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PROJETO INTEGRADOR 8 – AULA 2 MOD 8 - MICRO-HISTORIA E SALA DE AULA
Professor: DR. JOÃO MUNIZ JUNIOR
SUMÁRIO
1. A narrativa como possibilidade de diálogo entre o particular e o geral
2. Usos da micro-história em sala de aula
A narrativa como possibilidade de diálogo entre o particular e o geral
O surgimento da micro-história na Itália nos anos 1960 trouxe importantes contribuições para o campo de produção historiográfica no mundo todo. A célebre obra de Carlo Ginzburg, “O queijo e os vermes”, é prova do quanto essa nova forma de pensar o passado a partir de uma trajetória individual e relacioná-la com um contexto mais geral se mostrou frutífera.
Segundo Loriga (1998), o sucesso da micro-história se deu em função de haver naquele período uma crise dos paradigmas totalizantes, das propostas estruturalistas e do próprio marxismo. Sendo assim, “Decepcionados e insatisfeitos com o uso de categorias interpretativas predeterminantes, os próprios historiadores sociais, tradicionalmente mais atentos à dimensão coletiva da experiência histórica, começaram a refletir sobre os destinos individuais”. (LORIGA, 1998, p. 226).
Inicialmente, a micro-história era aplicada para o entendimento de uma história local, centrada em problemas do contexto italiano. Aos poucos, os usos dessa concepção de história deixaram de ter a delimitação espacial como foco de suas análises e passou a se ocupar de problemas gerais da historiografia utilizando-se da redução de escala, ou seja, começa a pensar a partir da amostra (LEVI, 2000).
Por exemplo, Carlo Ginzburg, na análise que empreende do processo do Tribunal de Inquisição contra o moleiro Domenico Scandella, conhecido também como Menocchio, em função de suas críticas à Igreja Católica, procura entender as formas de pensamento do réu, a maneira peculiar de ver o mundo, o seu cotidiano e as suas relações sociais. Ao mesmo tempo, Ginzburg analisa o plano geral formado pela sociedade medieval na região do Friuli e estabelece um jogo de escalas entre o particular e o geral. Assim, o historiador procura enxergar através de Menocchio, ou seja, acompanha as evidências deixadas pela trajetória de um determinado personagem não como um fim em si mesmo, mas como por meio dele seria possível o entendimento do tempo em que viveu e as maneiras de se pensar que uma época realizou.  
Menocchio, por Alberto Magri
Sobre a importância da escala de análise, Lima aponta que a micro-história,
[...] em vez de deter-se sobre as tendências de longa duração e os largos espaços geográficos, propunha-se o estudo intenso sobre comunidades, grupos familiares ou mesmo indivíduos. A justificativa dessa redução de escala estava no fato de que apenas no âmbito microscópio seria possível articular de modo consistente os vários perfis que as fontes seriais produziam – originalmente independentes entre si – em uma compreensão coerente da realidade social. As fontes seriais, tratadas em escala reduzida, não deveriam, portanto, ser consideradas separadamente. Ao contrário, seriam combinadas entre si de modo a revelar, ainda que indiretamente, o conjunto de estratégias comuns e individuais que constituem o concreto das relações sociais. (LIMA, 2006, p. 62).
Apesar de não ser o principal objetivo da micro-história, a realização de generalizações é possível a partir do uso dessa prática historiográfica. Sendo assim, a mudança que a micro-história opera seria no sentido de aproximar o foco da análise do historiador do seu objeto de estudos, de maneira a revelar novas tramas no tecido social, com maiores detalhes da vida cotidiana.
A atenção especial que a micro análise concede ao indivíduo e ao “vivido”, resultaria em algumas vantagens, segundo Revel, porque para esta abordagem, a “experiência mais elementar, a do grupo restrito, e até mesmo do indivíduo, seria a mais esclarecedora porque é mais complexa e porque se inscreve no maior número de contextos diferentes” (REVEL, 1998, p. 32).
Para finalizar, podemos citar a asserção de Barros em relação ao objeto de estudo do micro-historiador, em especial a trajetória de um indivíduo:
Pode ser uma prática social específica, a trajetória de determinados atores sociais, um núcleo de representações, uma ocorrência ou qualquer outro aspecto que o historiador considere revelador em relação aos problemas sociais ou culturais que se dispôs a examinar. Se ele elabora a biografia de um indivíduo [...], o que o estará interessando não é propriamente a biografia desse indivíduo, mas sim os aspectos que poderá perceber através do exame microlocalizado dessa vida. (BARROS, 2004, p. 153).
A micro-história mostra-se como uma vertente com enormes ganhos de possibilidades para se compreender as maneiras pelas quais as trajetórias individuais se conectam com os contextos macros da história de um determinado local e período. Os seus usos em sala de aula, portanto, podem se mostrar enriquecedores dentro de um projeto de ensino-aprendizagem.
