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Fundamentos da Educação Inclusiva Sumário CLIQUE NO CAPÍTULO PARA SER REDIRECIONADO Princípios e fundamentos de uma escola inclusiva Barreiras atitudinais vivenciadas no espaço escolar Lei n.º 9.394/1996 Lei n.º 13.146/2015 Adaptações curriculares para a inclusão Introdução Currículo escolar Currículo e a inclusão escolar Os desafios dos professores na educação inclusiva O papel e os desafios dos professores na educação inclusiva Capacitação docente para educação inclusiva Formação docente A formação docente e a educação inclusiva Referências 5 18 28 39 50 Objetivos Definição Explicando Melhor Você Sabia? Acesse Resumindo Nota Importante Saiba Mais Reflita Atividades Testando Para o início do desenvolvimento de uma nova competência; Se houver necessidade de se apresentar um novo conceito; Algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; Curiosidades indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se form necessarias; Se for preciso acesar um ou mais sites para fazer dowload, assistir videos, ler textos, ouvir podcast; Quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; quando forem necessárias observações ou complementações para o seu conhecimento; As observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; Textos, referências bibliográficas e links para aprofundamento do seu conhecimento; Se houver a necessidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre; Quando alguma atividade de autoaprendizagem for aplicada; Quando o desenvolvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas. @faculdadelibano_ 1 Princípios e fundamentos de uma escola inclusiva Fundamentos da Educação Inclusiva Capítulo 1 Princípios e fundamentos de uma escola inclusiva Objetivos Ao término deste capítulo, você será capaz de identificar os princípios e os fundamentos de uma escola inclusiva. Tal conhecimento é de relevância substancial para aqueles que almejam contribuir para a edificação de uma sociedade mais equitativa e imparcial em relação a todos os indivíduos. E, então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá! Barreiras atitudinais vivenciadas no espaço escolar O que você sabe sobre as barreiras atitudinais no espaço escolar? Antes de responder essa pergunta, vamos retomar um pouco a história da educação, quando a escola era possível apenas para uma parte da população, para os filhos de nobres, pessoas de classes sociais e poder econômico elevados e religiosos. Diante desse contexto, a outra parte da população, que não pertencia a nenhum desses grupos, era total ou parcialmente excluída do processo de ensino-aprendizagem proposto pela educação formal no ambiente escolar. As pessoas com deficiência também faziam parte deste grupo de excluídos, com exceção das que pertenciam às famílias nobres. Acreditava-se em um modelo de educação especial, em que as pessoas com deficiência deveriam frequentar instituições de ensino especiais (segregadas), pois não teriam a capacidade de ter uma educação formal em uma escola regular. De acordo com Ribeiro, Simões e Paiva (2017), esse modelo de educação era justificado por meio da compreensão da classe dominante de que sujeitos que tivessem qualquer deficiência não seriam capazes de acompanhar a formação regular. Mantoan (2003 apud Ribeiro; Simões; Paiva, 2017) explica que o enfoque das aulas era na deficiência e não nas necessidades dos educandos de serem incluídos na sociedade, consequentemente, eles ficavam à margem de espaços sociais que não os acolhiam. Fundamentos da Educação Inclusiva Princípios e fundamentos de uma escola inclusiva Capítulo 1 De acordo com Ribeiro, Simões e Paiva (2017), as pessoas com deficiência, que não se enquadravam no padrão determinado pela cultura ideológica de normalidade, foram, e ainda são, vítimas de preconceitos, estereótipos e barreiras atitudinais, “recebendo o rótulo de limitados e incapacitados, sendo-lhes proibido o exercício de papéis sociais que lhes são de direito” (Ribeiro; Simões; Paiva, 2017, p. 4). A ideologia da normalidade é apresentada em discursos, que corroboram ações e/ou omissões para as pessoas, neste recorte, com deficiência, que sofrem cotidianamente com barreiras atitudinais (posturas afetivas e sociais, que se traduzem em discriminação e preconceito) que, em geral, estão travestidas de generalizações, subestimações, rejeições, praticadas sob o manto do tradicional argumento falacioso: “É melhor para ELE”. (Lima; Silva, 2009 apud Ribeiro; Simões; Paiva, 2017, p. 4) Nessa perspectiva, Santos (2019) explica que as barreiras atitudinais são aquelas determinadas na esfera social, sendo que as relações humanas se centram nas restrições dos indivíduos e não em suas habilidades, destacando que, para que a inclusão seja efetiva, o professor deve adotar uma nova perspectiva em relação às diferenças e assumir sua responsabilidade no contexto do processo de inclusão. A autora pontua que, de acordo com Petraglia (2011), a escola está atualmente no processo de formação de sua identidade, ainda em busca de clareza sobre qual papel desempenhar dentro do contexto atual. Ainda segundo a autora, a maneira de mudar essa situação envolve um processo gradual, no qual todos os participantes precisam cultivar a vontade de aprender, com o objetivo de superar as barreiras existentes (Santos, 2019). Nesse contexto, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei n.º 13.146 de 6 de julho de 2015) define barreiras atitudinais como “atitudes ou comportamentos que impeçam ou prejudiquem a participação social da pessoa com deficiência em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas” (Brasil, 2015, on-line). Acesse Para aprofundar o conhecimento sobre as barreiras que dificultam a inclusão, Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=BumI393k0vo Fundamentos da Educação Inclusiva Princípios e fundamentos de uma escola inclusiva Capítulo 1 Apesar de os movimentos sociais lutarem pelo direito de inclusão das pessoas com deficiência em uma escola regular, esse ambiente apresenta fragilidades, pois ele não foi pensado e nem projetado para atender a essa diversidade. Além disso, esses espaços não estão sendo adequados, consequentemente, a educação tem sofrido grandes impactos com a inclusão escolar. Embora seja um movimento subversivo, pois rompe com o ideal de normalidade e segregação, a educação inclusiva sofre constantes ataques alegando que a educação não está preparada para tal perspectiva e deixa ainda mais marcada a relação dominante e dominado, pois pela falta de acessibilidade os sujeitos com deficiência são excluídos no próprio modelo que, falaciosamente, é divulgado pelas políticas públicas educacionais como inclusão. (Ribeiro; Simões; Paiva, 2017, p. 8) Nesse contexto, Ribeiro, Simões e Paiva (2017) explicam que as barreiras atitudinais sustentam os preconceitos e as ideologias que não oferecem oportunidade de reconhecer e acreditar no potencial dos estudantes com deficiência. Por causa dessa atitude, segundo os autores, não existem reflexões e metodologias que proporcionem recursos didáticos eficientes para o processo educacional de alunos com características particulares de aprendizagem. Definição As barreiras atitudinais são barreiras sociais geradas, mantidas e fortalecidas por meio de ações, omissões e linguagem produzida, ao longo da história humana, num processo tridimensional que envolve cognições, afetos e ações contra a pessoa com deficiência ou quaisquer grupos em situação de vulnerabilidade. Isso resulta no desrespeito ou impedimento dos direitos dessas pessoas, limitando-as ou incapacitando-as para o exercício de direitos e deveres sociais. Assim, são abstratas para quem as produz e concretas para quem sofre seus efeitos (Lima; Tavares, 2012 p. 12 apud Ribeiro; Simões; Paiva, 2017, p. 10). Fundamentos da Educação Inclusiva Princípiosdisposto a reavaliar constantemente suas abordagens educacionais em resposta às necessidades atuais. As experiências desenvolvidas e vivenciadas pelos professores também são fundamentais para a sua formação. Além disso, vimos que a importância da formação inicial e continuada é tão significativa que essas áreas foram regulamentadas por políticas públicas no país. Aprendemos que nem todos os professores possuem a capacidade imediata de atender às demandas de alunos com necessidades educacionais especiais, e, portanto, enfatizamos a necessidade de orientação, preparação e apoio adequados. Para alcançar uma educação inclusiva de qualidade, é essencial que as escolas ofereçam um ambiente que atenda às necessidades psicológicas e profissionais dos professores, permitindo que eles desempenhem seu papel com eficácia e contribuam para o sucesso educacional de todos os alunos. Fundamentos da Educação Inclusiva Referências ADAMS, F. W.; TARTUCI, D.; PROCÓPIO, M. V. R. Formação de professores de ciência na perspectiva da educação especial: análise da produção científica sobre o tema. In: PERES, J. S.; PAULA, M. H.; SANTOS, M. P. (org.). Educação e formação de professores. São Paulo: Blucher, 2017. 