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Ana_Lucia_Sabadell_Manual_de_Sociologia_Jurdica_-_Cap4a

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CONFLITOS, JNTEGRAGAO 
E MUDANGAS SOCIAlS. 
o PAPEL DAS NORMAS 
JURIDICAS 
j i· I~ • : : • .... 
SUMARIO: 1. Teorias funcionalistas"e,t""rias do conlli!\, social ' c.2., 
Anomia e regras sociais: 2.1 0 concei,ta d~ ;an0tnia; ,2j~ l~ ,~omj~ ~~ 
Durkheim; 2.3 A anomia em Merton; 2.4 Consideracr~s cr(ticas acerca 
da anomia ; 2.5 A.ualidade d •• nom ia: 2,5, I Anomia e inefickia do 
direito; 2,5,2 Anomia e poder: 2,5,3 Anomia c pluralismo cultural - 3. 
o dirc ilo como propulsor C obstticulo dn mudanfin !\ocial : 3.1 0 conceito 
de lnudallry3 socia l; 3.2 Rclaryoes entre direito e sociedade; 3.3 Relaryoes 
ent re 0 sistema jur(dico e a mudanry3 s'ocial; 3.4 Atuac;ao do direito como 
fator de mudanC;3 social: 3.4. 1 Intensidade da mudant;a e "direito alter-
nativo"; 3.4.2 Esferas de manifestac;:ao da mudanc;:a; 3.4.3 Ritmo da 
mudanc;:a. 
A sociologia define-se, de modo geral, como a "ciencia da soeieda-
de", De Illodo mais concreto, a sociologia examina 0 comportamento 
humane no ambito social, sendo particularmente interessada pelos 
modelos de comportamento existentes na sociedade, Tais f/lodelos sao 
o resultado de um proeesso de constru~ao social da realidade e acabam 
padronizando as rela90es que se estabelecem entre os indivlduos, Assim 
sen do, a sociologia observa e analisa as regras que regem as rela~oes 
soriais, 011 srja, c.c::tll(ln n internryl'l.o entre pessons e grupos, I 
fI' Rehbinder. 2000, p. 32, efr, a delinic;~o d. sociologia em Vila Nova, 1999, 
p. 183: "cstudo cicntffico das form as cultural mente padronizadas de intera~lIo 
IW!W-lIln". As~im !nesmo\ h~ ~rnndes <;OI~trov~rsi{l!i ~pbre 0 objeclQ de estudo 
da ~\lc i,O I 0gia e, eem'Nll1enrem~\1I.e. sobr~ sm, denl\i~fiQ, en-, F~mn\\des, 
1 9~6; Bottomore, 1987, pp. 31 e ss, 
I' 
, , 
, . 
, . p; 
CONFLrrOS, INTEGRA(AO E MUDAN(AS sbe lAls 75 i Iii 
o estudo das r~la~6es sodais. e ~a i~tera9aO ei1~re pessoas requ~r a 'I Jl' 
analise das regras de orgaOlz3930 soc.al, dos cohflItos e mudan9as I~ 
sodais, Os grupos d~ poder procuram influenda~ as demais pessoas, de !ll: 
forma a que estas tllt .mas compartam os padroes de compO! tamehto ~ " 
ciominanlcs (" intcgrnr", "sociali 7.ilr" Oll " rcssoc iali7.ar") . l I 
, I' , I A imposi<tao de lima ordclll socia l nao se rca l1.a SC I11 que surJ,1I1l 
cOllflitos relativos as regras sociai s, Muitas vezes estes cOllflitos levam 
a Ull1:1 altcr:u; fi o da () rgani 7. a \,~o cia soc ird :HIc . n il sej a, a \1111 .'1 I rlt1c1all ~' ;l 
suc i it I. 
POl' esta razao a soc iologia encontra-sc com 0 dire ito , cuj o objeti vo I 
principal e estabelecer regras explicitas e coerentes"que visa.m a re.gUlar r , . 
o comportamentQ socia!. As regras, por sua vez1 sao SUSCetfVei~~de l' ,I 
mudan9a, Assim 'se~dO. "a sociologia j~rfdica ,depa a-~e, na sua lelt ra', i .~ I 
tlo direito, com os fenllmenos do confl.to, da mteg a9ao e ,da muda ~rt , ' 
sodal que se exprimem atraves do sistema jurfdicb. I. 
