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Conteúdo do livro O casamento é o negócio jurídico que depende da livre manifestação das partes e produz efeitos patrimoniais e sociais. Ato solene que é, tendo em vista que sua realização depende do atendimento a requisitos legais específicos previstos no Código Civil, somente pode ser dissolvido mediante o divórcio. Sendo assim, a ação de divórcio é a demanda judicial que objetiva regulamentar o fim da sociedade conjugal e, sem prejuízo de outros elementos, deve dispor sobre a partilha dos bens do casal, os alimentos e a guarda dos filhos menores, bem como a utilização do nome de casado, caso tenha sido alterado por um dos cônjuges em virtude do casamento. No capítulo Petição inicial de divórcio, da obra Prática processual civil, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer os principais aspectos dessa demanda judicial e os elementos e fundamentos que devem compor a petição inicial de divórcio. Boa leitura. PRÁTICA PROCESSUAL CIVIL Cinthia Louzada Ferreira Giacomelli Petição inicial de divórcio Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer as decisões do Superior Tribunal de Justiça relativas à ação de divórcio. Identificar os requisitos necessários para o ingresso de uma ação de divórcio. Elaborar uma petição inicial de divórcio com partilha de bens, de guarda e de alimentos. Introdução O casamento é o instituto jurídico que se caracteriza como ato solene que, com exceção da morte e das causas de nulidade ou anulabilidade, somente pode ser interrompido com a separação ou com o divórcio. Este, mais do que uma interrupção na sociedade conjugal, dissolve por com- pleto o vínculo matrimonial e tem importantes consequências jurídicas. O divórcio pode ser processado judicialmente. O processamento judicial é obrigatório sempre que a união que se pretende dissolver envolve filhos menores. Nessa hipótese, a petição inicial deve abordar também, além da partilha de bens e da prestação alimentícia entre os cônjuges, o regime de guarda dos filhos e a prestação de alimentos a eles. Neste capítulo, você vai conhecer as principais decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre as ações de divórcio, bem como os requi- sitos necessários para o ingresso e a composição dessa demanda judicial. 1 Jurisprudência do STJ O divórcio, implementado no ordenamento jurídico brasileiro em 1977, por meio da Lei nº 6.515, de 26 de dezembro de 1977, tem diversas repercussões no mundo jurídico. Dele decorrem alguns questionamentos práticos, por exemplo: como deve ser o nome do cônjuge após o divórcio? A partilha de bens deve seguir algum critério legal? Em caso de divórcio que envolva fi lhos menores, a guarda dos fi lhos e a prestação de alimentos podem ser defi nidas na mesma ação? De que forma? Assim, é fundamental analisar algumas das decisões proferidas pelo STJ sobre esses temas, principalmente para que o advogado responsável pela petição inicial de divórcio possa elaborá-la de maneira correta e eficaz. Seguindo as disposições legais, o STJ entende que a continuidade do uso do nome de casado pelo cônjuge divorciado, um dos pedidos que pode compor a petição inicial de divórcio, é uma opção exclusiva do cônjuge, mesmo quando ele é revel. Veja o que afirma o STJ: O fato de a ré ter sido revel em ação de divórcio em que se pretende, também, a exclusão do patronímico adotado por ocasião do casamento não significa concordância tácita com a modificação de seu nome civil, quer seja porque o retorno ao nome de solteira após a dissolução do vínculo conjugal exige manifestação expressa nesse sentido, quer seja porque o efeito da presunção de veracidade decorrente da revelia apenas atinge às questões de fato, quer seja ainda porque os direitos indisponíveis não se submetem ao efeito da presunção da veracidade dos fatos. 