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FISIOTERAPIA CARDIOVASCULAR OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Identificar quais são os fatores de risco para doença cardiovascular. > Listar as modalidades fisioterapêuticas utilizadas na prevenção dos fatores de risco de doença cardiovascular. > Formular intervenções preventivas com foco nos fatores de risco de doença cardiovascular. Introdução É importante que o fisioterapeuta que trabalha na linha de prevenção conheça os fatores que podem desencadear a doença cardiovascular. Existem fatores modificáveis e fatores não modificáveis. Os programas de prevenção atuam sobre os fatores modificáveis, de forma a oferecer melhor qualidade de vida aos pacientes e melhor saúde geral. Fisioterapia cardiovascular na prevenção dos fatores de risco de doença cardiovascular Lucimara Ferreira Magalhães Ante os fatores de risco principais, a fisioterapia pode atuar de forma multi- disciplinar, dando apoio e oferecendo meios para que o indivíduo se exercite e tome atitudes saudáveis em relação ao seu corpo e aos seus hábitos diários. Dessa forma, a prevenção pode ser o melhor meio para reduzir os fatores de risco, mesmo daqueles que já têm algum distúrbio. A intervenção no nível da prevenção promove grandes ganhos, não só para os pacientes e profissionais, mas também para o Estado de forma geral, visto que as doenças cardiovasculares são consideradas um problema de saúde pública. Neste capítulo, você vai estudar os fatores de risco para doença cardiovas- cular. Você também vai conhecer as modalidades fisioterapêuticas utilizadas na prevenção dos fatores de risco de doença cardiovascular. Além disso, vai ver como formular intervenções preventivas com foco nesses fatores. Fatores de risco para doença cardiovascular A doença cardiovascular é de origem multifatorial e sistêmica; ela envolve a saúde do sistema cardiovascular por fatores hereditários, ambientais e comportamentais (UMEDA, 2014). Esse tipo de doença pode ser ocasionado tanto por fatores de risco modificáveis quanto por fatores de risco não modifi- cáveis. Os fatores modificáveis são todos aqueles que dependem do estilo de vida do indivíduo, como alimentação e sedentarismo. Já os não modificáveis consistem nos fatores hereditários e, algumas vezes, nos fatores ambientais (quando o indivíduo não tem a opção de mudar o ambiente em que vive). Entre os fatores de risco, estão a hipertensão arterial, a dislipidemia, o diabetes e o tabagismo. De acordo com a literatura, a adição desses fatores promove o aumento do risco de incidência de doenças cardíacas. Esses fatores de risco podem ser indicados por características biológicas, anatômicas, fisiológicas, metabólicas e comportamentais (UMEDA, 2014). Há várias formas de prevenir doenças cardiovasculares. No geral, a preven- ção visa à redução da morbidade e da mortalidade dos indivíduos. A prevenção também preconiza a melhora da qualidade e da expectativa de vida dos idosos. Assim, os programas de prevenção estão voltados à identificação dos fatores de risco e às possíveis mudanças que podem ser adotadas. A literatura aponta que modificações dos estilos de vida associadas à redução dos fatores de risco podem contribuir para a prevenção e retardar o desenvolvimento de doenças cardíacas no geral (UMEDA, 2014). O sedentarismo é um fator de risco importante, e os seus efeitos são revertidos por meio do exercício físico e de seus benefícios. A população tem despendido mais tempo em atividades estáticas, que exigem as menores Fisioterapia cardiovascular na prevenção dos fatores de risco de doença...2 adaptações do sistema vascular. Essas posições promovem também a redução das atividades metabólicas e regenerativas, levando o organismo ao déficit geral causado pelo sedentarismo (UMEDA, 2014). A atividade física é uma das ações mais benéficas para a prevenção de doenças cardiovasculares. De acordo com a literatura, os exercícios físicos agudos e crônicos promovem benefícios cardiovasculares, metabólicos e anatômicos. Essas ideias reforçam as evidências de que o exercício é uma das intervenções não farmacológicas mais importantes no que diz respeito à prevenção de doenças cardiovasculares (UMEDA, 2014). A literatura aponta também que esses mesmos exercícios são importantes para o tratamento de doenças como hipertensão arterial, dislipidemia, dia- betes, resistência à insulina e obesidade. Além disso, o exercício é indicado para a síndrome metabólica, que consiste na presença de mais de um dos fatores de risco citados anteriormente (UMEDA, 2014). A seguir, você vai estudar cada um dos fatores de risco associados ao risco de doenças cardiovasculares. Além disso, vai verificar a relação do sedentarismo com esses fatores e com o risco de doença cardiovascular. Tenha em mente que os hábitos alimentares são importantes aliados na prevenção das doenças cardiovasculares. Como você sabe, a sociedade atual tem preferido o consumo de fast-foods, que têm muitas calorias e gorduras e poucos nutrientes. Esse tipo de alimentação aumenta a massa gorda dos indivíduos, complicando ainda mais os casos. A simultaneidade dos fatores de risco tem grande importância no campo da prevenção de doenças cardiovasculares. Os cuidados preventivos são importantes principalmente quando se trata do público idoso. No geral, os fatores de risco mais incidentes costumam ser a má alimentação associada ao sedentarismo, o consumo de álcool e o tabagismo. Para saber mais sobre esse assunto, leia o artigo “Prevalência e simultanei- dade de fatores de risco cardiovasculares em idosos participantes de um estudo de base populacional no sul do Brasil”, de Medeiros et al. (2019). Esse artigo está disponível on-line; para encontrá-lo, utilize o seu site de buscas preferido. Síndrome metabólica A síndrome metabólica consiste na combinação de fatores de risco, como resistência à insulina, hiperinsulinemia, altos níveis de triglicérides (TG) plasmáticos e redução da lipoproteína de alta densidade (HDL) no plasma. A Fisioterapia cardiovascular na prevenção dos fatores de risco de doença... 