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Conteudista: Prof.ª Dr.ª Flávia Carolina de Resende Fagundes
Revisão Textual: Pérola Damasceno
 
Objetivos da Unidade:
Estudar a origem dos partidos políticos;
Apresentar a relação entre partidos políticos e democracia.
˨ Material Teórico
˨ Material Complementar
˨ Referências
Partidos Políticos e Democracia
Partidos Políticos e Democracia
Nesta Unidade, discutiremos a relação entre democracia e partidos políticos. Embora esta
relação pareça umbilical, não é, necessariamente, o caso. Como vimos anteriormente, a origem
do que poderíamos chamar de partidos pré-modernos é no interior dos círculos de poder, em
um momento em que a participação política era limitada a homens de elite. Da mesma forma,
democracias podem existir sem partidos políticos, uma vez que alguns sistemas eleitorais
permitem candidaturas avulsas.
A complexa relação entre partidos políticos e democracia passa por vários momentos ao longo
da história que se relacionam com a organização social e econômica, sistema eleitoral e
questões ligadas à tecnologia disponível. Nas democracias modernas os partidos políticos
desempenham um papel fundamental de mediação entre a sociedade e o governo.
Neste sentido, a ampliação do sufrágio foi essencial para a democratização das sociedades
modernas, uma vez que irá permitir a representação política de mais setores sociais, o que
também irá se refletir na organização e funcionamento dos partidos políticos. Da mesma forma,
os veículos de comunicação influenciam, de forma direta, a relação dos partidos e representação
política com as sociedades, como por exemplo a internet transformou profundamente a relação
entre as organizações políticas e o eleitorado.
Dentro desta lógica, nesta Unidade, vamos discutir, em perspectiva histórica, a relação das
formas de organização partidária, representação política e democracia. 
1 / 3
˨ Material Teórico
A Relação entre Partidos e Democracia
Primeiramente, vamos definir o que entendemos por democracia. Em seu sentido mais estrito,
democracia significa um regime no qual os representantes políticos são escolhidos por meio de
eleições justas e regulares, ou seja, as eleições contam com ampla concorrência, sufrágio
universal e ocorrem com regularidade, com os atores aceitando os resultados eleitorais, tendo,
assim, alternância de poder de acordo com a vontade popular.
Nas democracias modernas, os partidos políticos desempenham um papel primordial de
mediação entre os interesses da sociedade e o governo, bem como com as elites. Nesse sentido,
os partidos políticos desempenham o papel de canalizador das demandas sociais e,
posteriormente, a conjugação destas em políticas públicas.
Os partidos políticos, por terem um programa e uma ideologia, mobilizam os cidadãos para
apoiá-los, produzindo, assim, demandas políticas. Organizações partidárias, por se tratar de
Reflita
- BOBBIO, 1987
“A democracia é boa em gerar demandas e ruim em satisfazê-las. A autocracia, por
outro lado, está em posição de sufocar as demandas e está mais bem posicionada
para atendê-las.”
grupos sociais, são o ambiente no qual indivíduos com interesses comuns podem articular essas
demandas (DESCHOUWER, 1996) de forma coletiva.
Porém, os partidos políticos, ao representarem interesses sociais (em ocasiões divergentes),
podem ser considerados fonte de estresse para o sistema político, tendo em vista que fomentam
lealdades parciais. Contudo, é importante ter em mente que esta é a natureza da democracia,
uma vez que podemos dizer que é um sistema político que visa a conciliação. No entanto, muitas
clivagens ou conflitos tornam a sua sobrevivência problemática. 
Para assegurar a sobrevivência dos regimes democráticos, duas soluções podem ser
apresentadas: a visão pluralista clássica, que argumenta que um certo grau de homogeneidade é
indispensável; e a visão de que a acomodação das elites é necessária. Aqui, argumenta-se que a
sobrevivência do sistema pode ser assegurada se as elites forem leais ao sistema democrático
(DESCHOUWER, 1996).
Dentro desta lógica, a alternância de poder entre partidos e o respeito desses às regras do jogo
podem ser consideradas como critérios para a avaliação da consolidação dos sistemas
democráticos. Uma democracia pode ser considerada consolidada se um partido ascende ao
poder em uma eleição e, em seguida, é derrotado e esta transição é realizada sem percalços.
Saiba Mais 
Os partidos também podem ter plataformas programáticas fracas,
estando focados na figura do líder.
