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Victória David Brito 5° Período Medicina SP 1.5 – CUIDADOS O QUE? 1.Entender a dor oncológica (definição, fisiopatologia, quadro clínico e complicações do tratamento oncológico e tratamento medicamentoso e não medicamentoso) DEFINIÇÃO A dor oncológica é um dos sintomas mais comuns em pacientes com câncer, afetando cerca de 30-50% dos pacientes em tratamento ativo e até 70-90% nos estágios avançados da doença. Pode impactar significativamente a qualidade de vida, levando a limitações funcionais, distúrbios do sono e sofrimento emocional. Dor oncológica por tipo de câncer: Em geral, a dor no câncer apresenta intensidade e frequência elevadas (mais de 50% dos indivíduos), independentemente do diagnóstico tumoral, porém sua prevalência é um pouco maior no câncer de cabeça e pescoço. A dor parece estar mais presente de acordo com os seguintes diagnósticos: pulmão (18,1%), mama (13,4%), cabeça e pescoço (10,2%), estômago, esôfago ou pâncreas (9,6%), colorretal (9,5%), útero (6,6%), próstata (6,0%), leucemia e linfomas (3,9%) e outros (22,7%). TIPOS Classificação pela Duração: Essa classificação leva em conta o tempo de evolução da dor. o Dor Aguda: Duração curta; Geralmente associada a procedimentos ou complicações; Exemplos: dor pós-operatória, mucosite induzida por quimioterapia. o Dor Crônica: Persiste por mais de 3 meses; Pode estar associada ao tumor ou a sequelas do tratamento; Exemplos: dor óssea persistente em metástases, dor pós-mastectomia. Classificação pelo Padrão de Apresentação Relacionada à variação da intensidade e ao contexto em que a dor ocorre. o Dor Basal: Presente de forma contínua, podendo ser controlada com medicações; Exemplo: dor óssea por metástases. o Dor Irruptiva: Episódios de dor intensa que ocorrem apesar do controle da dor basal; De curta duração e de difícil controle; Exemplo: dor irruptiva em paciente com câncer avançado em uso de opioides. o Dor Incidental: Relacionada a movimentos ou atividades específicas; Exemplo: dor ao movimentar um membro fraturado por metástase óssea. CAUSAS Quanto à dor no paciente com câncer, sua etiologia pode ser multifatorial, podendo ser relacionada ao tumor, ao tratamento ou à presença de morbidades associadas. Dor decorrente primariamente do câncer • Invasão ou distorção óssea e das demais estruturas do aparelho locomotor. Frequentemente decorre do mieloma múltiplo, das metástases, especialmente das neoplasias da mama, próstata ou pulmão ou das fraturas ósseas. • Infiltração e ou compressão dos troncos nervosos periféricos e ou do neuroeixo. A dor pode decorrer de invasão ou distorção dos nervos, plexos e raízes nervosas, medula espinal, encéfalo e ou meninges pelo tumor ou suas metástases. Nestes casos, pode apresentar características neuropáticas, nociceptivas (hipertensão intracraniana) ou mistas (carcinomatose meníngea)". • Acometimento das vísceras ocas ou parenquimatosas. A oclusão das vias de trânsito viscerais resulta em estase à montante e, consequentemente, em distensão das paredes das vísceras, espasmo muscular e isquemia tecidual do que resulta dor difusa, tipo cólica ou peso mal-localizada, episódica ou constante, referida à distância. A dor também pode resultar da distensão da cápsula das vísceras sólidas s • Oclusão de vasos sanguíneos ou linfáticos. A redução do calibre ou oclusão de vasos pela invasão ou compressão extrínseca pelo tumor pode causar estase venosa ou linfática, edema e ou isquemia tecidual e, consequetemente, dor e claudicação. • Infiltração ou ulceração das mucosas e ou do tegumento. A necrose do tegumento e das mucosas é causa de dor, especialmente em doentes com neoplasias oral, proctológica ou genitourinárias. Dor decorrente de procedimentos terapêuticos ou de manipulações • Dor decorrente do uso de medicamentos: Analgésicos opioides (cólicas intestinais ou biliares, retenção urinária, obstipação intestinal, síndromes hiperestésicas), anti- inflamatórios não-esteroidais (doença péptica) ou corticosteroides (doença péptica, monilíase do trato digestivo rostral, pseudorreu-matismo