Buscar

Os três tempos do Édipo

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

*
Os três tempos do Édipo
Édipo: o pivô implícito da castração. Drama particular do qual depende a operação simbólica que poderá efetivar a marcação do interdito do incesto.
A castração: “tem por base a apreensão no real da ausência de pênis na mulher (...) existe, de fato, uma parte dos seres da humanidade que é, como se diz nos textos, castrada (...). Eles são castrados na subjetividade do sujeito. No real, eles são privados. (...) Ela atua no sujeito sob forma de uma ação incidindo sobre um objeto imaginário”. (Seminário 4, p. 224-3).
*
Castração: Função do pai (pai real, pai simbólico, pai imaginário: as três dimensões da paternidade).
“A função do pai tem lugar destaque na história da análise. Está no centro da questão do Édipo, e é aí que vocês a veem presentificada. Freud introduziu-a logo de início, uma vez que o complexo de Édipo aparece desde A ciência dos sonhos.. O que o inconsciente revela, no princípio, é, acima de tudo, o complexo de Édipo. A importância da revelação do inconsciente é a amnésia infantil, que incide sobre o quê? Sobre a existência de desejos infantis pela mãe e pele fato de estes desejos serem recalcados. E não apenas que eles são recalcados, como se esquece que estes desejos são primordiais. E não apenas são primordiais, como estão sempre presentes. Foi daí que partiu a análise e é a partir daí que se articulam um certo número de indagações clínicas” (Seminário 5, p.166-7) 
*
Significante Nome-do-pai: necessário à subjetivação. E preciso ter o nome-do-pai, mas é preciso que se possa servir-se dele.
Significante que se apresenta ou como podendo faltar ou como dom do Outro e, como tal é capaz de articular as imagens essenciais que irão assumir papel de guia e permitir uma certa unificação do corpo despedaçado.
Édipo: assunção, pelo sujeito, àquilo que faz com que o homem assuma o tipo viril e com que a mulher assuma um certo tipo feminino, se reconheça como mulher, identifique-se com suas funções de mulher. A virilidade e a feminização são os dois termos que traduzem o que é essencialmente a função do Édipo. E falar de Édipo é introduzir como essencial a função do pai: isso concerne à questão do complexo de castração.
É o papel, a função, do pai no complexo o que mais interessa, e não sua presença na família.
*
O pai intervém em diversos planos. Antes de mais nada, interdita a mãe. Esse é o fundamento, o princípio do complexo de Édipo, e é aí que o pai se liga à lei primordial da proibição do incesto. O pai é aquele que representa essa interdição. É por toda sua presença, por seus efeitos no inconsciente, que ele [pode] realiza a interdição da mãe (...) sob a ameaça da castração.
A neurose: encarnação, um certo modo de presentificação da ameaça de castração, que, por sua vez, está ligada à uma agressão imaginária. É uma retaliação (o pai como rival no complexo). É um modo de “solucionar” o complexo de castração. 
*
Os três tempos:
1º Tempo - a criança busca, como objeto de desejo, poder satisfazer o desejo da mãe: to be or not to be o objeto desejo da mãe? Ela se identifica, vai procurar ser o objeto satisfatório para a mãe; os sujeitos se identificam, especularmente, com aquilo que é objeto do desejo de sua mãe. Aí, a metáfora paterna age por si: a mãe, como falante, está já submetida à lei, pois a primazia do falo já está instaurada no mundo pela existência do símbolo, do discurso e da lei. Mas a criança aí é o falo para a mãe (possibilidade das identificações perversas).
*
2º Tempo - No plano imaginário, o pai intervém como privador da mãe, o que significa que a demanda endereçada ao Outro, caso transmitida como convém, será encaminhada a um “tribunal superior”, à lei que o ultrapassa: instauração da lei, imaginariamente concebida, do pai como privador da mãe: remetimento à uma lei que não é dela, mas do pai. O sujeito é desvinculado de sua identificação ao falo mas, ao mesmo tempo, é ligado ao aparecimento da lei, sob a forma do fato de que a mãe é dependente de um objeto, mas que não é simplesmente o objeto de seu desejo, mas um objeto que um Outro tem ou não tem. Aqui, a palavra do pai ganha todo seu valor quando, para a mãe, ela não é igual a zero.
*
3º tempo – O pai pode dar à mãe o que ela deseja, e pode dar o que possui. Aí intervém e potência no sentido genital da palavra – digamos que o pai é um pai potente. Por causa disso, a relação da mãe com o pai torna a passar para o plano real.
A identificação que pode ser feita com a instância paterna se introduz de uma forma velada, ou que ainda não aparece. Isso não impede que o pai exista na realidade mundana, ou seja, no mundo, em virtude de nesse reinar a lei do símbolo. Por causa disso, a questão do falo já está colocada em algum lugar da mãe, onde a criança tem de situá-la. 
*
A identificação que pode ser feita com a instância paterna realiza-se em três tempos:
1º:A instância paterna aparece velada, mesmo o pai estando presente na realidade, e pelo simples fato de que aí reina a lei do símbolo. Por isso a instância paterna já está presente em algum lugar da mãe, onde a criança tem de situá-la.
2º: O pai se afirma em sua presença privadora, como suporte da lei, já não de forma velada, porém, de um modo mediado pela mãe, que é quem o instaura como aquele que lhe faz a lei.
*
3º: O pai aqui se revela como aquele que tem o Falo. É a saída do complexo de Édipo. Essa saída do complexo é favorável na medida em que a identificação com o pai é feita nesse terceiro tempo, no qual ele intervém como aquele que tem o falo. Essa identificação chama-se Ideal do eu. A constituição do Ideal de eu, por sua vez, participa da construção de tudo aquilo que se chama a realidade, e, no nível do pai, começa a se constituir tudo aquilo o que depois será o Supereu. Aí o pai intervém, portanto, como real e potente. Esse tempo se sucede à privação ou à castração que incide sobre a mãe, a mãe imaginada, no nível do sujeito, com a própria posição imaginária, a dela, de dependência. É por intervir como aquele que tem o falo que o pai é internalizado no sujeito como Ideal do eu, e o complexo de Édipo, então, declina.
*
No menino: é instituí algo da ordem do Significante, que fica guardado como uma reserva. A criança não tomará ainda posse de seus poderes sexuais e exercê-los, mas ele adquire o direito de ser homem, mesmo que este venha a ser contestado na puberdade.
Na menina: Ela não tem que fazer essa identificação, tampouco terá que guardar esse título de direito à virilidade. Ela, a mulher, sabe onde ele está, sabe onde deve ir buscá-lo, o que é do lado do pai, e vai em direção àquele que o tem.
Então: é nessa medida que o terceiro tempo do Édipo pode ser transposto, na etapa da identificação, é que o menino pode se identificar com o pai como possuidor do pênis, e a menina pode reconhecer o homem como aquele que o possui.
Fonte: Lacan, J. O seminário 5: as formações do inconsciente.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando