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62 Questão 1 1 Uma entrevista cubana, em Miami, deu uma verdadeira prensa no ator porto-riquenho Benício del Toro ao entrevistá-lo durante o lançamento do filme Che. Ela 4 cobrava e acusava-o de ter feito um filme a favor de Che. O filme é mesmo a favor, romantiza de novo o personagem, fundindo o revolucionário, o mártir, o santo. Certas feridas 7 e ideologias são recidivas. Pareciam estar conversando em 1960. No entanto, 50 anos se passaram. De lá para cá, houve o desmascaramento de Stalin por Krushev; daí a pouco 10 acabou a União Soviética, o Muro de Berlim ruiu, a Guerra Fria ficou congelada, a China virou neocapitalista sem deixar de ser "velhassocialista", os EUA se afundaram em uma 13 crise humilhante, os ditadores militares latino- americanos saíram de moda e foram substituídos por aqueles que eles perseguiam, enfim, vieram os terroristas, os homens e as 16 mulheres-bombas no Oriente Médio, a Aids, a Internet, e dizem que o mundo vai acabar daqui a apouco, não pela bomba atômica, mas em um desastre ecológico irreversível. Affonso Romano de Sant'Anna. Que fazer de Che Guevara? In: Correio Braziliense, 8/2/2009, Caderno C, p.6 (com adaptações). De acordo com as ideias apresentadas no texto, julgue os itens a seguir (certo ou errado). • No trecho “Ela cobrava e acusava-o” (l. 3-4), o pronome “o” refere-se a “Benício del Toro” (l. 2) e foi omitido após a forma verbal “cobrava” para se evitar repetição de palavra. Portanto, o acréscimo dele, escrevendo-se cobrava-o, não prejudicaria a correção gramatical do texto nem seu sentido original. • A preposição “por” (l. 14) introduz um agente para ação verbal expressa em oração de estrutura sintática de voz passiva. Gabarito: E C Resolução: • E – Uma vez que não se explicita o objeto da forma verbal "cobrava", subentende-se que a jornalista cobrava do ator Benício del Toro uma determinada resposta ou posição. Porém, não foi o pronome "o" que foi suprimido para evitar a repetição, e sim houve elipse do pronome "lhe". Se o pronome "o" fosse posto depois de cobrava, não alteraria significativamente o sentido da frase, porém a faria gramaticalmente incorreta, uma vez que, neste caso, o verbo cobrar é transitivo direto e indireto (como por exemplo, em "A entrevistadora cobrou do ator uma postura sobre a imagem ideológica de Che"). • C – A proposição está correta. Questão 2 1 O livro é melhor do que o filme. Quem já não ouviu esse clichê sobre as adaptações literárias para o cinema? A frase feita conota o cinema como arte menor, subordinada à 4 literatura, esta, sim, o modo nobre de expressão por seu prestígio e antiguidade. No entanto, há quem sustente que foi Orson Welles que melhor entendeu a estrutura narrativa de 7 Dom Quixote. Jack Gold enxergou em Robson Crusoe a misoginia colonialista que Daniel Defore não pôde ver. E, durante a ditadura militar, Joaquim Pedro de Andrade tirou 10 de Macunaíma uma leitura política com a qual Mário de Andrade não havia sonhado. Assim, muitas vezes, é o cinema que ilumina uma obra, ao dialogar com ela sob a 13 forma de adaptação. Luiz Zanin Oricchio. In: O Estado de S. Paulo. Caderno 2, 5/4/2009 (com adaptações) A partir das ideias apresentadas nesse texto, julgue os itens que se seguem (certo ou errado). • Preservam-se a coerência de argumentação e a correção gramatical do texto ao se substituir “com a qual” (l. 10) por em que. • O romance Macunaíma, de Mário de Andrade, retrata o Brasil na sua realidade social e linguística. Gabarito: E C Resolução: • E – Ao se substituir "uma leitura política com a qual Mário de Andrade não teria sonhado" por "uma leitura política em que Mário de Andrade não teria sonhado", muda-se o sentido da frase (ou seja, a leitura política passaria a ser o contexto que impediria os sonhos do autor), tornando-a incoerente em relação ao texto como um todo. • C – A proposição está correta. Questão 3 01 05 10 15 20 25 30 35 40 Darwin passou quatro meses no Brasil, em 1832, durante a sua célebre viagem a bordo do Beagle. Voltou impressionado com o que viu: "Delícia é um termo insuficiente para exprimir as emoções sentidas por um naturalista a sós com a natureza em uma floresta brasileira", escreveu. O Brasil, porém, aparece de forma menos idílica em seus escritos: "Espero nunca mais voltar a um país escravagista. O estado da enorme população escrava deve preocupar todos os que chegam ao Brasil. Os senhores de escravos querem ver o negro como outra espécie, mas temos todos a mesma origem." Em vez do gorjeio do sabiá, o que Darwin guardou nos ouvidos foi um som terrível que o acompanhou por toda a vida: "Até hoje, se eu ouço um grito, lembro-me, com dolorosa e clara memória, de quando passei numa casa em Pernambuco e ouvi urros terríveis. Logo entendi que era algum pobre escravo que estava sendo torturado." Segundo o biólogo Adrian Desmond, "a viagem do Beagle, para Darwin, foi menos importante pelos espécimes coletados do que pela experiência de testemunhar os horrores da escravidão no Brasil. De certa forma, ele escolheu focar na descendência comum do homem justamente para mostrar que todas as raças eram iguais e, desse modo, enfim, objetar àqueles que insistiam em dizer que os negros pertenciam a uma espécie diferente e inferior à dos brancos". Desmond acaba de lançar um estudo que mostra a paixão abolicionista do cientista, revelada por seus diários e cartas pessoais. "A extensão de seu interesse no combate à ciência de cunho racista é surpreendente, e pudemos detectar um ímpeto moral por trás de seu trabalho sobre a evolução humana – uma crença na 'irmandade racial' que tinha origem em seu ódio ao escravismo e que o levou a pensar numa descendência comum." Adaptado de C. Haag. "O elo perdido tropical". Pesquisa Fapesp, n. 159, p. 80-85, maio 2009. Considere as seguintes propostas de reorganização dos parágrafos do texto. 1 – Unir o segundo parágrafo ao primeiro. 2 – Unir o terceiro parágrafo ao segundo. 3 – Segmentar o terceiro parágrafo, criando um novo a partir de Desmond acaba de... (l. 32). Quais propostas são corretas, entendendo-se que parágrafo se conceitua como uma unidade de sentido? a) Apenas 1. b) Apenas 2. c) Apenas 3. d) Apenas 1 e 3. e) Apenas 2 e 3. Gabarito: D Resolução: O primeiro e o segundo parágrafos podem ser unidos, já que apresentam o mesmo tema (as impressões de Darwin sobre o Brasil do século XIX, especialmente, sobre a escravidão). Porém, o terceiro parágrafo não pode ser unido ao segundo, pois eles tratam de temas diferentes. O segundo termina com uma citação de Darwin, que testemunhou a tortura de um escravo, e o terceiro insere a opinião de Desmond sobre a viagem do Beagle. O terceiro parágrafo, por apresentar mais de um tópico temático, pode ser desmembrado em dois. Essa divisão pode ser feita a partir do trecho "Desmond acaba de publicar", já que, a partir daí, insere-se a ideia da publicação da pesquisa. Questão 4 01 05 10 15 20 25 30 35 40 Darwin passou quatro meses no Brasil, em 1832, durante a sua célebre viagem a bordo do Beagle. Voltou impressionado com o que viu: "Delícia é um termo insuficiente para exprimir as emoções sentidas por um naturalista a sós com a natureza em uma floresta brasileira", escreveu. O Brasil, porém, aparece de forma menos idílica em seus escritos: "Espero nunca mais voltar a um país escravagista. O estado da enorme população escrava deve preocupar todos os que chegam ao Brasil. Os senhores de escravos querem ver o negro como outra espécie, mas temos todos a mesma origem." Em vez do gorjeio do sabiá, o que Darwin guardou nos ouvidos foi um som terrível que o acompanhou por toda a vida: "Até hoje, se eu ouço um grito, lembro-me, com dolorosa e clara memória, de quando passei numa casa em Pernambuco e ouvi urros terríveis. Logo entendi que era algum pobre escravolíngua do Rio Grande. É um inadaptável??? ?Sem dúvida não sabe se adaptar às condições de sucesso na vida. Mas haverá sucesso que ????? ?valha a força de ânimo do sujeito sem nada neste mundo, sem dinheiro, sem amores, sem teto, quando? ?ele pode agitar a bengalinha como Carlito com um gesto de quem vai tirar a felicidade do nada? Quando? 60 ???um ajuntamento se forma nos filmes, os transeuntes vão parando e acercando-se do grupo com um ar ? ?de curiosidade interesseira. Todos têm uma fisionomia preocupada. Carlito é o único que está certo do ? ?????prazer ingênuo de olhar.??? ?Neste sentido Carlito é um verdadeiro professor de heroísmo. Quem vive na solidão das grandes ? cidades não pode deixar de sentir intensamente o influxo da sua lição, e uma simpatia enorme nos ? 65 ????prende ao boêmio nos seus gestos de aceitação tão simples.? ?????Nada mais heroico, mais comovente do que a saída de Carlito no fim de O circo. Partida a ? ?companhia, em cuja troupe seguia a menina que ele ajudara a casar com outro, Carlito por alguns? ?momentos se senta no círculo que ficou como último vestígio do picadeiro, refletindo sobre os dias de?????? ?barriga cheia e relativa felicidade sentimental que acabava de desfrutar. Agora está de novo sem nada e? 70 ?inteiramente só. Mas os minutos de fraqueza duram pouco. Carlito levanta-se, dá um puxão na ? ?casaquinha para recuperar a linha, faz um molinete com a bengalinha e sai campo afora sem olhar para ? trás. Não tem um vintém, não tem uma afeição, não tem onde dormir nem o que comer. No entanto vai ? como um conquistador pisando em terra nova. Parece que o Universo é dele. E não tenham dúvida: o ? ?Universo é dele.? 75 ?Com efeito, Carlito é poeta.? BANDEIRA, Manuel. Crônicas da Província do Brasil. 