5 — A pretensão de alteração do nome civil para exclusão do patronímico adotado por cônjuge por ocasião do casa- mento, por envolver modificação substancial em um direito da personalidade, é inadmissível quando ausentes quaisquer circunstâncias que justifiquem a alteração, especialmente quando o sobrenome se encontra incorporado e consolidado em virtude do uso contínuo do patronímico pela ex-cônjuge por quase 35 anos (BRASIL, 2018b, documento on-line). Da mesma forma, é consenso no tribunal superior, em atenção à legislação processual aplicável, que a partilha de bens do casal requerida na petição inicial de divórcio consensual ou litigioso deve seguir o regime de bens estabelecido no casamento. No caso dos regimes de comunhão de bens, seja universal, seja parcial, os direitos e o patrimônio adquirido na constância da união devem ser partilhados na separação, ainda que sejam efetivamente recebidos poste- riormente ao divórcio. Nesse sentido, considere o seguinte: A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça consolidou o entendimento de que, nos regimes de comunhão parcial ou universal de bens, comunicam-se as verbas trabalhistas correspondentes a direitos adquiridos na constância do casamento, devendo ser partilhadas quando da separação do casal. 3.1. No caso em tela, a Corte de origem entendeu que os valores recebidos com a rescisão do contrato de trabalho tiveram origem na constância do casamento e, portanto, estavam sujeitos a partilha. Incidência da Súmula 83/STJ (BRASIL, 2019, documento on-line). Petição inicial de divórcio2 Já no que se refere à partilha de bens em divórcio consensual, o enten- dimento preponderante é de que o acordo proposto pelos cônjuges quanto à dissolução do vínculo matrimonial, à partilha de bens e à concessão de alimentos entre si, por tratar de direitos disponíveis, é uma transação entre as partes e, verificados os requisitos formais, poderá ser homologado judi- cialmente. Diferente é, contudo, o divórcio consensual que envolve filhos menores. Observe a seguinte decisão: Já o acordo estabelecido e subscrito pelos cônjuges no tocante ao regime de guarda, de visita e de alimentos em relação ao filho menor do casal assume o viés de mera proposição submetida ao Poder Judiciário, que haverá de sopesar outros interesses, em especial, o preponderante direito da criança, podendo, ao final, homologar ou não os seus termos. Em se tratando, pois, de mera proposição ao Poder Judiciário, qualquer das partes, caso anteveja alguma razão para se afastar das disposições inicialmente postas, pode, unilateralmente, se retratar. Ressalte-se, aliás, que, até mesmo após a homologação judicial acerca do regime de guarda, de visita e de alimentos relativos ao filho menor, se uma circunstância superveniente alterar os fatos submetidos ao Juízo, absolutamente possível que seus termos sejam judicialmente alterados por provocação das partes (BRASIL, 2018c, documento on-line). Sob essa perspectiva, na hipótese de divórcio consensual com regulamen- tação da guarda de filhos e estipulação de alimentos, o STJ entende, ainda, que é possível dispensar a prestação de alimentos a filho menor, considerando as circunstâncias do caso concreto. Veja: O Tribunal a quo, após analisar as circunstâncias fáticas da causa, houve por bem manter a decisão que, reconhecendo a legitimidade da dispensa transitória e precária do ônus do genitor em prestar alimentos a sua filha menor, sem que isso implicasse renúncia do direito da criança à verba alimentar, homologou o acordo firmado em ação de divórcio, suspendendo, temporariamente, a obrigação do genitor ao pagamento de alimentos. 3. O acórdão recorrido ressaltou, ainda, a inexistência de prejuízo à menor, pois, no futuro, caso haja alguma modificação relevante, e se verifique a necessidade do auxílio material do pai, poderá ser estabelecida, por acordo entre as partes, ou judi- cialmente, a pensão alimentícia em favor da descendente do casal (BRASIL, 2018a, documento on-line). A guarda dos filhos também é decisão importante que decorre da ação de divórcio. Nesse sentido,para o STJ, 3Petição inicial de divórcio A nova redação do art. 1.584 do Código Civil irradia, com força vinculante, a peremptoriedade da guarda compartilhada. O termo “será” não deixa margem a de- bates periféricos, fixando a presunção — jure tantum — de que se houver interesse na guarda compartilhada por um dos ascendentes, será esse o sistema eleito, salvo se um dos genitores [ascendentes] declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor (art. 1.584, § 2º, in fine, do CC) (BRASIL, 2017a, documento on-line). Em processo judicial que pretendia homologar sentença estrangeira, a decisão corrobora o entendimento de que a guarda dos filhos é elemento essencial que deve ser regulamentado nas ações de divórcio: Não pode ser homologada a sentença estrangeira no ponto em que tolhe a convivência familiar, não concedendo ao pai o direito de visita, porquanto tal proibição consubstancia ofensa aos bons costumes e à ordem pública. 2. Não há óbice quanto à convalidação do divórcio e da guarda do filho menor, restando preenchidos os requisitos previstos nos arts. 216–A a 216–N do Regimento Interno deste Tribunal (BRASIL, 2017b, documento on-line). Das decisões analisadas, destaca-se que, sempre que houver filhos menores como fruto da união conjugal que se pretende dissolver com a ação de divórcio, é necessário que a petição inicial indique os pedidos sobre guarda dos filhos e prestação de alimentos. 2 Ação de divórcio Na vigência do Código Civil de 1916, era previsto o chamado “desquite” como forma de dissolução do casamento. A Lei nº 6.515/77, conhecida como “Lei do Divórcio” e compreendida como um importante marco para o ordenamento jurídico brasileiro, passou a regulamentar a então chamada “separação judicial”, além de tratar do divórcio. Aqui, cumpre destacar a principal diferença entre separação e divórcio: a separação põe fim à sociedade conjugal, mas não dissolve o casamento, ao contrário do divórcio. Assim, a separação pode ser compreendida como uma etapa anterior ao divórcio, como a manifestação de que não há mais interesse em permanecer naquela sociedade conjugal. Veja o que determina o art. 1.571 do Código Civil: Art. 1.571. A sociedade conjugal termina: I — pela morte de um dos cônjuges; II — pela nulidade ou anulação do casamento; Petição inicial de divórcio4 III — pela separação judicial; IV — pelo divórcio. § 1º O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente (BRASIL, 2002, art. 1.571, documento on-line). A separação judicial dissolve a sociedade conjugal de forma que os separa- dos prosseguem com o vínculo matrimonial. Por isso, eles estão impedidos de contrair novo casamento; essa possibilidade só existe após o divórcio. Conforme Venosa (2014, p. 164), “[...] a separação judicial, não rompendo completamente o vínculo matrimonial, consistia em um passo antecedente para que isso ocorresse posteriormente, com sua conversão em divórcio, a qual, todavia, não é medida antecedente obrigatória [...]”. A separação, então, é o instituto que se caracteriza como o primeiro passo para o divórcio, mantendo-se entre eles uma relação de sucessividade. Outra diferença substancial entre a separação e o divórcio refere-se à reconciliação, que só é permitida em caso de separação. Veja o que afirma o art. 1.577 do Código Civil: Art. 1.577. Seja qual for a causa da separação judicial e o modo como esta se faça, é lícito aos cônjuges restabelecer, a todo tempo, a sociedade conjugal, por ato regular em juízo. Parágrafo único. A reconciliação em nada prejudicará o direito de terceiros, adquirido antes e durante o estado de separado, seja qual for o regime de bens (BRASIL, 2002, art. 1.577, documento on-line). Os aspectos processuais da reconciliação estão disponíveis no art. 46 da Lei nº 6.515/77, prevendo que o pedido deve ser feito nos autos da ação de separação; caso tenha ocorrido extrajudicialmente, o pedido deve ser judicial, instruído com a respectiva certidão. O casamento, então, é restituído nos mesmos termos em que foi constituído, mantido, inclusive, o mesmo regime de bens; torna-se sem efeito a partilha outrora realizada. As regras de alteração de nome após a dissolução conjugal também são diferentes na separação e no divórcio. A regra do art. 1.571, § 2º, e do art. 1.578 do Código Civil é que, na separação, a continuidade da utilização do nome marital é facultativa ao cônjuge (BRASIL, 2002). Porém, a volta ao nome de solteiro torna-se obrigatória nas hipóteses de separação sanção, desde que sejam atendidas as disposições legais. No divórcio, não há de- pendência de sanção, basta que o cônjuge decida permanecer ou não com o nome marital. 