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RECOMENDAÍES AO MDICO QUE PRATICA A PSICANçLISE (1912) TêTULO ORIGINAL: ÒRATSCHLGE FR DEN ARZT BEI DER PSYCHOANALYTISCHEN BEHANDLUNGÓ. PUBLICADO PRIMEIRAMENTE EM ZENTRALBLATT FR PSYCHOANALYSE [FOLHA CENTRAL DE PSICANçLISE], V. 2, N. 9, PP. 483-9. TRADUZIDO DE GESAMMELTE WERKE VIII, PP. 376-87; TAMBM SE ACHA EM STUDIENAUSGABE, ERGNZUNGSBAND [VOLUME COMPLEMENTAR], PP. 169-80. ESTA TRADUÌO FOI PUBLICADA ORIGINALMENTE EM JORNAL DE PSICANçLISE, SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICANçLISE DE SÌO PAULO, V. 32, N. 58/59, PP. 427-36, NOVEMBRO DE 1999; ALGUMAS DAS NOTAS DO TRADUTOR FORAM OMITIDAS NA PRESENTE EDIÌO. As regras tcnicas que ofereo me resultaram de longos anos de experincia, depois de prpria custa encetar e abandonar outros caminhos. Logo se notar que elas, ou ao menos muitas delas, podem se resumir a um nico preceito. Es- pero que sua observncia poupe esforos inteis aos mdicos que exercem a psicanlise e lhes permita evitar alguma omisso; mas devo enfatizar que essa tcnica revelou-se a nica adequada para a minha individualidade. No me at- revo a contestar que uma personalidade mdica de outra constituio seja levada a preferir uma outra atitude ante os pacientes e a tarefa a ser cumprida. a) A primeira tarefa com que se defronta o analista que atende mais de um paciente por dia lhe parecer tambm a mais difcil. Ela consiste em reter na memria todos os inmeros nomes, datas, detalhes de lembranas, pensamen- tos espontneos e produes patolgicas que um paciente traz durante o trata- mento, no curso de meses e anos, e no confundi-los com material semelhante de outros pacientes, analisados antes ou no mesmo perodo. Quando temos que analisar diariamente seis, oito pacientes ou mais, a proeza mnemnica que isso implica despertar, nas demais pessoas, incredulidade, admirao ou at mesmo pena. De todo modo as pessoas estaro curiosas em relao tcnica que torna possvel dominar to grande material, e esperaro que ela recorra a meios especiais. No entanto, essa tcnica bem simples. Ela rejeita qualquer expediente, como veremos, mesmo o de tomar notas, e consiste apenas em no querer not- ar nada em especial, e oferecer a tudo o que se ouve a mesma Òateno flutu- anteÓ,* segundo a expresso que usei. Assim evitamos uma fadiga da ateno, que certamente no poderamos manter por muitas horas ao dia, e escapamos a um perigo que inseparvel do exerccio da ateno proposital. Pois, ao in- tensificar deliberadamente a ateno, comeamos tambm a selecionar em meio ao material que se apresenta; fixamos com particular agudeza um ponto, eliminando assim outro, e nessa escolha seguimos nossas expectativas ou in- clinaes. Justamente isso no podemos fazer; seguindo nossas expectativas, corremos o perigo de nunca achar seno o que j sabemos; seguindo nossas in- clinaes, com certeza falsearemos o que possvel perceber. No devemos es- quecer que em geral escutamos coisas cujo significado ser conhecido* apenas posteriormente. Como se v, o preceito de notar igualmente tudo a necessria contra- partida exigncia de que o analisando relate tudo o que lhe ocorre, sem crt- ica ou seleo. Se o mdico se comporta de outra maneira, desperdia em boa parte o ganho que resulta da obedincia Òregra fundamental da psicanliseÓ por parte do paciente. Para o mdico, a regra pode ser formulada assim: manter toda influncia consciente longe de sua capacidade de observao e entregar-se totalmente sua Òmemria inconscienteÓ, ou, expresso de maneira tcnica: escutar e no se preocupar em notar alguma coisa. O que desse modo alcanamos satisfaz a todas as exigncias durante o trata- mento. Os elementos do material que j formam um nexo ficaro disposio consciente do mdico; outros, ainda no relacionados, caoticamente desorde- nados, parecem primeiro submersos, mas emergem prontamente na conscin- cia, to logo o paciente traz algo novo, ao qual aqueles podem se ligar e medi- ante o qual podem ter continuidade. Ento recebemos do analisando, com um sorriso, o imerecido cumprimento por uma Òmemria extraordinriaÓ, quando aps bastante tempo reproduzimos um detalhe que provavelmente teria con- trariado a inteno consciente de fix-lo na memria. Erros nesse processo de recordar sucedem apenas em momentos e circun- stncias em que somos perturbados pelo envolvimento pessoal (ver adiante), ficando muito aqum do ideal do analista, portanto. Mistura com o material de outros pacientes acontece raramente. Numa eventual disputa com o analis- ando, sobre ele ter ou no dito certa coisa, ou o modo como o disse, geral- mente o mdico est certo.1 113/275 b) No posso recomendar que se tomem muitas notas durante as sesses, que se redijam atas etc. Alm da impresso desfavorvel que isso causa em al- guns pacientes, valem aqui as mesmas consideraes que tecemos a respeito da ateno. Ao redigir notas ou estenografar, fazemos forosamente uma seleo prejudicial do que ouvimos e ocupamos uma parte de nossa atividade mental, que teria melhor emprego se aplicada na interpretao do material. Pode-se admitir excees a essa regra, sem qualquer objeo, no caso de datas, textos de sonhos ou concluses isoladas dignas de nota, que facilmente so destaca- dos do contexto e se prestam a um uso independente como exemplos. Mas tambm isso no costumo fazer. Redijo os exemplos noite, de memria, aps o trabalho; os textos de sonhos que me interessam, fao os pacientes registrar- em aps o relato do sonho.* c) Tomar notas durante a sesso poderia ser justificado pela inteno de tornar o caso objeto de uma publicao cientfica. Algo que em princpio no se pode proibir. Mas deve-se ter em mente que protocolos exatos, num caso clnico psicanaltico, ajudam menos do que se poderia esperar. A rigor, osten- tam a pseudoexatido de que a ÒmodernaÓ psiquiatria nos oferece exemplos notrios. Geralmente so cansativos para o leitor, e no conseguem substituir para ele a presena na anlise. A experincia mostra que o leitor, se estiver dis- posto a crer no analista, lhe dar crdito tambm pelo pouco de elaborao que ele empreendeu no material; mas, se no pretender levar a srio a anlise e o analista, ignorar tambm protocolos fiis do tratamento. Este no parece ser o caminho para remediar a falta de evidncia que se enxerga nos relatos psicanalticos. d) Um dos mritos que a psicanlise reivindica para si o fato de nela coin- cidirem pesquisa e tratamento; mas a tcnica que serve a uma contradiz, a partir de certo ponto, o outro. No bom trabalhar cientificamente um caso 114/275 enquanto seu tratamento no foi concludo, compor sua estrutura,* prever seu prosseguimento, de quando em quando registrar o estado em que se acha, como exigiria o interesse cientfico. O xito prejudicado, nesses casos desti- nados de antemo ao uso cientfico e tratados conforme as necessidades deste; enquanto so mais bem-sucedidos os casos em que agimos como que sem propsito, surpreendendo-nos a cada virada, e que abordamos sempre de modo despreconcebido e sem pressupostos. A conduta correta, para o analista, est em passar de uma atitude psquica para outra conforme a necessidade, em no especular e no cogitar enquanto analisa, e submeter o material reunido ao trabalho sinttico do pensamento* apenas depois que a anlise for concluda. A distino entre as duas atitudes no faria sentido se j tivssemos todos os con- hecimentos Ñ ou pelo menos os essenciais Ñ sobre a psicologia do incon- sciente e sobre a estrutura das neuroses, que podemos adquirir no trabalho psicanaltico. Atualmente estamos ainda longe desse objetivo, e no devemos nos interditar os meios de testar o que at agora aprendemos e de acrescentar coisas novas a isso. e) Recomendo enfaticamente aos colegas que no tratamento psicanaltico tomem por modelo o cirurgio, que deixa de lado todos os seus afetos e at mesmo sua compaixo de ser humano, e concentra suas energias mentais* num nico objetivo: levar a termoa operao do