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Esquizofrenia - estudo A esquizofrenia é uma das desordens mentais mais comuns, causando sintomas de psicose (incapacidade de distinguir a realidade da imaginação), como alucinações, delírios e outros sintomas como ouvir e ver coisas que, na verdade, não existem. No entanto, estes não são os únicos sintomas da condição. A doença vai restringindo a vida pessoal. O paciente passa a ter uma dificuldade social de se relacionar com as pessoas. Na verdade, a esquizofrenia é uma perda de contato com a realidade, é uma doença crônica, complexa e que exige tratamento por toda a vida. Há um desconhecimento muito grande sobre a doença porque de 1% a 2% da população sofre de esquizofrenia, diferente da depressão ou da síndrome do pânico, que atinge de 20% a 25%. A raridade da doença faz com que ela seja muito menos compreendida. Tipos de esquizofrenia Esquizofrenia paranoide Esquizofrenia hebefrênica ou desorganizada Esquizofrenia catatônica Esquizofrenia simples. Causas da esquizofrenia Ainda não se conhecem todos os mecanismos cerebrais que promovem os sintomas relacionados à esquizofrenia. Pesquisas anteriores associaram a doença com níveis muito altos (excesso) de dopamina na via mesolímbica e a falta desta na via mesocortical. Existem três hipóteses bioquímicas principais que explicam as disfunções nos sistemas neuronais. As principais hipóteses são a glutamatérgica e a dopaminérgica. Hipótese glutamatérgica - O sistema glutamatérgico, um dos maiores do sistema nervoso central, envolve diversos receptores que são ativados pelo seu agonista excitatório, o glutamato. Esses receptores podem ser metabotrópicos (mGluR) que agem indiretamente por meio de mensageiros via ativação da proteína C, produzindo uma corrente pós-sináptica lenta. Outros tipos de receptores são os ionotrópicos que permitem a entrada de Na+ e K+, auxiliando assim na despolarização do neurônio. Estão divididos em receptores NMDA e não-NMDA. Os receptores NMDA (N-metil-D-aspartato), além de permitir a passagem dos íons já citados, controla também a condutância do íon Ca2+ na membrana neuronal. Essa hipótese, que foi sustentada por resultados experimentais, considera que antagonistas (opostositor) dos receptores do tipo NMDA, agindo nos sítio de ligação do glutamato, induzem sintomas psicóticos. Sendo assim, pesquisadores propuseram que a hipofunção dos receptores NMDA estaria relacionada com o complexo sistema fisiopatológico da esquizofrenia. Hipótese Dopaminérgica - Foi baseada na observação dos efeitos de drogas como a anfetamina, que aplicada em doses altas e repetitivas e em pacientes sem quadro psicótico prévio, induzem uma psicose tóxica, muito semelhante a da esquizofrenia. Analogamente ao efeito da droga, os pesquisadores sugeriram que a esquizofrenia é resultado de um excesso de dopamina no SNC. A anfetamina, especificamente, aumenta a liberação de dopamina e inibe sua recaptação na membrana pré-sináptica. Evidências mais recentes obtidas por exames PET (Tomografia por Emissão de Prótons) confirmaram uma hiperatividade no sistema dopaminérgico de esquizofrênicos. Comparados a voluntários sadios, estavam elevadas a densidade de receptores D2 e a atividade da DOPAdescaboxilase. Sabendo disso, medicamentos, como a clopromazina e haloperidol, foram desenvolvidos, bloqueando receptores dopaminérgicos, sobretudo, o tipo D2 que estão presente nas áreas mesolímbicas e gânglios da base. Não existem fatores psicológicos ou ambientais que causam a esquizofrenia, mas sim fatores de vida que são gatilhos para o início das alterações cerebrais da doença. Fatores de risco Sabe-se que alguns fatores são gatilhos importantes para o início das alterações neuroquímicas cerebrais e para o posterior aparecimento dos sintomas da doença no comportamento do indivíduo: História familiar de esquizofrenia: as chances são de 10% se tiver um irmão com esquizofrenia, 18% se tiver um irmão gêmeo não idêntico com esquizofrenia, 50% se tiver um irmão gêmeo idêntico com esquizofrenia e 80% se os dois pais forem afetados por esquizofrenia Ser exposto a toxinas, vírus e má nutrição dentro do útero da mãe, especialmente nos dois primeiros trimestres da gestação; Problemas no parto como falta de oxigênio (hipóxia neonatal) Ter um pai com idade mais avançada Uso de maconha (o uso de drogas pode iniciar ou agravar o quadro de esquizofrenia) Tabagismo: A