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Estudos Socio-Antropológicos Parte 2

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U2
Homem, 
natureza 
e cultura Por Sydney Cincotto Junior
Objetivo do estudo
Reconhecer a antropologia como uma ciência que tem como objeto de 
estudo a cultura.
INTRODUÇÃO:
Com o surgimento da antropologia, que tem o homem como objeto 
de estudo, surgiu a necessidade de estudar a cultura dos povos e da 
sociedade. O desenvolvimento da cultura possibilitou a evolução humana, 
por outro lado a evolução humana permitiu o avanço da cultura.
Neste sentido, a cultura é vista como produto da ação criativa do homem 
e não como algo inerente a natureza dele. Ela deve ser compreendida 
como resultado de um desenvolvimento histórico/social e respeitada na 
sua diversidade. 
Para conhecer o homem em toda a sua completude é preciso estudar 
sua condição biológica e as condições socioculturais em que vive. 
Compreendendo as diferenças é possível aceitar que cada povo tem sua 
cultura e que não pertencemos a raças opostas, somos todos humanos.
Podemos começar?
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filosofia/ideologia-sabedoria/16/
imprime181214.asp
Homem, natureza e cultura Estudos Socio-Antropológicos | UNISUAM 
2
Homem, 
natureza 
e cultura
Antropologia, ciência do homem e da cultura
É possível afirmar que as primeiras questões que deram origem ao saber sobre o homem 
têm origem com a própria humanidade, pois o homem sempre se interrogou sobre sua 
origem, sua condição e seu destino (Laplantine, 2005). No entanto, somente no século XIX 
é que se consolidou, no campo científico europeu, uma disciplina que toma o homem como 
objeto de estudo: a Antropologia. Até aquele momento, o pensamento sobre o homem tinha 
sido mitológico, artístico, teológico, filosófico, mas não científico. Tratou-se de transformar o 
sujeito do conhecimento – o homem –, no próprio objeto de pesquisa.
O fato de a Antropologia ter surgido na Europa contribuiu para a cons- trução do objeto 
antropológico a partir de uma diferenciação dualista entre as sociedades europeias e as não-
europeias. A proposta inicial da Antropologia era uma tentativa de análise das populações 
consideradas “simples” ou “primitivas” porque não 
pertenciam ao restrito espaço das sociedades europeias 
consideradas “complexas” ou “civilizadas”. No início do 
século XX, no entanto, a Antro- pologia passou a se 
preocupar também com o estudo da cultura nas sociedades 
ditas “complexas” – urbanas e industrializadas. Foi nesse 
contexto que a ciência do homem passou a ser o estudo 
da cultura de todos os povos e sociedades.
Para a Antropologia, o homem e a cultura constituem-se 
como conceitos básicos, e estabeleceu-se como tarefa aos 
antropólogos responder a difíceis questões: “o que é o homem?” e “o que é a cultura?”. 
Convencionou-se, a partir do século XVII, que o homem destacou-se da natureza por 
ser ele o único animal dotado de razão, convincente explicação filosófica demonstrada 
por René Descartes, que afirmou a separação existente entre res extensa – corpo, e res 
cogitans – espírito.
De acordo com Descartes, os corpos de todos os animais se assemelhavam ao funcio- 
namento de máquinas biológicas, mas no corpo-máquina humano havia um espírito, 
responsável por fazer do homem um animal racional. Posteriormente, a ciência, através dos 
estudos da Paleontologia humana revelou que a transição da animalidade para a humanidade 
deu-se de forma processual, em decorrência da evolução da espécie, principalmente com o 
desenvolvimento do bipedismo, da hipercomplexidade cerebral e da simbolização (uso da 
linguagem). Eis que surgiu dessa condição a espécie homo sapiens sapiens, nosso ancestral 
direto. Segundo Morin, homem e cultura nascem juntos, e o que ocorre é uma retroação 
entre mutação genética cerebralizante e complexificação cultural.
transformar o sujeito do 
conhecimento – o homem 
–, no próprio objeto de 
pesquisa.
“o que é o homem?”
e “o que é a cultura?”.
Homem, natureza e cultura Estudos Socio-Antropológicos | UNISUAM
3
T1
“Enquanto, por um lado, foi a evolução ‘natural’ do cérebro hominídeo 
que produziu e desenvolveu a cultura, foi a evolução cultural que, por 
outro lado, depois, impeliu ou estimulou o hominídeo a desenvolver 
seu cérebro, isto é, a transformar-se em homem. Assim, o cérebro 
passou de 500cm³ (antropoide) para 600 e 800cm³ (primeiros 
hominídeos) e, em seguida, para 1.100 cm³ (homo erectus), antes de 
atingir 1.500 cm³ (homo sapiens neanderthalensis e homo sapiens 
sapiens)” (Morin, 1975, p. 87).
É nesse sentido que o projeto antropológico consiste no estudo da unidade do homem e no 
estudo do homem em todas as sociedades, em todas as culturas, como afi rmou Laplantine. 
Estudar o homem na sua existência fi sico-bio-psíquica implica também conhecê-lo na sua 
vivência sociocultural, ou seja, devemos compreender a unidade biológica e a diversidade 
cultural da espécie humana. Por isso os estudos antropológicos passaram a ser sinônimo 
de estudos da cultura e acatou-se como verdade inabalável a equação de que o homem é 
humano por ser produtor de cultura.
