Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CONCEITO DE GOVERNANÇA GLOBAL: PROBLEMA DA REFORMA DAS NAÇÕES UNIDAS Ronize Aline Matos de Abreu Antes de começar a falar sobre Governança Global é preciso entender como este conceito vem sendo utilizado. A Comissão sobre Governança Global da ONU define Governança como “ a soma das várias maneiras de indivíduos e instituições, público e privado, administrarem seus assuntos comuns. É um processo contínuo por meio do qual conflito ou interesses diversos podem ser acomodados e a ação cooperativa tem lugar...No nível global, Governança era vista primeiramente como sendo apenas as relações intergovernamentais, mas hoje já pode ser entendida como envolvendo organizações não-governamentais, movimentos de cidadãos, corporações multinacionais e o mercado de capitais global.” Harold Jacobson nota que, à medida que o século 21 se aproxima, há uma necessidade desesperada de colocar em prática o que se sabe sobre Governança Global. Até porque, segundo ele, os problemas que surgem e que irão requerer atenção no próximo século tendem a ser diferentes daqueles que dominaram a agenda internacional desde o século 17. Até o final dos anos 80, o termo Governança Global não era um termo usual. Com o fim da Guerra Fria é que, juntamente com o crescente interesse mundial no processo de democratização, emergiu também uma preocupação com as instituições e com a questão da governança. Os estudiosos começaram a ver governança como uma condição necessária para reformas efetivas e também servindo a uma nova retórica sobre participação e responsabilidade democráticas. Uma definição estreita de governança é a de que esta seria simplesmente um gerenciamento de boa qualidade. Já uma definição mais ampla faz relação com um conceito ampliado de governo. Oran Young, por exemplo, define governança como o estabelecimento e a operacionalização de regras e do próprio jogo que servem para definir práticas sociais, determinar papéis e orientar interações. A governança, mesmo em nível global, necessita de liderança. A Comissão de Governança da ONU salienta que essa liderança pode vir em diversas formas: governos, sozinhos ou em grupos, podem perseguir grandes objetivos; indivíduos podem colocar sua reputação em favor da inovação internacional; e organizações internacionais podem favorecer o surgimento de atores que exerçam esse papel. Porém, a Comissão não vê liderança apenas entre pessoas dos mais altos níveis nacional e internacional. Essas lideranças podem estar em qualquer nível: grupos locais ou nacionais; parlamentos e classes profissionais; entre cientistas e escritores; em pequenos grupos da comunidade ou em organizações não governamentais de escala nacional; em órgãos internacionais de qualquer caráter; em comunidades religiosas e entre professores; em partidos políticos e em movimentos de cidadãos; no setor privado, entre corporações transnacionais e na mídia. O grande desafio da liderança hoje, segundo a Comissão, é harmonizar demandas domésticas de ação nacional e a compulsão de cooperação internacional. A cooperação internacional dentro de um campo específico ou de uma forma mais ampla são a razão de ser das organizações internacionais. Mecanismos de caráter multilateral, as organizações internacionais são definidas como arranjos formais, transcendendo as fronteiras nacionais, que proporcionam o estabelecimento de um mecanismo institucional para facilitar a cooperação entre seus membros nos campos da segurança, econômica, social ou afins. As primeiras instituições internacionais de cooperação voluntária entre Estados começaram a surgir, da forma como conhecemos hoje, no século 19, principalmente após 1850. As pioneiras foram as várias comissões internacionais de rios da Europa, a União Telegráfica Internacional, criada em 1865, e a União Postal Internacional, iniciada em 1874. Esses órgãos internacionais do século 19 voltados para a cooperação em áreas específicas e de caráter não-político deixaram legados organizacionais observados até hoje. O Escritório da União Telegráfica Internacional, estabelecido em 1868, por exemplo, foi o protótipo do Secretariado - peça fundamental de qualquer organização internacional moderna. As uniões públicas internacionais introduziram a dicotomia entre a conferência política geral de todos os Estados Membros e o conselho, que consiste de representantes de poucos membros selecionados e funciona como um diretório político em interesse da organização nos intervalos entre as conferências gerais. As organizações internacionais apresentam três características fundamentais para serem consideradas como tais: reuniões regulares dos representantes de seus membros, procedimentos específicos de tomada de decisão e existência de um aparato burocrático permanente. Esta última característica é necessária para que organizações não sejam confundidas com regimes internacionais - visto que as outras duas são comuns aos dois conceitos. As organizações internacionais podem ser divididas em três categorias: intergovernamentais, que são as criadas por acordos entre governos e cujos membros são os Estados; não governamentais, que não são criadas por acordos entre governos e cujos membros são grupos ou indivíduos e normalmente elas têm caráter consultivo junto às intergovernamentais; e transnacionais, que são dirigidas de forma centralizada por burocracias não governamentais, ultrapassam as fronteiras nacionais e não necessariamente apresentam caráter representativo - o que significa que não trabalham com demandas sociais. O melhor exemplo desta última categoria são as empresas multinacionais. Críticos do papel das organizações internacionais argumentam que o crescimento destas significaria a emergência de entidades superiores com autoridade e capacidade efetiva para regular, direcionar e restringir o comportamento dos governos, chegando mesmo a suplantá-los. No entanto, a organização internacional não é um movimento contra os Estados e sim o desenvolvimento de agências que visam, justamente, ao aperfeiçoamento do sistema de Estados, fornecendo instrumentais para que possam administrar melhor as suas relações. A criação de organizações internacionais pode ser compreendida como uma resposta à necessidade de cooperação funcional. Ou seja, são detectadas necessidades de cooperação em áreas específicas de competência e, a partir daí, cria-se um mecanismo institucionalizado por meio do qual os atores envolvidos irão interagir. O desenvolvimento da cooperação funcional, seja no campo econômico ou social, é considerado pelo pensamento funcionalista um pré-requisito para a solução de conflitos políticos e, conseqüentemente, para a eliminação da guerra. Partindo do princípio de que o problema do nosso tempo não é manter as nações afastadas em paz e sim descobrir de que forma fazê-las atuar juntas, David Mitrany desenvolveu o conceito de working peace. Para o autor, uma paz mundial é mais provável de ser alcançada se for uma paz trabalhada, ou seja, a sociedade mundial realizando coisas conjuntamente em workshops e outros ambientes; do que se for uma paz protegida - a paz dos pactos assinados em chancelarias. A lógica desse pensamento é a da transferência e expansão: tendo aprendido a desenvolver uma cooperação frutífera nos níveis técnico e econômico, os atores, muito provavelmente, irão transferir suas novas capacidades e formas de pensar para o desenvolvimento de soluções cooperativas nos níveis políticos mais altos. O conceito utilizado é o de spill- over, onde as tarefas mais fáceis devem ser enfrentadasprimeiro e o resultado da cooperação transborda para outras tarefas mais complicadas. Isso porque as áreas econômica e social são consideradas mais fáceis e a área política, a mais complicada para o desenvolvimento de um comportamento cooperativo. Essa visão funcionalista atribui o fenômeno da guerra à inadeqüação do sistema de Estados nacionais que, ao impor um modelo arbitrário e rígido de divisões verticais, divide o mundo em segmentos separados e guardados por suas respectivas soberanias. Esses Estados soberanos, não sendo capazes de resolver problemas fundamentais, também não se dispõem a permitir que estes sejam resolvidos por outras autoridades. A solução para problemas sociais e econômicos, essencial para tornar a paz possível, pode ser alcançada, então, por agências cuja área de competência seja a mesma do problema a resolver - e, muito raramente, a área de capacitação dessas agências encontra-se limitada por fronteiras nacionais. Os teóricos dessa visão não atacam o Estado frontalmente, apenas tentam resolver o que, para eles, são problemas resultantes do nacionalismo e da soberania que envolvem esses Estados. Eles não defendem, necessariamente, uma transferência de soberania, apesar de acharem que as fronteiras nacionais deveriam se tornar menos significativas. Concordam, porém, que, ao trabalharem juntos, os Estados podem ter que transferir algum tipo de poder às agências internacionais, mas apenas dentro de algum campo e com propósitos limitados. Ngaire Woods lista três princípios fundamentais para uma boa governança dentro de uma organização internacional. O primeiro princípio é o da participação. Segundo ele, a lógica é que a participação no processo decisório e na implementação dá às pessoas o senso de propriedade de um projeto e um suporte verdadeiro para o seu sucesso. Participação requer muito mais do que envolvimento numa instituição. As partes afetadas devem encarar as decisões da instituição como suas próprias decisões - o sucesso ou fracasso depende de suas ações. É isso que significa o termo propriedade. O segundo princípio é o da responsabilidade. Instituições tomam decisões em prol de outros atores, sejam eles Estados, regiões ou indivíduos. Responsabilidade requer claridade sobre para quem ou em prol de que a instituição está tomando e implementado decisões. Atualmente, porém, cabe pensar sobre a quem essas instituições devem responsabilidade. Cada vez mais instituições internacionais têm sido chamadas a prestar contas não apenas para seus Estados membros, mas também para organizações não governamentais, indivíduos e outros atores não estatais. Organizações não governamentais apresentam um desafio para a responsabilidade dessas organizações multilaterais. Estas últimas são criadas e formalmente responsáveis por seus membros, que são os Estados. As ONGs argumentam que os Estados são apenas veículos para representar as pessoas e que, de fato, as instituições são responsáveis pelas pessoas. No entanto, as próprias ONGs encontram-se numa situação difícil, já que freqüentemente trabalham em países em desenvolvimento mas são mantidas por patrocínio de países industrializados. A boa governança requer que essas ONGs sejam responsáveis por aqueles que mais são afetados pelo seu trabalho e em nome de quem elas funcionam. O terceiro princípio de uma boa governança dentro de uma organização internacional, segundo Woods, é a justiça, que tem dois aspectos: procedimental e substantivo. A justiça procedimental é uma noção legalista que requer que regras e padrões sejam criados e aplicados de forma imparcial. Já a justiça substantiva refere-se a quão eqüitativo são os resultados de uma instituição e à igualdade geral e de distribuição de poder, influência e recursos dentro de uma organização. As organizações internacionais viveram um grande momento de expansão após a Segunda Guerra Mundial - impulso dado pela criação da Organização das Nações Unidas (ONU). Quando se fala em governança e em organização internacional, é inevitável não pensarmos em Nações Unidas. Talvez pela sua grande representatividade ou por ser uma organização de atuação ampla, não se restringindo a nenhum campo específico de competência, o fato é que a ONU permeia qualquer discussão sobre o tema. A Organização das Nações Unidas foi gerada ainda no ambiente de horror da Segunda Guerra Mundial. O cenário de destruição que o mundo então testemunhava propiciou um clima receptivo a idéias de cooperação internacional. Uma cooperação baseada na herança deixada pela Liga das Nações, buscando, entretanto, evitar os erros cometidas pela mesma e que o episódio da guerra se repetisse. Em 14 de agosto de 1941 - quatro meses antes do ataque japonês a Pearl Harbor e, por conseguinte, da entrada dos Estados Unidos na guerra - o presidente americano Franklin Roosevelt e o primeiro ministro britânico Winston Churchill assinaram a carta do Atlântico. O acordo pedia a colaboração de todas as nações para assuntos econômicos, vislumbrando a criação de uma organização mundial no pós-guerra que fosse capaz de manter a paz e a segurança internacionais. O próximo passo foi a assinatura da Declaração das Nações Unidas, em 1º de janeiro de 1942, já com os Estados Unidos em guerra, por representantes de 26 nações que reafirmaram os princípios da Carta do Atlântico e se comprometeram a lutar contra as potências do Eixo. Mais tarde, outras 21 nações aderiram a esta aliança militar que previa a cooperação internacional e a criação de uma paz conjunta. Essa foi a primeira vez que a denominação “Nações Unidas” - concebida pelo presidente americano Franklin Roosevelt - foi utilizada oficialmente. A idéia de uma organização mundial começou a tomar forma em outubro de 1943 durante a Conferência de Moscou, ocasião em que os ministros do exterior de quatro grandes potências da época (China, Estados Unidos, Reino Unido e União Soviética) assinaram a Declaração de Moscou sobre Segurança Geral. A declaração explicitava o compromisso de que a cooperação dos tempos de guerra continuasse nos tempos de paz por meio da criação de um organismo internacional. No mês seguinte, em Teerã, Franklin Roosevelt, Winston Churchill e Joseph Stálin se encontraram pela primeira vez reafirmando os propósitos da Declaração de Moscou. As três principais potências aliadas na Segunda Guerra (Estados Unidos, Reino Unido e União Soviética) decidiram, então, se reunir para pensar sobre criação de uma organização internacional. Em negociações secretas e informais em nível técnico, as grandes potências trocaram opiniões, firmaram compromissos, identificaram diferenças que exigiam resoluções políticas e produziram um conjunto de propostas que continha as linhas gerais de uma futura organização mundial. A Organização das Nações Unidas começaria a se tornar realidade no dia 25 de abril de 1945, data do início da Conferência sobre Organização Internacional, que teve lugar, até o dia 26 de junho do mesmo ano, em São Francisco. Para muitos, a ONU, ao longo dos anos, nunca teve mais do que um papel marginal no cenário internacional, considerando que aqueles que vêem a organização pronta para preencher um papel central no processo de governança global estariam apenas tentando recuperar princípios idealistas ultrapassados. Há os que enxergam uma necessidade de reforma da instituição para que ela venha a cumprir de forma eficiente a sua função na chamada nova ordem mundial. O fim da Guerra Fria não resultou em um processo de reforma das Nações Unidas, nem o seu cinqüentenário, como muitos esperavam, mas muito tem-se falado e produzidosobre o assunto. Dentro dessa demanda por reforma, os Estados Unidos, em 1985, apresentaram a decisão de reduzir sua contribuição ao orçamento regular de 25% para o máximo de 20%, caso não fossem revistas diversas práticas dentro da organização. A Assembléia Geral estabeleceu, então, um grupo de 18 especialistas para analisar e apresentar recomendações para aumentar a eficiência das funções financeiras e administrativas. Depois de analisadas pela Assembléia Geral, parte das recomendações do Grupo dos 18 foi incorporada na Resolução 41/213 de dezembro de 1986. Algumas recomendações do Grupo dos 18 dizem respeito, por exemplo, à redução substancial do número de conferências e reuniões dos órgãos intergovernamentais, diminuindo a sua duração sem afetar o trabalho da organização. Ou então à estrutura do Secretariado, que tem se tornado muito complexa, fragmentada e que as qualificações do staff, principalmente nas categorias mais altas, são inadeqüadas e os métodos de trabalho não são eficientes. Frente a isso, a recomendação foi de que houvesse redução de postos e congelamento na política de recrutamento. Em abril de 1990, a organização reportava uma redução geral de 1.365 postos, ou 12% do total, aproximadamente. No quesito representatividade, a discussão encontra-se dentro do Conselho de Segurança, com países defendendo propostas de ampliação do quadro de membros - atualmente são cinco membros permanentes (China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia) e dez não permanentes eleitos pela Assembléia Geral para um mandato de dois anos. A reforma da ONU tem provocado debates que apontam para três caminhos: os que defendem uma reforma institucional, considerada por estes a forma mais viável de adaptar e revigorar a instituição; os que propõem uma mudança mais profunda com a revisão de sua carta constitucional e, a partir daí, cria-se uma nova organização adaptada à realidade do novo século; e há aqueles que, ao contrário das duas correntes anteriores, acham que a ONU não pode e não deve ser reformada, permanecendo, segundo eles, com um papel sem relevância no cenário político internacional. Além das recomendações do Grupo dos 18, inúmeras propostas têm sido apresentadas para reformar a organização, sejam elas feitas por Estados Membros individuais ou participantes de comitês. As propostas de reforma podem ser divididas em dois blocos basicamente: as reformas no campo da segurança, como é o caso da revisão da composição, papel e mandato do Conselho de Segurança; e as reformas nos setores econômicos e sociais, como a reforma do Conselho Econômico e Social (ECOSOC) e sua relação com as instituições de Bretton Woods. Jean Krasno vê o processo de reforma da ONU de duas formas: tornar a organização mais representativa e mais pronta a responder a uma definição cada vez mais abrangente de segurança humana; ou torná-la mais eficiente e com custos mais baixos utilizando para isso o corte de órgãos que perdem sua utilidade e enfatizando os que mantêm seu mérito. Segundo a autora, muitos Estados estão focalizando na primeira alternativa, enquanto que outros, como os Estados Unidos, estão preocupados apenas com a segunda, que é torná-la mais eficiente. Dentro dessa visão de tornar a organização mais eficiente, tem crescido em importância o conceito de diplomacia preventiva dentro da ONU. A diplomacia preventiva é mais atraente e custa menos do que entrar em um conflito, podendo servir para construir a estabilidade entre Estados ou prevenir a anarquia dentro deles. Entre outras vantagens, a diplomacia conta com um mecanismo de aviso: a negação dos Direitos Humanos e de proteção adequada às minorias indica que o Estado pode estar tendo problemas. Além disso, também é um importante fator de promoção de bem estar econômico, já que conta com os benefícios práticos de um contexto pacífico. Há os que argumentam que as Nações Unidas podem ser um veículo para a liderança global. No entanto, ela foi construída sobre uma estrutura de poder existente no fim da Segunda Guerra e não se adaptou às mudanças que essa estrutura tem sofrido seja na nova configuração de poder seja no novo senso de segurança global. A mudança no conceito de segurança é uma resposta às modificações ocorridas no contexto internacional. A estruturação de uma nova ordem mundial e a percepção da crescente interdependência entre os países e entre as dimensões da vida internacional fizeram surgir preocupações e desafios diversos dos enfrentados anteriormente. Mudanças no contexto político e no ambiente normativo resultam em mudanças no ambiente material. Isso quer dizer que, quando existe uma mudança geral nos entendimentos intersubjetivos, como conseqüência a estrutura material também sofre modificações. No caso de haver mais de uma interpretação de uma mesmo conceito, e algumas delas conflitantes entre si, uma definição intersubjetiva consensual será desenvolvida apenas por meio da prática. Durante décadas, houve a predominância do paradigma realista de segurança, expresso da seguinte forma: a segurança está diretamente relacionada ao poder do Estado, que se protege contra perigos externos. Esta definição estadocêntrica de segurança delimita a fronteira entre “ordem” doméstica e “anarquia” internacional. Isso resulta em um dilema de segurança, pois o que pode ser justificado por um Estado como medidas legítimas de aumento de segurança, provavelmente será percebido por outros como o surgimento de uma ameaça militar. No entanto, o foco na dimensão militar de segurança das grandes potências, típico do período da Guerra Fria, tem sido reexaminado; assim como a definição de segurança vem sendo revista para abranger outras dimensões como a diminuição da pobreza e o desenvolvimento sustentável. Preparar a ONU para os desafios do novo século requer atenção a dois aspectos primordiais: criar uma maior capacidade de representação nos processos decisórios da organização e prover os órgãos institucionais da ONU com recursos e estrutura para alocar não apenas assuntos de paz e contenção de agressões, como era o objetivo de seus fundadores, mas também levar adiante a tarefa de se tornar um ambiente onde sejam alocadas todas as necessidades humanas. A questão da representação é fundamental para a ONU porque a organização não é um governo mundial e, na visão de muitos, não deve se tornar um. A definição de governo inclui o monopólio do uso da força de forma que ele possa forçar o cumprimento de leis dentro do seu território. As Nações Unidas não têm esse poder de forçar seus membros a aceitarem as resoluções que são aprovadas em seus órgãos, pois o seu caráter é recomendatório. A organização depende do consentimento de seus membros, a partir do momento em que eles acreditam que a resolução ou tratado é em seu interesse. E o membros só darão o seu consentimento se eles forem parte das decisões sobre as regras e se eles ficarem satisfeitos com o acordo final. Dessa forma, é essencial para a sobrevivência da ONU que ela seja cada vez mais representativa e esteja mais pronta a responder às necessidades dos povos do mundo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CLAUDE, JR. Inis L. Swords into Plowshares. New York, McGraw-Hill, Inc., 1984 COMISSION ON GLOBAL GOVERNANCE. Our Global Neighbourhood. The Basic Vision. The Comission on Global Governance, Geneva, 1995. HERZ, Mônica. A Reforma da Organização das Nações Unidas, Seminário Brasil-Reino Unido, Rio de Janeiro, 18 e 19 de setembro de 1997. JACOBSON, Harold K. Studyng Global Gonvernance: A Behavioral Approach. In: Ku, Charlotte anda Weiss,Thomas G. Toward Understanding Global Governance, ACUNS Reports and Papers, 1998. KRASNO, Jean E. The Ethics of Changing the UN to Meet the Moral Challenges of the Next Century. Yale University. MITRANY, David. A Working Peace System. Chicago: Quadrangle Books, 1966 RUSSET, Bruce and SUTTERLIN, James. The UN in a New World Order. Foreign Affairs, v. 70, n. 2, spring 1991. SAKSENA, K. P. Reforming the United Nations - The Challenge of Relevance. New Delhi, Newbury Park and London: Sage Publications, 1993. STREMLAU, John. Antidote to Anarchy. The Washington Quarterly, v. 18, n. 1. TICKNER, J. Ann. Re-visioning Security. In: Ken Booth & SMITH, Steve. International Relations Theory Today. Oxford: Polity Press, 1995. WOODS, Ngaire. Good Governance in International Organizations. Global Governance, v. 5, n. 1, jan-mar. 1999.
Compartilhar