modo mais competente possvel. Nas circunstncias de hoje, um afeto perigoso para o analista a ambio teraputica de realizar, com seu novo e discutido mtodo, algo que tenha efeito convincente em outras pessoas. Isso no apenas o coloca numa disposio pou- co favorvel para o trabalho, como tambm o deixa inerme ante determinadas resistncias do paciente, cujo restabelecimento depende em primeiro lugar, como se sabe, do jogo de foras dentro dele. A justificao para se requerer tal frieza de sentimentos do psicanalista est em que ela cria as condies mais vantajosas para as duas partes: para o mdico, a desejvel proteo de sua 115/275 prpria vida afetiva; para o doente, o maior grau de ajuda que hoje podemos dar. Um antigo cirurgio teve por lema a seguinte frase: Je le pensai, Dieu le gurit [Eu lhe fiz os curativos, Deus o curou]. O analista deveria se contentar com algo assim. f) fcil ver para qual objetivo essas diferentes regras convergem. Elas pretendem criar, para o mdico, a contrapartida da Òregra fundamental da psicanliseÓ estabelecida para o analisando. Assim como este deve comunicar tudo o que sua auto-observao capta, suspendendo toda objeo lgica e afetiva que procure induzi-lo a fazer uma seleo, tambm o mdico deve colocar-se na posio de utilizar tudo o que lhe comunicado para os propsi- tos da interpretao, do reconhecimento* do inconsciente oculto, sem sub- stituir pela sua prpria censura a seleo a que o doente renunciou. Expresso numa frmula: ele deve voltar seu inconsciente, como rgo receptor, para o inconsciente emissor do doente, colocar-se ante o analisando como o receptor do telefone em relao ao microfone. Assim como o receptor transforma nova- mente em ondas sonoras as vibraes eltricas da linha provocadas por ondas sonoras, o inconsciente do mdico est capacitado a, partindo dos derivados do inconsciente que lhe foram comunicados, reconstruir o inconsciente que determinou os pensamentos espontneos do paciente. No entanto, se o mdico for capaz de usar de tal forma seu inconsciente como instrumento na anlise, ele prprio tem que satisfazer em grande medida uma condio psicolgica. Ele no pode tolerar, em si mesmo, resistncias que afastam de sua conscincia o que foi percebido** por seu inconsciente; seno in- troduziria na anlise um novo tipo de seleo e distoro, bem mais prejudicial do que a produzida pelo recurso ateno consciente. Para isso no basta que ele prprio seja um indivduo aproximadamente normal; pode-se exigir que ele tenha se submetido a uma purificao psicanaltica e tenha tomado conheci- mento daqueles seus complexos que seriam capazes de perturbar a apreenso 116/275 do que oferecido pelo analisando. No se pode razoavelmente duvidar do efeito desqualificador dessas falhas prprias; a cada represso no resolvida do mdico corresponde, na expresso pertinente de Wilhelm Stekel, um Òponto cegoÓ na sua percepo psicanaltica. Anos atrs, dei a seguinte resposta questo de como algum pode tornar- se psicanalista: ÒPela anlise dos prprios sonhosÓ. Tal preparao basta para muitas pessoas, certamente, mas no para todos que querem aprender a analis- ar. Alm disso, nem todos conseguem interpretar os prprios sonhos sem ajuda externa. Incluo entre os muitos mritos da escola psicanaltica de Zurique ter reforado essa condio e t-la fixado na exigncia de que todo in- divduo que queira efetuar anlise em outros deve primeiramente submeter-se ele prprio a uma anlise com um especialista. Quem levar a srio este tra- balho deveria eleger esse caminho, que promete vrias vantagens; o sacrifcio de franquear a intimidade a um estranho, sem que a enfermidade o obrigue a isso, amplamente recompensado. A pessoa no apenas realiza muito mais rapidamente e com menor gasto afetivo a inteno de tomar conhecimento do que traz oculto em si mesma, como adquire na prpria carne, por assim dizer, impresses e convices que procura em vo nos livros e nas conferncias. Por fim, deve-se apreciar tambm o benefcio da