3 Organização Mundial de Saúde e o National Cholesterol Education Program’s Adult Treatment Panel III formularam definições para abranger a síndrome metabólica. De acordo com eles, ocorre síndrome metabólica quando: a circunferência abdominal é >102cm para homens e >88cm para mulheres; os triglicerídeos são ≥150mg/dL; o HDL é >40mg/dL em homens e >50mg/dL em mulheres; a Pressão Arterial (PA) é ≥130mmHg ou ≥85mmHg; a glicemia de jejum é ≥110mg/dL (UMEDA, 2014). Assim, as avaliações — relativas tanto aos fatores já conhecidos pelo indivíduo, como hipertensão arterial e exames laboratoriais alterados, quanto às medidas de perimetria abdominal — podem constatar os riscos para o desenvolvimento da doença ou a confirmação dela. Entre todas as medidas, a única que pode ser realizada de forma direta pela fisioterapia é a perimetria abdominal. Ela é feita por meio da marcação dois dedos acima da cicatriz umbilical e da utilização de uma fita métrica para medir a circunferência abdominal. Esse tipo de controle é essencial, visto que uma intervenção voltada para os exercícios físicos e o aumento do gasto energético pode contribuir para a redução desse fator. Assim, o fisioterapeuta que realiza esse tipo de programa de exercícios pode acompanhar periodicamente as condições do indivíduo, assim como avaliar os exames laboratoriais que ele traz após consultar com seu médico especialista. Diabetes melito O diabetes melito é uma doença que causa deficiência total ou parcial de insulina ou da ação dela. Assim, a falta de insulina leva ao aumento do nível de glicose no sangue e também a alterações no metabolismo de gorduras e proteínas. O diabetes pode ser classificado em dois tipos, o 1 e o 2. Há ainda condições em que ele aparece durante a gestação ou em situações adversas (UMEDA, 2014). O tipo 1, também chamado de “insulinodependente”, é de origem autoimune e é mais comum em criançase adolescentes. Nesse tipo de diabetes, há a presença de anticorpos anti-insulina, antidescarboxilase do ácido glutâmico e anti-ilhota pancreática. Quando os níveis das ilhotas são comprometidos em 90% ou mais, acontece também o aumento dos níveis de glicose e glucagon no plasma. Os pacientes com essa doença apresentam sintomas como: poliúria, polifagia, polidipsia, emagrecimento e visão turva (UMEDA, 2014). Fisioterapia cardiovascular na prevenção dos fatores de risco de doença...4 O diabetes tipo 2 é o tipo mais comum e é considerado uma epidemia a nível mundial. Normalmente, está presente em indivíduos acima dos 40 anos de idade e quase sempre está associado à obesidade. Resistência insulínica, altos níveis de glicemia e TG são observados nessa doença. As células betapan- creáticas se apresentam hipertrofiadas, fazendo com que a hiperinsulinemia leve à dessensibilização dos receptores para a insulina (UMEDA, 2014). O diabetes tipo 2 também pode estar presente em indivíduos magros, pois eles podem ter a resistência pós-receptor de insulina, que faz com que os níveis de insulina caiam. Esse tipo de paciente responde bem a dietas e programas de exercícios. Além disso, esses pacientes podem fazer uso, desde que prescrito por médico, de hipoglicemiantes orais e não necessitar do uso direto da insulina (UMEDA, 2014). Dislipidemia A dislipidemia é uma doença que causa alterações metabólicas lipídicas. Essas alterações podem acontecer devido a distúrbios originados em qualquer fase do metabolismo dos lipídios. Elas podem envolver os níveis séricos de lipoproteínas e concentrações dos componentes, levando a maiores com- plicações. Para o diagnóstico dessa condição, é realizado o exame de perfil lipídico, para verificar as concentrações dos principais lipídios sanguíneos (UMEDA, 2014). Entre os principais lipídeos, estão TG, colesterol e fosfolipídeos. Os TG e o colesterol constituem as lipoproteínas, e os fosfolipídeos e o coleste- rol livre estão dispostos sobre a superfície dessas lipoproteínas. Assim, as lipoproteínas podem ser classificadas em quilomícrons, lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL), lipoproteínas de baixa densidade (LDL), lipoproteínas de densidade intermediária (IDL) e HDL (UMEDA, 2014). Dessa forma, são estabelecidos valores de referência para classificar a dislipidemia em adultos. Veja no Quadro 1, a seguir. Fisioterapia cardiovascular na prevenção dos fatores de risco de doença... 5 Quadro 1. Valores de referência para o diagnóstico de dislipidemias em adultos Lípides Valores Categorias Colesterol total 60 Alto TG >150 Ótimo 150–200 Limítrofe 201–499 Alto 500 Muito alto Fonte: Adaptado de Umeda (2014). O risco de doenças cardiovasculares está relacionado com o aumento dos níveis de colesterol total, TG e LDL. Para o HDL, o risco é inversamente proporcional, ou seja, quanto menor é o seu nível, maior é o risco de doenças cardiovasculares. As dislipidemias podem estar associadas a problemas genéticos, caso em que são chamadas de “primárias”, ou a problemas se- cundários, como: diabete, síndrome nefrótica, insuficiência renal crônica, hipotireoidismo e ingestão de álcool e drogas (UMEDA, 2014). Hipertensão arterial sistêmica A hipertensão arterial é a doença que afeta as estruturas das artérias e do miocárdio. Assim, a doença afeta as condições sistêmicas do indivíduo Fisioterapia cardiovascular na prevenção dos fatores de risco de doença...6 provocando a disfunção do endotélio, o aumento da constrição vascular e o remodelamento da musculatura lisa dos vasos. A hipertensão arterial é de- finida no público adulto quando a pressão sistólica atinge mais de 140mmHg, acompanhada ou não da pressão diastólica maior ou igual a 90mmHg por duas vezes ou mais, na ausência de medicação específica para a hipertensão (UMEDA, 2014). No Quadro 2, veja a classificação da PA de acordo com os valores da literatura. Quadro 2. Classificação da PA em adultos Classificação Sistólica (mmHg) Diastólica (mmHg) Ótimatendem a desenvolver ações deletérias na parede vascular, no sistema de coagulação e nos lípides. Os mecanismos mais citados são (UMEDA, 2014): � alterações eletrofisiológicas nos compartimentos cardíacos; � efeito pró-coagulante, provocado pelo aumento de fibrinogênio, pela ativação de plaquetas e pelo aumento das hemácias; � aumento das catecolaminas na circulação; � alterações metabólicas, como redução do