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7 AS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS Segundo Gomes (2010), as relações étnico-raciais são dinâmicas que remetem diretamente às questões enfrentadas pela população negra no Brasil, incluindo os conflitos, tensões e violências vivenciados ao longo da história desse grupo. Esse conceito abrange todos os processos históricos, sociais, políticos e culturais que emergem na identidade dos indivíduos negros. É a partir dessas interações que se moldam os modos de identificação, pertencimento e a construção de uma identidade, resultando nas relações étnico- raciais. Discutir essas relações implica compreender os processos históricos que influenciaram a percepção da população negra no Brasil, culminando nas atuais discussões sobre identificação, ao se desconstruir o conhecimento que, por séculos, foi adaptado e narrado pela perspectiva do colonizador europeu. Reconhecer a relevância da cultura e da história africanas no Brasil implica criticar o eurocentrismo, uma historiografia que se fundamenta e se sustenta em preconceitos, apresentando uma estrutura epistemológica do continente africano idealizada por homens brancos patriarcais, cujos valores são cristãos e militares. Essa perspectiva busca estabelecer um conhecimento hegemônico que subalterniza e desvaloriza todos os outros, especialmente aqueles originários da África, justificando uma hierarquia global de poder (NOGUEIRA, 2010). Sob essa ótica, a história do Brasil é narrada e interpretada por brancos com uma perspectiva eurocêntrica, que constroem e reconstroem suas histórias a partir de uma epistemologia única. Essa abordagem tem como premissa fundamental o esquecimento e a estratégia de eliminar a presença do negro, seja em termos demográficos, como um continente e nação, ou como uma cultura que não é reconhecida por supostamente não ser "civilizada" (NASCIMENTO, 2020). A noção de "civilizado" remete à colonialidade/modernidade, que sustentou a ideia de raças superiores e inferiores. Nesse contexto, o branco foi visto como o "civilizado" e inteligente, enquanto o negro foi considerado incapaz. Essa concepção de colonialidade/modernidade foi determinante para a dominação da população negra, contribuindo para o genocídio e o epistemicídio desse grupo ao longo da história, especialmente durante o período da escravidão. Assim, essa ideia legitimou a opressão dos colonizadores europeus sobre os negros, permitindo o esquecimento de todas as manifestações culturais, sociais, políticas, econômicas e epistemológicasdo povo negro na história e na formação das Américas (MIGNOLO, 2017). Com base nessa perspectiva, as teorias pedagógicas dos educadores ainda tendem a perpetuar, no processo de ensino-aprendizagem, uma visão desvalorizadora do continente africano e da população negra, resultando em um colapso de desinformação e na reprodução de uma historiografia elaborada por brancos e voltada para brancos (MUNANGA, 2008). Assim, é necessário que professores e instituições de ensino promovam mudanças nas práticas relacionadas ao ensino da cultura e da história africana e afro-brasileira. É necessário descolonizar o currículo e todas as formas que sustentam o eurocentrismo e esse conhecimento universalizante. É necessário reconhecer que o racismo é uma realidade no Brasil e se configura como um mecanismo estrutural de poder que molda as relações sociais tanto dentro quanto fora do ambiente escolar. Nesse contexto, a maneira como as interações entre os indivíduos é estabelecida afeta diretamente os diversos grupos étnicos, especialmente a cultura africana, que exerceu aspectos importantes na formação da identidade do povo brasileiro. Estudos sobre educação no contexto étnico-racial mostram que as instituições de ensino e seus profissionais, especificamente os professores, evidenciam falta de preparo e iniciativa para implementar ações educativas e práticas de aprendizagem que promovam a educação para a diversidade (CAVALLEIRO, 2005). Além disso, a invisibilidade dos alunos afrodescendentes nas escolas dificulta a construção de uma identidade negra positiva. Isso ocorre porque, segundo Munanga (2008), os educadores devido à falta de preparo ou preconceitos internalizados, não conseguem aproveitar as situações evidentes de discriminação no ambiente escolar e na sala de aula como oportunidades pedagógicas para discutir a diversidade e conscientizar seus alunos sobre a importância e o valor que ela agrega à cultura e à identidade nacional. Dessa forma, se as instituições de ensino continuam a desconsiderar, negligenciar e até folclorizar os signos e representações étnico-raciais, conforme destaca Filice (2011), é importante conceber e implementar uma educação multicultural e democrática que enfrente o silenciamento das expressões culturais da população afrodescendente.Formar para as relações étnico-raciais demanda práticas e ações pedagógicas que promovam a consolidação da educação para a diversidade. É essencial iniciar com a quebra de políticas que não favorecem reflexões e discussões sobre o tema. Também se faz necessária uma abordagem (in)formativa que forneça saberes e conhecimentos teóricos sobre o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira para os educadores. 