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METODOLOGIA CIENTÍFICA AULA 1 Prof. Cristiano Caveião Conversa inicial Você pode estar se perguntando: por que preciso saber o que é metodologia da pesquisa e como utilizá-la se não pretendo trabalhar como professor nem mesmo como pesquisador? Nesta aula, vamos lhe mostrar que não apenas aqueles que dedicam sua vida à pesquisa, como professores e cientistas, fazem uso dos estudos. Além disso, você conseguirá perceber a importância da pesquisa em saúde no seu cotidiano. Conhecer as normas para elaboração de um texto não significa que só as utilizará para escrever artigos e monografias, mas sim em diversas situações. Imagine que você está em busca de um emprego na sua área e uma das etapas do processo classificatório é enviar um texto para o recrutador. Ok, você começa a buscar ideias na internet para escrever seu texto e encontra um com as palavras exatas que gostaria de dizer. Você pensa: “que maravilha! Nem preciso escrever, pois alguém já fez por mim. Basta copiar e enviar”. Eis que o responsável pelo processo de seleção observa que o texto que você enviou foi escrito por ele mesmo há alguns anos e reprova sua inserção na empresa, pois observa que você não está preparado para tal e não dispõe de conhecimento, ou mesmo de ética em pesquisa. O exemplo citado é bastante simplório e não demonstra todas as situações em que a pesquisa se faz presente em seu cotidiano. Contudo, ao longo das aulas, com conhecimentos adquiridos, temos certeza de que conseguirá perceber o quão importante é a pesquisa em saúde. Nesta aula, vamos estudar os seguintes temas: ● Aspectos históricos e a importância da pesquisa na saúde; ● Ciência e conhecimento científico: conceitos e classificação da ciência, o conhecimento científico e outros tipos de conhecimento; ● Método científico: desenvolvimento, histórico, método indutivo, método dedutivo, método hipotético-dedutivo, método dialético; ● Classificação dos tipos de pesquisa; ● Busca em bases de dados e descritores. TEMA 1 – ASPECTOS HISTÓRICOS E A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA NA SAÚDE As doenças acometem os homens há centenas de anos, contudo a assistência e o cuidado se diferem da forma como realizamos hoje. Antigamente, a “doença era tratada empiricamente, sendo desenvolvidas várias teorias para explicar sua origem” (Reis, 2005, p. 112) e as formas mais abordadas eram relacionadas aos aspectos espirituais (a doença era um castigo das divindades) ou mesmo humoral, ou seja, algum problema desenvolvido pelo próprio indivíduo. Com isso, percebe-se que o tratamento fundamentado em conhecimento científico não era utilizado, por isso os profissionais que atuavam nesse período (barbeiros-cirurgiões) utilizavam-se de técnicas antiquadas sem se preocupar com a ética ou moralidade das suas ações (Reis, 2005). Durante o período supracitado, as doenças não tinham um tratamento específico e os locais que aceitavam receber enfermos o faziam apenas com o intuito de que estes indivíduos pudessem ter um local para morrer em paz, vistos como depositários de indigentes. Somente após o início das pesquisas em saúde e da evolução nos tratamentos é que os hospices passaram a atuar como escolas médicas, nas quais o conhecimento e a prática foram interligados. Saiba mais É importante frisar que no período medieval existiram os hospices, que tinham apenas o intuito de depositários de indigentes, ou seja, locais que não atuavam com o cuidado e atendimento de doentes. Recentemente, mais especificamente na década de 1960, foram abertas novas instituições, também denominadas hospices, porém, se diferem daquelas, pois oferecem cuidado paliativo às pessoas que estão próximas da morte. Há que se destacar que os novos hospices proporcionam todos os cuidados necessários para aliviar o sofrimento e as dores dos pacientes (Florianni; Schramm, 2010). Em razão dos resultados positivos obtidos com a interrelação da prática com o conhecimento científico, a pesquisa em saúde consolida-se, inicialmente apenas com o intuito curativo e, posteriormente, estendendo-se a pesquisas sobre formas de prevenção de doenças e promoção da saúde. O debate sobre a pesquisa em saúde, no Brasil, ganhou espaço a partir de 1990, quando o país passou a compor estudos promovidos por duas organizações: a Council on Health Research for Development (Cohred) e o Global Forum for Health Research. Essas organizações buscam promover e fortalecer pesquisas em saúde em países em desenvolvimento “nas agendas nacionais, regionais e global, na perspectiva de promover o desenvolvimento e reduzir as iniquidades em saúde” (Brasil, 2007, p. 6). O principal intuito do país na parceria com tais organizações era que novos estudos trouxessem soluções para os problemas apresentados no Sistema Único de Saúde (SUS), mas o principal desafio está em conseguir atrelar os resultados às ações práticas nos sistemas e serviços de saúde. Acredita-se que a melhor forma de realizar tal vínculo é por meio da “disseminação de informações que possibilitem abreviar o hiato existente entre o novo conhecimento e a sua utilização em benefício da população” (Brasil, 2007, p. 6). Com os avanços nas pesquisas em saúde, várias doenças que dizimavam populações foram contidas, além de benefícios com tratamentos mais humanizados, como mostra a figura a seguir. Figura 1 – Exemplos de importantes inovações na medicina ao longo dos anos AN O INOVAÇÃO 179 6 Desenvolvimento da vacina contra vaíola, efetivamente erradicando uma doença que dizimou populações 184 2 Éter começa a ser utilizado como anestésico em cirurgias, permitindo que pacientes sejam operados sem sentir dor 189 9 Descoberta da aspirina (ácido acetilsalicílico) 192 1 Descobrimento da insulina, fundamental no tratamento do diabetes 192 8 Penicilina é descoberta como o primeiro antibiótico, salvando milhões de vidas 195 1 Descoberta a clorpromazina, primeiro antipsicótico, revolucionando o trabamento psiquiátrico 195 4 É patenteado o primeiro medicamento para leucemia 195 5 Introdução da vacina contra Pólio, uma das principais causas de debilitação à época 198 3 Identificação do vírus do HIV, causador da epidemia da AIDS Fonte: Pires, 2008 . Obviamente, esses são apenas alguns exemplos, mas posteriormente novos estudos foram e vêm sendo realizados e novos benefícios foram e serão gerados, tais como: medicamentos para tratamento da AIDS, vacina para zika, dengue, chikungunya e até a vacina para o COVID-19. A valorização e expansão da pesquisa em saúde impacta a vida das pessoas, conforme expõe Reis: O incentivo à pesquisa em saúde e a promoção de condições favoráveis à realização de estudos científicos geram uma prática profissional ampla, eficiente e especializada, pautada em um conhecimento seguro, flexível e sedimentado que enobrece o profissional e propicia uma assistência plena e garantida à população. (Reis, 2005, p. 112) Diante do exposto, podemos ressaltar a importância da pesquisa em saúde em sua busca por melhores condições de vida para as pessoas, para encontrar tratamentos para reabilitação dos enfermos e em formas de prevenir doenças. Portanto, seu objetivo está em produzir qualidade de vida às pessoas. (Interfarma, 2019) Além das ações diretas da pesquisa em saúde, como quando são voltadas para a produção de medicamentos e vacinas, temos também a ação indireta, que corresponde à influência que a pesquisa em saúde causa nas políticas públicas. Não entendeu a relação entre os dois temas? Vamos explicar! A questão posta em nossa Constituição Federal sobre a equidade em saúde já é um reflexo da interferência da pesquisa em saúde na política pública, tendo em vista que estudos apontam que “uma saúde melhor é um elemento necessário ao desenvolvimento e que os investimentos na saúde tornaram-se essenciais para as políticas de crescimento econômico que buscam melhorar as condições de vida das pessoas mais pobres” (Brasil, 2007), ouse aprofundar em determinado ponto da pesquisa ou quando a aplicação de um questionário não foi suficiente para captar os dados necessários para a pesquisa. Nesse tipo de