I i~ 
1. TEORIAS FUNCIONALISTAS E TEORTAS DO CONfLTTO " 
SOCIAL '{ ~ ~1l 
As principais teorias da sOciolog ia modern a, sao, de tipo 1, ~\ I 
macrossociol6gico, Trabalhar na perspechva macr~ssocI016g.ca Sl~OI- ~ l 
fica nao se interessar princip,alme?te pela intera~ao entre ,ind\vfduos ~ ,I -II' , 
pequenos grupos (microssoclOlog.a), l1]as examll1ar a soc.edade cohlO I k 
um todo, ou seja, como urn complexo sistema de ~i 9a. con,stitufdo ,: :ii 
atraves de rela,Des entre pessoas e grupos. Duas sao as prIncipals ~ 'i: 
correntes de teorias macrossodol6gicas: as teorias fundonalistas e as • ~'1 
do conflito soda!.' . '~I 
As teori~sfuncionalistas, tambem denominad~,s teorias da integra; ' l~ i 
930, dividem-se em VarIaS correntes, Porem" como pertencem a ulna ., 
mesma "familia", partem de uma visao similar de como fundbnk a ijt 
sociedade, Vamos apresentar aqui algumas caracterfsticbs gerais. ,~ i 
, I' 
OS funcionalistas consideram a socieda~e comd uma grande m6qui- 11 1 
1111, Esla dlstribu i pap~is e rccursos (dinheiro. pod~r. presltgio, edu:ca- i1! 
~no) aos seus membros, que sAo identificados conlo as "pe~.s d. md- [ i i 
quina" , A finalidade da sociedade e a sua reprodu~'ao atraves do furb- t :d 
onamento perfeito dos seus varios componentes. Isto pressup5e que os I ! I: 
, J :i! 
m Ferrari . 1999, pp, 16 e ss,; Arnaud e Duiee, 2000. pp, 138 e S5, . 157 e 5S, : 
Macioni5 e Plummer, 1997, pp, 18 e 55.; Rex, 1968. pp. 81 e ss" 144 c ss, 
SABADELL, Ana Lucia. Manual de Sociologia Jurídica. 2. ed.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002.
MANUAL ,DE SOCIOLOGIA JURIDICA 
illdivfdllos sejam integrados no sistema de valores da sociedade e que 
compnrtilhem os mesmos objetivos, ou seja, que aceitem as regras 
, 0 ' ini ~ vigelltes e S6 comportem de fqrma adequada ~s mesmas,. 
Tocln sociedadc preve, porem, m~canismos de reajuste e de redis-
Ii i ll\li ~n() de rcems", c f'1I19(1c~, pcrmilindo lima mudan9n pallintinn 
d '111'0 dos lill1 iles estabelecidos pela pr6pria sociedade. Exemplo: uma 
(' (lIl !'lillli vfio preyS lim mecani smo concreto, caso seja necessario reali-
/: 11 Itl llfl Il'visi'io dil mes illa. Esla s sedam as all c rnativas fUllciona is que 
pt' rrllil UIl1 llI uJ ar parc ialmellte 0 funcionamento do sistema sem afetar 
() seu cquilibri a em geral. 
'ada s ilua9lio de crise e de conflito que escape a estes mecanismos 
c considerada comb uma disfun~ao, Diante disto, a sociedade deve 
,'cngir: ou os elementos de contesta,i!o seriio controlados e neutrilliill' 
tillS (repressn,,) Oil n llI~qlliJ111 soclnl Rer~ desin'ldn. Parn os rllncionat'iRIR~, 
li S f'1I119i1es soc lais sao alividades dns estruturas sociais dentro dd pro-
'(:sso de ma nutenyao do sistema. As disfun90es slio atividades que se 
"1'(\0 11' no fUllcionnrnento do sistema social. Toda mudan9a social radi-
l'lI l ( ullla di sfunyao , uma falha do sistema, que nlio consegue 'mais 
illl cr,rar as pessoas em suas finalidades e valores, 
, Aqui se encolrtra 0 ponto mais fraco 'das teorias funcionalistas. 
I\SIIlS cOllsideral11 a sociedade como urn sistema harmilnico e interpre-
"' 111 qualquer conflito e qualquer crise como uma disfuncionalidade, 
(J 1lI0 limn manifesta<;ao de patologia social. Em outras palavras, as 
rlillcionali stas adotam um modelo de equilfbrio e estabilidade social, 
qll concede muito pouco espa90 aos processos de ruptura, de conflito 
r d lIludan9a radical. Assim 0 funcionalismo e crilicado como uma 
Irori a es l.~ li ca, que nao con segue interpretar os processos sociais flln-
dnlllcniai s, lirnilando-se a uma descri<;iio superficial. 
As teorias do conjlito social (marxistas e liberal!) opoen,-se ~s 
I ~o ' ins runcionalistas. Em geral, as teorias do conflilo entendem que na 
so Icdude "gem grupos com interesses estruturalmente opostos, que se 
-II " HIII'l\IlI e lll sillln9fto de dcsigualdade e em luta perp~tlla pelo poder. 