Atualmente, a tradicional fronteira entre humanos e não-humanos, defi nida pela cultura, vem 
sendo questionada, especialmente pelos estudos da Pri- matologia, que acumula exemplos 
de como nós nos assemelhamos a outros macacos, principalmente aos chimpanzés.
“É difícil encontrar hoje em dia qualquer capacidade supostamente racional que os 
primatólogos não digam que está replicada em outros macacos: uso da linguagem, 
fabricação de ferramentas, imaginação simbólica, autoconsciência – imagine 
qualquer uma, sempre haverá macacos não humanos que 
a exercem” (Fernández-Armesto, 2007, p. 9).
Diante desse novo dilema, devemos recolocar as 
questões “o que é o homem?” e “o que é a cultura?”. 
Podemos ainda introduzir uma nova questão: “ser humano 
signifi ca ser unicamente produtor de cultura?”. A busca 
incansável para essas respostas faz do estudo do homem 
e da cultura um campo fértil para o conhecimento de nós 
mesmos, e, consequentemente, para o conhecimento das 
relações natureza/cultura, cultura/ sociedade e espécie/
indivíduo/sociedade.
Estudar o homem na sua 
existência fisico-bio-
psíquica implica também 
conhecê-lo na sua vivência 
sociocultural, ou seja, 
devemos compreender 
a unidade biológica e a 
diversidade cultural da 
espécie humana
representações culturais
Homem, natureza e cultura Estudos Socio-Antropológicos | UNISUAM 
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O homem como produtor de cultura
O termo cultura é comumente utilizado para designar acúmulo de saberes. Ter cultura, para 
o senso comum, passa a ser empregado para indicar um indivíduo de boa educação, culto, 
que adquiriu boa instrução no campo intelectual, que acumulou conhecimentos. Da mesma 
forma, os incultos são considerados pessoas sem cultura. Outra maneira de usar o termo 
cultura é no sentido de indicar que determinada sociedade tem mais cultura ou que possui 
cultura mais evoluída do que outra. No caso do Brasil, habituamo-nos a ouvir que os povos 
indígenas possuem cultura inferior ou atrasada em relação à nossa, mas isso não é verdade. 
Cientifi camente, todos os seres humanos possuem cultura; o surgimento da cultura está 
intimamente relacionado ao surgimento do homem, e não há cultura melhor ou pior, superior 
ou inferior, o que há são culturas diferentes.
Há aproximadamente quatro milhões de anos, entre os grupos de primatas africanos, surgiram 
os australopithecus, nossos antepassados mais distantes – os primeiros primatas a caminho 
da hominização. Ao longo da evolução emergiram sucessivamente o homo habilis, o homo 
erectus e o homo sapiens; esse processo não foi marcado só por mudanças fi sico-biológicas, 
como bipedismo e aumento da caixa craniana, mas também pelo aumento da capacidade 
dos nossos antepassados de intervir na natureza, transformando-a e adaptando-a para 
atender às suas necessidades. Nesse sentidoé que a cultura emerge e vai se tornando 
cada vez mais complexa.
“Há milhares de anos, a espécie humana não se diferenciava dos outros 
animais. Não utilizava instrumentos nem agasalhos e não apresentava formas 
de organização além das que sua condição biológica exigia. Podia, por exemplo, 
reunir-se com outros de sua espécie para caçar ou defender-se de animais maiores. 
Agia por instinto, e suas necessidades se restringiam àquelas determinadas pela 
sua biologia, como neces- sidade de comer, de se reproduzir, de se defender, de 
se proteger do tempo etc. No entanto, com o passar dos anos, o animal humano 
foi se diferenciando profundamente dos outros animais: embora menor e pouco 
dotado em tamanho e força, ia se transformando, gradativamente, num dos maiores 
predadores de outros seres. Aprendeu a utilizar roupas e instrumentos e a criar 
inovações que o tornavam capaz de enfrentar qualquer animal” (Dias, 2005, p. 49). 
T2
Homem, natureza e cultura Estudos Socio-Antropológicos | UNISUAM
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Essas criações do homem que ultrapassam a sua condição biológica é que chamamos de 
cultura. Para além do ambiente natural primeiro – a natureza –, nossa espécie criou um 
segundo ambiente, que não é natural, ao qual denominamos ambiente cultural – as sociedades 
humanas. A cultura compreende tudo aquilo que criamos, material e imaterialmente, a partir da 
nossa interação com o meio em que vivemos. Instrumentos e objetos de uso cotidiano, hábitos 
alimentares, vestimentas, relaciona- mentos interpessoais, religiões, idiomas, tecnologias, 
cidades etc. são invenções humanas ou simplesmente produtos da cultura.
A cultura varia de um local para outro; por isso podemos afi rmar que existem várias culturas 
e que cada localidade possui uma determinada cultura, cada qual com suas singularidades. 
Essas variações entre as culturas podem ser:
• Entre diferentes países, por exemplo: a cultura francesa é diferente da cultura 
chinesa;
• Entre uma região e outra no mesmo país, por exemplo: no Brasil a cultura mineira 
é diferente da cultura baiana;
• Entre diferentes grupos étnicos em um mesmo território, por exemplo: a cultura 
dos índios yanomâmi é diferente das dos kayapó, e ambos vivem na Amazônia;
• Entre diferentes grupos ou comunidades na mesma cidade: grupos de jovens 
punks diferem culturalmente dos funkeiros; ou mesmo entre comunidades religiosas 
distintas, como a cristã e a islâmica.