coleta de dados, pode-se utilizar instrumentos como gravadores, cadernos de anotação etc. (Perovano, 2016; Diehl; Tatim, 2004). A observação é outra forma de coleta de dados e ela se divide em três modalidades: observação participante, quando o pesquisador se envolve com os objetos pesquisados; etnografia, que se refere à pesquisa realizada por um longo período (que pode chegar a anos); e coleta de dados visuais, a qual faz uso de materiais como fotografias ou vídeos. Independente da modalidade, é preciso que o observador não interfira no ambiente. Além disso, o pesquisador deve descrever de forma fidedigna aquilo que foi observado e manter o foco em seu objeto de estudo. Na observação, os principais instrumentos são: câmeras fotográficas e filmadoras. O tratamento dos dados coletados se inicia após a etapa de coleta e refere-se ao processo de análise, classificação e interpretação das informações. Essa etapa conclui a etapa de coleta de dados, conforme aponta a Figura 5. Figura 5 – Fases do tratamento de dados O tratamento dos dados requer que o pesquisador classifique e organize as informações coletadas, depois estabeleça as relações entre elas e por fim aplique-lhes testes estatísticos. Contudo, há que se destacar que a interpretação dos dados nem sempre é submetida a tratamentos estatísticos. Porém, na maioria das pesquisas esse é o método mais comum, pois apresenta a significância dos resultados obtidos, confirmando as hipóteses formuladas ou refutando-as. Nas pesquisas qualitativas, o tratamento dos dados é para se obter o que há de mais amplo nas respostas, o que é construído com o auxílio dos conhecimentos pré-adquiridos (Pádua, 2018; Teixeira, 2003). TEMA 4 – CRONOGRAMA E ORÇAMENTO Cronograma é a realocação “[...] planejada das fases de execução de um projeto em determinado período de tempo” (Significado, [20--]). Em outras palavras, é planejar a distribuição de todas as etapas de uma pesquisa em períodos, sejam meses, sejam anos. Seu objetivo é proporcionar uma organização racional do estudo ao pesquisador. O cronograma é elaborado em uma tabela, na qual o pesquisador irá descrever e situar todas as etapas da pesquisa, partindo do período de projeto ainda, antes mesmo da sua aprovação por um comitê de ética, passando pelas etapas de coleta de dados, fundamentação e concluindo com a intenção de publicação, conforme consta na Figura 6. Figura 6 – Modelo de cronograma Fonte: Perovano, 2016, p. 336. Considerando o modelo exposto na Figura 6, tem-se a separação da etapa do projeto da etapa de elaboração do artigo ou monografia; na sequência, apresenta-se a atividade a ser realizada e, logo depois, o tempo que o pesquisador levará (ou terá) para realizar tal atividade. Sabemos, porém, que nem sempre conseguimos realizar as atividades nos prazos determinados. Assim, caso isso ocorra em sua pesquisa, informe imediatamente aos demais pesquisadores e/ou orientador(es) da pesquisa a alteração/correção realizada no cronograma. O orçamento, em um projeto de pesquisa, caracteriza-se pela informação dos valores a serem investidos, ou seja, dos recursos financeiros necessários para que o projeto possa ser executado e viabilizado. A seguir, apresenta-se uma sugestão de modelo de orçamento (Tabela 1). Tabela 1 – Modelo de orçamento Valor Unitário em R$ Valor Total em R$ MATERIAL PERMANENTE MATERIAL DE CONSUMO SERVIÇOS DE TERCEIROS HONORÁRIOS DO PESQUISADOR DESPESAS COM SUJEITOS DA PESQUISA OUTROS Sempre deve haver a informação no orçamento, de quem será o responsável pelo financiamento de pesquisa, por exemplo: o próprio pesquisador, uma agência de fomento etc. TEMA 5 – ELABORAÇÃO DE REFERÊNCIAS: APA, ABNT, VANCOUVER E APA Nós vimos, anteriormente, os tipos de citação: direta ou indireta; e comentamos brevemente as formas de se inserir a referência (autor-data ou numérica). Agora, vamos detalhar um pouco mais isso e apresentar a forma como essa referência apresentada no texto deve ser inserida na lista de bibliografia utilizada para a realização da pesquisa. Assim, temos as seguintes normas para as referências, de acordo com as respectivas instituições que as formulam: ● Association Française de Normalisation – Afnor (França); ● American Psychological Association – APA (Estados Unidos); ● Council of Biology Editors – CBE (Estados Unidos); ● University of Chicago Press – Chicago (Estados Unidos); ● Deutsches Institut für Normung – DIN (Alemanha); ● Modern Language Association – MLA (Estados Unidos); ● Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (National Library of Medicine (NLM)) – normas de Vancouver (Estados Unidos); ● International Organization for Standardization – ISO (Suíça); ● Associação Brasileira de Normas Técnicas – ANBT (Brasil). Cabe destacar que para cada modelo há uma regra de referenciação, porém as normas mais utilizadas são as que constam na Figura 7. Figura 7 – Normas de referenciação mais empregadas Nas normas da ABNT e da APA o modelo utilizado na citação é autor-data, por exemplo: (SOARES, 2010) ou Segundo Soares (2010). Quando a citação é direta, devemos mencionar a página consultada, então a chamada da referência ficaria: Segundo Soares (2010, p. 68); ou, conforme o primeiro exemplo, (SOARES, 2010, p. 68). Já no modelo de Vancouver, o nome do autor só irá aparecer na lista de referências, pois nele os autores são indicados por números, por exemplo: Segundo o ICMJE Secretariat Office(8)....; ou então: apresentando uma série de exemplos das referências mais comuns citadas nos trabalhos científicos(7)... Veja o esquema da Figura 8. Figura 8 – Modelos de citação e referência Fonte: Elaborado com base em ABNT, 2018. Na citação direta longa, pela norma da APA, o recuo difere-se do da ABNT e da Vancouver, pois nestas utiliza-se um recuo de 4 cm da margem esquerda da página quando a citação possui acima de 3 linhas e pela APA o recuo é de apenas 0,63 cm e considera-se como uma citação direta longa aquela que possuir mais de 40 palavras (Unirio, 2016). Na lista de referências, existem diversas peculiaridades nas normas, como veremos a seguir. Pela ABNT, quando queremos referenciar um livro, a norma será: SOBRENOME DO AUTOR, Primeiro nome, Segundo nome. Nome do livro. Número da edição (não é obrigatório). Local: Editora, ano de publicação (ex.: CAVEIÃO, C. Metodologia da pesquisa. Curitiba: Editora, 2020). Se houver dois ou três autores, a norma será a mesma, mas os nomes do segundo e do terceiro autor serão escritos separados por ponto e vírgula: CAVEIÃO, C.; RODRIGUES, I. C. G. Metodologia da pesquisa. Curitiba: Editora, 2020). Se houver mais de três autores, pode-se utilizar a expressão et al.; então, a referência ficará assim: CAVEIÃO, C. et al. Metodologia da pesquisa. Curitiba: Editora, 2020. Pela APA, quando queremos referenciar um livro, a norma é: Sobrenome do autor, Primeiro nome, Segundo nome. (ano de publicação). Nome do livro. Local: Editora. Ex.: Caveião, C. (2020). Metodologia da pesquisa. Curitiba: Editora. Se houver dois ou três autores, a norma será a mesma, mas o segundo/terceiro autor(es) será(ão) separado(s) do primeiro com vírgula e o sinal &: Caveião, C., & Rodrigues, I. C. G. (2020). Metodologia da pesquisa. Curitiba: Editora. Se houver mais de três autores, a regra é a mesma utilizada para dois autores: Caveião, C., Rodrigues, I. C. G. R, & França, I. G. (2020). Metodologia da pesquisa. Curitiba: Editora. Existem diversos materiais que podemos consultar para escrever a fundamentação teórica de um artigo, tornando inviável apresentarmos todos os exemplos apenas neste tópico. Assim, deixamos uma sugestão de consulta para cada norma, às quais você poderá recorrer paraverificar modelos utilizados em demais tipos de materiais, como periódicos. Quadro 2 – Fontes de consulta dos demais modelos de referência NORMA TÍTULO LINK PARA ACESSO ABNT Guia de apresenta ção de teses APA Sem título VANCOUV ER Normas de padroniza ção bibliográfi ca seguindo os requisitos uniformes de Vancouver Fonte: Elaborado com base em USP, 2017; Anpad, [20--]; Fiocruz, [20--]. Mas, quais as vantagens e as desvantagens do sistema numérica e do sistema