1937.???? idiossincrasia (linha 3): maneira de ser e de agir própria de cada pessoa.?????? mamulengo (linha 4): fantoche, boneco usado à mão em peças de teatro popular ou infantil. tabético (linha 9): que tem andar desgovernado, sem muita firmeza.??? dandismo (linha 18): relativo ao indivíduo que se veste e se comporta com elegância. pulhice (linha 54): safadeza, canalhice. estoicismo (linha 55): resignação com dignidade diante do sofrimento, da adversidade, do infortúnio.? molinete (linha 71): movimento giratório que se faz com a espada ou outro objeto semelhante.? Considere os enunciados a seguir, atentando para as palavras em negrito. I. Não há hoje no mundo, em qualquer domínio de atividade artística, um artista cuja arte contenha maior universalidade que a de Charles Chaplin. (linhas 1 e 2) II. Agrada por não sei quê de elegante que há no seu ridículo de miséria. (linha 17) III. [...] uma fita de Carlito nos Estados Unidos tem uma significação muito diversa da que lhe dão fora de lá. (linhas 36 e 37) IV. A interpretação cabe perfeitamente dentro do tipo e mais: o americano bem verdadeiramente americano, o que veda a entrada do seu território a doentes e estropiados [...]. (linhas 47 e 48) As palavras em negrito têm valor de adjetivo a) apenas em I, II e IV. b) apenas em I, III e IV. c) apenas em II e IV. d) apenas em III e IV. e) em todas. Gabarito: B Resolução: Em II, a palavra "ridículo" não tem valor de adjetivo, e sim de substantivo, que denomina um estado de coisas, "o ridículo de miséria". Nos demais, as palavras destacadas têm valor de adjetivo.que estava sendo torturado." Segundo o biólogo Adrian Desmond, "a viagem do Beagle, para Darwin, foi menos importante pelos espécimes coletados do que pela experiência de testemunhar os horrores da escravidão no Brasil. De certa forma, ele escolheu focar na descendência comum do homem justamente para mostrar que todas as raças eram iguais e, desse modo, enfim, objetar àqueles que insistiam em dizer que os negros pertenciam a uma espécie diferente e inferior à dos brancos". Desmond acaba de lançar um estudo que mostra a paixão abolicionista do cientista, revelada por seus diários e cartas pessoais. "A extensão de seu interesse no combate à ciência de cunho racista é surpreendente, e pudemos detectar um ímpeto moral por trás de seu trabalho sobre a evolução humana – uma crença na 'irmandade racial' que tinha origem em seu ódio ao escravismo e que o levou a pensar numa descendência comum." Adaptado de C. Haag. "O elo perdido tropical". Pesquisa Fapesp, n. 159, p. 80-85, maio 2009. Assinale a alternativa em que se estabelece uma relação de referência correta entre o primeiro e o segundo segmentos extraídos do texto. a) seus (l. 08) – um naturalista (l. 05). b) o (l. 15) – um som terrível (l. 15). c) desse modo (l. 29) – todas as raças eram iguais (l. 28-29). d) seus (l. 34) – Desmond (l. 32). e) seu (l. 35) – do cientista (l. 33-34). Gabarito: E Resolução: O pronome "seus" (l. 08) se refere a "Darwin" (l. 01); "o" (l.15), também a "Darwin" (l. 14); "desse modo", a "mostrar que todas as raças eram iguais" (l. 28-29); "seus" (l. 34), a "cientista" (l. 34). Questão 5 01 05 10 15 20 25 30 35 40 Darwin passou quatro meses no Brasil, em 1832, durante a sua célebre viagem a bordo do Beagle. Voltou impressionado com o que viu: "Delícia é um termo insuficiente para exprimir as emoções sentidas por um naturalista a sós com a natureza em uma floresta brasileira", escreveu. O Brasil, porém, aparece de forma menos idílica em seus escritos: "Espero nunca mais voltar a um país escravagista. O estado da enorme população escrava deve preocupar todos os que chegam ao Brasil. Os senhores de escravos querem ver o negro como outra espécie, mas temos todos a mesma origem." Em vez do gorjeio do sabiá, o que Darwin guardou nos ouvidos foi um som terrível que o acompanhou por toda a vida: "Até hoje, se eu ouço um grito, lembro-me, com dolorosa e clara memória, de quando passei numa casa em Pernambuco e ouvi urros terríveis. Logo entendi que era algum pobre escravo que estava sendo torturado." Segundo o biólogo Adrian Desmond, "a viagem do Beagle, para Darwin, foi menos importante pelos espécimes coletados do que pela experiência de testemunhar os horrores da escravidão no Brasil. De certa forma, ele escolheu focar na descendência comum do homem justamente para mostrar que todas as raças eram iguais e, desse modo, enfim, objetar àqueles que insistiam em dizer que os negros pertenciam a uma espécie diferente e inferior à dos brancos". Desmond acaba de lançar um estudo que mostra a paixão abolicionista do cientista, revelada por seus diários e cartas pessoais. "A extensão de seu interesse no combate à ciência de cunho racista é surpreendente, e pudemos detectar um ímpeto moral por trás de seu trabalho sobre a evolução humana – uma crença na 'irmandade racial' que tinha origem em seu ódio ao escravismo e que o levou a pensar numa descendência comum." Adaptado de C. Haag. "O elo perdido tropical". Pesquisa Fapesp, n. 159, p. 80-85, maio 2009. Considere as seguintes propostas de alteração da ordem de expressões adverbiais e adjetivas no texto, independentemente do uso de maiúsculas/minúsculas. 1 - Deslocar Até hoje, (l. 16) para depois de lembro-me (l. 17). 2 - Deslocar menos (l. 23) para depois de importante (l. 24). 3 - Deslocar pessoais (l. 35) para depois de diários (l. 34). Quais alterações manteriam o sentido do texto? a) Apenas 1. b) Apenas 3. c) Apenas 1 e 2. d) Apenas 2 e 3. e) 1, 2 e 3. Gabarito: C Resolução: Nos deslocamentos propostos em 1 e 2, não há alteração no sentido do texto. Porém, o deslocamento proposto em 3 não mantém o sentido original, uma vez que "revelada por seus diários pessoais e cartas" dá a ideia de que somente os diários analisadas são pessoais (o texto afirma que os diários e as cartas são pessoais). Questão 6 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 A minha ideia é que podemos dizer, racional e argumentativamente, que a estrutura da vida humana, em seu ser mesmo, tem um valor sensível negativo. Acredito que a totalidade dos seres humanos, quando confrontada autenticamente com a sua condição e sem contrabandos religiosos, admite que a situação estrutural da vida humana não é boa. Essa ideia decorre de a vida ter uma estrutura estável, consistente, pelo menos nos seguintes quatro elementos: um nascimento mortal, que carrega em si seu próprio fim; um desenvolvimento que envolve degeneração constante, como envelhecimento; o estar sujeito a inúmeros sofrimentos e doenças; um espaço intramundano no qual se está plenamente consciente dos elementos anteriores. Julio Cabrera. Sentido da vida e valor da vida: uma diferença crucial In: Philosophos revista de filosofia, vol. 9, nº 1/2004, p. 16-8 (com adaptações). O autor desse texto defende a ideia de que a vida tem, em seu ser mesmo, um valor profundamente negativo. As ideias expostas acima têm consequências importantes na maneira pela qual se pode enxergar a vida e contrastam fortemente com a maneira como a vida, tradicionalmente, vem sendo percebida ao longo dos tempos. Considerando estas informações e o texto, julgue os itens seguintes (certo ou errado). • Atesta-se interpretação genérica relativamente ao sujeito da oração “o estar sujeito a inúmeros sofrimentos e doenças” (l.11). • Do texto depreende-se que o autor defende a ideia de que as crenças, em particular as religiosas, atuam apenas no plano intramundano da vida, sem influenciarem a percepção do valor negativo da vida em geral. • Seria mantida a correção gramatical caso a oração introduzida pelo vocábulo “quando” apresentado no texto (l.4) iniciasse o período em que está inserida, desde que feitas as devidas alterações no emprego de iniciais maiúsculas. • As pessoas amam, trabalham, creem, estudam e, como se costuma dizer, vão vivendo suas vidas, com maior ou menor grau de felicidade. Com base nas ideias apresentadas no texto, esses comportamentos de amar, trabalhar, crer, estudar podem ser entendidos como a) ações pelas quais as pessoas procuram dar à vida um sentido intramundano, o que lhes possibilita eliminar o sem sentido estrutural da vida em geral. b) ações pelas quais as pessoas procuram dar à vida um sentido intramundano, dada a incapacidade de eliminarem o sem sentido intramundano da vida particular. c) ações pelas quais as pessoas procuram dar à vida um valor intramundano, o que não afeta o caráter estruturalmente miserável da vida em geral. d) ações que dão à vida um sentido estrutural, mesmo que não seja afetado o sem sentido intramundano das vidas particulares. Gabarito: E E C C Resolução: • E – A oração "o estar sujeito a inúmeros sofrimentos e doenças" é uma oração sem sujeito. Podemos perceber isso mais claramente ao desenvolver a oração reduzida: "que se está sujeito a inúmeros sofrimentos e doenças". • E – Depreende-se do texto que o autor defende que as crenças religiosas influenciam na percepção de valores positivos para a vida. Isso se evidencia