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FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA CURSO DE MEDICINA BIANCA FRIGO PIRES PORTFÓLIO DA UNIDADE DE PRÁTICA PROFISSIONAL CICLO 2 MARÍLIA 2021 1 SUMÁRIO Ciclo 2 - Relação profissional-paciente ___________________________________________________2 Síntese provisória_____________________________________________________________________3 Busca individual_____________________________________________________________________ 4 Nova síntese_________________________________________________________________________ 6 Reflexões pessoais____________________________________________________________________ 7 Referências_________________________________________________________________________ 7 2 27/04/2021 Ciclo 2 - Relação profissional-paciente Para iniciarmos o segundo ciclo da unidade prática profissional, assistimos o filme “Um golpe do destino”, disponibilizado pela faculdade. O filme serviu como disparador para o início do ciclo, sendo que precisamos elaborar uma narrativa reflexiva sobre as cenas do filme e levá-la para o próximo encontro e discutir em grupo. Gostei bastante da indicação de disparador que a faculdade trouxe. O filme é longo mas em nenhum momento foi chato ou monótono. Segue a minha narrativa: O filme "um golpe do destino" traz uma reflexão sobre a maneira como os profissionais da saúde se relacionam com os pacientes e até entre si, mostrando várias cenas de desrespeito. O filme conta a história do médico cirurgião Jack Mckee, que é caracterizado como um bom cirurgião, mas com emoções muito frias e distantes com os pacientes e até mesmo com a própria família. No começo do filme, vemos cenas antiéticas e de completo desrespeito médico, como piadas sobre suicídio durante uma cirurgia de um paciente suicida e posteriormente na frente do mesmo, debochando de médicos que chamam o paciente pelo nome ou que os tratam com mais empatia, não se apresenta para os pacientes antes de examiná-los, não explica os procedimentos ou pergunta para o paciente como ele se sente durante o exame para trazer mais conforto. Esse contexto muda quando o médico acaba virando o paciente, pois foi diagnosticado com um nódulo maligno nas cordas vocais. A partir deste momento, Jack provou o mesmo sistema opressor em que ele contribuía. Durante o seu diagnóstico, ele foi atendido por uma otorrinolaringologista com as mesmas características pouco empáticas que ele tinha e, durante esse momento, ele percebeu com mais detalhes a relação médico-paciente. A parte mais evidente dessa cena é quando a médica faz uma série de exames sem nem pedir licença e solta o diagnóstico, o qual já possuía uma carga negativa por ser um câncer, sem acolher ou preparar o paciente. Além disso, fizeram um exame sem necessidade nele porque confundiram as fichas dos pacientes. Outra cena muito marcante foi quando o médico responsável pela radioterapia e a otorrino discutiram o plano de cuidados do Jack sem consultar a opinião dele, simplesmente como se ele não existisse e precisasse estar ativo durante o seu tratamento. 3 Outras cenas pontuais foram quando o Jack foi bem claro para a médica que desde o começo ele queria a cirurgia e ela manteve a radioterapia e no fim a radioterapia não funcionou e ele precisou fazer a cirurgia de qualquer maneira. Ademais, o tratamento era pra ser diário, mas a clínica de radioterapia fechava aos finais de semana e em alguns dias o médico simplesmente não apareceu para cuidar dos pacientes. No início, Jack fica relutante acerca da mudança de perspectiva e não se conforma que não recebe tratamento exclusivo por ser médico daquele hospital. Quando ele conhece outros pacientes durante o seu tratamento de radioterapia, Jack começa a criar novas concepções do sistema de saúde, atendimento e burocracia hospitalar, principalmente quando ele conhece a June, uma paciente com um tumor cerebral em estado terminal diagnosticado tardiamente devido à negligência médica. No final, com a morte de sua amiga June e com o sucesso de sua cirurgia de retirada de tumor, Jack tenta mudar a perspectiva de atendimento dos residentes, fazendo com que eles se coloquem no lugar dos pacientes para aprenderem na "prática" sobre empatia e humanização da medicina. Ademais, ele começa a chamar os pacientes pelo nome e entender o contexto e os pensamentos deles, acolhendo-os da melhor forma possível e ainda tranquilizando as famílias. Ainda enfrentou um colega de trabalho que modificou o prontuário de um paciente para se livrar de um processo. 