7.1 Os professores estão preparados para falar sobre diversidade étnico- racial? Conforme Paixão (2008), a iniciativa de discutir a diversidade étnico-racial e com os alunos a realidade da população negra na sociedade brasileira (invisibilidade, discriminação, preconceito e racismo; processos de luta e valorização da identidade negra) provocou na equipe pedagógica das escolas e nos professores responsáveis pela turma uma combinação de surpresa e entusiasmo. Os profissionais da instituição a princípio não acolheram com facilidade a proposta de aula, uma vez que parecia incomum o interesse em tratar desse tema (diversidade étnico-racial) com os alunos. Essa reação à proposta de trabalho não causou surpresa, uma vez que se reconhece a presença de práticas de racismo, preconceito e discriminação racial na escola, decorrentes da formação ideológica da sociedade brasileira, adaptada pelos conceitos predominantes da elite branca. Cavalleiro (2005), defende essa perspectiva ao afirmar que muitos educadores não tiveram a chance de realizar, de forma sistemática, leituras sobre a dinâmica das relações raciais e o enfrentamento ao racismo na sociedade brasileira. Nesse percurso, acabam incorporando, em suas falas e práticas, referências do senso comum sobre as desigualdades entre negros e brancos no Brasil. Embora as políticas educacionais, atuais estabeleçam legalmente uma educação voltada para a diversidade étnico-racial e apresentem diretrizes para esse trabalho, assim, observa-se a presença de pensamentos e práticas educativas que são contraditórios e desafiadores. Para promover o desenvolvimento de ações focadas nesse tema, apenas as leis não são suficientes. Gomes e Martins (2009), destacam aspectos essenciais relacionados à formação e práticas de professores, esclarecendo que a implementação da Lei n°10.639/2003 ainda depende da boa vontade, do desejo ou do compromisso individual de educadores e pesquisadores. Além dos problemas que essa situação gera, ela resulta na falta de inserção da temática étnico-racial e africana nos currículos e nas práticas pedagógicas, desde a educação básica até o ensino superior. Assim, se o docente, o pesquisador ou o grupo de profissionais que promove essa discussão na escola e nos cursos de graduação e pós-graduação se ausenta, muda de instituição ou se aposenta, a continuidade da discussão fica comprometida. Discutir na escola a cultura negra e a diversidade racial apresenta desafios, uma vez que a maioria dos professores não tem uma formação apropriada para tratar desse assunto em sala de aula no que diz respeito à questão da racialidade (NASCIMENTO, 2020). 7.2 o fazer pedagógico e a educação para as relações étnico- raciais Frente aos diversos desafios que os educadores enfrentam ao tratar das questões étnico-raciais na escola, faz necessário que a equipe se dedique à criação e implementação de uma aula que incorpora situações de aprendizado por meio do lúdico e da arte. Assim, o foco recai sobre a diversidade étnico-racial, com ênfase na presença da população negra na sociedade brasileira, buscando promover uma nova abordagem teórica, didática e metodológica sobre o tema. As propostas educacionais, precisam assegurar que os alunos vivenciem experiências de aprendizado com diferentes linguagens, possibilitando que eles percebam e reconheçam que a sociedade da qual fazem parte, imersa em uma cultura, é fortemente caracterizada por imagens, sons, movimentos e expressões. Nesse contexto, é preciso valorizar o lúdico, a arte, a história e a literatura (MUNANGA, 2008). Dessa forma, a ludicidade e a arte foram utilizadas como base metodológica para a dinâmica do trabalho desenvolvido com os alunos. A iniciativa teve início com a exploração de elementos que definem a cultura africana e afro-brasileira, os quais devem ser apresentados aos estudantes como um patrimônio importante na formação da cultura brasileira. A interação com diferentes linguagens artísticas, como dança, música e cinema, possibilita a superação da razão estrita, valorizando outros aspectos de percepção e construção do