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Currículo de formação docente inicial e inclusão de estudantes PAEE: uma análise do Projeto Imersão Docente. Educação, [s. l.], v. 46, n. 1, p. e55/1-27, 2021. CAMPBELL, S. I. Múltiplas faces da inclusão. Rio de Janeiro: Wak, 2. ed, 2016. CAPELLINI, V. L. M. F.; FONSECA, K. A. A escola inclusiva: seus pressupostos e movimentos. DOXA: Revista Brasileira de Psicologia e Educação, Araraquara, v. 19, n. 1, p. 107-127, jan/ jun. 2017. DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. 2ed. São Paulo: Cortez. Brasília, DF: MEC/ UNESCO, 2003. Fundamentos da Psicanálise Referências EDUCAÇÃO INCLUSIVA. [S. l.: s. n.], 2014. 1 vídeo (31 min.). Publicado pelo canal Canal Futura. Disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=AM7q-DJiGNA. Acesso em: 27 set. 2023. GROCHOSKA, M. A. Organização escolar: perspectiva e enfoques. Curitiba: InterSaberes, 2012. INSITITUTO NACIONAL DE ESTUDOS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXERIA. Resumo Técnico: Censo da Educação Básica 2018. 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De acordo com Campbell (2016), a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais, no ensino regular comum, exige várias mudanças e adaptações na estrutura social e educacional, o que proporciona mudanças de valores, já que a ideia central de inclusão é uma alteração na forma de compreender a pessoa com necessidades educacionais especiais, proporcionando uma sociedade para todos. Veja que a inclusão busca o rompimento das barreiras atitudinais, e, para isso, os profissionais que atuam no ambiente escolar precisam entender que o êxito das escolas inclusivas depende da identificação precoce, avaliação e estimulação, desde cedo, das crianças com necessidades educacionais especiais. FIGURA 1 Inclusão na sala de aula FONTE Freepik Fundamentos da Educação Inclusiva Princípios e fundamentos de uma escola inclusiva Capítulo 1 Nesse contexto, não podemos deixar de evidenciar que os professores que atuam em salas de ensino regular têm um papel importante na identificação dos alunos com necessidades educacionais e no rompimento dessas barreiras, pois eles têm contato direto e diário com os estudantes. Logo, o professor deve reconhecer que todos os seus alunos são diferentes e que cada um tem o seu tempo e processo individual de aprendizagem. Lei n.º 9.394/1996 Vamos, a partir de agora, retomar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Como você já sabe, é por meio da legislação que os princípios e fundamentos da educação inclusiva são regulamentados. Essa lei estabelece as regras básicas para o funcionamento do sistema educacional público e privado do país, os recursos financeiros e a formação dos profissionais que atuam na educação. Então, vamos lá? De acordo com Caldeira (2021), as políticas apresentam regras e normativos para que todos sejam incluídos. Nessa perspectiva, a inclusão é parte integrante de uma estratégia estatal que mobiliza formas específicas de autoridade para promover a participação de todos na economia capitalista, uma vez que, neste contexto histórico, não é possível que haja pessoas completamente alijadas dos vários processos sociais. Elas devem viver em um estado ambíguo e instável de inclusão/exclusão, um processo que é influenciado por relações de poder que definem os critérios e as normas para determinar quem está dentro ou fora. Ainda segundo Caldeira (2021, p. 8), [a] lógica da in/exclusão parte do princípio de que o “jogo formal de desigualdades do neoliberalismo, não garante condições de igualdade entre os sujeitos” (LOCKMAN, 2020, p. 69), o que faz com que as formas de exclusão sejam vividas de maneiras diferentes por indivíduos distintos. Apesar desses “gradientes de inclusão”, Lockman (2020, p. 69) afirma que, ao longo da última década, “considerando o contexto brasileiro, a inclusão se constituiu em um imperativo de Estado”. Fundamentos da Educação Inclusiva Princípios e fundamentos de uma escola inclusiva Capítulo 1 O art. 4.º da LDB estabelece que também é dever do Estado com a educação escolar pública garantir a educação básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio) obrigatória e gratuita para todos, conforme descrito: “I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte forma: pré-escola; ensino fundamental; ensino médio” (Brasil, 1996, on-line). Com relação à educação inclusiva, a LDB determina que também é dever do Estado: III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferencialmente na rede regular de ensino. (Brasil, 1996, on-line) Não podemos deixar de mencionar que o Estado também deve garantir: VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. (Brasil, 1996, on-line) Caso o direito à educação básica não seja cumprido, a(s) pessoa(s) pode(m) acionar o Ministério Público para exigi-lo: Art. 5º. O acesso à educação básica obrigatória é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída e, ainda, o Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo. (Brasil, 1996, on-line) Veja que, na LDB, está bem claro que todos têm direito à educação básica, sem qualquer discriminação. Nela, encontramos um capítulo todo dedicado à educação especial, no qual está explicitado: Art. 58o. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. § 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial. Fundamentos da Educação Inclusiva Princípios e fundamentos de uma escola inclusiva Capítulo 1 § 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular. § 3º A oferta de educação especial, nos termos do caput deste artigo, tem início na educação infantil e estende-se ao longo da vida, observados o inciso III do art. 4º e o parágrafo único do art. 60 desta Lei. (Brasil, 1996, on-line) A LDB, no art. 59, determina ainda que as escolas deverão assegurar aos estudantes métodos, currículo e recursos de acordo com as suas necessidades. Você estudará, mais adiante, sobre estas questões. Observe que, no art. 1.º, há a determinação de que A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. (Brasil, 1996, on-line). Essa lei é fundamental para o funcionamento e a organização da educação no Brasil e tem impacto direto sobre escolas, professores, alunos e gestores educacionais em todo o território nacional. Saiba Mais Para saber mais sobre a LDB, clique aqui. Fundamentos da Educação Inclusiva Princípios e fundamentos de uma escola inclusiva Capítulo 1 Lei n.º 13.146/2015 Não podemos deixar de estudar também a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI) – Lei n.º 13.146 de 6 de julho de 2015. O art. 1.º explicita que ela é “destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania” (Brasil, 2015, on-line). A LBI define pessoa com deficiência como: Aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva nasociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. (Brasil, 2015, on-line) Mas, afinal, como é realizada a avaliação da deficiência? De acordo com a LBI, esta avaliação será realizada somente quando necessária, por uma equipe multiprofissional e interdisciplinar, que deverá analisar: I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo; II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais; III - a limitação no desempenho de atividades; e IV - a restrição de participação. § 2º O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da deficiência. (Brasil, 2015, on-line) Nessa lei, também são citadas várias barreiras que impedem a participação social da pessoa com deficiência, tais como: urbanísticas, de transportes, de comunicação, tecnológicas, mobiliárias, entre outras. Veja, no quadro a seguir, as barreiras que impedem a inclusão escolar das pessoas com deficiência na rede regular de ensino. Fundamentos da Educação Inclusiva Princípios e fundamentos de uma escola inclusiva Capítulo 1 No que se refere ao direito à educação, a LBI, em seu art. 27, considera que A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados no sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem. Parágrafo único. É dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação. (Brasil, 2015, on-line) Ainda, no art. 28, especifica-se que é responsabilidade do Poder Público criar, garantir, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar, em todas as modalidades (Educação Básica e Ensino Superior), o sistema educacional inclusivo. QUADRO 1 Barreiras para a inclusão escolar FONTE Adaptado de Silva (2012, p. 127). • Prédios escolares pouco ou nada adaptados, por exemplo, prédios sem rampas, barras de apoio, banheiro