duradoura relao espiritual que costuma se estabelecer entre o analisando e aquele que o guia. Uma tal anlise de algum praticamente sadio permanecer inconclusa, como de se esperar. Quem estimar o valor do autoconhecimento e da elev- ao do autocontrole, adquiridos por meio dela, prosseguir no exame analtico da prpria pessoa em forma de autoanlise, e se contentar com o fato de que, tanto dentro de si como fora, sempre deve esperar encontrar algo novo. Mas quem, como analista, desdenhou a precauo de analisar a si mesmo, no apenas se v castigado com a incapacidade de aprender mais que uma certa medida de seus pacientes, corre tambm um perigo mais srio e que 117/275 pode se tornar perigo para os outros. Ele facilmente cair na tentao de pro- jetar sobre a cincia, como teoria de validade geral, aquilo que em obscura percepo ele enxerga das peculiaridades de sua prpria pessoa, carreando descrdito para o mtodo psicanaltico e desencaminhando os inexperientes. g) Acrescento mais algumas regras, em que passo da atitude do mdico para o tratamento do analisando. sem dvida atraente, para um psicanalista jovem e entusiasmado, colocar muito de sua individualidade, para arrastar consigo o paciente e elev-lo acima dos limites de sua estreita personalidade. Seria perfeitamente admissvel, e mesmo adequado para a superao das resistncias ativas no doente, que o mdico lhe oferecesse um vislumbre dos prprios defeitos e conflitos mentais, e lhe possibilitasse pr-se em p de igualdade, dando-lhe notcias confidenciais de sua vida. Pois uma confiana vale a outra, e quem solicita intimidade de outro deve d-la em troca. Mas na relao psicanaltica muita coisa transcorre de modo diferente do que se esperaria conforme a psicologia da conscincia. A experincia no de- pe a favor de uma tcnica afetiva semelhante. Tambm no difcil ver que com ela abandonamos o terreno psicanaltico e nos aproximamos do trata- mento por sugesto. Consegue-se que o paciente comunique mais cedo e mais facilmente o que ele prprio j sabe, e o que resistncias convencionais o fari- am reter por algum tempo ainda. Quanto a pr a descoberto o que incon- sciente para o doente, essa tcnica no ajuda, apenas o torna ainda mais in- capaz de superar resistncias mais profundas, e em casos mais difceis fracassa devido insaciabilidade que foi despertada no paciente, que ento gostaria de inverter a relao e acha a anlise do mdico mais interessante do que a sua. Tambm a resoluo da transferncia, uma das principais tarefas do trata- mento, dificultada por uma atitude ntima do mdico, de sorte que o eventual ganho do incio mais que contrabalanado, afinal. No hesito, portanto, em 118/275 rejeitar como defeituosa essa tcnica. O mdico deve ser opaco para o analis- ando, e, tal como um espelho, no mostrar seno o que lhe mostrado. Na prtica, certo que nada se pode objetar quando um psicoterapeuta mistura um qu de anlise com uma parte de influncia por sugesto, para alcanar xi- tos visveis em tempo mais curto, tal como necessrio, por exemplo, em in- stituies; mas pode-se exigir que ele tenha dvida acerca do que faz, que saiba que o seu mtodo no o da verdadeira psicanlise. h) Outra tentao vem da atividade pedaggica que no tratamento psic- analtico recai sobre o mdico, sem que haja inteno por parte dele. Dissolvendo-se as inibies ao desenvolvimento, ocorre naturalmente que o mdico chegue situao de indicar novas metas para as tendncias* liberadas. ento compreensvel que ele ambicione fazer algo extraordinrio da pessoa em cuja libertao da neurose ele tanto se empenhou, e prescreva elevados ob- jetivos para os desejos dela. Mas tambm a o mdico deveria se manter em xeque e orientar-se mais pela aptido do paciente do que por seus prprios desejos. Nem todos os neurticos possuem grande talento para a sublimao; de muitospodemos supor que no teriam adoecido, caso dispusessem da arte de sublimar seus instintos. Se os pressionamos demasiadamente para a sublim- ao e lhes tiramos