Para garantir a canalização dos interesses das elites no governo e o funcionamento tranquilo de
uma democracia pluralista, os primeiros cientistas políticos do pós-guerra nos Estados Unidos
argumentavam a necessidade de fortalecimento dos partidos para que fosse possível um
governo partidário e não personalista. Estes argumentos também foram defendidos por
observadores das jovens democracias na Europa Oriental e América Latina, que atribuem as
deficiências dessas democracias à ausência ou fraqueza dos partidos políticos (STOKES, 1999).
Assim, os partidos são vistos como fundamentais para o funcionamento da democracia.
Dentro desta lógica, quando nos perguntamos para que servem os partidos, uma resposta
importante é que a política legislativa é instável sem partidos, portanto, legisladores que
desejam fazer algo e que desejam que suas políticas preferidas prevaleçam, formarão partidos.
Longe de ser uma consequência infeliz da natureza humana somada às liberdades liberais, os
partidos introduzem eficácia nas instituições democráticas (STOKES, 1999).
O sistema partidário fornece um ambiente no qual a confiança nas elites pode ser baseada em
outros fundamentos para além do exercício do governo. De acordo com Deschouwer (1996), os
partidos fortes são as estruturas intermediárias que permitem às democracias conviver com a
realidade de não poderem atender às demandas que elas permitiram e até mesmo incentivaram a
serem levantadas.
A pressão é parte integrante do regime democrático, e assim o papel dos partidos como
estruturas intermediárias que podem acalmar ou mesmo reverter os distúrbios é essencial para
isso. Dessa forma, evoluções organizacionais e no funcionamento dos partidos podem ser
responsáveis pelo aumento da pressão sobre o sistema e pela diminuição do nível de apoio
(DESCHOUWER, 1996).
Nas últimas décadas temos assistido a perda de confiança das sociedades na representação
exercida pelas instituições democráticas, o que tem se convertido tanto em desconfiança em
relação aos governos, quanto aos partidos políticos, uma vez que há um déficit na canalização
dos interesses sociais para as estruturas governamentais.
De acordo com Deschouwer (1996), o sentimento antipartido expressa a falta de confiança nas
elites dos partidos políticos (tradicionais). Além disso, o autor argumenta que a desconfiança
dos partidos políticos prejudica a democracia, assim como a desconfiança com a democracia
representativa também enfraquece os partidos.
Partidos e Democracia em Perspectiva Histórica
Como foi visto na Unidade I, podemos pensar em três estágios de desenvolvimento partidário,
sendo estes: primeiro, o partido legislativo-eleitoral, ou partido de elite; segundo, o partido de
massa; e terceiro, o partido eleitoral ou burocrático. No entanto, nesta Unidade focaremos nossa
atenção em entender como tem se dado a relação entre essas formas de organização partidária e
a democracia, considerando as suas relações com a estrutura social.
Importante! 
- DESCHOUWER, 1996
“Enquanto os canais de mediação entre cidadãos e a elite, especialmente os
partidos políticos, forem capazes de cumprir essa missão, o regime político não
perderá suporte, sendo este baseado no apoio aos partidos e confiança nas elites
partidárias. Isto significa que o apoio difuso à democracia está fortemente
vinculado à capacidade dos partidos políticos em atrair apoio difuso.”
Dentro desta lógica, é importante ter em mente que as mudanças sociais
afetam os partidos
políticos, bem como alteram o grau de apoio ao sistema político. Mudanças sociais afetam os
partidos e, portanto, afetam o papel que desempenham como estruturas intermediárias entre os
cidadãos e as elites, e como estruturas capazes de mobilizar apoio (DESCHOUWER, 1996).
Tendo esses pressupostos em mente, vamos observar as diferentes tipologias de partidos
políticos (definidas na Unidade I) e suas relações com a representação política e o regime
democrático. As mudanças organizacionais e funcionais dos partidos se relacionam com as
funções que os partidos políticos desempenham na democracia. Desde seu surgimento, os
partidos desempenham diferentes funções ao longo do tempo, estando estas funcionalidades
sempre atreladas ao contexto democrático (REBELLO, 2014). 
Como visto anteriormente, o primeiro momento de desenvolvimento partidário está ligado ao
surgimento de agremiações políticas dentro das assembleias eleitas e grupos parlamentares (o
que podemos entender como idade da pedra dos partidos políticos). Estes agrupamentos
políticos são o que se convencionou chamar de partidos de elite ou de quadros.  
