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DOENÇAS EXANTEMÁTICAS Moléstias infecciosas na qual a erupção cutânea é a característica dominante. Possuem um comportamento semelhante (4 fases): período de incubação -> pródromo -> exantema -> convalescença. Exantema: manifestação cutânea de fundo vascular de etiologia infecciosa, alérgica, tóxica ou física, não são exclusivos de doenças infecciosas. Manifesta-se clínicamente como mácula, pápula, vesícula, pústula, crosta ou sufusão hemorrágica *Importante identificar doenças com potencial de evoluir para quadros graves *púrpuras, petéquias e equimoses não desaparecem a digito pressão. Enantema: manifestação nas mucosas que desaparece a digito pressão. Lesões elementares: Mácula: lesão plana e não palpável, quando grande é a mancha. Pápulas: lesões pequenas perceptíveis ao tato que quando maiores são chamadas de placas ou nódulos (internos). Vesículas: pequenas lesões que contém líquidos e quando maiores são chamadas de bolhas. Pústulas: lesões com conteúdo líquido purulento. Placas: lesões planas mas elevadas, perceptíveis ao tato e grande. Morfologia dos exantemas: Maculopapular: Morbiliforme: pequenas maculopápulas eritematosas (3-10mm), avermelhadas, lenticulares ou numulares. Rubeoliforme: semelhante ao acima, mas + róseo e com pápulas menores. Escarlatiniforme/micropapular/eritrodermia: eritema difuso, puntiforme, vermelho vivo s/solução de continuidade, áspero. Urticariforme: erupção papuloeritematosa de contornos irregulares. Papulovesicular: pápulas e lesões de conteúdo líquido, pode-se transformar em vesículas, vesiculopústulas, pústulas e crostas. Petequial/purpúrico: alterações vasculares com ou sem distúrbios de plaquetas e coagulação. Nodular/ulcerativo: erupção papulonodular que pode ulcerar. Abordagem: Clínica: nem sempre é possível estabelecer no atendimento inicial o diagnóstico de certeza da etiologia do exantema, utilizar as características clínicas e epidemiológicas para isso. Orientar familiares sobre necessidade de reavaliações ou nos casos mais graves de observação, realização de exames e internação para investigação diagnóstica. Diagnóstica: história clínica + exame físico + situação vacinal, história recente de viagens ou contato com pessoas doentes. Anamnese: de acordo com a faixa etária. Perguntar procedência, imunização e sobre possíveis fontes de contágio. Lactentes -> exantema súbito e enteroviroses (coxsackioses). Menores de 5 anos -> enteroviroses e doença de Kawasaki. Pré-escolar e escolar -> eritema infeccioso e escarlatina. Adolescentes -> Mycoplasma pneumoniae, mononucleose, sífilis secundária e leptospirose. Exame físico: análise minuciosa do tipo de lesão, distribuição, evolução e presença de sinais diagnósticos e patognomônico. Além disso avaliar o estado geral, se tem associação com hepatomegalia e adenomegalia, conjuntivite, faringoamigdalite, sinais inflamatórios e articulares, descamação lamelar da pele, exantema petequial ou púrpura associado a sopro cardíaco, sinais e sintomas sugestivos de desenvolvimento neurológico e sintomas pulmonares. Achados patognomônicos: mancha de Koplik -> sarampo; sinal de Theodor (adenomegalia retroauricular e suboccipital) e manchas de Forchheimer associadas (petéquias no palato) -> rubéola; língua em framboesa, sinal de pastia e sinal de Filatov (palidez perioral) -> escarlatina; edema de mãos e pés e língua em framboesa -> Kawasaki; face esbofeteada -> eritema infeccioso; dentre outros. ->EXANTEMAS VIRAIS: Rubéola: Causada pelo Togavírus, um RNA vírus que é transmitido pela via aérea (perdigotos), fica incubado de 14-21 dias. Contágio: poucos dias antes de 7 dias após o exantema. Contactantes devem ficar em observação. Isolamento: respiratório e de contato para casos adquiridos pós-parto, até 7 dias após o exantema. As crianças com infecção congênita são consideradas infectantes até 1 ano de idade ou até que a pesquisa de vírus na nasofaringe e urina dê negativo. Manifestações clínicas: Pródromo (1-2 dias pré-exantema): raro em crianças – mal estar, cefaleia, conjuntivite, febre e linfonodomegalia. Fase exantemática: inicia na face e em 24h já está em todo o corpo. Exantema maculopapular róseo que dura menos de 3 dias + sinal de Theodor e manchas de Forchheimer + febre baixa, artralgia (mulheres jovens) e esplenomegalia (50%). Complicações: púrpura trombocitopênica, artralgia (mulheres) e rubéola congênita. Diagnóstico: basicamente clínico. Pode-se fazer: isolamento do vírus em nasofaringe, pesquisa de anticorpos IgM e IgG contra rubéola. Tratamento: suporte. Vacinação: tríplice viral aos 12 meses e tetra viral aos 15 meses. Sarampo: Doença