HDL, aumento do LDL, oxi- dação do LDL e resistência à insulina; � disfunção do endotélio e estresse oxidativo; � espessamento do endotélio e formação de placas; � aumento da homocisteína no plasma; � redução de vitaminas C e E. O tabagismo é um dos fatores de risco mais importantes para o risco de doenças cardiovasculares. É importante lembrar que ele é um fator de risco modificável e que pode reduzir em 50% o risco de morte por doenças relacionadas ao fumo quando o indivíduo para de fumar antes dos 50 anos de idade. Além disso, o risco de câncer de pulmão é reduzido de 30 a 50% após 10 anos de abstinência. Com relação às doenças cardiovasculares, o risco de morte se reduz pela metade quando o indivíduo passa um ano sem o fumo (UMEDA, 2014). A nicotina promove dependência física, psicológica e condicionamento, o que leva a associações do fumo com hábitos, fazendo com que os indivíduos relacionem dadas situações ao consumo. O tratamento para esses indivíduos deve envolver uma terapia cognitivo-comportamental e tem a finalidade de informar os riscos que eles correm ao continuar fumando e os benefícios que os esperam ao enfrentar o fim do tabagismo. Assim, é construída uma terapia Fisioterapia cardiovascular na prevenção dos fatores de risco de doença... 9 de apoio ao processo de cessação e, algumas vezes, é necessária a terapia medicamentosa para auxiliar no tratamento (UMEDA, 2014). Você conheceu os principais fatores de risco para doenças cardiovas- culares, mas outras condições também podem afetar os indivíduos nesse sentido. É importante que os profissionais de saúde, principalmente os da atenção primária e os que lidam diretamente com problemas cardiovasculares, conheçam as diretrizes de prevenção de doenças cardiovasculares e saibam como lidar com os pacientes afetados por essas doenças. Leia na íntegra a Atualização da Diretriz de Prevenção Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2019 (PRÉCOMA et al., 2019). Esse texto está disponível on-line; para encontrá-lo, utilize o seu site de buscas preferido. Prevenção dos fatores de risco de doenças cardiovasculares por meio da fisioterapia A fisioterapia é uma das áreas que atuam multidisciplinarmente para a pre- venção da incidência de doenças cardiovasculares. Além disso, a fisioterapia pode atuar na prevenção de agravos ou da evolução de condições em que já há alguma alteração característica da doença ou a doença propriamente dita. É importante ressaltar que a prevenção antes dos distúrbios tem melhor prognóstico; no entanto, não se desconsidera a prevenção na tentativa de retardar os fatores ou os distúrbios, pois ela também é eficaz. Nesse sentido, a fisioterapia pode atuar na atenção primária, promovendo o controle dos fatores de risco para as doenças cardiovasculares. A literatura aponta que a fisioterapia também pode auxiliar na redução dos sintomas e/ou na desaceleração do desenvolvimento de doença cardiorrespiratória e cardiovascular que possa agravar o caso. Embora o foco da fisioterapia para os dois tipos de pacientes seja parecido, a denominação pode mudar. Os clientes são aqueles indivíduos que ainda não têm a patologia instalada e buscam apenas a prevenção das doenças. Já os pacientes são aqueles em que uma ou mais alterações e fatores de risco já estão instalados (DETURK; CAHALIN, 2007). No geral, o paciente pode apresentar os sintomas de descondicionamento e indícios de doenças cardiorrespiratórias, o que pode ser fator de risco para as doenças cardiovasculares; esses sintomas e indícios costumam ter bom prognóstico com a intervenção da fisioterapia. O descondicionamento está relacionado com a redução da capacidade aeróbia do indivíduo, que pode Fisioterapia cardiovascular na prevenção dos fatores de risco de doença...10 ocasionar a incapacidade e a dependência caso o agravo seja maior (DETURK; CAHALIN, 2007). Os pacientes e clientes da fisioterapia podem contar com um rol enorme de modalidades para contemplar suas necessidades de forma a prevenir agravos e melhorar as condições de saúde e qualidade de vida no geral. O desfecho do atendimento fisioterapêutico também pode ser variado. A fisioterapia pode atender pacientes em nível ambulatorial, como: os pacientes que acabaram de fazer alguma cirurgia ou foram internados por pro- cessos agudos relacionados ou não a doenças cardiovasculares; os pacientes que fizeram todo o descrito anteriormente, mas se encontram no ambiente domiciliar; os pacientes que se encontram em programas para redução de peso e aconselhamento nutricional; e os pacientes que se encontram no âmbito da prática clínica, já em tratamento para alguma patologia associada, como as cardiorrespiratórias e as cardiovasculares (DETURK; CAHALIN, 2007). Exercícios aeróbios A prática de atividade física em geral promove a prevenção dos fatores de risco e das doenças cardiovasculares. A atividade física promove benefícios como: redução da porcentagem de gordura no corpo, redução da PA, melhora do perfil lipídico e da sensibilidade insulínica, melhora do gasto energético, melhora da força e da massa muscular, melhora da capacidade cardiorres- piratória, melhora da flexibilidade e melhora do equilíbrio. Mas é preciso ressaltar que os exercícios aeróbios indicados para a prevenção e para o tratamento são de diferentes intensidades. Dessa forma, observa-se também a escalonação dos resultados de acordo com as quantidades praticadas da atividade (COELHO; BURINI, 2009). É importante ressaltar que o trabalho com exercícios é realizado também por profissionais de educação física, visando ao condicionamento geral. Assim, as duas profissões são separadas por linhas tênues, mas bem definidas. A fisioterapia trabalha mais com os indivíduos no âmbito da prevenção e do tratamento voltado para as disfunções e doenças que acometem os sistemas cardiovascular e cardiorrespiratório. Os exercícios aeróbios utilizam grandes grupos musculares. Neles, há pre- dominância do uso da via glicolítica, isto é, há consumo de grande quantidade de oxigênio. Além disso, os exercícios aeróbios são desenvolvidos de média a moderada intensidade e por longos períodos de tempo, fisiologicamente falando (por mais de 20 minutos), diferindo, assim, dos outros tipos de trei- namentos. Os exercícios aeróbios são aqueles que treinam as capacidades Fisioterapia cardiovascular na prevenção dos fatores de risco de doença... 