adaptado, passagem para cadeira de rodas etc. • Adaptação insuficiente no mobiliário escolar, como falta de mesa e cadeiras adaptadas de acordo com as características dos alunos. • Número elevado de alunos por sala de aula. • Falta de recursos materiais, como material didático, adaptado em Braile, livros falados e equipamentos específicos, por exemplo, computador com sintetizador de voz etc. • Falta de software educativo específico. • Falta de recursos humanos: contratação de profissionais especializados, como intérprete de Libras, professor com formação em educação especial, psicólogo, fonoaudiólogo etc. Fundamentos da Educação Inclusiva Princípios e fundamentos de uma escola inclusiva Capítulo 1 Na LBI, também está explicitado que o projeto pedagógico da escola deve oficializar o atendimento educacional especializado, Assim como os demais serviços e adaptações razoáveis, para atender às características dos estudantes com deficiência e garantir o seu pleno acesso ao currículo em condições de igualdade, promovendo a conquista e o exercício de sua autonomia. (Brasil, 2015, on- line) É importante destacar que, por meio desta lei, fica reconhecido que Libras é a primeira língua das pessoas com deficiência auditiva e a língua portuguesa é a segunda. Por isso, é necessária a oferta de uma educação bilíngue nas escolas. Veja, no quadro, a seguir, alguns direitos que devem ser garantidos às pessoas com deficiência na rede de ensino regular, para uma educação inclusiva. XV - acesso da pessoa com deficiência, em igualdade de condições, a jogos e a atividades recreativas, esportivas e de lazer, no sistema escolar; XVI - acessibilidade para todos os estudantes, trabalhadores da educação e demais integrantes da comunidade escolar às edificações, aos ambientes e às atividades concernentes a todas as modalidades, etapas e níveis de ensino; § 1º Às instituições privadas, de qualquer nível e modalidade de ensino, aplica-se Saiba Mais Consulte a Lei n.º 13.146, clicando aqui. Fundamentos da Educação Inclusiva Princípios e fundamentos de uma escola inclusiva Capítulo 1 A LBI, portanto, visa promover a igualdade de oportunidades e a participação ativa das pessoas com deficiência em todos os aspectos da vida social, econômica e cultural do Brasil. É uma importante ferramenta para garantir seus direitos e promover a inclusão plena na sociedade. QUADRO 2 Lei n.º 13.146 - LBI FONTE Adaptado de Brasil (2015, on-line). obrigatoriamente o disposto nos incisos I, II, III, V, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XV, XVI, XVII e XVIII do caput deste artigo, sendo vedada a cobrança de valores adicionais de qualquer natureza em suas mensalidades, anuidades e matrículas no cumprimento dessas determinações. § 2º Na disponibilização de tradutores e intérpretes da Libras a que se refere o inciso XI do caput deste artigo, deve-se observar o seguinte: I - os tradutores e intérpretes da Libras atuantes na educação básica devem, no mínimo, possuir ensino médio completo e certificado de proficiência na Libras; II - os tradutores e intérpretes da Libras, quando direcionados à tarefa de interpretar nas salas de aula dos cursos de graduação e pós-graduação, devem possuir nível superior, com habilitação, prioritariamente, em Tradução e Interpretação em Libras. Saiba Mais Assista ao vídeo “Educação Inclusiva – Sala Debate Canal Futura”, disponível aqui. Fundamentos da Educação Inclusiva Princípios e fundamentos de uma escola inclusiva Capítulo 1 Resumindo Neste capítulo, você aprendeu que a escola regular precisa ser reestruturada para atender às especificidades de cada estudante, proporcionando um ambiente no qual eles tenham sucesso acadêmico. Por isso, uma escola que pretende ser inclusiva não pode se preocupar apenas com a adaptação da infraestrutura física do ambiente, ela precisa reformular os currículos, as formas de avaliação e a formação dos professores. É importante também lembrar da necessidade de eliminar as barreiras atitudinais, isto é, atitudes referentes às relações entre as pessoas que se concentram nas limitações dos indivíduos e não em suas habilidades. Apesar de o direito à inclusão das pessoas com deficiência, negros, índios etc. estar garantido por leis e os movimentos sociais buscarem a efetivação dessas leis, ainda existem muitos preconceitos e ideologias que não acreditam no potencial desses sujeitos. Logo, a escola precisa ser um espaço que possibilite a eliminação dessas atitudes com reflexões, metodologias, recursos didáticos etc. Além disso, é função de uma escola inclusiva exigir do governo políticas educacionais voltadas para a diversidade, que deve ser aceita, respeitada e, principalmente, valorizada. @faculdadelibano_ 2 Adaptações curriculares para a inclusão Fundamentos da Educação Inclusiva Capítulo 2 Adaptações curriculares para a inclusão Objetivos Ao término deste capítulo, você será capaz de compreender as adaptações curriculares necessárias para que uma escola do ensino regular seja inclusiva. Essas adaptações são necessárias para propiciar a aprendizagem de todos os alunos. E, então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá! Introdução Salend (2008 apud Silva, 2012) elege quatro princípios fundamentais a serem seguidos para que uma inclusão escolar seja bem-sucedida: 1. Acesso para todos os alunos – garantido pela Lei n.º 9.394/1996 e pela Lei n.º 13.146/2015. 2. Aceitação dos pontos fortes e desafiadores dos alunos, assim como da diversidade – eliminação das barreiras atitudinais. 3. Práticas reflexivas e instruções diferenciadas. 4. Noções de comunidade e colaboração. Fundamentos da Educação Inclusiva Adaptações curriculares para a inclusão Capítulo 2 Currículo escolar Na educação formal, são diversasas mudanças que vêm acontecendo. Por isso, a busca é constante por práticas críticas e reflexivas para a construção do saber de qualidade, que visa à aprendizagem de todos. Nesse contexto, a escola tem o currículo para orientar seu processo de aprendizagem. Segundo Sacristán (2000), o currículo escolar se refere à trajetória de formação dos alunos. Esse autor explica que o currículo faz parte dos múltiplos tipos de práticas e sugere três grandes grupos de problemas na elaboração de um currículo: • currículo como projeto cultural, em que conteúdos são selecionados; • determinações políticas, administrativas e institucionais que modelam a seleção de conteúdo, inclusive os não explicitados, que seria o currículo oculto; • uma sequência histórica, o que implica na seleção de conteúdo a partir de um campo social, condicionada por uma realidade ampla. Nesse contexto, as considerações de Sacristán (2000) instigam um conjunto de questões para a formulação de um currículo, entre elas: • quais conhecimentos devem ser ensinados? FIGURA 2 Princípios fundamentais para inclusão escolar FONTE Elaborada pela autoria (2023). Fundamentos da Educação Inclusiva Adaptações curriculares para a inclusão Capítulo 2 • quais as competências e habilidades que os alunos precisam ter? • quais os critérios de seleção de tais conhecimentos? • a quem esse currículo se destina? • que cidadão ou cidadã se pretende formar? Essas questões foram respondidas a partir dos dilemas sociais da época. No momento atual, estamos vivendo o dilema da educação inclusiva no ensino regular. Então, a partir desses questionamentos, podemos refletir sobre as adaptações curriculares para a inclusão. FIGURA 3 Adaptação para inclusão FONTE Pixabay É importante lembrar que as adaptações curriculares em uma escola inclusiva são necessárias, pois a inclusão deve ser de todos, independentemente, de suas necessidades educacionais especiais, origem socioeconômica, cultural ou religião. A escola e a sala de aula são ambientes em que as necessidades dos estudantes devem ser atendidas e desenvolvidas. Diante desse contexto, Silva (2012) explica que o sistema educacional, na inclusão escolar, precisa ser reorganizado para atender às necessidades dos estudantes, proporcionando meios para que esses alunos alcancem progressos escolares e sucesso acadêmico. Mas, afinal, quais são as adaptações curriculares necessárias para uma escola inclusiva? O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, redigido por Fernando de Azevedo e assinado por mais de 25 educadores e/ou escritores para o Governo, determina que o currículo escolar para educação deve ser funcional e ativo, bem como que os currículos devem adaptar-se aos interesses naturais dos alunos, que são o eixo da escola e o centro de gravidade do problema da educação. Fundamentos da Educação Inclusiva Adaptações curriculares para a inclusão Capítulo 2 Nessa perspectiva, os princípios da Escola Nova: baseiam- se na iniciativa do estudante; preocupam-se com o que a criança pode realmente aprender; valorizam as tendências espontâneas da criança; os professores sugerem, orientam e coordenam; os métodos, programas e horários são maleáveis; visam às noções utilizáveis; são essencialmente educativos; estão mais próximos do meio natural de vida; buscam o aperfeiçoamento; elevam a natureza moral do aluno; procuram individualizar o ensino, produzindo satisfação; atendem mais ao presente; tratam a criança como criança; propõem uma atividade produtiva e obtêm a disciplina voluntária. Currículo e a inclusão escolar As adaptações curriculares são necessárias, pois têm como objetivo buscar alternativas para o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes com necessidades educacionais especiais. É importante evidenciar que a menção da adaptação curricular está presente tanto na Lei n.