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LOGÍSTICA III Gisele Lozada Histórico e conceituação da logística Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer a contribuição da logística para a melhora nas condições de bem-estar das pessoas e o comércio internacional. � Identificar os principais conceitos sobre logística integrada e gestão da cadeia de suprimentos. � Definir as funções do composto de atividades logísticas. Introdução A logística empresarial evoluiu muito nas últimas décadas, desempe- nhando função fundamental nas relações entre parceiros comerciais nacionais e internacionais, o que fez com que alcançasse um papel central na economia moderna. Atualmente, a logística é responsável por levar bens e serviços aos mais diversos lugares do mundo, até mesmo aqueles antes desassistidos. Com isso, vem contribuindo de forma expressiva para ganhos de competitividade empresarial, oportunizando melhores resultados para as organizações e promovendo o bem-estar da sociedade em geral. Neste capítulo, você estudará sobre o histórico da logística e seus principais aspectos , bem como conhecerá as funções dos seus com- postos de atividades. Contribuições da logística Segundo Ballou (2006), a logística surgiu há muito tempo — talvez antes do que você imagine —, quando o homem deu início às operações produtivas organizadas, que iam além da subsistência. Porém, a expansão da logística é um fenômeno relativamente recente na história da humanidade. Por muito tempo, a inexistência de sistemas desenvolvidos de transporte e armazenamento impactou diretamente e significativamente a vida das pessoas. Os povos mais antigos produziam aquilo que precisavam para seu consumo, o transporte de produtos era limitado, e estruturas de armazenagem eram precárias, restrin- gindo as opções de consumo aos produtos produzidos pela comunidade local e seu entorno. Isso fazia com que eles tivessem de ser consumidos com rapidez em seus lugares de origem, já que não havia alternativas de armazenamento para produtos perecíveis por um prazo mais longo. Com o passar do tempo, os produtores começaram a se dar conta da possibilidade de trocas entre produtores próximos, permitindo que aquilo que sobrasse na produção de um pudesse ser trocado por algo que lhe faltasse, mas que sobrava na produção de outro. Iniciaram-se, assim, os movimentos de mercadorias, e os conceitos de logística começaram a tomar forma. O tempo foi passando, e essas operações foram sendo aperfeiçoadas, per- mitindo transações entre localidades cada vez mais distantes e envolvendo diferentes elementos. Diferentes acontecimentos ao longo da história demons- tram tal evolução, como a construção das pirâmides do Egito. A construção das pirâmides do Egito é um exemplo das primeiras utilizações da logística, quando os egípcios trouxeram materiais de locais distintos daquele onde a produção estava acontecendo, havendo pessoas envolvidas cujas atribuições eram focadas em garantir o abastecimento dos produtos para que a produção pudesse acontecer. Porém, o principal personagem na história da logística foi, sem dúvida, a guerra. O cenário militar foi o ambiente no qual a logística teve seu maior desenvolvimento. Podemos vincular a palavra logística ao termo loger — em francês, que significa alojar —, associado ao transporte, abastecimento e alojamento de tropas. Depois, esse conceito foi sendo adaptado a outras rea- lidades, sendo levado ao cenário da indústria, principalmente em função da Revolução Industrial, inicialmente focada no trânsito dos produtos e, depois, na satisfação do cliente. Histórico e conceituação da logística2 Durante a Segunda Guerra Mundial, o conceito de logística foi utilizado pelas forças armadas, consistindo no processo de aquisição e fornecimento de materiais para atender aos objetivos de combate. A importância da logística pode ser percebida até mesmo em episódios ocorridos na época em que ela ainda estava iniciando seu desenvolvimento: a falta de suprimentos ao exército alemão foi um fator muito impactante na derrota sofrida pelo exército alemão. Em colaboração a Ballou (2006), Bowersox et al. (2014) comenta que o processo logístico envolvido na cadeia de suprimentos vem evoluindo muito nos últimos tempos. Até a década de 1990, o processamento de um pedido envolvia, na grande maioria das vezes, tecnologias como telefone e fax e, até mesmo, os correios. Nessa época, o processamento e a entrega de um pedido costumavam levar entre 15 e 30 dias — o que, para os dias atuais, é um prazo impraticável na esmagadora maioria dos casos. Esse prazo longo devia-se às etapas envolvidas no processo e na forma como eram desempenhadas. O pedido era criado pelo cliente e transmitido ao fornecedor, que o processava por meio de sistemas manuais ou computadorizados e o destinava a um depósito para separação e entrega ao cliente. O prazo, que já era longo quando todas essas operações ocorriam como planejadas, ficava ainda maior se algo desse errado, como falta do produto em estoque, pedido de compra extraviado ou processado com erro, entrega no local errado, entre outros. Para tentar contornar esse tipo de problema, muitas empresas mantinham altos níveis de estoques, gerando elevados custos, sem levar a uma solução efetiva para os problemas mencionados. Contudo, essa prática, assim como a estrutura de canais de distribuição utilizados, foi aos poucos mostrando-se ineficaz. Afinal, aquele cenário dos tempos da Revolução Industrial, marcado pela escassez (maior procura da oferta de produtos), há muito deixou de ser uma realidade. Atualmente, os consumidores (sejam eles pessoas ou empresas) demandam uma ampla gama de opções de bens e serviços, cuja variedade é cada vez maior por ser associada a especificações individuais. E isso levou a uma considerável mudança no projeto e na entrega de bens e serviços. 3Histórico e conceituação da logística Hoje, a capacidade de transporte e o desempenho operacional são cada vez mais econômicos e confiáveis, apoiados por sistemas de informação sofisticados que viabilizam entregas previsíveis e precisas. Além disso, é possível acompanhar continuamente as cargas e receber notificações quase instantâneas sobre eventuais atrasos nas entregas. Isso se deve às significativas mudanças promovidas pela tecnologia da informação, iniciadas pelo advento dos computadores, da internet e de uma série de possibilidades acessíveis de transmissão de informações que passaram a ser realidade a partir da década de 1990. Neste novo cenário, a informação passou a ser mais veloz, acessí- vel, acurada e relevante, e a internet se transformou em um modo comum e econômico de realizar transações, tornando os consumidores cada vez mais ligados de forma direta às empresas, o que é ainda mais expressivo no caso das operações entre essas (o chamado B2B — business-to-business). Você pode saber mais sobre a história da logística na obra Gestão logística da cadeia de suprimentos (BOWERSOX et al., 2014). Em continuidade, Ballou (2006) relata que a logística tem, inclusive, a capacidade de promover mudanças estratégicas nas organizações, como a alte- ração na configuração das vendas, passando de lojas físicas para virtuais. Isso garante não somente melhores resultados para as empresas, mas, até mesmo, permite que negócios continuem existindo. Atualmente, a logística facilita a aquisição de bens e serviços, atendendo às necessidades das pessoas, com compras pela internet, cujas entregas são cada vez mais rápidas, com produtos vindos de todas as partes do mundo, e com a possibilidade de monitoramento. O comércio é um cenário que permite demonstrar a adaptação estratégica promovida pela logística: negócios que inicialmente focavam em vendas apenas em lojas físicas passaram por forte estagnação, e muitos conseguiram contornar o problema aderindo às práticas de venda pela internet, em que a logística é fundamental. Histórico e conceituação da• Perda de controle sobre o canal logístico • Temor de ser “apagado do cenário logístico” FIGURA 15-9 Diagrama da escolha de onde desempenhar as atividades logísticas. Desempenhar as atividades logísticas internamente Ser um parceiro líderTerceirizar Encontrar um sócio competente A lta B ai xa Im po rt ân ci a da lo gí st ic a pa ra o su ce ss o da e m pr es a Baixa Alta Competência da empresa no desempenho da logística _Ballou/Ronald_15 18.09.06 13:18 Page 561 562 PARTE VI • ORGANIZAÇÃO E CONTROLE • Crescente preocupação em razão de fracassos lo- gísticos e nenhuma possibilidade de lidar com eles em benefício dos clientes • Controles adequados inexistentes ou não identi- ficáveis pelo sócio • Dificuldade de identificar as economias a serem concretizadas em comparação com os custos lo- gísticos atuais do sócio • Um sistema de referência que não se adapta ao do sócio ou que não tem as características neces- sárias para reduzir a incerteza • Dificuldade de identificar os benefícios a serem compartilhados, especialmente quando o sócio tem determinado grau de propriedade do sistema logístico • Um grau de confiança ainda insatisfatório em re- lação ao indispensável para o início do empreen- dimento pretendido • Os sócios não são vistos como iguais sempre que as exigências de um deles adquirem precedência sobre as do outro • Dificuldade em entender de que maneira a con- fiança, boa fé e cooperação poderão ser atingidas no acordo da forma encaminhada • Escassez de exemplos sobre a eficiência do fun- cionamento, em outras corporações, de alianças como a que se está pretendendo estabelecer As alianças logísticas são frágeis. Podem ser de di- fícil formação e de rompimento extremamente fácil; no entanto, seus benefícios potenciais incentivam os admi- nistradores a continuar a explorar meios de fazer com que funcionem efetivamente. Exemplo Um fabricante nacional de equipamento elétrico e de transmissão de energia, com vendas anuais na casa de $1,5 bilhão, orgulhava-se do sistema logístico que ha- via criado, especialmente do dispositivo de informa- ção usado para a operação do sistema inteiro. Os pro- dutos eram feitos para estoque em nove fábricas e dis- tribuídos nacionalmente via oito armazéns e distribui- dores. As pressões no sentido da redução dos custos logísticos levaram a empresa a considerar a possibili- dade de um sócio à altura de compartilhar o sistema de distribuição da companhia. As economias resultan- tes do volume adicional que fluiria pelo canal de dis- tribuição melhorariam o serviço ao cliente e reduzi- riam os custos. A empresa formou uma aliança com um sócio eu- ropeu, que também manufaturava produtos industriais e tinha vendas anuais de $250 milhões nos EUA. A li- nha de produtos era manufaturada em duas fábricas nacionais e complementada por importações. Os pro- dutos eram feitos para estoque, sendo as vendas na- cionais providas a partir de três armazéns. Os níveis de serviço ao cliente eram semelhantes para ambos os sócios. A sociedade estabeleceu como prioridade o com- partilhamento do espaço de armazém regional da em- presa norte-americana na Califórnia. Esta conseguiu recuperar parte dos custos fixos de armazenagem e passou a utilizar com mais efetividade o equipamento de transporte no mercado da Califórnia. O sócio euro- peu ganhou fácil acesso ao mercado da Califórnia, no qual não havia até então conseguido uma penetração que se pudesse considerar satisfatória, e as despesas de armazenagem e entrega ficaram em níveis modes- tos quando comparados com outras alternativas. Contratos Logísticos Durante muitos anos, as empresas têm utilizado os ser- viços de outras companhias para dar suporte às suas próprias atividades logísticas. Transportadoras indepen- dentes proporcionam serviços rodo e ferroviários a um sem-número de clientes concorrentes entre si, armazéns públicos são provedores de serviços de estocagem, e empresas de serviços gerais vendem auditoria de fretes e serviços contábeis. Isto é, tais empresas podem cuidar da totalidade da operação logística de seus clientes me- diante preços contratados. Essas empresas têm sido in- distintamente chamadas de provedores terceirizados, companhias de logística integrada e especialistas em contratos logísticos. Embora venha sendo significativo o crescimento desses provedores de serviços logísticos, as empresas que deles fazem uso procedem com parci- mônia. Oitenta e cinco por cento das empresas que uti- lizam serviços externos gastam menos de 20% dos seus orçamentos de logística com esses provedores.16 Em comparação com as alianças, as empresas de contratos logísticos (3PLs) são vistas como vendedoras de serviços, e não como participantes de sociedades que se beneficiam da sinergia entre os membros da aliança. No entanto, como pode haver partilhamento de infor- mação juntamente com fortes relações de trabalho, a re- lação entre uma empresa e seu provedor externo de lo- gística é quase sempre vista como uma sociedade. Mas as companhias de contratos logísticos se mantêm fora de tais sociedades para continuar proporcionando solu- 16 Robert Lieb, “The Use of Third-Party Logistics Services by Large American Manufacturers”, Journal of Business Logistics, Vol. 13, nº 2 (1992), págs. 29-42. _Ballou/Ronald_15 18.09.06 13:18 Page 562 CAPÍTULO 15 • ORGANIZAÇÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS/LOGÍSTICA 563 ções de alto nível a problemas de logística e excelente desempenho nas operações logísticas. Uma das princi- pais razões para qualquer empresa pretender terceirizar no todo ou em parte suas atividades logísticas consiste em que o provedor é mais eficiente por ser a logística a sua principal atividade, o que não acontece com a firma compradora desses serviços. Os benefícios potenciais da parceria foram desta- cados anteriormente. Por outro lado, existem também algumas desvantagens eventuais. Em uma pesquisa conduzida pela J. P. Morgan Securities, Inc., os proble- mas mais citados em relação à utilização de uma 3PL foram o escasso entendimento do ramo de negócios do cliente e as capacidades de serviço inferiores ao pro- metido.17 Entre as barreiras à manutenção de uma rela- ção de longo prazo bem-sucedida figuraram mau ajus- tamento das práticas da empresa; mudança de lideran- ça na 3PL ou na usuária; expectativas irreais quanto aos resultados da relação terceirizada e ausência de infor- mação adequada.18 Os fracassos havidos nas sociedades com 3PLs tive- ram algumas vezes características espetaculares. Disso resultaram ações judiciais e má publicidade, quase sem- pre pelo fato de terem despertado expectativas exagera- das. Alguns anos transcorridos desde que as 3PLs pas- saram a representar uma opção para os gerentes logísti- cos, praticantes experientes em questões da terceiriza- ção elaboraram as seguintes 12 sugestões para levar a empresa a uma relação de longo prazo e sucesso com uma 3PL:19 1. Estabeleça os seus atuais custos de cadeia de su- primentos e níveis de serviço como a base para comparar seu desempenho com aquele da 3PL. 2. Desenvolva os indicadores de desempenho ne- cessários e invista na tecnologia adequada para aceitar e avaliar a informação recebida da 3PL. 3. Invista o tempo necessário para garantir que você e a 3PL estejam mesmo em alinhamento estratégico. 4. Estabeleça a confiança pelo cumprimento das promessas, prestando atenção nos erros e contor- nando-os, e aceitando a responsabilidade na me- dida apropriada. 5. Desenvolva capacidades de gestão de relacio- namentos, especialmente habilidades estraté- gicas e de gerenciamento de mudança organi- zacional, necessárias para a condução das rela- ções com as 3PLs. 6. Faça a avaliação do desempenho da 3PL em termos de custos, mas busque igualmente mensurar a contribuição da 3PL para o aumen- to nas vendas. 7. Seja um bom cliente tratando a 3PL como parce- ria, em lugar de uma vendedora comum. 8. Comunique-se aberta e honestamente. 9. Compartilhe tanto o risco quanto a recompensa. 10. Reconheça a equipe da 3PLque estiver traba- lhando em seu benefício. 11. Procure superar as situações de crise, em lugar de trocar constantemente de provedores. 12. Explore os limites do aperfeiçoamento do de- sempenho à medida que o relacionamento ama- durece. Exemplo Com quase 400 fornecedores em 14 estados embar- cando materiais para suas 30 montadoras na base de call-and-demand, a General Motors viu seus custos de estoque e distribuição aumentarem e suas instala- ções ficarem congestionadas com tráfego de carga in- completa de caminhões (LTL). A GM recorreu à Penske Logistics, um provedor logístico terceirizado, em busca de uma solução customizada. A GM tinha três objetivos: reduzir os custos, melhorar o gerencia- mento da entrada de materiais e processamento de in- formação, e reduzir sua base de transportadoras. A Penske avaliou os processos de distribuição da gigantesca fabricante de veículos e recomendou o uso de um armazém de trânsito (cross dock) estra- tegicamente localizado em Cleveland. Com pessoal e gerenciamento da Penske Logistics, essa instala- ção recebe, processa e consolida a entrada de mate- riais. A Penske igualmente implementou uma frota exclusiva de 60 cavalos mecânicos e 72 trailers e passou a cuidar do desenvolvimento das rotas e da programação das coletas de fornecedores e entregas JIT (just-in-time). A Penske programa as coletas em fornecedores com base em níveis de utilização de peças comunica- dos via EDI pela GM. Uma vez recebido, o carrega- mento atravessa a doca para a plataforma imediata e é rotulado com as instruções de roteiro para apressar a entrega e localização apropriadas ainda na fábrica. Tudo é então embarcado nos reboques de saída. É um processo que envolve semanalmente 5 milhões de li- bras-peso de frete. A Penske usa roteirização dinâmi- ca a fim de aumentar a freqüência das coletas nos for- 17 “Shippers Slam Ignorance of Many 3PLs”, American Shipper (December 2001), págs. 30-31. 