11 respiratórias e funcionais do indivíduo, como caminhada, corrida, ciclismo e natação. Em programas enquadrados em outras categorias, também pode haver o treino aeróbio, o que faz com que ele seja considerado universal e de extrema importância para a prevenção de agravos e a manutenção da saúde (COELHO; BURINI, 2009). Os treinos podem ser planejados pelo fisioterapeuta a partir de aqueci- mentos, associados a alongamentos e exercícios de respiração para preparar o corpo para a atividade um pouco mais intensa. Após o aquecimento, realiza-se o desenvolvimento da atividade, no qual se pratica o treinamento aeróbio em si. Após o término da atividade proposta, o indivíduo realiza ainda o relaxamento ou descanso passivo, que pode consistir em exercícios leves e suaves, associados ou não à respiração, de forma a retornar os parâmetros vitais às taxas basais (COELHO; BURINI, 2009). O treinamento aeróbio é peça-chave na prevenção de doenças car- diovasculares no âmbito da fisioterapia, visto que seus efeitos atuam diretamente no sistema de modo a atenuar os fatores de risco. Dessa forma, é comum que o fisioterapeuta desenvolvaatividades em grupo em planos de prevenção, utilizando basicamente as métricas aqui propostas. Exercícios resistidos Os exercícios resistidos consistem em movimentos aplicados a diversos tipos de resistências. As resistências mais comuns costumam ser os halteres e as caneleiras, pois são de fácil acesso ao fisioterapeuta e de alto custo–benefício. Outros tipos de materiais podem ser empregados pelo fisioterapeuta, como aparelhos de academia, polias com pesos adaptados, molas, elásticos e ob- jetos adaptados com pesos. Assim, a partir dos exercícios resistidos, podem ser desenvolvidos diversos tipos de treinamentos, preconizando as regiões mais importantes, o que depende das necessidades dos pacientes (QUEIROZ; KANEGUSUKU; FORJAZ, 2010). É importante ressaltar que a continuidade da atividade física, principalmente a voltada aos exercícios resistidos e aos trei- nos para hipertrofia, faz parte do âmbito do profissional de educação física. Entre os exercícios que podem ser desenvolvidos e que também podem ser associados ao treinamento aeróbio, estão os treinos intervalados que associam os dois tipos de modalidades e também os treinos voltados a grandes grupos musculares. Esses exercícios tendem a aumentar a resistência Fisioterapia cardiovascular na prevenção dos fatores de risco de doença...12 muscular e melhorar as capacidades de forças globais. Por esses motivos, eles são os mais indicados para o público idoso: por meio desses treinos, além de se beneficiarem dos efeitos fisiológicos diretos no sistema cardio- vascular, os idosos melhoram suas capacidades e aumentam sua qualidade e sua expectativa de vida (QUEIROZ; KANEGUSUKU; FORJAZ, 2010). Esses são treinos próximos aos que a população saudável realiza com o profissional de educação física. No entanto, compete à fisioterapia tratar e prevenir as disfunções, de modo que os pacientes com fatores de risco para doença cardiovascular são atendidos pelo fisioterapeuta. Pilates O pilates consiste em treinos de exercícios de resistência e alongamento baseados no uso de aparelhos, molas e elásticos. Essa atividade, como o treino resistido, proporciona a melhora da resistência do indivíduo. No en- tanto, essa modalidade não visa à hipertrofia, assim como é observado na maior parte dos treinos resistidos. É garantido o ganho de alguma massa muscular, mas os indivíduos praticantes são vistos com padrão normolíneo corporal (JUNGES; JACONDINO; GOTTLIEB, 2015). Além de incluir muitos exercícios de resistência e alongamento, o pilates também promove exercícios de respiração em todo ou quase todo o seu treino. É preconizado o padrão correto de respiração, que visa ao enchimento e ao esvaziamento pulmonar de forma mista e não viciosa. O pilates trabalha com a postura e a flexibilidade, e os praticantes obtêm inúmeros benefícios nas atividades diárias a partir desses ganhos. Essas condições também favorecem a organização e o aprimoramento das funções orgânicas, visto que alterações posturais significativas podem reduzir a capacidade respiratória e dificultar o desempenho cardiopulmonar do indivíduo (JUNGES; JACONDINO; GOTTLIEB, 2015). Embora também possa ser desenvolvido por profissionais de educação física, o pilates voltado ao meio clínico é competência do fisioterapeuta. Assim, os pacientes devem realizar a prevenção de doenças cardiovasculares com este profissional. O pilates pode ser indicado como forma suplementar ou como modalidade principal. Em geral, o indivíduo tem indicações para a redução de impactos articulares, necessita do fortalecimento de seu sistema musculoesquelético como um todo e deseja melhorar suas capacidades respiratórias de forma adequada. Assim, o pilates, enquanto atividade principal, pode ser associado à caminhada, aumentando o tempo de atividade semanal, por exemplo, em Fisioterapia cardiovascular na prevenção dos fatores de risco de doença... 13 dias intercalados, de forma que o indivíduo possa descansar dos estímulos variados oferecidos pelas atividades (JUNGES; JACONDINO; GOTTLIEB, 2015). Hidroterapia A hidroterapia é uma modalidade de competência fisioterapêutica e con- siste nos movimentos e exercícios praticados dentro de uma piscina. Essas atividades são facilitadas dentro da água devido ao efeito do empuxo. As propriedades da água permitem a realização da maioria das posturas de forma ativa e com carga articular reduzida. Esse é o tipo de atividade indi- cada para indivíduos que gostem dessa modalidade ou sofram de alguma limitação à carga e ao peso. Assim, dentro da água, os indivíduos conseguem realizar muitas atividades, inclusive a caminhada, com maior proteção de suas estruturas articulares (ASSIS et al., 2019). Indivíduos obesos e idosos que apresentam grandes lesões articulares ou degeneração das faces articulares se beneficiam muito desse tipo de atividade. Afinal, além de necessitarem reduzir o seu peso corporal (reduzir massa