quando ele afirma que o ser humano admite o valor negativo da vida quando a confronta sem "contrabandos religiosos". • C – A proposição está correta. • C – As ações descritas no enunciado não interferem no fato de a vida não ser boa. Na verdade, são tentativas de dar valor a mesma. É importante notar que o texto não diz que, com isso, o espaço intramundando de reconhecer a miséria humana seja eliminado. Questão 7 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 Do princípio do século XVIIao fim do século XVIII, o aspecto geral do mundo natural alterou-se de tal forma que Copérnico teria ficado pasmo. A revolução que ele iniciara desenvolveu-se tão rápido e de modo tão amplo que não só a astronomia se transformou, mas também a física. Quando isso aconteceu, dissolveram-se os últimos vestígios do universo aristotélico. A matemática tornou-se uma ferramenta cada vez mais essencial para as ciências físicas. A visão do universo adotada por Galileu – morto em 1642, ano do nascimento de Isaac Newton – baseava-se na observação, na experimentação e numa generosa aplicação da matemática. Uma atitude de certa forma diferente daquela adotada por seu contemporâneo mais jovem, René Descartes, que começou a formular uma nova concepção filosófica do universo, que viria a destruir a antiga visão escolástica medieval. Em 1687, Newton publicou os Principia, cujo impacto foi imenso. Em um único volume, reescreveu toda a ciência dos corpos em movimento com uma incrível precisão matemática. Completou o que os físicos do fim da Idade Média haviam começado e que Galileu tentara trazer à realidade. As três leis do movimento, de Newton, formam a base de todo o seu trabalho posterior. Ronan Colin A. História ilustrada da ciência: da Renascença à revolução científica. São Paulo: Círculo do Livro, s/d, p. 73, 82-3 e 99 (com adaptações). Considerando o texto acima, julgue os itens (certo ou errado). • No trecho “o aspecto geral do mundo natural alterou-se de tal forma” (l.2-3), observa-se termo antecedido por preposição que poderia ser reescrito, com correção gramatical e sem mudança quanto à interpretação semântica, como: o aspecto geral, no mundo natural, alterou-se de tal forma. • Seria prejudicada a interpretação da situação hipotética expressa no trecho “alterou-se de tal forma que Copérnico teria ficado pasmo” (l.2-3), se a locução “teria ficado” fosse substituída pela forma verbal simples, no mesmo tempo verbal. Gabarito: E E Resolução: • E – Não é possível substituir o termo preposicionado "do mundo natural" por "no mundo natural" sem mudança semântica, já que, na forma original, se fala do aspecto do mundo natural (ou seja, da natureza); na segunda forma, se fala do aspecto geral [das coisas] no mundo natural. • E – A afirmação não apresenta como equivalente o uso da forma simples, "ficaria", no lugar de "teria ficado", quando o uso da forma simples não prejudicaria em nada a interpretação da situação hipotética expressa no trecho em questão. Questão 8 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 O caráter violento da inserção precoce de crianças e adolescentes no mercado formal e informal de trabalho revela- se em não poucas situações. No campo, a eternização do instrumento no rural faz que eles estejam permanentemente disponíveis para os usos e os abusos dos proprietários de terras e em estreita dependência do poder pessoal do turmeiro. O direito de mando, de que se investem tais figuras, inspiradas no modelo patriarcal de organização familiar e societária, é fonte de profundas humilhações e desmoralizações quando as tarefas não são realizadas conforme padrões de quantidade e qualidade desejadas. Na cidade, as condições não são mais favoráveis. Via de regra, têm de concorrer em condições desiguais com o trabalhador adulto. Fragilizados, suportam, com maior dureza, as condições adversas de trabalho, que marcaram as condições de vida da classe trabalhadora brasileira. Paulo Sergio Pinheiro e Sérgio Adorno. Internet. (com adaptações) Considerando o texto acima como referência inicial e a multiplicidade de aspectos que ele evoca, julgue os itens (certo ou errado). • Depreende-se do texto que, tanto no campo quanto na cidade, crianças e adolescentes são os que mais trabalham sob condições adversas. • Preservam-se a correção gramatical e as relações semânticas do período, caso os adjetivos da estrutura "O caráter violento da inserção precoce de crianças e adolescentes no mercado formal" (l.1- 2) sejam estruturados como: O caráter da inserção, violento e precoce, de crianças e adolescentes no mercado formal. • Infere-se do texto que o modelo de organização familiar e societária adotado pelos proprietários de terra no Brasil tem definido o aumento de relações de trabalho baseadas em trabalho não assalariado, a partir da busca da maximização de fatores como quantidade e qualidade. • Em "Via de regra, têm de concorrer" (l.12-13), a forma verbal "têm" concorda com o termo "as tarefas" (l.10). Gabarito: C E E E Resolução: • C – A proposição está correta. • E – A mudança proposta na frase altera ligeiramente suas relações semânticas (já que "violento e precoce" passa a se referir a "inserção" e não a "caráter") e torna-a incorreta gramaticalmente (já que, referindo a "inserção", o adjetivo "violento" deveria estar no feminino). • E – Infere-se do texto que o modelo de organização familiar e societária adotado no Brasil define os tratamentos humilhantes e desmoralizantes dispensados aos menores por parte de patrões e "turmeiros" (e não acarreta no aumento do trabalho não assalariado). • E – Na oração, o verbo "têm" concorda com o termo "crianças e adolescentes" (linha 1). Questão 9 5 10 15 20 25 30 Todo o barbeiro é tagarela, e principalmente quando tem pouco que fazer; começou portanto a puxar conversa com o freguês. Foi a sua salvação e fortuna. O navio a que o marujo pertencia viajava para a Costa e ocupava-se no comércio de negros; era um dos combóis que traziam fornecimento para o Valongo, e estava pronto a largar. — Ó mestre! disse o marujo no meio da conversa, você também não é sangrador? — Sim, eu também sangro... — Pois olhe, você estava bem bom, se quisesse ir conosco... para curar a gente a bordo; morre-se ali que é uma praga. — Homem, eu da cirurgia não entendo muito... — Pois já não disse que sabe também sangrar? — Sim... — Então já sabe até demais. No dia seguinte saiu o nosso homem pela barra fora: a fortuna tinha-lhe dado o meio, cumpria sabê-lo aproveitar; de oficial de barbeiro dava um salto mortal a médico de navio negreiro; restava unicamente saber fazer render a nova posição. Isso ficou por sua conta. Por um feliz acaso logo nos primeiros dias de viagem adoeceram dois marinheiros; chamou-se o médico; ele fez tudo o que sabia... sangrou os doentes, e em pouco tempo estavam bons, perfeitos. Com isto ganhou imensa reputação, e começou a ser estimado. Chegaram com feliz viagem ao seu destino; tomaram o seu carregamento de gente, e voltaram para o Rio. Graças à lanceta do nosso homem, nem um só negro morreu, o que muito contribuiu para aumentar-lhe a sólida reputação de entendedor do riscado. Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias. Das seguintes afirmações acerca de diferentes elementos linguísticos do texto, a única correta é: a) A expressão destacada em “para curar a gente a bordo” (L. 12) deve ser entendida como pronome de tratamento de uso informal. b) A fórmula de tratamento (L. 14) com que o barbeiro se dirige ao marujo mantém o tom cerimonioso do início do diálogo. c) O destaque gráfico da palavra “muito” (L. 14) produz um efeito de sentido que é reforçado pelas reticências. d) O pronome possessivo usado nos trechos “saiu o nosso homem” (L. 18) e “lanceta do nosso homem” (L. 30) configura o chamado plural de modéstia. e) A palavra “fortuna”, tal como foi empregada na linha 19, pode ser substituída por “bens”, sem prejuízo para o sentido. Gabarito: C Resolução: Em "para curar a gente a bordo", a expressão destacada não é um pronome de tratamento, e sim um substantivo, pois "a gente" equivale a "as pessoas". A forma de tratamento usada na linha 14, "homem", é informal, e mantém o tom pouco cerimonioso do diálogo. O destaque gráfico da palavra "muito" sugere a entonação com que foi dita a palavra, que, junto com as reticências, dá o efeito de sentido de vaguidão, insuficiência; ou seja, revela que a pessoa que fala não está seguro de seus conhecimentossobre cirurgias. O uso de "nosso" nas expressões destacadas em D não configura o chamado plural de modéstia, mas sim é um índice de interlocução, isto é, de que o narrador se dirige ao leitor. A palavra "fortuna", na linha 19, não pode ser substituída por "bens" sem prejuízo do sentido, uma vez que significa "destino". Questão 10 1 4 7 10 13 16 Para deixar todas essas coisas um pouco na sombra e poder dizer o que delas julgava, sem ser obrigado a seguir nem refutar as opiniões acatadas entre os estudiosos, resolvi deixar todo este mundo aqui para suas discussões e falar somente do que aconteceria em um novo, se Deus criasse, agora, em algum lugar, nos espaços imaginários, matéria suficiente para compô-lo e agitasse, diversamente e sem ordem, as várias partes dessa matéria, a fim de compor, com elas, um caos tão confuso quanto o imaginado pelos