Assim, podemos entender que a cultura da humanidade 
pressupõe ao mesmo tempo a existência de várias culturas, 
que a humanidade é uma só, constituída da mesma espécie 
e que a sua maior aptidão está em criar modos e estilos de 
vida diferenciados; isso é o que caracteriza a diversidade 
cultural. Em outras palavras, a cultura humana é composta 
por várias subculturas, e cada subcultura é composta por 
outras várias subculturas. Podemos, assim, dizer que a 
cultura brasileira abriga um conjunto de subculturas, como 
a caipira, a católica e a nordestina, subculturas dentro da 
cultura brasileira.
O estudo da Antropologia, ou seja, o estudo do homem e da cultura “consiste, portanto, no 
reconhecimento, conhecimento, juntamente com a compreensão de uma humanidade plural” 
(Laplantine, 2005, p. 22). Compreender que agimos e pensamos de formas diferenciadas porque 
temos culturas diferentes é o caminho que pode levar o ser humano a ser mais tolerante e a 
combater os preconceitos. Isso também implica nos reconhecermos como pertencentes à mesma 
espécie homo sapiens sapiens. Afi nal, somos uma só humanidade diferenciada pela cultura e 
não pela genética; isso quer dizer que a ideia de raça é mais uma construção ideológica do que 
uma verdade científi ca. Insistir na diferenciação/identifi cação dos grupos humanos através da 
raça apenas reforça o sentimento de racismo, cria preconceito e discriminação.
, a cultura humana é 
composta por várias 
subculturas, e cada 
subcultura é composta por 
outras várias subculturas.
Os resultados mostraram que, quando há diferença 
genética signifi cativa, pelo menos 85% dela acontecem 
entre indivíduos dentro de um mesmo grupo étnico
Homem, natureza e cultura Estudos Socio-Antropológicos | UNISUAM 
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Não existem raças na espécie humana
Uma equipe de cinco cientistas estudou e comparou mais 
de oito mil amostras genéticas colhidas aleatoriamente de 
pessoas de todo o mundo. Segundo Alan Templeton, biólogo 
americano que dirigiu a pesquisa, diferentemente 
de todas as outras espécies de mamíferos, não 
há raças entre os humanos porque “as diferenças 
genéticas entre grupos das mais distintas etnias 
são insignifi cantes”. Para que o conceito de raça 
tivesse validade científi ca, “essas diferenças teriam 
de ser muito maiores”. Ou seja, não importa a cor 
da pele, as feições do rosto, a estatura ou mesmo 
a origem geográfi ca de qualquer ser humano (traços que 
distinguem culturalmente as etnias): geneticamente, somos 
todos muito semelhantes. (...)
Os resultados mostraram que, quando há diferença genética 
significativa, pelo menos 85% dela acontecem entre 
indivíduos dentro de um mesmo grupo étnico (como os 
asiáticos, por exemplo). As diferenças entre etnias (brancos 
europeus e negros africanos, por exemplo), que seriam a 
base para haver raças distintas, são de apenas 15% ou 
menos que isso. “Um índice muito abaixo do nível usado para 
diferenciar raças dentro de qualquer espécie animal”, explica 
Templeton. Isso quer dizer que dois brancos europeus 
diferem mais entre si do que em conjunto diferem de um 
africano. “Portanto, os humanos são a mais homogênea 
espécie que conhecemos”, diz ele.
SOMOS todos um só. Pesquisa genética internacional 
mostra que não existem raças na espécie humana, 
derrubando qualquer base científi ca para a discriminação. 
Revista IstoÉ, 18 nov. 1998. 
Não existem raças na 
espécie humana
Pesquisa genética internacional mostra que não existem 
raças na espécie humana, derrubando qualquer base 
científi ca para a discriminação. 
Leia o texto publicado na Revista IstoÉ, em 18 nov. 1998: 
Não existem raças na espécie humana
Somos todos um só. 
Homem, natureza e cultura Estudos Socio-Antropológicos | UNISUAM
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CULTURA
Conceito de cultura: características, elementos e estrutura 
O trabalho dos antropólogos em pensar o conceito de cultura nem sempre produziu resultados 
de consenso; em verdade, levou à elaboração de defi nições distintas. Entre essas defi nições, 
foi Edward B. Tylor, em 1871, o primeiro a criar um conceito de cultura que se tornou 
clássico: “cultura é aquele todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, 
leis, costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro 
de uma sociedade” (in Kahn, 1975, p. 29). Poderíamos aqui elaborar um rol de contribuições 
acerca do conceito de cultura, mas em vez disso priorizaremos os aspectos essenciais que 
perpassam essas defi nições.
A cultura é transmitida 
pela herança social e 
não pela hereditariedade 
genética
CULTURACULTURA
A cultura age como 
um mecanismo de 
adaptação do indivíduo 
ao meio
A cultura compreende a 
totalidade das criações 
humanas
A cultura condiciona 
a visão de mundo do 
homem
A cultura é uma 
característica exclusiva 
das sociedades 
humanas
vemos através da cultura 
na qual fomos socializados
T3
Homem, natureza e cultura Estudos Socio-Antropológicos | UNISUAM 
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Defi nições 
• A cultura é transmitida pela herança social e não pela hereditariedade genética. Adquirimos 
cultura na convivência com outros indivíduos em sociedade, em especial com o grupo familiar 
com o qual travamos nossas primeiras experiências. A essas interações sociais com vários 
grupos denominamos processo de socialização. A transmissão cultural pelos principais 
agentes de socialização – que são a família, os grupos de amigos, a escola,os meios de 
comunicação de massa, os ídolos etc. – nos ensina a viver em sociedade e nos transforma 
num ser humano culturalmente defi nido.