as gratificaes de instintos mais imediatas e cmodas, em geral lhes tornamos a vida ainda mais difcil do que eles a sentem. Como mdi- cos devemos sobretudo ser tolerantes com as fraquezas do doente, temos de nos contentar em recuperar, ainda que seja para algum de no muito valor, algo da capacidade de realizao e de fruio. A ambio pedaggica to pouco adequada quanto a teraputica. H a considerar, tambm, que muitas pessoas adoecem precisamente na tentativa de sublimar seus instintos alm do montante permitido por sua organizao, e que naqueles capacitados para a sublimao este processo costuma se efetuar por si mesmo, to logo as inib- ies so vencidas pela anlise. Acho, portanto, que o esforo de regularmente 119/275 usar o tratamento analtico para a sublimao de instintos sempre louvvel, mas de modo algum aconselhvel em todos os casos. i) Dentro de que limites devemos buscar a colaborao intelectual do anal- isando no tratamento? difcil afirmar algo de aplicao geral neste ponto. A personalidade do paciente que decide em primeiro lugar. Mas de todo modo se deve observar cautela e reserva. errado colocar tarefas para o analisando, dizer que ele deveria juntar suas lembranas, meditar sobre um determinado perodo de sua vida etc. Ele tem que aprender, isto sim Ñ o que para ningum fcil admitir Ñ, que com a atividade mental dessa espcie, com o esforo da vontade e da ateno no se resolve nenhum dos enigmas da neurose, mas somente atravs da observncia paciente da regra psicanaltica que manda afastar a crtica ao inconsciente e seus derivados. De modo particularmente implacvel devemos insistir nessa regra junto aos pacientes que praticam a arte de escapulir para o mbito intelectual no tratamento, e que ento refletem bastante, s vezes sabiamente, sobre o seu estado, poupando-se de fazer al- guma coisa para venc-lo. Por isso no gosto que meus pacientes recorram leitura de textos psicanalticos; peo que aprendam na sua prpria pessoa, e lhes garanto que desse modo sabero mais do que o que toda a literatura psic- analtica poderia ensinar-lhes. Mas reconheo que nas condies de um inter- namento em instituio pode ser muito vantajoso utilizar a leitura para pre- parar os analisandos e para produzir uma atmosfera de influncia. Desaconselho enfaticamente que se procure o apoio e a aquiescncia de pais ou parentes, dando-lhes uma obra de psicanlise para ler, seja ela profunda ou introdutria. Essa medida bem-intencionada basta, via de regra, para fazer sur- gir prematuramente a natural Ñ e, cedo ou tarde, inevitvel Ñ oposio dos parentes ao tratamento psicanaltico de um dos seus, de forma tal que o trata- mento no chega a ter incio. 120/275 Manifesto a esperana de que a progressiva experincia dos analistas levar em breve a um acordo quanto tcnica mais adequada para o tratamento dos neurticos. Com relao ao tratamento de parentes, confesso minha perplexid- ade e deposito bem pouca confiana no seu tratamento individual. * No original, gleichschwebende Aufmerksamkeit. Uma nota da Standard inglesa informa que, ao dizer que j usou a expresso, Freud alude provavelmente a uma passagem da "Anlise da fo- bia de um garoto de cinco anos" (1909), e que h uma ligeira diferena entre as duas passagens. De fato, no texto do "Pequeno Hans" Freud usa gleiche Aufmerksamkeit, "mesma ateno", en- quanto o adjetivo que agora emprega tambm formado de schwebend (do verbo schweben, pairar). Strachey utiliza evenly-suspended, que parece ser a melhor verso (no considerando a holandesa, que pode usar um composto exatamente igual ao alemo: gelijkzwevende). A antiga traduo espanhola utiliza flotante, a nova, argentina, optou por parejamente flotante, e a antiga verso francesa acrescenta aspas ao adjetivo: "flottante". * O verbo aqui usado por Freud, erkennen, pode significar "conhecer, reconhecer, discernir, perceber"; por isso as verses estrangeiras variam: descubrimos, uno [É] discernir, se rvle, re- cognized, onderkend ("reconhecido"). 1 Com frequncia o analisando afirma j ter dito algo, enquanto podemos garantir, com tran- quila superioridade, que o est fazendo pela primeira vez. Ento se verifica que o analisando j teve antes a inteno de diz-lo, mas foi impedido por uma resistncia ainda em ao. A lem- brana de tal inteno para ele indistinguvel da lembrana de sua realizao. * "Fao os pacientes registrarem aps o relato do sonho": lasse ich von den Patienten nach der Erzhlung des Traumes fixieren. Essa orao no totalmente clara. Por isso h divergncias nas tradues consultadas: hago que el mismo enfermo ponga por escrito su relato despus de habrselo odo de palabra, hago que los pacientes mismos los fijen {por escrito} [sic; entre chaves] tras relatar el sueo, J'abandonne au patient le soin de fixer lui-mme [É], I get the patient to re- peat them to me after he has related them so that I can fix them in my mind, laak ik door de patin- ten na het vertellen van de droom vastleggen. O problema duplo: o sentido do verbo fixieren ( registrar por escrito ou fixar na memria?) e o agente desse verbo ( o analista ou o paciente?). Os dois tradutores de lngua espanhola concordam na primeira e na segunda opes, re- spectivamente (as palavras "por escrito", entre chaves, acham-se no texto da edio argentina). A tradutora francesa omite parte da orao, mas tambm v o paciente como sujeito de fixer, e no especifica esse verbo mais que o original. A verso inglesa a que mais discrepa: o analista "fixa na mente" o sonho que fez o paciente repetir. Para o tradutor holands, est claro que a 121/275 tarefa cabe ao paciente, e o verbo que usa para verter fixieren vastleggen (aparentado ao alemo festlegen), que significa "assentar, consignar". Um professor alemo Ñ e professor de alemo Ñ que consultei acha bastante provvel o sentido de "registrar por escrito". * "Compor sua estrutura": seinen Aufbau zusammensetzen. Alguns tradutores preferiram "recon- struir, reconstituir" para verter o verbo alemo: reconstruir su estructura, componer su edifcio, en reconstituer la structure, to piece together its structure, de loop ervan te construeren. O significado literal de zusammensetzen "colocar junto"; nada nele recomenda o recurso ao prefixo "re", em portugus. E lembremos do prprio ttulo de um importante artigo tcnico de Freud: "Con- strues na anlise" (Konstruktionen in der Analyse, de 1937). Outro ponto passvel de dis- cusso, nesse trecho, a verso de Aufbau por "estrutura". Aufbau pode significar tambm "construo, edifcio, montagem, organizao, carroceria (de automvel)". Deve-se ter presente que a Standard inglesa emprega com relativa frequncia o termo structure, para traduzir diversas palavras alems, e isso pode dar uma maior impresso de rigidez ou solidez das formaes psquicas do que a que o original nos transmite. talvez significativo que a edio holandesa (a mais nova entre essas) use a palavra loop ("curso", equivalente ao alemo Lauf) para Aufbau. * "Trabalho sinttico do pensamento": no original, synthetischen Denkarbeit; nas tradues con- sultadas: labor mental de sntesis, trabajo sinttico del pensar, travail de synthse, synthetic process of thought, synthetische denkarbeid. * "Energias mentais": geistige Krfte Ñ energas psquicas, fuerzas espirituales, (omisso na traduo francesa), mental forces, geesteskrachten. * "Reconhecimento": Erkennung, no original; nas verses estrangeiras consultadas: descubrimi- ento, discernimiento, dcouvrir, recognizing, doorgronden ["penetrar"]; ver nota sobre erkennen na p. 150, acima. ** "Percebido": novamente o verbo erkennen, agora no particpio Ñ descubierto, discernido, les perceptions, perceived, onderkend. * "Tendncias": no traduz exatamente Strebungen, substantivo(atualmente no mais usado) do verbo streben, que significa "esforar-se por, aspirar a, ambicionar"; os outros tradutores usam tendencias, aspiraciones, pulsions, trends, strevingen. 122/275
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