esteroidal, mialgias, artralgias, necrose asséptica da cabeça do úmero ou do fêmur, fraturas ósseas), e agentes antineo-plásicos (doença péptica, mucosite, neuropatias periféricas, espasmos vesicais) podem causar dor. • Dor decorrente de atos operatórios. Decorre do traumatismo tecidual pelas incisões ou cicatrização das feridas operatórias, desbridamento das feridas ou das lesões nos locais de doação da pele, amputações (dor no membro fantasma e ou no coto de amputação), neuropatias periféricas traumáticas decorrentes das operações. • Dor decorrente de manipulações. Manifesta-se durante a execução de cuidados de enfermagem (higiene, mudanças de decúbito), realização de curativos, procedimentos de reabilitação etc. • Dor decorrente da radioterapia. As lesões actínicas, incluindo-se as do tegumento, das mucosas e do SNP ou SNC podem resultar em dor aguda ou crônica". Victória David Brito 5° Período Medicina • Dor decorrente de procedimentos diagnósticos. Decorre das punções das artérias, veias, medula óssea, cavidades dos procedimentos para coleta do líquido cefalorraquidiano, de biópsia, de exames eletroneuromiográficos, de procedimentos diagnósticos de imagem etc. Dor decorrente de lesões secundárias A dor pode resultar de retrações articulares e musculares, lesão de estruturas do SNP ou do SNC somatossensitivo, fraturas ósseas, anormalidades viscerais (doença péptica, discinesias de vísceras), isquemias teciduais etc e serem secundárias ao câncer, seu tratamento ou reabilitação do doente. A fraqueza devida à redução da massa muscular ou o desbalanço postural ou dos grupamentos musculares, as anormalidades do sono ou a execução de atividades sem o devido condicionamento, a ocorrência de contraturas, cicatrizes hiper-tróficas, amputações, as lesões do SNC ou SNP a ansiedade e a depressão podem desencadear ou agravar as síndromes dolorosas miofasciais. Erupção pelo vírus Herpes Zoster é comum no doente debilitado ou imunossuprimido, especialmente naqueles com linfomas ou leucemias. Especialmente em doentes com tumor pulmonar de células pequenas ou neoplasias de mama e ou de ovário podem ocorrer síndromes paraneoplásicas, neuropatias (dermatomiosite, miopatia, artrite, polimialgia reumática), Tromboembolismo e síndrome do imobilismo podem decorrer da inatividade ou indiretamente do próprio câncer. Alguns fármacos podem desencadear neuropatias tóxicas, carenciais ou dor musculoesqueléticas. Dor não relacionada ao câncer ou ao seu tratamento Infecções, osteomielite, afecções vasculares, traumáticas, metabólicas, carenciais, degenerativas (osteoartrose), imunoalérgicas, inflamatórias (doenças reumatológicas), neurológicas (migrânea, cefaleia tipo tensão, neuropatias diabética, alcoólica ou pós-herpética, hérnia discal), músculo-esqueléticas (síndromes dolorosas miofasciais, síndrome fibromiálgica) etc podem ocorrer no doente com câncer e não decorrer em direta ou indiretamente de sua existência. FISIOPATOLOGIA O A dor oncológica tem uma fisiopatologia complexa, podendo envolver múltiplos mecanismos simultaneamente. Ela pode ser classificada em nociceptiva, neuropática ou mista, dependendo da origem da ativação dos sistemas de dor. 1. Mecanismos Fisiopatológicos da Dor Oncológica a) Dor Nociceptiva (Decorrente da ativação de nociceptores) • Ocorre quando o tumor invade ou comprime estruturas, estimulando os nociceptores (terminações nervosas sensoriais presentes em ossos, músculos e vísceras). • Esse estímulo leva à liberação de mediadores inflamatórios (bradicinina, prostaglandinas, histamina, serotonina, citocinas), que aumentam a sensibilização dos nociceptores e amplificam o sinal de dor. • Esse sinal é conduzido pelasfibras Ao e C até o corno posterior da medula espinhal e, posteriormente, para o tálamo e córtex cerebral, onde a dor é percebida. Exemplos: • Tumores ósseos ou metástases ativam nociceptores periosteais → dor somática. • Tumores viscerais causam distensão ou inflamação de órgãos → dor visceral. b) Dor Neuropática (Decorrente de lesão do sistema nervoso) • Ocorre quando o tumor invade ou comprime nervos periféricos, medula