Usos da micro-história em sala de aula
A fim de potencializar o uso da prática da micro-história no contexto de sala de aula, seria de grande importância o que o professor(a) de antemão trabalhasse com os alunos as formas tradicionais de se pensar a história, tais como os usos do materialismo histórico, a vertente dos Annales, entre outros. Isso porque o aluno precisa conseguir dimensionar as variadas possibilidades de acesso ao passado. Quando nos referimos que seria válido o(a) docente apresentar aos alunos as formas tradicionais de se produzir história, estamos nos referindo a levar para a aula exemplos práticos.
Uma possibilidade seria se valer de algo relacionado ao cotidiano dos alunos. Podemos, aqui, citar uma experiência prática. Em determinada instituição de ensino, em uma aula do segundo ano do Ensino Médio sobre migração italiana ao Brasil durante do século XX, de forma a despertar o interesse, perguntei aos alunos se eles teriam algum ascendente italiano na família. Alguns levantaram as mãos. Agradeci e em seguida, mostrei para eles como que os fluxos migratórios faziam parte da história, sendo que a própria Itália, no contexto da História Antiga, fora resultado de migrações.
Essa abordagem da história em que se estabelecem relações entre o “tempo curto” (a vida dos alunos), o “tempo médio” (a origem familiar) e o “tempo longo” (que pode ser tanto a migração de antepassados da Itália quanto a própria formação populacional da península itálica durante a Idade Antiga) se trata de uma visão da história que os Annales postulavam. Expliquei aos alunos, brevemente, o que seriam os Annales e deixei evidente que essas relações temporais seriam uma contribuição dessa escola histórica.
Em seguida, voltei à pergunta sobre a origem familiar e pedi que eles me contassem brevemente sobre os avós e demais personagens de suas famílias. Aos poucos algumas coisas em comum foram se revelando: períodos de chegada, regiões de destino no Brasil, entre outros fatores. Em seguida, expliquei com maiores detalhes como funcionava a prática de micro-história de forma que os próprios alunos percebessem as diferenças quando comparada à abordagem dos Annales sobre o mesmo tema. Enquanto os Annales veem a história do ponto de vista da longa duração a fim de identificarem as estruturas, os micro-historiadores procuram identificar, a partir de trajetórias individuais, as relações entre o particular e o geral.
Plano de ação
Após essa breve introdução em sala de aula sobre as diferentes formas de abordagem do passado, pode-se dar o próximo passo: tornar os alunos, eles próprios, agentes da produção do conhecimento. Antes de prosseguirmos, cabe salientar que aqui se trata da utilização da prática da micro-história na reconstrução do passado. Todavia, para se tornar possível essa atividade, será utilizada a História Oral, uma vez que o trabalho se dará por meio de entrevistas. Sendo assim, seria de bom tom que o(a) professor(a) tome ciência dos pressupostos da História Oral e brevemente apresente para os alunos as suas possibilidades e limitações, para, somente em seguida, darcontinuidade aos trabalhos.
São várias as ocasiões em que se torna possível utilizar a micro-história com relação aos conteúdos abordados durante o ano letivo: migração, a questão do trabalho no Brasil (leis trabalhistas, movimentos operários), Ditadura Militar, as relações de trabalho no campo, as construções das ferrovias, aspectos da história local, da cidade, da região ou do estado em que o aluno reside.
Sendo assim, uma abordagem que se mostra enriquecedora seria com o uso de narrativas familiares. Antes de mais nada, é importante que seja realizada uma consulta à Coordenação e/ou Direção da unidade escolar no sentido de se esclarecer sobre a necessidade ou não de preparação de uma documentação a fim de que as pessoas envolvidas no projeto assinem um termo em que fique claro o que será a atividade da qual estão participando e quais serão os seus objetivos. Isso porque estamos nos referindo à realização de entrevistas sobre aspectos de trajetórias individuais e todo cuidado ético deve ser levado em consideração.
Quanto às formas de se proceder para a elaboração do questionário, são várias as possibilidades. Importante não deixar tudo sob a responsabilidade e iniciativa dos alunos. Evidentemente que se deve estimular a inciativa por parte dos discentes, mas isso não significa deixá-los totalmente entregues a si mesmos na construção do projeto de entrevistas. Nesse sentido, seria válido o(a) professor(a) trabalhar com os alunos uma lista com perguntas a serem feitas aos pais, avós ou familiares.
A fim de orientar os estudantes, o docente poderia iniciar com a indicação de algumas perguntas-chave e abrir espaço para que os próprios alunos desenvolvam o restante do questionário, mas com intervenções, orientações e estímulos da parte do(a) professor(a).