18 “Making a Long Term Commitment”, Inbound Logistics (July 2002), págs. 98-104. 19 Idem. _Ballou/Ronald_15 18.09.06 13:18 Page 563 564 PARTE VI • ORGANIZAÇÃO E CONTROLE necedores, reduzindo assim os níveis dos estoques e melhorando o fluxo de saída de material. Computado- res usando tecnologia satelital proporcionam comuni- cação contínua nos dois sentidos entre os motoristas e os despachantes. Mediante a consolidação da entrada de cargas no centro de distribuição e a expedição de cargas com- pletas para as fábricas, a Penske conseguiu reduzir os custos das cargas incompletas e a própria base de transportadores da GM. A Penske Logistics seleciona e gerencia apenas os transportadores necessários para complementar a frota exclusiva. Isso reduziu os cus- tos administrativos da GM mediante o processamento de “uma conta” para os serviços LTL e diminuiu os tempos de trânsito em 18%.20 Parcerias pela Colaboração Os benefícios da organização não precisam ser o resul- tado de projetos formais ou informais em que as rela- ções são definidas entre pessoas dentro de uma organi- zação. À medida que a tecnologia da informação evo- lui, emerge uma nova dimensão da organização – a parceria pela colaboração. Parcerias entre membros do canal de suprimentos ocorrem à medida que comparti- lham a informação para benefício mútuo. Esses parcei- ros colaboram para atingir os objetivos das respectivas organizações, objetivos esses normalmente concentra- dos na obtenção de custos baixos pela redução dos es- toques e melhoria do serviço ao cliente a partir de índi- ces elevados de atendimento. Fazer parcerias com membros no cruzamento dos elos do canal de suprimentos tem obtido sucesso sem- pre que se partilham informações de ponto de venda com supridores em melhores condições de planejar ní- veis de estoques no varejo (controle do estoque geren- ciado pelo fornecedor, ou VMIC) e com planos de re- querimentos compartilhados com os fornecedores em sistemas just-in-time. Houve sucessos anteriores com planejamento colaborativo e uma organização chama- da de Voluntary Inter-Industry Commerce Standards (VICS) criou o planejamento, previsão e reposição co- laborativos (CPFR).21 O CPFR é um programa de tro- ca de informação que inclui previsões, programas de produção, quantidades de pedidos de reposição e seu momento, e prazos de entrega. O VICS estabeleceu di- retrizes para explicar os processos de negócios subja- centes, e tecnologia de apoio, e questões de mudança no gerenciamento. A colaboração entre membros do canal tem o po- tencial de melhorar o desempenho da cadeia de supri- mentos pela redução da incerteza decorrente da deman- da e prazos de entrega. Recorde o “efeito chicote” sobre a previsão da demanda que emerge quando cada mem- bro do canal prevê demanda com base em informação obtida dos padrões de pedido de um membro da cadeia situado imediatamente à frente na cadeia. Compartilhar informação sobre a demanda do cliente final é reconhe- cidamente um meio de melhorar a exatidão da previsão para todos os membros. A previsão melhorada reduz os níveis de estoques no canal de suprimentos. No entanto, um programa como o CPFR incentiva a colaboração mais além da simples previsão. Embora o compartilhamento de informação entre sócios reduza a variabilidade da estimativa da demanda, é também pre- ciso tomar decisões sobre as quantidades dos pedidos, os tamanho dos embarques, os métodos de entrega e os tempos de reação da produção ou do fornecedor. Num ambiente de parceria, a informação a respeito dessas questões será compartilhada e os resultados, negocia- dos. Comparados com abordagens tradicionais em que cada membro toma suas próprias decisões, os resultados obtidos em testes-piloto têm se mostrado impressionan- tes. De acordo com uma pesquisa sobre VICS, os vare- jistas participantes relataram: • Um aumento de 80% nos negócios com um par- ceiro CPFR • Um aumento de $9 milhões nas vendas • Simultâneos crescimento de vendas e redução de estoques de no mínimo 10% • Índices de atendimento melhorados com esto- ques menores • Nível de serviço de 100%, com quase 40 giros por ano22 As parcerias de colaboração têm sido, apesar de tudo, adotadas muito vagarosamente. O maior impe- dimento à sua adoção em massa é, ao que tudo indi- ca, a confiança. As empresas continuam relutando em compartilhar dados vitais com companhias indepen- dentes do seu controle e que possam ter relaciona- mentos comerciais com concorrentes. Acordos for- mais entre sócios podem vir a reduzir a desconfiança, mas, ainda assim, esta parece destinada a constituir um impedimento ainda por longo tempo. Apesar de tudo, o potencial das parcerias colaborativas continua sendo muito elevado. 20 “Logistics’ New Customer Focus”, Business Week, March 10,1997. 21 www.cpfr.org. 22 Walter McKaige, “Collaborating on the Supply Chain”, IIE Solutions, Vol. 33, nº 11 (March 2001). _Ballou/Ronald_15 18.09.06 13:18 Page 564 CAPÍTULO 15 • ORGANIZAÇÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS/LOGÍSTICA 565 OBSERVAÇÕES Os conceitos de planejamento, previsão e reposição co- laborativos foram submetidos a testes-piloto em um sem-número de casos, com os seguintes resultados: • A Wal-Mart colaborou com a Warner Lambert com relação ao higienizador bucal Listerine e constatou que a disponibilidade de estoque au- mentou de 87 para 98%, os prazos de entrega fo- ram reduzidos de 21 para 11 dias, o estoque em mãos caiu para duas semanas, os pedidos se tor- naram mais consistentes, e os ciclos de produção foram regularizados. As vendas de Listerine au- mentaram em $8,5 milhões. Da mesma forma, as vendas de itens Sara Lee no piloto CPFR da Wal- Mart cresceram 32%, enquanto os estoques fo- ram reduzidos em 14%. A disponibilidade de es- toque teve melhoria de 32% e a margem de lucro bruto sobre o investimento cresceu 6%. • Para duas redes não identificadas e seus parcei- ros de negócios, os resultados pós-colaboração mostraram, para um dos participantes, aumento médio de 12% nas vendas e redução média de es- toques no centro de distribuição de 33% para o outro varejista participante.• Um dos pilotos da Kmart com a Kimberly Clark tiveram como resultado um aumento de 14% nas vendas, com melhorias de nível de estoque de 86 para 94% sem aumento real dos estoques. • O CPFR da Walgreen com a Schering-Plough envolvendo um laxante mostrou um aumento de 25% na exatidão de previsão. • Um CPFR piloto da Ace Hardware com a Manic, fornecedora de fitas, apresentou aumento de ven- das de 20%, redução dos custos dos fretes de 14%, enquanto os custos de distribuição da Manic expe- rimentaram uma redução de 28%. COMENTÁRIOS FINAIS Este capítulo tratou das questões básicas da organização logística/CS e da melhor maneira de conseguir coorde- nação e cooperação entre atividades, funções e empre- sas para que planos logísticos venham a ser implemen- tados efetivamente. Guiada pelo conceito do custo total, a organização facilita o desempenho logístico ótimo, exceto quando o serviço ao cliente ou estratégias de in- formação são dominantes. A organização deveria ser le- vada em conta em três níveis. Agrupar as atividades re- levantes e gerenciá-las coletivamente como uma função logística recebeu a principal atenção. Em determinados casos, os resultados foram muitos bons em decorrência deste realinhamento de atividades. Atenção bem menor foi dada aos problemas da cooperação interfuncional e interorganizacional, coordenação e colaboração. Os be- nefícios potenciais podem em muito exceder aqueles do gerenciamento direto da atividade. No entanto, consoli- dar a cooperação entre funções da mesma empresa e en- tre firmas fora de seus limites legais, quando a coopera- ção for principalmente voluntária, é um problema orga- nizacional complexo. Indubitavelmente, no futuro, a or- ganização logística/CS em todos os níveis optará pela cooperação como um tema geral da eficiência organiza- cional em lugar de simplesmente escolher estruturas or- ganizacionais formais que criam tantos problemas de coordenação quanto os que resolvem. Como uma alternativa ao desempenho de todas as funções logísticas internas e, portanto, das organizações logísticas/CS extensivas necessárias, muitas empresas têm buscado terceirizar as atividades logísticas ou for- mar sociedades e compartilhar seus sistemas logísticos com outras companhias. Defensores dessas práticas ar- gumentam que elas podem conduzir à redução dos cus- tos e ao aperfeiçoamento do serviço ao cliente, permi- tindo, ao mesmo tempo, que a empresa se concentre em suas competências principais. Os que se opõem a essas práticas argumentam que há risco de perda de controle das atividades logísticas e de uma conseqüente deterio- ração do serviço ao cliente. _Ballou/Ronald_15 18.09.06 13:18 Page 565 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. LOGISTICA E GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS Marcelo Ribas Simões Pires Sistemas de informação de apoio às atividades logísticas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conhecer os componentes de um sistema de planejamento e programação avançados (APS, advanced planning and scheduling). Discutir sobre planejamento, previsão e reabastecimento colabo- rativos (CPFR, collaborate planning, forecasting and replenishment). Identificar os benefícios da aplicação de sistemas no planeja- mento e na programação avançados. Introdução Nesta unidade de aprendizagem você vai aprender que um grande desafio na globalização é a integração dos sistemas de informação. Como as empresas muitas vezes se tornam globais por aquisição e fusão, a integração dos sistemas normalmente fica para trás. A in- tegração operacional exige a capacidade de direcionar pedidos e administrar estoques eletronicamente em todo o mundo. O desen- volvimento da integração da tecnologia de apoio representa um importante investimento de capital. São necessários dois tipos de integração de sistemas para apoiar as operações globais. O primeiro é um sistema de transações ou ERP global. O sistema ERP global é necessário para compartilhar dados em comum sobre clientes, for- necedores, produtos e recursos financeiros globais. Ele também é útil para fornecer informações comuns e consistentes quanto ao status do pedido e do estoque, não importa onde um cliente global está ou onde o pedido deve ser entregue. O segundo requisito de integra- ção de sistemas é um sistema de planejamento global que consiga maximizar a utilização geral de ativos de manufatura e logísticos ao mesmo tempo que atende os requisitos de serviço ao cliente. Poucas empresas têm sistemas de informação ou capacidades 100% integra- dos globalmente. Logistica_U4C9.indd 61Logistica_U4C9.indd 61 21/09/2016 17:26:3721/09/2016 17:26:37 Funcionalidade do sistema de informação Os sistemas de informação da cadeia de suprimentos formam o laço que une as atividades logísticas em um processo integrado. A integração se baseia em quatro níveis de funcionalidade: (1) sistemas de transações; (2) controle ad- ministrativo; (3) análise de decisões; e (4) planejamento estratégico, onde são apresentadas as atividades e as decisões logísticas em cada nível de funcio- nalidade da informação e onde acontecem as melhorias em controle adminis- trativo. A análise de decisões e o planejamento estratégico exigem uma base sólida no sistema de transações. Um sistema de transações se caracteriza por regras e procedimentos for- malizados e comunicações padronizadas, alto volume de transações e foco operacional diário. A combinação de processos estruturados e grande volume de transações coloca muita ênfase na eficiência do sistema de informação. No nível mais básico, sistemas de transação iniciam e registram as atividades de logística e seus resultados individuais. A típica funcionalidade de transação inclui entrada de pedidos, desdobramento (deployment) do estoque, separação de pedidos, expedição, formação de preços, faturamento e questionamentos dos clientes. Por exemplo, a transação de entrada de pedidos do cliente re- gistra no sistema de informação um pedido de produto feito por ele. A tran- sação de entrada de pedidos inicia uma segunda transação quando o estoque é atribuído ao pedido. Uma terceira transação é gerada para orientar as ope- rações do depósito para atender ao pedido. E uma quarta transação inicia o embarque do pedido para o cliente. A transação final gera a fatura e uma conta a receber correspondente. Ao longo do processo, a empresa e o cliente esperam informações em tempo real sobre o status do pedido. Assim, o ciclo de atividades do pedido do cliente é completado por uma série de transações do sistema de informação. O segundo nível do sistema de informação da cadeia de suprimentos, o controle administrativo, se concentra na medição e no relatório de desem- penho. Essa avaliação é necessária para fornecer feedback sobre o desem- penho e a utilização de recursos da cadeia de suprimentos. Dimensões típicas do desempenho incluem medições de custo, serviço ao cliente, produtividade, qualidade e gerenciamento de ativos. Como exemplo, medições específicas de desempenho incluem os custos de transporte e de armazenamento por to- nelada, giro do estoque, taxa de atendimento por unidade, caixas por hora trabalhada e percepção do cliente quanto ao serviço. Logística e gestão da cadeia de suprimentos62 Logistica_U4C9.indd 62Logistica_U4C9.indd 62 21/09/2016 17:26:3821/09/2016 17:26:38 É necessário que o sistema de informação da cadeia de suprimentos re- late o histórico de desempenho do sistema, mas também é preciso identificar as exceções operacionais, pois suas informações são úteis para destacar pro- blemas potenciais, operacionais ou com clientes. Por exemplo, o sistema de informação da cadeia de suprimentos proativo deve conseguir apontar faltas de estoque futuras com base nos requisitos previstos e no estoque planejado. O relatório de exceção também deve identificar possíveisrestrições em termos de transporte, armazenamento ou mão de obra. Embora algumas medidas de controle, como o custo, sejam bem definidas, outras medidas, como serviço e qualidade, são menos específicas. Por exemplo, o serviço ao cliente pode ser medido internamente, pela perspectiva da empresa, ou externamente, pela perspectiva do cliente. Medidas internas são relativamente fáceis de moni- torar, mas informações sobre medidas externas são mais difíceis de se obter, já que envolvem o cliente ou outros parceiros externos. O terceiro nível do sistema de informação da cadeia de suprimentos, a análise de decisões, se concentra em ferramentas de software para ajudar os administradores a identificar, avaliar e comparar alternativas estratégias e tá- ticas para melhorar a eficácia. Análises típicas incluem projeto da cadeia de suprimentos, gerenciamento de estoque, alocação de recursos, roteirização de transportes e rentabilidade por segmento. O ideal é que o sistema de infor- mação da cadeia de suprimentos para análise de decisões inclua manutenção, modelagem, análise e relatório de banco de dados. Assim como o controle administrativo, a análise de decisões pode incluir considerações operacionais, como a roteirização de veículos e o planejamento de depósitos. A análise de decisões também está sendo usada para administrar os relacionamentos com os clientes ao determinar os trade-offs associados a clientes satisfeitos e bem- -sucedidos. O planejamento estratégico, último nível do sistema de informação da ca- deia de supri- mentos, organiza e resume os conteúdos de transações em um banco de dados relacional que ajuda nas avaliações de estratégias. O plane- jamento estratégico basicamente se concentra em informações para avaliar e aperfeiçoar a estratégia logística e a cadeia de suprimentos. Exemplos de pla- nejamento estratégico incluem as alianças estratégicas, o desenvolvimento e o aperfeiçoamento da competência em manufatura e as oportunidades relacio- nadas à capacidade de resposta aos clientes. Os custos de desenvolvimento e manutenção incluem hardware, software, comunicação e recursos humanos. No passado, a maior parte dos sistemas desenvolvidos se concentrava em melhorar a eficiência do sistema de transações. Embora esses investimentos 63Sistemas de informação de apoio às atividades logísticas Logistica_U4C9.indd 63Logistica_U4C9.indd 63 21/09/2016 