• A cultura age como um mecanismo de adaptação do indivíduo ao meio. Da mesma forma que 
o homem transforma a natureza modifi cando-a para sobreviver, criando assim um ambiente 
cultural, é também capaz de transformar o meio cultural já existente com a fi nalidade de 
atender às suas novas necessidades. Isso quer dizer que tanto o meio natural como o meio 
social são modifi cados pelos homens para neles melhor viver. 
• A cultura compreende a totalidade das criações humanas. Essas criações são materiais 
e imateriais. As materiais compreendem instrumentos de trabalho, construções, vestuário, 
objetos e artefatos de uso cotidiano, obras de arte, alimentos, enfi m tudo que é tangível, 
palpável. As imateriais são ideias, valores, crenças, conhecimentos, ideologias, mitos; são 
elementos intangíveis, sem substância material.
• A cultura condiciona a visão de mundo do homem. Uma vez que a cultura é uma herança 
social, transmitida pelo grupo através do processo de socialização, os indivíduos acabam por 
assimilar ideias, valores, comportamentos, hábitos, crenças da sua sociedade que interferem 
na interpretação que fazem do mundo. Podemos dizer que vemos através da cultura na 
qual fomos socializados. Como nossas ideias, valores, comportamentos, hábitos, crenças 
são passíveis de mudanças ao longo do tempo, nossa interpretação de uma dada realidade 
também está sujeita a mudanças. 
• A cultura é uma característica exclusiva das sociedades humanas. Crê-se que animais 
não dotados de razão são incapazes de produzir cultura, que dentre os animais terrestres o 
homem é o portador exclusivo dessa condição, que, como vimos, nos fez seres humanos. Essa 
afi rmativa é constitutiva do pensamento antropológico e balizadora da nossa compreensão 
do que é ser humano. Mas a fronteira entre primatas humanos e não-humanos vem sendo 
questionada e problematizada frente às evidências já comprovadas de que macacos não-
humanos são produtores de cultura. Mesmo que continuemos com a afi rmativa clássica 
de que a cultura é uma especifi cidade humana, não podemos mais ignorar que bonobos, 
chimpanzés, gorilas e orangotangos são capazes de produzi-la. Os defensores dessa rígida 
fronteira preferem afi rmar que não se trata de cultura, mas de protocultura ou da capacidade 
rudimentar de transmiti-la.
Frente a essas características da cultura, evidencia-se que todos os grupos humanos a 
possuem, que se expressam nela e através dela com seus símbolos, idiomas, conhecimentos, 
crenças, valores e normas identifi cados como elementos básicos na sua conformação. Esses 
elementos comuns a todas as culturas são os responsáveis por fazer delas um mosaico de 
diversidades.
Homem, natureza e cultura Estudos Socio-Antropológicos | UNISUAM
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Diversidades
• A simbolização permite às sociedades humanas transmitir sua herança cultural às futuras 
gerações. Podemos dizer que um símbolo é portador de um signifi cado específi co atribuído 
por uma determinada cultura. Assim, a cultura pode ser simplesmente entendida por meio 
de suas relações simbólicas, uma vez que ao falar, escrever, agir, pensar, gesticular etc. 
estamos nos comunicando por simbolização. Os símbolos têm signifi cados diferenciados de 
acordo com cada cultura. Por exemplo, a cor preta é símbolo de luto no Brasil, enquanto a 
cor branca é que sinaliza luto na China.
• Todas as sociedades têm seu próprio idioma, ele é um sistema simbólico que permite a 
comunicação entre os seus indivíduos. A variação de uma língua para outra nas diferentes 
sociedades é indicativa de que o idioma é uma construção cultural, pois um dos elementos-
chave constitutivos da condição humana foi o uso da linguagem, em especial a fala articulada, 
característica essencial aos homens.
• Todas as culturas possuem grande número de conhecimentos, que são transmitidos, através 
do processo de socialização, aos membros de uma determinada sociedade; eles referem-se às 
técnicas de trabalho, à organização social, aos costumes e hábitos, ao sistema educacional, 
às formas de habitação e moradia etc. Não há sociedade sem conhecimento; por exemplo: 
os esquimós detêm tecnologia de construção de casas no gelo, enquanto os povos indígenas 
da Amazônia detêm outra tecnologia, de construção de moradias na fl oresta tropical; são 
conhecimentos distintos.
• As crenças também são elementos da cultura, e todas as culturas são constituídas por um 
conjunto de crenças. Entre os fi éis das religiões que acreditam na reencarnação, a visão sobre 
o destino da alma após a morte não é a mesma compartilhada entre os fi éis de religiões que 
pregam a vida eterna.
• Os valores também são constitutivos da cultura; eles indicam o que é bom, desejável, 
apropriado, importante, certo e belo; ou o que é ruim, indesejável, impróprio, sem importância, 
errado e feio em uma sociedade. Os valores variam de acordo com a importância que lhes é 
atribuída pelos indivíduos, e quando ocorrem mudanças comportamentais numa sociedade 
os valores também se modifi cam.