º 13.146/2015 (art. 28) quanto na Lei n.º 9.394/1996 (art. 59), respectivamente: Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar: III - projeto pedagógico que institucionalize o atendimento educacional especializado, assim como os demais serviços e adaptações razoáveis, para atender às características dos estudantes com deficiência e garantir o seu pleno acesso ao currículo em condições de igualdade, promovendo a conquista e o exercício de sua autonomia. (Brasil, 2015, on-line, grifos da autoria) Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação: I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades. (Brasil, 1996, on-line, grifos da autoria) Apesar de a adaptação curricular estar regulamentada em lei, não está especificada como deve ser realizada. Os autores Oliveiro e Machados (2007 apud Santana et al., 2020) afirmam que essas adaptações implicam no número de alunos em sala de aula, na cooperação entre os professores do ensino regular e do ensino especial e, ainda, no Fundamentos da Educação Inclusiva Adaptações curriculares para a inclusão Capítulo 2 tempo de permanência do estudante em uma determinada série. Os autores explicam que esse ajuste, na promoção do aluno de uma série para outra, precisa prever um atendimento de suplência para apoiá-lo, caso não seja esgotado o plano de ensino da classe anterior. Portanto, compreende-se por adaptação curricular, as modificações realizadas no planejamento, dos objetivos da escola, nos conteúdos, nas atividades, nas estratégias de aplicação deste conteúdo e da avaliação, no currículo como um todo ou um aspecto dele. (Oliveiro; Machados, 2007 apud Santana et al., 2020, p. 3) Essa adaptação é um desafio, já que os professores deverão buscar uma educação que possibilite não apenas a aquisição do conhecimento, mas também o desenvolvimento de capacidades dos estudantes de transformarem e conviverem com as diferenças. Vamos aprofundar mais adiante nos estudos sobre os desafios para os professores na educação inclusiva. De acordo com Santana et al. (2020), as adaptações curriculares são um caminho para o atendimento dos estudantes com necessidades específicas. No entanto, para compreender essas necessidades, deve ser realizada uma avaliação para identificar as necessidades de aprendizagem específicas de cada aluno. Essa avaliação deve ser realizada por uma equipe interdisciplinar do setor. No momento em que essas necessidades educacionais específicas são identificadas, a escola precisa modificar as suas ações e expectativas em relação aos alunos, bem como organizar um ambiente escolar em que todos tenham ciência dessas especificidades dos estudantes (Santana et al., 2020). É importante destacar que as adaptações curriculares devem considerar todos os aspectos, já que a educação é muito mais que a transmissão do conhecimento. Por isso, a necessidade da participação de todos: da família, da comunidade acadêmica e da sociedade. Em uma sala de aula, as necessidades são diversas. Ela não deve se limitar apenas aos estudantes com necessidades especiais. Assim, há a necessidade de se pensar no currículo com foco principal no ser humano (Santana et al., 2020). Nessa perspectiva, o currículo: representa muito mais do que um programa de estudos, um texto em sala de aula ou o vocabulário de um curso. Mais do que isso, ele representa a introdução Fundamentos da Educação Inclusiva Adaptações curriculares para a inclusão Capítulo 2 de uma forma particular de vida; ele serve, em parte, para preparar os estudantes para posições dominantes ou subordinadas na sociedade existente. O currículo favorece certas formas de conhecimento sobre outras e afirmar os sonhos, desejos e valores de grupos seletos de estudantes sobre outros grupos, com frequência discriminando certos grupos raciais, de classe ou gênero. (Maclaren, 1998, p. 116 apud Santana et al., 2020,p. 4) Nesse contexto, Santana et al. (2020) afirmam que as modificações curriculares devem influenciar todos que estão envolvidos no processo, para que seja uma preparação para vida. Devem solucionar os conflitos e as inquietações que surgem, a partir de uma nova perspectiva e, ainda, que todos se entendam e se respeitem cada vez mais. Vale salientar ainda que o currículo deve ser adaptado às necessidades educacionais dos estudantes. Logo, a função da escola é oferecer currículos que se adaptem à diversidade de estudantes que ela tem, isto é, o currículo deve ser organizado, respeitando os interesses, as potencialidades e capacidades de cada um. Além disso, de acordo com Santana et al. (2020, p. 5), a escola precisa estar atenta para o fato que as necessidades não são estabelecidas de forma definitiva, mas se constituem no fazer pedagógico cotidiano, na busca de caminhos e respostas, indo além das dificuldades, possibilitando ao aluno um desenvolvimento pleno, norteado pelo horizonte da participação social, e não mais pelo patamar dos limites de sua deficiência – o que gera a sua exclusão social. FIGURA 4 Todas as pessoas devem seguir juntas nas modificações curriculares FONTE Pixabay Fundamentos da Educação Inclusiva Adaptações curriculares para a inclusão Capítulo 2 Não podemos deixar de mencionar que, em alguns casos, as adaptações curriculares exigem recursos para que elas aconteçam de forma efetiva dentro do sistema educacional. Entre esses recursos, podemos citar: intérprete de Libras para estudantes surdos; diferentes materiais didáticos para o desenvolvimento da percepção tátil para os alunos com deficiência visual; mobiliário; recursos pedagógicos e estratégias adequadas que motivam e possibilitam a aprendizagem dos estudantes com necessidades educacionais especiais, entre outros. As adaptações de acessibilidade ao currículo se referem à eliminação de barreiras arquitetônicas e metodológicas, sendo pré- requisito para que o aluno possa frequentar a escola com autonomia e participar das atividades acadêmicas para os demais alunos. Estas incluem as condições físicas, materiais e de comunicação, como por exemplo, rampas, de acesso e banheiros adaptados, apoio de intérpretes de LIBRAS e/ou capacitação do professor e demais colegas, transição de textos BRAILLE e outros recursos de recursos pedagógicos adaptados para deficientes visuais, uso de comunicação alternativa com alunos com paralisia cerebral ou dificuldades de expressão oral, entre tantos outros. (Santana et al., 2020, p. 8) Importante A Resolução n.º 2, de 11 de setembro de 2001, institui as Diretrizes Nacionais para Educação Especial, na Educação Básica. Referente à adaptação do currículo, fica estabelecido que: Art. 8º As escolas da rede regular de ensino devem prever e prover na organização de suas classes comuns: III -flexibilizações e adaptações curriculares que considerem o significado prático e instrumental dos conteúdos básicos, metodologias de ensino e recursos didáticos diferenciados e processos de avaliação adequados ao desenvolvimento dos alunos que apresentam necessidades educacionais especiais em consonância com o projeto pedagógico da escola, respeitada a frequência obrigatória; V – Serviços de apoio pedagógico especializado em salas de Fundamentos da Educação Inclusiva Adaptações curriculares para a inclusão Capítulo 2 Para Santana et al. (2020), a educação especial precisa ser vista como um conjunto de medidas que a escola regular disponibiliza ao serviço de resposta adaptada à diversidade dos seus estudantes. Nessa mesma linha de pensamento, Silva (2012) afirma que a inclusão escolar se trata de um processo que exige mudanças de posturas e práticas no ambiente escolar. Tornar real as adaptações curriculares é o melhor caminho para o atendimento às necessidades específicas de aprendizagem dos alunos. Identificar essas “necessidades” requer que os sistemas educacionais modifiquem não apenas suas atividades e expectativas em relação a esses alunos, mas que se organizem para construir uma real escola para todos, que dê conta dessas especificidades. A inclusão de alunos com necessidades especiais na classe regular