17:26:3821/09/2016 17:26:38 originalmente oferecessem retorno em termos de velocidade e menor custo operacional, agora existem poucas oportunidades de melhoria. A maior parte do desenvolvimento e da implementação de um sistema de informação da ca- deia de suprimentos agora se concentra no aumento da integração do sistema da cadeia de suprimentos e em melhores tomadas de decisões. Para saber mais sobre o tema, leia o trecho selecionado – Funcionalidade do sistema de informação – da obra Gestão logística da cadeia de suprimentos (BOWERSOX et al., 2014, p. 10). Módulos de sistemas de informação da cadeia de suprimentos Um dos aspectos que mais facilita a gestão da cadeia de suprimentos é a tec- nologia da informação. Os sistemas da cadeia de suprimentos iniciam ativi- dades e rastreiam informações sobre processos, facilitam o compartilhamento de informações tanto dentro da empresa quanto entre parceiros da cadeia de suprimentos e auxiliam a tomada de decisão gerencial. Os sistemas abran- gentes de informações são formados por uma combinação de subsistemas de transações, de apoio à decisão e de comunicação. Desde o início, a logística se concentrou no armazenamento e no fluxo de produtos ao longo da cadeia de suprimentos. O fluxo e a exatidão das informações normalmente eram ignorados porque não eram vistos como es- senciais para os clientes. Além disso, as taxas de transferência de informação eram limitadas pelos processos manuais. Existem quatro motivos para a in- formação oportuna e precisa ter se tornado mais crítica no projeto e nas ope- rações de sistemas logísticos. Primeiro, os clientes percebem a informação sobre a situação do pedido, a disponibilidade de produtos, o rastreamento da entrega e o faturamento como dimensões necessárias do atendimento ao cliente. Os clientes exigem informações em tempo real. Segundo, para reduzir os ativos totais da cadeia de suprimentos, os gerentes perceberam que a in- formação pode ser usada para reduzir os requisitos de estoque e de recursos Logística e gestão da cadeia de suprimentos64 Logistica_U4C9.indd 64Logistica_U4C9.indd 64 21/09/2016 17:26:3821/09/2016 17:26:38 humanos. Em especial, o planejamento das necessidades com base em infor- mações atuais pode reduzir o estoque ao minimizar a incerteza da demanda. Terceiro, a informação aumenta a flexibilidade em relação a como, quando e onde os recursos podem ser utilizados para alcançar vantagens competitivas. E quarto, o aumento da transferência e da troca de informações pela Internet, que está facilitando a colaboração e dando outra direção aos relacionamentos na cadeia de suprimentos. Um exemplo atual de sistema de informação abran- gente que leva a um melhor uso da cadeia de suprimentos é o cenário interna- cional de transportes. É comum uma empresa redirecionar um contêiner no meio do caminho conforme o feedback em tempo real dos mercados locais. Essa mudança, possibilitada pela tecnologia da informação, resulta em níveis de serviço mais elevados e, ao mesmo tempo, no aperfeiçoamento da utili- zação dos recursos. Um sistema de informação da cadeia de suprimentos abrangente inicia, monitora e auxilia a tomada de decisões, relatando as atividades necessárias para a realização de operações e planejamento logísticos. Os principais mó- dulos do sistema e suas interfaces são: (1) Planejamento de Recursos Empre- sariais (ERP – Enterprise Resource Planning); (2) sistemas de comunicação; (3) sistemas de execução; e (4) sistemas de planejamento. Os sistemas ERP na Figura 1 a seguir são a base do sistema de informação logística da maioria das empresas que mantêm dados e processos atuais e históricos para iniciar e monitorar o desempenho. Durante a década de 1990, muitas empresas começaram a substituir módulos desenvolvidos interna- mente (chamados de “sistemas legados”) por sistemas ERP projetados como módulos e processos de transações integradas com um banco de dados em comum. O banco de dados inclui a capacidade de armazenamento de infor- mações sobre as transações operacionais (isto é, baseadas em produtos e em atividades) e financeiras (isto é, com base monetária). Os sistemas ERP fa- cilitam as operações e os relatórios integrados para iniciar, monitorar e loca- lizar atividades críticas, como atendimento a pedidos e reabastecimento. Os sistemas ERP também incorporam um banco de dados integrado no âmbito de toda a empresa, às vezes chamado de data warehouse, junto a transações adequadas para facilitar o planejamento e as operações logísticas e a cadeia de suprimentos. As transações da cadeia de suprimentos facilitadas por sis- temas ERP incluem entrada e gerenciamento de pedidos, alocação de estoque e expedição. Além dessas aplicações na cadeia de suprimentos, os sistemas ERP normalmente incluem habilidades financeiras, contábeis e de recursos humanos. Aplicações de data mining, gestão do conhecimento e outras apli- 65Sistemas de informação de apoio às atividades logísticas Logistica_U4C9.indd 65Logistica_U4C9.indd 65 21/09/2016 17:26:3821/09/2016 17:26:38 cações de integração empresarial operam usando a base de ERP para desen- volver e organizar o conhecimento referente a clientes, produtos e operações. As aplicações de integração e administração são os módulos ERP que não são especificamente aplicações da cadeia de suprimentos, mas têm interações significativas com ela. Os componentes específicos incluem: (1) adminis- tração geral; (2) contas a receber e a pagar; (3) contabilidade financeira do es- toque; (4) contabilidade geral; e (5) recursos humanos.A administração geral inclui as diversas operações para estruturar a empresa e definir seus fluxos de processos. As operações da cadeia de suprimentos usam esses módulos para definir estruturas de relatórios, funcionais e organizacionais, assim como para definir os fluxos de processos, como atendimento a pedidos de clientes e de reabastecimento. As contas a receber e a pagar representam as funções de re- cebimento de faturas de clientes e pagamento de faturas a fornecedores. Nor- malmente são reconhecidas como funções contábeis, mas há uma interação significativa com as operações da cadeia de suprimentos, já que as contas a pagar são influenciadas pela compra de materiais e serviços, e as contas a receber são influenciadas pela entrega e faturamento de pedidos completos. A contabilidade financeira do estoque se refere ao acompanhamento dos pro- cessos de valor agregado por toda a cadeia de suprimentos para facilitar os relatórios de informações financeiras e fiscais. O timing e a localização dos processos de valor agregado da cadeia de suprimentos (por exemplo, pro- dução, controle de estoque e embalagem) podem ter influência significativa sobre o que é comunicado ao departamento financeiro (para efeitos fiscais) e aos mercados financeiros (para fins de valorização das ações). A contabili- dade geral se refere à estrutura das contas detalhadas para monitorar e fazer relatórios de receitas e contas. Como a cadeia de suprimentos envolve uma interação considerável com os processos internos e externos da empresa, a estrutura da contabilidade geral influencia muito a capacidade da cadeia de suprimentos para medir, monitorar e registrar os custos em relação à entrega de produtos ou ao serviço aos clientes. O módulo de recursos humanos dos sistemas ERP acompanha perfis e níveis de atividade dos funcionários. Como a maioria das empresas tem uma grande quantidade de pessoas envolvidas nas operações da cadeia de suprimentos (por exemplo, manufatura, distribuição e compras), e muitas vezes em diferentes ambientes globais, a capacidade de acompanhar as tabelas salariais e os níveis de atividade é fundamental para tomar decisões eficazes sobre os funcionários envolvidos na cadeia de supri- mentos. Logística e gestão da cadeia de suprimentos66 Logistica_U4C9.indd 66Logistica_U4C9.indd 66 21/09/2016 17:26:3821/09/2016 17:26:38 Figura 1. Estruturas do sistema de informação da cadeia de suprimentos voltada para apli- cações. Fonte: Bowersox et al. (2014, p. 11). Operações da cadeia de suprimentos As operações empresariais incluem os módulos do sistema de informação ne- cessários para apoiar as operações diárias da cadeia de suprimentos, onde os módulos específicos incluem: (1) gestão do relacionamento com os clientes; (2) logística; (3) manufatura; (4) compras; e (5) desdobramento (deployment) do estoque. Os sistemas de operações empresariais trabalham em conjunto com o sistema ERP da empresa para oferecer funcionalidades especificas para apoiar as operações da cadeia de suprimentos. Enquanto alguns sistemas ERP apoiam as funcionalidades necessárias para a cadeia de suprimentos, outros não incluem algumas delas, como as que auxiliam as operações de depósito e transporte. Os sistemas de atendimento ao cliente, também conhecidos como gestão do relacionamento com os clientes (CRM – Customer Relationship Manage- ment), são aplicações relativamente novas, projetadas para facilitar o compar- tilhamento de informações entre os clientes, a força de vendas e as operações. O módulo de logística direciona e monitora as atividades logísticas incluindo o gerenciamento de estoque de produtos acabados, dos depósitos, de trans- portes e o de pátio. O módulo de manufatura programa e aloca os recursos de produção e determina os requisitos de componentes. O módulo de compras inicia e monitora as atividades de aquisição, incluindo a abertura de pedidos 67Sistemas de informação de apoio às atividades logísticas Logistica_U4C9.indd 67Logistica_U4C9.indd 67 21/09/2016 17:26:3821/09/2016 17:26:38 de compra, os serviços expressos e o gerenciamento de fornecedores. O sis- tema de desdobramento (deployment) do estoque programa e monitora o fluxo do material para atender aos requisitos de produção e estoque. O método tradicional de disponibilização da tecnologia sempre foi a ope- ração e manutenção de recursos computacionais privados. Computadores de grande porte são essenciais para operar os vários sistemas de tecnologia da informação necessários para orientar as operações da cadeia de suprimentos. Esse comprometimento com a computação interna mudou rapidamente no século XXI. Em um ritmo crescente, as empresas estão adquirindo suporte de tecnologia da informação para a cadeia de suprimentos na forma de sis- temas abrigados externamente. Existe um amplo conjunto de sistemas, como gerenciamento de depósitos (WMS – warehouse management system), ge- renciamento de transportes (TMS – transportation management system) e gerenciamento de pátio (YMS – yard management system), disponibilizado por empresas que desenvolvem e mantêm aplicações especializadas com tec- nologia de ponta. Geralmente chamados de Software como Serviço (SaaS – Software as a Service), esses pacotes específicos podem ser adquiridos para uso interno ou hospedados externamente. Quando são hospedados por empresas prestadoras de serviços especializados, que fornecem a aplicação utilizando a capacidade de grandes recursos computacionais, a aplicação é classificada como computação na nuvem (cloud computing). Planejamento e monitoramento são os processos e tecnologias que fa- cilitam os sistemas de informações de planejamento e coordenação dentro da empresa e entre parceiros da cadeia de suprimentos, onde os principais componentes de planejamento e monitoramento empresarial, seus módulos específicos, incluem: (1) planejamento de vendas e operações; (2) visibilidade da cadeia de suprimentos e gestão de eventos; e (3) conformidade da cadeia de suprimentos. Como muitas dessas atividades envolvem a interação com outros membros da cadeia de suprimentos, aplicações concretas exigem uma padronização considerável com outras funções da empresa e com parceiros da cadeia de suprimentos. O planejamento de vendas e operações (S&OP – Sales and operation planning) define o processo usado para equilibrar os requisitos de demanda e a capacidade de fornecimento da empresa e de seus parceiros na cadeia de suprimentos. O S&OP em si é um processo que exige coordenação e integração funcional, mas ele requer tecnologia da informação para avaliar a demanda, a oferta e os trade-offs de recursos. Essa tecnologia geralmente se caracteriza em aplicações de planejamento e programação. A visibilidade da cadeia de suprimentos e o módulo de gestão de eventos monitoram as entregas Logística e gestão da cadeia de suprimentos68 Logistica_U4C9.indd 68Logistica_U4C9.indd 68 21/09/2016 17:26:3821/09/2016 17:26:38 enquanto estão em trânsito e, cada vez mais, conseguem proativamente su- gerir mudanças nos fluxos da cadeia de suprimentos para minimizar o poten- cial de paralisações na manufatura ou falhas no serviço. Os sistemas de con- formidade da cadeia de suprimentos monitoram as informações sobre o fluxo de componentes e produtos para garantir que eles cumpram com os requisitos regulatórios relacionados a etiquetas, impostos e restrições de segurança. A tecnologia de comunicação é o hardware e o software técnico que faci- litam a troca de informações entre os sistemas e a infraestrutura física dentro da empresa e entre os parceiros na cadeia de suprimentos. A troca de infor- mações em tempo real entre funções e parceiros da cadeia de suprimentos facilita a coordenação de insumos, produção, estoque, pedidos e entregas aos clientes. Do ponto de vista da cadeia de suprimentos, a disponibilidade de informações comuns e consistentes sobre requisitos, atividades e desempenho entre os parceiros da cadeiade suprimentos aumenta a eficácia, a eficiência, a relevância e a sustentabilidade operacionais. O rápido desenvolvimento e disseminação da Internet acrescentaram uma nova dimensão à interface entre as empresas e seus clientes. Tanto os vare- jistas quanto os fabricantes estão cada vez mais em contato direto com os consumidores finais. Essa conectividade se desenvolveu ao longo de duas di- mensões principais da comunicação: conectividade de pedido e conectividade de pós-venda. Cada uma delas tem implicações na cadeia de suprimentos. Em termos de pedidos, a Internet oferece uma maneira para os consu- midores estabelecerem e manterem contato direto com os varejistas e fabri- cantes. Em essência, essa forma de conectividade nas duas direções é uma evolução da tradicional compra por catálogo. Otimizadas pela velocidade e flexibilidade da conectividade via Internet, as comunicações interativas du- rante o pedido, a determinação da condição do estoque, do tempo e locali- zação do processamento e dos detalhes da entrega do produto podem ser mais diversificadas e abrangentes. Por exemplo, o acompanhamento completo do pedido até a entrega é um recurso comum. Com a facilidade e a velocidade da conectividade via Internet, as informações pertinentes ao pedido total até a entrega domiciliar ou à coleta na loja podem ser monitoradas. Com relação às devoluções de produtos, ou ao que é chamada frequentemente de logís- tica reversa, a Internet oferece uma maneira rápida e precisa para facilitar e monitorar o processo de reparo ou substituição do produto. Além disso, a existência da conectividade direta entre o consumidor final e o fabricante do produto facilita a resolução rápida dos problemas de atendimento ao cliente relacionados ao uso e à garantia do produto. Além da tecnologia da infor- 69Sistemas de informação de apoio às atividades logísticas Logistica_U4C9.indd 69Logistica_U4C9.indd 69 21/09/2016 17:26:3821/09/2016 17:26:38 mação, o rápido surgimento de novas relações na cadeia de suprimentos está sendo impulsionado por quatro forças relacionadas: (1) gestão integrada e pro- cessos da cadeia de suprimentos; (2) capacidade de resposta; (3) sofisticação financeira; e (4) globalização. Essas forças vão continuar a conduzir a estru- tura e as iniciativas de estratégia da cadeia de suprimentos em muitos setores durante o futuro próximo. Uma breve discussão sobre cada uma dessas forças que conduzem a cadeia de suprimentos fornece uma base para entender os desafios que a gestão da cadeia de suprimentos coloca sobre o exigente de- sempenho da logística. Para saber mais sobre o tema, leia o trecho selecionado – Operações da cadeia de supri- mentos – da obra Gestão logística da cadeia de suprimentos (BOWERSOX et al., 2014, p. 13). 1. Sistemas de transações, controle administrativo, análise de decisões e planejamento estratégico. Esses pro- cessos se referem respectivamente a: a) Operações de gerenciamento local. b) Níveis de funcionalidade de um sistema de gestão. c) Operações de suprimentos externo. d) Controle dos recursos das em- presas. e) Controle das exportações. 2. A típica funcionalidade de transação de um sistema de informação inclui entre elas: a) Entrada de pedidos, expedição e formação de preços. b) Controle do deslocamento do fornecedor. c) Entregas FOB e CIF. d) Busca de níveis de suprimento. e) Busca de novos mercados inter- nacionais. 3. A análise das decisões também está sendo usada para administrar os relacionamentos com os clientes ao determinar os trade-offs associados a: a) Clientes satisfeitos e bem-suce- didos. b) Entregas não efetuadas. c) Controle de estoque interruptos. d) Material disponível. e) Serviços logísticos indisponíveis. 