Neste momento a concepção de partido político está fortemente ligada à ideia de facção, no
século XVIII, com exceção do filósofo Edmund Burke, poucos dissociavam partido de facção
Saiba Mais 
A substituição de um modelo partidário para o outro não acontece de
forma homogênea, existem formas intermediárias e modelos
anteriores podem conviver com o modelo vigente.
(REBELLO, 2014). Até 1850, por exemplo, somente os Estados Unidos poderiam ser incluídos na
lista de países que possuíam alguma forma partidária moderna. 
- HISTORY EXTRA, 2019
“Origens do Partido Conservador Britânico 
As origens do Partido Conservador remontam ao grupo “Tory” no parlamento, que
surgiu no último quarto do século XVII, liderado por Robert Harley e Lord
Bolingbroke, dentre outros, e ocupou o poder durante os anos finais do reinado da
Rainha Ana da Grã-Bretanha.”
Figura 1 – Casa dos Comuns, 1886
Fonte: SCHOOL HISTORY, 2021
De acordo com Colemer (2007), as facções tendiam a ser agrupamentos frouxos de indivíduos
que se uniam para apoiar um determinado líder ou política. As facções partidárias despertavam
grande desconfiança entre os pensadores que discutiam democracia no século XVII e XVIII,
como David Hume e Jean Jacques Rousseau. Para esses pensadores, as facções ameaçavam a
unidade do consenso previamente existente. Tendo em vista esta preocupação, os fundadores da
república americana tentaram criar instituições em que as facções políticas murchariam
(STOKES, 1999).
Contudo, com o passar do tempo foi se desenvolvendo uma tensão entre a suspeita de divisões
partidárias e a aparente inevitabilidade da organização partidária, e os partidos passaram a ser
concebidos como “males inevitáveis”. É importante observar que, no século XVIII e XIX, uma
das principais preocupações entre os teóricos que estão pensando a democracia (John Stuart
Mill, Alexander de Tocqueville e outros) é de que o sistema democrático se tornasse um modelo
político que poderia permitir a ditadura da maioria e que as minorias não fossem representadas.
Trocando Ideias... 
Muitos pensadores sobre a democracia liberal em seus estágios iniciais
temiam a inserção das classes populares no jogo democrático. Por essa
razão, Stuart Mill propõe votos com pesos diferentes de acordo com a
escolaridade.
É importante ter em mente que nos séculos XVII e XVIII também é o momento de avanço da
consolidação da garantia das liberdades individuais, ou seja, a democracia moderna tem, em seu
nascimento, o caráter liberal iluminista. Dessa forma, uma das grandes preocupações era
balancear a representação dos interesses coletivos, concebendo o indivíduo como uma parte do
todo e, ao mesmo tempo, preservar as liberdades individuais.
Como prosseguimento da ideia de que partidos políticos eram males necessários, observou-se
que a pluralidade também era benéfica. Dentro desta lógica, James Madison, um dos pais
fundadores da democracia estadunidense e seu quarto presidente (1809 e 1817), observou que
com partidos organizados em pequenas comunidades provavelmente haveria um único partido
dominante, contagiado pelos preconceitos locais e esquemas de injustiça. Por outro lado,
maiores unidades políticas forneceriam menos chances de opressão por uma maior variedade
de partidos, evitando, assim, que um dos partidos fosse capaz de superar e oprimir os demais
(COLEMER, 2007).
Reflita
- MADISON, 1787
“Amplie a esfera e você terá uma variedade maior de partidos e interesses; você
torna menos provável que a maioria do todo e terá um motivo comum para invadir
os direitos de outros cidadãos; ou se tal motivo comum existe, será mais difícil
para todos os que o sentem descobrir sua própria força e agir em uníssono uns
com os outros.”
É importante notar que a participação política neste momento era limitada, se caracterizando
como um regime censitário e os partidos políticos não se preocupavam em conquistar um
número expressivo de votos, contando somente com o apoio das elites das quais faziam parte.
Os chamados “notáveis” detinham uma boa penetração entre setores privados, como bancos e
indústrias que financiavam as atividades partidárias através de doações. Dentro desta lógica, as
bases sociais dos partidos políticos eram fracas (REBELLO, 2014), ficando restrita às elites
proprietárias.
Com o avanço do processo de industrialização e do crescimento das cidades que levou ao
surgimento de uma classe operária urbana, bem como a ampliação do sufrágio, não foi mais
possível manter as estruturas dos partidos de elite, uma vez que agora as cidades passam a ter
uma classe operária crescentemente ativa na vida política. Assim, a necessidade de competir
com organizações de trabalhadores cada vez mais estruturadas fez com que houvesse uma
modificação nos partidos burgueses, ainda sob o rótulo de partidos de notáveis (REBELLO,
2014).
Figura 2 – Revolução Industrial
Fonte: HISTORY, 2021
Para Sartori (2005), a ideia de que o surgimento dos partidos de massa está diretamente ligado à
industrialização não é apoiada por evidências adequadas, uma vez que os partidos
estadunidenses se tornaram de massa antes do processo de industrialização, ou seja, quando os
Estados Unidos se caracterizavam como uma sociedade agrícola. 
Nesse sentido, Sartori (2005) argumenta que o requisito básico para o surgimento de partidos
de massa é o avanço da alfabetização. Isto não quer dizer que os novos cidadãos devam ter
conhecimentos ou informações sobre política, mas sim a capacidade de abstração.
Considerando a premissa de que para haver um partido de massa é necessário que o partido
constitua um símbolo que substitui as lealdades personalizadas e notáveis locais.
- STOKES, 1999
“Essa mudança também se refletiu nas preocupações presentes na definição dos
sistemas eleitorais. Os partidos e eleitores liberais se preocupavam em como
manter o controle das cadeiras legislativas, diante da emergência de uma classe
trabalhadora emancipada e o surgimento de partidos socialistas. Se um dos
partidos liberais preexistentes dominasse o outro eleitoralmente, esse partido
poderia servir como um ponto focal para os eleitores liberais, e o governo da
maioria permaneceria atraente. Se dois partidos liberais preexistentes tendessem a
dividir o voto igualmente, a liderança liberal preferiria mudar para um sistema
proporcional para assegurar a continuação da representação liberal.”
Para Deschouwer (1996), os partidos de massa surgem da tensão inerente ao regime
democrático entre o individualismo e a necessidade de encontrar mecanismos para lidar com
este problema, concebendo o indivíduo como parte de um corpo social mais amplo. Assim, esses
partidos mobilizaram as pessoas referindo-se a elas como subgrupos sociais, como
coletividades com interesses comuns. Ao fazer isso, eles forneceram estruturas culturais que
evitam uma
avaliação dos resultados políticos em termos estritamente individuais. Mas, ao
mesmo tempo, suas ideologias se referiam claramente aos direitos individuais, ao direito de
cada cidadão poder ser realmente livre e realmente igual aos outros.
Aqui, é importante notar que este também é o momento de ascendência das ideias socialistas
que estão fortemente ligadas ao surgimento dos partidos de massa (REBELLO, 2014). Assim,
podemos observar claramente que os partidos de massa estão nessa intersecção entre os
interesses coletivos, as liberdades individuais e a constituição de uma democracia de massa.
A sociedade do pós-Guerra é significativamente diferente do que a do início do século XX, o que
levará à crise dos partidos de massa. Este é momento histórico dos anos dourados do
capitalismo e da emergência do Estado de Bem-Estar Social (Welfare State). Grandes grupos de
pessoas passam a ter o acesso ao conforto do bem-estar econômico e aos valores do Ensino
Superior (DESCHOUWER, 1996), nos países europeus e nos Estados Unidos, o que irá
Saiba Mais 
Para Sartori (2005) somente a ampliação do eleitorado não é suficiente
para a constituição de partidos de massa.
revolucionar a forma de pensar, as expectativas em relação ao sistema político e a organização
dos partidos.
Saiba Mais 
Acesso ao Ensino Superior nos Estados Unidos (Figura 3)
A Lei de Reajuste dos Militares de 1944, conhecida como GI Bill, foi um marco para o acesso ao
Ensino Superior nos Estados Unidos. A lei forneceu financiamento para que veteranos
frequentassem faculdades ou escolas de comércio (HISTORY, 2019), transformando o corpo
discente do Ensino Superior ao remover o maior obstáculo: o custo. Os grupos socioeconômicos
mais baixos passaram a estar representados no campus, democratizando profundamente o
acesso ao Ensino Superior. 
Figura 3 – Crescimento do número de estudantes no
Ensino Superior nos EUA
Fonte: Adaptado de WORLD WIDE LEARN, 2021
O número de estudantes universitários quase dobrou na década de 1940, de 1,5 milhão em 1940
para 2,7 milhões em 1950. O “tapete mágico para a classe média”, como era chamado o GI Bill,
vinculava permanentemente o Ensino Superior ao sonho americano. Um diploma universitário
agora era a passagem para uma vida melhor (WORLD WIDE LEARN, 2021).
Como mostrado anteriormente por Sartori (2005), a educação tem um papel de grande
importância para democratização das sociedades, estando a alfabetização ligada ao surgimento
dos partidos de massa. E da mesma forma a popularização do Ensino Superior na Europa e nos
Estados Unidos está ligada à mudança organizacional dos partidos, que agora buscam alcançar
amplos eleitorados que não estão mais pautados em identidades coletivas setoriais, mas
buscando a melhoria de suas vidas.
Para Deschouwer (1996), a melhoria da condição de vida propiciada pelo Estado de Bem-Estar
Social enfraqueceu a crença na ação coletiva, que era bastante importante para o funcionamento
dos partidos de massa, fazendo com que estes tivessem que se adaptar à nova lógica eleitoral.
As identidades sociais que pautavam os partidos de massa se deparam com um eleitorado em
mudança, mais voltado para as questões individuais. Assim, os partidos, para se adaptarem,
reduzem sua bagagem ideológica, fortalecendo a liderança para garantir o acesso ao maior
número de eleitores possível. O partido catch-all é claramente mais político e menos social do
que o partido de massa (DESCHOUWER, 1996).
Na era dos partidos de massa, a função das agremiações era mobilizar e integrar os cidadãos ao
regime político, bem como a articulação de interesses, a despeito de nunca ter sido exclusiva dos
partidos, era realizada de maneira central pelas legendas. Ambas as funções expressam o caráter
representativo das organizações partidárias e foram se perdendo com o tempo (REBELLO, 2014).
Outra mudança que altera radicalmente a comunicação dos partidos com o eleitorado é a
popularização da televisão. Na era dos partidos de massa, a mobilização eleitoral era feita de
forma direta, por meio dos comitês, jornais sindicais e partidários. Com a televisão, a mediação
entre o eleitor e candidato passa a ser direta em relação ao veículo de comunicação, assim, o
partido perde a preponderância em influência a escolha dos eleitores (REBELLO, 2014). Para ter
uma ideia, nos Estados Unidos o número de aparelhos aumentou de um milhão em 1949 para
cinquenta milhões dez anos depois (LIBRARY OF CONGRESS, 2021).
O efeito da televisão sobre a política dividiu as opiniões entre os políticos estadunidenses. Em
1951, o presidente Harry Truman, em uma comunicação da Casa Branca, relatou sua
preocupação com a transmissão das audiências do Congresso, pela tendência em se
transformarem em feriados romanos. O senador John F. Kennedy afirmava que o novo meio de
comunicação dava ao público uma nova oportunidade de detectar, por si mesmo, os enganos e a
honestidade na imagem de um político. Porém, alertava que a televisão poderia ser
instrumentalizada por demagogos, apelos à emoção, ao preconceito e à ignorância (LIBRARY OF
CONGRESS, 2021).
Trocando Ideias... 
Com a consolidação de grandes democracias, os partidos estão em uma
competição por votos e, assim, passam a sentir a pressão para se
adaptarem nessa direção.
Como se pode observar a televisão altera o funcionamento da democracia e a cultura política. O
processo político se transformou em vida real, com isso o político e a política perdem a mística e
passam para o campo das coisas seculares, agora todos podem medi-lo e criticá-lo usando
parâmetros comuns (NOVOSEL, 1971). Tal processo, também aproxima o cidadão comum da
vida política que passa a ser acompanhada no noticiário na hora do jantar, aumentando sua
informação.
Além disso, as emissoras de televisão passam a ter uma maior influência política, uma vez que se
constituem um filtro entre a sociedade e o governo. A mídia, nesse sentido, passa atuar também
como um canalizador das pressões sociais para o governo, ao expressar suas demandas em
reportagens, bem como exerce uma função de vigilância da atuação dos governos. Dessa forma,
as grandes emissoras passam a desempenhar algumas das funções exercidas anteriormente
pelos partidos.