implica o desenvolvimento de ações adaptativas, visando a flexibilização do currículo, para que ele possa ser desenvolvido de maneira efetiva em sala de aula, e atender as necessidades individuais de todos os alunos. (Santana et al., 2020, p. 8) recursos, nas quais o professor especializado em educação especial realize a complementação ou suplementação curricular, utilizando procedimentos, equipamentos e materiais específicos; VIII – temporalidade flexível do ano letivo para atender as necessidades educacionais especiais de alunos com deficiência mental ou com graves deficiências múltiplas, de forma que possam concluir em tempo maior o currículo previsto para a série/etapa escolar, principalmente nos anos finais do ensino fundamental, conforme estabelecido por normas dos sistemas de ensino, procurando-se evitar grande defasagem de idade/ série. (Brasil, 2001, on-line) Saiba Mais A adaptação curricular é uma etapa indispensável para que a educação inclusiva seja efetivamente discutida na rede de ensino regular. Para saber mais sobre esse processo, leia o artigo “Educação Inclusiva: um Fundamentos da Educação Inclusiva Adaptações curriculares para a inclusão Capítulo 2 Diante desse contexto, fica evidenciado que a prática pedagógica tradicional, fundamentada na transmissão de conhecimento, torna-se ineficaz para o processo de aprendizagem dos alunos, pois desconsidera as outras formas de aprendizagem. Essa proposta homogeneizada do currículo provoca dificuldades de aprendizagem, desistência, repetência, fracasso escolar etc. e não atende à diversidade dos estudantes presentes no ambiente escolar. olhar sobre as adaptações curriculares”, de Caroline Borges Zanato e Roberto Gimenez (2017). Para realizar a leitura, clique aqui: Resumindo Neste capítulo, você aprendeu que currículo escolar é o percurso de formação dos estudantes e que existem três grandes problemas em sua elaboração: currículo como projeto cultural; determinações políticas, administrativas e institucionais e uma sequência histórica. Diante deste contexto, ao formular um currículo, é necessário responder algumas perguntas, tendo em vista problemas sociais da época. Você estudou a complexidade que envolve a elaboração das adaptações curriculares que podem propiciar a aprendizagem de todos os estudantes. Em alguns casos, essas mudanças no currículo exigiriam recursos para a aprendizagem acontecer de forma efetiva. Colocar em prática esse currículo requer muita determinação da docência, pois o profissional precisa estar disposto a examinar suas atitudes, buscar diferentes formas de ensinar, avaliar e organizar a sala de aula. @faculdadelibano_ 3 Os desafios dos professores na educação inclusiva Fundamentos da Educação Inclusiva Capítulo 3 Os desafios dos professores na educação inclusiva Objetivos Ao término deste capítulo, você será capaz de compreender os desafios enfrentados pelos professores para implantar e manter uma educação inclusiva, as dificuldades e as resistências impostas pelo sistema de ensino e pela sociedade como um todo. E, então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá! O papel e os desafios dos professores na educação inclusiva Para iniciar os estudos, reflita sobre a seguinte questão: “Qual o perfil de aluno que precisamos formar para sociedade?” Com o acesso fácil à informação, por meio dos recursos tecnológicos presentes no dia a dia dos estudantes, a escola e os professores precisam rever sua metodologia para buscarem formar um aluno integral. Assim, Delors (2003) apresenta os quatro pilares da educação adequados ao cenário vivenciado pelos alunos: • aprender a ser; • aprender a conhecer; • aprender a fazer; • aprender a conviver. Veja oquadro a seguir. Observe que os quatro pilares estão relacionados com a educação do mundo contemporâneo, no qual está a educação inclusiva. Esses pilares abordam pontos que estão diretamente ou indiretamente relacionados com a perspectiva da educação inclusiva, não somente no Brasil, mas no mundo. Fundamentos da Educação Inclusiva Os desafios dos professores na educação inclusiva Capítulo 3 QUADRO 2 Os quatro pilares da educação FONTE Adaptado de Delors (2003). Fundamentos da Educação Inclusiva Os desafios dos professores na educação inclusiva Capítulo 3 Veja que esses quatro pilares estão relacionados com a proposta da educação inclusiva, em que a inclusão é ir além da inserção do estudante com necessidades educacionais especiais no sistema regular de ensino. Essa inclusão tem uma jornada e um propósito, com vários obstáculos durante todo o processo. Então, vamos juntos conhecer estes desafios? Os professores desempenham um papel importante durante todo o processo de aprendizagem dos estudantes com necessidades especiais. É com o apoio desses profissionais que os alunos vão desenvolver e ampliar as habilidades que já possuem. Na sala de aula, o professor é o responsável por organizar o ambiente, guiar e orientar as atividades durante o processo de aprendizagem para aquisição do conhecimento e das competências. Para nortear e adaptar, quando necessário, a sua prática, o professor tem como apoio o projeto pedagógico da escola, que indica ações que ele deverá assumir diante da diversidade presente na sala de aula. Por isso, sua participação na construção desse documento é relevante. A partir desse documento, ele poderá propor adaptações curriculares individualizadas com foco no atendimento às particularidades de cada aluno. Além disso, o professor é o responsável por proporcionar uma sala de aula de cooperação e oportunidade para todos. É um desafio para os professores proporcionarem esse ambiente perante a diversidade presente em sala de aula. Salend (2008 apud Silva, 2012) explica que os professores precisam considerar os diversos fatores que tornam os indivíduos únicos, como raça, gênero, língua, comprometimento e nível econômico, pois esses fatores interagem e influenciam o desempenho acadêmico e social dos seus estudantes. Por isso, “as salas de aulas inclusivas são aquelas que promovem aceitação e equidade, que valorizam a capacidade que todos os indivíduos possuem para aprender e contribuir com a sociedade” (Silva, 2012, p. 103). Fundamentos da Educação Inclusiva Os desafios dos professores na educação inclusiva Capítulo 3 Um outro desafio para o docente é refletir sobre a sua prática educativa, pois, na educação inclusiva, esse profissional tem que estar disposto a avaliar suas ações e buscar diferentes formas de ensinar, avaliar e organizar a sala para proporcionar e garantir um ambiente que atenderá as necessidades dos estudantes, contribuindo para a evolução e experiência escolar significativas. FIGURA 5 Desafio para o professor FONTE Freepik Importante Para que a inclusão escolar seja efetivada com êxito, não basta que apenas alguns professores dentro de uma escola acreditem nela. Pelo contrário, é necessário que toda a comunidade escolar, incluindo familiares e alunos, acreditem e sigam os princípios básicos da inclusão, ou seja, democracia, igualdade, busca de uma educação de qualidade para todos os alunos com necessidades educacionais especiais no ensino regular (Shaffner; Buswell, 1999 apud Silva, 2012, p. 104). É importante evidenciar que os professores precisam do apoio dos gestores da escola na implantação de uma educação inclusiva de qualidade para todos. Shaffner e Buswell (1999 apud Silva, 2012) afirmam que são os gestores das escolas responsáveis por definirem os objetivos que a escola deverá alcançar para se tornar uma instituição inclusiva, garantirem que as ações sejam implantadas para que se alcance esses objetivos e por fornecerem apoio para as interações e os processos elaborados de Fundamentos da Educação Inclusiva Os desafios dos professores na educação inclusiva Capítulo 3 acordo com a perspectiva de inclusão escolar. Frente aos desafios impostos pelo processo de inclusão escolar, os gestores de ensino devem apresentar uma postura firme de defesa dos direitos dos alunos de receberem educação de qualidade na sala comum da escola regular, sem demonstrar ambivalência, porque isso pode ocasionar insegurança entre os membros da comunidade escolar e comprometer todo o processo. (Silva, 2012, p. 105) Uma dificuldade encontrada pelos professores é a resistência de outros profissionais ou até mesmo de outros professores em aceitar a inclusão escolar. De acordo com Plaisance (2005 apud Silva, 2012), as escolas estão acomodadas com as suas rotinas e, por isso, têm dificuldades em aceitar qualquer mudança ou inovação que implique em reestruturação de um sistema já estabelecido. Outra dificuldade mencionada por este autor é o moralismo abstrato: a inclusão escolar muitas vezes é tratada como um apelo sentimental, como uma missão a ser cumprida por professores que possuem amor ao próximo e alguma