Exemplos de perguntas a serem feitas: Nome; Data de nascimento; Local de nascimento; Filiação; Trabalho; Estudos, entre outras perguntas. Algo interessante de ser feito seria que os próprios alunos respondessem a um questionário sobre si mesmos. Isso teria como efeito evidenciar que eles também são possuidores de uma história que se liga à de seus antepassados, mas que também se relaciona com o presente em que vivem.
Conforme for o foco da aula o(a) professor(a) deve orientar para perguntas mais elaboradas e específicas. Assim, após determinar um período para a realização das entrevistas, os alunos poderiam apresentar os resultados de seus trabalhos de várias maneiras: seminários, relatórios escritos, por meio da gravação de vídeos ou áudio, ou a combinação de um ou mais desses formatos.
Caberá ao(a) docente a mediação durante a execução do trabalho e no momento da apresentação dos resultados, de maneira a garantir que os alunos percebam as maneiras pelas quais o uso da micro-história poderia estabelecer as relações entre o particular e o geral.
Em uma experiência em que nos valemos desse tipo de abordagem prática no estudo dos fluxos migratórios ao Brasil entre o final do século XIX e o início do século XX, em uma região com grande produção de café no Oeste Paulista, alguns alunos relataram, após a entrevista com familiares, sobre como se deu a migração dos antepassados desde a Itália até o Brasil nos anos 1930. Foi possível estabelecer as relações entre as origens familiares que migraram, ou seja, trajetórias pessoais, e o contexto mais geral: a migração italiana ao Brasil e mais: a questão da produção cafeeira no Oeste Paulista.
Outra abordagem em que se poderia valer da micro-história como via de acesso ao passado de maneira prática entre os alunos, seria a utilização dos álbuns familiares a fim de se identificar personagens que fizeram ou ainda fazem parte de um determinado núcleo familiar e, assim, construir as pontes entre estas trajetórias individuais e a história de um bairro, de uma cidade, de um estado e até mesmo, a história nacional. Nessa proposta, os alunos deveriam se reunir com os pais, avós e demais familiares e consultar os álbuns de família.
Aqui também se torna importante o cuidado ético na condução dos trabalhos de forma a respeitar as individualidades, o direito à preservação da imagem e das trajetórias dos indivíduos envolvidos. Para tanto, a mesma orientação é válida: estabelecer a necessidade ou não de documentação para a realização da atividade.
Nesses tipos de exercícios práticos em que a micro-história se vale de entrevistas e/ou fotografias como possibilidade de se estudar o passado e relacioná-lo com o presente, outras questões podem ser abordas de maneira transversal: os usos da memória no ensino de história, a análise de fontes documentais (orais, no caso das entrevistas; imagéticas, no caso das fotografias); a própria produção de fontes históricas por parte dos alunos, uma vez que após a conclusão de seus trabalhos, haverá registro de suas atividades em diferentes formatos e suportes: manuscritos, áudio, audiovisual, fotografias, entre outros.
A prática da micro-história feita pelos alunos pode ser direcionada para outros setores da sociedade ou outras temáticas que não necessariamente a história familiar. Por esse viés, seria possível fazer um levantamento da história do bairro, da cidade, de eventos que acontecem na região, como uma feira anual, ou sobre aspectos da economia e da cultura da comunidade em que estão inseridos. Em trabalhos assim, o levantamento das temáticas e a elaboração de um questionário bem estruturado conforme as demandas do objeto de estudo são fundamentais para um melhor aproveitamento da atividade.
A utilização da micro-história pode ser enriquecida com práticas interdisciplinares, como por exemplo, relacionar disciplinas como Geografia e Biologia, caso o enfoque da pesquisa seja as transformações ocorridas nas interações entre as sociedades humanas e o meio ambiente. Ou, então, em situações que sejam abordadas questões culturais, seria interessante relacionar com disciplinas como História da Arte, Literatura, ou até mesmo, Sociologia e Filosofia. Ou ainda, um projeto de maior envergadura que contemple o maior número possível de disciplinas, fazendo com que a interdisciplinaridade seja explorada ao máximo.
Essa modalidade de atividade em que os alunos se tornam, eles próprios, agentes de produção do conhecimento tem se mostrado de grande valia e com resultados excelentes. Há o envolvimento das turmas, das famílias, da comunidade em torno de um projeto que não olha para o passado somente pelo passado, mas que busca nos tempos pretéritos as respostas feitas em um presente e com toda uma relação com o cotidiano dos alunos e dos envolvidos com a atividade.
Em projetos assim, a história ganha uma dimensão em que não somente as trajetórias dos grandes homens ficam em evidência ou que somente os grandes acontecimentos se tornam merecedores de estudos. Pelo contrário, o uso da micro-história traz à tona o “homem comum”, o seu cotidiano, as suas escolhas, a sua vida em relação à história local, nacional e quiçá, do mundo. Fica evidenciada a dialética entre o particular e o geral, as maneiras pelas quais o indivíduo influencia e é influenciado o e pelo tempo em que viveu.
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