AN"III' SClitlO, liS Icor; IIs do conflito consideram como nexo principal da 
NII<'i,'dlldr II COII~~O c 0 condicionamento ideol6gico, que exercem os 
I" III'"N .I, ' I'IIIk' soh," OS dcmnis, Parn estas leorins, as crises e as 
I ll11riJlI14' II N Nl H'IIiI N snll lr IlQIll (:II 0S IIo rl11ni s dn sociednde, ou seja, expres-
I, , -~ " "11 " ' 111 /1 dl' 1111111 "01111111111 111111 do illl 'resseR opinioes, que ob-
I' Il vll ll IlIlItI '"I \' 1\ dlll' l' l, lIiln II NIICI II I. A IlSllihilld nri Rocil116 ollsidcrndn 
" ' 
", 
, 
CONFLITOS, INTEGRN'AO E MUDANrAS SOCIA'S 77 ~I' y y ~ 
como uma situa~lio de exce~ao , ou seja, cbmo urn c~so particular dentro \'[:" 
do modele de conmto. I I . 
o fundamento das teorias do conmto e exprimibo pelalfamosa flase ,i,; 
inicial do Manifesto do Partido Comunista de Mah e Engels: "A his- ; 
t6ria de todas as sociedades ate hoje e a hist6ria da luta de classes". De ': 
uma forma geral, os te6ticos do conmto explicatn 0 funcionamento ~ 
social atraves da hip6teseda estratit'icayao socia l (Li~lio 9). A hierarquia 
socia l que existe nas socied<ldes modern as cria li ma desigualdadc no 
accsso ao poocr c aos mcius ecol1()lllicos . Conscqlicll cia ci eSla s il ll a~ jo 
e a existencia de continuos conflitos. Os marxistas di st in gucm, COIllO 
dado fundamenta l, a exislencia de duas classes (detentores dos me ios 
de produ~lio e explorados), os liberais analisnm II atuay1io de varios ,. ~ 
estratos e elites sociais. Amb~s consideram, por~m, 0 conmto (e a J 'I 
ruptura) como a "lei" principal da hist6ria social. i ' I I ': I ..' 
. " 2, ANOMIA E REGRAS SOCIAlS 
2,1 0 conceito de anomia 
, 
"Anomia" e urn dos conceitos e, temas da sociblogia com os quais ,1 i i 
trabalha '0 jurista-soci610go (obviarltente ha muitos outros, tais cdmo 11 II 
"controle social", "mudan~a", "conpito", "legitirhidad~", "cama~a", ~ ." 
"classe", aos quais fazemos referencias em ,outros capftulos). Anomia e li, : 
uma palavra grega que e usada em quase todos o~ idiomas da cult4ra I r 
ocidenta!' A-nomia significa literal mente ausencia !:Ie lei (a = ausencia; j' . 
nomos - lei) , . , 
- • 11-
Este conceito 6 utilizado entre os soci610gds desde Durkheim , ii, 
Miranda Rosa (1981, p. 98) aponta que a anomia tern tres signifiddos: ! ,I 
a) Quando uma pessoa vive em situa~lio de tran~gressao das nom/as, ~ .j 
demonstrando pouca vincula9ao ~s regras da estNtura social a q'ual J .1 
pertence. Exemplo: urn delinqiiente. Aqui anomia significa principal- "1 
mente ilegalidade. } 
, I 
b) Quando oc'oITe urn conmto de normas que ~caba estabelecendo i' , 
exigencias contradit6rias, tomando diffcil a adequa9ao do comportd: 1-
mento do indivfduo ~ norma, Exemplo: 0 conflito ~e deveres jurfdii::os , 
no caso de uma pes so a que deve prestar servi9d militar e POSSU! a ;' ;1 1 
I· i' ~ '1 
()) A partfcula "a" e uti lizada em palavras gregas para in~icar aus@ncia de algo. ;: ·1 
Exemplos: anorex ia (ausencia de apetite); anemia (ausencia de sangue). 
7R MANIIAL 1m SOCIOLOG IA JUR IDI CA 
li bej·dade de seguir a sua consciencia religiosa que Ihe profbe a violencia 
co uw de armas. Aqui a anomia tem 0 sentido de ausencia de regra clara 
de co mportamento. 
c) Quando se constata falta de norm as que vi nculem as pessoas num 
COlllex to social. 1.° exemplo: nos anos 60 edodiu 0 movimento da 
conlraCultura hippie (contracultura e um modo de vida seguido por um 
grande grupo de pessoas que se opoe conscientcmente e frontalmente 
ao modo de vi da dominanle, rejeitando as seus valores e padroes de 
t'oll lportaIllCTllo) . POI' tllll perlnclo 1150 se sab ia bern 0 que era justa/ 
ilijuSl o, CCriolcrrado. Em oulms palav ras, explod iuuma crise de va lores, 
f ,'n que sc questionav'a ludo (moral familiar, sexua l, papel da mulher, 
11:111;1 1110 assa lariado, convcm;5es s'ocia is). Neste momento hist6rico, 
qllc r rn 11111 pcrfodo de transic;ao. vivia-se lima situa<;ao de anomia . No 
C:H,O II :! l1lulhcr. hOll VC Ulna lransforma<;ao com re l ~H;50 ao sell papel na 
~ (JtiCdHd c. 
2.° exemplo: 0 iluminismo jurfdico. Pensem no momento de tran-
s i 9~0 no seculo XVlII: abolia-se ou nfto a torturajudicial ? A i nquisi~Ao? 