aguda e autolimitada causada pelo Paramixovírus (RNA vírus), de alta transmissibilidade (via aerossois). *Quase erradicada pelas vacinas. Tempo de incubação de 8-12 dias. Contágio: final do período de incubação (2 dias do início do pródromo) até o 4º dia após o aparecimento do exantema Isolamento respiratório até 4 dias após o início do exantema. Manifestações clínicas: Pródromos (catarral): febre alta, tosse, coriza, lacrimejamento, sinal de Koplic (manchas brancas na mucosa bucal). Fase exantemática: exantema maculopapular eritematoso morbiliforme, que começa na região retroauricular, face e cervical e descende para o tórax e membros. Conflui a castanha e descama (3-4° dia). Período de convalescença: descamação. Sarampo modificado: quando acomete pessoas com imunidade relativa ou pela aquisição intrauterina de anticorpos ou por terem tomado gamaglobulinas -> maior tempo de incubação (+3 semanas), pródromos e exantemas são + levas, raramente se observa a mancha de Koplik. Sarampo atípico: indivíduos previamente vacinados, possuem um quadro clínico + grave e exantema variável. Diagnóstico: basicamente clínico. Pode-se fazer: pesquisa de IgM na fase exantemática, dosagem de anticorpos (fase inicial e 2-3 semanas após o início dos sintomas), anticorpos IGM 6 dias após o exantema e PCR para avaliar o genótipo viral. Tratamento: suporte (hidratação, nutrição e antitérmicos), internação em isolamento respiratório aerossol. Vitamina A: efeito protetor, redução das taxas de morbidade e mortalidade. Menores de 6 meses -> 50.000UI via oral; 6-11 meses -> 100.000UI VO; +12 meses -> 200.000UI VO. Vacinação: SCR (tríplice viral) aos 12 meses e SCR+V (tetraviral) aos 15 meses. Contactantes de sarampo, o que fazer? Indivíduos imunocompetentes suscetíveis, > 6m, não vacinados, ou que só receberam 1 dose, exceto gestantes -> tríplice viral nas 1as 72hrs após o contato. Indivíduos imunocomprometidos graves, grávidas sem vacinação, bebês imunoglobulina IM (0,5ml/kg até no máximo 15mL) ou EV nos primeiros 6 dias após o contato. Complicações: otite, pneumonia, miocardite, diarreia, conjuntivite, sinusite, traqueíte, vômitos, CIVD... Varicela: Causada pelo vírus da varicela-zoster (grupo herpes) e transmitida por aerossol, contato direto e transmissão vertical. Fica incubado de 10-21 dias. Contágio: do 10° dia após o contato até a formação de crostas de todas as lesões (paciente tem que ficar em isolamento respiratório e de contato). Contactantes: imunoglobulina humana antivírus varicela-zóster em casos especiais. Crianças imunocomprometidas, sem história prévia de catapora; gestantes suscetíveis; recém-nascidos, cuja mãe tenha tido catapora dentro de 5 dias antes ou 48hrs após o parto; prematuros (gestação com 28 semanas) independentemente da história materna -> 125UI de aciclovir IM para cada 10kg, deve ser aplicada em 48hrs (máximo 96hrs) após a exposição. Manifestações clínicas: Pródromos: hiperemia de orofaringe, febre alta, astenia e tosse seca. Fase exantemática: exantema pruriginoso (máculas eritematosas crânio caudal) -> evoluem para vesículas, pústulas e crostas. *Polimorfismo regional: todas podem aparecer ao mesmo tempo no paciente. Complicações: piodermite e celulite, pneumonia, encefalite,varicela hemorrágica. Diagnóstico: sorologias, PCR do vírus, microscopia eletrônica do líquido na fase da vesícula. Tratamento: quando de alto risco e/ou imunossuprimidos tratar com aciclovir. Eritema infeccioso: Causada pelo parvovírus humano B19, transmitida pela via aérea (perdigoto), fica incubado de 4-14 dias. Acontece + na primavera e inverno. Contágio: tempo desconhecido. Isolamento é desnecessário. Contactantes: observar, principalmente hemoglobniopatas. Manifestações clínicas: Pródromos: não tem. Fase exantemática: exantema que se inicia em face, maculopapular confluentes, formando uma placa vermelho rubra, poupa região perioral, testa e nariz. Afebril ou poca febre, artrite e artralgia. *Paciente hemoglobinopatia pode ter anemia grave. Evolui em 3 fases: 1-Face esbofeteada (1-4 dias). 2-Exantema rendilhado (mácula com centro esbranquiçado) ou reticulado no tronco e extremidades (dura em média 1 semana). 