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CURSO DE DIREITO DIREITO DOS CONTRATOS PROFESSOR: LAURICIO ALVES CARVALHO PEDROSA Plano de aula 25 – Empréstimo: Mútuo (CC, arts. 586 a 592) Conceito. Características. Consiste no empréstimo de coisas fungíveis, com a obrigação de restituir coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade (CC, art. 586) Há transferência do domínio da coisa emprestada ao mutuário (CC, art. 587) Uma vez que se torna proprietário, o tomador assume os riscos referentes à perda ou perecimento da coisa desde a tradição Trata-se de contrato real�, uma vez que só se aperfeiçoa com a entrega da coisa É um contrato unilateral, tendo em vista que, em regra, só o mutuário assume obrigações, e gratuito� Vale ressaltar que o Código Civil Alemão, após reforma em 2002, passou a considerar o mútuo feneratício como um contrato consensual e não mais real�. Trata-se de opção mais adequada à realidade dessa relação contratual. Entretanto, o art. 591 estabelece que se o mútuo tiver fins econômicos, presumem-se devidos os juros, cujo valor não pode exceder, sob pena de redução o montante fixado no art. 406 Tem caráter temporário, pois traz em seu bojo a possibilidade de consumo com a obrigação de restituição� O mútuo pode ter finalidade específica. Neste caso, o desrespeito implicará infração contratual por desvio de finalidade Objeto. Forma Objeto do mútuo serão bens fungíveis Trata-se de contrato não-solene, uma vez que não se exige forma especial para sua celebração� Obrigação das partes Tendo em vista a natureza real do contrato, a entrega do bem fungível não pode ser considerada obrigação contratual do mutuante Em regra, o mutuante só responde por vícios se tiver agido com dolo� O mutuante tem o direito de exigir a restituição da coisa no momento oportuno Caso o mutuário sofra notória mudança em sua situação econômica, o mutuante pode exigir garantia de restituição (CC, art. 590) Se a garantia não for prestada, o mutuante poderá considerar vencido o empréstimo O mutuário tem a obrigação de restituir a coisa no tempo e forma devidos Empréstimo de dinheiro Denomina-se mútuo feneratício� aquele em que se estipula o pagamento de juros Quando o mútuo tiver finalidade econômica, presumem-se devidos os juros (CC, art. 591). No que se refere ao mútuo feneratício, o Código Civil de 2002 inovou ao presumir a onerosidade dessa espécie de contrato. Por outro lado, o legislador não mais restringiu o mútuo ao empréstimo de dinheiro ou de coisas fungíveis, como estabelecia o Código Civil de 1916, o que permite aplica-lo a outros tipos de bens. Os juros consistem num proveito auferido pelo capital emprestado. Representam a renda do dinheiro. Serão compensatórios quando consistirem no fruto do capital; ou moratórios, previstos para a hipótese de atraso no cumprimento da obrigação O art. 591 admitiu a capitalização anual dos juros� As instituições financeiras� são reguladas pela Lei de Mercado de Capitais (Lei n. 4.595/64) e se colocam fora do sistema de juros do Código Civil e da Lei de Usura (Dec. 22626/33) Mútuo feito a menor O mútuo feito a menor, sem prévia autorização do responsável pela guarda, não pode ser reavido nem do mutuário, nem dos seus fiadores (CC, art. 588) O art. 599 dispõe sobre as exceções à regra geral, a exemplo da ratificação posterior do responsável; de o empréstimo ter sido obtido maliciosamente pelo menor; de ter se revertido em seu benefício, dentre outros Essa modalidade de mútuo terá eficácia caso beneficie diretamente a pessoa que deveria autorizá-lo Tais exceções visam a obstar o enriquecimento ilícito Os detentores do poder familiar, tutores e curadores somente podem adquirir empréstimos, como representantes dos incapazes, mediante autorização judicial (CC, art. 1.691) Extinção Em regra, o contrato se extingue com o seu cumprimento É comum se estabelecer um prazo para cumprimento e extinção do mútuo No silêncio do contrato, presume-se que o prazo foi estabelecido em beneficio do devedor (CC, art. 133) e este poderá restituir a coisa antes do seu término A estipulação do prazo em benefício do credor depende de previsão contratual expressa O art. 592 estabelece três hipóteses em que se presume extinto o mútuo estipulado sem prazo: 1) se o mútuo for de produtos agrícolas, até a próxima colheita; 2) caso seja em dinheiro, após pelo menos 30 dias; 3) após o espaço de tempo declarado pelo mutuante, para as demais coisas fungíveis Se não foi fixado prazo de extinção do mútuo, poderá o mutuante efetuar a denúncia vazia ou imotivada do contrato. � EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. DESCONTO. FOLHA. LIMITAÇÃO. Trata-se de REsp em que a controvérsia cinge-se à limitação dos descontos em folha ao percentual de 30% dos vencimentos da recorrente a título de empréstimo consignado. A Turma entendeu que, ante a natureza alimentar do salário e em respeito ao princípio da razoabilidade, os empréstimos com desconto em folha de pagamento (consignação facultativa/voluntária) devem limitar-se a 30% dos vencimentos do trabalhador. Ressaltou-se que, no caso, o acórdão recorrido consignou que o percentual comprometido dos vencimentos da recorrente, pela mencionada linha de crédito, é próximo de 50%. Assim, deu-se provimento ao recurso. Precedentes citados: RMS 21.380-MT, DJ 15/10/2007, e AgRg no REsp 959.612-MG, DJe 3/5/2010. REsp 1.186.965-RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 7/12/2010. � A entrega é requisito de constituição do mútuo. � Nesse sentido: RIZZARDO Arnaldo. Contratos. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 599.GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. vol. III. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 325. VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Contratos em espécie, vol. III. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 237. Em sentido contrário, Venosa afirma que a regra geral no novo sistema seria a onerosidade do mútuo. Já para Orlando Gomes, a gratuidade não é da essência do contrato de mútuo e sim da sua natureza. (Contratos, p. 325). Portanto, o mútuo feneratício constitui exceção à natureza do contrato, uma vez que é um contrato bilateral e oneroso, em que se cobram juros pelo empréstimo de dinheiro. � MARQUES, Cláudia Lima. Sugestões para uma Lei sobre o tratamento de pessoas físicas em contratos de crédito ao consumo: proposições com base em pesquisa empírica de 100 casos no Rio Grande do Sul.In: Direitos do consumidor endividado.MARQUES, Cláudia Lima; CAVALAZZI, Rosângela Lunardelli (Coords.). São Paulo: RT, 2006, p. 293. � Sob pena de se transformar em doação. � Aplicam-se, entretanto, as normas do art. 227 do CC e 401 do CPC. � Nos mútuos onerosos, aplica-se em sua totalidade a teoria dos vícios redibitórios. � Em Roma, esse negócio era denominado foenus. � É proibida a convenção que permita a capitalização dos juros. Essa somente pode ocorrer quando autorizada por lei. Vide Súmula 121 do STF. � Vide Súmula 596 do STF. �PAGE �1� �PAGE �4