conhecimento, como a emoção e a afetividade, em umprocesso que questiona as representações construídas e internalizadas pelos indivíduos. Segundo Munanga (2008), o imaginário e suas representações, em grande parte localizados no inconsciente coletivo, têm uma dimensão afetiva e emocional que alimenta crenças, valores e estereótipos que moldam as atitudes. É importante identificar e criar técnicas de linguagem que consigam ultrapassar os limites da razão estrita e alcançar o imaginário e suas representações. A abordagem da diversidade étnico-racial, com o grupo de estudantes não se baseou nos aspectos negativos da escravidão no Brasil nem em um discurso superficial que considera a discriminação como algo feio. Em vez disso, foram utilizados elementos do patrimônio cultural brasileiro como referência, permitindo um entendimento mais detalhado da história e da cultura afro-brasileira, além da relevância de sua valorização. A elaboração de um trabalho pedagógico que incorpore esse patrimônio cultural, fundamentado na linguagem e nas expressões artísticas, deve ser vista como essencial para promover um novo entendimento sobre as histórias e as heranças culturais do povo negro, que ainda recebe pouca valorização e atenção no currículo escolar. Apresentar aos alunos diferentes representações simbólicas e materiais que desafiem aquelas que deslegitimam a cultura negra demonstra uma postura de resistência por parte dos educadores, que se opõem aos padrões hegemônicos e hierárquicos que privilegiam uma única cultura em detrimento das demais. Conforme Gomes (2012), é responsabilidade dos professores, como diversos povos, ao longo da história, categorizaram a si mesmos e aos outros, como algumas dessas categorizações foram hierarquizadas no contexto do racismo e de que forma esse fenômeno impacta a construção da autoestima, impedindo a escola de ser democrática e entender o conjunto de representações sobre o negro presentes na sociedade e na escola, e destacando as representações positivas construídas politicamente pelos movimentos negros e pela comunidade afrodescendente. 7.3 A Constatação: as dificuldades para uma educação focada nas relações étnico-raciais De acordo com Gomes e Jesus (2009), ao analisar os dez anos da Lei Federal10.639/03, observa-se que as expectativas relacionadas à sua implementação no sistema educacional brasileiro, como um importante recurso de combate ao racismo, estão, em grande parte, não atendidas. A exigência de incluir no currículo escolar os temas da história e da cultura africana e afro-brasileira, apesar dos esforços do Conselho Nacional de Educação na elaboração das "Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana" (parecer CNE/01 de 2004), assim como um plano interministerial lançado pelo governo brasileiro em 2009 para enfrentar a desigualdade racial e o racismo (PLANAPIR), ainda enfrenta desafios na prática escolar (BRASIL, 2009). Diversas pesquisas têm evidenciado as múltiplas dificuldades para a implementação de práticas pedagógicas que efetivamente enfrentem o racismo presente nas relações sociais e desenvolvam metodologias eficazes de educação para as relações étnico-raciais, fundamentadas no respeito à diversidade e na promoção de uma sociedade multicultural. Tal sociedade seria definida pela convivência harmoniosa entre variados patrimônios culturais, sem a criação de hierarquias de valor entre as diferentes matrizes culturais que formam a sociedade brasileira (GOMES, et al., 2009). Existem diversos obstáculos que dificultam a efetivação de práticas nas escolas que atendam ao propósito da lei no combate ao racismo e à discriminação étnica e racial. desinteresse por questões étnico-raciais observado em algumas instituições não se limita apenas às problemáticas do racismo, da discriminação, do preconceito e do mito da democracia racial. Ele também está vinculado à forma como os educadores abordam aspectos mais amplos de natureza política e pedagógica, como métodos de gestão autoritários, falta de compromisso com a comunidade escolar, desmotivação em relação à carreira docente e perspectivas políticas conservadoras em geral (GOMES; JESUS, 2009). Dessa forma, destaca-se que os limites enfrentados por gestores que tentam ocultar a presença da discriminação no ambiente escolar e não reconhecem a necessidade de reformular as práticas pedagógicas para que a diversidade étnico- racial se torne um princípio orientador do trabalho docente. Muitas vezes, esses gestores tentam disfarçar sua falta de ação afirmando que a escola possui projetos relacionados às manifestações artísticas afro-brasileiras e que promovem eventos específicos dedicados à cultura afro-brasileira, como