esquizofrenia acontece quando um indivíduo apresenta certas variantes genéticas que favorecem o transtorno mental. Segundo um estudo publicado pela revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), fumar pode agravar ainda mais os sintomas de delírio e alucinações fazendo com que a doença se manifeste mais intensamente. Características da doença A característica principal da doença é a dificuldade para diferenciar o que é real do imaginário, o que afeta o pensamento lógico e faz com que a pessoa tenha reações fora do "padrão" esperado. Quem tem o distúrbio pode assumir uma postura indiferente ao que acontece ao seu redor, ficando fechado em si mesmo e sempre com o olhar perdido. Normalmente, sofre delírios e alucinações, e não há raciocínio lógico que o convença do contrário. A esquizofrenia normalmente se manifesta na adolescência ou no início da fase adulta, atingindo igualmente homens e mulheres. Estima-se que, de cada 100 pessoas, uma seja esquizofrênica. Antigamente, o quadro era confundido com loucura e todos os pacientes iam parar em sanatórios; hoje estudo e tratamento evoluíram bastante. Causas da Esquizofrenia Ainda não se sabe ao certo quais as causas exatas da esquizofrenia, mas os especialistas trabalham, fundamentalmente, com a hereditariedade e fatores ambientais como elementos de risco para o desenvolvimento da doença. Alterações bioquímicas de neurotransmissores como a hiperfunção por excesso de dopamina encontrada na esquizofrenia pode estar associadas a uma alteração glutamatérgica. O sistema glutamatérgico é o maior sistema excitatório do sistema nervoso central (SNC) humano. Ele se distribui na maior parte das estruturas do SNC e está envolvido em funções cognitivas fundamentais como a memória e o aprendizado. Os receptores glutamatérgicos tipo NMDA são sofisticados neuroreceptores ionotrópicos, essenciais para a plasticidade neuronal, incluindo os mecanismos de “long-term potentiation” (LTP), sinaptogenesis e excitotoxicidade. Alterações do sistema glutamatérgico estão envolvidas não apenas na esquizofrenia, mas também em doenças neurológicas como epilepsia, isquemias, doença de Alzheimer e doença de Huntington e transtornos psiquiátricos como dependência de substâncias, transtornos obsessivo-compulsivo e afetivo bipolar, entre outros. O sistema glutamatérgico envolve uma série de receptores que são ativados pelo aminoácido glutamato. O glutamato é considerado o maior neurotransmissor excitatório do SNC. Sabe-se que a exposição a stress aumenta a atividade dopaminérgica em várias regiões cerebrais, em especial no sistema dopaminérgico mesocortical, sugerindo que a ativação da transmissão dopaminérgica pelo stress tem papel fundamental no desencadeamento de episódios psicóticos. Sintomas Os mais comuns compreendem: Alucinações - São alterações na forma como o cérebro percebe os estímulos do meio e se caracterizam pela percepção de estímulos que não existem ou que não estão sendo percebidos pelas outras pessoas como ver coisas que só ela vê ou ouvir coisas que apenas ela escuta. No entanto, para a pessoa com esquizofrenia, essas coisas têm toda a força e o impacto de uma experiência normal. As alucinações podem estar em qualquer um dos sentidos, mas ouvir vozes é a alucinação mais comum de todas. A pessoa pode tambémfalar sozinha interagindo com vozes que esteja ouvindo ou com imagens ou pessoas que esteja vendo. Delírios - a pessoa tem certeza absoluta de que está sendo perseguida, vigiada, de que alguém está tentando prejudicá-la a qualquer custo ou de que, ao repetir determinado gesto, está impedindo uma tragédia. Os delírios podem ser diversos e uma pessoa com esquizofrenia pode ter mais de uma forma de manifestá-los. Falta de motivação - a pessoa fica apática, sem ânimo e perde a vontade de realizar até ações simples, como conversar, cuidar da higiene pessoal ou alimentar. Alterações do pensamento - a linha de pensamento se torna confusa e desorganizada, o discurso passa a ser incoerente e difícil de entender. É habitual que a pessoa acredite que seus pensamentos estão sendo lidos por outras pessoas, ou até sendo roubados. Perda da capacidade afetiva - uma das marcas do esquizofrênico pode ser a falta de expressão afetiva, ou seja, a incapacidade de reagir emocionalmente às distintas situações. E, quando manifesta alguma reação, ela costuma ser incongruente e totalmente inadequada ao contexto em que está