poetas e, depois, se limitasse a prestar seu concurso natural à natureza e a deixá-la agir segundo suas leis, que ele estabelecera. A maior parte da matéria desse caos deveria, em decorrência dessas leis, dispor-se e arranjar-se de um certo modo que a tornasse semelhante aos nossos céus, devendo algumas partes compor uma Terra, outras, planetas e cometas, e algumas outras, um Sol e estrelas fixas. René Descartes. Discurso do método. São Paulo: Martins Fontes, p. 76-77 (com adaptações). Considerando o texto apresentado, extraído da obra Discurso do Método, de René Descartes, julgue o item subsequentem (certo ou errado). • No trecho “matéria suficiente para compô-lo” (l. 6-7), a referência do pronome é a expressão “um novo [mundo]” (l. 5). Gabarito: C Resolução: • C – O pronome "lo", em "compô-lo", refere-se a "um novo [mundo]", conforme podemos perceber ao retomar o trecho: "(...) resolvi deixar todo este mundo aqui para suas discussões e falar somente do que aconteceria em um novo, se Deus criasse, agora, em algum lugar, nos espaços imaginários, matéria suficiente para compô-lo (...)". Questão 11 4 7 10 13 16 19 22 25 Tornou-se costume desdobrar a cidadania em direitos civis, políticos e sociais. O cidadão pleno seria aquele que fosse titular dos três direitos. Cidadãos incompletos seriam os que possuíssem apenas alguns dos direitos. Os que não se beneficiassem de nenhum dos direitos seriam não cidadãos. Esclareço os conceitos. Direitos civis são os direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei. Eles se desdobram na garantia de ir e vir, de escolher o trabalho, de manifestar o pensamento, de organizar-se, de ter respeitada a inviolabilidade do lar e da correspondência, de não ser preso a não ser pela autoridade competente e de acordo com as leis, de não ser condenado sem processo legal regular. É possível haver direitos civis sem direitos políticos. Estes se referem à participação do cidadão no governo da sociedade. Seu exercício é limitado a parcela da população e consiste na capacidade de fazer demonstrações políticas, de organizar partidos, de votar, de ser votado. Finalmente, há os direitos sociais. Se os direitos civis garantem a vida em sociedade, se os direitos políticos garantem a participação no governo da sociedade, os direitos sociais garantem a participação na riqueza coletiva. Eles incluem o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, à aposentadoria. A garantia de sua vigência depende da existência de uma eficiente máquina administrativa do Poder Executivo. Em tese, eles podem existir sem os direitos civis e, certamente, sem os direitos políticos. José Murilo de Carvalho. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, p. 9-10. A partir das informações do texto, julgue os itens (certo ou errado). • Seriam mantidos a correção gramatical e os sentidos originais do texto se a expressão “perante a lei” (l. 8) fosse deslocada, entre vírgulas, para após a forma verbal “são” (l. 7). • No trecho “Os que não se beneficiassem” (l. 5), está subentendida a palavra cidadãos após o artigo “Os”. Gabarito: E E Resolução: • E – A expressão "perante a lei", no texto original, refere-se ao termo "igualdade" (l. 8). Se a deslocássemos, entre vírgulas, conforme o proposto, teríamos "são, perante a lei, os direitos fundamentais", ou seja, o termo passaria se referir a "direitos fundamentais", o que mudaria o sentido da frase. • E – A segunda afirmação também está incorreta, pois o pronome "Os" (l. 5) tem o sentido de "aqueles". Pensar que o termo "cidadãos" está subentendido contradiz o sentido da própria frase, que afirma que aqueles que não usufruem de nenhum dos três tipos de direito não são cidadãos. Questão 12 5 10 15 20 25 — Aquela arvorezinha de retratos, o menino é Rômulo ou Remo? — Remo. Rômulo não podia estar ali. — Não? — Morreu nenenzinho, querida. — Nenenzinho? [...] — Um momento: o Remo deu um tiro nele enquanto brincavam, não foi isso? Um tiro no peito, teria uns doze anos, não foi isso que aconteceu? Milhares de vezes Lorena contou essa história com detalhes, ele era alourado. Vestia uma camisa vermelha, vocês moravam na fazenda. Ela está sorrindo dolorida, olhando o teto. — Minha pobre filhinha. Nem conheceu o irmão, é a caçula. Era menininha ainda quando começou a inventar isso, primeiro só aos empregados que vinham me perguntar, eu nem negava, disfarçava, que mal tinha? Continuou falando, na escola, nas festas, o caso começou a ficar mais sério, oh Deus, o mal-estar que eu sentia quando queriam saber se... Não queria que pensassem que ela estivesse mentindo, foi sempre uma criança tão verdadeira. Os médicos nos acalmaram, que não tinha essa gravidade, ia passar com o tempo, imaginação infantil rica demais, quem sabe na adolescência? Não passou. TELLES, Lygia Fagundes. As meninas. 7. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975. pp. 226-227. Em “Aquela arvorezinha de retratos, o menino é Rômulo ou Remo?” (l. 1-2), ocorre 01) o uso do diminutivo “arvorezinha” com um tom de zombaria. 02) uma pontuação no interior da frase que é própria da língua escrita do padrão culto. 03) a personificação de um elemento da natureza, numa demonstração de afetividade juvenil. 04) um questionamento que é formulado tão somente para desviar a atenção do interlocutor, já que a resposta era conhecida. 05) a mudança de significação da palavra “arvorezinha”, pois essa constitui uma comparação que só existe na mente da personagem. Gabarito: 05 Resolução: O termo "arvorezinha" não tem tom pejorativo ou de zombaria, referindo-se ao tamanho. A pontuação da frase, que utiliza uma vírgula para marcar um anacoluto, expressa a oralidade da língua, em vez do padrão culto. A palavra "arvorezinha" se refere ao formato de um porta-retratos (ou seja, a personagem, em sua mente, compara o porta-retratos a uma árvore), não há personificação de elemento da natureza. O questionamento formulado não se destina a desviar a atenção do interlocutor, e sua resposta não é conhecida por quem questiona. Questão 13 5 10 15 20 Nelo, querido, não vou chorar a tua morte. Foste em boa hora. Agora eu te entendo, é bem capaz que eu já esteja começando a te compreender. — Saiba de uma coisa, papai. Eu vou embora. — Para onde? — O dinheiro que eu receber da Prefeitura, no fim do mês, é para comprar uma passagem. [...] — Mas para onde você vai? — Para São Paulo. Se há uma coisa que não compreendo é isso: por que o velho nunca aceitava uma ideia nossa. Tínhamos que apresentar o fato consumado, para que o admitisse. Mas contrariado. — Você é igual aos outros. Não gosta daqui — falou zangado, como se tivesse dado um pulo no tempo e de repente tivesse voltado a ser o pai de outros tempos. — Ninguém gosta daqui. Ninguém tem amor a esta terra. Ele tinha, eu sabia, todos sabiam. Passado o sermão, papai amansou a voz. Parecia mais conformado do que aborrecido: — Você faz bem — disse. — Siga o exemplo — Abaixou as vistas, sem completar o queia dizer. TORRES, Antônio. Essa terra. 21. ed. Rio de Janeiro: Record, 2005, pp. 168-169. A alternativa em que, no fragmento, a forma verbal expressa uma ideia de futuro é a 01) “Foste em boa hora.” (l. 1-2). 02) “é bem capaz que eu já esteja começando a te compreender.” (l. 2-3). 03) “— O dinheiro que eu receber da Prefeitura [...] é para comprar uma passagem.” (l. 6-7). 04) “Se há uma coisa que eu não compreendo é isso” (l. 10). 05) “— Você faz bem” (l. 22). Gabarito: 03 Resolução: Em 01, a forma verbal expressa ideia de passado; em 02, 04 e 05, de presente. A única alternativa cujas formas verbais expressam a ideia de futuro, embora estejam no infinitivo, está em 03: "receber" e "comprar". Questão 14 5 10 15 Este é um dos temas sobre os quais jornalistas e leitores habituais mais nos interrogam. O livro vai acabar, as editoras vão fechar, é a morte dos autores? Primeiro, os catastrofistas de plantão são em geral mal informados. Quando surgiu o rádio, dizia-se, nesse mesmo tom, que ninguém mais iria conversar nas famílias. Vindo a televisão, estavam mortos o teatro e o rádio. Chegando a internet, tudo estava acabado, menos o isolamento, a alienação. Nada mudou radicalmente dentro desse esquema: não se deixou de conversar (as pessoas nunca se comunicaram tanto quanto na internet), não se deixou de ir ao teatro (bons espetáculos atraem muita gente), ninguém parou de ir ao cinema (a não ser por medo de sair à noite, pela insegurança que se alastra), enfim, cada novo invento acrescentou, não tirou. LUFT, Lya. Livro eletrônico. Veja, São Paulo: Abril, ed. 2.182, ano 43, n. 37, p. 26, 15 set. 2010. No fragmento “ninguém parou de ir ao cinema (a não ser por medo de sair à noite, pela insegurança que se alastra)” (l. 14-15), o articulador “pela” estabelece entre as orações uma relação de 01) meio. 02) lugar. 03) tempo. 04) causa. 