29/04/2021 Síntese provisória O grupo se reuniu para discutir sobre as narrativas individuais. Iniciando a discussão, o professor Daher fez algumas considerações sobre o contexto do filme e abriu espaço para que os alunos explicitassem seus pontos de vista. Ao meu ver, tivemos um encontro muito produtivo, no qual todos os meus colegas pareciam ter a mesma linha de raciocínio sobre a importância de uma relação ética entre profissionais da saúde e pacientes, e de como é comum uma relação hierarquizada e pouco humanizada na sociedade atual. Cada um dos participantes trouxe aspectos do filme para ilustrar ações pouco éticas e que poderiam causar mais preocupação para os pacientes, como as cenas iniciais do filme devido às atitudes de Jack e posteriormente com ações de outros médicos sobre a saúde do próprio Jack. Conforme as contribuições do grupo, abrimos algumas questões de aprendizagem para entendermos melhor como seriam atitudes profissionais éticas e que vislumbram o bem-estar emocional do paciente. Seguem as questões: 4 1. Como os profissionais de saúde devem se relacionar do ponto de vista emocional frente a um paciente com um prognóstico fechado e com um curto tempo de vida esperado? 2. De que forma cada um desses comportamentos dos profissionais da saúde é caracterizado? (onipotente, onisciente e empático) 3. Como são os protocolos para informar más notícias aos pacientes? (Spikes e Paciente) 04/05/2021 Busca qualificada Estudei para as questões abertas no ultimo encontro. A primeira questão foi um pouco complicada de encontrar, pois é um assunto muito subjetivo e não haviam muitos artigos ou livros que explicassem esse recorte especifico. Para a segunda questão eu pesquisei primeiro o significado dos conceitos pedidos (onipotência, onisciência e empatia) e depois procurei esse perfil em profissionais da saude, especialmente em médicos. A terceira questão foi bem mais simples de encontrar, porque existem muitas fontes confiáveis sobre o tema. Segue o meu estudo: 1. Os profissionais da saúde possuem uma maior proximidade com a morte, exigindo preparo para atender pacientes e familiares diante de prognósticos ruins, dor e sofrimento. Dessa forma, cabe aos profissionais da saúde aliviar a dor, seja no aspecto físico ou mental. No geral, os pacientes e a família levam um tempo para aliviar e transformar as emoções negativas, imperando uma angústia a qual pode distanciar essas pessoas, cabendo ao profissional da saúde lidar com essas situações e ajudá-los nesse momento. Durante a assistência familiar, o profissional da saúde precisa abrir espaços de reflexão com outros profissionais sobre o processo do morrer e mudar alguns padrões de conduta. Atualmente, vemos muitos médicos com sentimento de onipotência, cujo lema é sempre ter a palavra final sem olharde forma ampliada para o paciente; além disso, é raro um médico que discute sobre o emocional dos pacientes com outros profissionais para melhorar a sua conduta, sendo essas discussões, nas poucas vezes que acontecem, somente para questionar conduta medicamentosa. O modo como esses profissionais processam os meios e os recursos para atender à família e ao paciente no momento da dor e do sofrimento irá refletir no cuidado. É muito importante que recém-formados procurem a ajuda de profissionais da saúde mais experientes, pois trará mais segurança na hora de lidar com os sentimentos sobre a situação do paciente, além de auxiliar nas possibilidades terapêuticas, mantendo compromisso, autonomia e postura ética. Diante disso, algumas atitudes podem ser tomadas, como entender e aceitar os sentimentos dos pacientes, ouví-los atentamente e pacientemente e evitar frases que possam piorar a situação. Primeiramente, precisamos cuidar do nosso próprio emocional para não nos abalarmos diante de pacientes terminais. Muitas pessoas relatam que sentem raiva e frustração quando recebem noticias ruins e procuram culpar alguém pela situação, como o médico com diagnóstico errado ou que não olhou atentamente para as necessidades do paciente. Esse tipo de atitude abala o emocional de qualquer profissional, configurando um problema para as necessidades de saúde do paciente e da família, pois 5 precisamos estar bem com nós mesmos para ajudá-los. Para isso, é fundamental entender que a morte é inevitável e que não existem culpados quando falamos em doenças terminais. É sempre importante estar pronto para ouvir histórias e desejos dos pacientes, porque muitas pessoas que estão passando por doenças terminais sentem o desejo de se declararem e expressar seus sentimentos, e muitos profissionais acabam se esquivando desse momento por medo de não saberem o que dizer. No entanto, a escuta pode mostrar mais vínculo do que qualquer outra atitude. O ideal é aproveitar esse momento e não tentar esconder informações importantes do paciente, principalmente sobre a sua saúde. Também devemos pensar no conforto do paciente em seus últimos dias e fazer perguntas como: será que essa pessoa gostaria de passar seus últimos dias no hospital? Tem alguém que ela gostaria de encontrar? Será que existe algo que possa