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* * PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM INTRODUÇÃO Profa. Ilsimara Moraes da Silva Brasília, 2015 * * “É certo que nunca houve – esperamos que nunca haja – consenso em torno dos conceitos de aprendizagem, ensino, escola e educação. O consenso blinda a dúvida...” (Tunes e Bartholo Jr, 2009) * * Discutindo alguns conceitos de aprendizagem: * * “ A aprendizagem pode ser definida como uma modificação sistemática do comportamento, por efeito da prática ou da experiência, com um sentido de progressiva adaptação ou ajustamento” (Campos, 1986) * * “ Aprender é uma atividade que ocorre dentro de um organismo e que não pode ser diretamente observada. De forma não inteiramente compreendida os sujeitos da aprendizagem são modificados: eles adquirem novas associações, informações, insights, aptidões, hábitos e semelhantes” (Davidoff, 1983) * * “Explicar o mecanismo da aprendizagem (sua natureza, suas características, fatores que influenciam)é esclarecer a maneira pela qual o ser humano se desenvolve, toma conhecimento do mundo em que vive, organiza a sua conduta e se ajusta ao meio físico e social. É pela aprendizagem que o Homem se afirma como ser racional, forma a sua personalidade e se prepara para o papel que lhe cabe no seio da sociedade.” (Campos, 2001) * * “ Se partimos do significado da palavra aprendizagem em latim (aprehendere- agarrar, apoderar-se de algo), podemos conceber a apdz como um processo no qual a pessoa ‘apropria-se de’ ou torna-se seus certos conhecimentos, habilidades, estratégias, atitudes, valores, crenças ou informações. Neste sentido está relacionada à mudança, à significação e à ampliação das vivências internas e externas do indivíduo dentro de cada cultura” (Nunes e Silveira, 2011) * * “A verdadeira aprendizagem implica esforço ativo e em condição de liberdade. A educação da criança não deveria estar a cargo de quem não pode exercer seu julgamento com liberdade. A educação é exemplar e não doutrinária. O erudito- papagaio não é um mestre verdadeiro, pois está escravizado por outros pelo suposto saber que eles detem.”(Montaigne 1590) * * “Pressupõe-se que é na e pela interação social que o homem não só tem acesso ao saber acumulado pelo seus antepassados, como ao fazê-lo, constitui-se como sujeito” (palangana, 1998) * * Importância da aprendizagem: “ É um processo crucial no desenvolvimento do Homem como espécie e como ser que através de milhares de anos avançou de uma realidade primitiva, pra construir civilizações, descobrir importantes conhecimentos científicos, viver novas formas de interações sociais, tornando mais complexos a si e ao mundo ao redor (Vygotsky) * * Graças a aprendizagem nos apropriamos da cultura e nos tornamos parte dela e a modificamos. A aprendizagem é definida como mudança relativamente permanente no comportamento, mas que não é causada por cansaço, maturação ´, drogas, lesões ou doenças. Há diferenças entre desempenho e aprendizagem * * * * A apdz pode ocorrer em distintos contextos, ser formal ou informal, se dar de maneira fortuita ou planejada Embora a aprendizagem seja pessoal - cada ser humano é agente de sua própria aprendizagem que está relacionada inclusive às condições do ambiente – alguns autores discutem sobre processos característicos da aprendizagem: * * Processos característicos da aprendizagem 1) Processo dinâmico 2) Processo contínuo 3) Processo global 4) Processo pessoal 5) Processo gradativo 6) Processo cumulativo * * 1) Processo dinâmico A aprendizagem não é um processo de absorção passiva, pois sua característica mais importante é a atividade daquele que aprende. Portanto, a aprendizagem só se faz através da participação ativa do aprendiz. * * * * 2) Processo contínuo A aprendizagem ocorre durante toda a vida do individuo, desde o nascimento até a morte * * 3)Processo global ou compósito - A aprendizagem é um processo que inclui aspectos motores, cognitivos e emocionais. A aprendizagem envolve uma mudança de comportamento na pessoa como um todo. Ex. a aprendizagem de uma nova habilidade transforma o individuo em todas as esferas de sua vida * * 4) Processo pessoal - A aprendizagem é intransferível, ninguém pode aprender pelo outro. - A