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estudos de obrigaçoes 222 (1)

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OBJETO DO PAGAMENTO.
No título III, do capítulo I, da seção III, nos arts. 313 a 326 é tratado o tema do pagamento e a sua prova, os seis primeiros artigos (313 a 318) tratando basicamente do pagamento e os demais sobre a prova do mesmo (art 319 a 326, este regulando o pagamento de coisa por medida,ou peso.).
O objeto do pagamento é a prestação. O pagamento pode ser feito em dinheiro, bens, e conduta. As obrigações de dar podem ser pagas em dinheiro ou bens, enquanto o pagamento em conduta são obrigações de fazer ou não fazer. A outorga da coisa na obrigação de dar, no tempo e forma devidos, libera o devedor. Do mesmo modo, nas obrigações de fazer, ou não fazer, a ação ou omissão, também terá o efeito liberatório. A regra geral é que a prestação seja exatamente a pactuada, sem que haja qualquer modificação mesmo que mais vantajosa para o credor (a teor do art. 313 do CC, verificar também art. 244, entrega de coisa fungível com escolha do devedor); esta regra é advinda do direito romano e é expressa no brocardo: “ALIUD PRO ALIO INVITO CREDITORE DARI NON POTEST”- não se pode dar uma coisa por outra contra a vontade o credor.
Querendo o credor pode (advertindo que não pode forçar o devedor, é avençado) receber prestação diversa da pactuada, mas não estará diante do inadimplemento, e sim de uma DAÇÃO EM PAGAMENTO (art. 356 do CC).
A prestação não pode ser efetuada em partes, se dessa forma não foi pactuada, mesmo sendo divisível (art. 314). Havendo pluralidade de credores nas obrigações solidárias, o devedor se libera prestando a um só deles, não podendo, se a prestação for divisível, prestar pro rata, a cada um. Não sendo a obrigação solidária, se existirem diversos credores de prestação divisível, aí então o devedor tem que prestar a cada um deles o que proporcionalmente lhe couber( concursu partes fiunt). 
Se o cumprimento se der por medida, ou peso, estes serão os do lugar da execução da prestação, a não ser que convenção das partes estabeleça diferente. São comuns os critérios de medida variar por região, o alqueire no Brasil varia conforma a região. Assim a medida será do lugar onde a prestação deva ser executada.
O dinheiro pode ser objeto da obrigação (sendo a própria obrigação nas prestações pecuniárias) e, outrossim, pode representar o valor (medida de valor) de outro bem ou do objeto da obrigação( são casos denominados de dívida de valor).
São exemplos de dívida de valor: a indenização decorrente de ato ilícito (alguém que bate, com culpa, em carro de outrem), a obrigação da alimentar ( o valor representa as necessidades do alimentando), o valor do bem desapropriado, etc.
Celso Quintella Aleixo sintetiza: “uma dívida é em dinheiro quando é representada pela quantificação nominada da moeda. Ao contrário é de valor quando é representada pelo poder de compra da mesma, pela capacidade do seu poder aquisitivo”(Obrigações, obra coordenada por Gustavo Tepedino, Renovar, ediçõa 2005).
O Brasil adota o princípio do “nominalismo”(art. 315), “ o pagamento em dinheiro deve ser feito em real”, pelo seu valor de face impresso nas moedas e cédulas.
Em casos excepcionais a lei autoriza o pagamento em moedas estrangeiras: “importação ou exportação, compra e venda de cambio e se um dos sujeitos é residente no exterior (exceto a locação de imóveis situados no Brasil)” 
A parte final do artigo 315 excepciona o disposto nos artigos 316 (cláusula da escala móvel) e 317 ( teoria da imprevisão). A primeira, é critério de atualização monetária, com índice legalmente autorizado e previamente escolhido. A segunda, a pedido de uma das partes ao juiz, em razão de fatos supervenientes, que geram a desproporção da prestação devida (entre o momento da constituição e da execução) visa evitar o enriquecimento ilícito e restabelecer o equilíbrio da relação obrigacional (Deve abarcar tanto causas de desproporção não previstas como também causas previsíveis, mas de resultados imprevisíveis- Enunciado 17 da 1º Jornada de Direito Civil).
As despesas inerentes ao cumprimento da prestação ficam por conta do devedor. As excepcionais, por quem der causa.(art. 325 do CC). 
PROVA DOPAGAMENTO.
Segundo Pontes de Miranda a quitação é um ato jurídico em sentido estrito. A quitação é o reconhecimento pelo credor que a dívida foi solvida. É a prova por excelência do adimplemento, que pode ser feita até mesmo através de presunções legais, assim ocorre nos débitos em que ela consista na devolução do título, pois a entrega desta supõe o pagamento, mesmo podendo se fazer prova contrária.
O ônus da prova do pagamento de uma obrigação é do devedor, salvo se a prestação seja uma abstenção. O cumprimento de uma obrigação pode ser provado por todos os meios legalmente admissíveis. O dominante é que seja por escrito (o art. 320 estabelece os requisitos da quitação). O art. 319 faculta ao devedor reter o pagamento caso a quitação lhe seja recusada.
LUGAR DO PAGAMENTO.
É habitual no Brasil se fazer pagamento através dos serviços bancários. É raro as partes se procurarem para o adimplemento da obrigação. Na prática, conforme ensina Fábio Ulhoa, “questões atinentes ao lugar do pagamento não costumam despertar significativos conflitos de interesses.”