1\ pcnn de morte? Com 0 questionamento introduzido pelo Iluminismo 
jllrlclico, passou-se por urn momenta de cri se, tie duvidas . Encontnmos 
ohrns de aulores que defendem 0 velho sistema e muitas outras que 
d ,rcndcl11 as novas ideias iluministas. Neste processo M um momenta 
cI "pcrda de referencial". 
1." cxcl11pl o: uma guerra, onde impera uma situa9ao de ausencia de 
,cl\ rlls cnlrc a popula9110 dos ESlados em conflito (saques, atos de 
vllllencla) . ISIO acontece porq ue as pessoas vivem em situa9ao extrema, 
('0 11' conslan le peri go de vida e com quebra do sistema de organiza~ao 
~ Ilcill l , 'I"e pmpicia a lransgressfto de qualquer norma. 
Nestes Ires exemplos allomia significa ausencia de normas de refe-
,alicia nn sociedade, Nao se trata somente de um problema dos indivl-
dllos quo Irnnsgri~em as regras de comportamento, nem de uma situa9ao 
(10 conn ito de deveres em casos concretos, mas de uma crise social de 
' IIr~lcr olnplo, onde os membrosde grandes grupos sociais (e a socie-
dIldo mcsllIII) "nno sabem 0 que fazer", 
Ocrnlmcntc por anomia se entende este terceiro significado, que 
Illdioll limo si lun~fio de grande interesse para 0 soci610go e tambo!m para 
n 1",'\"". 1\ 11 11 ' \\i'~, neslc ~\wtido, J.'O!J(; ~er in1i;\:l\\iva de Im~21TIUdJ~~c\\ I" I lh . ,\. _ ~ 
MI; 'I,ll . jr+lli ll '~l'rl(hn tis e~\!l \,;)~ tl Hs Sli\l~i\)j b~ ':l\\~'~ Illlilaq\\1J; ~hlnsi' 
1(11 1" , 1\<1111 fl ""o,"la i"di 'n IlInl O uma s ilu a~ao de "crise cie Vtt]ores" na 
, " 
, , 
79 'ilf illl I, II 
't! 
, • ! I'; 
sociedade (contesla9ao das regras de comportamenlo socIal) , como t," , 
, 
CONFU TOS. INTEGRA<;AO E MUDAN<;AS SOCIA lS 
tambl'm uma situa,ao de crise da legitimidade do p.oder polftieo e do seu I' 
sistema jurfdico. 'I' . f 
I 1 • \ 
Dois soci610gos dedicaram-se particularmente a0 eS lu~o da anom!a : , ., 
Durkheim e Merton . Estes autores ctesenvolveram, em perlodos diver-
sos, uma teo ria sobre a anomia com grande repercO ssao no meio aca-
demico. 
2.2 A anomia em Durkheim 
Durkheim publicou em 1897 uma obra, rru lo de uma in lell sa pes -
quisa. denorninada 0 ,'itl ie(dio. an ele apresenta uma anal ise sohrc a 
anomia (D urkheil11, 2000).' I 'I I 
, 
No filial do seculo X IX cra corriqueira a ideia pe que os suicfd ios 
tinhnrn correspondencia (au seja, rela',fto causal l c'i'm as ~oen9as PSf- !" j. 
qllicas, com a situa9~0 geog~6fica, 0 chma, a :a9~ op a etma. Po: auto , lI: '!, 
lado, Durkheim partla da hlp6tese que 0 sUlcldlO ,estava relaclonn, 0 . IU 
com fatores SOCIa lS . E tentou trat6-lo segundo a sua principal regra !i' , 
metodol6gica: estabelecer rela~oes de causalidade entre falos sociai s e ; ii, " 
causas sociais (Durkheim, 1999-d, pp. 127 e ss.). I :: 
,I 
Na primeir~ etapa do seu trabalho 0 autor dedicou-se a analisat a 
argumenta~ao empregada na epoca pata explicar a pr6tica do suicfdlo" 
concluindo que se Iratavam de argumentos falsos e inconsislentes. ? 
autor demonstrou que as tax as. de suicidio nao linham correspondenc,a 
com fatores extra-sociais (Durkheim, !WOO, pp. 31' 162). I ' 
o passo seguinte foi apresentar provas empfricas da veracidode de ' .', 
sua hip6tese, Descartados os fatores nao sociais, p alltor estudou as 
poss{veis causas soclais que estariam relacionadas com 0 suicldi<j e " 
identificou uma serie de fatores, tais como religiao, estado civil, profis- I:' 
, I 
(~) 0 autor jt\ havia estudado 0 tema nn obra Divisiid social do trabalho . ~ { 
Puhlicada em 1893. Comentando as for,mas "anormais," da divis,~,o do traba ~ , t 
Iho (crises econOmicns, grandes conflltos entre ns classes SOCHUS) que en ~ ~ 
fraquecem a solidadednde social. Durkheim indicou que estes fen6menos 
eram devidos h falla de regu lamenla~§o d • • rela~6es lociais, ou seja, a urn 
est~tD. de . nol');iu ~1)urkhei[\\,. 1999, pp .. ~7 e 5S.). ~'1!:n s~ luci o,\',ij,r. 0 proble-
m~ dti ~m:\\,\\~ 'n~ m~~,~;:c<Je \w~~er\\~, \) nll\Q;' '1l'ic1:t1\l1l ~"a~\'td de ui\\,': \)''''i' 
"l1ior.i", btl sejit, tI@ leRfft§ de solldttHedade capazes de diminuir as desigua l-
dades sociais (pp. 431-432). 