3-Recidiva do exantema após dias ou semanas após exposição ao calor, estresse, trauma, frio. Diagnóstico: sorologia para parvovírus humano B19. Exantema súbito (roséola): Causada pelo vírus da Herpes Humano 6 (HVH6O e 7 (HVH7). Transmitido por perdigotos, fica incubado de 5-15 dias. Contagio: fase de viremia, período febril. Isolamento é necessário, observar contactantes. Manifestações clínicas: febre alta por 3-5 dias em média, febre cessa em crise e após isso surge a erupção eritemato-papulosa no tronco e extremidades. Diagnóstico: clínico, pode-se detectar a presença de herpes vírus no sangue. Tratamento: suporte e sintomáticos. CUIDADO com a convulsão febril. Mononucleose infecciosa: Causado pelo vírus Epstein-Barr. Manifestação clínica: exantema maculopapular ou petequial ou escarlatiniforme (10-15% dos casos)*, febre, linfonodomegalia (cervical), hepatoesplenomegalia, faringoamigdalite. Hemograma: leucocitose, linfocitose e linfócitos atípicos. *exceto quando faz uso de penicilina, amoxicilina ou ampicilina. Mão-pé-boca: Causado pelo enterovírus RNA Coxsackie A (23 sorotipos) e B (06 sorotipos). Transmitido via oro-fecal e contatos. Período de incubação de 3-6 dias. Tempo de contágio variável. *Vírus muito incidente antes dos 6 anos de idade. Manifestação clínica: síndrome mão-pé-boca (exantema que no 1-2° dia surgem lesões vesiculares na boca que se rompem e formam exoulcerações dolorosas e dps exantemas com lesões vesiculares planas [papulovesiculares], esbranquiçadas e regiões palmares, plantares, nádegas, genitália e coxas), início agudo de febre, irritabilidade, anorexia. Pródromo: febre baixa, irritabilidade e anorexia. *Herpangina: primo do mão-pé-boca, causa aftas e feridas na boca. Escarlatina: Causada pela toxina do Streptococcus beta-hemolítico do grupo A -> atua como um superantígeno (cepa pirogênica). Transmitido pela via aérea, tempo de incubação variável. Contágio: 1º dia do contato até 24 horas após início do ATB. Acomete crianças entre 1 e 10 anos de idade. Manifestações clínicas: febre, dor de garganta, cefaleia e calafrios. Surge enantema oral com exsudato e petéquias em palato mole. A língua fica com uma capa esbranquiçada nos primeiros dias de doença (“língua em morango brancoˮ) e no 4º - 5º dia a capa descama deixando uma língua vermelha brilhante com papilas proeminentes (“língua em morango vermelhoˮ). Presença de adenopatia submandibular e cervical anterior dolorosa e ausência de tosse e coriza. Presença do sinal de Filatov (palidez ao redor da boca), sinal de Pastia (acentuação do exantema nas pregas cubitais), língua em framboesa. Exantema: erupção maculopapular, fina e eritematosa (“como lixaˮ), envolvendo tronco e extremidades, mais acentuada em dobras flexurais com sinal de Pastia e Filatov. Ao final da doença, surge uma descamação em mãos, pés e dedos, mais intensa nos casos com clínica exuberante e nos não tratados. Em pacientes de pele mais escura, o exantema pode ser difícil de reconhecer podendo se assemelhar à pele anserina (“como pata de gansoˮ – grossa e com pápulas puntiformes). Diagnóstico: clínico e cultura de orofaringe. Complicações: febre reumática e glomerulonefrite. Tratamento: antibióticos (penicilina). Síndrome da pele escaldada: Causado pelo Staphylococcus aureus produtor de toxinas. Manifestações clínicas: exantema bolhoso e descolamento de pele. Diagnóstico: clínico. Tratamento: antibióticos e suporte. Doença de Kawasaki: Etiologia ainda em investigação -> vasculite sistêmica aguda, que acomete vasos de médio calibre e não é transmissível. Síndrome linfonodomucocutânea. Acomete em crianças menores de 5 anos, principalmente em torno dos 18 meses de vida, ocorre + em orientais. Quadro clínico: edema endurado em dorsos de mão e pés, eritema em palmas e plantas. Eritema inicia no tronco e pode ser morbiliforme ou macular, e converge para região perineal, descamação das extremidades ‘’em dedo de luva’’ (ao final da 2ª semana), edema e fissuras labiais, língua em framboesa e hiperemia difusa. Dor abdominal, artralgia ou artrite. Irritabilidade Critérios diagnósticos: Febre no mínimo por 5 dias s/explicação, associado a mais 4 dos 5 sinais: ●Conjuntivite bilateral não purulenta. ●Alterações nos lábios e cavidade oral (eritema, fissura, língua em framboesa). ●Linfadenopatia cervical >1,5cm, geralmente unilateral. ●Exantema polimórfico (maculopapular, escarlatiniforme, eritema multiforme). ●Alterações de extremidade (edema e eritema de mãos e pés, descamação periungueal após regressão do edema). Doença de Kawasaki incompleta: inclui febre + 2 ou 3 critérios + 2 provas de atividade inflamatória elevada + 3 ou + dos 6 critérios laboratoriais (Albumina 450.000/mm; Leucocitose >15.000/mm³; Leucócitos >10/campo na urina). ->AVALIAÇÃO EXANTEMÁTICA: Anamnese: geral + pródromo + exantema + situação epidemiológica da onde você está. Exame físico: características do exantema e locais que ele se apresenta e o que mais tem de sinais e sintomas além disso. Exames complementares: inespecíficos e específicos. Tratamento: suporte para doenças virais, ATB para infecções bacterianas e vacinação e higiene para prevenir.