • Pesquisa Nacional de Saúde (PNS): 2013 • Vigilância dos Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL): anual • Estudos locais, regionais e/ou estaduais. • Coleta sistemática e contínua dos serviços de saúde • Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) • O Brasil possui ainda informação escassa sobre o consumo alimentar de sua população, ainda assim, esses dados permitem traçar um perfil do comportamento alimentar do brasileiro e suas tendências de modificações. ESTUDO NACIONAL DE DESPESA FAMILIAR – ENDEF 1974-75 • Realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) teve como objetivos: ücoletardados relevantes sobre orçamentos familiares (rendimentos e despesas); üconsumo alimentar, aferido por pesagem direta do alimento no domicílio; üavaliação nutricional da população brasileira (peso e altura). • Seu principal foco era a análise da situação nutricional, tendo por base um quadro de orçamentos familiares, pois já se entendia que a pobreza era a principal causa da subnutrição. PERFIL NUTRICIONAL – ENDEF 1974-75 Tabela 1 – Porcentagem da população adulta brasileira por estado nutricional, segundo Regiões do Brasil. ENDEF, 1974-75. CONSUMO ALIMENTAR – ENDEF 1974-75 o O ENDEF (1974-75) revelou que o grande problema alimentar do brasileiro na época era a restrição energética da dieta e não a restrição proteica. Revelou ainda que grande parte das famílias brasileiras se alimentava pouco e mal. o Os dados do ENDEF revelaram ainda, o peso da alimentação no orçamento das famílias brasileiras. Para as famílias de baixa renda, a alimentação representava 51% dos gastos domésticos, enquanto para as famílias mais ricas, o peso da alimentação era apenas 6,1% do orçamento familiar. PESQUISA NACIONAL DE SAÚDE E NUTRIÇÃO – PNSN 1989 • Realizada pelo Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN) com a colaboração do IPEA e IBGE, teve como objetivo a avaliação do estado nutricional da população: ücoletou dados de peso e altura de todos os indivíduos residentes nos domicílios pesquisados. PERFIL NUTRICIONAL – PNSN 1989 o PNSN 1989: os resultados permitem verificar o aumento da prevalência de excesso de peso e redução do baixo peso no período de 1975 a 1989. Tabela 2 – Prevalência de baixo peso, sobrepeso e obesidade na população adulta e idosa, segundo Índice de Massa Corporal, por sexo, em dois estudos nacionais. ENDEF (1974-1975) e PNSN (1989). PESQUISA NACIONAL DE DEMOGRAFIA E SAÚDE – PNDS 1996 • Realizada pela BEMFAM (Sociedade Civil Bem-estar Familiar no Brasil) em 1996, teve duas outras edições, uma em 1991, na Região Nordeste e outra em 1986, de caráter nacional. üvisavam obter informações sobre fecundidade, saúde materno infantil e características socioeconômicas da população entrevistada - mulheres de 15 a 49 anos. o A PNDS 1996 mostrou níveis menores de desnutrição infantil no Brasil: 5,7% de déficit de peso para a idade e 10,5% de déficit de altura por idade. o As diferenças de prevalência entre as regiões permaneceram, sendo a Região Nordeste a mais afetada (17,9% de déficit de estatura/idade) o Observou-se ainda um maior nível de desnutrição entre crianças de mães com menor escolaridade e moradoras da área rural. PESQUISA DE ORÇAMENTOS FAMILIARES – POF 1986-87; 1995-96; 2002-03; 2008-09; 2017-18 • Realizada pelo IBGE, a POF é uma pesquisa periódica, de metodologia parecida com o ENDEF que tem como objetivo: • Mensurar as estruturas de consumo, dos gastos e dos rendimentos das famílias; • consumo alimentar: quantidades adquiridas de alimentos e bebidas para consumo no domicílio; despesas com alimentação no domicílio e fora dele; • medidas antropométricas da população (peso e altura). • A POF permite identificar ainda os tipos de estabelecimentos em que são realizadas as refeições fora do domicílio, formas de obtenção dos produtos alimentícios, entre outras. PERFIL NUTRICIONAL E DE CONSUMO ALIMENTAR – POF 2002-03; 2008-09 o POF 2008-09: mostrou que as prevalências de excesso de peso e obesidade aumentam continuamente ao longo dos quatro inquéritos nos dois sexos. PERFIL NUTRICIONAL E DE CONSUMO ALIMENTAR – POF 2002-03; 2008-09 o A POF 2002-03 mostra a evolução da participação relativa de grupos alimentares no total de calorias diárias da população brasileira, com redução no consumo de cereais e derivados, verduras e legumes e do feijão, e aumento do consumo de óleos e gorduras e refeições prontas