• As normas são regras que determinam o nosso comportamento em sociedade; podem ser 
formais, como leis, estatutos, códigos de ética profi ssional; ou informais, como sentar-se na 
cadeira e não na mesa ou no chão.
Como podemos ver, há elementos invariantes constitutivos da cultura. Essas invariantes são 
as responsáveis diretas pela diferenciação cultural entre os povos, que permite sempre que 
pensemos em “culturas”, no plural. Para melhor compreender a cultura, a ciência antropológica 
armou-se de conceitos explicativos das suas formas de organização estrutural; os mais 
importantes são os traços culturais, os complexos culturais, os padrões culturais e as subculturas.
• Traços culturais – são dados simples, geralmente unitários, que permitem identifi car uma 
cultura. Eles podem ser identifi cados e descritos isoladamente, mas um traço cultural está 
sempre relacionado a outro ou a outros traços que juntos constituem um complexo cultural. 
Exemplos de traços culturais: a batina identifi ca um padre, a burca identifi ca uma mulher 
muçulmana, o chimarrão identifi ca os hábitos dos gaúchos, o uso de hashi (palitos) como 
talheres para alimentar-se é hábito de alguns povos orientais.
Os padrões formam-se pela 
repetição contínua
Homem, natureza e cultura Estudos Socio-Antropológicos | UNISUAM 
10
• Complexo cultural – é um conjunto de traços culturais que constituem um complexo 
cultural. É possível substituir alguns traços culturais por outros tornando o complexo cultural 
identificável com outra cultura. Exemplo de complexo cultural: o carnaval carioca reúne 
um grupo de traços culturais como fantasia, serpentina, confete, desfile de blocos de rua, 
samba. Se substituirmos o samba por maracatu ou frevo identificaremos esse carnaval 
como sendo pernambucano. Ao invés de samba, frevo ou maracatu; se a música for axé 
diremos que é carnaval baiano. Outro exemplo de complexo cultural são os eventos sociais 
como aniversários, casamentos e funerais. As organizações, como universidades, hospitais, 
igrejas e empresas, também são complexos culturais.
• Padrões culturais – são modelos comportamentais 
generalizados, regularizados, aceitos como normais pelos 
membros de uma cultura. Esses padrões são estabelecidos 
consensualmente por todos. Por exemplo, no Brasil é padrão 
homens usarem calças em vez de saias. Os padrões formam-
se pela repetição contínua de um comportamento por um 
largo período de tempo, quando então são incorporados pela 
sociedade como modelos a serem seguidos.
• Subculturas – uma subcultura é a caracterização de 
um determinado grupo com hábitos, costumes, normas e 
valores particulares que acabam distinguindo-se da cultura 
predominante em uma sociedade na qual está inserida.Por exemplo: a cultura brasileira é constituída por várias subculturas regionais, como a 
nordestina, a mineira e a paraense, que apresentam culinárias típicas e termos linguísticos 
próprios identificadores de suas subculturas, mas também são ao mesmo tempo identificados 
com a cultura brasileira. “Em resumo, podemos afirmar que uma subcultura constitui-se num 
padrão de vida que apresenta aspectos importantes, distintos da cultura principal, mas que 
tem continuidades fundamentais com essa mesma cultura dominante” (Dias, 2005, p. 59).
A cultura assim apresentada serve para nos fazer compreender que, do ponto de 
vista antropológico, ela não deve ser entendida como acúmulo de conhecimento por 
determinados indivíduos ou grupos, o que os faz cultos ou detentores de uma cultura 
superior. Ao contrário, a cultura deve ser entendida como um patrimônio da humanidade, 
constituinte e constituidora de todas as sociedades humanas, sem exceção. Presente 
em todos os povos, sejam esses povos habitantes das florestas em pequenas aldeias, 
sejam eles nômades viventes na tundra siberiana ou moradores das grandes metrópoles 
contemporâneas. O que faz esses inúmeros povos e sociedades diferenciarem-se não é a sua 
condição biológica ou “racial”, mas sim a capacidade criadora e criativa das manifestações 
da cultura da espécie humana.
Referências
ROCHA, Everardo. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1999.
LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. 8ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
Adaptações do quadro Correntes Antropológicas, organizado pelo prof. dr. Vagner Gonçalves 
da Silva, Departamento de Antropologia da USP.
a cultura deve ser 
entendida como um 
patrimônio da humanidade, 
constituinte e constituidora 
de todas as sociedades 
humanas, sem exceção
Homem, natureza e cultura Estudos Socio-Antropológicos | UNISUAM
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Diversidade sociocultural: etnocentrismo e relativismo
Ana Lúcia Guimarães
Para entendermos o que significam os conceitos de etnocentrismo e relativismo cultural 
precisamos nos ater um pouco mais ao conceito de cultura aqui apresentado.
Se estamos compreendendo cultura como toda produção humana, portanto podemos 
identificar que todos os grupos e povos possuem cultura, como já visto aqui.
A Antropologia desenvolveu-se no período de expansão colonial das sociedades europeias, 
quando estas desejavam saber sobre as culturas existentes nas sociedades tidas como 
“não-europeias” que haviam sido descobertas, para estabelecer estratégias de dominação. 