gorda e manter massa magra), no caso dos obesos, eles também podem necessitar de treinos de resistência que não ofereçam impacto às estruturas osteomioarticulares, como no caso de idosos com processo de osteoporose avançado ou em fase de recuperação pós-fratura. Assim, as atividades baseadas em hidroterapia podem constituir grandes intervenções fisioterapêuticas voltadas para a prevenção de doenças cardiovasculares e fatores de risco associados (ASSIS et al., 2019). Terapias integrativas complementares As terapias integrativas complementares podem oferecer subsídios para o desenvolvimento de outras atividades essenciais, como as atividades físicas aeróbias. Essas terapias consistem em vários tipos de técnicas, para as quais os profissionais da saúde podem ser habilitados. Essas terapias são citadas aqui porque o fisioterapeuta pode obter formação adicional para aplicá-las. Nesse sentido, é importante conhecer os benefícios delas à saúde e sua atuação coadjuvante na prevenção das doenças cardiovasculares (SILVEIRA; STEIN, 2019). As terapias promovem: relaxamento, redução do estresse, melhora das condições psicológicas, apoio psicológico e escuta ativa. Assim, as atividades desempenhadas envolvem diversos campos da saúde, como meditação, psi- cologia, fisioterapia e acupuntura. As práticas integrativas podem ser grandes Fisioterapia cardiovascular na prevenção dos fatores de risco de doença...14 aliadas na melhora dos fatores psicossociais relacionados à doença cardíaca. É importante ressaltar que, embora o fisioterapeuta possa desenvolvê-las, é necessária a certificação e a experiência para garantir a segurança do paciente (SILVEIRA; STEIN, 2019). Intervenções fisioterapêuticas preventivas para os fatores de risco de doença cardiovascular As intervenções fisioterapêuticas devem ser baseadas nas condições clínicas do cliente/paciente. Assim, é preciso fazer avaliações por meio da anamnese (coleta das informações pessoais e história do paciente com relação a fatores de risco, distúrbios, queixas e patologias instaladas) e do teste de esforço (quando indicado). Com todas essas informações sobre o paciente/cliente, o fisioterapeuta possui subsídios para desenvolver mais uma de suas habilida- des: formular as intervenções fisioterapêuticas necessárias para os pacientes com foco nos fatores de risco para doenças cardiovasculares. A seguir, veja quais são os benefícios do exercício físico para a saúde do portador de fatores de risco relacionados com a doença cardiovascular (UMEDA, 2014): � redução da glicemia e melhor tolerância à glicose; � maior sensibilidade à insulina; � melhora do perfil lipídico; � menores valores de PA; � melhor controle do peso e redução da quantidade de gordura; � melhor condicionamento cardiovascular; � maiores força, equilíbrio e flexibilidade; � melhor autoestima e mais qualidade de vida. Os trabalhos da fisioterapia voltados para a melhora da capacidade ae- róbica geram maior adaptação da oferta e da captação de oxigênio. Esse benefício influi diretamentena relação entre os sistemas respiratório, car- diovascular e musculoesquelético, proporcionando o aperfeiçoamento das condições de saúde. Os treinos baseados em treinos dinâmicos associados a exercícios aeróbicos são importantes para melhorar a força muscular e o débito cardíaco máximo dos pacientes que têm fatores de risco (UMEDA, 2014). Outro ponto importante é que, por meio da aplicação dos protocolos de treinamento, o paciente pode passar a sentir cada vez menos desconforto Fisioterapia cardiovascular na prevenção dos fatores de risco de doença... 15 ao praticar os exercícios (como angina, dispneia, fadiga e claudicação). Jun- tamente à melhor adaptação aos treinos, o indivíduo tende a se mostrar mais colaborativo e com melhor autoestima com relação à sua condição de saúde (UMEDA, 2014). A prescrição dos exercícios é feita com base na avaliação do cliente/pa- ciente e de acordo com os fatores de risco. Assim, podem ser desenvolvidos testes cardiopulmonares, escala de Borg (classificação quanto à dificuldade ou ao esforço do indivíduo durante a prática de alguma atividade, por exemplo, teste ergométrico ou teste do degrau) e questionários para a compreensão do nível de saúde e da condição física do indivíduo (UMEDA, 2014). Para estabelecer a Frequência Cardíaca (FC) de treinamento, o fisiote- rapeuta pode utilizar a fórmula de Karvonen, que indica que a Frequência Cardíaca Total (FCT) deve ser o produto da FC de repouso e da porcentagem escolhida entre 60 e 85% (de acordo com as condições físicas e fatores de risco do paciente) multiplicado pela FC máxima subtraída pela FC de repouso (UMEDA, 2014). Veja: FCT = FC Rep + % (FC Máx – FC Rep). Agora, você vai ver como as modalidades fisioterapêuticas se relacionam às necessidades dos pacientes/clientes. Você vai ver a seguir as condições baseadas nos fatores de risco que o paciente/cliente pode apresentar. A partir disso, você deve desenvolver seu raciocínio clínico para correlacionar a alternância dos fatores de risco às condições individuais de seus pacientes/ clientes. Essa é uma das competências importantes para que você possa elaborar um plano de tratamento adequado e factível. As práticas de prevenção, considerando o desfecho cardiorrespiratório e/ou cardiovascular, são divididas em padrão A e padrão B. Esses dois pa- drões abrangem tanto o recondicionamento quanto a evolução das doenças associadas. Os padrões servem como parâmetros para manejar o paciente/ cliente de acordo com sua situação atual frente ao quadro clínico citado. Assim, o padrão A é mais utilizado quando o paciente apresenta grande potencial para doença cardiorrespiratória, mas não apresenta manifestação. O padrão B pode ser observado quando o paciente apresenta progressão da doença cardiorrespiratória e/ou cardiovascular e já tem comprometimentos fisiológicos e/ou funcionais (DETURK; CAHALIN, 2007). Os padrões aqui descritos dividem o rol de modalidades da fisioterapia. O padrão A está mais voltado às ações primárias, como a educação do paciente para a atividade física e os hábitos de vida. Já o padrão B está voltado ao rol de modalidades que a fisioterapia propriamente oferece, de acordo com