Quanto ao lugar do pagamento, a obrigação pode ser quesível ou portável. Na primeira, cabe credor procurar o devedor para receber o pagamento, já a portável o devedor deve procurar o credor. Não havendo acordo no título a obrigação será, em regra, quesível.(art. 327 do CC).
A obrigação é portável em quatro hipóteses:a) acordo entre as partes; b) previsão legal, a lei tributária ( art, 159 do CTN) estabelece que local do pagamento é o da repartição do domicílio do contribuinte; c) natureza da obrigação, nas vendas por reembolso postal, necessariamente, a obrigação do vendedor é cumprida no domicílio do comprador (credor), isto é, nas agência dos correios; d) Circunstâncias, situação prevista no art 330, “o pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato.”
O parágrafo único, do art. 327, estabelece que caberá ao credor a escolha do local do pagamento, quando o contrato apontar mais de um lugar. Se o pagamento consistir em tradição de imóvel ou prestação a ele relativa o local será onde situado o bem (art. 328). “Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo- em outro, sem prejuízo para o credor” art. 329 do CC).
“A lei não define o que se entende por “motivo grave”, conceito que será valorado pelo juiz á luz das circunstâncias concretas. A rigor, não é necessário que haja impossibilidade de realização do pagamento no local, mas tão somente uma significativa dificuldade de fazê-lo”(Atlas, vol. IV, comentários de Gustavo Tepedino e Anderson Schreiber). A priori, a gravidade do motivo exclui o direito de reparação pelas perdas e danos.
A doutrina tem entendido que se o motivo grave decorreu de caso fortuito, força maior ou fato do príncipe, a despeito da parte final do art 329 (“sem prejuízo para o credor”) as despesas adicionais deverão ser compartilhadas pelo devedor e credor.
Em final, para que serve as regras sobre o local do pagamento? O seu descumprimento invalida ou torna ineficaz o ato, se não houver outro vício ou irregularidade?
Fábio Ulhoa responde sinteticamente: “A inobservância das regras sobre lugar do pagamento não implica a invalidade ou ineficácia do ato. Mesmo feito o pagamento em lugar indevido, o devedor está liberado da obrigação se o credor teve seu direito satisfeito. Estas regras têm importância apenas na hipótese de inadimplemento da obrigação, quando é necessário identificar o culpado.”
TEMPO DO PAGAMENTO(“MINUS SOLVIT QUI TARDIUS SOLVIT”, quem paga mais tarde, paga menos do que deve)
O tempo é fundamental, o momento da execução é tão importante no processo obrigacional que no direito romano o atraso no cumprimento era equiparado ao inadimplemento (é o que significa a expressão latina citada acima).
Como regra geral a exigibilidade da obrigação é imediata. Nãohavendo dispositivo de ordem pública que impeça, convenção das partes em contrário ou que a própria natureza da obrigação seja o óbice, pode o credor exigir do devedor o imediato o cumprimento da prestação (É o princípio da exigibilidade imediata da obrigação, art 331 do CC). O princípio não pode ser interpretado de forma literal, nos leciona Orlando Gomes, “o rigor desta regra pode ser abrandado pelo bom senso, se este exige um modicam tempus que permita ao devedor satisfazer a sua prestação. A ninguém adiantará tomar um empréstimo para restituir incontinenti a coisa emprestada”(Obrigações, edição 2007).
O artigo 332 trata da exigibilidade das obrigações condicionais. (as suspensivas)
 Se suspensiva, somente a partir de seu implemento a obrigação produz efeitos; sendo resolutiva, a obrigação produz efeitos após o implemento da condição (art 331 do CC).
A título de exemplificação, se o pagamento de uma dívida estiver condicionado a determinado empréstimo bancário, somente depois da realização deste (o implemento da condição), a dívida poderá ser cobrada.
A parte final do artigo 332 impõe ao credor o ônus de provar que o devedor teve conhecimento do implemento da condição. Se o devedor não tem ciência deste fato, não sofre os efeitos do inadimplemento.
O artigo 333 trata do vencimento antecipado da obrigação. Cabe diferenciar a antecipação do vencimento do pagamento antecipado da obrigação, neste a dívida é solvida prematuramente, antes do momento devido; naquele o termo final é transferido para ocasião anterior. O Código Civil enumera três hipóteses:a) no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores; b) se os bens, hipotecados ou penhorados, forem penhorados em execução por outro credor; c) se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fideijussórias, ou reais, e o devedor intimado, se negar a reforçá-las.
O termo de vencimento da dívida presume-se estabelecido em favor do devedor, assim, salvo se convencionado termo em interesse exclusivo do credor, o pagamento não poderá ser exigido antes do vencimento do débito. O artigo 333, muda a regra visando proteger o crédito do credor diante da insegurança trazida pelas circunstâncias.
Somente na terceira hipótese o Código prever expressamente o reforço de garantias, mas é evidente que o credor poderá exigir do devedor o reforço por outros meios nas demais hipóteses, medida que deve ser tomada, necessariamente, antes da cobrança.
O parágrafo único do artigo 333 trata da incomunicabilidade do vencimento antecipado em caso de solidariedade passiva, ou seja, a dívida não se considerará vencida para os co-devedores solidários.

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