05) oposição. Gabarito: 04 Resolução: No fragmento destacado, o articulador "pela" estabelece entre as orações uma relação de causa, o que podemos constatar ao substituí-lo por outro conectivo de valor causal (com pequenas alterações): "a não ser por medo de sair à noite, pois a insegurança se alastra" ou "por conta da insegurança que se alastra". Questão 15 Com o advento da internet, criam-se novos mecanismos para quem busca ser uma celebridade ou tornar-se, pelo menos, conhecido. Um exemplo disso é a utilização das redes sociais – o Facebook, Twitter e o Orkut, entre outros – pelos aspirantes a famosos, que desejam alcançar os seus quinze minutos de fama – previstos por Andy Warhol em 1960 –, por meio da utilização dessas ferramentas. Essas redes, que surgiram prioritariamente como um 05 agente para a integração social, criam um ambiente propício para o exibicionismo e o voyerismo (prática que consiste no prazer a partir da observação de outras pessoas), onde ser contemplado é o que importa. Sobre essa prática, Paula Sibília, professora do Instituto de Artes e Comunicação Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), comenta que a rede tem proporcionado uma espécie de democratização na busca pelo estrelato. “A internet oferece um outdoor com espaço para todos: nessas vitrines mais populares, qualquer um 10 pode ser visto como tem direito. As opções são inumeráveis e não cessam de se multiplicar: blogs, fotologs, Orkut, Facebook, MySpace, Twitter, Youtube e um longo etcétera”. O temor da chamada “invasão de privacidade”, segundo a professora, dá espaço para o quase oposto: o aparecer, ser visto, contemplado e admirado. Para ela, o exibicionismo na rede ocorre a partir da necessidade que as pessoas têm de serem vistas, e como uma forma de confirmação de que existem e estão vivas. As pessoas mostram- 15 se como um personagem, saciando a voracidade e a curiosidade de outras. “Tudo aquilo que antes concernia à pudica intimidade pessoal tem se ‘evadido’ do antigo espaço privado, transbordando seus limites, para invadir aquela esfera que antes se considerava pública. O que se busca nessa exposição voluntária, que anseia alcançar as telas globais, é se mostrar, justamente: constituir-se como um personagem visível. Por sua vez, essa nova legião de exibicionistas satisfaz outra vontade geral do público contemporâneo: o desejo de espionar e consumir vidas alheias”. 20 Cláudia da Silva Pereira, professora do Centro de Ciências Sociais, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, também acredita que na internet se cria um espaço para que as pessoas vivam outros personagens e consigam, deste modo, uma espécie de autorrealização pessoal. “Podemos ser ali o que desejarmos, construindo perfis de acordo com o que projetamos ser o ideal. Ou não. Afinal, a internet abre ainda mais espaço para condutas sociais desviantes que raramente poderiam se concretizar na vida off-line. Aderir a comunidades politicamente 25 incorretas, criar perfis falsos ou transitar por comunidades que consideramos ‘exóticas’ pode ser uma ótima maneira de buscar a experimentação e, consequentemente, a realização, da mesma forma”, conclui. Sibília aponta ainda para a ruptura de um padrão de vida em que os muros já não protegem mais a privacidade individual. “Das webcams até os paparazzi, dos blogs e fotologs até YouTube e MySpace, das câmeras de vigilância até os reality shows e talk shows, a velha intimidade transformou-se em outra coisa. E agora está à vista de todos. 30 Ou, pelo menos é isso o que conseguem aqueles afortunados: os famosos”. Já Pereira lembra que a “espetacularização” do cotidiano atinge a todos, invariavelmente, ao utilizarem essas ferramentas sociais, levando a uma maior permissividade com relação ao que é restrito ou irrestrito, ao que é público e ao que é privado. “A própria ideia de fronteira é imprecisa em se tratando de internet. É evidente que existe a opção de se compartilhar ou não da intimidade na internet, existe até mesmo a opção de não participar de redes sociais on-line, mas esta já parece ser 35 uma escolha que limita o trânsito em diversos espaços sociais. A superexposição nas redes sociais on-line tem seus reflexos na vida off-line, assim como a simples ausência”. Outra rede social em que a exposição está presente e nem sempre de maneira benéfica é o Youtube. Inúmeros são os casos de pessoas que se tornam famosas por meio da utilização dessa ferramenta, sem se importarem em ser reconhecidos por postarem vídeos de gosto duvidoso ou grotesco, confirmando a obsessão de muitos na busca 40 pela fama a qualquer custo. “Esses sujeitos têm fortalecido o hábito de serem reconhecidos pelo que fazem de transgressão e não por respeitarem a ordem social. Em toda prática de desvio de conduta, sempre podemos acreditar que o meio ou a ferramenta apenas facilitou o ato, que na verdade já havia no sujeito que o praticou uma predisposição para fazê-lo. Infelizmente, os valores de determinados grupos sociais são refletidos nessas práticas e as consequências podem ser a banalização desses atos, aumentando as probabilidades de legitimá-las”, lembra Khater. Para ela, as 45 pessoas não devem permitir que o virtual se sobreponha ao real. “Nós, seres humanos, precisamos da realidade, pois somos seres eminentemente sociais. Quando o virtual se sobrepõe ao real, nos sentimos vazios, pois sabemos da nossa necessidade de real aprovação em nosso meio social”. Ainda, na contramão dos que buscam o reconhecimento, muitos famosos e celebridades encontram nas redes sociais uma forma de se aproximar das pessoas comuns, do seu público, de seus fãs. Artistas, jornalistas, músicos 50 e público interagem de uma maneira mais natural. “É praticamente imperativo que uma celebridade mantenha um perfil no Twitter ou no Facebook, caso contrário ela simplesmente não existe no ambiente on- line. Desta forma, o público se aproxima daqueles que o sociólogo e filósofo Edgar Morin um dia chamou de ‘olimpianos’, aqueles que se veem obrigados a descer de seusaltares dos meios de comunicação de massa para interagir em 140 caracteres com as pessoas ‘comuns’. O fã torna-se íntimo do ídolo, o que retira dessa relação grande parte de sua magia”, 55 defende Pereira. Para Francisco Rüdiger, docente do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), as celebridades, ao migrarem para as redes sociais, têm seus carismas submetidos a testes cotidianos e banais. “As redes sociais abriram aos fãs a possibilidade de articular, mais ampla e cotidianamente, o culto de seus ídolos mas, por outro lado, atraíram estes últimos para um terreno onde sua capacidade de gerenciar a própria 60 imagem e influência é muito mais fraca ou instável. As celebridades não podem ficar fora das redes, se quiserem continuar sendo celebridades, mas a redução da distância que assim se instala, converte-se em fonte de perigo para sua condição”, acredita. Ferrari aponta para o fim do antigo esquema celebridade-mídia-público. Pois, agora, os fãs podem interagir diretamente com seus ídolos (e vice-versa), sem precisar de intermediário. “As mídias sociais tiraram os intermediários, 65 ou seja, a grande mídia. Hoje uma celebridade interage diretamente com seus fãs pelo Twitter, Facebook, MySpace etc. O feedback é instantâneo”, conclui. Disponível em: . Acesso em: 12 de set. 2010. (Texto modificado) Assinale a alternativa correta. A) O termo em destaque em: “Já Pereira lembra que a ‘espetacularização’ do cotidiano atinge a todos [...]”. (linhas 30 e 31), é equivalente à expressão em destaque no trecho a seguir. “Por sua vez, essa nova legião de exibicionistas satisfaz outra vontade geral do público contemporâneo: o desejo de espionar e consumir vidas alheias”. (linhas 18 e 19) B) Em: “Afinal, a internet abre ainda mais espaço para condutas sociais desviantes que raramente poderiam se concretizar na vida off-line.” (linhas 23 e 24), o emprego do futuro do pretérito em poderiam indica ação decorrida no passado, posterior à ação de abrir. C) Em: “Pois, agora, os fãs podem interagir diretamente com seus ídolos (e vice-versa), sem precisar de um intermediário”. (linhas 63 e 64), o termo em destaque refere-se ao momento da fala. D) O texto tem por temática a mudança do conceito de celebridade com o advento da internet. Gabarito: A Resolução: Em B, o verbo "poderiam" expressa ação hipotética, não ocorrida no passado, nem no futuro. Em C, o termo "agora" não se refere ao momento da enunciação ou fala, e sim à realidade contemporânea descrita (equivale a "com a utilização das redes sociais como o Twitter"). A alternativa D também está incorreta, pois o texto aborda não uma mudança no conceito de celebridade, e sim uma mudança na relação entre celebridades e o público, por conta das redes sociais na internet. Questão 16 1 Vou confessar um pecado: às vezes, faço maldades. Mas não faço por mal. Faço o que faziam os 2 mestres zen com seus "koans". "Koans" eram rasteiras que os mestres passavam no pensamento dos 3 discípulos. Eles sabiam que só se aprende o novo quando as certezas velhas caem. E acontece que eu 4 gosto de passar rasteiras em certezas de jovens e de velhos... 5 Pois o que eu faço é o seguinte. Lá estão os jovens nos semáforos, de cabeças raspadas e caras 6 pintadas, na maior alegria, celebrando o fato de haverem passado no vestibular. Estão pedindo dinheiro para 7 a festa! Eu paro o carro, abro a janela e na maior seriedade digo: "Não vou dar dinheiro. Mas vou dar um 8 conselho. Sou professor emérito da Unicamp. O conselho é este: salvem-se enquanto é tempo!". Aí o sinal 9 fica verde e eu continuo. 10 "Mas que desmancha-prazeres você é!", vocês me dirão. É verdade. Desmancha-prazeres. Prazeres 11 inocentes baseados no engano. Porque aquela alegria toda se deve precisamente a isto: eles estão 12 enganados. 13 Estão alegres porque acreditam que a universidade é a chave do mundo. Acabaram de chegar ao 14 último patamar. As celebrações têm o mesmo sentido que os eventos iniciáticos – nas culturas ditas 15 primitivas, as provas a que têm de se submeter os jovens que passaram pela puberdade. Passadas as 16 provas e os seus sofrimentos, os jovens deixaram de ser crianças. Agora são adultos, com todos os seus 17 direitos e deveres. Podem assentar-se na roda dos homens. Assim como os nossos jovens agora podem 18 dizer: "Deixei o cursinho. Estou na universidade". 19 Houve um tempo em que as celebrações eram justas. Isso foi há muito tempo, quando eu era jovem. 20 Naqueles tempos, um diploma universitário era garantia de trabalho. Os pais se davam como prontos para 21 morrer quando uma destas coisas acontecia: 1) a filha se casava. Isso garantia o seu sustento pelo resto da 22 vida; 2) a filha tirava o diploma de normalista. Isso garantiria o seu sustento caso não casasse; 3) o filho 23 entrava para o Banco do Brasil; 4) o filho tirava diploma. 24 O diploma era mais que garantia de emprego. Era um atestado de nobreza. Quem tirava diploma não 25 precisava trabalhar com as mãos, como os mecânicos, pedreiros e carpinteiros, que tinham mãos rudes e 26 sujas. 27 Para provar para todo mundo que não trabalhavam com as mãos, os diplomados tratavam de pôr no 28 dedo um anel com pedra colorida. Havia pedras para todas as profissões: médicos, advogados, músicos, 29 engenheiros. Até os bispos tinham suas pedras. 30 (Ah! Ia me esquecendo: os pais também se davam como prontos para morrer quando o filho entrava 31 para o seminário para ser padre – aos 45 anos seria bispo – ou para o exército para ser oficial – aos 45 anos 32 seria general.) 33 Essa ilusão continua a morar na cabeça dos pais e é introduzida na cabeça dos filhos desde 34 pequenos. Profissão honrosa é profissão que tem diploma universitário. Profissão rendosa é a que tem 35 diploma universitário. Cria-se, então, a fantasia de que as únicas opções de profissão são aquelas oferecidas 36 pelas universidades. 37 Quando se pergunta a um jovem "O que é que você vai fazer?", o sentido dessa pergunta é "Quando 38 você for preencher os formulários do vestibular, qual das opções oferecidas você vai escolher?". E as 39 opções não oferecidas? Haverá alternativas de trabalho que não se encontram nos formulários de 40 vestibular? 41 Como todos os pais querem que seus filhos entrem na universidade e (quase) todos os jovens querem 42 entrar na universidade, configura-se um mercado imenso, mas imenso mesmo, de pessoas desejosas de 43 diplomas e prontas a pagar o preço. Enquanto houver jovens que não passam nos vestibulares das 44 universidades do Estado, haverá mercado para a criação de universidades particulares. É um bom negócio. 45 Alegria na entrada. Tristeza ao sair. Forma-se, então, a multidão de jovens com diploma na mão, mas 46 que não conseguem arranjar emprego. Por uma razão aritmética: o número de diplomados é muitas vezes 47 maior que o número de empregos. 48 Já sugeri que os jovens que entram na universidade deveriam aprender, junto com o curso "nobre" 49 que frequentam, um ofício: marceneiro, mecânico, cozinheiro, jardineiro, técnico de computador, eletricista, 50 encanador, descupinizador, motorista de trator... O rol de ofícios possíveis é imenso. Pena que, nas escolas, 51 as crianças e os jovens não sejam informados sobre essas alternativas, por vezes mais felizes e mais 52 rendosas. 53 Tive um amigo professor que foi guindado, contra a sua vontade, à posição de reitor de um grande 54 colégio americano no interior de Minas. Ele odiava essa posição porque era obrigado a fazer discursos. E ele 55 tremia de medo de fazer discursos. Um dia ele desapareceu sem explicações. Voltou com a família para o 56 seu país, os Estados Unidos. Tempos depois, encontrei um amigo comum e perguntei: "Como vai o 57 Fulano?". Respondeu-me: "Felicíssimo. É motorista de um caminhão gigantesco que cruza o país!". Rubem Alves. Diploma não é solução, Folha de S. Paulo, 25 mai.2004. Assinale a opção em que o verbo ter apresenta valor semântico diferente das demais. a) As celebrações têm o mesmo sentido que os eventos iniciáticos […]. (l. 14) b) […] as provas a que têm de se submeter os jovens que passaram pela puberdade. (l. 15) c) […] como os mecânicos, pedreiros e carpinteiros, que tinham as mãos rudes e sujas. (l. 25-26) d) Profissão honrosa é profissão que tem diploma universitário. (l. 34) e) Tive um amigo professor que foi guindado, contra a sua vontade, à posição de reitor […] (l. 53) Gabarito: B Resolução: A alternativa a ser assinalada é a B, por ser a única opção em que o verbo ter apresenta valor semântico diferente das demais. Em “[…] as provas a que têm de se submeter os jovens que passaram pela puberdade” (l. 24-25), este verbo tem valor de dever/precisar, enquanto as outras ocorrências transmitem sentido de possuir. Questão 17 1 Vou confessar um pecado: às vezes, faço maldades. Mas não faço por mal. Faço o que faziam os 2 mestres zen com seus "koans". "Koans" eram rasteiras que os mestres passavam no pensamento dos 3 discípulos. Eles sabiam que só se aprende o novo quando as certezas velhas caem. E acontece que eu 4 gosto de passar rasteiras em certezas de jovens e de velhos... 5 Pois o que eu faço é o seguinte. Lá estão os jovens nos semáforos, de cabeças raspadas e caras 6 pintadas, na maior alegria, celebrando o fato de haverem passado no vestibular. Estão pedindo dinheiro para 7 a festa! Eu paro o carro, abro a janela e na maior seriedade digo: "Não vou dar dinheiro. Mas vou dar um 8 conselho. Sou professor emérito da Unicamp. O conselho é este: salvem-se enquanto é tempo!". Aí o sinal 9 fica verde e eu continuo. 10 "Mas que desmancha-prazeres você é!", vocês me dirão. É verdade. Desmancha-prazeres. Prazeres 11 inocentes baseados no engano. Porque aquela alegria toda se deve precisamente a isto: eles estão 12 enganados. 13 Estão alegres porque acreditam que a universidade é a chave do mundo. Acabaram de chegar ao 14 último patamar. As celebrações têm o mesmo sentido que os eventos iniciáticos – nas culturas ditas 15 primitivas, as provas a que têm de se submeter os jovens que passaram pela puberdade. Passadas as 16 provas e os seus sofrimentos, os jovens deixaram de ser crianças. Agora são adultos, com todos os seus 17 direitos e deveres. Podem assentar-se na roda dos homens. Assim como os nossos jovens agora podem 18 dizer: "Deixei o cursinho. Estou na universidade". 19 Houve um tempo em que as celebrações eram justas. Isso foi há muito tempo, quando eu era jovem. 20 Naqueles tempos, um diploma universitário era garantia de trabalho. Os pais se davam como prontos para 21 morrer quando uma destas coisas acontecia: 1) a filha se casava. Isso garantia o seu sustento pelo resto da 22 vida; 2) a filha tirava o diploma de normalista. Isso garantiria o seu sustento caso não casasse; 3) o filho 23 entrava para o Banco do Brasil; 4) o filho tirava diploma. 24 O diploma era mais que garantia de emprego. Era um atestado de nobreza. Quem tirava diploma não 25 precisava trabalhar com as mãos, como os mecânicos, pedreiros e carpinteiros, que tinham mãos rudes e 26 sujas. 27 Para provar para todo mundo que não trabalhavam com as mãos, os diplomados tratavam de pôr no 28 dedo um anel com pedra colorida. Havia pedras para todas as profissões: médicos, advogados, músicos, 29 engenheiros. Até os bispos tinham suas pedras. 30 (Ah! Ia me esquecendo: os pais também se davam como prontos para morrer quando o filho entrava 31 para o seminário para ser padre – aos 45 anos seria bispo – ou para o exército para ser oficial – aos 45 anos 32 seria general.) 33 Essa ilusão continua a morar na cabeça dos pais e é introduzida na cabeça dos filhos desde 34 pequenos. Profissão honrosa é profissão que tem diploma universitário. Profissão rendosa é a que tem 35 diploma universitário. Cria-se, então, a fantasia de que as únicas opções de profissão são aquelas oferecidas 36 pelas universidades. 37 Quando se pergunta a um jovem "O que é que você vai fazer?", o sentido dessa pergunta é "Quando 38 você for preencher os formulários do vestibular, qual das opções oferecidas você vai escolher?". E as 39 opções não oferecidas? Haverá alternativas de trabalho que não se encontram nos formulários de 40 vestibular? 41 Como todos os pais querem que seus filhos entrem na universidade e (quase) todos os jovens querem 42 entrar na universidade, configura-se um mercado imenso, mas imenso mesmo, de pessoas desejosas de 43 diplomas e prontas a pagar o preço. Enquanto houver jovens que não passam nos vestibulares das 44 universidades do Estado, haverá mercado para a criação de universidades particulares. É um bom negócio. 45 Alegria na entrada. Tristeza ao sair. Forma-se, então, a multidão de jovens com diploma na mão, mas 46 que não conseguem arranjar emprego. Por uma razão aritmética: o número de diplomados é muitas vezes 47 maior que o número de empregos. 48 Já sugeri que os jovens que entram na universidade deveriam aprender, junto com o curso "nobre" 49 que frequentam, um ofício: marceneiro, mecânico, cozinheiro, jardineiro, técnico de computador, eletricista, 50 encanador, descupinizador, motorista de trator... O rol de ofícios possíveis é imenso. Pena que, nas escolas, 51 as crianças e os jovens não sejam informados sobre essas alternativas, por vezes mais felizes e mais 52 rendosas. 