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Análise do filme “O discurso do rei” e a relação analista - paciente. O filme nos mostra um caso de relação entre paciente e analista, o que nos faz entender como se dá os processos de transferência, contratransferência e resistência em um processo de análise. Apesar do terapeuta perceber que a gagueira de seu paciente traz questões traumáticas vividas possivelmente na sua infância, vemos que em alguns momentos do filme, essa relação entre paciente e analista geram algumas polêmicas a respeito da postura principalmente do analista. Após várias tentativas mal sucedidas de ajuda para seu problema, onde é submetido a fazer o que não lhe deixa à vontade, o fazendo ter um acesso de irritabilidade e resistência sem estabelecer transferência, sua esposa decide procurar ajuda de um “terapeuta da fala”. Neste ponto, já percebemos um empecilho para a relação analítica funcionar, uma vez que o processo de busca por ajuda deve partir primeiramente da própria pessoa que está precisando; nesse caso, o rei. Uma das primeiras tentativas do analista estabelecer uma relação de transferência com seu paciente é bem interessante, mas um pouco arriscada; uma vez que logo no primeiro encontro o terapeuta se mostra um pouco invasivo, deixando o paciente irritado. Esse método de estabelecer uma relação é interessante, pois logo “de cara” o analista já direciona o rei a refletir sobre si mesmo. Em um processo analítico, a transferência pode ter um caráter recíproco ou aversivo (contratransferência), por isso o analista deve estar bem preparado com relação às técnicas que irá utilizar naquele paciente. Um fator bem interessante relacionado ao analista é a sua posição em acreditar nos seus próprios métodos, o que acabou quebrando a resistência que o rei tinha com relação ao processo de análise. Um exemplo disto é a cena em que o rei acha que não tem cura para o seu problema e sai irritado da sala. Então, o analista entrega uma gravação feita com sua fala e insiste para ele não ir embora. Um raciocínio rápido e técnico por parte do analista com uma intervenção bem feita. Freud dizia que para acontecer uma análise tem que haver a transferência, sem a qual jamais paciente e terapeuta poderá estabelecer um efeito positivo sobre o que se proponha a tratar. No filme percebemos como o analista provocava seu paciente questionando-o sobre o seu passado, falando dos seus medos, o que o fez começar a enxergá-lo como um amigo o qual nunca havia tido antes, o que é perigoso para o bom andamento do processo analítico, pois a teoria psicanalítica exige uma postura rígida e distante dessa realidade de amizade, para que não se confundam o propósito podendo comprometer a transferência. No decorrer da trama, nos deparamos com uma cena em que o analista entra em uma espécie de atrito com seu paciente, e os dois discutem após uma caminhada juntos, deixando o rei irritado a ponto de encerrar o tratamento naquele momento. Após esse ocorrido, o analista o procura tentando de alguma forma se desculpar, o que também não é recomendado pelas prudências acerca da conduta do analista. Neste caso, era o paciente quem deveria retomar o processo procurando o analista, o que consequentemente aconteceu logo depois. Mas o que mais chama a atenção neste filme, não são somente os contrapontos do analista. Mas sim, a sua audácia de como fazia as intervenções de maneiras corajosas em que levava seu paciente a reconhecer e falar dos seus traumas do passado como jamais tinha dito a outras pessoas, de como foi importante as provocações no seu paciente no momento certo, e também como ele o encorajou para se livrar dos seus traumas que o estavam prejudicando. Deste modo, o analista tratou o rei de igual para igual, para lhe mostrar que uma cadeira é só uma cadeira e que suas posições sociais, valores, preconceitos, e dinheiro, tiveram que ser “deixado de lado” para que houvesse um processo de transferência, nos advertindo o quanto é delicado e de muita responsabilidade o que podemos fazer ou não, em um processo analítico ou psicoterapêutico.
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