Figura 4 – Primeiro Debate Presidencial entre Kennedy e
Nixon, em 1960
Fonte: US NEWS, 2016
A partir deste momento, eleições passam a ser baseadas mais na figura do político do que no
conteúdo programático. Além disso, a utilização de pesquisas focadas e outras técnicas de
comunicação são fortalecidas. E, neste sentido, como visto na Unidade I, a figura dos técnicos
substitui a figura do militante.
É importante levar em consideração que o sistema eleitoral é um forte determinante das
características da democracia e de como o jogo da política é jogado nas campanhas e
mobilizações. Mais importante ainda, os sistemas eleitorais afetam fortemente quem ganha e
quem perde em termos do número de "cadeiras conquistadas" – e quem, em última análise,
forma um governo – e, dentro desta lógica, as eleições passam a ser a principal finalidade dos
partidos.
Saiba Mais
- NOVOSEL, 1971
“Dentre as muitas mudanças sociais introduzidas pela televisão é que ela também
passa a atuar como integradora e afirmadora de pequenos grupos de oposição
isolados. Isso é especialmente importante para os sistemas políticos nos quais a
vida política foi integrada em torno de dois ou três grandes partidos políticos, e
tudo fora dela permanece despercebido. Quando um grupo político tão pequeno
consegue uma parte do tempo na TV, ele, imediatamente, atrai o apoio de todos os
elementos semelhantes da sociedade e, com isso, a chance de influenciar o
processo político mais amplo.”
Para Deschouwer (1996), os partidos passam a atuar como um intermediário entre o Estado e a
sociedade, e tenta vender aos consumidores (eleitores) os produtos que estão encomendando.
Dentro desta lógica, o marketing político é considerado a melhor estratégia, o que encareceu
significativamente
as campanhas eleitorais, fazendo com que os partidos tivessem que adaptar
as suas estruturas organizacionais e funcionais para atrair um maior número de financiadores.
As democracias também estão passando a ter uma concepção cada vez mais pluralista. Assim, a
democracia está pautada principalmente na negociação e acomodação de interesses. Nesse
sentido, os partidos constroem coalizões em torno destes interesses e atuando como
facilitadores de concessões, sendo assim, as eleições são propriamente escolhas entre equipes
de líderes (KATZ; MAIR, 1995).
Como resultados destas mudanças, o sucesso dos partidos políticos passa a estar baseado na
capacidade de entregar resultados concretos. Observando este quadro, Deschouwer (1996)
argumenta que a perda da capacidade das organizações políticas de mobilizar incentivos sociais
coletivos difusos torna os partidos mais vulneráveis.
A concepção da democracia e partidos políticos baseados na entrega de resultados específicos,
ao invés de valores coletivos, torna o sistema político mais vulnerável, uma vez que se perde o
reservatório de apoio difuso que um sistema precisa, especialmente em democracias, que
pressupõem a necessidade de selecionar algumas demandas e rejeitar outras (DESCHOUWER,
1996).
Observando esta mudança, fazer parte do governo torna-se de vital importância para os
partidos, porque os partidos governantes são capazes de controlar a produção do Estado e
entregar os bens que têm prometido. Dentro desta lógica, para Katz e Mair (1995), alguns
partidos aderem a cartéis, tendo em vista que o acesso aos recursos estatais requer a cooperação
entre os concorrentes e acordos que requerem o consentimento e cooperação de todos (ou
quase todos) participantes relevantes. 
Deschouwer (1996) argumenta que a adaptação para o partido catch-all e, mais ainda, ao partido
cartel, é resultado da tentativa de sobrevivência em um mundo onde não há garantia de sucesso.
Porém, essa adaptação falhou porque os partidos tradicionais ainda são vulneráveis e, na
verdade, estão ainda mais vulneráveis do que nunca. A razão para isso é que as novas formas e
estratégias organizacionais tornaram a democracia um jogo mais individual, menos mediado
por organizações partidárias coletivas e, como resultado disso, o partido perdeu sua capacidade
de canalizar a representação social.
Os partidos, ao se tornarem máquinas governamentais, perderam contato com o público e, por
consequência, passa a existir uma grande lacuna de confiança entre as elites dos partidos
estabelecidos e o eleitorado. Este processo de erosão dos partidos abriu espaço para o
surgimento dos candidatos antissistema (os chamados outsiders), que ameaçam as estruturas
partidárias ao focar na figura do líder proeminente e questionar as instituições.