53 Tive um amigo professor que foi guindado, contra a sua vontade, à posição de reitor de um grande 54 colégio americano no interior de Minas. Ele odiava essa posição porque era obrigado a fazer discursos. E ele 55 tremia de medo de fazer discursos. Um dia ele desapareceu sem explicações. Voltou com a família para o 56 seu país, os Estados Unidos. Tempos depois, encontrei um amigo comum e perguntei: "Como vai o 57 Fulano?". Respondeu-me: "Felicíssimo. É motorista de um caminhão gigantesco que cruza o país!". Rubem Alves. Diploma não é solução, Folha de S. Paulo, 25 mai. 2004. No trecho “Até os bispos tinham suas pedras.”, a palavra destacada expressa a ideia de: a) inclusão. b) tempo. c) modo. d) quantidade. e) qualidade. Gabarito: A Resolução: A alternativa correta é a A. No trecho “Até os bispos tinham suas pedras.”, a palavra destacada expressa ideia de inclusão, o que observa-se a partir da possibilidade de substituição de “até” por “inclusive” (Inclusive os bispos tinham suas pedras). Questão 18 Eu a vejo e parece que vem de longa viagem. O Largo da Palma, tão quieto e assim vazio de gente, talvez seja agora o mais tranquilo recanto de Salvador da Bahia. A tarde se acaba, é verdade, mas a noite 05 ainda não chegou. E por que me encontro aqui, quem sou, isso não importa. O que realmente conta é que estou na esquina do Bângala, de pé e a fumar, buscando trazer a paz do largo para mim mesmo. As árvores, as lâmpadas fracas nos postes de cimento e o vento 10 manso. O largo seria apenas isso não fosse a mulher que vem tropeçando muito, talvez bêbada ou uma epiléptica, quase a alcançar a escadaria do pátio da igreja. Cai, estremecendo, em silêncio. — Misericórdia! — exclamo, já a correr, aproximando-me. 15 E mal me debruço para acudi-la, não tenho dúvida de que está morrendo. Dois ou três minutos de vida, no máximo. E penso que, se tentar erguê-la, morrerá em meus braços. Debruço-me um pouco mais, esforçando-me por levantá-la. Os olhos se escancaram, a respiração 20 falta, uma golfada de sangue preto. E, porque sei que está morta, recoloco-a no chão, com cuidado, como se temesse feri-la. [...] Hoje, dois meses após a morte da mulher, o Largo da Palma já a esqueceu porque, velho como é, não tem 25 memória para todos os acontecimentos. Não deve sequer lembrar-se de quando levantaram as casas mais baixas e estreitas, estas de telhas tão pretas quanto o tempo, com o verde e o azul em tintas fortes ocultando as cicatrizes e as rugas. E, certamente, não se lembra 30 de quando foram plantadas as árvores e chegaram os primeiros pombos.Vendo-o agora, nesta penumbra que sempre avisa a aproximação das noites na Bahia, com a igreja vazia e os sobradinhos em silêncio, penso na mulher que morreu em meus braços. ADONIAS FILHO. Um corpo sem nome. ____. O largo da Palma. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014. p. 73 e p. 80. A análise de fragmento retirado do texto de Adonias Filho está correta em I. No período “O Largo da Palma, tão quieto e assim vazio de gente, talvez seja agora o mais tranquilo recanto de Salvador da Bahia.” (l. 1-4), existem duas orações. II. Em “talvez bêbada ou uma epiléptica, quase a alcançar a escadaria do pátio da igreja.” (l. 11-13), o “a” em negrito, nas duas ocorrências, pertence à mesma classe gramatical. III. O trecho “As árvores, as lâmpadas fracas nos postes de cimento e o vento manso.” (l. 8-10) constitui uma frase nominal, utilizada para descrição de cenário. IV. O “o”, em “Vendo-o agora, nesta penumbra” (l. 31), é um pronome e se refere a “Largo da Palma”. (l. 23-24). V. O verbo destacado em “penso na mulher que morreu em meus braços.” (l. 33-34) está usado como transitivo direto. A alternativa em que todas as afirmativas indicadas estão corretas é a (01) I e III. (02) II e IV. (03) III e IV. (04) I, II e V. (05) II, III e V. Gabarito: 03 Resolução: I. Incorreta. No período “O Largo da Palma, tão quieto e assim vazio de gente, talvez seja agora o mais tranquilo recanto de Salvador da Bahia.” (l. 1-4), existe apenas uma oração cujo sujeito é "O Largo da Palma" e o verbo principal "seja". II. Incorreta. Em “talvez bêbada ou uma epiléptica, quase a alcançar a escadaria do pátio da igreja.” (l. 11-13), o “a” é, primeiramente, preposição e, em seguida, artigo definido. III. Correta. O trecho “As árvores, as lâmpadas fracas nos postes de cimento e o vento manso.” (l. 8- 10) constitui uma frase nominal, sem núcleo verbal, utilizada para descrição de cenário. IV. Correta. O “o”, em “Vendo-o agora, nesta penumbra” (l. 31), é um pronome oblíquo átono e se refere a “Largo da Palma”. (l. 23-24). V. Incorreta. O verbo "penso", destacado em “penso na mulher que morreu em meus braços” está usado como transitivo indireto. Questão 19 1 ?Não há hoje no mundo, em qualquer domínio de atividade artística, um artista cuja arte contenha ?maior universalidade que a de Charles Chaplin. A razão vem de que o tipo de Carlito é uma dessas ?criações que, salvo idiossincrasias muito raras, interessam e agradam a toda a gente. Como os heróis ?das lendas populares ou as personagens das velhas farsas de mamulengo. 5 ?Carlito é popular no sentido mais alto da palavra. Não saiu completo e definitivo da cabeça de ?Chaplin: foi uma criação em que o artista procedeu por uma sucessão de tentativas e erradas. ?Chaplin observava sobre o público o efeito de cada detalhe. ?Um dos traços mais característicos da pessoa física de Carlito foi achado casual. Chaplin certa ?vez lembrou-se de arremedar a marcha desgovernada de um tabético. O público riu: estava fixado o 10 ?andar habitual de Carlito. ?O vestuário da personagem – fraquezinho humorístico, calças lambazonas, botinas ?escarrapachadas, cartolinha – também se fixou pelo consenso do público. Certa vez que Carlito trocou por outras as botinas escarrapachadas e a clássica cartolinha, o ?público não achou graça: estava desapontado. Chaplin eliminou imediatamente a variante. Sentiu com o 15 ?público que ela destruía a unidade física do tipo. Podia ser jocosa também, mas não era mais Carlito. Note-se que essa indumentária, que vem dos primeiros filmes do artista, não contém nada de ?especialmente extravagante. Agrada por não sei quê de elegante que há no seu ridículo de miséria. ?Pode-se dizer que Carlito possui o dandismo do grotesco. Não será exagero afirmar que toda a humanidade viva colaborou nas salas de cinema para a 20 realização da personagem de Carlito, como ela aparece nessas estupendas obras-primas de humour ?que são O garoto, Ombro arma, Em busca do ouro e O circo. Isto por si só atestaria em Chaplin um extraordinário dom de discernimento psicológico. Não ?obstante, se não houvesse nele profundidade de pensamento, lirismo, ternura, seria levado por esse ??processo de criação à vulgaridade dos artistas medíocres que condescendem com o fácil gosto do 25 ??público. ?Aqui é que começa a genialidade de Chaplin. Descendo até o público, não só não se vulgarizou, ?mas ao contrário ganhou maior força de emoção e de poesia. A sua originalidade extremou- se. Ele ?soube isolar em seus dados pessoais, em sua inteligência e em sua sensibilidade de exceção, os ?elementos de irredutível humanidade. Como se diz em linguagem matemática, pôs em evidência o fator 30 ?comum de todas as expressões humanas. O olhar de Carlito, no filme O circo, para a brioche do menino ?faz rir a criançada como um gesto de gulodice engraçada. Para um adulto pode sugerir da maneira mais ?dramática todas as categorias do desejo. A sua arte simplificou-se ao mesmo tempo que se aprofundou ?e alargou. Cada espectador pode encontrar nela o que procura: o riso, a crítica, o lirismo ou ainda o ??contrário de tudo isso. 35 ?Essas reflexões me acudiram ao espírito ao ler umas linhas da entrevista fornecida a Florent Fels ?pelo pintor Pascin, búlgaro naturalizado americano. Pascin não gosta de Carlito e explicou que uma fita ?de Carlito nos Estados Unidos tem uma significação muito diversa da que lhe dão fora de lá. Nos ?Estados Unidos Carlito é o sujeito que não sabe fazer as coisas como todo mundo, que não sabe viver ?como os outros, não se acomoda em meio algum – em suma um inadaptável. O espectador americano 40 ?ri satisfeito de se sentir tão diferente daquele sonhador ridículo. É isto que faz o sucesso de Chaplin nos ?Estados Unidos. Carlito com as suas lamentáveis aventuras constitui ali uma lição de moral para ?educação da mocidade no sentido de preparar uma geração de homens hábeis, práticos e bem ??quaisquer! Por mais ao par que se esteja do caráter prático do americano, do seu critério de sucesso para 45 julgamento das ações humanas, do seu gosto pela estandardização, não deixa de surpreender aquela ?interpretação moralista dos filmes de Chaplin. Bem examinadas as coisas, não havia motivo para ?surpresa. A interpretação cabe perfeitamente dentro do tipo e mais: o americano bem verdadeiramente americano, o que veda a entrada do seu território a doentes e estropiados, o que propõe o pacto contra a guerra e ao mesmo tempo assalta a Nicarágua, não poderia sentir de outro modo. 50 Não importa, não será menos legítima a concepção contrária, tanto é verdade que tudo cabe na ?humanidade vasta de Carlito. Em vez de um fraco, de um pulha, de um inadaptável, posso eu interpretar Carlito como um herói. Carlito passa por todas as misérias sem lágrimas nem queixas. Não é força isto? ?Não perde a bondade apesar de todas as experiências, e no meio das maiores privações acha um jeito ??????????de amparar a outras criaturas em aperto. Isso é pulhice? 