espinhal ou cérebro, causando desmielinização, inflamação e alterações na excitabilidade neuronal. • A lesão direta dos nervos leva a uma ativação anômala das fibras Aß, Ad e C, resultando em sintomas como queimação, choque elétrico, alodinia (dor ao toque leve) e hiperalgesia (sensibilidade aumentada à dor). • A dor neuropática também pode ser consequência do tratamento oncológico, como neuropatia periférica induzida por quimioterápicos (ex.: platinas, taxanos). Exemplos: • Compressão do plexo braquial pelo tumor de Pancoast → dor neuropática intensa no membro superior. • Compressão medular por metástase vertebral → dor neuropática e déficits neurológicos. c) Dor Mista • Envolve componentes nociceptivos e neuropáticos simultaneamente. • Ocorre quando há invasão tumoral de estruturas ósseas e nervosas ao mesmo tempo. Exemplo: • Tumores pélvicos infiltrando o plexo lombossacral → dor neuropática + nociceptiva. 2. Fenômenos de Sensibilização A dor oncológica pode se tornar crônica e mais intensa devido a processos de sensibilização periférica e central. a) Sensibilização Periférica • Ocorre devido à liberação contínua de mediadores inflamatórios (ex.: prostaglandinas,TNF-a, IL-1B). • Os nociceptores tornam-se hiperexcitáveis, reduzindo seu limiar de ativação → o paciente sente mais dor com estímulos menores. b) Sensibilização Central Victória David Brito 5° Período Medicina • Ocorre no corno posterior da medula espinhal e no tálamo, onde os neurônios da via da dor tornam-se hiper-responsivos. • Resulta em fenômenos como hiperalgesia (resposta aumentada a estímulos dolorosos) e alodinia (dor provocada por estímulos normalmente indolores, como o toque leve da roupa na pele). Exemplo clínico: • Paciente com câncer avançado pode desenvolver dor irruptiva, onde pequenos estímulos causam dor intensa devido à sensibilização central. QUADRO CLÍNICO Consequências da dor O A dor compromete a imunidade, agrava o já aumentado metabolismo, o aumento das catecolaminas e do cortisol e as reações neurovegetativas próprios do estresse da doença oncológica, compromete o sono, o apetite, o humor e a disposição do indivíduo, agrava a hipercoagulabilidade sanguínea e acentua a hiperatividade motora (do que podem resultar deslocamento dos enxertos cutâneos, cateteres vasculares, sondas tubos endotraqueais etc.). O estresse dela resultante libera agudamente citocinas, catecolaminas, cortisol, hormônios do crescimento e adrenocor-ticotrófico, ativa o sistema renina-angiotensi-na, compromete a coagulação do sangue e altera as reações imunológicas. A dor aguda causa ou agrava as anormalidades ventilatórias, hemodinâmicas, gastrointestinais e renais e aumenta a mortalidade e pode resultar em modificações anatômicas e fisiológicas no SNP e SNC que a tornam mais frequentemente cronificada, a possibilidade de cronificação da dor é maior quando ocorre lesão do tecido nervoso. A dor gera sofrimento e é influenciada pelo medo, isolamento, ansiedade e depressão e causa impacto emocional negativo e suas óbvias repercussões desfavoráveis incluindo-se a hostilidade, a adoção de posturas particulares, o aumento das preocupações somáticas e do período de repouso, além de causar preocupações com a mutilação, incapacidade, perdas materiais e sentimentais e medo da morte. A ansiedade é frequente na fase aguda, mas, com o passar do tempo, instala-se a depressão. O câncer associa-se à sensação de que a expectativa de vida é curta, agrava o sofrimento causado pela dor e acentua o medo da mutilação e das perdas. A depressão agrava a dor crônica. Questões etárias, culturais, sociais e familiares podem modificar a expressão do sofrimento e induzir os doentes a rotular o sofrimento psicológico como dor. A interação dor e fatores psicológicos é mais significativa na população pediátrica; o ambiente hospitalar, o desacoplamento do ambiente familiar, a ausência do aconchego dos pais, dentre outros fatores, podem induzir comportamentos de regressão e de hostilidade, evitação e negação. Doentes usuários crônicos de drogas ou álcool apresentam menos tolerabilidade à dor, mais