maneira de aprender e o próprio ritmo da aprendizagem variam de indivíduo para indivíduo, face ao caráter pessoal da aprendizagem. * * 5) Processo gradativo A aprendizagem é um processo que se realiza através de operações crescentemente complexas (do mais simples para o mais complexo). Cada nova aprendizagem acrescenta novos elementos à experiência anterior, numa série gradativa e ascendente. (crítica: nem sempre as ideias simples dão elementos para compreender ideias mais complexas) * * 6) Processo cumulativo A aprendizagem constitui um processo cumulativo, em que a experiência atual aproveita‐se das experiências anteriores. -Não há um limite para aprender. Pode-se aprender sempre * * Compreensão de Aprendizagem : Inatismo Empirismo / Behaviorismo Construtivismo / abordagem cognitiva Abordagem sócio-cultural * * Inatismo Saber congênito Antiguidade grega com nascimento do pensamento racional (explicações que buscam compreensão do mundo baseadas em conceitos e não mais em mitos) Platão (427 AC) – Livro: A República * * -Defendia que as ideias eram congênitas; a alma precede o corpo. Assim, antes de encarnar a alma já tem o conhecimento. -Conhecer é relembrar pois a pessoa já domina determinados conceitos quando nasce - O aprendizado é uma reminiscência * * - O inatismo sustenta que a pessoa naturalmente carrega aptidões, habilidades, conceitos e conhecimentos e qualidades em sua bagagem hereditária “ Mas Deus vos modelou, àqueles dentre vós que eram aptos para governar, misturou-lhes ouro na sua composição, motivo por que são os mais preciosos; aos auxiliares, prata; ferro e bronze aos lavradores e demais” (Platão, no livro a República) * * Esta concepção motivou um tipo de ensino que acredita que o educador deve intervir o mínimo possível “ O aluno aprende por si mesmo” As pessoas nascem com saberes adormecidos que precisam ser organizados para se tornar conhecimentos verdadeiros. O professor só auxilia o aluno a acessar as informações * * Inatismo e contemporaneidade: - A ideia de que o aluno é responsável pela apdzgm, por um lado levar o aluno a buscar repostas, independência crescente - por outro gera crença de que o rendimento escolar é responsabilidade exclusiva do aluno = ex.“ o aluno não tem habilidades para aprender” * * Empirismo Inicio com Aristóteles (384 – 322 AC) Aprendizagem passa pelos sentidos A pessoa nasce com capacidade para aprender mas precisa de experiências ao longo da vida Nos séculos 16 e 17, Idade Moderna, perspectiva ganha força com Francis Bacon (1561-1626); Thomas Hobbes (1588-1679); e John Locke (1632 – 1704) * * John Locke Skinner * * Para os empiristas a pessoa nasce como uma “tábula rasa” A criança é comparada à água que pode ser canalizada na direção desejada. A aprendizagem depende do ambiente Empirismo na contemporaneidade: Behaviorismo * * Construtivismo: - Seculo XX – Piaget (1896-1980) Aprendizagem: condições inatas e experiência Presença ativa do sujeito O conhecimento é construído pelo indivíduo Epistemologia genética Influenciou Maria Montessori; Emilia Ferreiro * * A aprendizagem é resultado da maturação em interação com a experiência do sujeito, que tem que ser ativo, agir sobre o objeto de conhecimento “ pensar não se reduz, acreditamos, em falar, classificar em categorias, nem mesmo abstrair. Pensar é agir sobre o objeto e transformá-lo” (Piaget) * * Abordagem sócioculturalista Também considerada interacionista. Também estudou epistemologia genética Vygotsky (1896 – 1934) A aprendizagem é resultado da interação de processos maturacionais e ambiente e esta interação é mediada pela cultura Contemporaneidade: Paulo Freire/ Escola da Ponte/ * * Importância das relções sociais e cultura na aprendizagem Importância no professor no processo de aprendizagem Contribuições para inclusão de pessoas deficientes * * Evolução histórica do conceito de aprendizagem - Relação entre aprendizagem e escola Surgimento da escrita Papel do clero na Idade Média Surgimento da Imprensa (1439) Renascimento/ ciência/ tecnologia Surgimento do conceito de infância Evolução da cultura – cultura da aprendizagem * * Ressurgimento da escola ao final da Idade Média (adormecimento da Antiguidade até final IM). - Escola: surge com objetivo a educação