Portanto, a Antropologia, ao estudar o conceito de cultura, vem contribuindo cada vez mais 
para o entendimento do conceito de etnocentrismo, já que ao estudar a cultura podemos fazer 
uma tradução melhor da diferença entre nós e os outros.e assim, resgatar nossa humanidade 
no outro e a do outro em nós mesmos. A evolução dos estudos sobre cultura foi possível 
através das críticas ao conceito de etnocentrismo. O que significa etnocentrismo? 
O que significa etnocentrismo?
O etnocentrismo é concebido como uma ideologia que prega a superioridade ou inferioridade 
de um grupo em relação a outro. O etnocentrismo existe em todos os grupos e se constitui a 
partir de um choque cultural, ou seja, de um lado existe um grupo no qual os seus membros 
procedem de forma comum e possuem mais ou menos as mesmas maneiras de encarar a 
vida; tudo vai bem até o dia em que esse grupo se depara com a possibilidade de existência 
cultural de outro grupo, que sobrevive à sua maneira e que gosta dela, ainda que para outros 
grupos seja percebida como desviante, destoante ou simplesmente diferente. 
O etnocentrismo acontece quando, por conta desse contato cultural, um grupo ao olhar para 
o outro interpretar esse outro como sendo inferior, atrasado, marginalizado culturalmente, 
tomando como referência seus próprios valores e comportamentos sociais, como se estes 
fossem a referência universal para analisar e conhecer qualquer outro grupo. 
O etnocentrismo pode ser observado desde os séculos XV 
e XVI, quando ocorreram as Grandes Navegações, que 
partiam do território europeu e se destinavam a conhecer 
para melhor dominar outros povos do planeta; assim 
o foi o contato entre a cultura europeia e os povos do 
“mundo novo”, assim chamadas as terras que não fossem 
geograficamente situadas no espaço europeu, como as 
Américas. 
O conceito de relativismo cultural se contrapõe ao conceito de etnocentrismo. Como podemos 
entender essa diferença conceitual? Analisar uma cultura sob um olhar relativista significa 
entender a lógica de funcionamento dela à luz de seu próprio contexto de existência, ou seja, 
significa considerar que aquela cultura existe com seus próprios valores, hábitos, costumes, 
sentimentos, tradições, comportamentos, porque tem um sentido para os indivíduos que fazem 
parte dela. Segundo Rocha (1999) , relativizar não é transformar a diferença em hierarquia, 
em superiores e inferiores ou em bem e mal, mas vê-la na sua dimensão de riqueza por ser 
diferente. É o respeito à diversidade cultural.
A Antropologia, nos dias atuais, tem consciência de que as ideias divulgadas nos grupos são 
apriorísticas e de que é preciso conviver com o discriminado para saber se as pré-concepções 
são reais ou não.
A evolução dos estudos 
sobre cultura foi possível 
através das críticas ao 
conceito de etnocentrismo.
T4
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Precisamos aqui também marcar muito bem em que momentos de organização dos estudos da 
Antropologia nascem esses dois conceitos fundamentais, etnocentrismo e relativismo cultural. 
(imagem extraída do google imagens etnocentrismo -pag-6 )
Podemos dizer que o primeiro olhar sobre as culturas humanas que fundamenta os estudos da 
Antropologia foi o de evolucionismo social, corrente antropológica que organizou-se no início 
do século XIX e que foi marcada fundamentalmente por uma tentativa de sistematização do 
conhecimento acumulado sobre os chamados povos primitivos. Como método de trabalho, os 
primeiros pesquisadores realizavam o trabalho de gabinete, ou seja, produziam suas análises 
e reflexões em seus gabinetes a partir de relatos de viagens (cartas, diários, relatórios etc.) 
feitos por missionários, viajantes, comerciantes, exploradores, militares, administradores 
coloniais. Eles defendiam que as civilizações partem do zero e evoluem gradativamente até 
a civilização, isto é, as sociedades avançadas já estiveram em algum momento de maneira 
primitiva e depois evoluíram. Convém destacar o caráter etnocêntrico dessa análise, pois 
considera que todas as sociedades devem tomar como referência de civilização a sociedade 
europeia para alcançar o progresso e a evolução social. O próprio fato de utilizarem conceitos 
como “atrasados”, “selvagens”, “inferiores”, “primitivos”, já enfatiza o etnocentrismo presente 
nesse pensamento. 
Observe um quadro-síntese dessa escola antropológica.
Evolucionismo social
Período Séc. XIX
Características
Busca apreender as origens da humanidade e 
apresenta o desenvolvimento cultural a partir de 
estágios sequenciais de evolução, do mais primitivo 
ao mais civilizado. 
Método Trabalho de gabinete
Conceitos Visão etnocêntrica da realidade cultural. 
Alguns representantes e obras de referência
E. Tylor (A cultura primitiva, 1871);
L. Morgan (A Sociedade Antiga, 1877);
James Frazer (O Ramo de Ouro, 1890).
Com a discussão apresentada verificamos que os pesquisadores evolucionistas recebiam 
de forma secundária suas fontes de dados para a análise da cultura dos vários povos 
encontrados naquele contexto, ou seja, não eram eles que iam até os grupos e povos e 
recolhiam esse material; portanto, seu olhar apresentava muitas distorções da realidade 
concreta de experiência e vivência dos vários povos. 