comportamento de dependência de drogas e mais tolerância aos opioides. HDA: Eis alguns exemplos: dor neuropática(queimor, formigamento, choque elétrico, alfi-netadas, frio doloroso, coceira ou aperto; dor visceral (cólica); disfunção miofascial (muitas vezes os pacientes descrevem dores difusas ou irradiadas, pois não são capazes de precisar o local exato da dor). Exemplo clínico de dor oncológica nociceptiva 1. Metástases ósseas • A dor pode ocorrer devido à/ao: o Invasão direta o Fratura patológica secundária o Dano a estruturas adjacentes 2. Compressão da medula espinhal epidural • Pode causar dor e possivelmente perda irreversível da função neurológica • Diagnosticada por meio de evidência radiográfica de reentrância do saco tecal • Isquemia pode ser a causa da dor nociceptiva Exemplos clínicos de dor oncológica neuropática o Radiculopatia dolorosa maligna o Plexopatias o Compressão metastática da medula espinhal o Neuropatias periféricas dolorosas o Neuropatia sensorial paraneoplásica COMPLICAÇÕES DO TRATAMENTO ONCOLÓGICO O tratamento oncológico pode levar a diversas complicações, variando conforme o tipo de terapia utilizada, incluindo cirurgia, quimioterapia, radioterapia, imunoterapia e terapia-alvo. A cirurgia, frequentemente necessária para remoção do tumor, pode resultar em infecção, sangramento, linfedema, dor crônica e complicações específicas, como fístulas e aderências. A quimioterapia, por sua vez, afeta células de rápida divisão, causando mielossupressão, com risco de anemia, infecções graves e sangramentos, além de efeitos gastrointestinais, como mucosite, náuseas, vômitos e diarreia. Também pode gerar toxicidade em órgãos como rins, fígado, coração e sistema nervoso, sendo comum a neuropatia periférica com alguns agentes. A radioterapia, dependendo da área tratada, pode provocar efeitos agudos, como radiodermatite e mucosite, além de complicações tardias, como fibrose tecidual, pneumonite actínica e risco de segundas neoplasias. A imunoterapia, que estimula o sistema imunológico contra o câncer, pode desencadear reações autoimunes graves, como pneumonite, colite, hepatite e endocrinopatias, comprometendo funções hormonais. Já a terapia-alvo, por agir em vias moleculares específicas, pode causar hipertensão arterial, toxicidade cutânea, alterações cardíacas e síndrome mão-pé. O transplante de medula óssea, indicado para algumas neoplasias hematológicas, apresenta riscos como infecções oportunistas, falência do enxerto e a doença do enxerto contra o hospedeiro, que pode comprometer a pele, fígado e trato gastrointestinal. Essas complicações impactam a qualidade de vida do paciente e exigem acompanhamento rigoroso para prevenção e manejo adequado, minimizando efeitos adversos e otimizando os benefícios do tratamento oncológico. TRATAMENTO DA DOR ONCOLÓGICA METAS: As metas são melhorar o conforto, a função e a segurança • Aumentar a qualidade de vida - Diminuir a dor - Aumentar o funcionamento físico - Aumentar o funcionamento social - Recuperar os padrões normais de sono - Aumentar o bem-estar psicológico Victória David Brito 5° Período Medicina - Voltar a trabalhar - Qualidade e horas no trabalho • O tratamento abrangente da dor é necessário • A prevenção de efeitos colateraisesperados de analgésicos é importante • Otimizar a instrução do paciente e sua família e intervenções integrativas físicas e cognitivas NÃO MEDICAMENTOSO 1. Bloqueios As terapias intervencionistas podem ser indicadas quando outros tratamentos não promovem a analgesia pretendida ou os efeitos adversos se tornam intoleráveis'. Nas neuroablativas o sistema nervoso não é preservado, sendo realizadas interrupções das vias nociceptivas seja cirúrgica, química ou térmica. São indicadas nas dores somáticas e viscerais'. Nas neuromoduladoras o sistema nervoso é preservado. A neuromodulação é a inibição dinâmica das vias nociceptivas através da administração de opioides e outros fármacos por via espinal e intraventricular, ou através das técnicas de estimulação. Para a realização de bloqueio ou outro procedimento intervencionista é fundamental a seleção do paciente. Fatores como localização, tipo de dor, causa, evolução da doença, aspecto emocional e tempo de sobrevida também são importantes. A seleção do bloqueio apropriado, no momento correto, executado por especialistas experientes são fatores decisivos. Os bloqueios podem ser classificados em: somáticos ou simpáticos, simples ou contínuos, periféricos ou centrais. 