de crianças e jovens e desde então vem sendo criticada - A ideia de aprendizagem e da função da escola se modifica ao longo dos anos. * * “O reconhecimento da infância, não trouxe em si o respeito e a compreensão à criança. Antes, ocasionou o entendimento da criança como ser deficiente em relação ao adulto e, de certa maneira, descredenciou a família como grupo de competência para seu desenvolvimento. Reconhecida a infância, era preciso então criar um hiato entre o nascimento e a vida adulta. Surgiram assim os espaços para a educação que deram origem às escolas, com pessoas supostamente especializadas no assunto de educar as crianças.” (MORAES DA SILVA, 2011, prelo) * * As ideias apresentadas a seguir, são discutidas no texto: TUNES, E. e BARTHOLO, Jr. Dois sentidos do aprender. 1° capítulo em: Resenha do livro: MARTINEZ, Albertina Mitjáns, TACCA, Maria Carmem Villela Rosa. A Complexidade da Aprendizagem: destaque ao ensino superior. Campinas, SP: Editora Alínea, 2009 * * Sempre houve um dissenso em relação ao que se entende por aprendizagem, ensino, escola, educação. Ao como se processa a formação do Homem. Destacam-se: Hugo de São Vitor Jacotot (mestre ignorante) Montaigne * * Hugo de São Vitor Nasceu séc XII, ilha flamenca, entrou em ordem religiosa de canônicos regulares; vivia na cidade e dedicava-se a edificação do povo cristão; O ensino, na escola, se assentava até então na divisão de disciplinas entre trívium e quadrívium, sistema que remonta à Antigüidade Clássica. O quadrívio, que corresponderia às atuais ciências exatas, agrupava aritmética, geometria, astronomia e música, e o trívio, aparentado à idéia de ciências humanas, reunia a gramática, a retórica e a dialética. * * Defendia o estudo da compreensão do Homem como área de estudo Escreveu, em 1127: Didascálicon, Da arte de ler (marcou o fim da IM). Marcou o início da era livresca, a leitura deixa de ser monástica e passa a ser escolástica (tentativa de conciliar a fé cristã com o pensamento racional) Hugo de São Vitor : inicia cultura livresca * * O Didascálicon de Hugo de São Vítor – Regras de leitura enquanto normas de vida * * São Vitor inicia a obra “ De todas as coisas a serem buscadas, a primeira é a sapiência, na qual reside a forma do bem perfeito”. A sapiência era o próprio Cristo. Para São Vitor, a sabedoria começava pelo ato de ler, passava para o ato de refletir e depois para a contemplação. (A ciência é a busca de um remédio para a dolorosa condição de humanos após expulsão do Paraíso) * * Para Hugo, a leitura é internamente orientada, é uma atividade mais moral do que técnica e o dever de aprender significa o dever de ler. Hugo dirige-se aos noviços de São Vitor e defende que além do dever de aprender ou estudar comum a todos os homens, a eles também cabe o ensinar, que deve ser feito através dos exemplos com seu modo de vida. “ O trabalho último do pedagogo define-se como o de um guia que ajuda o estudante a captar o Bem, que por sua vez levará o aluno à sabedoria” O ensinar vira tarefa de especialistas * * “ As mudanças que começavam a se articular no sec. XII, ao tempo de Hugo, acabaram por converter o ler e o escrever em ideal das sociedades modernas e condição de cidadania. A partir do sec XIII, torna-se competência exclusiva do clero e daqueles a quem ensinam. Hugo falava a seus alunos. Um século mais tarde, Tomás de Aquino explicava-lhes. No princípio do sec XII, os alunos escutavam seus mestres; no final do sec XIV, copiavam o que eles ditavam” (Tunes e Bartholo Jr, 2009) * * “ O novo clero privilegiou a opção por afirmar o embrutecimento. Fez dono da sabedoria, mas de uma sabedoria congelada que, hoje, chamamos de conhecimento, reificado para poder ser possuido. Instaura-se então a idéia de desigualdade de inteligências; aliena-se a razão que, apartada do exercício de virtudes, é transavaliada, definindo-se, desde então, pelos resultados que permite atingir” (Tunes e Bartholo Jr, 2009) * * Segundo Illich (2002) o alfabeto é a tecnologia que modelou o modo de vida ocidental. Antes, a escrita era o registro da fala, da sabedoria e servia como meio de transmissão de autoridade do passado. Hoje, a escrita é o registro do pensamento, do conhecimento e serve à acumulação deste. Embora não tenha sido a intenção aparente, o novo clero fez uso dos escritos de Hugo para privilegiar o conhecimento. * * Montaigne Michel de Montaigne (1533 – 1592) escrever dois ensaios importantes: Do pedantismo e Da educação de crianças. Argumentava que a mais importante dificuldade da ciência humana se refere a criação e educação das crianças. Para ele a educação era compreendida como um processo permanente de renovação; ótica da formação pessoal; propiciar o “saber melhor” e não o “saber mais” * * Montaigne criticava a erudição como simples acúmulo de conhecimento, afirmava que: “Trabalhamos apenas para encher a memória, e deixamos o entendimento e a consciência vazios (...) assim nossos pedagogos vão catando a ciência nos livros e mal a acomodam na beira dos lábios, para simplesmente vomitá-la e lança-la ao vento.” * * A cisão entra a ciência e o exercício da virtude é para Montaigne bastante perigosa: “Qualquer outra ciência é prejudicial para quem não tem a ciência da bondade”. Montaigne não reifica o saber. Para ele, o saber não pode ser adquirido, mas incorporado à alma com esforço próprio, em condição de liberdade. * * Para Montaigne, o mestre verdadeiro: Tem a cabeça feita antes que cabeça bem cheia; Enseja a atividade do estudante (fazendo-o experimentar, escolher e discernir por si mesmo); Ajusta-se antes que exige ajustamentos; Guia-se compassadamente pela andadura do estudante; Afirma o movimento da inteligência do estudante e não sua paralisação; * * Recusa-se a uma aprendizagem alienada ou alienante: “ Este grande mundo é o espelho em que devemos olhar para nos conhecermos da perspectiva certa. Em suma, quero que seja esse o livro do meu aluno”. Avalia o estudante pelo sentido e substância do aprendizado e não pelo testemunho de sua memória “O que se instrui não é uma alma, não é um corpo, é um homem”. * * Jacotot Jacotot, França (1770 – 1840) Critica ao sistema explicador: o incapaz não é o que tem necessidade do explicador, mas o contrário. Quando se cria a sistemática da explicação atesta-se a incapacidade de alguém. É como atestar que a pessoa não tem capacidade de aprender por si só. A função do mestre explicador é meramente a de explicar oralmente a explicação escrita. * * Fala do ensino embrutecedor e do emancipador O princípio da explicação é embrutecedor pois admite a existência de uma inteligência superior – a do mestre – e uma inteligência inferiror - a do incapaz que necessita de explicação. O ensino embrutecedor é regido pelo principio da explicação O ensino emancipador permite que a inteligência se revele a si própria Instruir significa dar ao aluno a medida de sua incapacidade * * Em suma, pode-se dizer que a evolução da conceituação de aprendizagem esteve entrelaçada a escolarização e produção de conhecimento, gerando assim: Dois Sentidos do aprender Aprender como aquisição e acumulação Aprender como abertura à renovação * * Aprender como aquisição e acumulação - Visão contemporânea da aprendizagem: A aprendizagem é tratada como processo de aquisições e acúmulo gradual, seja de informação, de conhecimento ou de experiência = associa-se a noção de quantidade Verificação de aprendizagem: mensuração de quantidades e velocidade * * -Permite comparação entre pessoas : hierarquização conforme velocidade de seu processo de adquirir ou acumular informação, conhecimento ou experiência. Comparação intrapessoal ao longo do desenvolvimento: mitos e crença na desaceleração da aprendizagem A aprendizagem está voltada para o futuro * * * * * * Aprender como abertura à renovação Por outro lado ainda persiste na atualidade uma idéia de aprendizagem como no sentido medieval do conceito: a visão do aprender como busca A aprendizagem é um acontecimento da relação do homem com o mundo Não importa a velocidade da aprendizagem, mas antes o por que e para que se busca; * * A aprendizagem pressupõe a abertura para o mundo e o desejo autêntico de renovação; Não há uma teleologia do aprender ou uma hierarquia que conduza a uma terminalidade: busca-se sempre porque sempre buscamos melhorar o exercício das virtudes; O aluno é arquiteto da aprendizagem e não é submetido a curriculos e programas predefinidos * * * *
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