vocação especial que lhes possibilita acolher alunos com necessidades educacionais especiais. Esse moralismo abstrato é muito perigoso, já que o amor ao próximo e o simples acolhimento daqueles que são diferentes não garantem que a inclusão seja efetivada e, principalmente, que os alunos com necessidades educacionais especiais consigam obter sucesso acadêmico. (Plaisance, 2005 apud Silva, 2012, p. 129) Nesse sentido, Silva (2012) explica que a inclusão escolar precisa garantir que os estudantes com necessidades especiais tenham acesso a um ensino regular de qualidade, para que todas as necessidades sejam consideradas e supridas. Para isso, a escola deve ir além do discurso “escola para todos e todas”. Ela precisa de profissionais especializados e que os professores sejam formados para responderem da melhor maneira possível à diversidade em sala de aula. Além disso, deve ser garantido a esses estudantes materiais didáticos adaptados, mobiliários adaptados e infraestrutura física adaptada, pois, como sabemos, às vezes, a escola já tem os profissionais capacitados para uma educação inclusiva de qualidade, entretanto, ela não fornece os recursos necessários para que isso se torne possível. Fundamentos da Educação Inclusiva Os desafios dos professores na educação inclusiva Capítulo 3 A criação de uma escola inclusiva, portanto, é um objetivo fundamental para promover a igualdade de oportunidades e o sucesso educacional de todos os estudantes, independentemente de suas habilidades ou características individuais. Para alcançar essa visão inclusiva, Stainback e Stainback (2003, p. 265 apud Capellini; Fonseca, 2017, p. 113) propuseram um plano estratégico abrangente, destacando os principais elementos necessários para o desenvolvimento de uma filosofia inclusiva no ambiente escolar. Fundamentos da Educação Inclusiva Os desafios dos professores na educação inclusiva Capítulo 3 QUADRO 3 As principais características da escola inclusiva FONTE Adaptado de Stainback e Stainback (2003 apud Capellini; Fonseca, 2017). Na educação inclusiva, não podemos deixar de mencionar que também é um desafio para o professor a busca permanente de aprendizagem. Esse profissional precisa estar constantemente se atualizando, pois ele deve ir além da implantação de currículos Fundamentos da Educação Inclusiva Os desafios dos professores na educação inclusiva Capítulo 3 e programas estabelecidos pela escola. De acordo com Campbell (2016), o professor precisa ter condições para escolher atividades, conteúdos ou experiências que sejam mais adequados ao desenvolvimento das capacidades do grupo de alunos, sempre levando em consideração o nível e as necessidades de cada um. A educação inclusiva veio tornar mais complexa e mais desafiadora a tarefa dos educadores e evidenciou que sua formaçãonunca está acabada. Eles precisarão estudar o que estavam dispensados de estudar, aprender técnicas sobre as quais antes não pensavam, adequar seu ritmo ao de seus alunos, aprender a “ouvir” por outros meios diferentes da audição, terão de rever suas expectativas, as formas de ensinar, avaliar, aprovar e reprovar (Campbell, 2016). De acordo com Campbell (2016, p. 158), o professor precisa urgentemente “descer de seu pedestal e admitir que não se considera capaz de lidar, sem o apoio de colegas ou profissionais de áreas afins, com a diversidade de problemas que se apresentam em seu cotidiano”. Esse é um papel do professor na educação inclusiva, assumir as suas dificuldades e compartilhar com seus colegas ou profissionais da área para juntos buscarem um caminho para atenderem com qualidade às necessidades educacionais do estudante. É importante lembrar que outro desafio do professor é conhecer as necessidades educacionais do seu aluno, saber o que ele já domina e quais são as possibilidades de desenvolver esses conhecimentos. Para isso, o professor precisa conversar com os pais e os professores anteriores, para conhecer melhor o perfil do seu estudante e, ainda, ter acesso ao seu histórico escolar. Professor eficiente é aquele que observa seus alunos, percebendo suas dificuldades, potencialidades, e desenvolve práticas que viam, ao máximo, ao desenvolvimento de cada um e de todos, utiliza métodos diferenciados de ensino e de avaliação, respeitando as limitações de cada um, buscando formas cooperativas e colaborativas que propiciem a integração do conjunto de seus alunos. (Campbell, 2016, p. 159) Campbell (2016) considera que o professor precisa mudar o foco das incapacidades dos seus estudantes para as potencialidades que eles possuem. Isso pode ser um desafio para o docente, pois ele precisará buscar novas estratégias para evidenciar Fundamentos da Educação Inclusiva Os desafios dos professores na educação inclusiva Capítulo 3 essas potencialidades do estudante. De acordo com Campbell (2016, p. 159), “novas estratégias, para o alcance de seus objetivos é um bom começo para tornar eficiente o trabalho do educador, qualquer que seja o tipo de escola em que atue”. Sabemos que é necessário mudar a forma de ensinar, tornando mais atraente os conteúdos a serem ministrados, não só integrando a realidade, mas também a transformando, aliando-a aos interesses dos alunos, tornando prazeroso e mais efetivo o ato educativo. (Campbell, 2016, p. 159) Não podemos deixar de mencionar que outro desafio do professor, dentro do ambiente escolar, é fazer com que os estudantes com necessidades especiais se sintam pertencentes àquela sala de aula, que também fazem parte daquele grupo e podem, de alguma forma, contribuir para o crescimento do grupo. Reflita Quais são as características do professor inclusivo? Você consegue listá- las? Conhece cada um dos seus estudantes e ainda os educa, dando ênfase à aprendizagem significativa; Criar tarefas de acordo com a capacidade do aluno, entretanto, desafiadoras; Acredita na capacidade do aluno, proporcionando diversas experiências para que a aprendizagem seja desenvolvida e efetiva; Proporciona um ambiente positivo dentro da sala, incentivando os estudantes a trabalharem em colaboração, fazendo com que todos se sintam pertencentes ao grupo; Reconhece e valoriza os esforços e os resultados alcançados pelos estudantes, mesmo quando esse resultado não alcance o objetivo esperado; Sempre busca dar feedback para os seus alunos, orientando os seus progressos e dando condições para eles progredirem tanto nos estudos, como no relacionamento com outros indivíduos. Fundamentos da Educação Inclusiva Os desafios dos professores na educação inclusiva Capítulo 3 O trabalho desenvolvido pelo professor, dentro da sala de aula, em uma turma mista (com alunos sem nenhuma necessidade educacional especial ou com necessidade educacional especial) é difícil, mas é possível com o sistema de ensino, da família e até da comunidade. As mudanças, nesse ambiente, para uma educação inclusiva, requerem mudanças dos conceitos, das práticas pedagógicas e de recursos necessários para uma educação inclusiva de qualidade. Resumindo Neste capítulo, você compreendeu que o professor tem um papel fundamental durante todo o processo de aprendizagem de seus alunos com necessidades educacionais especiais, pois são eles que auxiliarão os alunos a desenvolverem e ampliar as habilidades que já possuem. O professor tem o projeto pedagógico da escola que serve de apoio para nortear e adaptar, quando necessário, a sua prática docente. Este projeto é importante para o docente, pois ele sinaliza ações que deverá assumir diante da diversidade presente na escola (cultural, ética, racial, religiosa etc). Por isso, a sua participação na construção deste projeto é tão importante. Mas, apesar disso tudo, a situação não é tão simples! É necessário ainda o apoio da família, da comunidade e do próprio sistema de ensino. Uma educação inclusiva requer a mudança de conceitos, práticas e recursos. Entretanto, nem todos estão abertos para essa mudança. Um dos maiores desafios da educação inclusiva é a formação dos professores para lidarem com as diversidades de alunos presentes na escola. @faculdadelibano_ 4 Capacitação docente para educação inclusiva Fundamentos da Educação Inclusiva Capítulo 4 Capacitação docente para educação inclusiva Objetivos Ao término deste capítulo, você será capaz de identificar os requisitos curriculares e as competências a serem desenvolvidas no processo de capacitação docente para atuar na educação inclusiva. A capacitação é tão importante que ela está regulamentada pelas políticas públicas. E, então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá! Formação docente O docente deve sempre considerar e reconsiderar as suas práticas educativas, tendo em vista o contexto social em que essas práticas acontecem, a vivência acadêmica, mas também a sociedade em que a escola está inserida. Ele não pode descartar as experiências já desenvolvidas e vivenciadas em outros momentos e espaços, mas ele precisa também buscar se atualizar. De acordo com Grochoska (2012, p. 128), “o professor deve estar preparado tanto teoricamente quanto em sua prática para interagir de maneira conjunta com os diversos elementos que compõem a dinâmica escolar”. É importante destacar que a formação docente está também estabelecida nas políticas públicas para a educação, conforme está descrito na Lei n.