confortar essa pessoa?. Devemos permitir que o paciente se expresse, sem interrompê-lo, julgá-lo ou minimizar seus medos e sofrimento. (1, 2) 2. Onisciência e onipotência significam, segundo o dicionário, saber de tudo e poder realizar tudo, respectivamente. Para entender o porquê dessas palavras estarem muito associadas ao comportamento dos profissionais da saúde, principalmente dos médicos, precisamos compreender o contexto histórico e social dessa caracterização. Houve um abandono do tradicional morrer, o qual acontecia com o enfermo assistido por familiares e pessoas próximas em seu leito em domicílio, por um ambiente hospitalar, acompanhado de equipamentos e profissionais atarefados. Com isso, a morte tornou-se algo solitário e, por isso, angustiante, principalmente pela medicalização do luto. Devido ao avanço da medicina, conseguimos modificar a história natural das doenças, prolongando o processo do morrer. Diante desse contexto, temos um novo protótipo de médico que precisa conviver e cuidar desses pacientes graves, tendo que lidar com suas emoções pessoais. Ademais, a sociedade atribui ao médico a função de ser tanatolítco, que decide o instante da morte e o contexto de morrer. Portanto, o médico torna-se onipotente e precisa, como princípio, salvar a qualquer custo a fim de corresponder às expectativas sociais projetadas. Outro fator que influencia é o próprio capitalismo e como ele interfere na mercantilização da medicina, com instituições que oferecem aos profissionais de saúde baixos salários, insalubridade ambiental e equipamentos deteriorados, manifestando uma expectativa de que esses profissionais consigam realizar o processo de cuidar mesmo sem o menor suporte, pois são seres “superdotados" que precisam dar conta de tudo. Dentro desse contexto, o médico encara sua insignificância frente a quadros irreversíveis (consciente ou inconscientemente) a partir do isolamento de emoções, cirando a doutrina do distanciamento e da frialdade desumanizador. Importante salientar que muitas vezes esse problema se inicia precocemente no ambiente acadêmico. Os estudantes de medicina tendem a procurar a profissão justamente por ser uma área difícil e desafiadora e almejam conquistar um status de um ser onipotente e tanatolítico, que dará conta de tudo, que irá curar todas as doenças e impedir que as pessoas morram, configurando a “ilusão de onipotência”. Sabe-se ainda que o ambiente de formação médica tende a valorizar o desafio, estudo, responsabilidade e competição, 6 gerando uma vulnerabilidade emocional e levar o estudante a uma sobrecarga (síndrome de Burnout), com exaustão emocional e física, despersonalização e diminuição da capacidade de realização pessoal. Já o conceito de empatia baseia-se em um modelo multidimensional, constituindo-se de 3 componentes: cognitivo, afetivo e comportamental. O componente cognitivo refere-se à capacidade de identificar e de considerar, sem julgar, a perspectiva e os sentimentos da outra pessoa. O componente afetivo é identificado pela presença de sentimentos de compaixão e de preocupação genuína com o bem estar da pessoa-alvo. O componente comportamental da empatia se traduz em transmitir o reconhecimento explícito do que foi entendido, sem julgamento pessoal, dando à outra pessoa a sensação de ter sido verdadeiramente compreendida e acolhida. (3, 4) 3. O protocolo SPIKES é nada menos do que um modelo de comunicação com o paciente, sendo seis passos que podem proporcionar mais segurança aos médicos. O protocolo consiste em: S - Setting up: preparar-se para o encontro e ter uma boa estratégia, pois é importante manter a calma, ter um acompanhante com o paciente, conversar em particular, sentar e procurar não ter objetos entre o médico e o paciente, escutar atentamente o que o paciente diz e mostrar atenção e carinho; P - Perception: investigar se o paciente já sabe o que está acontecendo, usando perguntas abertas; I - Invitation: identificar até onde o paciente quer saber o que está acontecendo, ou se ele prefere que um familiar tome as decisões por ele; K - Knowledge: usar palavras adequadas para transmitir as informações, como frases curtas e perguntar, com certa frequência, como o paciente está e se está entendendo; E - Emotions: aguardar a resposta emocional do que pode vir, dar tempo ao paciente e mostrar compreensão; S - Strategy and summary: resumir e organizar as estratégias, deixando claro para o paciente que ele não será abandonado (5) 06/05/2021 Nova síntese O grupo se reuniu novamente para discutirmos as pesquisas da busca qualificada. O encontro foi muito interessante e cada pessoa trouxe uma informação nova que enriqueceu a discussão. Terminei a atividade muito satisfeita. Alguns pontos ditos pelos meus colegas que chamaram a minha atenção foram: De modo geral, trouxemos uma abordagem