Dessa forma, no mundo contemporâneo, as funções de integração, mobilização e articulação de
interesses do cidadão não são mais realizadas pelos partidos políticos, o que alimenta a
descrença e a perda de apoio difuso das sociedades ao sistema partidário, o enfraquecendo.
Outra consequência deste processo é a personalização da política, o que ameaça a política
partidária. Para muitos analistas, esses processos ameaçam as democracias liberais ao corroer
os canais de mediação entre a sociedade e o governo.
Trocando Ideias... 
Claro que irá haver partidos que permanecerão na periferia do poder,
fazendo a oposição, o que não significa que não terão acesso aos
recursos do Estado, uma vez que podem negociar seu apoio em
determinados momentos.
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
  Filmes  
Sufragistas 
A ampliação do sufrágio promoveu grandes mudanças nos partidos políticos, dentro deste
processo de expansão a conquista do voto feminino é uma das mais relevantes. O filme As
Sufragistas (2015), da diretora Sarah Gavron, mostra a luta das mulheres para a conquista do
direito ao voto.
2 / 3
˨ Material Complementar
As Sufragistas - Trailer O�cial
All In: The Fight for Democracy 
O documentário All In: The Fight for Democracy (2020), das diretoras Lisa Cortes e Liz Garbus,
aborda, de forma ampla, a história da supressão de eleitores na América e a luta contínua pelo
direito de voto. Em última análise, concentrado nos problemas modernos e no que eles
significam para o futuro próximo, o filme também fornece uma cartilha sobre os ganhos e
regressões dos negros americanos desde a fundação da nação, bem como avanços para as
mulheres.
  Leitura  
História do Partido Democrata 
O Partido Democrata, junto com o Partido Republicano, ocupa posição de centralidade na
democracia norte-americana (a principal democracia liberal na atualidade). A matéria indicada
ALL IN: The Fight For Democracy – O�cial Trailer | Prime Video
da revista History conta a história do Partido Democrata desde suas origens na Guerra de
Secessão norte-americana até a atualidade.
Clique no botão para conferir o conteúdo.
ACESSE
A polarização do Sistema Partidário 
A polarização do sistema partidário nos Estados Unidos se dá entre o Partido Republicano e o
Partido Democrata. A matéria da revista History conta a trajetória do Partido Republicano desde a
sua fundação, em 1854, até a atualidade do partido com Donald Trump.
Clique no botão para conferir o conteúdo.
ACESSE
BOBBIO, N. O Futuro da Democracia: uma defesa das regras do jogo. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1986.
COLOMER, J. On the Origns of Electoral Systems and Political Parties: the role of elections in multi-
member districts. Electoral Studies, v. 26, n. 2, 2007.
DESCHOUWER, K. Political Parties and democracy: a mutual murder? European Journal of Political
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GUNTHER, R; DIAMOND, L. Espécies de Partidos Políticos: uma nova tipologia. Paraná Eleitoral,
v. 4, n. 1, 2015.
HISTORY. G.I. Bill. 07/06/2019. Disponível em: . Acesso em: 04/08/2021.
HISTORY. Industrial Revolution. [s.d.]. Disponível em:
. Acesso em: 31/07/2021.
HISTORY EXTRA. A brief history of the conservative party. 11/06/2019. Disponível em:
. Acesso em: 21/07/2021.
KATZ, R.; MAIR, P. Changing Models of Party Organizations and Party Democracy: the emergence
of the Cartel Party. Party Politics, v. 1, n. 1, 1995.
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˨ Referências
LIBRARY OF CONGRESS. Hope for America: performers, politics and pop culture. [s.d.]. Disponível
em: . Acesso
em 05/08/2021.
NOVOSEL, P. The Impacto of Television on the Development of Political Culture. Croatian
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REBELLO, M. M. Os Partidos Políticos: uma evolução de tipologias sob novos contextos. III
Seminário Internacional de Ciências Sociais – Ciência Política, 2014, São Borja. Disponível em:
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SARTORI, G. Party Types, Organization and Functions. West European Politics, v. 28, n. 1, 2005.
STOKES, S. Political Parties and Democracy. Annual Review of Political Science, v. 2, 1999.
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https://schoolhistory.co.uk/early-modern/the-tory-party>. Acesso em: 22/07/2021.
US. NEWS. First 1960 kennedy-nixon televised debate: a recap. 23/09/2016. Disponível em:
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WORLD WIDE LEARN. The history of higher education in the United States. c2021. Disponível em:
. Acesso em:
04/08/2021.

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