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Assim, podemos dizer que somente no século XX, com os trabalhos e estudos da escola 
funcionalista é que foi possível configurar uma nova percepção sobre a cultura dos povos. 
O funcionalismo, então, traz ênfase muito forte ao trabalho de campo como fundamento da 
retirada de material para o conhecimento da cultura dos vários povos. 
Funda-se, assim, a Etnografia Clássica, ou seja, a análise de uma cultura a partir das 
informações e observações feitas pelo pesquisador em sua vivência no campo, no grupo a ser 
compreendido. Essa prática constituída como trabalho de campo e observação participante 
ofereceu aos estudos da Antropologia a possibilidade de compreender o “outro” de forma 
mais “próxima” de sua realidade existencial. Uma percepção extremamente Relativista. 
Observe o quadro-síntese dessa escola antropológica.
Funcionalismo
Período Séc. XX - anos 20
Características 
Modelo de Etnografia clássica (Monografia). Ênfase 
no trabalho de campo (observação participante). 
Sistematização do conhecimento acumulado sobre 
uma cultura.
Método Trabalho de campo e observação participante.
Conceitos Visão relativista da realidade cultural. 
Alguns representantes e obras de referência
Bronislaw Malinowski (Argonautas do Pacífico 
Ocidental, 1922);
Radcliffe Brown (Estrutura e Função na sociedade 
primitiva, 1952); e Sistemas políticos africanos de 
parentesco e casamento, (org. c/ Daryll Forde, 1950).
Da análise dos quadros extraímos que:
Quando olhamos ou julgamos um grupo social de forma tendenciosa ou levando em 
consideração os valores de nossa própria cultura como referência para entender um outro 
grupo social e passamos a perceber esse grupo como sendo inferior, pior, atrasado, errado 
estamos sendo etnocêntricos; no entanto, quando nos colocamos em posição de olhar o 
outro grupo diferente do nosso, que possui valores e cultura díspares do nosso e procuramos 
entendê-lo e explicá-lo respeitando suas características e suas propriedades culturais, 
estamos sendo relativistas.
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Segue uma mensagem para essa reflexão
Lençol Sujo 
Um casal recém-casados mudou-se para um bairro muito tranquilo. Na 
primeira manhã que passavam na casa, enquanto tomavam café, a mulher 
reparou, através da janela, uma vizinha que pendurava lençóis no varal e 
comentou com o marido: 
 
- Que lençóis sujos ela está pendurando no varal! 
Provavelmente está precisando de um sabão novo. Se eu tivesse 
intimidade perguntaria se ela quer que eu a ensine a lavar as roupas! O 
marido observou calado. 
Alguns dias depois, novamente, durante o café da manhã, a vizinha 
pendurava lençóis no varal e a mulher comentou com o marido: 
 
- Nossa vizinha continua pendurando os lençóis sujos! Se eu tivesse 
intimidade perguntaria se ela quer que eu a ensine a lavar as roupas! 
E assim, a cada dois ou três dias, a mulher repetia seu discurso, enquanto 
a vizinha pendurava suas roupas no varal. 
Passado um mês a mulher se surpreendeu ao ver os lençóis brancos, 
alvissimamente brancos, sendo estendidos, e empolgada foi dizer ao 
marido: 
 
- Veja! Ela aprendeu a lavar as roupas; será que outra vizinha ensinou!? 
Porque não fui eu que ensinei. 
 
O marido calmamente respondeu: 
 
- Não, é que hoje eu levantei mais cedo e lavei os vidros da nossa janela! 
E assim é. Tudo depende da janela através da qual observamos os fatos. 
Antes de criticar, verifique se você fez alguma coisa para contribuir; 
verifique seus próprios defeitos e limitações. 
 
Devemos olhar, antes de tudo, para nossa própria casa, para dentro de 
nós mesmos. 
Só assim poderemos ter real noção do real valor de nossos amigos. 
Lave sua vidraça. Abra sua janela. 
 
Essa mensagem traz uma reflexão sobre os vários olhares distanciados da realidade 
que no nosso dia a dia colocamos em prática. Qual a sua reflexão sobre ela? 
Como, nesse caso, poderíamos apresentar uma visão relativista?
Reflita e continue a leitura a seguir.
http:/ /antropologiadigi tal .
com/2012/05/27/netnografia/
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Para Rocha (1999), o relativismo possui três concepções diferentes:
1 - A existência de relativismo onde as culturas formam entidades separadas, com 
limites facilmente identificáveis;
2 - Relativismo ético:
A - Exigência de respeito absoluto de cada cultura em particular;
B - Um relativismo que pode servir de garantia a uma posição ideológica oposta a 
qualquer definição universal de direitos humanos. A exaltação da diferença leva-nos 
até, em sua forma mais perigosa, à justificação de regimes segregacionistas. O direito 
à diferença é então transformado em obrigação.
3 - Relativismo como princípio metodológico: “todo o conjunto cultural tem tendência 
para a coerência e umas certas autonomias simbólicas que lhe conferem seu caráter 
original singular; não se pode analisar um traço cultural independente do sistema 
cultural ao qual ele pertence e que lhe dá sentido. É preciso saber considerar a 
dependência ou a independência no que se refere a esses sistemas culturais”.
Ainda para Rocha (1999), repensar a cultura como conceito significa reexaminar a noção de 
etnocentrismo. Para ele, etnocentrismo é uma palavra que caiu no uso comum. Pelo abuso 
do senso comum, etnocentrismo torna-se sinônimo de racismo e passa a ser condenado 
com o mesmo vigor que este último.