psicológica nas emoções do médico em relação ao paciente na primeira questão, comentando sobre como a pressão constante e o estresse podem influenciar a prática médica e, consequentemente, altera a forma como ele interage com o paciente. O médico precisa lidar com muitas problemáticas durante a sua profissão, como conciliar vínculos institucionais, administrar controles e demandas, além de ter que salvar vidas, trabalhar em equipe e receber cobrança excessiva. Os médicos possuem respostas emocionais em relação aos pacientes, influenciandona forma como eles tomam suas decisões e conduzem um tratamento ou intervenção. Existe uma dificuldade em dialogar com o paciente terminal começando com a própria informação do diagnóstico, porque é comum ocultarem pedaços mais precisos, pois acreditam que o paciente entraria em estado depressivo, agravando a doença. É importante 7 deixar claro para o paciente terminal que não vai abandoná-lo por causa do diagnóstico, assim ele não terá medo de isolamento, abandono, rejeição e terá um vinculo maior com o profissional da saúde. Também discutimos como o profissional é visto pelo paciente e por sua família como alguém que irá trazer a segurança e a saúde de volta, diminuindo a vulnerabilidade e sofrimento. Os pacientes buscam no profissional de saúde uma relação empática, estável e disponível. No entanto, na presença de pacientes terminais esse vínculo fica mais frágil, gerando uma grande sobrecarga emocional e física, interferindo na sua disponibilidade para o cuidado. É muito importante para o profissional da saúde evitar perder o sentido no cuidar e distanciar-se do paciente, ter a sensação de não reconhecimento no trabalho, isolar-se emocionalmente no trabalho, ter sobrecarga física e mental, ter reações intensas ao estresse, despersonalização e diminuição da realização pessoal. Lidar com essas condições trazem a tona mecanismos de defesa nos profissionais de saúde que vão desde a negação até o ativismo exagerado de suas funções, com comportamentos evasivos, onipotentes ou irados. Na última questão, a falamos sobre algumas técnicas para a comunicação de más notícias, principalmente em relação à linguagem verbal e não verbal (olhares, expressões faciais, postura e vestimentas). Falou também sobre o protocolo SPIKES e mencionou o BREAKS e ABCDE, sendo que todos apresentam estratégias fáceis e sistemáticas para comunicação de más noticias. Também falou sobre as letras do protocolo SPIKES, sendo: S - preparando-se para o encontro; P - percebendo o paciente; I - convidando para o diálogo; K - transmitindo informações; E - expressando emoções; S - resumindo e organizando estratégias. Durante nossa conversa fizemos alguns paralelos sobre empatia e relação emocional do médico com o paciente com o filme que assistimos para disparar o ciclo 2. Colocamos em pauta várias cenas que já havíamos discutido na hipótese inicial durante a síntese provisória, agora com informações concretas para provar que as atitudes da maioria dos médicos no filme não corresponde ao ideal. Reflexão pessoal Acredito que esse ciclo foi muito importante para estabelecermos alguns critérios de atendimento, pois além de ter cuidado com o paciente precisamos ter cuidado com nós mesmos, visto que a maneira como lidamos com as diferentes situações interferem nas necessidades de saúde dos nossos pacientes. As atividades desse ciclo foram organizadas e bem propostas, além da boa construção das questões que o meu grupo fez. O professor Daher fez comentários pertinentes em todos os encontros, tentando sempre mostrar o paralelo entre os nossos estudos e o filme disparador. Referências bibliográficas: 1. FERNANDES, Maria de Fátima Prado; KOMESSU, Janete Hatsuko. Desafios do enfermeiro diante da dor e do sofrimento da família de pacientes fora de possibilidades terapêuticas.Rev. esc. enferm. USP, São Paulo , v. 47, n. 1, p. 250-257, Feb. 2013 . Available from . access on 05 May 2021. https://doi.org/10.1590/S0080-62342013000100032. 2. MENDES, Juliana Alcaires; LUSTOSA, Maria Alice; ANDRADE, Maria Clara Mello. Paciente terminal, família e equipe de saúde. Rev. SBPH, Rio de Janeiro , v. 12, n. 1, p. 151-173, jun. 2009 . Disponível em . acessos em 05 maio 2021. 3. Simon R. O complexo tanalolítico justificando medidas de psicologia preventiva para estudantes de medicina. Boletim de Psiquiatria. 1971;4(4): 113-5. 4. Souza Barros, P., de Oliveira Falcone, E. M., & de Pinho, V. D. (2011). Avaliação da empatia médica na percepção de médicos e pacientes em contextos público e privado de saúde. Arq. ciênc. saúde, 18(1), 36-43. 5. Oliveira CruzI, C., & RieraII, R. (2016). Comunicando más notícias: o protocolo SPIKES. Aposente-se com mais tranquilidade para seu futuro, conte com o nosso serviço de assessoria INSS., 106. https://doi.org/10.1590/S0080-62342013000100032