5Petição inicial de divórcio Outro aspecto importante sobre a separação e o divórcio é que aquela pode ser convertida neste, desde que passado um ano do trânsito em julgado da sentença que o decretou. Veja o que o art. 1.580 do Código Civil prevê: Art. 1.580. Decorrido um ano do trânsito em julgado da sentença que houver decretado a separação judicial, ou da decisão concessiva da medida cautelar de separação de corpos, qualquer das partes poderá requerer sua conversão em divórcio. § 1º A conversão em divórcio da separação judicial dos cônjuges será decre- tada por sentença, da qual não constará referência à causa que a determinou (BRASIL, 2002, art. 1.580, documento on-line). Nessa hipótese, a petição inicial deve ser elaborada em atenção aos mesmos requisitos legais da petição que requer diretamente o divórcio. Antes do advento da Lei do Divórcio, era comum que casais buscassem outros países, que já regulamentavam o divórcio, a fim de justificar social- mente uma nova união. Contudo, o divórcio e o outro casamento no exterior eram atos sem qualquer repercussão jurídica no Brasil, de forma que as novas uniões eram consideradas concubinato. Trata-se de entendimento decorrente do cristianismo, responsável pela formação da sociedade ocidental. Para Venosa (2014, p. 160), “[...] o Concílio de Trento de 1563 consagrou o dogma do sacramento do matrimônio para os católicos e a indissolubilidade do vínculo. No século XVIII, as legislações implantam o casamento civil e a competência exclusiva do Estado para realizá- -lo, conservando-se, porém, a estrutura canônica [...]”. O Direito que rege as relações matrimoniais, portanto, tem inegável origem canônica, embora constantemente se adapte às mudanças sociais. Nesse sentido, entre as mudanças sociais mais recentes no que se refere à separação e ao divórcio, está a Emenda Constitucional nº. 66, de 13 de julho de 2010, que suscita muitos debates entre os juristas sobre sua repercussão prática. Ocorre que o art. 226, § 6º, da Constituição Federal, cuja redação era “[...] o casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separa- ção judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos [...]”, passou a ser “[...] o casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio [...]” (BRASIL, 1988, art. 226, § 6º, documento on-line) . Assim, de acordo com a nova redação legal, a utilidade da separação é discutível, ante a perda de seu caráter preparatório para o divórcio; contudo, é importante destacar que a separação continua plenamente válida no ordenamento jurídico brasileiro. A seguir, veja as principais diferenças entre separação e divórcio. Petição inicial de divórcio6 Separação: ■ dissolve a sociedade conjugal; ■ permite reconciliação; ■ exige a utilização do nome de solteiro para as hipóteses de separação sanção; ■ ainda permanece no ordenamento jurídico, mesmo que se discuta sua utilidade, e pode ser considerada a etapa anterior ao divórcio. Divórcio: ■ dissolve o vínculo matrimonial; ■ não permite reconciliação; ■ considera opcional a permanência com o nome de casado; ■ não depende de etapa anterior (separação), isto é, pode ser reque-rido diretamente por qualquer dos cônjuges, ou pode ser efetivado mediante conversão da separação em divórcio. Nos termos do art. 189 do Código de Processo Civil (CPC), todos os atos processuais são públicos (BRASIL, 2015). Porém, aqueles que versam sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes são exceção a essa regra e tramitam em segredo de Justiça. 3 Petição inicial A petição inicial de uma ação de divórcio deve conter como base todos os elementos previstos no art. 319 do CPC: são os requisitos formais, sobre os quais algumas peculiaridades devem ser observadas. Veja a seguir. No que se refere ao inciso I do comentado art. 319, o juízo competente para a ação de divórcio é, nos termos do art. 53 do CPC: o de domicílio do guardião de filho incapaz; o do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz; o de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal; o de domicílio da vítima de violência do- méstica e familiar, nos termos da Lei nº. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Já o inciso II do art. 319, que trata das partes que formam os polos ativo e passivo da petição inicial, determina que o pedido deve ser formado 7Petição inicial de divórcio estritamente pelos cônjuges, nos termos do art. 1.582 do Código Civil, que prevê: “[...] o pedido de divórcio somente competirá aos cônjuges [...]” (BRASIL, 2002, art. 1.582, documento on-line). Quanto ao inciso VII do art. 319, autor e réu serão obrigatoriamente intimados para comparecerem a uma audiência de conciliação, por força do art. 695 do CPC, que prevê: “[...] recebida a petição inicial e, se for o caso, tomadas as providências referentes à tutela provisória, o juiz ordenará a citação do réu para comparecer à audiência de mediação e conciliação, observado o disposto no art. 694 [...]” (BRASIL, 2015, art. 695, documento on-line). Há muitas discussões doutrinárias sobre a necessidade dessa audiência, porém, como o CPC de 2015 não se pronunciou especificamente sobre esse tema, as audiências seguem sendo realizadas. No caso de petição de divórcio consensual, o art. 731 do CPC exige a indicação de alguns elementos específicos. Veja: Art. 731. A homologação do divórcio ou da separação consensuais, observados os requisitos legais, poderá ser requerida em petição assinada por ambos os cônjuges, da qual constarão: I — as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns; II — as disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges; III — o acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas; e IV — o valor da contribuição para criar e educar os filhos. Parágrafo único. Se os cônjuges não acordarem sobre a partilha dos bens, far-se-á esta depois de homologado o divórcio, na forma estabelecida nos arts. 647 a 658 (BRASIL, 2015, art. 695, documento on-line). Contudo, é importante destacar que a partilha de bens, a definição da guarda dos filhos e a estipulação de alimentos para os filhos ou para o cônjuge são elementos que devem compor também a petição inicial de divórcio litigioso. A partilha de bens deve ser realizada sempre com base no regime de bens adotado pelos cônjuges ao contraírem o casamento, seja nas hipóteses de divórcio litigioso, seja nas hipóteses de divórcio consensual. O Código Civil prevê quatro regimes de bens: comunhão universal, comunhão parcial, separação de bens (que pode ser obrigatória, por força da lei ou convencio- nal) e participação final nos aquestos cujas características e regramentos devem ser observados para a elaboração dos pedidos que compõem a petição inicial de divórcio (BRASIL, 2002). Já a guarda dos filhos pode assumir duas formas: unilateral ou compartilhada, sendo que, por força do art. 1.584 do Código Civil, a regra é a determinação da guarda compartilhada (BRASIL, 2002). Petição inicial de divórcio8 Assim, o pedido que compõe a petição inicial de divórcio deve ser elaborado com base em uma dessas modalidades. A primeira modalidade é caracterizada pela guarda de apenas um dos cônjuges — cuja opção deve ser devidamente fundamentada. Já a segunda modalidade é caracterizada pela responsabilidade conjunta no que se refere aos direitos e deveres do menor. Por fim, doutri- nária e jurisprudencialmente, há a guarda alternada, na qual o menor tem duas residências, onde reside alternadamente; o pedido da guarda alternada exige também fundamentação. Em todos os tipos de guarda, o juiz definirá também o valor da pensão alimentícia, analisando cada caso e considerando a necessidade e a possibilidade de alimentar de cada parte. Por fim, a prestação de alimentos também pode ser requerida na petição inicial da ação de divórcio. Aos cônjuges, a recíproca obrigação alimentar tem origem no dever de mútua assistência atribuído a eles no enlace matrimonial, pois a responsabilidade de subsistência é um dos efeitos do casamento. Da mesma forma, com a dissolução do vínculo conjugal, entende-se que a obri- gação alimentar ainda persiste, desde que seja comprovadamente necessária, tendo como fundamento o princípio da dignidade da pessoa humana. Para Dias (2013, p. 