, I 
, j 
-.....¥,1 
HII MANUAL rJE SOCIOLOGIA JURIDI CA 
R 0, cciuc!l,1I0 e Iugar onde se vive, As taxas de suicfdio eram maiores 
IlIII d terlilinada, silua90es como, por exemplo, entre pessoas soheiras, 
pronss ionais liberais ,' pessoas de religiao prolestante, de educa9iio su-
I'(' li or c nas co munidades urba nas (Durkheim, 2000, pp. 177-257). 
'I'c lldp idclltifi cado as Sillla((<ics de alto risco, 0 aular exarninull ~e 
('X iSli :1I1l caractcrfsticas comuns a todas essas situa~6es, de forma a 
(, I\ lnh(' l('cer IIIll clo entre as mes mas. Tamb6n tentou identificar as 
1:l/ t \{' ''; (lil t' Plhl('~~l'lll cxpliclt" pnrquc :I S pcssoas sc sui c ida v'lI11. 
1\ C lll sa cll collt rada pe lo autor era 0 grau de coesiio social. Apesar 
da s (iif'cren,as, a maioria dos suicidios coincidia em urn ponto: consta-
Ili va sc urn excesso ou uma falta de integra9ao do suicida na sociedade 
0 11 u suicfdio era Iigado a uma crise social geral, ou seja, a uma falta de 
rogrns que vinculem as membros da sociedade-: Assim vendo, a causa 
dON "uicldio. e~tava na propria 80cledade, exprimla "tendenclall da 
I 'o lctividade" e deveria ser analisada atrav~s de conceitos sociol6gicos 
c nilo ser vista como opyao individual: "a taxa social de suicfdios 's6 se 
"xplica sociologicamente" (Durkheim, 2000, p. 384).' 
COlli base a esle crit~rio 0 autor classincou 0 suicfdio em tr~s classes 
( I IIrkheim, 2000, pp. 258 e ss.): 
a) cgofsta: nest~ caso, a pessoa se sente'socialmente desvinculada 
~ () I1'I O, pOl' exemplo, urn vitivo sem filhos. 0 isolamento social rnargi-
Iinli za a pessoa, que deixa de ter sentirnentos de solidariedade social 
(fnUII de integni9ao). 
b) altrulsta : ao contrario do caso anterior, a pessoa encontra-se 
Illuil o vinculada a urn gropo social. Sentindo-se estreitamente ligada 
1I0S valores do grupo, esta pessoa n~o valoriza particularmente a sua 
vidn C slIi c idn-sc facilmente por motivos de honra. 0 exemplo tlpico 
,' rill 0 do mililar que se suicida no caso de urna derrota (suicfdio POI' 
IIl1n 'AII~"O Oll POI' excesso de liame social). 
c) an/\l11ico: neste caso, a pessoa vivencia uma situa9ao de falta de 
lililil e, c I' gro, soc iais. As "perturba90es da ordem coletiva" desorien-
t'l Os dndos ul ilizados par Durkheim nesta pesquisa nfto eram exatos (estatrs-
li ens 11'I1In icipnis e estaduais, relatas de viagem, escritos de antrop61ogos de 
1\( 1(~ i ccl fld cs prirnilivns), e nlguml1s de suss conclusoes foram cientificamenle 
qll 'Sl ionll"a , (Soriano, 1997, p. 95). De todas formas, seu estudo sobre 0 
SlIlcrdio e considcrado, ate haje, urn texto de extrema valor, sobretudo porque 
Inl l (\( 1t11. In~lodos de pcsquisa empfrica de tipo sociol6gico. 
\ . 
CONFUTOS. INTEGRAt;AO E MUDANt;AS SdCIAIS 
I't' r, 
81 ' ' ! ' 
tam os indivfduos, eriando-se lim desequilibrio e1tre desejos e suas 
possibilidades de satisfa9iio (Durkheim, 2000, p. 31-1). A cJnseqUencin 
e 0 sofrimento e desespero que pa dem levar 0 indi \t fduo no suicfdio. 
Esln cnlcgorin de s ll icr~li o relnc iona-se CO Ill duns ~ i l lln\oes apnren-
tem ente contrnd it 6rias. J\ prillleira refere-se ao aumc nto de suicfd ios 
nos pcriodos de depressao economica; a segullda ao aumento da prOtiea 
de !;li s ;lIOs nos perfodos de prosperidade, quando sc idc nti fi ca lllll 
crcscililenin nec lcrnda (Durkhcilli . 2000. pp . :10l -12CJ. 1(,(,) . 