2. Intervenções de medicina de reabilitação A reabilitação dos doentes com câncer tem como objetivo melhorar a dor, a capacidade funcional e a qualidade de vida destes indivíduos. A equipe de reabilitação é constituída por médico, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicólogo, enfermeiro, nutricionista, cirurgião dentista, fonoaudióloga, assistente social e profissional de educação física. Os procedimentos de reabilitação podem auxiliar no controle de dor e facilitar a tolerância aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos realizados nos doentes com câncer. Proporciona maior bem estar, melhora funcional e qualidade de vida. O enfoque terapêutico de reabilitação engloba meios físicos, métodos de dessensibilização, cinesioterapia, terapia manual, acupuntura, laserterapia, entre outros. Podem ser úteis como tratamentos coadjuvantes nas dores de leve a moderada intensidade. MEDICAMENTOSO Opioides - Farmacologia básica Os opioides permanecem como os fármacos mais efetivos e mais comumente utilizados no tratamento da dor moderada a intensa, no câncer. O uso dos opioides é mais benéfico para o paciente com câncer quando usado como um dos componentes da terapia multimodal. As diferenças de respostas ao uso dos opioi-des são aceitas, atualmente, serem devidos a polimorfismos genéticos relacionados aos receptores opioides. Analgésicos são referidos como o grupo de fármacos que alivia a dor. Opiáceo é qualquer agente derivado do ópio. Opioide é qualquer componente, endógeno ou exógeno, que se liga ao receptor opioide. Analgésicos não opioides Os principais analgésicos não opioides são os medicamentos farmacologicamente denomina-dos anti- inflamatórios não esteroidais (AINEs). Os AINEs são eficazes para dor oncológica. A associação com opioide pode ser vantajosa, quando se compara com os fármacos individualmente. CONCEITO: Os AINEs têm ações antiinflamatórias, analgésica, antitérmica e inibidoras das plaquetas. Atuam por bloquear a síntese de prostaglandinas por inibição da cicloxigenase, que converte o ácido aracdônico em endoperóxidos cíclicos, precursores das prostraglandinas. A inibição da síntese de prostraglandinas é responsável pelas ações analgésicas, antitérmicas e inibidoras das plaquetas. Outros mecanismos podem contribuir para os efeitos anti-inflamatórios. Alguns AINE podem também inibir lipoxigenases ou fosfolipases tipo C ou podem modular a função das células T 32. ANALGÉSICO SIMPLES ANALGÉSICOS ANTI INFLAMATÓRIOS INIBIDORES DE COX 1 E COX 2 FÁRMACOS ADJUVANTES Os fármacos adjuvantes são indicados no tratamento da dor oncológica para alívio da dor, êmese e efeitos adversos decorrentes do trata-mento. O uso dos adjuvantes na dor oncológica deve ser criterioso, evitando-se interações medicamentosas e/ou efeitos adversos intoleráveis que possam agravar a condição clínica dos pacientes. Na dor leve a moderada, frequentemente associada a processos inflamatórios, os corticosteroides, como a dexametasona, reduzem edema tumoral e compressão nervosa, proporcionando alívio significativo. Anticonvulsivantes, como gabapentina e pregabalina, são indicados quando há componente neuropático, modulando a excitabilidade neuronal e reduzindo sintomas como Victória David Brito 5° Período Medicina queimação e formigamento. Já os antidepressivos tricíclicos, como amitriptilina, e os inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina, como duloxetina, atuam na modulação da dor crônica neuropática ao aumentar a disponibilidade de neurotransmissores inibitórios. Nos casos de dor moderada a intensa, quando opioides fracos ou fortes são introduzidos, os adjuvantes continuam a desempenhar um papel essencial. Os bifosfonatos, como ácido zoledrônico, são