industrializadas. Tabela 5 – Evolução da participação relativa (%) de grupos de alimentos no total de calorias determinado pela aquisição alimentar domiciliar. Brasil, POF 2002-2003. PERFIL NUTRICIONAL E DE CONSUMO ALIMENTAR – POF 2002-03; 2008-09 o Quanto ao consumo de energia, dados da POF 2008-09 mostraram que os grupos populacionais que reportaram o consumo de biscoitos recheados, salgadinhos industrializados, pizzas, doces e refrigerantes apresentaram as maiores médias de consumo de energia quando comparadas com a média populacional. PESQUISA NACIONAL DE SAÚDE – PNS 2013 • Realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da Educação, a PNS é uma pesquisa de base domiciliar, de âmbito nacional e deverá ter uma periodicidade quinquenal. O inquérito foi composto por três questionários com os seguintes focos: üDomiciliar: referente às características do domicílio; üO relativo a todos os moradores do domicílio; ü Individual: respondido por um morador adulto (18 anos ou +) do domicílio, com enfoque às principais doenças crônicas não transmissíveis, aos estilos de vida, e ao acesso ao atendimento médico. O mesmo teve o peso, a altura, a circunferência da cintura e a pressão arterial aferidos. • Um dos grandes destaques da PNS é que, pela primeira vez em um inquérito de saúde de âmbito nacional, foram coletadas amostras biológicas para realização de exames laboratoriais (perfil lipídico, hemograma, urina para dosar sódio, potássio e creatinina). PESQUISA NACIONAL DE SAÚDE – PNS 2013 • Realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da Educação, a PNS é uma pesquisa de base domiciliar, de âmbito nacional e deverá ter uma periodicidade quinquenal. O inquérito foi composto por três questionários com os seguintes focos: üDomiciliar: referente às características do domicílio; üO relativo a todos os moradores do domicílio; ü Individual: respondido por um morador adulto (18 anos ou +) do domicílio, com enfoque às principais doenças crônicas não transmissíveis, aos estilos de vida, e ao acesso ao atendimento médico. O mesmo teve o peso, a altura, a circunferência da cintura e a pressão arterial aferidos. • Um dos grandes destaques da PNS é que, pela primeira vez em um inquérito de saúde de âmbito nacional, foram coletadas amostras biológicas para realização de exames laboratoriais (perfil lipídico, hemograma, urina para dosar sódio, potássio e creatinina). PESQUISA NACIONAL DE SAÚDE – PNS 2013 SISTEMA DE VIGILÂNCIA DOS FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO PARA DOENÇAS CRÔNICAS POR INQUÉRITO TELEFÔNICO (VIGITEL) • O VIGITEL faz parte das ações do Ministério da Saúde para estruturar a vigilância de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no país. • O VIGITEL tem como objetivo monitorar a frequência e a distribuição de fatores de risco e proteção para doenças crônicas não transmissíveis em todas as capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal. • Todo ano são realizadas entrevistas telefônicas em amostras da população adulta (18 anos ou mais) residente em domicílios com linha de telefone fixo. ALGUNS RESULTADOS DO VIGITEL ALGUNS RESULTADOS DO VIGITEL OBRIGADA! BOM DESCANSO REFERÊNCIAS • BATISTA FILHO, M.; RISSIN, A. A transição nutricional no Brasil: tendências regionais e temporais. Cad. Saúde Pública. 2003; 19 (supl.1): S181-S191. • BATISTA FILHO, M.; ASSIS, A. L. de; KAC, G. Transição Nutricional: conceitos e características. In: KAC, Gilberto (org.). Epidemiologia Nutricional. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz/Atheneu, 2007. • MONTEIRO et al. Causas do declínio da desnutrição infantil no Brasil. Rev. Saúde Pública. 2009; 43(1): 35-43. • POPKIN, B. M. The nutrition transition and its health implications in lower-income countries. Public Health Nutr. 1998; 1 (1): 5-21. REFERÊNCIAS • PRIORI, S. E. et al. Inquéritos Nacionais de Antropometria e Consumo Alimentar. In: Nutrição em Saúde Pública. José Augusto Aguiar Taddei et al. 2. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Rubio, 2016. • Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças não Transmissíveis. Vigitel Brasil 2018: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicaspor inquérito telefônico : estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2018 / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças não Transmissíveis. – Brasília: Ministério da Saúde, 2019. 132.: il.