4. Os principais módulos do sistema e suas interfaces são, respectiva- mente: a) Custos, pessoas e comércio exterior. Logística e gestão da cadeia de suprimentos70 Logistica_U4C9.indd 70Logistica_U4C9.indd 70 21/09/2016 17:26:3821/09/2016 17:26:38 BOWERSOX, D. J. et al. Gestão logística da cadeia de suprimentos. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. b) Planejamento de pessoas e clientes. c) Sistema de fornecedores, distri- buidores e venda direta. d) Sistemas de codificação, estoques e mídias. e) Planejamento de ERP, sistemas de comunicação, sistemas de execução e planejamento. 5. O CRM (Customer Relationship Mana- gement) se refere a um módulo do sistema de informação relativo à: a) Gestão de estoques. b) Administração da fábrica. c) Gerenciamento da frota. d) Gestão de armazéns. e) Relacionamento com o cliente. 71Sistemas de informação de apoio às atividades logísticas Logistica_U4C9.indd 71Logistica_U4C9.indd 71 21/09/2016 17:26:3821/09/2016 17:26:38 Conteúdo: Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 G389 Gestão patrimonial e logística no setor público / Bruno Maldonado Barcellos ... [et al.]; revisão técnica: Felipe Nunes Duarte. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 234 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-168-6 1. Administração. 2. Patrimônio. 3. Setor público. I. Barcellos, Bruno Maldonado. CDU 658.7 Revisão técnica: Felipe Nunes Duarte Graduado em Administração de Empresas e Processos Gerenciais Especialista em Administração Estratégica Consultor em Logística Empresarial e Comércio Exterior Estratégia em logística Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conhecer as principais abordagens estratégicas da logística integrada. Avaliar como o nível de serviço ao cliente impacta as decisões estra- tégicas de desempenho logístico. Identi� car as variáveis estratégicas que impactam os níveis de serviço ao cliente. Introdução As definições relativas aos níveis de estoques, localizações de instalações e demais variáveis relacionadas à cadeia de suprimentos exercem im- pacto direto nos custos empresariais e na percepção da organização pelo mercado. Por isso, se constituem em algumas das decisões estratégicas mais importantes para alguns segmentos econômicos. Dessa forma, é importante um refinado planejamento para a realização da gestão desses pontos. Neste texto, você irá conhecer as principais definições estratégicas relacionadas à logística e compreender a sua estreita relação com a proposta de valor e nível de serviço esperado pelos clientes e usuário dos serviços logísticos. Definindo a estratégia logística Para formular a estratégia logística, é necessário avaliar as relações entre níveis alternativos de serviço ao cliente e custos associados. Embora existam difi culdades substanciais na medição de receita, a avaliação comparativa do desempenho do serviço e dos custos marginais associados oferece uma forma de se aproximar de um projeto ideal do sistema logístico. A abordagem geral consiste em: 1. Determinar a rede de menor custo total. 2. Medir a disponibilidade do serviço e a capacidade associados ao projeto do sistema de menor custo total. 3. Conduzir a análise de sensibilidade relacionada diretamente aos serviços e custos incrementais com geração de receita. 4. Finalizar o plano. Determinar a menor rede de custo total significa avaliar, entre as opções disponíveis, seja com transportadoras, prestadores de serviços ou veículos próprios, quais as opções com os menores custos totais, ou seja, que no com- posto de todas as atividades logísticas necessárias ao processo – normalmente armazenagem, manuseio, transporte e atualização de informações – apresenta o menor custo. Medir a disponibilidade do serviço e a capacidade associados ao pro- jeto do sistema de custo total consiste em, após identificadas as escolhas de menor custo, avaliar quais as condições de atendimento da demanda. Um exemplo prático seria, entre três possibilidades de transportadora, identificar a de menor custo. Nesta etapa busca-se avaliar em quanto tempo a opção de menor custo realizaa atividade em comparação com as demais. Conduzir a análise de sensibilidade relacionada diretamente aos ser- viços e custos incrementais com geração de receita é o momento em que o gestor avalia se a opção de menor custo não gera perdas de receitas ou se a escolha por uma opção de custo intermediário gera ganhos adicionais que compensem a escolha. Por fim, a tomada de decisão para finalizar o plano é especificamente o papel gerencial do gestor logístico, em que, com base nas análises preliminares, ele irá definir a estratégia. Estratégia de menor custo total Uma estratégia de menor custo total busca uma rede do sistema logístico com os menores custos fi xos e variáveis. Um projeto de sistema para conseguir o menor custo total é orientado apenas por trade-off de custos. Em relação aos relacionamentos básicos, um projeto de menor custo total é apresentado a seguir. O nível de serviço ao cliente associado a um projeto logístico de menor custo resulta da política de estoque de segurança e da proximidade física entre depósitos e clientes. O nível geral de serviço ao cliente associado ao sistema de menor custo total é denominado nível de serviço limite. Estratégia em logística88 O nível de serviço é extremamente impactado pelas necessidades de trans- portes, assim, em estratégias de menor custo total, os prazos de entrega serão maiores, pois os custos com transportes (expressivos no custo total logístico) serão minimizados com a utilização de estratégias que otimizem as cargas, logo, o objetivo passa a ser o custo baixo e não a entrega rápida. Nível de serviço ao cliente A defi nição do posicionamento quanto ao nível de serviço ao cliente é deter- minante para todas as demais decisões estratégicas de desempenho logístico. Basicamente, o nível de serviço é relacionado à qualidade do serviço logístico. Para o cliente ou usuário de serviço logístico, os requisitos de qualidade normalmente são o prazo de entrega, a segurança e o atendimento. Então, podemos dizer que uma empresa que entrega em um prazo menor que os concorrentes, com mais segurança e menores danos aos produtos e fornece feedback do status dos pedidos, oferece um nível de serviço melhor do que aquelas que têm entregas mais demoradas. O grande desafio do nível de serviço é que melhores níveis geralmente significam mais custos, portanto, o desafio do gestor é compreender como a estratégia logística da empresa quer ser percebida pelos usuários e equalizar as ações necessárias. Para estabelecer um nível de serviço limite, é necessário iniciar a reenge- nharia da rede com políticas relacionadas à disponibilidade e à capacidade de estoque desejadas. É prática comum basear a capacidade do serviço ao cliente no sistema existente de recebimento e processamento de pedidos, nas operações de armazenamento baseadas no tempo padrão de atendimento a pedidos, nas instalações existentes e no tempo de entrega baseado na capacidade dos meios de transporte existentes. Dadas essas premissas, o desempenho atual oferece o ponto de partida para a avaliação das melhorias potenciais no serviço. O ponto de partida típico para a análise de disponibilidade do serviço ao cliente é prever o desempenho de acordo com uma taxa de atendimento geralmente aceitável. Muitas vezes, o padrão predominante no setor é usado como primeira aproximação. Por exemplo, se a disponibilidade de estoque de segurança for estabelecida em 97,75% para a probabilidade combinada de incerteza na demanda e no tempo de entrega, deve-se esperar que aproximadamente 98 de cada 100 itens pedidos sejam entregues conforme especificado. O estoque de segurança costuma ser calculado considerando a demanda média diária e o prazo de reposição. 89Estratégia em logística Suponha que um mercado venda em média 50 kg de arroz por dia, e o prazo de reposição do fornecedor, a partir do momento que o pedido é feito até a entrega, seja de 8 dias. Assim, o estoque de segurança será dado pela demanda diária multiplicada pelo número de dias. Para o exemplo, o estoque de segurança será de 400 kg de arroz. Figura 1. Rede de menor custo total. Fonte: Bowersox et al. (2013, p. 306). Influências do nível de serviço nas decisões estratégicas O fato de uma rede inicial ser projetada para alcançar o menor custo logístico não signifi ca que o serviço limite ao cliente será́ baixo. O tempo entre a entrada do pedido do cliente até́ a entrega do produto em um sistema de menor custo é , supostamente, maior na média do que em redes alternativas que foram modifi cadas para melhorar o desempenho geral do serviço. Estratégia em logística90 No entanto, clientes localizados perto de uma instalação de armazena- mento em todas as redes têm potencial para receber entregas rápidas. Como a localização de menor custo tende a favorecer áreas de alta concentração de demanda, uma quantidade substancial de clientes terá́ potencial para entregas rápidas. Com uma estimativa da duração esperada do ciclo do pedido em mãos, os gerentes estão em condição de comprometer-se com prazos de entrega ao cliente. Uma política de serviço poderia ser a seguinte: A entrega de pedidos à área A será́ de 3 dias, a partir do recebimento do pedido no depósito. É nossa política conseguir atender 98% de todos os pedidos dentro desse período. O desempenho real de um sistema logístico é medido pelo grau em que os padrões de serviço são atingidos. Dada a quantificação das variáveis envol- vidas, o serviço limite relacionado ao sistema de menor custo total oferece o ponto de partida para o desenvolvimento da plataforma de serviço básico de uma empresa. O próximo passo na formulação da política é testar a conveni- ência do nível de serviço limite para o cliente. Percepção do nível de serviço pelo cliente/usuário O serviço limite resultante do projeto logístico de menor custo total oferece uma base para a análise de sensibilidade do serviço. A capacidade de ser- viço básico de uma rede pode ser aumentada ou diminuída pela variação na quantidade de depósitos, mudança em um ou mais ciclos de atividades para aumentar a velocidade, ou a consistência das operações e/ou mudança na política de estoque de segurança. A estrutura de armazenamento do sistema logístico estabelece o serviço que pode ser prestado sem alteração do ciclo produtivo ou da política de estoque de segurança. Para ilustrar a relação entre a quantidade de depósitos e o tempo de serviço resultante, suponha que uma medida importante é o percentual atendido da demanda em determinado intervalo de tempo. O impacto geral do acréscimo de depósitos ao sistema é apresentado na Tabela 1, na qual são ilustrados diversos pontos de interesse, o primeiro deles sendo o serviço incremental em uma função decrescente. 91Estratégia em logística Fonte: Bowersox et al. (2013, p. 310). Número de instalações Percentual atendido da demanda por duração do ciclo de atividades (horas) 24 48 72 96 1 15 31 53 70 2 23 44 61 76 3 32 49 64 81 4 37 55 70 85 5 42 60 75 87 6 48 65 79 89 7 54 70 83 90 8 60 76 84 90 9 65 80 85 91 10 70 82 86 92 11 74 84 87 92 12 78 84 88 93 13 82 85 88 93 14 84 86 89 94 Tabela 1. Capacidade de serviço dentro de intervalos de tempo como função da quanti- dade de instalações. Por exemplo, os cinco primeiros locais de armazenamento oferecem de- sempenho 24 horas a 42% de todos os clientes. Para dobrar esse percentual de serviço de 42% para 84%, são necessários nove depósitos adicionais, ou um total de 14. Outro ponto de interesse seria altos níveis de serviço serem alcançados com mais rapidez em ciclos de atividades mais longos. Por exemplo, quatro locais de armazenamento oferecem desempenho de 85% dentro do ciclo de atividades de 96 horas. Aumentando-se o total de locais de quatro para 14, aumenta-se esse desempenho em apenas nove pontos percentuais. Estratégia em logística92 Por outro lado, um total de 14 depósitos não consegue atingir 85% em um ciclo deatividades de 24 horas. Por fim, o custo total associado a cada local adicionado à rede logística aumenta substancialmente. Portanto, embora o serviço incremental resultante dos locais adicionais diminua, o custo incre- mental associado a cada novo local aumenta. O retorno do serviço para cada nova instalação é incrementalmente me- nor. Com frequência se pede que os gerentes logísticos estimem o impacto do acréscimo ou a exclusão de depósitos sobre o estoque. Essa relação entre incerteza e estoque necessário é denominada efeito portfólio. Esse efeito pode ser estimado pelo uso da regra da raiz quadrada. Origi- nalmente proposta por Maister, essa regra sugere que o aumento do estoque de segurança, como resultado do acréscimo de depósitos, é igual à divisão da raiz quadrada da quantidade de depósitos na rede proposta pela raiz quadrada da quantidade de depósitos existentes. Aprimorando o ciclo de pedido O ciclo de pedido é o tempo transcorrido entre a realização do pedido pelo demandante e a entrega pela organização. O gestor logístico busca constan- temente reduzir o ciclo de pedido, a fi m de melhorar o nível de serviço aos seus usuários. A velocidade e a uniformidade do serviço podem ser modificadas para um mercado ou cliente específico, alterando algum aspecto do ciclo de ativi- dades. Para melhorar o serviço, podem ser implantados pedidos pela internet e transporte especializado. Portanto, a proximidade geográfica e a quantidade de depósitos não são obrigatoriamente sinônimos de entrega rápida ou uniforme. A decisão de melhorar o serviço adotando um arranjo de ciclo de atividade mais rápido, em geral, aumentará o custo variável. Em contrapartida, a melhoria no serviço acrescentando depósitos envolve um alto grau de custos fixos e pode resultar em menor flexibilidade geral no sistema. Não se pode generalizar quando se trata da taxa de melhoria de custo ou serviço obtida de alterações no ciclo de atividades. A relação típica entre transportes Premium e transportes de menor custo resulta em um incentivo significativo em favor de volumes maiores. Portanto, se o volume do pedido for substancial, pode-se esperar que a economia da logística favoreça o uso de um depósito ou ponto de consoli- dação para atender uma área do mercado. O impacto do uso de transporte Premium elevará o custo total. Ajustes no sistema logístico de menor custo 93Estratégia em logística total podem ser justificados quando a melhoria no serviço resulta em aumento na lucratividade. Um modo direto de alterar o serviço é aumentar ou diminuir a quantidade de estoque de segurança mantido em um ou mais depósitos. O impacto do aumento do estoque de segurança em todo o sistema fará a curva do custo do estoque médio subir. Um objetivo de aumento na disponibilidade do serviço ao cliente resultará no aumento dos estoques de segurança em cada depósito. À medida que a disponibilidade aumenta, os estoques de segurança necessários para atingir cada incremento de disponibilidade aumentam em uma taxa crescente. Finalizando a estratégia Os executivos costumam cair na armadilha de ser excessivamente otimistas ao se comprometerem com os clientes. Isso pode resultar em clientes com expectativas altas demais e, em seguida, frustrados por causa de um desem- penho inferior. Em parte, esse excesso de otimismo é resultante da falta de entendimento do custo total necessário para apoiar um serviço de alto nível com zero defeito. O último passo para estabelecer uma estratégia é a avaliação do custo do serviço incremental em termos da geração de receita. Para ilustrar, suponha que o sistema atual esteja preparado para servir pelo menos 90% de todos os clientes com disponibilidade de 95% de estoque 60 horas depois do recebimento do pedido. Além disso, suponha que esse sistema atenda esses objetivos pelo menor custo total utilizando uma rede de cinco depósitos. No entanto, o setor de marketing não está satisfeito com esses resultados e acredita que a capacidade de serviço deve ser aumentada a ponto de 90% de todos os clientes receberem 97% do estoque disponível em 24 horas. A gerência logística precisa estimar os custos desse compromisso estra- tégico. A Figura 2 ilustra como avaliar estratégias alternativas. Suponha que o setor de marketing esteja solicitando um aumento de 2 pontos percentuais na disponibilidade de estoque, combinado com uma melhoria de 36 horas na capacidade de entrega. Suponha que a análise do projeto identifique que 12 instalações de armazenamento representam a rede de menor custo capaz de atingir os novos padrões de serviço. O custo total dessa expansão na capacidade de serviço é medido no eixo vertical do gráfico da Figura 2 pela distância entre os pontos A e B. O custo total de atingir o nível de serviço solicitado pelo setor de marketing exigirá um aumento de aproximadamente $ 400 mil por ano no custo logístico. Estratégia em logística94 Supondo uma margem de lucro antes dos impostos de 10% das vendas, seria necessário gerar um aumento de $ 4 milhões nas vendas para compensar o custo de proporcionar o serviço adicional. A aceitação ou rejeição da proposta do setor de marketing em relação ao aumento de serviço envolve posicionamento estratégico. A logística pode oferecer qualquer nível de desempenho que a estratégia geral de serviço ao cliente da empresa exigir. Depois de adotadas, as alterações na política influenciarão o projeto da rede logística. Para finalizar, a gestão da política logística normalmente exige considerar uma gama de alternativas estratégicas. Figura 2. Custo total comparativo para sistemas de 5 e 12 pontos de distribuição. Fonte: Bowersox et al. (2013, p. 312). 