inserida. Diagnostico Não há exames médicos disponíveis capazes de diagnosticar a esquizofrenia. O diagnóstico é feito com base em uma entrevista minuciosa do médico (Psiquiatra) com o paciente e seus familiares e após descartar outras doenças que também podem cursar com os mesmos sintomas psicóticos da esquizofrenia, mas que decorrem de outras doenças que atingem o cérebro. A esquizofrenia é diagnosticada quando a psicose ocorre por uma alteração no próprio cérebro e não por psicose decorrente de outras causas. Exames que avaliam a imagem do cérebro como tomografia ou ressonância magnética e exames de sangue podem ajudar a descartar outras doenças que podem também se apresentar com psicose como exemplo: Doença de Wilson: doença genética relacionada ao metabolismo do cobre (presença de sintomas psicóticos em 10-20% dos casos); 2) Consumo de álcool, maconha, cocaína, alucinógenos e outras; 3) Tumores cerebrais que atingem o lobo temporal (todo primeiro surto psicótico necessita de um exame como uma tomografia para afastar este tipo de causa de psicose); 4) Doença de Alzheimer (até 60% dos casos apresentam psicose); 5) Demência fronto- temporal; 6) Doença de Parkinson; 7) Doença de Huntington; 8) Esclerose múltipla; 9) Encefalite límbica (inflamação imunológica do cérebro); 10) Lúpus Eritematoso Sistêmico; 11) Síndrome do X-frágil; 12) Encefalite do HIV (inflamação do cérebro pelo vírus HIV); 13) Medicamentos como esteróides anabolizantes, corticóides e anfetaminas; 14) Epilepsia; 15) Acidente vascular cerebral (AVC) principalmente no lado direito do cérebro; 16) Traumatismo cranioencefálico (TCE). Há diversas pesquisas no mundo para a criação de testes sanguíneos e de urina para detectarem transtornos mentais, ou seja, identificar no sangue ou urina substâncias associadas à doença. Nos Estados Unidos, cientistas estudam teste que mede a quantidade de um fator de crescimento de vasos sanguíneos (VEGF) vinculado ao aparecimento da esquizofrenia. Quanto maior, mais elevado o risco. 15 marcadores de inflamação, estresse oxidativo, metabolismo e hormônios relacionados à esquizofrenia estão sendo usados em teste desenvolvido na Universidade da Carolina do Norte. As técnicas de neuroimagem funcional e neuroquímicas têm sido consideradas o novo e mais importante paradigma de pesquisa nessa área, pois permitem avaliação in vivo. Tomografia por emissão de fóton único (SPET) e de pósitrons (PET), junto com ressonância magnética funcional (fMRI) e a espectroscopia por ressonância magnética (MRS), constituem as modalidades de neuroimagem mais utilizadas para estudo da esquizofrenia. As técnicas de SPET e PET permitem a avaliação in vivo dos diferentes sistemas de neurotransmissão, por meio de ligantes específicos marcados com elementos radioativos. É essencial fazer estudos in vivo em pacientes com esquizofrenia através de técnicas de neuroimagem, mas o avanço destas técnicas está limitado à disponibilidade de radiotraçadores específicos para determinados receptores. Radiotraçadores são considerados essenciais para a investigação psicofarmacológica, mas não existem radiotraçadores disponíveis para investigação in vivo do sistema glutamatérgico. Tratamento Como na maioria das vezes, quem tem esquizofrenia não têm consciência dos sintomas e das dificuldades enfrentadas, é normal que um familiar ou amigo seja a pessoa que busque ajuda. O tratamento mais habitual é o que alia psiquiatria e psicologia, já que é necessário o uso de medicamentos e o apoio psicossocial para reintegrar esse paciente à família e ao seu entorno social. INCLUIR NO TEXTO APÓS ESTUDO A origem dos sintomas da esquizofrenia Alucinações auditivas são um dos sintomas mais comuns sentidos por esquizofrênicos. O distúrbio psicológico, porém, pode gerar outras dificuldades. Entre elas, pensamento mais lento, delírios e alterações de afetividade. Além de os antipsicóticos diminuírem apenas alguns desses problemas, ingestão deles em excesso gera efeitos adversos também preocupantes, como alterações no sono. Uma descoberta de cientistas dos Estados Unidos sinaliza para intervenções terapêuticas mais eficientes. Em ratos, eles entenderam como um receptor determina a manifestação dos sintomas da esquizofrenia. Caso a falha genética seja confirmada em humanos, intervenções nela poderão otimizar os tratamentos. O estudo partiu de um princípio conhecido pelos cientistas — de que desregulações da quantidade