úteis para dor óssea causada por metástases, pois inibem a reabsorção óssea e reduzem fraturas patológicas. Os anestésicos locais, como a lidocaína tópica ou intravenosa, são indicados para dor neuropática refratária, bloqueando a condução do impulso nervoso. Em pacientes com espasmos musculares associados ao câncer, os relaxantes musculares, como baclofeno, ajudam a reduzir a dor miofascial. Na dor intensa e refratária, especialmente em estágios avançados da doença, os fármacos adjuvantes também incluem cetamina, um antagonista do receptor NMDA que potencializa o efeito dos opioides e reduz a hiperalgesia, e a clonidina, um agonista alfa-2-adrenérgico com efeito analgésico central. O uso adequado desses medicamentos, em combinação com opioides e outros analgésicos, melhora significativamente o controle da dor oncológica, reduzindo a necessidade de doses elevadas de opioides e proporcionando melhor qualidade de vida ao paciente. 2.Compreender a escala de dor oncológica segundo a OMS Em 1986, a Organização Mundial da Saúde (OMS) desenvolveu um modelo simples para a lenta introdução e titulação de analgésicos, que ficou conhecida como Escada Analgésica da OMS. Antes disso, as pessoas estavam morrendo sofrendo dor de forma desnecessária por vários motivos, inclusive por desconhecimento sobre como tratar a dor, associado a estigmas relacionados ao acesso, prescrição e uso de opioides. O princípio da Escada era que os analgésicos deveriam ser introduzidos de forma progressiva, começando com os não opioides, opioides leves e posteriormente os fortes, titulados de acordo com a intensidade de dor relatada pelo paciente A primeira classificação de analgésicos, que permanece clássica, foi apresentada pela OMS para o tratamento da dor de câncer e foi posteriormente extrapolada para dor não oncológica. A Escada Analgésica da OMS, publicada pela primeira vez em 1986, recomenda o tratamento da dor com base na sua intensidade. A dor leve deve ser tratada com analgésicos não opioides (acetaminofeno ou anti-inflamatórios não esteroides [AINES]); a dor moderada deve ser tratada com opioides "fracos" (hidrocodona, codeína, oxicodona de baixa dose), e a dor intensa deve ser tratada com opioides "fortes" (morfina, hidromorfona, alta dose de oxicodona, fentanil, metadona). Os fármacos coanalgésicos ou adjuvantes podem ser combinados com analgésicos para o tratamento de dor de qualquer intensidade, dependendo do contexto e natureza da dor. Os procedimentos invasivos devem ser considerados em qualquer fase, como uma alternativa ou um adjuvante à farmacoterapia. Uma classificação mais recente, embora menos conhecida, da OMS classifica os analgésicos como não opioides, opioides, coanalgésicos (antidepressivos, anticonvulsivantes, cetamina, anestésicos locais) ou adjuvantes (esteroides, relaxantes musculares, bifosfonatos). 3.Explanar o mecanismo de ação dos opioides CLASSIFICAÇÃODOS OPIÓIDES Existem diversas classificações para os opióides (tabela 2). • Tradicional: baseada na potência analgésica. O grupo mais potente é composto por agonistas opióides puros, enquanto o grupo intermediário é composto por agonistas parciais. • Origem da droga: quanto à etiologia natural ou sintética. • Funcional: quanto à ação no receptor opióide. MECANISMO DE AÇÃO Efeitos na dor: Os opioides exercem seus efeitos terapêuticos em vários locais. Eles inibem a liberação de substância P dos neurônios sensoriais primários no corno dorsal da medula espinhal, atenuando a transferência de sensações dolorosas para o cérebro. As ações dos opioides no tronco encefálico modulam a transmissão nociceptiva no corno dorsal da medula espinhal por meio de vias inibitórias descendentes. Acredita-se que os opióides alterem a resposta afetiva à dor por meio de ações no prosencéfalo; a descerebração impede a eficácia dos analgésicos opioides em ratos.