95Estratégia em logística 1. De forma geral, as estratégias logísticas lidam constantemente com um trade-off entre custos totais e nível de serviço ao cliente. Sobre o desenho estratégico de menor custo total, podemos afirmar que: a) O foco desta estratégia se baseia na busca pelos menores custos com estoques, já que eles são a maior despesa logística. b) Esta estratégia busca uma rede do sistema logístico com os menores custos fixos e variáveis. c) O foco desta estratégia se baseia na busca pelos menores custos com transporte, já que eles são a maior despesa logística. d) Esta estratégia é orientada por trade-off de custos e qualidade de serviço. e) Reforça que é impossível combinar uma estratégia de custos que considere o nível de serviços ao cliente. 2. Uma das estratégias logísticas mais usuais entre os gestores é a que estabelece um nível de serviço limite. Com isso, considera-se um nível esperado de atendimento ao cliente e buscam-se alternativas para diminuir os custos nesse processo. Sobre como estruturar esse tipo de estratégia, é correto afirmar que: a) Consideram-se as políticas relacionadas à disponibilidade e à capacidade e, dada algumas premissas, o desempenho esperado oferecerá o ponto de partida para a avaliação das potenciais melhorias no serviço. b) O passo inicial é estabelecer os custos máximos toleráveis e, então, definir qual o nível de serviço oferecido. c) Não é aconselhável que o padrão de performance quanto à disponibilidade predominante no setor seja usado como primeira aproximação. d) A análise de disponibilidade do serviço ao cliente pode ter como ponto de partida um desempenho previsto, com base em uma taxa de atendimento geralmente aceitável. e) A escolha das instalações não é influenciada pela variabilidade de produtos que serão estocados. 3. Uma estratégia baseada em nível de serviço limite deve considerar custos e satisfação do cliente e, para isso, precisa estabelecer parâmetros médios de despesas de entregas e prazos conforme as regiões atendidas. Sobre essa estratégia assinale a alternativa correta. a) O fato de a rede inicial ser projetada para alcançar o menor nível de custo logístico significa que o serviço limite ao cliente será baixo.b) Não há, supostamente, diferenças no tempo do ciclo de pedido em um sistema de menor custo e um sistema focado no nível de serviço. c) A estimativa de duração esperada de um ciclo de pedido é um dado operacional posterior ao planejamento logístico. d) Em uma estratégia de menor custo, espera-se que todos Estratégia em logística96 os clientes recebam seus pedidos nos mesmos prazos. e) A escolha por localizações de menor custo tende a favorecer áreas de alta concentração de demanda, com isso, uma quantidade substancial de cliente terá potencial de receber entregas rápidas. 4. Um projeto logístico de menor custo total terá como resultado um serviço limite que permitirá analisar a sensibilidade do serviço, ou seja, como a alteração em algumas variáveis irá impactar o nível de serviço ao cliente. As principais variáveis que impactam o nível de serviço ao cliente são: a) Custos de transação e tipo de estoque. b) Modificações na localização, alteração do ciclo de atividades e modificação nas políticas de estoque de segurança. c) Contratação dos transportes e sistemas de informação. d) Ciclo de pedido e estoques de segurança. e) Número de funcionários, local das instalações e modal de transporte. 5. A chamada regra da raiz quadrada ajuda a estimar a relação entre incerteza e estoque necessária, e é denominada efeito portfólio. Como essa regra contribui para a análise na modificação de localizações? a) A regra é utilizada para a estratégia de localização e ajuda a determinar onde ficará mais bem posicionada uma instalação de armazenagem. b) Permite que o gestor logístico saiba o número exato de instalações necessárias para determinado nível de serviço. c) Ajuda o gestor logístico a definir as modificações necessárias nos níveis de estoques de segurança. d) Elimina a necessidade de alguns pressupostos como variações de produto com níveis aproximados de demanda para realizar a estimativa de número de localizações. e) É um modo prático e útil de estimar o impacto que adicionar ou excluir depósitos em uma rede logística exercerá sobre os estoques. BOWERSOX, D. J. et al. Gestão logística da cadeia de suprimentos. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. Referência 97Estratégia em logística Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Página em branco GPLSP_U2_C07logística4 O fato é que o surgimento e o desenvolvimento da logística trouxeram a possibilidade do consumo de produtos de diferentes localidades, até mesmo de países distantes, como China, Japão e Estados Unidos, promovendo a expansão do comércio internacional, que foi potencializado pela evolução dos canais logísticos. Com isso, a logística no contexto empresarial transformou-se em uma premissa para o comércio internacional, englobando eficiência, planejamento e manutenção de suprimentos. Como reflexo, a partir do surgimento e avanço da logística e da expansão do comércio internacional, as trocas culturais foram ampliadas, possibilitando um conhecimento maior sobre diferentes culturas, comportamentos e tradições. A logística ocupa papel de destaque nas relações de consumo, promovendo a operação das empresas e, até mesmo, a expansão do comércio a níveis internacionais, gerando resultados que muito contribuem para a satisfação e o bem-estar das pessoas. Ballou (2006) ainda chama atenção para a importância e os benefícios da logística, destacando que ela permite operações com estoques reduzidos, uma vez que as empresas não precisam mais adquirir grandes quantidades de produtos de seus fornecedores para garantir seus níveis de operação. Isso resulta na redução dos custos relativos aos estoques, permitindo investimento em outras frentes, como pesquisa e desenvolvimento e novas tecnologias. Além disso, a integração logística permite o monitoramento de pedidos, tanto pelo fornecedor quanto pelo cliente, viabilizando experiências positivas que promovem a atividade econômica, uma vez que todos têm a oportunidade de desfrutar de um sistema de entregas mais rápido e confiável. A logística existe desde o começo da civilização, com desenvolvimento mais marcante no contexto militar, cujos conceitos depois foram levados para indústria, principalmente em função da Revolução Industrial. Inicialmente, estava voltada ao trânsito dos produtos e, depois, passa a ser focada na satis- fação do cliente. Mas esse cenário continua em constante evolução ainda no século XXI, onde a implementação das melhores práticas é o foco de uma das áreas operacionais mais estimulantes e desafiadoras da gestão da cadeia de suprimentos. E tudo isso deu origem ao desenvolvimento de novos conceitos ligados à logística, o que será visto a seguir. 5Histórico e conceituação da logística Logística integrada e gestão da cadeia de suprimentos Como já destacado por Ballou (2006), um dos primeiros conceitos de logís- tica que pode ser mencionado é aquele derivado do contexto militar, em que a logística era compreendida como um ramo da ciência militar responsável por lidar com a obtenção, manutenção e o transporte de material, pessoas e instalações. Adaptado ao contexto empresarial, esse conceito ganha novos elementos, devido à distinção entre objetivos e atividades desses dois con- textos. No cenário empresarial, uma boa definição de logística é dada pelo Council of Logistics Management (CLM — Conselho de Gestão Logística, entidade americana de profissionais de logística), que diz que a logística é o processo de planejamento, implantação e controle do fluxo de mercadorias, serviços e informações, desde o ponto de origem até o consumo, tudo sendo feito de forma eficiente e eficaz, com o propósito de atender às exigências dos clientes. Tal definição engloba a noção de que a logística abrange todas as atividades inerentes ao fluxo de mercadorias, desde a matéria-prima até o ponto de consumo. Ou seja, ela não contempla apenas as atividades de trans- porte, ainda que elas sejam muito importantes no processo, mas, também, as de armazenamento e os processos administrativos de controle. Até os anos de 1960, as atividades administrativas caracterizavam-se por uma grande fragmentação, pois as empresas administravam suas diferentes áreas de forma separada, cada uma lidando com suas metas e seus desafios individuais. Porém, com o passar dos anos, as empresas começaram a per- ceber que isso não era benéfico para a organização como um todo, pois seus objetivos dependiam de esforços oriundos de todas as áreas, sendo que cada uma impactava no desempenho da outra. Então se iniciou um movimento de gestão integrada, em que áreas tradicionais, como finanças, marketing e produção, passaram a ser observadas por uma ótica sistêmica, promovendo um conceito de gestão coordenada de atividades inter-relacionadas. O Quadro 1, a seguir, resume a evolução da logística. Histórico e conceituação da logística6 Fonte: Adaptado de Ballou (2006). Época ou contexto Características e contribuições para a evolução da logística Coleta e caça As atividades logísticas ainda não existiam. Cultivo e pecuária Necessidade de estocar produtos. Contexto militar Idade média, cruzadas, navegações, transporte e manutenção de tropas. Revolução Industrial Aumento do número de produtos, urbanização europeia e novos mercados. Antes de 1950 Atividades logísticas desmembradas. Entre 1950 e 1970 Desenvolvimento da logística, com a mudança de foco do produto para o cliente; surgimento do marketing; e aumento do uso do transporte aéreo. A partir de 1970 Internacionalização da economia, integração da logística, gestão da informação digital. Quadro 1. Surgimento e evolução da logística Tal cenário destaca as interações que ocorrem entre as funções de marketing, logística e produção de uma empresa, sendo que cada área envolve determinadas atividades e responsabilidades para o bom desempenho do conjunto — como a comunicação da empresa com o mercado, que é uma atribuição atrelada majoritariamente ao marketing. A partir disso, surgem novas importantes definições relevantes no contexto da logística, como logística empresarial, logística integrada, cadeia de suprimentos e gerenciamento da cadeia de suprimentos. O surgimento e a evolução da logística levaram à formulação de importantes conceitos, como logística empresarial, logística integrada, cadeia de suprimentos e gerenciamento da cadeia de suprimentos. 7Histórico e conceituação da logística Nesse contexto, a logística ganha destaque, e surge a concepção de logís- tica empresarial, derivada da percepção de que a logística agrega valor aos produtos e serviços, o que é essencial para a satisfação dos clientes, podendo, assim, promover aumento das vendas e dos lucros da organização. Na sequência evolutiva de percepções, a logística passa a receber mais atenção, e surge o conceito de logística integrada, em que as diferentes faces da logística, como administração de materiais, movimentação de materiais e distribuição física, passam a ser tratadas de forma conjunta. Atividades como previsão de demanda, compras, planejamento de necessidades e da produção são agrupadas em um único setor chamado compras e gestão de materiais, que passa a realizar de forma conjunta essas diversas funções anteriormente depar- tamentalizadas. Em contrapartida, outros setores assumem responsabilidades de forma mais clara, como o setor de distribuição, responsável por atividades de processamento de pedidos, transporte e estocagem de produtos acabados, e setor de estoque, que cuida dos itens disponíveis para comercialização por parte da empresa. Com isso, forma-se a área de logística, que agrupa e coor- dena esses diferentes setores, sendo responsável pela logística como um todo e tendo uma visão macro da mesma e sua importância para a organização. A logística esteve presente em vários modelos de produção, onde de- sempenhava importante papel, como a produção em massa da Ford (peças intercambiáveis, especialização das atividades de produção e montagem) e a produção enxuta da Toyota (estoques mínimos, maior qualidade, redução de desperdícios). Essas preocupações foram sendo adaptadas e consolidadas ao longo do tempo, sendo levadas para a produção em seus diferentes estágios, colaborando para o surgimento do conceito de cadeia de suprimentos (supply chain). Esta consiste emum conjunto de atividades funcionais que se repetem diversas vezes ao longo do processo pelo qual matérias-primas são transfor- madas em produtos acabados, que têm valor agregado para o consumidor, conforme apresentado na Figura 1. Essas atividades são desempenhadas por diferentes agentes integrantes da cadeia de suprimentos, como fornecedores de matérias-primas, fábricas, pontos de distribuição e de vendas, que geralmente estão em localizações distintas, o que é viável graças aos avanços da logística e ao contexto da cadeia de suprimentos. Histórico e conceituação da logística8 Uma empresa destinada à fabricação de um determinado produto pode ter seus projetos desenvolvidos na Europa, peças vindas da África, montagem realizada na Ásia, e produtos vendidos no Brasil, tudo isso contando com apoio da logística e da cadeia de suprimentos. Figura 1. A cadeia de suprimentos. Fonte: Ballou (2006, p. 30). Bowersox et al. (2014) comenta que essa mudança toma mais corpo na última década do século XX, que correspondeu ao início de uma expansão que levou à era da informação (ou era digital), em que a conectividade de ne- gócios deu origem a uma nova ordem de relacionamentos, chamada gestão da cadeia de suprimentos (supply chain management — SCM). Nesse contexto, 9Histórico e conceituação da logística a associação de novas práticas de marketing, manufatura, compras e logística leva a produtos que são fabricados atendendo a especificações e entregues com rapidez em vários pontos do mundo — com casos em que o tempo transcorrido entre o pedido e a entrega pode corresponder a algumas horas. Isso levou a um ganho de desempenho geral, envolvendo os vários aspectos que antes eram considerados problemas (variedade, agilidade, ausência de erros e defeitos), que ainda é alcançado a um custo total mais baixo, ou seja, um conjunto de condições impulsionado principalmente pela tecnologia da informação. Os avanços da tecnologia da informação levaram a significativas mudanças no cenário dos negócios e, como consequência, a uma nova forma de relacionamento: a cadeia de suprimentos, cuja gestão passa a ser fundamental para as organizações. Ballou (2006) ainda relata que, no contexto da gestão da cadeia de supri- mentos, a logística é compreendida como um processo (conjunto de atividades) que faz parte de outro ainda maior, que é a cadeia de suprimentos. Nela, embora compreendida como uma parte do todo, a logística é tida como peça fundamental, que promove importante interação entre os vários agentes da cadeia de suprimentos. Esta passa a ser vista como uma entidade única, que requer uma nova abordagem sistêmica, cuja chave é a integração entre os diversos agentes. Desse modo, assim como a logística integrada é uma evolução da logística em seu conceito inicial, a gestão da cadeia de suprimentos é, de certa forma, uma evolução da logística integrada, porém indo além dos limites das instalações das empresas, integrando fábrica, fornecedores, atacadistas, varejistas e consumidor final. O conjunto das atividades envolvidas com a logística e a evolução de sua organização para o conceito da gestão da cadeia de suprimentos é apresentado na Figura 2, a seguir. Histórico e conceituação da logística10 Figura 2. A evolução da logística para a gestão da cadeia de suprimentos. Fonte: Ballou (2006, p. 30). Nesse cenário, podemos considerar que outras áreas organizacionais também participam da gestão da cadeia de suprimentos, como é o caso dos departamentos financeiro e de planejamento estratégico, que buscam garantir a assertividade das decisões de planejamento e orçamentárias. Além disso, com a popularização da gestão pela qualidade total, outras áreas e funções surgiram e passaram a fazer parte do cenário, como o controle de qualidade, que inicialmente focava em auditoria e controle de processos, e a assessoria de planejamento, que, embora não esteja atrelada diretamente à logística, é demandada pela qualidade total. Para que se possa compreender ainda melhor os conceitos envolvidos no contexto da gestão da cadeia de suprimentos, convém uma verificação detalhada do composto de atividades envolvidas com a logística. 