as evidências, o quadro clínico, a familiaridade e a aceitação do paciente Fisioterapia cardiovascular na prevenção dos fatores de risco de doença...16 (DETURK; CAHALIN, 2007). Na Figura 1, a seguir, veja as medidas que podem ser adotadas dependendo do desfecho do caso clínico. Figura 1. Classificação para os padrões de prática clínica em pacientes cardiorrespiratórios. Fonte: Deturk e Cahalin (2007, p. 442). Para escolher entre os dois padrões de prática, o fisioterapeuta leva em conta fatores relacionados à avaliação, como você viu anteriormente. Assim, estabelecer o padrão de prática clínica é o mesmo que estabelecer o diag- nóstico fisioterapêutico e traçar o plano de tratamento para determinado paciente. Segundo a literatura, após avaliação e aplicação dos testes funcionais, deve-se observar o nível de atividade física do indivíduo. Normalmente, os indivíduos fisicamente ativos e que não têm comprometimentos relacionados não precisam de intervenções fisioterapêuticas. Suas condições podem ser mantidas por meio de uma atividade física comum, supervisionada por pro- fissional devidamente habilitado (por exemplo, o profissional de educação física), como: corrida, bicicleta, musculação, artes marciais e pilates. Essa atitude é utilizada na prevenção de disfunções; no entanto, somente na área do pilates é que o fisioterapeuta tem esse tipo de perfil (DETURK; CAHALIN, 2007). Fisioterapia cardiovascular na prevenção dos fatores de risco de doença... 17 Já para os indivíduos que têm algum impedimento da capacidade aeróbia ou da resistência em si, deve ser adotado o padrão B ou outro voltado para essa condição. Os que não são ativos, mas que também não apresentam prejuízos aeróbios, devem ser observados quanto aos sinais e sintomas de descondicionamento relacionados às tarefas diárias e laborais; eles podem ser adequados ainda ao padrão A. Os que têm prejuízo aeróbio e sintomático relacionado ao descondicionamento devem ser adequados ao padrão B, exceto os que têm disfunção das bombas cardíaca e/ou ventilatória (DETURK; CAHALIN, 2007). O fisioterapeuta pode atuar juntamente à equipe multidisciplinar para encorajar o cliente a melhorar seus hábitos de vida, como alimentação, con- trole de fatores já existentes e prática de atividade física. Contudo, esse profissional está mais propenso à atividade física, pois ela consiste em uma de suas habilidades e competências profissionais. Em suma, as intervenções possíveis devem ser propostas de acordo com o que você viu anteriormente, sendo relacionadas aos fatores de risco. Afinal, além de promover a preven- ção das doenças cardíacas, o fisioterapeuta pode atender às necessidades secundárias de seu cliente/paciente (DETURK; CAHALIN, 2007). Considerando os dois padrões expostos, A e B, o fisioterapeuta pode agir de forma a reverter o descondicionamento ou prevenir patologias. Assim, no padrão A, é focada a prevenção da doença de acordo com os fatores de risco; as condutas podem ser planejadas para serem desenvolvidas com o grupo de indivíduos de uma unidade básica de atendimento ou de forma individual. A fisioterapia promove a segurança na prática da atividade física e garante a manutenção dos benefícios quando a atividade está sendo praticada há algum tempo (DETURK; CAHALIN, 2007). O fisioterapeuta deve observar se o cliente/paciente tem indicação para a monitoração dos dados vitais durante a prática de exercícios, pois isso é um fator limitante para atividades aquáticas, por exemplo. Outro exemplo é a corrida ao livre, pois o fisioterapeuta não tem o acesso aos dados neces- sários durante essa prática. O nível da intensidade dos exercícios deve ser modulado pelo fisioterapeuta de acordo com os fatores de risco. Indivíduos hipertensos, por exemplo, podem apresentar aumento brusco desse parâ- metro durante atividade física de alta intensidade. Assim, o fisioterapeuta inicia com esse tipo de paciente de uma forma mais branda e o monitora até que ele alcance parâmetros mais próximos da faixa de normalidade durante a prática de atividades físicas. Nesse ponto, o paciente não necessita mais ser monitorado e se sente mais seguro para realizar as atividades sozinho ou ao ar livre. Fisioterapia cardiovascular na prevenção dos fatores de risco de doença...18 De acordo com a literatura, para as pessoas com saúde e mais jovens, programas de exercícios com intensidade moderada podem ser adequados, mesmo sem a realização dos testes ou exames físicos (exceto quando o paciente apresenta algum sinal ou sintoma significativo). Já os indivíduos com mais idade, mesmo que aparentem ter saúde, devem realizar exames médicos antes de serem liberados para a prática de atividade física. Por sua vez, os pacientes que têm doenças cardíacas devem ser submetidos a examesmédicos para o diagnóstico e a relação do quadro clínico antes de iniciar as sessões de fisioterapia (DETURK; CAHALIN, 2007). A intensidade da atividade física pode variar de acordo com os parâ- metros observados a partir de dados como a idade do cliente/paciente e a porcentagem máxima de FC (determinada pela fórmula 220 – idade). Ainda é preciso considerar o nível de estimativa do equivalente metabólico (MET), que pode variar de acordo com a idade. A seguir, veja as classificações possíveis (DETURK; CAHALIN, 2007). � Atividade leve: FC máxima de 40 a 59 e 2,5 a 4,5 METs para indivíduos ≤65 anos, ou 2 a 3,5 METs para indivíduos >65 anos. � Atividade moderada: FC máxima de 60 a 75 e 4,5 a 6 METs para indivíduos ≤65 anos, ou 3,5 a 5 METs para indivíduos >65 anos. � Atividade vigorosa: FC máxima ≥ 75 e >6 METs para indivíduos ≤65 anos, ou >5 para indivíduos >65 anos de idade. Os exercícios indicados para a melhora da saúde no geral são os de res- piração, orientação postural e alongamento. Esses são os tipos de exercícios que podem compor qualquer protocolo de exercícios fisioterapêuticos. Além disso, o padrão A, que inclui a fisioterapia preventiva, deve envolver algum tipo de treinamento voltado ao padrão aeróbio. Assim, exercícios de caminhada, corrida, ciclismo, step, jump, entre outros, podem ser indicados para comple- mentar os exercícios de resistência realizados nas sessões de fisioterapia. É importante que o fisioterapeuta se baseie nas indicações para cada tipo de paciente, considerando o gasto energético que cada um pode ter. No geral, grande parte dos pacientes/clientes visa à redução de massa gorda corporal. Logo, caso não haja contraindicação, o fisioterapeuta deve dar preferência aos exercícios mais intensos, que trabalham grandes grupos musculares e em circuito, alternando entre os exercícios propostos (DETURK; CAHALIN, 2007). Fisioterapia cardiovascular na prevenção dos fatores de risco de doença... 