(3) Além disso, a morfina induz mudanças de sinal em "estruturas de recompensa" no cérebro humano. Os opióides atuam a nível celular ligando-se aos receptores opióides presentes em todo sistema nervoso central (SNC), especialmente no núcleo do trato solitário, área cinzenta periaquedutal, córtex cerebral, tálamo e substância gelatinosa da medula espinhal. Receptores opióides podem também estar presentes em terminações nervosas aferentes periféricas e em diversos outros órgãos. A eficácia de opióides administrados diretamente ao compartimento central é evidente, porém em caso de administração periférica em situações de pós-trauma ou estado inflamatório sua eficácia não é tão confiável. Os receptores opióides são ligados às proteínas G inibitórias. A ativação dessa proteína desencadeia uma cascata de eventos: fechamento de canais de cálcio voltagem dependentes, redução na produção de monofosfato de adenosina cíclico (AMPs) e estímulo ao efluxo de potássio resultando em hiperpolarização celular. Assim, o efeito final é a redução da excitabilidade neuronal, resultando em redução da neurotransmissão de impulsos nociceptivos. Agonistas opióides puros (morfina, diamorfina, petidina, fentanil) apresentam alta afinidade com os receptores opióides e elevada atividade intrínseca a nível celular. Agonistas parciais (buprenorfina, pentazocina) ao ligarem-se aos receptores opióides produzem efeito submáximo quando comparadosaos agonistas puros. Antagonistas opióides (naloxone, naltrexone) possuem afinidade com os receptores, porém nenhuma atividade intrínseca. Victória David Brito 5° Período Medicina Legenda: Mecanismos de ação dos opioides. O ligante ou droga endógena liga-se ao receptor opioide e ativa a proteína G, resultando em múltiplos efeitos que são principalmente inibitórios. As atividades da adenilato ciclase e dos canais de Ca2+ dependentes de voltagem estão deprimidas. Os canais de K+ de retificação interna e a cascata de proteína quinase ativada por mitogênio (MAPK) são ativados. AMP, monofosfato de adenosina; ATP, trifosfato de adenosina. AÇÕES FARMACOLÓGICAS DOS AGONISTAS OPIÓIDES Sistema nervoso central • Analgesia: eficazes para alívio de dores leves, contínuas e sem localização específica proveniente de órgãos internos, como intestinos. Menos eficaz para dores superficiais tipo pontada. As dores neuropáticas podem ser resistentes, porém os pacientes referem discreta redução na intensidade e melhora em relação ao desconforto gerado pela dor. • Sedação: dificuldade de concentração e sonolência são efeitos comuns. O alívio da dor pode ocasionar o sono. Opióides não atuam como hipnóticos. • Euforia e disforia: morfina e os demais opióides geram uma sensação de bem estar (euforia). Caso não haja dor, a morfina pode causar agitação e inquietação (disforia). • Alucinações: principalmente após o uso de opióides agonistas KOP, porém agonistas MOP, como a morfina, também podem desencadear alucinações. • Tolerância e dependência: tolerância é a redução do efeito gerado por uma mesma dose da droga, quando repetidas doses são administradas. O mecanismo ainda não foi totalmente es-clarecido, porém é provável que o processo de down regulation de receptores opióides ou que a redução da produção de opióides endógenos estejam envolvidos. A dependência ocorre quando após o uso prolongado de opióides a droga é suspensa abruptamente desencadeando diversos sinais físicos e psicológicos, como a agitação, irritabilidade, salivação excessiva, lacrimejamento, sudorese, cãibras, vômitos e diarréia. Sistema cardiovascular • Discreta bradicardia pela redução do tônus simpático e efeito direto sobre o nó sinoatrial. • Vasodilatação periférica causada pela liberação de histamina e redução do tônus simpático que pode levar à hipotensão, principalmente em caso de hipovolemia associada. Sistema respiratório • Depressão respiratória mediada pelos receptores MOP localizados no centro respiratório do tronco cerebral. Ocorre a diminuição na freqüência respiratória e a dessensibilização dos quimiorreceptores centrais às alterações de pressão parcial de dióxido de carbono. Os qui-miorreceptores periféricos mantém sua sensibilidade à hipoxemia, porém com a administração de oxigênio suplementar pode haver piora do quadro ventilatório. O uso de opióides associados a drogas depressoras do SNC, como benzodiazepínicos