551): Mesmo solvido o vínculo matrimonial pelo divórcio, havendo necessida- de de um e possibilidade do outro, o encargo alimentar persiste enquanto permanecer inalterada a condição econômico-financeira dos ex-cônjuges. Estabelecida a obrigação alimentar, quer quando da separação, quer por ocasião do divórcio, não havendo mudança na situação de vida de qualquer das partes, persiste o encargo. Quanto aos alimentos prestados aos filhos, é dever fundamental, primei- ramente dos pais, prover o sustento da prole. Por sustento, entende-se o dever de proteção e educação, inerentes ao poder familiar. A obrigação alimentar decorre desse vínculo e se constitui em prestação de alimentos quando um dos pais não é o guardião do filho, sendo que essa condição se verifica também para os casos de guarda compartilhada. O art. 1.579 do Código Civil prevê o seguinte: “O divórcio não modificará os direitos e deveres dos pais em relação aos filhos. Parágrafo único. Novo casamento de qualquer dos pais, ou de ambos, não poderá importar restrições aos direitos e deveres previstos neste artigo [...]” (BRASIL, 2002, art. 1.579, documento on-line). Nesse sentido, a obrigação de prestar alimentos ao filho surge mesmo antes de seu nascimento, caracterizando os direitos do nascituro. Nos termos do art. 2º do Código Civil, “[...] a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do 9Petição inicial de divórcio nascituro [...]” (BRASIL, 2002, art. 2º, documento on-line). Nascituro é o feto já concebido, com expectativa de nascimento com vida, mas a quem não se confere personalidade. Trata-se de uma proteção especial da legislação para que sejam resguardados os interesses de quem se espera que venha à vida. A partir desse entendimento, destaca-se a existência dos alimentos gravídicos, que se destinam à mãe, porém em virtude do filho; tais alimentos também podem ser estipulados na ação de divórcio. A prestação de alimentos, tanto para o cônjuge quanto para os filhos, pode ser livremente acordada pelos cônjuges. Porém, costuma ser de cerca de 30% dos valores percebidos pelo alimentante, ressalvadas as circunstâncias do caso concreto, sendo que o pedido inicial tem por praxe seguir esse padrão. Por fim, é importante comentar que a petição inicial de divórcio litigioso segue as mesmas diretrizes legais aqui expostas, de forma que alguns elementos se diferenciam da peça inicial que propõe o divórcio consensual. A seguir, veja quais são esses elementos e como elaborar essa peça processual. EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ______ VARA CÍVEL DA COMARCA DE PORTO ALEGRE. Assim como na petição inicial de divórcio consensual, o foro competente para a tramitação e o julgamentoda ação de divórcio litigioso deve seguir as previsões do art. 53 do CPC. Fulana de Tal, com qualificação nos termos do art. 319, II, do CPC, propõe AÇÃO DE DIVÓRCIO LITIGIOSO CUMULADA COM PEDIDO DE GUARDA, ALIMENTOS E PARTILHA DE BENS COM TUTELA DE URGÊNCIA em face de Ciclano de Tal, qualificação também nos termos do art. 319, II, do CPC, com base nos fatos e funda- mentos que passa a expor. (Diferentemente do que ocorre no divórcio consensual, uma das partes ingressa com a demanda judicial em face da outra, pois se trata de uma ação contenciosa.) I — DOS FATOS Aqui, devem ser indicadas informações como data e local do casamento, se foi constru- ído patrimônio na constância da união, bem como se foram gerados filhos. Fatos que fundamentam o divórcio, como violência doméstica, também devem ser relatados. II — DOS FUNDAMENTOS O art. 226, § 6º, da Constituição Federal, bem como a Lei nº 6.515/77 e o Código Civil são os principais fundamentos legais para o pedido de divórcio. Caso haja filhos menores, é preciso requerer a guarda, a regulamentação de visitas e a prestação de alimentos, Petição inicial de divórcio10 bem como definir se haverá prestação de alimentos entre as partes. Deve ser requerida a partilha dos bens e a opção pela utilização do nome de solteira. Tendo em vista que não há consenso entre as partes, deve-se apresentar elementos que fundamentem os pedidos do autor a fim de convencer o juiz. III — DOS PEDIDOS Deve-se requerer