19 Considere um paciente de 50 anos cuja FC máxima é 170. No entanto, esse paciente apresenta obesidade e algumas queixas relaciona- das ao aparelho musculoesquelético. Dadas essas condições, o fisioterapeuta pode escolher trabalhar com uma FC bem abaixo dos 75 a 80%, que seriam o indicado. Note que o paciente não apresenta outros fatores de risco para a doença cardíaca e que suas queixas estão relativamente associadas ao aparelho musculoesquelético e ao excesso de peso. O fisioterapeuta pode indicar atividades de alongamento e atividades respiratórias para melhorar o padrão de estresse e também a flexibilidade geral do corpo. No entanto, o foco será a atividade física de intensidade leve e praticada no cicloergômetro ou na piscina, de forma a oferecer menor impacto às articulações queixosas. É importante ressaltar que essas medidas equivalem ao início das interven- ções para esse paciente, dados o fator de risco e as modalidades disponíveis no campo da fisioterapia. Com a evolução do paciente e a redução de peso, essas condutas podem ser mudadas de forma a focar mais nos exercícios de força, por exemplo, voltando-se ao estímulo à resistência e à manutenção do peso alcançado. Sessão de fisioterapia As sessões possuem delineamento base para o desenvolvimento de diversos tipos de atividades. A ideia é diversificar e complementar a sessão anterior com adaptações e progressões nos exercícios. Dessa forma, o fisioterapeuta pode obter mais aderência do paciente, visto que pode aplicar exercícios diversificados. As sessões devem ocorrer de 3 a 5 vezes por semana, com duração de 40 a 60 minutos. Além disso, as sessões devem intercalar condi- cionamento aeróbico e resistido (UMEDA, 2014). Durante o condicionamento, podem ser planejados o aquecimento (por volta de 15 minutos) e o relaxamento (por volta de 5 a 10 minutos, dependendo da intensidade dos exercícios). Durante o aquecimento, o fisioterapeuta pode passar alongamentos e exercícios de força muscular visando à resistência de grandes grupos. Esses exercícios promovem o aumento dos sinais vitais basais e iniciam a fase de preparação do corpo para a atividade e o condicio- namento. O relaxamento promove o resfriamento do corpo, de forma que o metabolismo volte às condições basais. Nessa fase, podem ser desenvolvidos os alongamentos e exercícios respiratórios. Além disso, quando necessário, o fisioterapeuta pode oferecer o relaxamento passivo ou estático ao paciente (UMEDA, 2014). Fisioterapia cardiovascular na prevenção dos fatores de risco de doença...20 A monitoração dos sinais vitais, quando considerada necessária pelo fisioterapeuta, acontece antes do início dos exercícios e ao final deles. É importante ressaltar que os sinais e sintomas relatados podem fazer com que o fisioterapeuta reduza o nível dos exercícios ou interrompa a sessão. Os sinais monitorados podem ser a FC e a PA, e os fatores relacionados ao tipo de exercícios podem ser exaustão, intolerância ao esforço, náusea, palpitação, entre outros (UMEDA, 2014). O fisioterapeuta pode oferecer orientação a distância ou não supervisio- nada àqueles que não conseguem manter a rotina em consultório ou que não possuem tantas necessidades de monitoramento diário. As orientações para os exercícios, que costumam ser caminhada e corrida, são: roupas adequadas, local apropriado, hidratação e alimentação adequada. Outras orientações são relativas à sistematização da caminhada: ela deve ter determinada in- tensidade, dada duração e certa regularidade (UMEDA, 2014). Como é difícil monitorar a caminhada ao ar livre e ela pode não atingir os 70% do VO2 máximo, pode-se adotar o cálculo do FC alvo, que corresponde a um valor entre 25 e 30 bpm acima da FC de repouso. Já para os indivíduos iniciantes, o fisioterapeuta deve tomar cuidado ao prescrever os exercícios, implementando planos menos impactantes, como caminhada de 20 a 30 minutos em dias alternados (UMEDA, 2014). Recomendação da fisioterapia de acordo com fatores de risco As recomendações gerais são importantes para alinhar os pensamentos do fisioterapeuta com relação ao que pode ou não acontecer. Também é importante utilizar um protocolo geral, que pode ser adaptado de acordo com as condições individuais do paciente. A seguir, você vai ver algumas das orientações para os fatores de risco associados às doenças cardiovasculares. Indivíduos portadores do diabetes melito podem ter diversas complica- ções, e algumas delas necessitam de cuidados importantes. Os pacientes com neuropatia autonômica, por exemplo, devem ser monitorados e evitar mudar de posição de forma brusca. Além disso, devem evitar exercícios com alta intensidade e em extremos de temperatura. Os indivíduos que têm neuropatia periférica devem tomar cuidado com os pés, usar tênis especiais, evitar exercícios que apliquem grandes cargas aos pés e realizar alongamentos para redução de dor. Para esses pacientes, são indicados: natação, hidrogi- nástica, remo, ciclismo e atividades com pesos leves e aparelhos. Os que têm retinopatia devem praticar atividades leves a moderadas, mas exercícios que Fisioterapia cardiovascular na prevenção dos fatores de risco de doença... 