11Histórico e conceituação da logística Funções do composto de atividades logísticas De acordo com Ballou (2006), a gestão da cadeia de suprimentos é um conceito central para a logística moderna, uma vez que essa cadeia abrange todas as atividades relacionadas ao fluxo e à transformação de mercadorias, desde o estágio da matéria-prima até o usuário final, bem como os respectivos fluxos de informação. Dessa forma, podemos dizer que o principal objetivo, ou a missão, da gestão da cadeia de suprimentos é colocar os produtos ou serviços certos no lugar certo, no momento certo e nas condições desejadas, dando, ao mesmo tempo, a melhor contribuição possível para a empresa. Para tanto, a cadeia de suprimentos tem uma visão sistêmica da operação empresarial, buscando otimizar todas as relações entre as partes. Além dessa atribuição principal, a gestão da cadeia de suprimentos também tem outras importantes responsabilidades, como a integração dos processos de marketing e comu- nicação, a escolha das melhores opções de transporte e o cuidado com a estocagem, garantindo a utilização otimizada dos sistemas de armazenagem. Desse modo, segundo o autor, o propósito central da logística é fazer com que os produtos sejam movimentados e cheguem na hora certa, no local certo e nas condições adequadas. Em colaboração, Bowersox et al. (2014) comenta que, para isso, utiliza um conjunto de atividades relacionadas ao transporte e armazenamento de materiais, que vai desde a aquisição das matérias-primas, passa pelas movimentações relacionadas aos diferentes estágios da produção, até a entrega dos produtos para o consumidor final. Assim, ao pensar na logística integrada, podemos considerar que ela agrupa as diferentes faces da logística, compreendendo o importante papel desempenhado por cada uma e tratando-as de forma conjunta. � Administração de materiais: trata das operações relacionadas ao fluxo de insumos, compreendendo o processo que vai da captação de matérias- -primas à fábrica, o que inclui negociar a aquisição, providenciar o transporte, garantir o controle de qualidade, gerir o armazenamento, etc., com o objetivo de reduzir custos, estabelecer bons vínculos com fornecedores e outros parceiros e agilizar a produção. � Movimentação de materiais: trata do transporte dos insumos para garantir o abastecimento eficiente da linha de produção (sem faltas ou excessos), bem como dos materiais em processamento, o que inclui encaixotar, armazenar e administrar o estoque de maneira eficiente (do ponto de vista do tempo e do espaço físico). Histórico e conceituação da logística12 � Distribuição física: trata de levar os produtos aos seus pontos de distri- buição ou de venda ao consumidor final, garantindo qualidade, agilidade e preço baixo. Segundo Ballou (2006), no contexto da gestão da cadeia de suprimentos, a logística existe para transportar e posicionar estoques com o objetivo de conquistar benefícios relacionados ao tempo, ao local e à propriedade desejados pelo menor custo total. Desse modo, olhando para a logística sob a ótica da gestão da cadeia de suprimentos, podemos considerar que a logística empre- sarial é formada por um composto de atividades que variarão entre diferentes tipos de negócio, mas que geralmente compõe dois grandes grupos, que são as atividades-chave e as atividades de suporte, conforme detalhado a seguir. Atividades-chave � Serviços ao cliente em cooperação com o marketing: busca determinar as necessidades e expectativas dos clientes em relação à logística, visando a determinar a reação dos clientes ao serviço e estabelecer os níveis de serviço ao cliente. � Transporte: é uma das principais atribuições da logística, incluindo responsabilidades de seleção dos modais e serviços de transporte, consolidaçãodos fretes, determinação dos roteiros, programação de veículos, seleção de equipamentos, entre outras. � Gerência de estoque: define as políticas de estocagem de matérias- -primas e produtos acabados, bem como a previsão de vendas em curto prazo e variedade de produtos nos pontos de estocagem, determinação dos pontos de estocagem (número, tamanho e localização), e ainda participa da definição de estratégias de produção (como just in time, puxada e empurrada). � Fluxo de informação: cada vez mais relevantes nos sistemas logísticos modernos, inclui o processamento de pedidos, a interface entre pedidos de compras e estoques, a transmissão de pedidos e os métodos como isso será realizado, entre outras regras de comunicação das informações. 13Histórico e conceituação da logística Atividades de suporte � Armazenagem: inclui determinação do espaço e layout do estoque, configuração de armazéns e localização do estoque. � Manuseio dos materiais: inclui a seleção de equipamentos e normas de substituição dos mesmos e, ainda, procedimentos para separação de pedidos, alocação e recuperação de materiais. � Compras: envolve a seleção das fontes de suprimentos, bem como a definição do momento e da quantidade das compras. � Embalagem: tem a função de embalar os materiais de modo a promover o manuseio e a estocagem de maneira protegida, evitando perdas e dados. � Cooperação com produção e operações: visa a especificar as quantidades agregadas, a sequência e os prazos do volume de produção e, ainda, a programação de suprimentos para a produção/operação. � Manutenção e informações: inclui coleta, armazenamento e manipulação de informações, bem como análise de dados e procedimentos de controle. No contexto da gestão da cadeia de suprimentos, a logística é composta por um conjunto de atividades que se dividem em atividades-chave e de suporte. � Atividades-chave: serviços ao cliente, transporte, gerência de estoques e fluxo de informações. � Atividades de suporte: armazenagem, manuseio de materiais, compras, embala- gem e outras. As atividades-chave integram o caminho crítico do canal de distribuição física imediato de uma empresa, que diz respeito à transmissão do pedido pelo cliente, o processamento desse pela empresa e a entrega do pedido ao cliente. São essenciais para a coordenação e conclusão eficiente da logística e geralmente correspondem à maior parte dos custos. Já as atividades de suporte, embora sejam tão importantes quanto as chave, são consideradas coadjuvantes, por contribuírem para a logística em segundo plano, ocupando posição de apoio. Histórico e conceituação da logística14 Cabe ainda comentar que as atividades logísticas (chave e de suporte) podem também ser agrupadas de outra forma, partindo da segmentação de suas responsabilidades em partes menores, que podem ser associadas a duas grandes demandas: o abastecimento físico e a distribuição física, conforme apresentado na Figura 3, a seguir. Figura 3. Atividades logísticas na cadeira de suprimentos. Fonte: Ballou (2006, p. 31). Existem, ainda, outros modelos de gestão integrada que tratam os processos envolvidos na gestão da cadeia de suprimentos de maneira diferenciada da apresentada até aqui. Você pode saber mais sobre um deles na obra Gestão logística da cadeia de suprimentos (BOWERSOX et al., 2014). Em síntese, podemos concluir que a logística evoluiu muito desde seus primórdios. Surgiu como uma mera atividade facilitadora de trocas entre aldeias, depois, passou pelo contexto da estratégia militar e, finalmente, despontou no ambiente organizacional como uma condição essencial ao de- 15Histórico e conceituação da logística senvolvimento competitivo, onde continua evoluindo constantemente. Tendo em vista esse papel de destaque, sua gestão é fundamental, podendo trazer incontáveis benefícios para as empresas, a economia mundial e a sociedade em geral, permitindo cada vez mais a satisfação e melhor qualidade de vida para as pessoas. BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. BOWERSOX, D. J. et al. Gestão logística da cadeia de suprimentos. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. Leituras recomendadas FITZSIMMONS, J. A.; FITZSIMMONS, M. J. Administração de serviços: operações, estratégia e tecnologia da informação. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. IZIDORO, C. Gestão de tecnologia e informação em logística. São Paulo: Pearson, 2016. JACOBS, F. R.; CHASE, R. B. Administração de operações e da cadeia de suprimentos. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. REIS, J. G. M. Gestão estratégica de armazenamento. Curitiba: InterSaberes, 2015. Histórico e conceituação da logística16 LOGÍSTICA E GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS Marcelo Ribas Simões Pires Rodrigo Mércio Silveira Logística e gestão da cadeia de suprimentos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Analisar a revolução da cadeia de suprimentos. � Identificar o porquê de a integração da cadeia de suprimentos gerar valor. � Demonstrar a funcionalidade do sistema de informação da cadeia de suprimentos. Introdução Neste capítulo, você compreenderá o significado, as necessidades e as competências da logística. Observará também as mudanças ocorridas na chamada gestão da cadeia de suprimentos (SCM, do inglês supply chain managament) nos últimos anos. Por fim, você reconhecerá o contexto de desafios logísticos, ao identificar a importância da administração das operações, da integração dos canais de distribuição e de apoio à estratégia de cadeia de suprimentos. Análise da revolução da cadeia de suprimentos Você sabe o que é logística? O termo não é novo. É o processo de planejamento, de implantação e de controle do fluxo eficiente e eficaz de mercadorias, serviços e informações relativas desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o propósito de atender às exigências dos clientes. É relacionado aos estágios mais antigos da vida em sociedade, principalmente, no contexto militar. Basta pensar nas guerras e disputadas militares pelos quais a humanidade passou para perceber a difícil empreitada de deslocar homens, munições, armamentos, mantimentos e demais aparatos demandados na frente de batalha. Com essa base histórica, a associação entre atividade logística e ação de abastecimento Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 ou provisionamento de recursos é comum. Percebe-se nas empresas que a cadeia de suprimentos forma um gargalo, que poderia ser eliminado a partir de uma gestão mais adequada, agressiva e inovadora dos processos logísticos. Tal avanço confere amplas vantagens frente aos concorrentes, além de oferecer um retorno financeiro significativamente mais atrativo. Devido à grande necessidade organizacional, a evolução e consolidação das atividades logísticas elevaram a logística a um novo patamar, como um marcante elemento de vantagem competitiva no contexto do planejamento das organizações, em virtude da globalização, da concorrência acirrada e de mer- cados cada vez mais integrados. A logística passou a ser conhecida, então, por gestão da cadeia de suprimentos (SCM, do inglês supply chain management). De acordo com Figueiredo, Fleury e Wanke (2003, p. 27), gestão da cadeia de suprimentos é comumente entendida como “a gestão dos fluxos correlatos de informações e de produtos que vão do fornecedor ao cliente, tendo como contrapartida os fluxos financeiros”. Todavia, os autores esclarecem que: A definição de gerenciamento de cadeias de suprimento, apresentada em 1998 pelo Global Supply Chain Forum, está fundamentada em seu entendimento a partir de um conjunto de processos integrados. Em suas palavras “o ge- renciamento de cadeia de suprimentos consiste na integração dos principais processos de negócio a partir do consumidor final para o fornecedor inicial de produtos, serviços e informações que adicionam valor”. O gerenciamentode cadeias de suprimento seria, portanto, uma tarefa substancialmente mais complexa que a gerência logística do fluxo de produtos, serviços e informações relacionadas do ponto de origem para o ponto de consumo (FIGUEIREDO; FLEURY; WANKE, 2003, p. 28). A evolução histórica da cadeia de suprimentos Até o século XV, os processos logísticos eram comumente notados no âmbito militar. Em termos empresariais, a logística da produção era rudimentar em virtude da produção artesanal sob encomenda, em que o artesão era proprietário dos meios de produção e também detentor da força de trabalho. Entretanto, começaram a surgir artesãos que trabalhavam com ferramentas de outros artesãos: foi quando, na mesma oficina de produção, um processo de produção envolvia tanto proprietários dos meios de produção quanto trabalhadores assalariados – e a divisão de tarefas se consolidou. Essa nova configuração produtiva permitiu um aumento crescente da produção e permitiu que os arte- sãos se transformassem em empresários, ao atender demandas de clientes com Logística e gestão da cadeia de suprimentos2 Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 um perfil distinto daqueles que faziam encomendas. Dessa forma, o processo produtivo passou a contemplar dois tipos distintos de clientes: a) o cliente mais exigente e de maior poder aquisitivo que fazia encomendas e exigia exclusividade; b) o cliente que adquiria o produto no comércio, sem exclusividade obrigatória. Estabeleceu-se, então, [...] uma nova ordem nas relações nas cadeias produtivas; mas com o cresci- mento do mercado e da demanda, ela se mostrou insuficiente e logo se tornou necessário buscar formas mais eficientes de se produzir e de se interagir com o mercado (PIRES, 2013, p. 3). Nesse contexto de Revolução Industrial, a divisão do trabalho e a espe- cialização de tarefas permitiram que o volume da produção fosse aumentado, com melhoria da qualidade do produto e maior produtividade do trabalho. Paralelamente, a conjuntura econômica decorrente da Revolução Industrial instituiu a divisão da sociedade em termos de detentores do capital – donos dos recursos de produção – e de assalariados – os desprovidos dos meios de produção. Estes passaram a vender sua força de trabalho aos capitalistas. As transformações socioeconômicas decorrentes da Revolução Industrial, “ainda persistem e balizam muitas questões referentes à atual gestão da cadeia de suprimentos”, de acordo com Pires (2011, p. 4). A partir do século XX, a indústria automobilística se expandiu e revolucionou o mercado a partir da linha de montagem e da especialização do trabalho. Esse imenso avanço foi fruto do fordismo, movimento de produção que fomentou a produção em massa. De acordo com Pires (2011), o objetivo de Henry Ford era a produção de automóveis em grande escala, para garantir custos de produção mais baixos que possibilitariam preços mais acessíveis e competitivos. Nessa mesma época, surgiram os primeiros estudos de Frederick Winslow Taylor sobre a 3Logística e gestão da cadeia de suprimentos Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 administração científica, cujos princípios foram amplamente aplicados por Ford. Todavia, Ford não entendia a ótica do cliente e tinha resistência quanto à diversificação de seus produtos. Assim, a partir de 1925, a General Motors, sob o comando de Alfred Sloan, superou a Ford no contexto da produção de automóveis, ao partir de uma proposta de diversificação de seus produtos: Já se podia perceber na gestão de Sloan algumas preocupações bem atuais na Gestão da Cadeia de Suprimentos. Entre outros, podemos citar a neces- sidade de: - Ter foco e conhecer os números e detalhes dos mercados onde atuamos; - Construir relações colaborativas nas cadeias de suprimentos; - Ter foco no negócio principal (core business); - Ter relações baseadas em valores reais, independentes, por exemplo, do nível de parentesco entre as empresas; - Obter sinergia nas relações nas cadeias de suprimentos (PIRES, 2013, p. 7). Todavia, a diversificação de produtos acarretou em um aumento dos custos, um problema que o setor automobilístico não conseguiu superar até hoje. Durante o período da Segunda Guerra Mundial, a expansão logística se voltou às demandas militares. Entretanto, a partir do término da guerra em 1945, o mundo se defrontou com uma crescente demanda e com consumi- dores cada vez mais exigentes. Então, por volta das décadas de 1950-1960, as empresas passaram a se preocupar com a satisfação do cliente, segundo Nóbrega (2010, documento on-line), quando “surgiu o conceito de logística empresarial, motivado por uma nova atitude do consumidor. Os anos 1970 assistem à consolidação dos conceitos como o MRP (Material Requirements Planning)”, chamado de Planejamento das Necessidades Materiais (NÓ- BREGA, 2010, documento on-line). Foi entre as décadas de 1970-1980 que os japoneses surpreenderam o mundo com produtos de qualidade e baixo preço, conquista obtida com base no modelo de produção desenvolvido pela Toyota Motors, que ficou conhecido como Just In Time. O modelo era constituído por um conjunto de boas práticas e procedimentos, de acordo com Pires (2011): � avanços notáveis na redução dos tempos de montagem/configuração dos produtos, que permitiram redução nos volumes