Segundo a autor, a causa CO ITIUIll esta no rata de 0 homem tel' em 
principia desejos ili mitados. Somen te a sociedade p.ode impor regras, 
. I 
ou seja, colocar limites aos desejos do individuo, propiciando um eq ui-
librio entre as necessidades pessbais Ie os meios diSfQnfVeiS para obler . 
:;atisfa9Ao. No caso de uma brusca rnudan~a das cor! i~oes econ6mic~s, ! ' .1 .. 
os indivfduos perdem as referencias anteriores e a ociedade nAo cdn-
segue imediatamente impor novas regras. 
Nesta s i tua~ao ca6tica podem desencadear-se os desejos ilimitados. 
o rico que vive uma catastrofe nao pode conformar-se com a sua nova 
realidade e isto 0 leva ao desespero. POI' outro lado, a pessoa que 
enriqueceu bruscamente entra em uma dinamica de ambi9iio insaciavel: 
entra em luta continua e ardua e 0 menor insucesso pbde leva-Io tamb~m 
ao desespero, nao conseguindo mais distinguir entre aquilo que deseja I 
obter e aquilo que realmente pode obter, Trata-se aS5im de uma situa9i!0 
de perda de referenciais. 
Atraves desta analise, Durkheim apresenta a sua Visao sobre a 
anomia. Neste sentido, anomia significa "estado de desregrame~to", 
s itua9~0 na qual a sociedade n~o desempenha 0 seu papel moderador, 
ou seja, n~o con segue oriental' e Iimitar a atividade do indivfduo. 0 
resultado e que a vida se desregra e 0 indivfduo sofre porque perde suas 
referencias, vivendo num "vazio" (Durkheim, 2000, pp. 315, 322, 328). 
Da abordagem sociol6gica do suicfdio nas obras de Durkheim 
podemas destncnr uma regrn geral: quando se eriam na sociedade "es-
pa90s anllmicos", ou seja, quando urn indivlduo oJ urn grupo perde as 
referencias normativas que orientavam a sua vida, ' en tao enfraquece a 
solidariedade social, destruindo-se b equilibrio entre as necessidades e 
os meios para sua satisfa9~o. 0 indivlduo sente-se "livre" de vlnculos 
sociais, tendo, muilas vezes, urn comportamento anti-social ou inclusi-
ve autodestrutivo. 
82 MANUAL DE SOCIOLOG IA JURIIJI CA 
2.3 A anomia em Merton 
Em J 938 outro soci6Jogo daria uma contribui9ao fundamental para 
a teoria da anomia . Trata"se de Robert King Merton (J 9 10"), que se situa 
n8 linha te6rica do funcionalismo.' 
MCrion aorma que em todo cOlltexto sociocultural desenvolvem"se 
melas culturais. Estas expressam as valores que orientam a vida dos 
in di v(dll os (' 11 1 soc ic(bdc. Cnlnca-sc c I11 iin lim a q llcst iio : (n l11 O a PCSSO;) 
l"OI1 Sl'g uc ,lIi ll gir (s tas IIll'tas? Merton di l. qll e. para tal c fcitu, cada 
soc iedade es tabc le<:e detc rminados lIIeios. Trata"se de recursos 
instituc ionali zados ou legftimos que sao social men te prescritos. Exis" 
Icm lambem outros meios que permitem atingir estas mesmas metas, 
mas sao rejeitados pelo grupo soci!!1. A utiliza9Ro destes ultiinos e 
considerada como viola9i!0 tlas regras soc iais 'em vigor. 
Excrnplo: Illn meio insliluci6nalizado para ntingir a riqueza e criar 
uma empresa que, tendo sucesso, pode produzir lucro. Este mesmo 
objetivo pode ser at in gido praticando"se assaltos a bancos. A diferen9a 
obviamente eSI6 no fato de que a nossa sociedade ace ita 0 primeiro meio 
e proscreve 0 segundo, punindo"o como crime. Porem, do ponto de vista 
funcional , 0 soci610gb pode dizer que ambos meios sao equivalentes, 
ja quI' podem levar ao enriquecimento. Outro exemplo: herdar 0 patri" 
monio de urn parente milionario e urn meio de ascensao sociallegftimo; 
a "prosti tui9ao de luxo" pode levar ao mesmo resultado, mas nao deixa 
de ser umn conchJln socia l mente reprov6vel. 
Estudando a sociedade norte"americana, Merton observou que a 
meta cult ural mais importante e 0 sucesso na vida, abarcando riqueza 
e prestfgio (americall dream). Assim sendo, 0 autor indica que 0 elemen" 
to economico apresenta uma imporHlncia particular na formac;ao do 
conceito de sucrsso nos EVA. 