55 ??Aceita com estoicismo as piores situações, dorme onde é possível ou não dorme, come sola de?? ?sapato cozida como se se tratasse de alguma língua do Rio Grande. É um inadaptável??? ?Sem dúvida não sabe se adaptar às condições de sucesso na vida. Mas haverá sucesso que ????? ?valha a força de ânimo do sujeito sem nada neste mundo, sem dinheiro, sem amores, sem teto, quando? ?ele pode agitar a bengalinha como Carlito com um gesto de quem vai tirar a felicidade do nada? Quando? 60 ???um ajuntamento se forma nos filmes, os transeuntes vão parando e acercando-se do grupo com um ar ? ?de curiosidade interesseira. Todos têm uma fisionomia preocupada. Carlito é o único que está certo do ? ?????prazer ingênuo de olhar.??? ?Neste sentido Carlito é um verdadeiro professor de heroísmo. Quem vive na solidão das grandes ? cidades não pode deixar de sentir intensamente o influxo da sua lição, e uma simpatia enorme nos ? 65 ????prende ao boêmio nos seus gestosde aceitação tão simples.? ?????Nada mais heroico, mais comovente do que a saída de Carlito no fim de O circo. Partida a ? ?companhia, em cuja troupe seguia a menina que ele ajudara a casar com outro, Carlito por alguns? ?momentos se senta no círculo que ficou como último vestígio do picadeiro, refletindo sobre os dias de?????? ?barriga cheia e relativa felicidade sentimental que acabava de desfrutar. Agora está de novo sem nada e? 70 ?inteiramente só. Mas os minutos de fraqueza duram pouco. Carlito levanta-se, dá um puxão na ? ?casaquinha para recuperar a linha, faz um molinete com a bengalinha e sai campo afora sem olhar para ? trás. Não tem um vintém, não tem uma afeição, não tem onde dormir nem o que comer. No entanto vai ? como um conquistador pisando em terra nova. Parece que o Universo é dele. E não tenham dúvida: o ? ?Universo é dele.? 75 ?Com efeito, Carlito é poeta.? BANDEIRA, Manuel. Crônicas da Província do Brasil. 1937.???? idiossincrasia (linha 3): maneira de ser e de agir própria de cada pessoa.?????? mamulengo (linha 4): fantoche, boneco usado à mão em peças de teatro popular ou infantil. tabético (linha 9): que tem andar desgovernado, sem muita firmeza.??? dandismo (linha 18): relativo ao indivíduo que se veste e se comporta com elegância. pulhice (linha 54): safadeza, canalhice. estoicismo (linha 55): resignação com dignidade diante do sofrimento, da adversidade, do infortúnio.? molinete (linha 71): movimento giratório que se faz com a espada ou outro objeto semelhante.? Assinale a opção cujo elemento coesivo em negrito substitui os dois-pontos sem alterar o sentido do enunciado. a) Não saiu completo e definitivo da cabeça de Chaplin: foi uma criação em que o artista procedeu por uma sucessão de tentativas e erradas. (linhas 5 e 6) – já que b) O público riu: estava fixado o andar habitual de Carlito. (linhas 9 e 10) – visto que c) [...] o público não achou graça: estava desapontado. (linhas 13 e 14) – de forma que d) Cada espectador pode encontrar nela o que procura: o riso, a crítica, o lirismo ou ainda o contrário de tudo isso. (linhas 33 e 34) – posto que e) A interpretação cabe perfeitamente dentro do tipo e mais: o americano bem verdadeiramente americano, o que veda a entrada do seu território a doentes e estropiados [...]. (linhas 47 a 48) – tanto que Gabarito: A Resolução: Na frase transcrita em A, os dois-pontos inserem uma explicação, e a conjunção "já que" é explicativa, mantendo o sentido do texto original. Em B, os dois-pontos estabelecem uma relação de causa e consequência, o que não é mantido pela conjunção "visto que", que tem sentido causal ou explicativo. Em C, os dois-pontos estabelecem uma relação explicativa, o que não é mantido por "de forma que". Em D, os dois-pontos inserem uma enumeração de valor apositivo, e "posto que" tem valor causal. Em E, os dois-pontos precede uma oração de valor apositivo (que explica o termo "mais"), e esse sentido não é mantido por "tanto que". Questão 20 1 ?Não há hoje no mundo, em qualquer domínio de atividade artística, um artista cuja arte contenha ?maior universalidade que a de Charles Chaplin. A razão vem de que o tipo de Carlito é uma dessas ?criações que, salvo idiossincrasias muito raras, interessam e agradam a toda a gente. Como os heróis ?das lendas populares ou as personagens das velhas farsas de mamulengo. 5 ?Carlito é popular no sentido mais alto da palavra. Não saiu completo e definitivo da cabeça de ?Chaplin: foi uma criação em que o artista procedeu por uma sucessão de tentativas e erradas. ?Chaplin observava sobre o público o efeito de cada detalhe. ?Um dos traços mais característicos da pessoa física de Carlito foi achado casual. Chaplin certa ?vez lembrou-se de arremedar a marcha desgovernada de um tabético. O público riu: estava fixado o 10 ?andar habitual de Carlito. ?O vestuário da personagem – fraquezinho humorístico, calças lambazonas, botinas ?escarrapachadas, cartolinha – também se fixou pelo consenso do público. Certa vez que Carlito trocou por outras as botinas escarrapachadas e a clássica cartolinha, o ?público não achou graça: estava desapontado. Chaplin eliminou imediatamente a variante. Sentiu com o 15 ?público que ela destruía a unidade física do tipo. Podia ser jocosa também, mas não era mais Carlito. Note-se que essa indumentária, que vem dos primeiros filmes do artista, não contém nada de ?especialmente extravagante. Agrada por não sei quê de elegante que há no seu ridículo de miséria. ?Pode-se dizer que Carlito possui o dandismo do grotesco. Não será exagero afirmar que toda a humanidade viva colaborou nas salas de cinema para a 20 realização da personagem de Carlito, como ela aparece nessas estupendas obras-primas de humour ?que são O garoto, Ombro arma, Em busca do ouro e O circo. Isto por si só atestaria em Chaplin um extraordinário dom de discernimento psicológico. Não ?obstante, se não houvesse nele profundidade de pensamento, lirismo, ternura, seria levado por esse ??processo de criação à vulgaridade dos artistas medíocres que condescendem com o fácil gosto do 25 ??público. ?Aqui é que começa a genialidade de Chaplin. Descendo até o público, não só não se vulgarizou, ?mas ao contrário ganhou maior força de emoção e de poesia. A sua originalidade extremou- se. Ele ?soube isolar em seus dados pessoais, em sua inteligência e em sua sensibilidade de exceção, os ?elementos de irredutível humanidade. Como se diz em linguagem matemática, pôs em evidência o fator 30 ?comum de todas as expressões humanas. O olhar de Carlito, no filme O circo, para a brioche do menino ?faz rir a criançada como um gesto de gulodice engraçada. Para um adulto pode sugerir da maneira mais ?dramática todas as categorias do desejo. A sua arte simplificou-se ao mesmo tempo que se aprofundou ?e alargou. Cada espectador pode encontrar nela o que procura: o riso, a crítica, o lirismo ou ainda o ??contrário de tudo isso. 35 ?Essas reflexões me acudiram ao espírito ao ler umas linhas da entrevista fornecida a Florent Fels ?pelo pintor Pascin, búlgaro naturalizado americano. Pascin não gosta de Carlito e explicou que uma fita ?de Carlito nos Estados Unidos tem uma significação muito diversa da que lhe dão fora de lá. Nos ?Estados Unidos Carlito é o sujeito que não sabe fazer as coisas como todo mundo, que não sabe viver ?como os outros, não se acomoda em meio algum – em suma um inadaptável. O espectador americano 40 ?ri satisfeito de se sentir tão diferente daquele sonhador ridículo. É isto que faz o sucesso de Chaplin nos ?Estados Unidos. Carlito com as suas lamentáveis aventuras constitui ali uma lição de moral para ?educação da mocidade no sentido de preparar uma geração de homens hábeis, práticos e bem ??quaisquer! Por mais ao par que se esteja do caráter prático do americano, do seu critério de sucesso para 45 julgamento das ações humanas, do seu gosto pela estandardização, não deixa de surpreender aquela ?interpretação moralista dos filmes de Chaplin. Bem examinadas as coisas, não havia motivo para ?surpresa. A interpretação cabe perfeitamente dentro do tipo e mais: o americano bem verdadeiramente americano, o que veda a entrada do seu território a doentes e estropiados, o que propõe o pacto contra a guerra e ao mesmo tempo assalta a Nicarágua, não poderia sentir de outro modo. 50 Não importa, não será menos legítima a concepção contrária, tanto é verdade que tudo cabe na ?humanidade vasta de Carlito. Em vez de um fraco, de um pulha, de um inadaptável, posso eu interpretar Carlito como um herói. Carlito passa por todas as misérias sem lágrimas nem queixas. Não é força isto? ?Não perde a bondade apesar de todas as experiências, e no meio das maiores privações acha um jeito ??????????de amparar a outras criaturas em aperto. Isso é pulhice? 55 ??Aceita com estoicismo as piores situações, dorme onde é possível ou não dorme, come sola de?? ?sapato cozida como se se tratasse de alguma