e halogenados, pode agravar a depressão respiratória. • Supressão do reflexo da tosse. Morfina e diamorfina são utilizadas no tratamento da dispnéia paroxística noturna por causarem sedação, reduzirem a pré-carga e reduzirem o drive respiratório anormal. A codeína suprime a tosse tanto quanto a morfina, porém possui menor potência analgésica. Sistema gastrointestinal A ativação de receptores opióides localizados na zona quimiorreceptora de gatilho do vômito pode desencadear náuseas e vômitos. Aumento do tônus da musculatura lisa e redução da motilidade, resultando em retardo na ab-sorção, aumento da pressão no sistema biliar (espasmo do esfincter de Oddi) e constipação. Sistema endócrino Inibição da secreção de ACTH, prolactina e hormônios gonadotróficos. Aumento na secreção de ADH. Efeitos oftalmológicos A estimulação do núcleo do nervo oculomotor mediada pelos receptores MOP e KOP leva à miose. Prurido • Alguns opióides desencadeiam a liberação de histamina pelos mastócitos resultando em urti-cária, prurido, broncoespasmo e hipotensão. O prurido, que se manifesta principalmente em face, nariz e dorso, é um sintoma mediado pelo SNC e sua incidência aumenta quando opiói- des são administrados via intratecal. Pode-se reverter esse sintoma com a administração de antagonistas dos opióides, como o naloxone. Rigidez muscular • Altas doses de opióide podem ocasionar rigidez muscular generalizada, especialmente na musculatura da parede torácica o que pode interferir na ventilação. Imunidade Depressão do sistema imunológico após uso prolongado de opióides. Efeitos na gestação e neonatos • Todos os opióides atravessam a barreira placentária e, se usados durante o parto, podem causar depressão respiratória no neonato. O uso crônico pela gestante pode resultar em dependência fisica fetal, com sindrome de abstinência grave no pós-parto imediato. Victória David Brito 5° Período Medicina • Até o momento não foram descritos efeitos teratogênicos. 4.Descrever sobre os cuidados paliativos (o que são e voltados para pacientes oncológicos) Quem é afetado pelo câncer? Enquanto a doença afeta individualmente o paciente, a repercussão do diagnóstico afeta também a família e todos os que vivem ou trabalham com ele. O processo da doença causa uma alteração na dinâmica familiar em razão das alterações de papéis e das mudanças na rotina diária. Assim, os cuidados paliativos auxiliam os pacientes e suas famílias a lidar com questões físicas, psicológicas, sociais, espirituais e de ordem prática, abordandosuas expectativas e necessidades. Linha de cuidado: demanda por cuidados paliativos precoces e exclusivos Os cuidados paliativos não pretendem ser a parte final do tratamento, mas, sim, a parte complementar, estando presentes desde o início do processo de adoecimento. Assim, à medida que a doença progride, eles passam a ser exclusivos. Os cuidados paliativos precoces visam à avaliação e ao tratamento da dor e de outros problemas de natureza física, psicossocial e espiritual que podem estar associados à doença. Com o declínio irreversível do estado geral do usuário, inicia-se a etapa de cuidados paliativos exclusivos. Nesse momento, o principal objetivo é o cuidado ao fim de vida, promovendo conforto e controle de sintomas ao paciente e auxílio aos familiares no processo de luto. Critérios de elegibilidade para cuidados paliativos exclusivos: o Doença progressiva, incurável e avançada. o Poucas possibilidades de resposta às terapêuticas curativas, ou quando as complicações causadas por essas são inaceitáveis. o Evolução clínica oscilante, caracterizada pelo surgimento de várias crises de necessidades, como dor de difícil controle. o Grande impacto emocional ou social para o doente e sua família, relacionado, de maneira explícita ou não, com a proximidade da morte. o Prognóstico de vida estimado em menos de seis meses. o Necessidade de adequação terapêutica ou das ações de investigação clínica. o Internação prolongada, sem evidência de melhora. o Doença progressiva e incurável e preferência por não ser submetido a tratamento de prolongamento da vida. •