º 9.394/1996: Parágrafo único. A formação dos profissionais da educação, de modo a atender às especificidades do exercício de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes etapas e modalidades da educação básica, terá como fundamentos: I – a presença de sólida formação básica, que propicie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas competências de trabalho; II - a associação entre teorias e práticas, mediante estágios supervisionados e capacitação em serviço; III – o aproveitamento da formação e experiências anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades. (BRASIL, 1996, on-line) Fundamentos da Educação Inclusiva Capacitação docente para educação inclusiva Capítulo 4 Também, referente à formação docente, a Resolução CNE/CP n. 2, de 20 dezembro de 2019, em seu art. 2.º estabelece que: Art. 2º. A formação docente pressupõe o desenvolvimento, pelo licenciando, das competências gerais previstas na BNCC-Educação Básica, bem como das aprendizagens essenciais a serem garantidas aos estudantes, quanto aos aspectos intelectual, físico, cultural, social e emocional de sua formação, tendo como perspectiva o desenvolvimento pleno das pessoas, visando à Educação Integral. (Brasil, 2020, on-line) Importante A Resolução CNE/CP n.º 2, de 20 de dezembro de 2019, em seu anexo “Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC-FORMAÇÃO)”,lista as competências gerais e específicas para os docentes. Saiba mais, clicando aqui. Com base nessas competências, compreende-se que a formação docente deve ser vivenciada em uma perspectiva integral, pois, além de dominar os conteúdos, o professor também precisa saber planejar a sua prática, ter engajamento profissional e compreender como uma escola é estruturada. Grochoska (2012) explica que o docente precisa conhecer os processos de aprendizagem para buscar oferecer o melhor atendimento para o estudante com necessidades educacionais especiais. Tornar-se exímio pesquisador também é requisito para a formação docente, visto que o professor é um sujeito do processo. Assim, é preciso que os sistemas de ensino proponham estratégias de formação inicial e continuada, a fim de melhor preparar esse profissional para o exercício da sua profissão, inclusive prevendo seus planos de carreira a ascensão para aqueles que manifestarem interesse nessa formação. (Grochoska, 2012, p. 128) Fundamentos da Educação Inclusiva Capacitação docente para educação inclusiva Capítulo 4 É importante destacar que a escola é um local de aprendizagem para o desenvolvimento profissional dos docentes. Conforme é explicado por Saviani (2009 apud Nascimento; Almeida; Passos, 2016), a formação pedagógico-didática dos docentes acontecerá em decorrência do domínio dos conteúdos e da própria prática docente. Entretanto, infelizmente, existe um distanciamento entre a formação dos professores e a realidade escolar. Consequentemente, essa formação desvinculada da realidade escolar é a responsável pela ineficácia do sistema escolar. Nesse contexto, Nascimento, Almeida e Passos (2016) indicam que a formação inicial deve consistir em aprender a aprender com a experiência. Diante dessa perspectiva, os autores afirmam que é preciso entender que existe uma relação entre a formação e o trabalho docente e que essa relação pode ser traduzida em um somatório de momentos formais e não articulados. Não podemos deixar de mencionar a importância da formação docente continuada, que também está regulamentada na LDB – Lei n.º 9.394/1996: § 2º A formação continuada e a capacitação dos profissionais de magistério poderão utilizar recursos e tecnologias de educação a distância. [...] Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada para os profissionais a que se refere o caput, no local de trabalho ou em instituições de educação básica e superior, incluindo cursos de educação profissional, cursos superiores de graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação. (Brasil, 1996, on-line) E, também, na LBI – Lei n.º 13.146/2015, no art. 28: Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar: X - adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos programas de formação inicial e continuada de professores e oferta de formação continuada para o atendimento educacional especializado; XI - formação e disponibilização de professores para o atendimento educacional especializado, de tradutores e intérpretes da Libras, de guias intérpretes e de profissionais de apoio. (Brasil, 2015, on-line) Fundamentos da Educação Inclusiva Capacitação docente para educação inclusiva Capítulo 4 A formação docente continuada é importante para o exercício da docência e se justifica pela fragilidade na formação inicial e, também, pela necessidade de compreender a complexidade e a diversidade da sala de aula. Segundo Vieira e Omote (2021, p. 745), [...] a capacitação de professores, da formação inicial à formação continuada, precisa levar em consideração suas variáveis pessoais. Não é suficiente o conhecimento sobre os variados fundamentos da Educação Especial e da Educação Inclusiva nem o domínio de procedimentos e recursos avançados. As atitudes sociais em relação à inclusão favorável representam uma possibilidade de que os conhecimentos e os recursos disponíveis são mobilizados para a construção da Educação Inclusiva. Nessa perspectiva, observa-se que a formação continuada dos docentes deve ser contínua, para que sejam aperfeiçoados os conhecimentos necessários à sua prática profissional, no contexto atual, em que a informação está disponível para todos e todas nas redes de comunicação. Entretanto, essa informação somente poderá ser considerada conhecimento quando ela tem sentido para os estudantes. Vieira e Omote (2021) destacam que, no contexto do cotidiano escolar, os professores enfrentam inúmeras dificuldades. Além de mediar o processo de construção do conhecimento, eles são confrontados com a complexidade dessa tarefa e com a necessidade de assumir novos papéis e responsabilidades no âmbito da educação inclusiva. Independentemente de sua posição política ou da abordagem pedagógica adotada, os professores desenvolvem crenças, expectativas e atitudes sociais que influenciam suas interações e ações com os alunos. Por conseguinte, é crucial levar em consideração as características individuais dos professores para alcançar uma educação de qualidade. Compreender essas particularidades pessoais e aprender a empregá-las, em benefício do trabalho docente, é essencial na formação dos professores. É necessário aguçar a capacidade do professor de refletir sobre a sua própria prática, autoavaliar- se e reconstruir suas condutas com autonomia, em conformidade com a realidade que se Fundamentos da Educação Inclusiva Capacitação docente para educação inclusiva Capítulo 4 apresenta na sala de aula. A auto-observação, a reflexão e a busca de transformação pessoal devem ser contínuas. Devem ampliar-se espaços de encontro entre os professores e destes com outros setores da escola, que, em interação, caminhem para a construção de uma cultura escolar inclusiva [...]