autor-data? Vejamos no Quadro 3. Quadro 3 – Vantagens e desvantagens dos sistemas de citação VANTAGENS SISTEMA DE CITAÇÃO AUTOR-DATA SISTEMA DE CITAÇÃO NUMÉRICO Possibilita a inclusão ou exclusão de referências da lista geral, a qualquer momento Permite maior flexibilidade na citação de referências, facilitando a utilização apenas do número Permite a imediata identificação do autor, sem se recorrer à lista de referências Facilita a citação, no texto de referências, de autores corporativos ou de autoria indefinida Causa mínima interrupção na leitura do texto DESVANTAG ENS Quando são muitos os autores em relação ao mesmo tópico, a leitura do texto fica prejudicada devido à interrupção que o sistema de citação causa Dificulta a inclusão e a exclusão de referências da lista final a qualquer momento, o que tende a desaparecer quando os trabalhos são preparados com softwares específicos O número de regras de pontuação a ser observado nesse sistema é maior do que no sistema numérico Oferece dificuldades na citação de referências de autores corporativos ou de autoria indefinida, exigindo, muitas vezes, soluções artificiais para a citação Fonte: Elaborado com base em USP, 2017. Destaca-se que a norma a ser seguida para publicação de um artigo será sempre definida pelo editor do periódico. Assim, antes de iniciar a formatação de um artigo, é preciso verificar qual norma é solicitada, para sua correta adequação. E, conforme mencionado no Quadro 3, existem softwares que elaboram a lista de referências, sendo o Word um desses. Saiba mais Para criar uma bibliografia, citação ou referência por meio do Microsoft Word (Word Microsoft 365; Word 2019; Word 2016; Word 2013; Word 2010; Word 2007), acesse o site de suporte da Microsoft ([20--]) e veja o passo a passo para que o Word elabore a lista de referências e citações para você no formato solicitado pelo editor/orientador: . Mas, mesmo que um software realize o trabalho de referenciar os autores citados em um trabalho, é de suma importância que o seu autor tenha conhecimento das normas, visto que terá que preencher os campos e conferir se as informações estão adequadas. Na prática Nesta aula, foi possível compreender que todos os itens referentes à metodologia utilizada em uma pesquisa são essenciais para o sucesso da conclusão do estudo. Sendo assim, defina: quem serão os participantes da sua pesquisa? Qual técnica de coleta de dados será utilizada? Qual método para análise dos dados e instrumentos de coleta dos dados serão aplicados? Por fim, elabore um cronograma com os prazos para desenvolvimento e conclusão do seu trabalho. FINALIZANDO Nesta aula, nós conversamos sobre população e amostra e descobrimos que população é o todo e a amostra é a parte, dessa população, que será estudada. A amostra pode ser probabilística ou não, sendo que cada uma delas possui quatro classificações. Quando abordamos a coleta de dados, vimos que o tipo de pesquisa está estritamente relacionado à coleta de dados, pois, dependendo da forma como será a pesquisa, automaticamente estará determinada a forma de coleta de dados, bem como o instrumento a ser utilizado para realizar essa coleta. No tópico sobre cronograma, vimos que, para elaboração de um estudo científico, é preciso determinar prazos para realização de cada etapa e, quando não é possível seguir o prazo determinado no cronograma, é preciso que os demais integrantes da pesquisa sejam informados e o cronograma seja realinhado. Sobre as referências, vimos três modelos principais: ABNT, Vancouver e APA. A forma de referência remete à forma de apresentação da referência no texto e não apenas à lista de bibliografia consultada. Outro destaque nas referências é quem deve estar presente na lista de referências: todos os autores citados ao longo do texto (e somente esses). Na próxima aula vamos estudar a estrutura do artigo científico, esclarecer quais são os elementos pré e pós-textuais e o que cada item deve conter. https://support.microsoft.com/pt-br/office/criar-uma-bibliografia-cita%C3%A7%C3%B5es-ou-refer%C3%AAncias-17686589-4824-4940-9c69-342c289fa2a5 https://support.microsoft.com/pt-br/office/criar-uma-bibliografia-cita%C3%A7%C3%B5es-ou-refer%C3%AAncias-17686589-4824-4940-9c69-342c289fa2a5 METODOLOGIA CIENTÍFICA AULA 4 Prof. Cristiano Caveião CONVERSA INICIAL Nas aulas anteriores foram abordados separadamente todos os elementos que compõem um projeto de pesquisa, certo? Falamos sobre citações, referências, justificativa, objetivos e muitos outros assuntos. Agora, vamos tratar sobre a estrutura do artigo científico, como ele deve ser organizado, quais são os elementos que o compõem, o que cada uma das suas partes deverá apresentar e, de modo geral, como ele deve ser formatado, considerando as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) ABNT NBR 6022:2018 e ABNT NBR 6024:2012 (ABNT, 2012, 2018). Assim, ao final desta aula terminaremos tudo o que remete à construção de um projeto de pesquisa e, nas próximas aulas, falaremos sobre outros assuntos pertinentes à pesquisa. TEMA 1 – TÍTULO, NOME DO AUTOR E RESUMO Antes mesmo de adentrarmos na estrutura do artigo e no assunto principal do nosso tópico (título, nome do autor e resumo), precisamos alertá-los sobre as margens, pois as normas da ABNT (2012, 2018) informam que as margens devem seguir o padrão de 3 cm nas margens esquerda e superior e 2 cm nas margens direita e inferior. Dito isso, vamos ao assunto deste tópico. Vocês se lembram de que nós tratamos anteriormente sobre o título? A definição do título de um artigo se dá de acordo com a problemática do estudo, que por sua vez associa-se à temática do estudo; e, ligado a tudo isso, encontramos a justificativa e o objetivo da pesquisa. Com relação à formatação do título em um trabalho científico, a abordaremos conforme normas da ABNT (2012, 2018), as mais utilizadas no Brasil e nos trabalhos acadêmicos. É muito comum o periódico determinar o número de caracteres que um título deve ter e ele deve estar centralizado na página, ser digitado em negrito, caixa alta e na mesma fonte que o restante do trabalho (vide Figura 1). Figura 1 – Modelo de título Fonte: Elaborado com base em Formatação, 2017. A fonte Arial não é a única aceita pela ABNT (2012, 2018), mas é a mais comum – pode-se utilizar também a Times New Roman, contanto que o artigo mantenha apenas um padrão de fonte. Atente para não as misturar e deixar no documento mais de um estilo de fonte, pois isso não é permitido pelas normas, ok? Com relação ao tamanho da fonte o padrão é a fonte número 12 na redação dos elementos textuais. Falando em elementos textuais, vamos explicar o que faz parte dos elementos textuais e o que não faz. Figura 2 – Os elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais de um artigo científico Assim, quando o orientador disser que seu artigo deve ter entre 12 e 15 páginas de elementos textuais, saiba que essa quantidade de páginas se refere basicamente ao desenvolvimento da pesquisa, já que a introdução e a conclusão são itens mais curtos, ainda queparte dos elementos textuais. Mas, voltando aos itens pré-textuais, logo após o título deve constar o nome do autor – prenome seguido do(s) sobrenome(s) –, alinhado à direita e com o número de entrada da nota de rodapé, sobrescrito. Na nota de rodapé devem-se inserir a titulação do autor, a instituição a que está vinculado e o seu e-mail. Nos casos em que há mais de um autor, “[...] os nomes podem ser grafados na mesma linha, separados por vírgula, ou em linhas distintas” (ABNT, 2018). Saiba mais Apenas nas seguintes situações o tamanho da fonte será alterado para 10: a. citações longas; b. notas de rodapé; c. paginação; d. legendas e fontes das figuras, quadros e tabelas. Após o nome do autor vem o resumo. A norma que rege o resumo é a ABNT NBR 6028:2003 (ABNT, 2003) e nela consta que o resumo deve ser escrito “[...] na terceira pessoa do singular, com o verbo na voz ativa, em linguagem clara, concisa e direta” (Resumo, 2016). O resumo é uma síntese do trabalho e a sua primeira frase deve ser significativa para atrair a atenção do leitor. Configurando-se