a procedência da ação de divórcio, nos termos em que se apresenta, bem como a expedição do mandado de averbação ao cartório onde se formalizou o casamento para os devidos procedimentos legais, como por exemplo: Isso posto, requer: 1. a concessão da tutela antecipada para condenar o requerido ao pagamento de pensão alimentícia aos filhos, no valor de 1/3 dos seus vencimentos, mediante depósito em conta corrente da requerente até o dia 10 de cada mês (banco, agência, conta); 2. que seja citado o requerido para, querendo, manifestar-se no prazo legal; 3. a intimação do representante do Ministério Público, nos termos do art. 178, II, do CPC; 4. que seja julgada totalmente procedente a presente ação de divórcio para: ■ declarar a extinção do vínculo matrimonial entre as partes, mediante divórcio, com a expedição de mandado de averbação para o cartório de registro civil onde foi firmado o casamento; ■ expedir mandado de averbação ao cartório de registro civil para que a requerente volte a assinar o nome de solteira, qual seja: ______; ■ regulamentar a guarda dos filhos menores, estabelecendo-se a guarda com- partilhada, nos termos propostos; ■ confirmar a tutela antecipada e condenar o requerido à prestação de alimen- tos definitivos aos filhos, no valor de 1/3 dos seus vencimentos, mediante depósito em conta corrente da requerente até o dia 10 de cada mês (banco, agência, conta); ■ a partilha dos bens arrolados, na proporção de 50% para cada parte, nos termos propostos; ■ a condenação do requerido nas custas processuais e honorários advocatícios; 5. a produção de todos os meios de prova admitidos, em especial prova documental, testemunhal e depoimento pessoal do requerido. Valor da causa: o valor da causa na ação de divórcio será o valor do patrimônio a ser partilhado entre as partes ou da prestação de alimentos. Local e data Assinatura (Ao contrário do que ocorre na petição inicial de divórcio consensual, apenas o advogado assina a peça inicial, indicando o número de seu registro na Ordem dos Advogados do Brasil — OAB.) 11Petição inicial de divórcio BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 22 jun. 2020. BRASIL. Lei nº 6.515, de 26 de dezembro de 1977. Regula os casos de dissolução da so- ciedade conjugal e do casamento, seus efeitos e respectivos processos, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6515.htm. Acesso em: 22 jun. 2020. BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 22 jun. 2020. BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 22 jun. 2020. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Interno no Agravo em Recurso Espe- cial nº 1.405.108 - PR. 2019. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/ inteiroteor/?num_registro=201803119599&dt_publicacao=11/11/2019. Acesso em: 22 jun. 2020. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Interno no Recurso Especial nº 1.704.218 - SC. 2018a. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_ registro=201702683127&dt_publicacao=19/06/2018. Acesso em: 22 jun. 2020. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.642.311 - RJ. 2017a. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=201602619145&dt_ publicacao=10/02/2017. Acesso em: 22 jun. 2020. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.732.807 - RJ. 2018b. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=201800727489&dt_ publicacao=17/08/2018. Acesso em: 22 jun. 2020. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.756.100 - DF. 2018c. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=201801193358&dt_ publicacao=11/10/2018. Acesso em: 22 jun. 2020. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Sentença Estrangeira Contestada nº 15832 – Ex. 2017b. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_ registro=201601680588&dt_publicacao=14/06/2017. Acesso em: 22 jun. 2020. DIAS, M. B. Manual de direito das famílias. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. VENOSA, S. S. Direito civil: direito de família. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2014. Petição inicial de divórcio12 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 13Petição inicial de divórcio