21 não aumentem tanto a PA ou envolvam a manobra de Valsalva. Os que têm nefropatia devem evitar os exercícios que elevam a PA de forma excessiva ou que geram grandes impactos nas estruturas ósseas (nos casos em que houver osteodistrofia) (UMEDA, 2014). Indivíduos que têm hipertensão arterial sistêmica devem seguir as orien- tações com relação à classificação do tipo de hipertensão. Assim, os que têm hipertensão em estágio leve devem iniciar ou continuar a mudança de estilo de vida durante 6 a 12 meses antes da introdução da administração de remédios. Os que têm hipertensão em estágio moderado a grave devem realizar a avaliação para doença cardiovascular, assim como os testes e exames funcionais para verificar o grau de comprometimento. Aqueles que têm lesão em órgãos-alvo devem ser avaliados de acordo com acomorbidade, de modo a se verificar se podem iniciar a atividade física de forma leve ou apenas a mudança no estilo de vida. Os exercícios são contraindicados para os indivíduos que apresentam: � pressão sistólica >180 ou pressão diastólica >110, angina instável, ICC descompensada ou isquemia cerebral recente durante o repouso; � pressão sistólica >225 ou diastólica >100, angina instável, angina ou isquemia durante o exercício; � efeitos colaterais a medicamentos para hipertensão, como hipotensão, bradicardia, fraqueza muscular, entre outros. Exercícios de resistência de longa duração aumentam a PA devido à maior contração vasoperiférica. No entanto, estudos mostram que o monitoramento pode ser uma peça-chave no controle dessa indicação para pacientes hiper- tensos (UMEDA, 2014). A hipertensão arterial é um dos fatores de risco mais comuns em idosos, visto que os valores da pressão tendem a aumentar nor- malmente com a idade. Assim, é importante que se desenvolvam pesquisas científicas e planos de intervenção abordando essa população. Para saber mais, leia o artigo “Efeito da atividade física sobre a reatividade vascular em idosas hipertensas”, de Carvalho et al. (2018), que avaliou o efeito da atividade física sobre a reatividade vascular ao teste do frio. Esse artigo está disponível on-line; para encontrá-lo, utilize o seu site de buscas preferido. A recomendação de 150 minutos semanais de atividade física leve a mo- derada (tempo que pode ser dividido em sessões de 30 minutos em cinco Fisioterapia cardiovascular na prevenção dos fatores de risco de doença...22 dias na semana) é feita com base na saúde do sistema cardiovascular e em outras doenças crônicas importantes. No entanto, essa quantidade de exer- cício proposto não leva em conta a redução do peso corporal. Preconizando a perda de peso, o mesmo tempo de atividades têm sido recomendado, porém com maior intensidade para os indivíduos obesos. Esse tempo pode ser aumentado de forma a atingir 200 a 300 minutos semanais, focalizando os objetivos de reduzir a massa gorda e manter a massa muscular, além de melhorar os fatores de risco associados ou preveni-los (UMEDA, 2014). Outros problemas que envolvem a obesidade são os de ordem ortopédica; é mais comum que os obesos apresentem esses problemas devido à maior sobrecarga articular. Assim, para esses indivíduos, é possível propor treinos dos membros superiores e inferiores, visando à resistência e/ou substituindo a caminhada ou corrida, que são atividades que geram maior impacto. Os exercícios realizados em ambientes aquáticos podem facilitar a movimentação dos indivíduos e reduzir a sua intolerância e o seu desconforto com relação à prática de atividade física. Além dessas medidas, no caso de pacientes obesos, é importante a indicação de dieta adequada, para que os exercícios possam realmente auxiliar na perda de peso e na reeducação dos hábitos saudáveis de vida (UMEDA, 2014). Os indivíduos tabagistas têm grandes dificuldades para desenvolver ativi- dades aeróbias, que são o foco da fisioterapia no âmbito da prevenção. Assim, além de terem dificuldades com relação à cessação do fumo, eles apresentam certa intolerância à atividade física aeróbia. Esses indivíduos podem contar com o apoio da equipe multidisciplinar e também com grupos de apoio para reduzir e até cessar o vício. Além disso, o fisioterapeuta deve desenvolver os testes de função cardiopulmonar e planejar a sessão baseando-se nas condições funcionais dos pacientes (UMEDA, 2014). Referências ASSIS, H. R. C. DE et al. O efeito da hidroginástica sobre a pressão arterial: uma revisão de literatura. Diálogos em Saúde, v. 1, n. 1, 11 mar. 2019. COELHO, C. F.; BURINI, R. C. Physical activity to prevent and treat non-communicable chronic diseases and functional disably. Revista de Nutrição, Campinas, v. 22, n. 6, p. 937–946, 2009. DETURK, W. E.; CAHALIN, L. P. Fisioterapia cardiorrespiratória: baseada em evidências. Porto Alegre: Artmed, 2007. JUNGES, S.; JACONDINO, C. B.; GOTTLIEB, M. G. V. Efeito do método Pilates em fatores de risco para doenças cardiometabólicas: uma revisão sistemática. Scientia Medica, Porto Alegre, v. 25, n. 1, p. 1–8, 2015. Fisioterapia cardiovascular na prevenção dos fatores de risco de doença... 23 QUEIROZ, A. C. C.; KANEGUSUKU, H.; FORJAZ, C. L. M. Effects of resistance training on blood pressure in the eldery. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, São Paulo, v. 95, n. 1, p. 135–140, 2010. SILVEIRA, A. D.; STEIN, R. Terapias Alternativas com base em evidências que “tocam o coração”. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, São Paulo, v. 113, n. 6, p. 1059–1061, 2019. UMEDA, I. I. K. Manual de fisioterapia na reabilitação cardiovascular. 2. ed. Barueri: Manole, 2014. Leituras recomendadas CARVALHO, L. V. P. et al. Efeito da atividade física sobre a reatividade vascular em idosas hipertensas. ConScientiae Saúde, São Paulo, v. 17, n. 3, p. 248–256, 2018. Disponível em: http://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/11/964938/8030-54763-2-pb.pdf. Acesso em: 19 out. 2020. MEDEIROS, P. A. et al. Prevalência e simultaneidade de fatores de risco cardiovasculares em idosos participantes de um estudo de base populacional no sul do Brasil. Revista Brasileira de Epidemiologia, São Paulo, v. 22, e190064, 2019. Disponível em: https:// www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-790X2019000100460&script=sci_abstract& tlng=pt. Acesso em: 19 out. 2020. PRÉCOMA, D. B. et al. Atualização da Diretriz de Prevenção Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2019. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, São Paulo, v. 113, n. 4, p. 787–891, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/abc/v113n4/pt_0066- 782X-abc-113-04-0787.pdf. Acesso em: 19 out. 2020. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. 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