de itens em estoque; � fábricas com foco em um mix reduzido de produtos, o que reduzia a complexidade de gestão produtiva e permitia aos gestores direcionarem esforços para metas mais claras e objetivas; � produção puxada pelo sistema Kanban, cujo foco de produção era a demanda real: proporciona redução dos ciclos produtivos e aumenta Logística e gestão da cadeia de suprimentos4 Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 a responsabilidade/comprometimento com todos os elos da cadeia produtiva; � foco na racionalização e gestão dos processos logísticos direcionado especialmente à gestão dos estoques e ao transporte; � desenvolvimento e gestão de relacionamentos colaborativos com for- necedores, em que desenvolvimento e gestão de parceiras em contexto inovador possibilitaram subcontratações de serviços e componentes. Por volta dos anos 1990, o Just In Time já havia se tornado uma prática inerente à gestão de processos de produção. Por sua vez, o surgimento do sis- tema Planejamento dos Recursos da Empresa, do inglês Enterprise Resources Planning (ERP), com foco no controle e integração de todos os departamen- tos ao setor produtivo e logístico, marcou a década de 1980 (PAOLESCHI, 2011). Já a partir dos anos 1990, com a consolidação da internet e de outras tecnologias, o fluxo de produtos pôde ser repensado a partir de informações mais confiáveis. Conforme esclarecem Bowersox et al. (2013), a tecnologia da informação provocou grandes mudanças: durante a década de 1990, o surgi- mento de computadores pessoais e da internet possibilitaram rápido acesso à informação. A internet se tornou comum e econômica para realizar transações e colocou o consumidor em contato direto com as empresas. Figueiredo, Fleury e Wanke (2013, p. 32) abordaram essa questão, ao expor que: [...] o acesso em tempo real às necessidades dos clientes ou consumidores finais poderia levar à criação de um canal de distribuição direto, não havendo mais intermediários entre clientes e fornecedores. A partir de então, “surgiram outros sistemas para agregar valor aos recursos da empresa, seus fornecedores e clientes. Entre eles, o Gerenciamento da cadeia de Suprimentos e a Cadeia do Consumidor, do inglês demand chain (DM)”, anunciou Paoleschi (2011, p. 18). Nesse novo cenário, a logística se ocupou de questões estratégicas da cadeia produtiva, ao alcançar novo patamar no âmbito das organizações: a logística, “nessa última etapa do desenvolvimento (...), é identificada como a última fronteira empresarial para exploração das vantagens competitivas”, conforme evoca Pozo (2015, p. 8). 5Logística e gestão da cadeia de suprimentosIdentificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 Mudanças na cadeia de suprimentos O novo enfoque que a logística assumiu nas organizações, de acordo com Bowersox et al. (2013, p. 4), é “a revolução da cadeia de suprimentos e o consequente renascimento logístico” no mundo dos negócios. Apesar de a cadeia de suprimentos e a logística serem imbricadamente inter-relacionadas no campo estratégico, elas são distintas: a cadeia de suprimentos trata da parceria entre empresas com vista à aquisição de vantagens competitivas; a logística é a logística é um subconjunto da cadeia de suprimentos e relacionada ao transporte e o posicionamento geográfico dos estoques, segundo Bowersox et al. (2013). Os autores também mencionam que “na era da informação, a realidade de conectividade de negócios continua a impulsionar uma nova ordem de relacionamentos denominada gestão da cadeia de suprimentos” (BOWERSOX et al., 2013, p. 3). Uma análise do conceito de cadeia de suprimentos possibilita a identificação de uma série de novos elementos que caracterizam essa “revolução”, dentre os quais se destacam: � a constituição de novos arranjos comerciais visa alavancar a competitividade; � uma rede eficaz de relações comerciais permite melhorar a produtividade do trabalho, ao eliminar o retrabalho e a improdutividade; � a prática tradicional dos canais de distribuição passou por uma revi- são para obter/ampliar os benefícios decorrentes da especialização e da economia em escala. A partir de relacionamentos comerciais, as empresas se associaram a fim de realizar atividades essenciais em conjunto. O trabalho em conjunto com outras as empresas, sob essa nova ótica estratégica, se apresenta como a melhor forma de garantir a perpetuação dos negócios; � a criação dos canais de marketing, também conhecidos como canais de distribuição, são consequência da alta dependência criada entre as empresas. Devido à diversidade de negócios trabalhados em rede, uma definição das atribuições de cada elo do negócio se tornou necessária: aspectos como liderança do processo, grau de compromisso com a cooperação entre os participantes e resolução de conflitos precisavam ser pensados de forma integrada e colaborativa. A fim de compreender a revolução da cadeia de suprimentos, é necessário ter em mente, sobretudo, que esse movimento pressupõe uma visão dife- Logística e gestão da cadeia de suprimentos6 Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 renciada de gestão: é absolutamente nova visão de que parcerias e cadeias produtivas integradas podem ser mais rentáveis do que uma integração interna verticalizada. Elas também podem proporcionar diferenciais mais atraentes em mercados muito competitivos. Ou seja, a alta competitividade levou à cooperação e possibilitou que todos ganhassem, já que cada elo da cadeia de suprimento agrega valor ao produto de forma diferenciada. A cadeia de suprimentos e a geração de valor Para Porter (1989), denomina-se valor o que os clientes pagam às empresas pelos bens e serviços oferecidos. Esse é um conceito relativo, uma vez que está associado a um critério subjetivo de utilidade: a percepção de utilidade varia de pessoa para pessoa. Simchi-Levi e Kaminsky (2010, p. 434) esclarecem que, para o cliente, valor é “a maneira com que ele percebe tudo o que uma empresa oferece, incluindo produtos, serviços e outros intangíveis”. Bowersox et al. (2013, p. 6) também expõem essa ideia: “para explicar os benefícios e desafios básicos da gestão integrada, é importante observar que os clientes têm no mínimo três perspectivas de valor”: valor econômico, valor de mercado e relevância. No que se refere a valor econômico, o cliente busca maior qualidade pelo menor preço, o que pode ser proporcionado a eles a partir da produção em escala. Já a perspectiva de valor de mercado considera o conveniente acesso a grande variedade de produtos e serviços e a possibilidade de escolha frente a grande variedade de opções. Assim, conforme explicam Bowersox et al. (2013, p. 6), as empresas precisam disponibilizar ao cliente: [...] uma variedade de produtos no momento e no lugar certos para atingir a eficácia, e concentrar-se em obter economia de escopo na apresentação dos produtos/serviços. A criação de shopping centers com diversas lojas, lojas com marketing de massa em grande escala e operações de comércio eletrô- nico com diversos fornecedores são iniciativas para obter valor de mercado. Finalmente, o chamado valor de relevância significa que as empresas estão percebendo o que é cada vez mais importante para o cliente: a exclusividade. O exigente cliente do século XXI deseja produtos e serviços e exclusivos, de qualidade, a preço baixo e de fácil acesso. Nesse ponto, cabe às empresas customizar seus produtos e serviços de forma a agregar-lhes valor. Assim, 7Logística e gestão da cadeia de suprimentos Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 consumi-los exercerá uma diferença real ao cliente. Bowersox et al. (2013, p. 6) partilham de sua percepção do conceito de valor de relevância: O valor de relevância significa os bens e serviços certos, refletidos pelo valor de mercado, a um preço justo, como demonstrado pelo valor econômico, mo- dificados, sequenciados, sincronizados e posicionados de forma a criar uma diversidade valiosa. Para um consumidor, por exemplo, relevância significa transformar ingredientes em refeições prontas para comer. No varejo de pro- dutos em geral, também significa transformar produtos em roupas da moda. Já na manufatura e na montagem, a relevância é alcançada pela integração de componentes específicos para criar produtos que aumentem a funcionalidade desejada por um cliente em particular. Ao combinar essas três perspectivas de valor dos clientes, as empresas constituem a conhecida “proposição de valores da gestão integrada”, conforme apresentado no Quadro 1. Fonte: Adaptado de Bowersox et al. (2013, p. 6). Valor econômico Valor de mercado Valor de relevância Menor custo total Variedade atraente Customização Eficiência da economia em escala Eficácia da economia de escopo Diversidade segmental Criação de bens e serviços Apresentação de bens e serviços Posicionamento de bens e serviços Estratégia de suprimento/ manufatura Estratégia de mercado/manufatura Estratégia da cadeia de suprimentos Quadro 1. Proposição de valores da gestão integrada. Simchi-Levi e Kaminsky (2010, p. 452) relatam que: A geração de valor é a força motriz por trás das metas de uma empresa, e a Gestão da Cadeia de Suprimentos é um dos meios importantes para consolidá- -la. A estratégia da cadeia de suprimentos afeta o valor para o cliente. Seus objetos de interesse influenciam cada um dos aspectos do valor para o cliente Logística e gestão da cadeia de suprimentos8 Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 e precisam fazer parte de qualquer estratégia ou plano, não uma consideração posterior. É importante escolher a estratégia apropriada para relacionar o valor para o cliente ao mercado da companhia. A excelência na Gestão da Cadeia de Suprimentos se traduz em valor para o cliente em diversas dimensões, desde a disponibilidade e seleção, até a influência no preço em que um dado produto pode ser comercializado. Com base no exposto pelos autores acima, gerar valor ao cliente implica em se conhecê-lo, saber quais são seus gostos e preferências, o que exige um sistema de informações bem estruturado. O que é economia de escala e economia de escopo? Conforme Ladeia (2017, documento on-line), “economia de escala é um conceito econômico cujo significado é a possibilidade de reduzir o custo médio de determinado produto pela diluição dos custos fixos em um número maior de unidades produzidas”. Já de acordo com Pindyck e Rubinfeld (1992, p. 222 apud SZWARCFITER; DALCOL, 1997, p. 122), “economia de escopo está presente quando a produção conjunta de uma única firma é maior do que a produçãoque poderia ser obtida por duas firmas diferentes, cada uma produzindo um único produto”. A funcionalidade do sistema de informação da cadeia de suprimentos Para Bowersox et al. (2013, p. 7): [...] a estrutura e a estratégia da cadeia de suprimentos resultam de esforços para alinhar operacionalmente uma empresa com os clientes e com as redes de apoio de distribuidores e fornecedores, a fim de obter vantagem competitiva. Dessa forma, a integração à geração de valor envolve “desde a compra de matéria-prima até a entrega do produto e/ou serviço ao cliente final, para garantir eficácia, eficiência, relevância e sustentabilidade” (BOWERSOX et al., 2013, p. 7). 9Logística e gestão da cadeia de suprimentos Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 A estrutura da cadeia de suprimentos é apresentada na Figura 1. Figura 1. Estrutura da cadeia de suprimentos integrada. Fonte: Adaptada de Bowersox et al. (2013, p. 7). Já conforme o entendimento de Akkermans et al. (2003 apud PRADELLA; SILVA, 2005, p. 2), a cadeia de suprimentos envolve três fluxos distintos: Fluxo de material: representa o fluxo físico de produtos vindo dos fornecedo- res para os consumidores, bem como o fluxo reverso de retorno de produtos provenientes de serviços de reparo, garantia e reciclagem. Fluxo de informa- ções: representa a transmissão do pedido e o rastreamento do mesmo, o qual coordena o fluxo físico dos produtos. Fluxos financeiros: são representados os termos de crédito, cronogramas de pagamento e arranjos de propriedade e consignação. A partir do exposto, conclui-se que a gestão da cadeia de suprimentos engloba transporte e armazenagem de cargas e fluxo de informações (que vai desde a produção até consumo), o que confere à gestão da cadeia de suprimentos integrada uma complexidade ainda maior. Tal complexidade da Logística e gestão da cadeia de suprimentos10 Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 gestão da cadeia de suprimentos pode ser amenizada pelo uso da tecnologia da informação, como expõe Baldwin (2001 apud NOGUEIRA, 2012, p. 2): A operação logística incorpora a tecnologia de informação como base para a movimentação e o armazenamento dos bens e serviços com o fluxo de informação, que precisam ser associados do início ao término da cadeia de suprimentos. Para Pires (2011), a gestão da cadeia de suprimentos se relaciona diretamente à confiabilidade do fluxo de informações entre fornecedores e clientes. Em consonância com Nogueira (2012), a tecnologia da informação é essencial no aprimoramento da excelência das operações logísticas, visto que hoje, por exemplo, é possível rastrear o movimento dos materiais eficientemente e em tempo real, em função da tecnologia da informação, quer em termos de quantidade, quer em termos de localização ou posição no estoque. Para Bowersox et al. (2013), a tecnologia da informação possibilita a gestão da cadeia de suprimentos mais facilmente: sistemas permitem iniciar e rastrear informações sobre processos, facilitam o compartilhamento de informações interna e externamente à empresa e auxiliam no processo decisório. Para justificar o fato de a informação oportuna e qualificada se tornar essencial nas operações de sistemas logísticos, quatro motivos são apontados pelos autores aqui citados: a) a informação adequada permite aos clientes, em tempo real, acesso à informação sobre situação do pedido, disponibilidade de produtos, rastreamento da entrega e faturamento; b) a informação adequada permite redução de itens em estoque e, por consequência, de recursos humanos no processo produtivo; c) a informação adequada confere flexibilidade com relação a como, quando e onde os recursos podem ser aplicados para possibilitar o desenvolvimento de vantagens competitivas; d) a troca de informações via web facilita a colaboração e redefine os relacionamentos na cadeia de suprimentos, à medida que aproxima mercados globais como se fossem locais. 11Logística e gestão da cadeia de suprimentos Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 Os sistemas integrados de gestão empresarial, do inglês enterprise resource planning (ERP), “fornecem rastreamento e visibilidade global da informação de qualquer parte da empresa e de sua cadeia de suprimento” (PAOLESCHI, 2011, p. 18). Nesse sentido, os sistemas ERP da cadeia de suprimentos formam o elo que integra as atividades da cadeia de suprimentos, a exemplo do uso da tecnologia da informação na gestão da cadeia de suprimentos: a leitora de código de barras possibilita, tanto aos atacadistas como aos varejistas, verificar quais produtos demandam novas compras ou quais não estão tendo a demanda esperada e coletar informações em tempo real, para definir a posição de estocagem dos produtos nas prateleiras. Os sistemas de informação que promovem integração da cadeia de su- primentos estão embasados em quatro níveis de funcionalidade: sistemas de transações, controle administrativo, análise de decisões e planejamento estratégico (BOWERSOX et al., 2013). Os autores salientam que cada um desses sistemas possui as seguintes atribuições específicas: 1. Os sistemas de transações são responsáveis por: � gerenciamento de pedidos; � separação de pedidos; � preços e faturamento; � alocação de estoque; � expedição; � informações aos clientes. 2. Cabe aos sistemas de controle administrativos: � monitoramento financeiro, de custos e de ativos; � medição do serviço ao cliente; � medição da produtividade; � medição da qualidade. 3. Compete aos sistemas de análise e decisões: � programação de frota e roteirização; � níveis e gerenciamento de estoque; � localização e integração das instalações/rede; � análise de decisões; � integração vertical versus terceirização. 