de dopamina no cérebro causam a esquizofrenia. Os pesquisadores também conheciam o receptor de dopamina e a ligação dele com a doença, mas precisavam esclarecer a relação direta com os sintomas. “Em estudos feitos com humanos e intervenções (por meio de remédios) em receptores de dopamina, vimos que eles aliviavam as alucinações em muitas pacientes. Isso a partir de 1970 e 1980”, destaca Stanislav Zakharenko, um dos autores do estudo publicado na edição desta semana da revista Science e integrante do Departamento de Neurobiologia do Hospital St. Jude Children's (EUA). Utilizando esses dados iniciais, os cientistas conseguiram mapear, em camundongos, as conexões neurais sensíveis ao remédio. Observaram que um receptor de dopamina, o D2 — que, quando tem uma falha genética, expressa quantidade anormal do neurotransmissor —, reage mais à droga. Por isso, acreditam que os sintomas esquizofrênicos são causados pela superexpressão do receptor D2. “Agora, temos novos insights sobre os mecanismos que levam a defeitos de circuitos neuronais e à manifestação de sintomas da esquizofrenia chamados positivos, como delírios e alucinações, e os negativos e cognitivos, por exemplo, a perda de interesse em pessoas”, destaca Zakharenko. Segundo o pesquisador, os sintomas positivos (veja infográfico) são os únicos atualmente controlados por antipsicóticos. A comunidade científica tenta entender por que não há reação aos negativos e de deficit cognitivo. Uma vez identificadas as falhas nas conexões neurais ligadas a essas duas situações, terapias mais eficientes poderão ser desenvolvidas. “Experimentos específicos poderão ser realizados em busca de formas para tratar essas conexões, desenvolvendo moléculas para aliviar esses sintomas”, detalha. “Ganho valioso” Jorge Jaber, psiquiatra da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), acredita que, se o receptor D2 for confirmado em humanos como o principal responsável pelos sintomas do distúrbio, haverá um aumento na qualidade de vida de esquizofrênicos. “Muitas vezes, o paciente não consegue sanar todos os problemas com as doses iniciaisde antipsicóticos e temos que aumentá-la. Mas isso dá mais sono ou a pessoa pode engordar. Esse trabalho ajudaria neste ponto: acabar com esses efeitos colaterais do excesso de medicamento”, destaca. O psiquiatra explica que os remédios dão prioridade ao tratamento da alucinação auditiva, que é o sintoma mais comum do distúrbio. “Há também a visual, a de olfato. Caso tenhamos um remédio que atinja especificamente esse determinado gene causador desse sintoma e de outros, alterando a configuração genética, seria um ganho valioso”, completa. Análise inédita Há muitos cientistas que buscam desvendar a origem da esquizofrenia, mas a análise de receptores de dopamina específicos ainda não havia sido feita. Esse olhar diferenciado e mais aprofundado é o destaque do trabalho conduzido pelos pesquisadores norte-americanos, avalia Rodrigo Bressan, psiquiatra e coordenador do Programa de Esquizofrenia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “O remédio usado em tratamentos desse transtorno bloqueia esse tipo de receptor, mas ninguém nunca havia demonstrado isso. Agora, vemos, em ratos, como funciona a regulação gênica. A dopamina era conhecida, mas eles inovaram ao mostrar exatamente a área do cérebro afetada e como ela leva as alucinações”, destaca. Apesar do sucesso alcançado no experimento, Bressan acredita que um trabalho mais aprofundado é necessário para que a possibilidade de um tratamento com humanos fique mais próxima. Jaber também acredita que o trabalho necessita de mais dados, como os efeitos colaterais nos ratos com receptor de dopamina D2 que foram tratados com antipsicóticos normais. “Temos que saber se, futuramente, humanos que sofrerem essa intervenção no receptor estudado reagirão bem ao uso dos remédios, o trabalho não fala de efeitos colaterais nos ratos, isso é um ponto importante a ser explorado”, sugere. Zakharenko adianta que a pesquisa terá continuidade e que outros receptores deverão ser identificados, o que permitirá uma exploração detalhada dos componentes genéticos da doença. “O receptor D2 é apenas uma das muitas lesões genéticas conhecidas por causar a esquizofrenia, precisamos pesquisar mais. Esperamos que as moléculas que regulam a atividade dele possam ser alvo de drogas e que forneçam novas metas para as empresas farmacêuticas”, aposta.