a "semana da consciêncianegra". Esses argumentos revelam apenas a descontinuidade e o caráter fragmentário dessas iniciativas (SOUZA; PEREIRA, 2009). A desigualdade racial continua a ser encoberta, com uma ênfase na crença no mito da democracia racial e na convivência harmônica entre diferentes etnias, ao mesmo tempo em que se perpetuam estereótipos que desvalorizam os negros, colocando-os em uma posição hierarquicamente inferior. É relevante mencionar exemplos fundamentados em supostos conhecimentos científicos, que reforçam esse estigma de inferioridade, pois, quanto menor a presença de tambores na música, mais qualidade musical. Por isso, a música negra americana é considerada melhor que a musicalidade negra do Brasil, que utiliza mais a percussão, pois este foi um relato de um docente em aula da disciplina de cultura afro-brasileira e africana em uma escola, conforme descrito por SOUZA e PEREIRA, (2009). exemplo mencionado sobre o relato do aluno, evidencia que a ausência de uma formação sólida para os educadores é um fator primordial para que as ações implementadas não alcancem os resultados desejados. Nesse caso, uma interpretação simplista e descontextualizada de uma compreensão mais abrangente dos processos socioculturais contribui para a perpetuação de preconceitos em relação aos negros brasileiros e para a desvalorização da cultura musical de origem africana, que tem uma relação significativa com a cultura e a religiosidade da população negra. Contudo, as questões não se limitam apenas à formação dos educadores. Conforme aponta Silveira (2011) em sua tese de doutorado, mesmo que as iniciativas de formação sejam recorrentes, a ausência de um compromisso genuíno dos gestores em transformar o ambiente escolar em um espaço para desconstruir os mitos que sustentam práticas racistas, resulta em discussões pontuais que não geram impactos na prática docente. Silveira (2011), evidencia em sua tese que o discurso dos professores justifica sua inação, pois, afirmam não possuir formação sobre a história e cultura africana e afro-brasileira, além de carecer de materiais didáticos adequados e de ferramentas metodológicas para enfrentar os desafios impostos pela Lei Federal 10.639/03. Nessa análise realizada por ela, observou-se que, embora haja diversos espaços formativos, os materiais didáticos disponíveis, são raramente consultados, e nenhum esforço sistemático resultou em abordagens metodológicas que introduzam a temática da diversidade étnica e racial nas salas de aula.Santana, Luz e Silva (2009), apontam que uma outra limitação reside na falta de compreensão da cosmovisão africana, o que torna difícil para os educadores adicionar no universo simbólico da cultura de matriz africana, resultando em uma apropriação fragmentada. Dessa forma, não conseguem valorizar e compreender adequadamente os elementos que pretendem tornar relevantes. Essas limitações parecem ter raízes na falta de compreensão do significado de uma educação voltada para as relações étnico-raciais e na necessidade de desenvolver metodologias que transformem o ambiente escolar em um espaço de convivência com a diversidade. Nesse contexto, é importante destacar como as diferenças foram historicamente e socialmente estabelecidas, bem como, os mecanismos que perpetuam comportamentos de afastamento e exclusão. Essa abordagem pode ser um caminho eficaz na busca por uma educação que combata as desigualdades raciais e o racismo. Dessa maneira, é possível desvincular valores e características culturais de uma condição fenotípica baseada em pressupostos genéticos, desconstruindo a falsa igualdade histórico-social entre brancos e negros, que serve como uma máscara para a desigualdade racial efetivamente observada no Brasil. 7.4 Desafio: a educação para as relações étnico-raciais no Brasil De acordo com Silveira e Silveira (2012), nas ações implementadas nas escolas da rede estadual de Uruguaiana, foram criados espaços de vivência voltados para a capoeira, percussão e dança afro, com o objetivo de aproximar os jovens da periferia desse universo. Esses ambientes proporcionaram momentos de ludicidade, troca de experiências e conexão com a cultura africana e afro-brasileira. Para os jovens negros, essa experiência representou uma oportunidade de resgatar sua autoestima, como observado durante o desenvolvimento do projeto. Um aspecto importante a ser destacado aqui é a participação de jovens brancos, que também se reconheceram nessas manifestações culturais. A equipe de pesquisa percebeu que esses participantes puderam aprender sobre a história e cultura africana e afro-brasileira, contribuindo para a valorização do patrimônio cultural do povo negro, cuja importância é facilmente reconhecida no contexto brasileiro.Observa-se que os estereótipos relacionados aos negros estão enraizados no imaginário social, e a associação de características morais a um determinado grupo influencia as ações cotidianas de alunos e professores. Embora a valorização da história e da cultura afro-brasileira contribua para elevar a autoestima dos jovens negros, essa abordagem não demonstra a mesma eficácia em promover mudanças nas relações sociais, tanto no ambiente escolar quanto fora dele, onde a discriminação racial ainda é reproduzida. Apesar do projeto de ação nas escolas da rede estadual de Uruguaiana ter proposto ações de formação para que os professores integrassem a dimensão étnico- racial em suas práticas pedagógicas, os avanços obtidos foram limitados. Assim, serão destacados alguns elementos que podem ajudar a enriquecer a reflexão proposta: No ambiente escolar, observa-se que há manifestações de discriminação racial nas interações entre alunos e na sociabilidade com os professores. Essas atitudes são percebidas como normais, inseridas em práticas culturalmente estabelecidas e em comportamentos não refletidos, ou seja, não gerados de forma intencional. Esse racismo institucionalizado nas práticas sociais afeta as relações dentro da escola e não pode ser superado apenas por meio da valorização da cultura afro-brasileira. As expressões artísticas e culturais de origem afro-brasileira, são vistas por gestores, professores e alunos como admiráveis, belas e impressionantes pela técnica ou pela corporeidade que retratam, já que fazem parte do universo cultural brasileiro, vivenciado por indivíduos de diversas etnias. Um exemplo é o carnaval e a apreciação do samba como estilo musical, geralmente apresentados como desvinculados da cultura afro-brasileira, uma vez que essas manifestações foram apropriadas pela cultura hegemônica, perdendo assim sua essência como rituais da cultura de matriz africana. É importante considerar se o reconhecimento dessas manifestações culturais e o respeito que elas promovem ao universo negro têm a capacidade de eliminar toda a conotação negativa em relação aos descendentes de africanos, perpetuada historicamente no Brasil. Reconhecer as diferenças pode ser um primeiro passo, mas para efetuar mudanças nas relações étnico-raciais, é necessário dissociar essasdiferenças de valores que são moralmente depreciativos. Na formação dos alunos, iniciativas que promovem espaços de reflexão sobre a desigualdade racial e os mecanismos de reprodução do racismo no ambiente escolar podem oferecer uma contribuição significativa. É evidente que, para a formação dos professores, é necessário explorar a dimensão metodológica de suas práticas pedagógicas, o que demandaria um esforço de formação continuada e a revisão do projeto pedagógico da instituição, sem deixar a critério do docente a abordagem da temática da diversidade étnica e racial. Na formação dos alunos, iniciativas que promovem espaços de reflexão sobre a desigualdade racial e os mecanismos de reprodução do racismo no ambiente escolar podem oferecer uma contribuição significativa. É evidente que, para a formação dos professores, é necessário explorar a dimensão metodológica de suas práticas pedagógicas, o que demandaria um esforço de formação continuada e a revisão do projeto pedagógico da instituição, sem deixar a critério do docente a abordagem da temática da diversidade étnica e racial (SILVEIRA; SILVEIRA, 2012). 7.5 A proposição: implicações metodológicas para pensar a educação para as relações étnico-raciais Segundo Santana, Luz e Silva (2009), o argumento de que a intransitividade entre diferentes universos simbólicos resulta na impossibilidade de compreender a gênese histórico-social dessas diferenças, perpetuando o distanciamento e o estranhamento, requer uma abordagem metodológica que transcende o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas. Embora se reconheça a relevância de resgatar conteúdos negligenciados no sistema educacional, ações isoladas são insuficientes para atender às exigências de uma educação étnico-racial que esteja alinhada com os princípios da Lei Federal 10.639/03, conforme apontado por outros estudiosos. Muitas vezes, a aplicação dessa lei é vista apenas como a inclusão de conteúdos históricos, literários e sociológicos, refletindo uma carência de conteúdos específicos sobre a História da África e a Cultura Afro-Brasileira. Contudo, essa lacuna se relaciona a um aspecto mais amplo, que diz respeito a uma maneira de ser e viver no mundo. Essa ausência apresenta o desafio de reavaliar profundamente a

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