(6) Como roi destacado (Soriano, 1997, p. 299), Merton quesliona muitos aspec" 
lOS da lcorin funcionalista,lal como esla foi elaborada. entre Qutros, pelo antro-
p610go Bronislaw Malinowski (1884" 1942) e pelo soci610go Talcolt Parsons 
(1902" 1979). Par tal raztio, Merion e cons iderado como a te6rico que constr6i 
umit "ponte" ent re 0 funcionali srno e as (eorias do conflito socia l. As ma.iores 
c Oll l riblli ~fjcs dc Merion na teoria sociol6gica sao a an:1.l ise das func;oe~ mani-
rCs la.~ c latcnlCS das inslitui c;l'Ses sodai.., (ver LiC;i1o 7,3, I ) e 0 .!studo das eslru-
turns soc iai s dn anomia: Os trabalhos mais importantes deste autor encontram-
sc nn colcUinca dcnominada Teoria e eslrutl.ira social (Merton, t 970). 
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, r 
CONFUTOS. INTEGRAC;Ao E MUDANqS ~OClAIS I f Iii 83 ~ 
I 
Porem, apesar desta meta cultural (riqueza, prestfgio) ser comrmr" ' 
tida por todos, existe uma evidente impossibilidade desta ser atingida 
por uma grande parte da populaC;ao. A sociedade 'e estrQturada de tal 
forma , que os meios soc ial mente admitidos nao permitem a todos os 
indivfduos (e nem sequer 11 maioria) alcanc;ar a Ineta cultural. Dlsto 
resulta um desajuste entre os fins e os meios. Es te desajuste propicia 0 
aparecimenlode condutas que van desde a indiferenc;a perante as metos 
imposln s pelo american dream ale a ten lnti va de aic <1 m;ar (<lis me tns 
;lIraH<s de lill'i()s dive rsos d:lt [ll Clcs soc ia I11 1l' l1h' pri.:snit ns. 
o insucesso em atingir as metas cu ltllrais dev ido [\ inslificiellcia dos 
meios institucionalizados pode prod uzi r a que Merton denomina de 
anomia : manifesta9ao de urn comportamenLo no qual as "regras do jogo , 
social" sao aba~donadas ou co~to~nadas. 0 iI~div'duo n~o re~pei t~ as 
regras de comportamento que mdlcam os melDS de a9i!o soelahrtdnte 
nceilos . Surge entAo 0 de~vio , ou ~eja, (, compo,.tbmento desviantJ. 
o exemplo tfpico refere"se 11 criminalidade, ma~ tambem podemiser 
inclufdas as faltas disciplinares, os comportamento's nao convencionais 
e os que demonstram desinteresse pelas met as culturais. Em todos eSles 
casos detecta"se a inobservancia. das regras de conduta s~cial. 
Examinando a situa~ao conflitiva que pode ser estabelecic\a entle 
as aspirac;6es culturalmente prescritas (metas culturais) e 0 caminito 
socialmente indicado para atingi"las (meios institueionalizados) , Merton 
fez uma classifica9ao dos tipos de comportamento. 'frata"se daquilo que 
o aulor denomina de modos de adapta~'fo, que ex prime 0 posicionamento 
de cad a indivfduo em face das regras sociai s. Nesta c1assifica9ao o~ 
sfmbolos positivo e negativo sao utili zados para intJicar se os indivfdu " 
os aceitam ou nao as metas e os meios soc iallnente estabelecidos 
(Merton, 1970, p. 213). 
I 
, 
, instituciol1a!izados Modos de adapta(iio Metas culturais Meios 
I . Conformidade + + 
2. Inova9aO + " 
( 
3. Ritualismo " + 
4. Evasao " " 
, 
5. Rebeliao ± ± 
, 
84 MANUAL DE SOCIOLOG IA JURfDICA 
o primeiro modo de adapta~ao.! a conformidade: 0 indivlduo busca 
atingir as metas col turais atrav.!s dos meios dstabelecidos na sociedade. 
o indivfduo ad ere plenamente ~s normal; soeiais, nao ex istindo compor-
tamento desv iante. E 0 que se denomina de comportamento modal. 
Nesle enso n pcsson nan demonstra nenhum prob lema de adapla~iio as 
rcgras cSlahelcci das e l1l dctcr l1l inadn ~ocicdade. 
o comporln lllen io moda l eo ponlo de referencia a partir do qual sen) 
clahorada a all:i l isc dns dClllais comport:lI11cntos , qtle sflo contr~ rios as 
II1 !.! tas cl1 1turais (; (Otl ) aos Illcius insti tll cionnl ii',ados para atingi-Ias . 
Trala-se dc eomportamentos nao-modais, desv iantes, que indicam situ-
a<;6es de anom ia. 
o segundo modo de adapta~iio .! a inovarfio. Neste caso a conduta 
do indivlduo e condizente corn as metas culturais, mas existe' uma 
nlptura com rela9~0 aos meios irlstitucidnaliiildds. No irtomeilt6 en\ que 
percebe que os meios legltimos nao estao ao seu aleance, 0 indivlduo 
tenta atingir as mesmas metas servindo-se de meios soeialmente repro-
vaveis. Aq ui a busca do sucesso leva a uma viola~ao das regras sociais, 
ja q'ue 0 ind ividuo adota 0 princfpio de que "os fins justificam os meios". 