. (Vieira; Omote, 2021, p. 750) Diante do atual contexto, em que a diversidade faz parte do cotidiano escolar, uma vez que o acesso das pessoas com deficiência no ensino regular está regulamentado pelas políticas públicas, fica mais evidente a necessidade da formação continuada docente. Além disso, de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep (2019), tem aumentado gradualmente o percentual de alunos com deficiência (transtornos globais do desenvolvimento ou altas habilidades) matriculados em classes comuns em todas as etapas da educação. Conforme o Inep, 88% dos alunos estavam incluídos em classe comuns, em 2018, e a maior proporção de estudantes incluídos é observada no ensino médio, em que 98,9% deles se encontram nessa posição. Mas, entre 2014 e 2018, o maior aumento na proporção de alunos incluídos foi observado, na educação infantil, um aumento de 11,5%. Veja o gráfico a seguir. FIGURA 6 Percentual de alunos com deficiência matriculados em classes comuns FONTE Inep (2019) Fundamentos da Educação Inclusiva Capacitação docente para educação inclusiva Capítulo 4 Destaca-se aqui o Plano Nacional de Educação (PNE), cuja meta 4 se refere à educação especial inclusiva para a população de 4 a 17 anos de idade com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. Observando a imagem a seguir, verifica-se que o percentual de matrículas de alunos incluídos em classe comum vem aumentando gradativamente ao longo dos anos. Em 2014, o percentual de alunos incluídos era de 87,1%; em 2018, esse percentual passou para 92,1%. Além disso, considerando a mesma população de 4 a 17 anos, verifica-se que o percentual de alunos que estão incluídos em classes comuns e que têm acesso às turmas de atendimento educacional especializado (AEE) também cresceu no período, passando de 37,1% em 2014 para 40,0%, em 2018 (INEP, 2019). A partir desses dados, vamos estudar a importância da formação docente na educação inclusiva. Conforme Campbell (2016), é necessário conhecimento e habilidades para que os docentes atuem com sucesso na inclusão. De acordo com a autora, esse sucesso será possível desde quea boa prática de ensino inclua a avaliação das necessidades educacionais especiais dos estudantes, adaptação do conteúdo curricular, a utilização de tecnologia, individualização dos processos de ensino-aprendizagem, entre outras habilidades. FIGURA 7 Percentual de matrícula de alunos de 4 a 17 anos com deficiência FONTE Inep (2019) Fundamentos da Educação Inclusiva Capacitação docente para educação inclusiva Capítulo 4 A formação docente e a educação inclusiva O professor tem um papel muito importante na formação educacional dos alunos, pois ele é o indivíduo que convive diariamente com estudantes. Nesse contexto, o professor é responsável por mediar a construção do conhecimento dos estudantes, mas também de valorizar e incentivar a relação entre os seus estudantes, no que se refere ao respeito às diferenças. De acordo com Adams, Tartuci e Procópio (2017), a formação continuada é uma forma de superar as precariedades na formação inicial, mas também deve ser articulada às mudanças socioculturais. Assim, os autores explicam a necessidade de se discutir sobre o papel do professor para o atendimento às diferenças: uma formação de professores voltada também para a educação especial, já que ele é o sujeito responsável por criar condições que garantam um processo de ensino e aprendizagem efetivo aos estudantes. Saiba Mais Para saber mais sobre a formação docente continuada, leia aqui o artigo “Formação docente continuada e práticas de ensino no atendimento educacional especializado”, de Pinto e Amaral (2019). Nesse artigo, os autores abordam a importância da formação teórica de qualidade para os docentes, a necessidade de um maior engajamento deles na política por uma educação de qualidade e para que eles tenham maior clareza do que fundamenta as suas práticas. A formação docente inicial e continuada de professores é um desafio, pois, segundo Adams, Tartuci e Procópio (2017), esses cursos devem desenvolver conhecimentos que possibilitem promover nesses profissionais novas atitudes e a compreensão das diversas e complexas situações de ensino. Isso pode garantir aos docentes a oportunidade de realizarem de maneira responsável e satisfatória seu papel no processo de ensino e aprendizagem para a diversidade. O conhecimento e as habilidades requeridas para que os professores atuem com sucesso na inclusão dizem respeito principalmente à boa prática de ensino e Fundamentos da Educação Inclusiva Capacitação docente para educação inclusiva Capítulo 4 incluem a avaliação de necessidades especiais, adaptação do conteúdo curricular, utilização de tecnologia de assistência, individualização de procedimentos de ensino de forma que abarquem uma variedade de habilidades etc. (Campbell, 2016, p. 154) De acordo com Campbell (2016), deve ser dada uma atenção especial tanto à formação inicial quanto continuada dos docentes, pois eles precisam aprender a exercer a autonomia e aplicar suas habilidades na adaptação do currículo e na sua prática docente, a fim de atender às necessidades especiais dos estudantes. Além disso, nessas formações, é preciso evidenciar a importância da colaboração dos professores com os especialistas e a cooperação com os pais. Não se pode deixar de mencionar que a escola, de acordo com Campbell (2016), deve propiciar condições dignas de trabalho para os professores comuns e especializados. Segundo o autor, a escola precisa compreender que nem todos os professores têm condições psíquicas e profissionais adequadas ao trabalho com alunos com necessidades educacionais especiais, precisando de orientação, preparo e apoio. Os professores precisam repensar sua prática pedagógica, ela não pode ser fundamentada apenas no senso comum, pois isso dificulta a detecção dos problemas de aprendizagem de seus estudantes. Eles precisam ter conhecimento referente à deficiência do estudante, pois, conforme explica Campbell (2016, p. 158): A educação inclusiva veio tornar mais complexa e mais desafiadora a tarefa dos educadores e evidenciou que sua formação nunca está acabada. Eles precisarão estudar o que antes estavam dispensados de estudar, aprender técnicas nas quais antes não pensavam, adequar seu ritmo ao de seus alunos, aprender a “ouvir” por outros meios diferentes de audição, terão de rever suas expectativas, as formas de ensinar, avaliar, aprovar, reprovar. Referente às atitudes dos professores sobre inclusão existem diversas pesquisas sobre essas atitudes, Vieira e Omote (2021) listam as seguintes atitudes: • impacto da idade cronológica nas atitudes sociais emrelação à inclusão: • pesquisas revelam resultados contraditórios em relação à idade dos professores e suas atitudes sociais; Fundamentos da Educação Inclusiva Capacitação docente para educação inclusiva Capítulo 4 • alguns estudos sugerem que professores mais jovens podem apresentar atitudes mais favoráveis à inclusão, enquanto outros estudos indicam o oposto ou não encontram diferenças significativas; • experiência docente e atitudes sociais em relação à inclusão: • estudos mostram que professores com maior tempo de experiência podem ter atitudes mais desfavoráveis à inclusão, mas também há pesquisas que apresentam resultados divergentes; • a qualidade das experiências dos professores com alunos com deficiência, em sala de aula, pode influenciar positivamente suas atitudes sociais; • formação profissional e atitudes sociais em relação à inclusão: • a escolha da área de formação e/ou atuação profissional pode estar relacionada às atitudes sociais dos professores em relação à inclusão; • alguns estudos indicam que professores com formação específica em educação especial podem apresentar atitudes mais favoráveis à inclusão do que aqueles sem essa formação; • impacto das variáveis pessoais e demográficas nas atitudes sociais em relação à inclusão: • habilidades sociais, autoeficácia e região geográfica onde os professores atuam também podem estar associadas às suas atitudes sociais em relação à inclusão; • condições do ambiente de trabalho, carga horária docente, acesso a recursos e apoio recebido também são fatores relevantes. Essas atitudes sociais dos professores em relação à inclusão são influenciadas por uma variedade de fatores e podem ter impacto direto na maneira como os professores lidam com a diversidade e promovem a inclusão em sala de aula. A compreensão dessas atitudes é fundamental para o desenvolvimento de programas de formação e capacitação de professores que promovam uma educação inclusiva de qualidade para todos os estudantes. Antes de encerrar este capítulo, não podemos deixar de destacar que a formação continuada está regulamentada pelas políticas públicas do Brasil. Na LDB, Lei n.º 9.394/1996: Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada para os profissionais a que se refere o caput, no local de trabalho ou em instituições de educação básica e superior, incluindo cursos de educação profissional, cursos superiores de graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação. (Brasil, 1996, on-line) Fundamentos da Educação Inclusiva Capacitação docente para educação inclusiva Capítulo 4 E na LBI, Lei n.º 13.146/2015: X - adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos programas de formação inicial e continuada de professores e oferta de formação continuada para o atendimento educacional especializado. (Brasil, 2015, on-line) Essas leis são cruciais para garantir que todos os estudantes, independentemente de suas habilidades ou deficiências, tenham a oportunidade de receber uma educação de qualidade em ambientes inclusivos. No entanto, é importante observar que a implementação eficaz dessas leis depende da cooperação de governos, escolas, educadores e da sociedade em geral. Resumindo Neste capítulo, vimos a importância da formação inicial e continuada para a educação e ainda como essa formação pode contribuir para uma educação inclusiva de qualidade. Para isso, foi analisado que o docente deve estar sempre