Em suas reflexões, aponta que racismo é mais do que uma atitude. É ideológico, baseado 
em pressupostos pseudocientíficos cuja origem é datada do final do século XIX e está longe 
de ser universal. O etnocentrismo pode ser encontrado em todas as sociedades – das mais 
simples às mais complexas.
Pelo que podemos apreender sobre esses conceitos, podemos agora compreender o quanto 
temos dificuldade de pensar a diferença. Essa dificuldade está diretamente ligada à cultura 
e às formas e valores de socialização que recebemos dos grupos dos quais fazemos parte. 
Assim, será que é possível pensar que estamos sendo 
etnocêntricos quando julgamos de forma precipitada os 
vários grupos sociais presentes em nossa realidade e 
que se apresentam contrários ou diferentes de nossa 
realidade cultural? Somos capazes de entender e respeitar 
a lógica e o sentido de existência desses grupos, como 
as prostitutas, os usuários de drogas, os skin-heads, as 
populações de rua, os vários grupos que se encontram à 
margem da sociedade?
Uma coisa é certa: quando estamos direcionados por um 
olhar etnocêntrico, podemos fazer julgamentos e avaliações 
que podem não corresponder à realidade empírica. Nesse 
caminho também cometemos injustiças e perdemos em conhecimento e riqueza cultural. O 
etnocentrismo leva, sim, a uma visão deformada da realidade cultural. O conhecimento do outro 
e da diferença faz com que passemos a praticar a tolerância social. Conhecer para melhor 
conviver não significa converter-se, mas sim entender que as culturas se complementam e 
dão um sentido vivo à realidade social.
Lembro-me agora da história do Lenhador e da Raposa; gostaria de encerrar essa discussão 
com ela e deixá-la para vossa reflexão:
não se pode analisar 
um traço cultural 
independente do sistema 
cultural ao qual ele 
pertence e que lhe dá 
sentido
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O lenhador e a raposa 
Existiu um lenhador que acordava às 6 da manhã e trabalhava o dia 
inteiro cortando lenha; só parava tarde da noite. Esse lenhador tinha 
um filho, lindo, de poucos meses, e uma raposa, sua amiga, tratada 
como bicho de estimação e de sua total confiança.
Todos os dias o lenhador ia trabalhar e deixava a raposa cuidando 
de seu filho. Todas as noites, ao retornar do trabalho, a raposa 
ficava feliz com sua chegada. Os vizinhos do lenhador alertavam 
que a raposaera um bicho, um animal selvagem; portanto, não era 
confiável.
 
Quando ela sentisse fome comeria a criança. 
O Lenhador sempre retrucava com os vizinhos, falava que isso era 
uma grande bobagem. A raposa era sua amiga e jamais faria isso.
 
Os vizinhos insistiam: 
- Lenhador, abra os olhos! A raposa vai comer seu filho.
 
- Quando sentir fome, comerá seu filho!
 
Um dia, o lenhador, muito exausto do trabalho e muito cansado 
desses comentários, ao chegar a casa viu a raposa sorrindo como 
sempre e sua boca totalmente ensanguentada... O lenhador suou frio 
e sem pensar duas vezes acertou o machado na cabeça da raposa...
 
Ao entrar no quarto desesperado, encontrou seu filho no berço 
dormindo tranquilamente e ao lado do berço uma cobra morta...
 
O lenhador enterrou o machado e a raposa juntos. 
h t tp : / / am igone rd .ne t / soc ia i s -
aplicadas/ciencias-sociais/onde-
voce-guarda-seu-racismo
vencendo
na raça
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Conclusão:
No decorrer desta unidade pudemos perceber a importância da cultura para o desenvolvimento 
do homem. Aprendemos também que cultura não é sinônimo de inteligência e que todos os 
homens possuem uma cultura inerente, criada a partir de nossas interações com o meio em 
que vivemos. Vimos também que a cultura é o que nos diferencia, e não a genética, de tal 
forma que fazemos parte de uma mesma humanidade. Somente aceitando que somos todos 
iguais e não diferenciados por raça poderemos combater preconceitos.
Conhecemos as diversas defi nições de cultura e suas diversidades e entendemos que ela 
pertence a toda a humanidade. Por fi m, vimos que o etnocentrismo deve ser repudiado e 
devemos sempre respeitar o relativismo cultura de cada povo.
Para fecharmos esta unidade convido você a assistir este vídeo sobre a cultura do ponto de 
vista antropológico: https://www.youtube.com/watch?v=IbHxuOYkzNs
Referências
BOFF, Leonardo. Virtudes para um outro mundo possível, vol. I: hospitalidade: direito e dever 
de todos. Petrópolis: Vozes, 2005.
DESCARTES, René. Discurso do Método. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. 
FERNÁNDEZ-ARMESTO, Felipe. Então você pensa que é humano?: uma breve história
da humanidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
KAHN, J. S. El concepto de cultura: textos fundamentales. Barcelona: Anagrama,
1975.
LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2005.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2006.
MARCONI, Marina de Andrade. Antropologia: uma introdução. São Paulo: Atlas, 2001. MORIN, 
Edgar. O enigma do homem: para uma nova Antropologia. Rio de Janeiro:
Zahar, 1975.
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