4. O planejamento estratégico, último nível do sistema, se ocupa de: � formulação de alianças estratégicas; � desenvolvimento e aperfeiçoamento de competências e oportunidades; � análise de serviço ao cliente. Logística e gestão da cadeia de suprimentos12 Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 Portanto, foco do Planejamento Estratégico é o mesmo que avaliação e refinamento da estratégia delineada para a cadeia de suprimentos a partir das informações geradas pelos sistemas citados acima. Por sua vez, os autores Simchi-Levi e Kaminsky (2010, p. 486) apontam que o principal objetivo da tecnologia da informação na cadeia de suprimentos “é formar um elo invisível entre ponto de produção e o ponto de entrega ou compra. A ideia é ter disponível um percurso de informação que acompanhe o percurso do produto”. A logística e a cadeia de suprimentos como ferramenta estratégica A logística é um processo que gerencia a movimentação e a armazenagem dos produtos e dos materiais de uma forma que permita um fluxo coordenado de atividades de fornecimento, de produção, de distribuição, além de informa- ções. Assim, é possível situá-la como uma estratégia de manufatura que está alinhada estrategicamente com todo o sistema organizacional (STOCK, GREIS E KASARDA, 1998). Entretanto, a utilização da logística como ferramenta estratégica pressupõe seu alinhamento com as estratégias da empresa como um todo, e não apenas com alguma parte específica de atuação do negócio. Para Bowersox e Closs (1996) as funções da logística podem ser percebidas como componentes combinados e nomeados conforme as áreas operacionais da empresa: compras, fabricação e distribuição física. A Figura 2 apresenta o processo, demonstrando que ele pode ser entendido em uma perspectiva de inter-relação dos fluxos de materiais e de informações. Todas estas áreas em conjunto e adequadamente relacionadas garantem a administração integrada de materiais, produtos semiacabados e produtos finais, que se movimentam entre as instalações, fontes de fornecimento e clientes da empresa. As decisões logísticas são interdependentes, de modo que as decisões tomadas em qualquer nível terão impacto nos outros (DIDONET;OLIVEIRA; ROCHA, 2002). 13Logística e gestão da cadeia de suprimentos Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 Figura 2. O sistema logístico. Fonte: Bowersox e Closs (1996) apud Didonet, Oliveira e Rocha (2002, documento on-line). Ao se discutir gerenciamento estratégico, é importante compreender em que contexto do ambiente estratégico a logística e a cadeia de suprimentos se inserem. O gerenciamento estratégico da logística tem sido um dos caminhos adotados pelas organizações frente ao ambiente altamente competitivo. Na pesquisa realizada por DIDONET, OLIVEIRA e ROCHA (2002), é possível identificar algumas ações e a sua relação com as diferentes formas de estratégias. Observe a Figura 3. Figura 3. Estratégias organizacionais e estratégicas logísticas. Fonte: Didonet, Oliveira e Rocha (2002, documento on-line). A produtividade e a eficiência podem ter um considerável aumento em função do gerenciamento logístico, parte importante da cadeia de suprimen- tos que pode auxiliar de diversas formas. Desse modo, a redução dos custos Logística e gestão da cadeia de suprimentos14 Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 unitários passa a ser uma consequência natural, que se reflete no desempenho geral da empresa e demonstra que a logística está inserida nas estratégias organizacionais capazes de trazer vantagens competitivas para a empresa. Ela deve passar a ser vista como uma conexão entre o mercado e a atividade operacional da empresa, uma vez que toda a organização sofre a influência de sua ação, desde o gerenciamento de matérias-primas até a entrega do produto final. O adequado gerenciamento da cadeia de suprimentos e da logística é um sistema por meio do qual os clientes têm suas necessidades satisfeitas e está baseado na coordenação de fluxos de informações e de materiais que vão do mercado à empresa, às suas operações e aos fornecedores. Claramente, o gerenciamento logístico envolve um grande número de decisões que, inevita- velmente, afetarão os três níveis de estratégia de uma organização. BOWERSOX, D. J.; CLOSS D. J. Logistical management: the integrated supply chain process. 3. ed. New York: McGraw-Hill, 1996. BOWERSOX, D. J. et al. Gestão logística da cadeia de suprimentos. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. DIDONET, S.; OLIVEIRA, L. C.; ROCHA, R. A Utilização da logística como ferramenta estratégica: o caminho seguido e os resultados obtidos por uma empresa gaúcha do segmento metal-mecânico. In: ENCONTRO DA ANPAD, 16.,2002, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: ANPAD, 2002. Disponível em http://www.anpad.org.br/admin/pdf/ enanpad2002-gol-791.pdf. Acesso em: 6 jul. 2020. FIGUEIREDO, K. F.; FLEURY, P. F.; WANKE, P. (Orgs.). Logística e gerenciamento da cadeia de suprimentos: planejamento do fluxo de produtos e dos recursos. São Paulo: Atlas, 2013. LADEIA, R. Economia de escala: afinal que bicho é esse? Administradores: o Portal da Administração, João Pessoa, 18 jun. 2017. Disponível em: . Acesso em: 22 maio 2018. NÓBREGA, T. R. História da logística. Administradores: o Portal da Administração, João Pessoa, 8 dez. 2010. Disponível em: . Acesso em: 22 maio 2018. 15Logística e gestão da cadeia de suprimentos Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 NOGUEIRA, A. S. Logística empresarial: uma visão local com pensamento globalizado. São Paulo, Atlas, 2012. PAOLESCHI, B. Logística industrial integrada. São Paulo: Érica, 2011. PIRES, S. R. I. Gestão da cadeia de suprimentos: conceitos, estratégias, práticas e casos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011. PORTER, M. E. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. 19. ed. Rio de Janeiro: Elsevier: 1989. POZO, H. Logística e gerenciamento da cadeia de suprimentos: um enfoque para os cursos superiores de tecnologia. São Paulo: Atlas, 2015. PRADELLA, C. A.; SILVA, W. R. A evolução das cadeias de suprimentos e a contribui- ção do sistema ERP. Revista Gestão Industrial, Curitiba, v. 1, n. 2, p. 1-17, abr.-jun. 2005. Disponível em: . Acesso em: 22 maio 2018. SIMCHI-LEVI, D.; KAMINSKY, P.; SIMCHI-LEVI; E. Cadeia de suprimentos: projeto e gestão. Porto Alegre: Bookman, 2010. STOCK, G. N.; GREIS, N. P.; KASARDA, J. D. Logistics, strategy and structure: a conceptual framework. International Journal of Physical Distribution & Logistics Management, v. 18, n. 1, p. 37-52, 1998. SZWARCFITER, C.; DALCOL, P. R. T. Economias de escala e de escopo: desmis- tificando alguns aspectos da transição. Produção, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 117-129, dez. 1997. Disponível em: . Acesso em: 22 maio 2018. Leituras recomendadas CORONADO, O. Logística integrada. São Paulo: Atlas, 2013. CORRÊA, H. L. Administração de cadeias de suprimento e logística: o essencial. São Paulo: Atlas, 2014. WANKE, P. F. Estratégia logística em empresas brasileiras: um enfoque em produtos acabados. São Paulo: Atlas, 2010. Logística e gestão da cadeia de suprimentos16 Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 Catalogação na publicação: Júlia Angst Coelho – CRB 10/1712 B193g Ballou, Ronald H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial / Ronald H. Ballou ; tradução Raul Rubenich. – 5. ed. – Porto Alegre : Bookman, 2006. 616 p. ; 28 cm. ISBN 978-85-363-0591-2 1. Logística Empresarial. 2. Administração – Material – Logística. I. Título. CDU 658.7 _Ballou-Ronald_00_Iniciais 4/14/08 12:44 PM Page ii CAPÍTULO 15 • ORGANIZAÇÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS/LOGÍSTICA 559 ALIANÇAS E TERCEIRIZAÇÃO Há empresas que, em vez de serem proprietárias da ca- pacidade logística total ou de uma estrutura organiza- cional logística de grande porte, ou, ainda, em vez de fa- zerem acordos com outras empresas sem qualquer outro critério além daquele da exigência ocasional, preferem compartilhar suas capacidades logísticas com outras companhias, ou contratar atividades logísticas de em- presas especializadas no provimento de tais serviços, as chamadas terceirizadas. Muitas vêm reconhecendo a existência de vantagens estratégicas e operacionais nes- sa terceirização da logística. Entre esses benefícios po- demos citar: • custos reduzidos e menores investimentos de ca- pital • acesso a tecnologias novas e a habilidades geren- ciais • vantagens competitivas como a crescente pene- tração no mercado • acesso incrementado à informação útil para o planejamento • redução dos riscos e incertezas De todas essas vantagens, a redução potencial dos custos de transporte/distribuição e a liberação do ní- vel de investimentos em áreas não centrais do negó- cio são as principais, vindo a seguir uma correspon- dente redução de pessoal. O risco maior para a em- presa é a perda de controle sobre atividades logísticas com prejuízos capazes de anular as vantagens ante- riormente relacionadas. A verdade é que, até certo ponto, as empresas vêm há muitos anos terceirizando parte de suas atividades lo- gísticas. Cada vez que uma empresa recorre a uma UPS ou outro transportador não exclusivo, ou cada vez que usa um armazém público para estocar seus produtos, o que ela está fazendo é uma parceria com uma empresa externa para desenvolver uma parte das atividades da cadeia de suprimentos. A extensão desse relacionamen- to empresa/parceiros externos é apenas uma questão de grau. O relacionamento pode basear-se desde eventos isolados até contratos de longo prazo para sistemas compartilhados de uma aliança estratégica. Este contí- nuo da relação terceirizada é ilustrado na Figura 15-8. Exemplos A terceirização e os acordos com outras empresas em matéria de atividades logísticas são práticas relativa- mente comuns. Analise algumas das oportunidades paraa redução dos custos logísticos em diversas si- tuações: • O MetroHealth, hospital comunitário de mil leitos, mantém uma frota de vans e os corres- pondentes motoristas para o transporte de pa- cientes de e para o seu complexo hospitalar pa- ra consultas marcadas, realização de exames e tratamentos. A utilização dos veículos e dos motoristas é baixa, raramente superando 50% do tempo disponível em um dia de trabalho. Levando em consideração as pressões dos cus- tos do sistema de saúde, estabelecer parcerias com outras áreas hospitalares para a utilização desta capacidade de transporte, mantendo ao mesmo tempo o necessário nível de serviço de 14 Bernard J. LaLonde, “Building a Supply Chain Relationship”, Supply Chain Management Review, Vol. 2, nº 2 (Fall 1998), págs. 7-8. _Ballou/Ronald_15 18.09.06 13:18 Page 559 560 PARTE VI • ORGANIZAÇÃO E CONTROLE transporte na região determinada, é uma medi- da de bom senso econômico, uma vez que os territórios dos serviços hospitalares normal- mente se superpõem. A duplicação dos siste- mas de transporte pode ser assim evitada. • Uma empresa de produtos farmacêuticos es- tava construindo um novo armazém destinado a suprir suas necessidades de espaço ao longo de um considerável intervalo de tempo no fu- turo. O armazém foi calculado para suprir os futuros picos de capacidade, e o temor de per- der controle sobre os estoques impedia a em- presa de buscar espaço alternativo durante os anos daquele interregno. Encontrar parcerias para compartilhar o espaço pelo tempo neces- sário até a empresa chegar realmente ao está- gio de retomar aquele espaço agora sobrando significaria poupar as despesas relativas àque- la capacidade excedente. Os parceiros, por seu lado, poderiam contratar o espaço por ta- rifas de aluguel, bem menores do que as ofe- recidas por armazenagem pública ou alterna- tivas disponíveis. • A Abbott Laboratories e a 3M consolidaram suas funções de recebimento de pedidos e dis- tribuição visando à obtenção de aperfeiçoa- mentos em matéria de aquisições, manuseio de materiais e controle de estoques. As duas em- presas formaram uma aliança destinada a per- mitir que os hospitais recebessem suprimentos de ambas as empresas por meio de uma entre- ga única. A aliança funciona adequadamente porque elas não são concorrentes em tempo in- tegral. O relacionamento também lhes propor- cionou economias mútuas em custos de marke- ting e distribuição. A IBM Information Net- work passou a fazer parte dessa aliança para capitalizar a crescente demanda de serviços de distribuição on-line. A melhoria do gerencia- mento da cadeia de suprimentos e a melhoria nos serviços para fornecedores menores são al- guns dos benefícios proporcionados por essa aliança.15 Decidir se é melhor realizar a função logística inter- namente ou buscar outras modalidades depende de um equilíbrio entre dois fatores: qual é a importância da lo- gística para o sucesso da firma e quão competente é es- sa empresa no gerenciamento da função logística. Co- mo mostra a Figura 15-9, a estratégia a ser seguida de- pende da posição em que a própria empresa se situa. A empresa caracterizada por altos padrões de servi- ço ao cliente, custos logísticos representando uma pro- porção significativa dos custos totais e uma operação lo- gística eficiente, administrada por pessoal competente, não terá benefício algum se vier a delegar ou terceirizar suas atividades logísticas. As atividades logísticas são mais bem executadas na própria empresa. A Wal-Mart é uma empresa que, em razão de seu canal de suprimen- tos de qualidade superior, possui essas características. Por outro lado, para a empresa em que a logística não chega a fazer parte central da estratégia e que não dá su- porte à consecução de um alto grau de eficiência logís- tica em seus próprios domínios, a terceirização das ati- FIGURA 15-8 O contínuo da relação terceirizada. A um en to d a co m pl ex id ad e, r ed uç ão d a oc or rê nc ia TRANSAÇÕES LOGÍSTICAS Aliança Estratégica A relação planejada em que cada uma das partes tem necessidades que a outra pode suprir, e em que ambas as empresas compartilham valores, metas e estratégias corporativas de benefícios mútuos. Contratos Logísticos Uma relação especificamente definida, orientada por contrato e dependente do cumprimento, pelo fornecedor, das metas de desempenho definidas pelo embarcador. Transações Logísticas Um relacionamento decorrente de um evento isolado, ou de uma série de eventos isolados. ALIANÇA ESTRATÉGICA CONTRATOS LOGÍSTICOS 15 E. J. Muller, “The Coming of the Corporate Aliance”, Distribution, Vol. 87, nº 8 (August 1988), págs. 82-84. _Ballou/Ronald_15 18.09.06 13:18 Page 560 CAPÍTULO 15 • ORGANIZAÇÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS/LOGÍSTICA 561 vidades logísticas pode conduzir a significativas redu- ções de custos e melhorias no serviço ao cliente. A Dell Computer considera que suas competências essenciais estão na produção e venda direta de PCs a empresas e clientes individuais, não na logística. Por isso mesmo, contrata e terceiriza para organizações especializadas em logística a coordenação da distribuição dos seus pro- dutos nas diversas áreas geográficas em que atua. Sempre que a logística é fundamental para a estra- tégia, mas a competência logística da administração é reduzida, encontrar uma empresa e com ela associar-se em termos favoráveis para a realização dessas ativida- des é uma ação com potencial para bons dividendos. Um sócio forte pode proporcionar instalações localiza- das em mercados novos e nos existentes, uma capacida- de de transporte e especialização administrativa inexis- tentes na primeira companhia. Pelo contrário, quando a logística não tem importância demasiada para a estraté- gia mas é conduzida por pessoal competente, os geren- tes podem atuar agressivamente assumindo a liderança na busca de sócios dispostos a compartilhar o sistema logística, com isto reduzindo os custos da empresa por meio do aumento do volume e das resultantes econo- mias de escala. Os sócios-alvo seriam as empresas si- tuadas no quadrante noroeste da Figura 15-9. Alianças É perfeitamente compreensível que uma empresa que investiu pesadamente em equipamento de transporte, armazéns, estoques, sistemas de processamento de pe- didos, tecnologia logística e pessoal administrativo pas- se a se questionar se esse investimento não poderia ser compartilhado com outras companhias, como uma mo- dalidade de redução dos seus próprios custos. Em senti- do contrário, tendo perfeito entendimento dos altos cus- tos da logística, uma empresa pode tentar associar-se com outra que tenha, e esteja disposta a compartilhar, capacidade logística excedente, localizações estratégi- cas de instalações para os mercados, tecnologia desejá- vel e habilidades administrativas superiores. Claro, a empresa poderá contar com certas habilidades e capaci- dades que outras organizações gostariam de comparti- lhar. Criar uma aliança ou parceria pode beneficiar a ambas as partes. A empresa que não tenha grande pre- tensão no sentido de construir um alto grau de compe- tência gerencial em logística pode também buscar alian- ça com um sócio forte em logística a fim de consolidar sua própria posição competitiva. Uma aliança logística é baseada na confiança, um compartilhamento de informação que facilita o desem- penho logístico, objetivos específicos para atingir um nível de desempenho logístico melhor do que aquele viável de ser alcançado independentemente, regras ope- racionais para cada um dos sócios e provisões de saída relativas a um eventual encerramento da aliança. Os be- nefícios a serem extraídos de uma aliança logística já foram devidamente destacados. Sendo tais benefícios assim tão óbvios, qual a razão do escasso número de alianças desse tipo? A resposta pode estar nas preocupa- ções que um potencial sócio sente a respeito da aliança quando surge a necessidade de fundir os respectivos ca- nais de suprimentos. É uma lista grande de preocupa- ções, das quais destacamos: