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DIREITO EMPRESARIAL 4ª Aula A expressão “Direito Comercial” é utilizada há tempos no meio jurídico e acadêmico, agora muitas vezes substituída pela expressão “Direito Empresarial”, especialmente ante à adoção da Teoria da Empresa. O Direito Comercial não cuida apenas do comércio, mas em geral, das questões e relações afetas ao interesse da atividade empresarial. Portanto, conforme disse Ramos (2011, p. 17): “o direito comercial, hoje, cuida das relações empresariais, e por isso alguns têm sustentado que, diante dessa nova realidade, melhor seria usar a expressão direito empresarial”. Certo é que o Direito Comercial continua como ramo do Direito Privado. Várias leis existem independentemente do Código Comercial, como é o caso da LRE, LUG, LSA e vários contratos como o arrendamento mercantil, franquias etc. Assim, pode ser concluído também que os institutos básicos da atividade empresária estão hoje inseridos dentro do Código Civil, como direito empresarial, mas que o Direito Comercial encampa várias outras regras. DIREITO COMERCIAL OU DIRETO EMPRESARIAL? Conforme noticia Martins (2011, p. 27/29) houve projeto no Brasil com Teixeira de Freitas (1867) e Inglês de Souza (1912); Com Vivante na Itália, o qual mudou de opinião em 1925; Código Único das Obrigações, na Suiça (1881) e reformado em 1936 e na Itália (1942). O Código Civil Brasileiro de 2002 tentou unificar os ramos do direito privado, Direito Civil e Direito Comercial. Inseriu no corpo da Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002, legislação sobre direito empresarial e títulos de crédito. Não houve verdadeira unificação, mas apenas uma compilação em uma só lei. Conforme anota Machado (2009), “promulgou-se o novo Código Civil Brasileiro, que regula o ‘Direito de Empresa’ no seu Livro II, marcando o abandono do sistema tradicional consagrado pelo Código Comercial de 1850, baseado no comerciante e no exercício profissional da mercancia – teoria dos atos de comércio, trocando-o pela adoção do sistema do empresário e da atividade empresarial – teoria da empresa”. UNIFICAÇÃO DO DIREITO PRIVADO Ao lado do Direito Civil, o Direito Comercial integra o quadro do Direito Privado. O Direito Comercial é parte especializada do Direito Privado. O Direito comercial possui tendências profissionais, enquanto que o Direito Civil rege as relações das pessoas como tais. Alguns atos do Direito Comercial adotam normas do Direito Civil, porém, algumas vezes, passam a adquirir contornos próprios, com verdadeira independência conceitual, principiológica e didático-científica. A dicotomia deste Direito Privado se vê quando é percebido a regulação de determinas matérias, como a emissão de uma letra de câmbio, por exemplo, por quem não é comerciante, mas aplicando-se inteiramente as regras próprias do direito cambiário. AUTONOMIA CIENTÍFICA DO DIREITO COMERCIAL E por quê? Porque o Direito Comercial é mais amplo. O Direito de Empresa, na sua motivação histórica, surgiu para substituir o Direito Comercial, a fim de resolver o paradoxo de incluir na palavra Comercial algo que nada tem a ver com comércio em sentido técnico, como a indústria, os transportes, etc. Mas o Direito Comercial reagiu espetacularmente e transformou o Direito de Empresa, como disse, num ramo especializado seu. Manteve-o sob seu domínio, como sua criatura, assim como outros segmentos, por exemplo, o Direito Cambiário, o Direito Falencial, e até o Direito Industrial, mero destaque do instituto das marcas e patentes, arrolado, dentre outros, por juristas italianos dos séculos XVI e XVII, quando, a partir das Compilações, da Idade Média, sistematizaram o Direito Comercial, dando-lhe formatação própria, diferenciada do Direito Civil comum. (MARIANI, 2007). AUTONOMIA CIENTÍFICA DO DIREITO COMERCIAL Conclui-se, portanto, que a unificação do Direito Privado, promovida pelo novo Código Civil, aconteceu apenas em termos de Código, e, mesmo assim, tão- somente em parte. Não afetou o Direito Comercial como ramo específico do Direito Privado. E nem seria possível, pois o Direito Comercial está previsto no art. 22, I, da CF. Lá está dito que compete privativamente à União legislar em matéria de Direito Comercial. Digo que a unificação aconteceu parcialmente, porque boa porção continua fora do Código Civil, como é o caso do Direito Cambiário e do próprio Direito de Empresa, no que tange às sociedades por ações. (MARIANI, 2007). AUTONOMIA CIENTÍFICA DO DIREITO COMERCIAL Simplicidade. Para poder atender à intensidade da vida econômica do comércio, ao contrário do direito civil, que é mais formalista e complexo. Portanto, necessita de meios de provas destituídos das formalidades do direito civil. Boa-fé. Visa proteger instantaneamente quem ignorava o dolo ou a má-fé que viciava o ato, sendo que no direito civil, geralmente está associado a outros requisitos, como por exemplo, o prazo prescricional à posse de boa-fé para efeito de usucapião. Legitimidade ao portador de título (v.g.). Internacionalidade. Tendo em vista que o comércio é realizado entre pessoas de variadas localidades. Existem, pois, regras que costuma ser uniformes tais como o transporte aéreo, cheque etc. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO EMPRESARIAL Rapidez. Deve ser dinâmico, o que decorre do princípio da simplicidade, notadamente quanto a questão das provas. Elasticidade. O direito consagra regras que se vão incorporando em razão dos usos realizados nas transações comerciais dando caráter renovador. Onerosidade. Baseia-se no reconhecimento de que a atividade comercial busca o lucro (especulação), não se admitindo, em regra, ato gratuito. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO EMPRESARIAL “os princípios do direito comercial podem ser classificados segundo três critérios: hierarquia, abrangência ou positivação” (Coelho, 2012, p. 63). HIERARQUIA ABRANGÊNCIA POSITIVAÇÃO Constitucionais: Livre iniciativa (CR, art. 170); Legais: Inoponibilidade das exceções pessoais (LUG, art. 17). Gerais: Aplicáveis a todas as relações jurídicas de direito comercial (ex.: liberdade de competição). Especiais: Aplicável apenas a determinados setores, como a liberdade de associação do direito societário (sub-ramo). Explícitos ou Diretos: Formalizados pelo constituinte originário ou derivado em texto legal. Implícitos: Conclui-se do texto vigente. PRINCÍPIOS DO DIREITO COMERCIAL LIBERDADE DE INICIATIVA. “o princípio da liberdade de iniciativa é inerente ao modo de produção capitalista, em que os bens ou serviços de que necessitam ou querem as pessoas são fornecidos quase que exclusivamente por empresas privadas”. (CR, art. 170). O Estado só deve intervir na atividade econômica quando necessário aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo (CR, art. 173). “Quatro desdobramentos podem ser extraídos do princípio da liberdade de iniciativa: (a) imprescindibilidade, no capitalismo, da empresa privada para o atendimento das necessidades de cada um e de todos; (b) reconhecimento do lucro como principal fator de motivação da iniciativa privada; (c) importância, para toda a sociedade, da proteção jurídica do investimento; (d) importância da empresa na geração de postos de trabalho e tributos, bem como no fomento da riqueza local, regional, nacional e global.” (Coelho, 2012, p. 71). PRINCÍPIOS DO DIREITO COMERCIAL LIBERDADE DE CONCORRÊNCIA. Coibição às infrações contra a ordem econômica, observando a CR, art. 170, no que diz respeito à liberdade de iniciativa, livre concorrência, função social da propriedade, defesa dos consumidores e repressão ao abuso do poder econômico (Lei n.º 12.259/2011). Busca-se coibir as infraçõesà ordem econômica, a concorrência desleal e outras anomalias resultantes das ações empresariais. FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA. “A empresa cumpre a função social ao geral empregos, tributos e riqueza, ao contribuir para o desenvolvimento econômico, social e cultural da comunidade em que atua, de sua região ou do país, ao adotar práticas empresariais sustentáveis visando à proteção do meio ambiente e ao respeitar os direitos dos consumidores, desde que com estrita obediência às leis a que se encontra sujeita” (Coelho, 2012, p. 76). PRINCÍPIOS DO DIREITO COMERCIAL LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO. (CR, art. 5º, XVII e XX). Preceito constitucional aplicável às sociedades empresárias. Assim, ninguém é obrigado a tornar-se sócio de uma sociedade. Todavai, uma vez integrante de uma sociedade, só poderá desligar-se nos termos preconizados na lei, especialmente porquanto a participação societária implica relação na esfera patrimonial do sujeito e de terceiros. • PRESERVAÇÃO DA EMPRESA. Visa interesses metaindividuais, e não só aos interesses dos empresários, de modo a permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores, do recolhimeno de tributos, dos interesses dos credores, com vistas à preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. Vide art. 47 da Lei n.º 11.101/2005. PRINCÍPIOS DO DIREITO COMERCIAL AUTONOMIA PATRIMONIAL DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA. Princípio da entidade contábil. “pelo princípio da autonomia patrimonial, considera-se a sociedade empresária, por ser pessoa jurídica, um sujeito de direito diferente dos seus sócios que a compõem. Entre outras conseqüências, este princípio implica que a responsabilização pelas obrigações sociais cabe à sociedade, e não aos sócios. Apenas depois de executados os bens da sociedade, e mesmo assim observando-se eventuais limitações impostas por lei, os credores podem pretender a responsabilização dos sócios”. Coelho (2012, p. 82). PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE DA RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS PELAS OBRIGAÇÕES SOCIAIS. Vide CC, art. 1.024: os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais. PRINCÍPIOS DO DIREITO COMERCIAL LIMITAÇÃO DA RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS PELAS OBRIGAÇÕES SOCIAIS. Exemplos (CC, art. 1.052) e (LSA, art. 1º). “A limitação da responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais, portanto, não é uma forma de torná-los irresponsáveis. Pelo contrário, é um expediente de segregação de riscos, que, ao incentivar maiores investimentos (em especial, dos empresários com perfil conservador), traz proveitos a toda a coletividade. Mais uma vez, o princípio do direito comercial, ao memso tempo em que protégé o interesse individual dos sócios da sociedade empresária (de tipo limitada ou anônima), ampara, também o metaindividual de todos os consumidores brasileiros” (Coelho, 2012, p. 85). PRINCÍPIO MAJORITÁRIO NAS DELIBERAÇÕES SOCIAIS. “Pelo princípio majoritário, as deliberações sociais são adotadas, em princípio, pela vontade ou entendimento do sócio (ou sócios) que mais investiu na empresa e, consequentemente, assumiu maior risco”. (Coelho, 2012, p.87). PRINCÍPIOS DO DIREITO COMERCIAL PROTEÇÃO DO SÓCIO MINORITÁRIO. Limita o princípio do majoritário. Há assegurados vários direitos como o da transparência, direito de fiscalização e de recesso, por exemplo. AUTONOMIA DA VONTADE. Liberdade de contratar, estando balizado apenas pelo interesse público. “no contrato entre empresários (contratos empresariais), ao contrário do que se verifica no contrato de trabalho e no de consumo, a autonomia da vontade ainda é bastante ampla, porque, em geral, as partes podem escolher entre contratar ou não, com quem contratar e negociavam livremente as cláusulas do contrato” (Coelho, 2012, p. 90). VINCULAÇÃO DOS CONTRATANTES AO CONTRATO. “os empresários estão vinculados aos contratos que celebram entre eles em grau maior do que os trabalhadores e