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CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE CLÍNICA
MARIA ACIRENE GOMES MONTEIRO
MÓDULO 10 – COMPLEXO E ELECTRA
Palmas – TO
2023
O COMPLEXO DE ELECTRA
O complexo de Electra é um termo psicanalítico usado para descrever o senso de competição de uma menina com sua mãe pelo afeto de seu pai. Ou seja, consiste no desejo e atração que a criança do sexo feminino sente pela figura paterna. O termo “Complexo de Electra” foi criado pelo psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung, em referência ao mito grego de Electra. Segundo a mitologia grega, Electra teria ordenado a morte da própria mãe, após descobrir que esta mandou assassinar o seu pai. É comparável ao complexo de Édipo nos homens. Segundo Freud, durante o desenvolvimento psicossexual feminino, uma jovem inicialmente se apega à mãe. Quando ela descobre que não tem um pênis, ela se apega a seu pai e começa se ressentir de sua mãe, ela à culpa por sua "castração". Como resultado, Freud acreditava que a menina então começa a se identificar e a imitar sua mãe por medo de perder seu amor. 
Durante os estágios da teoria do desenvolvimento psicossexual de Freud, a energia libidinal concentra-se em diferentes zonas erógenas do corpo da criança. Se algo der errado durante qualquer um desses estágios, pode ocorrer uma fixação naquele ponto do desenvolvimento. Freud acreditava que tais fixações frequentemente levavam à ansiedade e desempenhavam um papel na neurose e nos comportamentos não adaptativos na idade adulta. Freud descreveu o Complexo de Electra como o anseio da filha pelo pai e a competição com a mãe. 
A filha possui um desejo inconsciente de substituir a mãe como parceira sexual do pai, levando assim a uma rivalidade entre filha e mãe. Acredita-se que o complexo Electra ocorra durante o estágio fálico, com idades entre 3 e 6 anos, do desenvolvimento psicossexual, período em que as filhas passam mais tempo com seus pais, flertando e praticando comportamentos sexuais sem contato sexual. 
 Freud admitiu que sabia menos sobre a vida sexual das meninas do que dos meninos. Vários mecanismos de defesa desempenham um papel na resolução do complexo Electra. 
É o id primordial (um componente da personalidade presente desde o nascimento) que exige que a criança possua seu pai e entre em competição com sua mãe. Para resolver o conflito, esses impulsos e desejos devem primeiro ser reprimidos da memória consciente. Freud também sugeriu que quando uma menina descobre que não tem um pênis, ela desenvolve “inveja do pênis” e começa a se ressentir de sua mãe por “te -lá enviado ao mundo tão insuficientemente equipada". 
Por fim, esse ressentimento leva a filha a se identificar com a mãe e a incorporar muitas das mesmas características de personalidade em seu ego. Esse processo também permite que a filha internalize a moralidade de sua mãe em seu superego, que, em última análise, a direciona a seguir as regras de seus pais e da sociedade.
O complexo de Electra geralmente se resolve sozinho, e sem grandes complicações, à medida que a menina vai crescendo e observando a forma como a sua mãe age em relação ao sexo oposto. Além disso, a mãe também ajuda a estabelecer os limites nas relações entre os membros da família, principalmente entre o pai -mãe e a filha-pai. Porém, quando a mãe está muito ausente ou castiga a filha pelas suas ações durante esse período da sua vida, pode acabar dificultando a resolução natural do complexo, o que faz com que a menina mantenha os seus fortes sentimentos de afeto pelo pai, que podem acabar se tornando em sentimentos de amor, resultando em um complexo de Electra mal resolvido. 
Alguns sinais que podem indicar que a menina está entrando na fase do complexo de Electra incluem: 
· Necessidade de se colocar sempre entre o pai e a mãe para os afastar. 
· Choro descontrolado quando o pai precisa sair de casa. 
· Sentimentos de grande afeto em relação ao pai, que podem levar a menina a verbalizar a vontade de casar com o pai um dia. 
· Sentimentos negativos em relação à mãe, especialmente quando o pai está presente. 
Estes sinais são normais e temporários, por isso, não devem ser uma preocupação para os pais. No entanto, se se mantiverem após os 7 anos ou se forem piorando com o tempo, pode ser importante consultar um profissional para confirmar o diagnóstico e iniciar o tratamento, caso necessário.
ANNA Ó E O COMPLEXO DE ELECTRA
A jovem Bertha Pappenheim (1859-1936), tinha 21 anos quando foi diagnosticada como histérica pelo famoso médico vienense, Joseph Breuer. Ela era judia de família ortodoxa, e no primeiro relato, ela estava recolhida em seu quarto sofrendo de contraturas, de paralisia no lado esquerdo do corpo, mergulhada num mutismo, quando recebeu os primeiros cuidados do Dr. Breuer. O codinome de Anna O, foi dado pelo médico, a fim de preservar a sua identidade. A paciente foi submetida pelo Dr. Breuer à hipnose e ele acreditava que ela havia sido curado por meio da hipnose, no entanto, ela sempre apresenta novos sintomas. 
Freud torna-se aprendiz do dr. Breuer e juntos, eles escreveram as primeiras linhas no que seria a história da psicanálise. O caso de Anna O. foi decisivo para ambos avançarem na compreensão da mente humana. A publicação deste estudo de caso, ocorreu em publicação conjunta em 1895. Freud o utilizou novamente na primeira de suas cinco conferências sobre psicanálise na Clark University, Worcester, Massachusetts, em 1909. Cinco anos depois, ao escrever “Sobre a história do movimento psicanalítico”, Freud começou novamente com Anna O, só que dessa vez ele deixou claro que a história da doença e do tratamento de Anna O pertencia a Breuer, mas que as conclusões tiradas do caso que levaram à psicanálise eram dele, Freud. 
 O sofrimento de Bertha começou a partir dos cuidados que dispensara a seu pai Sigmund Pappenheim, gravemente enfermo, em consequência da tuberculose. Ela passara dias e noites ao lado do pai doente, até que ela própria adoeceu. A mãe de Bertha depositou todas as suas esperanças de cura de sua filha no famoso médico, interessado na histeria, no uso da catarse e da hipnose. 
 Freud continua a tratar Ana O, a pedido de Breuer que se afasta devido a paciente apaixonar-se por ele. Com medo de prejudicar seu casamento afasta-se auxiliando Freud a distância. Neste período, Freud aboliu a hipnose e começa a trata-la em estado consciente, com perguntas ele instiga Ana O. a falar sobre suas lembranças de infância, seus sonhos, acontecimentos, descobrindo que o fato contado por ela de que seu pai à havia a molestado, na verdade era um desejo que ela nutria por seu ele (pai) e que na verdade ela queria ter o possuído. Assim, Freud passa a trabalhar em muitas de suas teorias, como o complexo de Édipo, identificação, transferência e contratransferência, compulsões, repetição.
Acreditava-se que Anna O sofria de histeria e desenvolveu sintomas de saúde como estrabismo, paralisia, dificuldades de movimento, anorexia e alucinações, que inicialmente foram considerados sintomas neurológicos. No entanto, Breuer descobriu que seus sintomas eram de natureza emocional, e surgiu a terapia da fala, que poderia relacionar os sintomas apresentados ao trauma infantil vivido por Anna O, e os relatos desse caso clínico são extensos e com destaque para os problemas associados com o complexo de Édipo. Ou seja, seu estado de histeria era algo fantasiado na infância e transportado para fase adulta. 
Além disso, no decorrer do seu tratamento, Ana O, pensa estar apaixonada primeira por Dr. Breuer, depois por Freud, demonstrando que a paciente transferia para eles o desejo não correspondido por seu pai. Freud observa isto após notar que o pai de Ana O. usava em seu paletó um cravo branco, e ela havia enviado-lhe esta mesma flor. Freud então continua a trata-lá, mas mantém certa distância emocional, a fim de não se envolver com a paciente. 
O Complexo de Electra é uma fase do desenvolvimento psicossexual das crianças do sexo feminino, de acordo com a psicanálise. Consistena etapa em que a filha passa a se sentir atraída pelo próprio pai, disputando com a mãe a atenção deste homem. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos observar que desde o início de sua prática clínica, Freud depara-se com a dinâmica da transferência. E preocupado com tal dinâmica que o autor começa o desvendamento do complexo de Édipo e complexo de Electra. A partir de então, a transferência e esse complexo são indissoluvelmente ligados: os destinos edípicos são similares aos destinos da transferência.
Cabe ressaltar que, assim como Édipo, Electra representa um extremo, uma perversão de uma fantasia comum. Uma menina pode movimentar-se entre dois pólos, ambos igualmente destrutivos e patológicos, sem trocar de objeto. Geralmente a menina perdoa com maior facilidade o pai do que a mãe, além de passar a idealizar o pai, como seu objeto de desejo. O que pode a tornar-se angustiante tanto para ele, como para ela.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BREUER, J. & FREUD, S. (1895). Fräulein Anna O. In: FREUD, S. Estudos sobre a
Histeria. Obras Psicológicas Completas. Rio de Janeiro: Imago Ed., v.2, p.393,
1974.
ZIMERMAN, David E. Fundamentos psicanalíticos [recurso eletrônico]: teoria, técnica e clínica: uma abordagem didática / David E. Zimerman – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: Artmed, 2007.
BRITON, RONALD, Anna O, primeiro caso revisitado e revisado, disponível para consulta no site www.passeidireto.com.br. 
PACHECO, C.A., O complexo de Édipo e sua importância no diagnóstico e tratamento, Rio de Janeiro, 2009, disponível no endereço eletrônico https://www.passeidireto.com/arquivo/68128266/o-complexo-de-edipo-e-sua-importancia-no-diagnostico
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