Merton denomina esta conduta de "inovadora", ressaltando 0 fato 
de que 0 emprego de expedientes socialmente reprov3veis pode, em 
determinados contextos, ajudar a soeiedade a modemizar-se. Isto acon-
lece quando a ado~ao de urn tipo de comportamento por determinados 
grupns de pessoas con segue impor-se soeialmente, apesar da "condena-
<;Jlo" inicial " roferida peln proprin sociedndc. 
Urn exemplo e a cria<;iio dos primeiros grupos de Rock. Em um 
primeiro momento houve uma forte reprova~iio, porqut se tratava de 
uma ruptura em rela~ilo ao esti lo de vida tradieional e ao gosto musical 
da epoca. COrn 0 passar do tempo 0 Rock foi soeialmente aceito, sendo 
considerado como mais uma forma de cria~ao musical, deixando de 
provocar conflitos e escandalos. Obviamente que nesta modalidade de 
adapta~ao tamMm estao incluldas as condutas des vi antes "anti-soci-
ai s", como a criminalidade, porque esta nao deixa de ser inovadora no 
quc tange ~ ruptura ern rela~ao aos meios institucionalizados, que silo 
sUDst itufdos par meios ilegais. 0 cI~ssico "ladrilo" deseja obter sucesso, 
uli lil.n ndo meios diferentes (ilegais) pam atingir esta meta. 
o tcrceiro 1110do de mlnptn~lIo .! a rituali .. lo. Aqu i 0 indivfduo 
dcmonstra um des interesse em atingir as metas social mente dominan-
les, 0 meclo do insucesso, do fracasso produz desencanto e desestfmulo. 
CONFLITOS, INTEG'RA<;:AO E MUDAN<;:AS J OCIAIS 85 b ~ 
I ! : I ,. 
A pessoa acredita que nunca poder~ ati ngir as "gr~ndes metas"; conti- ! 
nua, porem, resp~itando as regras sociais, apegandd-se as mesmas cdmo 
ern uma especie de ritual. ; 
, , , 
; Aparentemente constata-se urn comportamenlo' conformista, Jlor-
quc csl~ ajustado aos tipos de cond utn social mente recomendados. 
Trata-sc, porcln, de tIIll cO lllporlamcnto nn6rnico, porquc 0 indivfduo 
!lad comparte as met as sociais, Iimitando-se ao cumprimento de normas 
c rcgukunenlos. scm sCfllIcr illdaga r accrca cia convcni encia c cia fina -
liJadc das Il;csmas. Um excmplo C ofcrcc ido pclo cUl llportall1 cnlo de 
membros da classe media ba ixa que, iendo co nsc iencia cia sua condi<;iio 
social (e da impossibi lidade de tornarem-se ricos), acqmodam-se com 
o pouco conquistado, e apegam-se ~ ritualidade do cotidiano e ao pleno ' 
respeito da legalidade. i' I ' 
o quarto modo de adapta~ilo ~ a evas{Jo, qu se caracteriZ8 pel6 ; 
abandono das metas e dos meios institueionalizad s. Esta c~nduta In- ' 
, ' 
diea uma falta de identifica<;ao corn os val ores e as regras sociais\ 0 
indivlduo vive em d~term inado meio social, mas n'ao adere ao mesmo. 
Merion observa que se trata de um tipo de conduta estritamente indivi-
dual e minorit~ria. Urn exemplo e dado pelos mendigos, que vivem 
como se fossem urn corpo estranho dentro da sociedade. Aqui encon-
tram os um n((ido comportamento anomico. A cond~ta rnais extrema de 
evasao e 0 suicfdio. 
, I 
A conduta de rebeli{Jo e caraclerizada pe lo intonformismo e pela 
revolta. 0 indivfduo e ncgnt ivo com reln9no 1105 meios e As metps. A 
diferen9a entre esta conduta e a de evasao cons iste no fato de que 0 
indivlduo (ou 0 grupo) rebelde propoe 0 estabelecimenlo de novas 
metas e a institucionaliza~i!o de novos meios para dt ingi-Ias . Ern outras 
palavras, a conduta de rebeWio consiste na rejei9ao das metas e tlos 
meios dominantes - julgados como insuficientes ou inadequados - , e 
na luta pel a sua substitui~ao. A conduta de rebeliao busca ilssim a 
configura<;ao de uma nova ordem social. Por esta razao Merton enten?e 
, que esta conduta nao po de ser considerada especificamente como ne-
gativa, utilizando sitnultaneamente como slmbolos os sinais positivo e 
negativo. Exemplos claros da condu!a de rebeliao ~onstituem os movi-
mentos de revolu~ilo social. I ' 
Atraves da combina9i10 destes modos ,te comportamento Merton 
prop5e uma defini<;i!o da sociedade al1omica. Constata-se uma situ~<;ao 
de anomia generalizada, quando a sobedade acentDa a importancla de

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