consumidores”. (Coelho, 2012, p. 91). PRINCÍPIOS DO DIREITO COMERCIAL PROTEÇÃO DO CONTRATANTE MAIS FRACO. “A assimetria, nos contratos empresariais, que justifica a proteção do contratante mais fraco, decorre da obrigação contratual de organizar sua empresa seguindo orientações emanadas do outro contratante. O empresário mais fraco, assim, não está em estado de hiposuficiência (necessidade de contratar) como o trabalhador, nem vulnerável (no acesso às informações) como o consumidor” (Coelho, 2012, p. 94). EFICÁCIA DOS USOS E COSTUMES. O direito comercial reconhe os contratos celebrados com base nas práticas rotineiras dos comerciantes. PRINCÍPIOS DO DIREITO CAMBIÁRIO. Proteção do crédito; princípios dos TC`s (cartularidade, literalidade, autonomia e abstração); inoponibilidade das exceções pessoais ao credor de boa-fé. PRINCÍPIOS DO DIREITO COMERCIAL INERÊNCIA DO RISCO. Embasa a recuperação judicial, de forma que os credores e toda a coletividade suportem os respectivos custos, ou seja, a crise pode sobrevir à empresa mesmo nos casos em que o administrador ou os sócios tenham se portado em estrito cumprimento da lei e aos seus deveres. IMPACTO SOCIAL DA CRISE DA EMPRESA. Além do conjunto de pessoas que possuem interesses diretos no resultado da empresa, como é o caso dos sócios, empregados, credores de forma geral, representa a mesma grandes benefícios para a sociedade como um todo, já que a soma do desenvolvimento das várias empresas traz sucessos na economia local, regional, nacional e global. Assim, observando esta carga de interesses metaindividuais, deve se considerar a prejudicialidade da crise empresarial em toda a sociedade. PRINCÍPIOS DO DIREITO COMERCIAL TRANSPARÊNCIA NOS PROCESSOS FALIMENTARES. Os processos falimentares devem ser claros no sentido de demonstrar transparência dos atos a serem tomados, ou seja, os credores devem ter ciência de que os prejuízos sofridos não vão além do estritamente necessário para realizar a recuperação judicial ou a falência. TRATAMENTO PARITÁRIO DOS CREDORES. Credores mais necessitados possuem preferência no recebimento de seus créditos, como ocorre com os empregados de forma geral, o que também ocorre com outros privilegiados, porém, a regra é de que os quirografários sujeitam-se a par conditio creditorum. PRINCÍPIOS DO DIREITO COMERCIAL “Chamam-se fontes de direito os diversos modos pelos quais se estabelecem as regras jurídicas” (Martins, 2011, p. 33). FONTES MATERIAIS FONTES FORMAIS Os elementos que concorrem para a criação das leis. A forma externa de manifestação do direito positivo. FONTES DO DIREITO COMERCIAL “os usos e práticas mercantis são coligidos pelas Juntas Comerciais e assentados em livro próprio, de ofício ou mediante provocação da Procuradoria do Estado (Lei n.º 8.934, art. 28) ou de entidade de classe interessada, na forma prevista no Dec. n.º 1.800, de 30 de janeiro de 1996, que regulamentou a Lei do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins (arts. 87 e 88)” Martins (2011, p. 37). CPC, art. 337. A parte, que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o determinar o juiz. FONTES DO DIREITO COMERCIAL COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 16ª ed. Vol. I. São Paulo: Saraiva, 2012. MACHADO, Daniel Carneiro. O novo Código Civil brasileiro e a teoria da empresa . Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 56, abr. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2901>. Acesso em 19 jan. 2009. MARIANI, Irineu. Direito de empresa: Atividade empresarial - empresa e empresário (à luz do novo código civil). Juris Plenum, Caxiasdo Sul: Plenum, v. 1, n. 95, jul./ago. 2007. 2 CD-ROM. MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. 34ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial esquematizado. São Paulo: Método, 2011. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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