como uma síntese do que o leitor verá em seguida, é primordial que o resumo apresente de forma sucinta a metodologia, o objetivo, os resultados e a conclusão da pesquisa. Os itens mencionados devem ser descritos textualmente e não em tópicos (Faculdade Jaguariúna, 2016). Quanto ao número de caracteres de um resumo, isso dependerá de seu tipo (Figura 3). Figura 3 – Número de palavras que compõem o resumo de um artigo Fonte: Elaborado com base em Faculdade Jaguariúna, 2016. As citações não fazem parte do resumo, visto que ele é uma síntese criada pelo autor. Então, não utilize qualquer citação direta ou indireta. Com relação à formatação do resumo, ele deve estar em espaçamento entre linhas de 1,5 cm e alinhamento justificado, em fonte Arial ou Times New Roman tamanho 12 (veja o exemplo na Figura 1). Saiba mais O espaçamento entre linhas, em todo o texto do artigo, é de 1,5 cm, exceto nas notas de rodapé, nas citações diretas longas e nas referências, em que se utiliza o espaçamento simples. Em seguida ao resumo encontramos as palavras-chave, que são os descritores sobre os quais já falamos. As palavras-chave devem vir separadas por ponto-final (exemplo: Metodologia. Artigo científico. Pesquisa.) e são as palavras que determinam o seu estudo, aquelas que farão com que outros autores consigam encontrá-lo no caso de uma busca em uma base de dados. Com isso, concluímos os elementos pré-textuais e agora passaremos a falar sobre os elementos textuais. TEMA 2 – INTRODUÇÃO, JUSTIFICATIVA, OBJETIVO E QUESTÃO NORTEADORA Nós já vimos as partes que compõem a introdução, mas de forma separada: a justificativa, os objetivos e as hipóteses ou questão norteadora da pesquisa. Mas, além disso, a introdução deve apresentar uma iniciação do que o leitor verá ao longo do artigo, os principais autores consultados (nesse ponto se iniciam as citações) etc., ou seja, na introdução o leitor começará a ter uma ideia dos achados iniciais da pesquisa, pois você irá descrever o que se sabe sobre o tema que escolheu e o que pretende descobrir a respeito. Vale destacar que, em um projeto de pesquisa, esses tópicos são abordados de forma separada; já em um artigo, esses elementos (justificativa, objetivo, hipóteses ou questão norteadora) fazem parte da introdução. É a ABNT NBR 6022:2018 que norteia a produção de um artigo para quais são os elementos da introdução e nela consta que, inicialmente, se deve apresentar a delimitação do tema, os itens mencionados, com o objetivo do estudo por último (ABNT, 2018). Com relação à formatação da introdução, ela não se difere do restante do artigo, ou seja, fonte Arial (mais utilizada) ou Times New Roman 12, espaçamento entre linhas de 1,5 cm, recuo especial do parágrafo relativo a um tab (1,25 cm), sem qualquer outro espaçamento entre parágrafos (Figura 4). Figura 4 – Modelo de formatação do texto de um artigo A questão norteadora, a justificativa e o objetivo da pesquisa nós vimos anteriormente, mas, como elas contemplam a introdução, então vale a pena relembrar os seus pontos principais, por meio do esquema da Figura 5. Figura 5 – Questão norteadora, justificativa e objetivo da pesquisa Diante disso, concluímos os itens que compõem a introdução e vamos passar a abordar o método, que faz parte dos elementos textuais de um artigo científico. TEMA 3 – MÉTODO A metodologia pretende apontar a forma como o autor realizou o seu estudo. Por isso, é preciso que todas as etapas da pesquisa sejam contempladas nesse item. Assim, na descrição dos métodos do artigo científico é preciso abranger tudo o que se refere à metodologia utilizada no estudo, ou seja, o tipo de pesquisa, o tipo de abordagem, as técnicas de coleta de dados, o período de coleta de dados ou o recorte temporal da bibliografia consultada, incluindo as questões envolvendo a população e as amostras e informando-se os critérios de inclusão e exclusão das amostras, conforme consta no exemplo de metodologia do estudo fornecido por Pinafo et al. (2020, p. 1.621-1.622, grifos nossos): Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa desenvolvida com trabalhadores que compõem a equipe gestora de MPP da macrorregião norte do Paraná, da qual fazem parte a 16ª, 17ª, 18ª, 19ª e 22ª Regional de Saúde (RS). Nesta macrorregião 84,5% dos municípios são classificados como de pequeno porte e no Paraná, dos 399 municípios, 312 (78,1%) são MPP. Foram selecionados 55 representantes das equipes gestoras que se destacaram no desenvolvimento das atividades de gestão, obtidos por uma amostra de conveniência de cada RS, identificados a partir de entrevistas com informantes-chave das regionais de saúde. A coleta de dados ocorreu por meio de cinco grupos operativos, um em cada RS, do qual participaram os selecionados, variando entre 10 e 18 pessoas por região, durante o período de abril a junho de 2015. Os grupos foram conduzidos a partir de um roteiro contendo questões que versavam sobre os tipos de problema presentes nos municípios e as estratégias de gestão utilizadas para o enfrentamento destes. Do material empírico produzido foi realizada análise compreensiva e interpretativa. Primeiramente, foi realizada leitura horizontal e exaustiva dos textos produzidos. Esse exercício inicial, também chamado de “leitura flutuante”, permitiu apreender as ideias centrais dos atores sociais, os momentos-chave e suas posturas sobre o tema19. Em um segundo momento, foi realizada a leitura transversal do material, identificadas as unidades de sentidos, buscando perceber as conexões entre essas20. Após essa fase, num segundo momento, foi feita a síntese desta classificação, agrupando-as em categorias empíricas, buscando compreender e interpretar o que foi mais relevante20. A análise foi realizada à luz do referencial teórico do jogo social de Carlos Matus. Para a garantia do anonimato dos participantes, as falas foram codificadas por letras do alfabeto e por números. Primeiramente, os grupos foram denominados pela letra “G”, e em seguida pela letra inicial da regional a que pertencia (A, C, L, J, I) e conforme as falas foram surgindo, foram designados por números sequenciais (1, 2, 3, 4...). [...] A pesquisa respeitou as normas relativas a pesquisas que envolvem seres humanos, conforme Resolução n° 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde e foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade a que estão filiados os pesquisadores, em 14/09/2012. Veja que, no primeiro trecho grifado, os autores mencionam o tipo de abordagem realizada e, logo em seguida, a população e a amostra que estudaram, explicando detalhadamente como foi feita a escolha dessa amostra (Pinafo et al., p. 1.621). Observe também que, mesmo na metodologia, os autores fazem uso de citação, pelo modelo de Vancouver, com numeração das referências, que pode ser identificadano texto pelos números sobrescritos 19 e 20 (Pinafo et al., p. 1.622). Posteriormente, os autores mencionam a coleta de dados e detalham como ela foi realizada – citam que utilizaram um roteiro para essa coleta – e o período de duração da pesquisa. Por fim, informam que realizaram pesquisas e exaustivas leituras (o que compreende a etapa de análise de dados) e, para concluir a parte dos métodos, mencionam a questão ética da pesquisa, informando que submeteram o estudo ao comitê de ética (item que ainda veremos, em outra aula) (Pinafo et al., 2020, p. 1.622). Com relação à formatação, a seção que aborda a metodologia da pesquisa segue o mesmo modelo já mencionado. Destacamos apenas que, no caso da utilização de tabelas (muito comum na metodologia), estas devem ser mencionadas no texto e logo em seguida inseridas. A formatação das tabelas deve seguir a ABNT NBR 10520:2002 (ABNT, 2002), que cita a obrigatoriedade de fornecimento da fonte consultada e regra o padrão a ser utilizado (fonte Arial, tamanho 10). O nome da tabela deve vir na parte superior e a sua fonte, na parte inferior da tabela. TEMA 4 – ELABORAÇÃO DE RESULTADOS E DISCUSSÃO É na etapa de resultados e discussão que o autor do artigo irá apresentar os resultados de sua pesquisa e confrontá-los com o que já existe na literatura, mostrando os autores que corroboram com seu achado e aqueles que dele discordam, para que, na próxima etapa do artigo, ele possa apresentar qual foi a sua conclusão sobre a pesquisa realizada. Com relação à formatação, essa parte do desenvolvimento é regida pela ABNT NBR 6024:2012, que dispõe sobre a numeração progressiva das seções de um documento escrito e cita que o desenvolvimento é a “Parte principal do artigo, que contém a exposição ordenada e pormenorizada do assunto tratado. Podendo dividir-se em seções e subseções” (ABNT, 2012). Saiba mais Nos artigos científicos, pode ser exigida a não existência de numerações nas seções e subseções, contudo isso é explicado nas normativas das revistas científicas quando da abertura do processo de submissão de trabalhos. Assim, consta na referida ABNT NBR 6024:2012 que a seção primária é a principal divisão de um texto, a secundária seria uma subdivisão (advinda da primária), a divisão terciária seria decorrente da secundária e assim sucessivamente, conforme demonstra a Figura 6. Figura 6 – Modelo de numeração de seções e subseções Fonte: Elaborado com base em ABNT, 2012. A forma de apresentação das seções deve seguir estas especificações: a) devem ser utilizados algarismos arábicos na numeração; b) deve-se limitar a numeração progressiva até a seção quinária; c) o título das seções (primárias, secundárias, terciárias, quaternárias e quinárias) deve ser colocado após o indicativo de seção, alinhado à margem esquerda, separado por um espaço. O texto deve iniciar em outra linha; d) ponto, hífen, travessão, parênteses ou qualquer sinal não podem ser utilizados entre o indicativo da seção e seu título; e) todas as seções devem conter um texto relacionado a elas; f) o indicativo das seções primárias deve ser grafado em números inteiros a partir de 1; g) o indicativo de uma seção secundária é constituído pelo número da seção primária a que pertence, seguido do número que lhe for atribuído na sequência do assunto e separado por ponto. Repete-se o mesmo processo em relação às demais seções [...]. (ABNT, 2012) Itens como errata, agradecimentos, lista de ilustrações, lista de tabelas, lista de abreviaturas e siglas, lista de símbolos, resumo, sumário, referências, glossário, apêndice, anexo(s) e índice devem seguir as mesmas regras de formatação (destaque tipográfico das seções), mas não devem ser numerados. Elementos de destaque tipográfico como negrito, itálico e caixa alta (letra maiúscula) podem ser utilizados, mas devem respeitar as hierarquias das seções, ou seja, a de maior destaque deve ser a seção primária, tendo as suas subsequentes destaque inferior. Com relação às ilustrações (desenhos, gravuras, gráficos, fluxogramas, mapas, fotografias ou imagens), muito comuns nos desenvolvimentos, a norma que as rege é a ABNT NBR 6022:2018, que menciona que a figura deve constar o mais próximo possível e após a sua citação no texto, cuja fonte deve ser inserida imediatamente após a ilustração (ABNT, 2018), conforme demonstra a Figura 7. Figura 7 – Exemplo de inserção de imagem em artigo científico Fonte: Elaborado com base em Brasil, 2020. Perceba, na Figura 7, que o título e a informação sobre a fonte consultada acompanham a margem da ilustração e que o título da ilustração é determinado pelo tipo de ilustração, seguido por número arábico (que deve ser sequencial) e o respectivo texto do título. Saiba mais A fonte é item obrigatório nas ilustrações, assim, mesmo que o criador das imagens tenha sido o próprio autor, é necessário informar. Assim, a legenda ficará: “Figura 1 – Exemplo”. E a fonte: “Fonte: Nome do autor, ano de publicação da imagem”. TEMA 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS OU CONCLUSÃO Engana-se quem pensa que considerações finais e conclusão são a mesma coisa. O termo considerações finais é utilizado quando o artigo é de abordagem qualitativa, não exprime uma definição final, o que indica que é possível, ainda, proceder a reflexões sobre a pesquisa; já o termo conclusão é utilizado nas abordagens quantitativas, que permitem = chegar a um resultado. Mas o que deve constar nas considerações finais e na conclusão? É nesse ponto que o autor irá responder as hipóteses ou a questão norteadora levantada(s) na introdução, por meio de uma síntese daquilo que apresentou ao longo do seu estudo. Assim, ele irá descrever se as hipóteses iniciais ou a questão norteadora foi(ram) validada(s) ou não e, assim, fazer suas considerações sobre o resultado encontrado. Saiba mais É importante destacar que, nesse momento da conclusão ou das considerações finais, não se pode fornecer dados novos, pois toda a informação de base deve constar no desenvolvimento do estudo, e sim apontar o que se constatou ao longo do estudo. Com relação à formatação dessa seção, ela permanece a mesma da do restante do trabalho (fonte Arial ou Times New Roman, 12, espaçamento de 1,5 cm de entre linhas, sem espaçamento entre parágrafos e parágrafos com recuo especial de 1,25 cm). NA PRÁTICA Com base no que foi apresentado nesta aula, prepare um documento, no seu editor de texto, com margens, espaçamentos entre linhas, fontes, distância entre seções, paginação, tamanho de folha e alinhamentos conforme as normas da ABNT (2002, 2003, 2012, 2018) – assim, quando você for escrever de fato um trabalho, seguir as normas ficará mais fácil. Caso tenha alguma dúvida a respeito, consulte a matéria disponível em: (Formatação, 2017). https://normas-abnt.espm.br/index.php?title=Formata%C3%A7%C3%A3o_do_artigo https://normas-abnt.espm.br/index.php?title=Formata%C3%A7%C3%A3o_do_artigo FINALIZANDO Nesta aula, concluímos os assuntos que abordam a estrutura de um artigo científico e falamos sobre a formatação do trabalho acadêmico segundo as normas da ABNT (2002, 2003, 2012, 2018). Sobre cada etapa que compõe um trabalho científico, nós falamos sobre os itens que as compõem e que aparecem resumidos na Figura 8. Figura 8 – Síntese dos itens que compõem cada elemento de um estudo científico Além dos assuntos mencionados, foram apresentados exemplos de metodologia, de inserção de figuras em textos acadêmicos; e descobrimos que conclusão difere de considerações finais (o termo a ser usado será definido conforme a abordagem da pesquisa). Nas próximas aulas, falaremos sobre pesquisa em saúde e os itens que a envolvem. Um dos nossos temas será o comitê de ética (protocolos de pesquisa), que é muito utilizado na área da saúde e gera muita insegurança. Mas calma, não fique ansioso(a)! Você descobriráque o tratamento desse assunto é muito mais fácil do que dizem. METODOLOGIA CIENTÍFICA AULA 5 Prof. Cristiano Caveião Conversa inicial É bem provável que você já tenha escutado falar sobre a submissão de um projeto de pesquisa a um comitê de ética, no qual os pesquisadores entram em um jogo de empurra para ver quem vai cadastrar o projeto na Plataforma Brasil (se não ouviu, não tem problema, pois vai conhecer agora). Normalmente, para quem não tem o hábito de trabalhar com a Plataforma Brasil, ela causa muita insegurança e gera muitas dúvidas, mas não se preocupe, pois é sobre esse assunto que vamos discorrer neste tópico. Vamos descobrir quando precisamos submeter um projeto a um comitê de ética, quais elementos devem constar no projeto e, por fim, o que é e como funciona a Plataforma Brasil. No fim desse encontro, você estará ansioso para postar um projeto e testar seus conhecimentos! Mas, antes disso, vamos falar um pouco sobre a história da pesquisa com seres humanos, pois foi da necessidade que surgiu a obrigatoriedade de submissão de pesquisas aos comitês de ética. Para facilitar a compreensão sobre o tema, serão apresentados os seguintes tópicos: ● Histórico da pesquisa envolvendo seres humanos; ● Comitês de ética em pesquisa envolvendo seres humanos; ● Resolução 466 de 2012 e Resolução 510 de 2016; ● Termos de consentimento e de assentimento; ● Plataforma Brasil. TEMA 1 – HISTÓRICO DA PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS A pesquisa vem da curiosidade humana, nós fazemos perguntas, queremos respostas e, para isso, pesquisamos, indo em busca de novas descobertas. Essa curiosidade e a busca por respostas é o que nos difere dos demais animais e o desejo de saber vem de longa data, porém, o conhecimento aliado à ética não é tão histórico assim (Brasil, 2002). O primeiro documento oficial apontando a necessidade de inserir a ética em pesquisas surgiu após a Segunda Guerra Mundial e foi decorrente do julgamento dos nazistas no Tribunal de Nuremberg, assim, surgiu o código de Nuremberg. Esse documento apesar de não ter auxiliado as tantas vítimas do holocausto, já que foi concebido após os horrores da Guerra, tem grande importância, pois tornou-se o guia para elaboração de pesquisas com seres humanos (Brasil, 2002). No entanto, apesar do referido código já existir na década de 1960, isso não foi suficiente para que pesquisadores distorcessem o seu entendimento e realizassem pesquisas que ferissem os códigos éticos. Isso fez com que uma nova declaração fosse emitida pela associação médica mundial: Declaração de Helsinque, que dispõem sobre os princípios básicos para toda pesquisa científica: 1. É dever do médico, na pesquisa clínica, proteger a vida, saúde, privacidade e dignidade do ser humano. 2. Pesquisa Clínica envolvendo seres humanos deve estar em conformidade com os princípios científicos [...] 3. Cuidados apropriados devem ser tomados na conduta da pesquisa que possa afetar o ambiente, e o bem-estar de animais usados para pesquisa deve ser respeitado. [...] 5. O comitê tem o direito de monitorar estudos em andamento. O pesquisador tem a obrigação de fornecer informações de monitorização ao comitê, [...] 6. Pesquisas clínicas envolvendo seres humanos somente deverão ser conduzidas por indivíduos cientificamente qualificados e sob a supervisão de um médico competente. [...] 7. Todo projeto de pesquisa clínica envolvendo seres humanos deve ser precedido pela avaliação cuidadosa dos possíveis riscos e encargos para o paciente e outros. [...] 8. [...] Os investigadores devem interromper qualquer investigação se a relação risco/benefício tornar-se desfavorável ou se houver provas conclusivas de resultados positivos e benéficos. 9. Pesquisas clínicas envolvendo seres humanos apenas deverão ser conduzidas se a importância dos objetivos excede os riscos e encargos inerentes ao paciente. Isto é de importância especial quando os seres humanos são voluntários saudáveis. 10. A Pesquisa clínica é justificada apenas se há uma probabilidade razoável de que as populações nas quais a pesquisa é realizada se beneficiarão dos resultados da pesquisa. 11. Os sujeitos devem ser voluntários e participantes informados no projeto de pesquisa. 12. O direito do paciente de resguardar sua integridade deve sempre ser respeitado. [...] 15. Para sujeitos de pesquisa que forem legalmente incompetentes, incapazes física ou mentalmente de dar o consentimento ou menores legalmente incompetentes, o investigador deverá obter o consentimento informado do representante legalmente autorizado, de acordo com a legislação apropriada. [...] 16. Quando um sujeito considerado legalmente incompetente, como uma criança menor, é capaz de aprovar decisões sobre a participação no estudo, o investigador deve obter esta aprovação, além do consentimento do representante legalmente autorizado. [...] 18. Ambos autores e editores têm obrigações éticas. (CREMESP, 2002) Perceba que, além do código de Nuremberg, mais 18 cláusulas tiveram que ser inseridas na declaração de Helsinque e nem o repúdio realizado há poucos anos impediu que a ética faltasse a alguns pesquisadores. No entanto, após esse ato histórico, os números de casos de pesquisas que ultrapassassem os preceitos éticos foram minimizados e só voltaram ao cenário mundial na década de 1980, devido aos avanças das pesquisas biomédicas que envolviam fetos, células e demais materiais orgânicos. Assim, surgem as Diretrizes Internacionais que incluíra, não apenas os preceitos éticos médicos, como os biomédicos. No Brasil, as discussões também aconteciam, e em 1988 o Conselho Nacional de Saúde instituiu a resolução n. 1/88, que dispunha sobre as questões sanitárias, éticas e de biossegurança. No entanto, o documento não surtiu o efeito esperado e em 1996 foi instaurada a resolução n. 196 (CNS 196/96), que possui como característica fundamental o fato de não ser um código moral ou de lei, permitindo assim a análise crítica dos valores bioéticos (Brasil, 2002). A CNS n. 196/96 instituiu o CONEP e os CEPs (que veremos em seguida) e determinou que todas as pesquisas envolvendo seres humanos deveriam ser submetidas ao comitê, delegando a responsabilidade da criação dos CEPs às instituições que realizam pesquisas com seres humanos. A resolução determina ainda que são consideradas pesquisas envolvendo os seres humanos aquelas que de forma “individual ou coletivamente, envolva o ser humano, de forma direta ou indireta, em sua totalidade ou partes dele, incluindo o manejo de informações ou materiais”, ou seja, põem um limite nas pesquisas biomédicas, trazendo-as à luz da bioética, e destaca ainda que podem ser considerados como os riscos relacionados a pesquisa danos psicológicos, morais, sociais, espirituais e intelectual (Brasil, 1996). Outro ponto de destaque é o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que impõe o esclarecimento dos principais itens da pesquisa aos participantes. Essa resolução perdurou por quase 20 anos e foi alterada pela resolução n. 544/2012, que veremos em breve. TEMA 2 – COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS O comitê de ética vem para apontar o certo e o errado, afinal, algumas pessoas tem a errônea ideia de que pela ciência tudo vale, e muitas vezes nem mesmo o valor da ciência e conhecimento é o que se está em jogo, mas sim o valor financeiro da descoberta. Estes esquecem do que diz a Declaração de Helsinque: “o bem-estar dos participantes da pesquisa deve prevalecer sobre os interesses da ciência e da sociedade” (Kottow, 2008, p. 8). Por isso, os comitês de ética são colegiados interdisciplinares e independentes, existentes nas instituições que realizam pesquisas que possuem a finalidade de “defender os direitos e interesses dos participantes em sua integridade e dignidade, e para contribuir com o desenvolvimento das pesquisas dentro dos padrões éticos” (Brasil, 2017). Paragarantir esse papel dos comitês de ética e normatizar sua atuação, foi criado a CONEP (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa), que está submetido ao Conselho Nacional de Saúde (CNS). A CONEP foi criada em 1996, por meio da resolução n. 196 e, entre suas atribuições, a principal delas é: “implementar as normas e diretrizes regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos, aprovadas pelo Conselho” (Brasil, [S.d.]). Assim, ela exerce seu papel por meio das funções consultiva, educativa, deliberativa e normativa. Resumindo de uma forma mais direta a relação entre CEP e CONEP, o segundo normatiza o primeiro e os dois trabalham de forma conjunta, consultiva e deliberativa para examinar os aspectos éticos das pesquisas realizadas com seres humanos, principalmente aquelas que envolvem a área da genética e “reprodução humana, novos dispositivos para a saúde, pesquisas em populações indígenas, pesquisas conduzidas do exterior e aquelas que envolvam aspectos de biossegurança” (Brasil, [S.d.]). Com relação às atribuições e funções de um CEP, destacam-se: Figura 1 – Funções de um Comitê de ética em pesquisa (CEP) Fonte: Brasil, 1996. Atualmente, no Brasil existem 848 comitês de ética cadastrados no CONEP, e considerando o número total de CEPs, 46,5% encontram-se cadastrados na região Sudeste; em seguida vem a região Nordeste (20%); as regiões Norte e Centro-Oeste são macrorregiões que possuem o menor número de comitês de ética, 69 e 68 respectivamente. O trâmite de um projeto dentro de um CEP é relativamente demorado, tendo em vista que os comitês, de uma forma geral, têm reuniões mensais e nem sempre o projeto é aceito na primeira avaliação do CEP, existindo várias etapas até chegar a devolutiva ao pesquisador (Figura 2). Figura 2 – Trâmite de um projeto dentro de um Comitê de Ética em Pesquisa Fonte: Brasil, 2017. Existem mais de 13 mil pessoas atuando de forma voluntária nos comitês de ética no Brasil, exercendo funções de relatores, coordenadores, secretários e assessores, os quais têm um mandato de três anos, podendo ser prorrogável, e se houver a substituição de um dos membros, a CONEP deve ser informada. As equipes atuantes nos CEPs devem contar com no mínimo sete integrantes de áreas diversas, caracterizando uma equipe multidisciplinar e multiprofissional; a relação entre homens e mulheres deve ser equitativas, não podendo um sexo exceder o outro (Brasil, [S.d.]b; Brasil, 2002). A constituição dos CEPs, bem como demais informações a respeito dessa temática, pode ser verificada por meio do manual operacional para comitês de ética em pesquisa, lançado pelo Ministério da Saúde, no ano de 2007. TEMA 3 – RESOLUÇÃO N. 466, DE 2012, E RESOLUÇÃO N. 510, DE 2016 Em dezembro de 2012, na 240ª Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Saúde, por meio da Resolução 466/2012, o plenário promulga as novas diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Entre os itens disponíveis na resolução destacamos a alteração e inclusão de alguns termos, como: Figura 3 – Inclusão de termos na Resolução 466/2012 Fonte: CREMESP, [S.d.]. Bem como a ampliação dos aspectos éticos a serem avaliados pelos CEPs, “e o fato de o consentimento livre e esclarecido passar a ser visto como um “processo”, que culmina com a assinatura de um termo específico” (CREMESP, [S.d.]), ou seja, inicialmente o participante da pesquisa deverá ser esclarecido sobre todos os processos que envolvam a pesquisa, como os riscos e benefícios, e, para isso, o pesquisador deverá utilizar termos claros e objetivos, adequados à classe social, econômica e cultural, e dar a liberdade de o participante buscar esclarecimentos em outras fontes. Após todas as dúvidas sanadas, o pesquisador poderá ceder o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) para o sujeito da pesquisa assinar. Outro ponto a ser considerado está relacionado aos riscos e benefícios da pesquisa, em que a nova resolução dispõe que tão logo constatada a superioridade significativa de uma intervenção sobre outra(s) comparativa(s), o pesquisador deverá avaliar a necessidade de adequar ou suspender o estudo em curso, visando oferecer a todos os benefícios do melhor regime. (Novoa, 2014) Complementando a resolução n. 466/2012, tem-se a resolução n. 510/2016, que vem para complementar a sua antecessora, já que a nova resolução dispõe que todos os itens não previstos nela devem ser considerados aqueles dispostos na 466/2012. Sua promulgação, para os pesquisadores, é vista como um avanço para a pesquisa brasileira, pois a nova resolução traz as diretrizes para as pesquisas sociais e humanas, o que antes era abordado apenas pesquisa médicas e biomédicas (Guerreiro; Minayo, 2019). A resolução 510/2016 traz a definição de pesquisas humanas e sociais, mencionando que são aquelas que por mais que possuam intervenção, sem a utilização do corpo humano, buscam compreender as questões relacionadas a “existência, vivência e saberes das pessoas e dos grupos, em suas relações sociais, institucionais, seus valores culturais, suas ordenações históricas e políticas e suas formas de subjetividade e comunicação” (Brasil, 2016) Nessa resolução, evidencia-se a atribuição dos comitês de ética e do CONEP, indicando que sua única preocupação e objeto de avaliação é a questão ética da participação daqueles que sofrerão alguma intervenção. Isso se faz necessário, tendo em vista que anteriormente era muito comum os comitês solicitarem correções e ajustes em itens que não contemplavam as relações éticas da pesquisa. Com a abertura para pesquisas humanas e sociais, o CONEP esclarece que nem todos os tipos de pesquisa com intervenção precisam ser submetidos a um comitê de ética, como pesquisas de opinião pública sem identificação do pesquisado; pesquisa que utiliza informações de acesso público e ou de domínio público; pesquisa com bancos de dados, onde o pesquisador desconheça a procedência do dado. Para as pesquisas sociais e humanas, o TCLE foi alterado para registro de assentimento e consentimento, podendo ser escrito sonoro, ou de outra forma qualquer, desde que atenda os preceitos sobre objetividade e clareza da pesquisa (Guerreiro; Minayo, 2019). Vamos agora falar mais profundamente sobre o termo de consentimento e assentimento. TEMA 4 – TERMO DE CONSENTIMENTO E DE ASSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO De antemão, destacamos que a aplicação do Termo de Consentimento ou de Assentimento para pesquisas clínicas é obrigatório e a não obrigatoriedade mencionada na resolução n. 510/2016 não se aplica às intervenções realizadas dessa natureza. Entretanto, vale destacar que o processo de consentimento e assentimento está pautado na relação de confiabilidade entre participante e pesquisador, o que dispensa o registro escrito, podendo, então, aplicar o melhor método de registro de concordância (áudio, vídeo etc.). Tendo isso esclarecido, vamos ao assunto do tópico: consentimento e assentimento. Os dois termos parecem tão semelhantes, não é mesmo? Mas vamos descobrir o que os difere no âmbito da pesquisa? Iniciando pelas definições de cada nomenclatura segundo o dicionário, as duas palavras são sinônimas, assim, sugere-se que consentimento é o ato de consentir, de manifestar-se favorável ou, ainda, autorizar; e assentimento vem de assentir, que significa permitir, concordar ou aprovar (Dicio, [S.d.]). Já na Resolução n. 510/2016 os termos são assim definidos: assentimento livre e esclarecido: anuência do participante da pesquisa - criança, adolescente ou indivíduos impedidos de forma temporária ou não de consentir, na medida de sua compreensão e respeitadas suas singularidades, após esclarecimento sobre a natureza da pesquisa, justificativa, objetivos, métodos, potenciais benefícios e riscos. A obtenção do assentimento não elimina a necessidade do consentimento do responsável; […] consentimento livre e esclarecido: anuência do participanteda pesquisa ou de seu representante legal, livre de simulação, fraude, erro ou intimidação, após esclarecimento sobre a natureza da pesquisa, sua justificativa, seus objetivos, métodos, potenciais benefícios e riscos. (Brasil, 2016) Assim, compreende-se que o termo de assentimento será aplicado apenas a situações que envolvem menores ou legalmente incapazes e, por meio dele, após os participantes da pesquisa serem esclarecidos e orientados, um responsável ou representante legal assina o termo de consentimento. Já o termo de consentimento é aplicado aos próprios participantes da pesquisa. Em qualquer um dos termos é preciso que a informação seja clara, de fácil compreensão, que informe os riscos e os benefícios da pesquisa. Destaca-se também que o participante deve se voluntariar para participar, não sendo permitida a promessa de cunho financeiro ou de qualquer outra natureza. Entre os direitos dos participantes, encontram-se: Figura 4 – Direitos do participante da pesquisa, segundo a resolução 510/2016 Fonte: Brasil, 2016. Antes da promulgação da resolução n. 510/2016, era muito comum encontrar pesquisas em que os participantes da pesquisa haviam lido e assinado o TCLE, porém, não haviam compreendido seus direitos ou mesmo os riscos e benefícios aos quais estavam se expondo. Motivo que levou à alteração na nova resolução. O termo de consentimento ou assentimento a ser aplicado ao participante da pesquisa deverá ser disponibilizado ao CEP, por meio da Plataforma Brasil, conforme veremos a seguir. TEMA 5 – PLATAFORMA BRASIL O que é a Plataforma Brasil? É uma base de dados do sistema CEP/CONEP que contém todos os protocolos de pesquisa que envolvem seres humanos. Por meio dela, os Comitês de ética acompanham os protocolos de pesquisa postados e apresentam os pareceres e ainda realizam o acompanhamento de cada pesquisa. A Plataforma Brasil pode ser acessada por meio do link: . Além disso, por meio da Plataforma Brasil é possível verificar diversas informações, como consultar um CEP, verificar as normativas e resoluções que envolvem a área da pesquisa, verificar pesquisas aprovadas, e outras. Sabendo o que é a Plataforma Brasil, vamos passar a conversar sobre a submissão de um projeto e os documentos necessários. Para submeter um projeto, é preciso que ele já esteja desenhado, constando itens como: resumo, introdução, objetivo geral e especifico, justificativa, hipóteses, metodologia, fundamentação teórica, riscos, benefícios, cronograma, custos, considerações finais e referências. Além disso, será preciso providenciar alguns documentos que serão solicitados durante o cadastro do seu projeto (Uninter, [S.d.]): ● Orientações para pesquisa on-line – TCLE; ● Análise de Mérito do Orientador Responsável; ● Carta ao Coordenador; ● Concordância do Serviço Envolvido; ● Declaração de Tornar Público os Resultados; ● Declaração de Uso Específico do Material e ou Dados Coletados; ● Dispensa TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; ● Elementos do Protocolo de Pesquisa para o Comitê de Ética em Seres Humanos; ● Termo de Assentimento; ● Termo de Confidencialidade de Dados; ● Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; ● Termo de Responsabilidade do Pesquisador; Será preciso avaliar quais documentos se aplicam ao seu projeto e quais não se aplicam, afinal, seria um tanto incoerente preencher uma declaração de dispensa de TCLE e durante a submissão do projeto postar o TCLE para apreciação do CEP. Normalmente, os orientadores auxiliam nessa etapa, informando quais documentos devem ser preenchidos e quais podem ser dispensados. Mas antecipamos que os documentos Carta ao Coordenador, Declaração de Uso Específico do Material ou Dados Coletados, Termo de Confidencialidade dos Dados e Termo de Responsabilidade do Pesquisador sempre serão solicitados. Normalmente, os próprios CEPs fornecem os modelos dos documentos. Tendo os documentos assinados e digitalizados, iniciamos a postagem na Plataforma Brasil! Inicialmente, precisamos ter um cadastro na plataforma. Para isso, deve-se acessar “cadastre-se”, escolher a opção “ambiente de produção” e preencher os campos solicitados. Agora vamos cadastrar o projeto de pesquisa! https://plataformabrasil.saude.gov.br/login.jsf Acesse a plataforma, entre com seu login e senha, clique em “nova submissão” e preencha todos os dados solicitados. Alguns campos podem gerar dúvidas, então, apresentamos esclarecimentos na figura abaixo: Figura 5 – Primeira parte do formulário de submissão de projeto da Plataforma Brasil Fonte: CNS, 2018. Vale destacar que a instituição proponente é a indicação de para qual CEP você quer enviar o projeto, ou seja, a qual CEP o projeto será submetido. Os pesquisadores que não possuem vínculo institucional podem assinalar a opção “sem proponente” que o CONEP se encarregará de encontrar um CEP para enviar o projeto. A próxima parte de preenchimento será mais voltada para a pesquisa em si, então, você encontrará questionamentos sobre o envolvimento de seres humanos, populações vulneráveis, se a pesquisa é clínica etc. A partir daí vêm alguns campos que solicitam tudo que você já possui em seu projeto, como título público (o título que aparece em caso de consulta pública), título principal (aquele que consta em seu projeto), expansão do acrônimo (normalmente não utilizamos), pesquisador principal (se não for aquele que está preenchendo o formulário, então deverá ser acrescentado nesse campo), sendo uma pesquisa clínica então vários outros campos destinados apenas a esse tipo de pesquisa irão abrir, não sendo apenas algumas poucas partes serão preenchidas ainda, tais como: desenho (método), financiamento (lembre-se, todo projeto tem custo – papel, impressão, caneta etc.), a parte seguinte será apenas para inserir os itens presentes no seu projetos: resumo, introdução, hipótese, metodologia, desfecho primário (resultado que se espera) e secundário (demais possíveis resultados esperados), número de participantes, país que pretende realizar a pesquisa, cronograma (que deverá ser inserido manualmente na plataforma), por fim, o sistema permitirá que você anexe o projeto e demais documentos (aqueles citados anteriormente) e aqui temos uma dica muito importante: os documentos não devem estar renomeados com acentos ou pontuação! Faça da seguinte forma: carta_coordenacao ou termo_de_consentimento. Sem espaço ou qualquer caractere especial; caso contrário, o sistema não irá anexar o documento. Nessa mesma tela irá aparecer o campo para gerar a folha de rosto, que deverá ser assinada pelo CEP proponente e anexada na plataforma, conforme consta na imagem abaixo: Figura 6 – Como adquirir a folha de rosto na Plataforma Brasil Fonte: CNS, 2018. E lembre-se de salvar seu progresso, pois após alguns minutos de funcionamento a plataforma Brasil fecha a submissão e, se você não tiver salvo, terá que reiniciar todo o processo! Postando a folha de rosto, basta finalizar e aguardar o retorno do CEP. Saiba mais Para saber mais sobre a Plataforma Brasil, incluindo vídeos de sua operacionalização, acesse: . Na prática http://conselho.saude.gov.br/plataforma-brasil-conep?view=default Conforme estudamos nesta aula, todas as pesquisas que envolvem seres humanos como sujeitos de pesquisas necessitam da análise do projeto pelo Comitê de Ética. Acesse o site da Plataforma Brasil e verifique quais são os Comitês disponíveis em sua região: . Aproveitando essa oportunidade, realize também seu o cadastro na Plataforma Brasil (, mas para isso também é necessário ter o cadastro do seu currículo na Plataforma Lattes (). FINALIZANDOA aula de hoje se iniciou com a forma como surgiram as pesquisas em saúde e os impactos que tiveram nos participantes, por não possuírem uma regulamentação. Depois da Segunda Guerra Mundial, foi promulgado o Código de Nuremberg, que não foi suficiente para assegurar a segurança dos participantes, então saiu a Declaração de Helsinque, que ampliou o cuidado. Porém, nos anos 1980/1990 esta declaração ficou obsoleta, então, novas atualizações foram realizadas no âmbito mundial. No Brasil, a Resolução 196/44 foi um marco na pesquisa em saúde e perdurou por quase 20 anos, até que a Resolução 466/2012 veio substitui-la, ampliando a questão da preocupação ética com os participantes da pesquisa e atenuando a relação dos princípios bioéticos. Não atendendo toda a demanda de pesquisas, em 2016 foi promulgada a Resolução 510/2016, que coloca em seu rol de estudos as pesquisas que envolvem as ciências humanas e sociais, desfazendo a percepção de que apenas pesquisa médicas e biomédicas mereciam ser submetidas aos comitês de éticas. A resolução faz menção também aos tipos de pesquisa que devem ser submetidos aos comitês de ética e os que não precisam, também ampliando as possibilidades de realização dos termos de consentimento e assentimento. Por fim, vimos o que é a Plataforma Brasil e como faz para cadastrar um projeto de pesquisa. METODOLOGIA CIENTÍFICA AULA 6 Prof. Cristiano Caveião Conversa inicial A pesquisa na área da saúde vem se adaptando às necessidades da prática profissional e o inverso também é verdadeiro. Com isso, surgem novos processos terapêuticos que se baseiam nas pesquisas, o que resultou na prática baseada em evidência, que se utiliza das metodologias de pesquisa de revisão integrativa de https://plataformabrasil.saude.gov.br/visao/centralSuporteNova/consultarComiteEtica/consultarComiteEtica.jsf https://plataformabrasil.saude.gov.br/visao/centralSuporteNova/consultarComiteEtica/consultarComiteEtica.jsf http://lattes.cnpq.br/ literatura e revisão sistemática de literatura, que veremos com mais profundidade a seguir. Ao se realizar uma pesquisa, certamente será preciso fazer a apresentação desse estudo, exposição que poderá ser realizada mediante apresentação oral, que precisará de ferramentas como slides, banners ou pôsteres. Por isso, nesta aula, trataremos da criação desses materiais. Assim, serão apresentados aspectos de relevância para uma pesquisa, conforme a Figura 1. Figura 1 – Aspectos de relevância para uma pesquisa TEMA 1 – PESQUISA BASEADA EM EVIDÊNCIA A expressão baseada em evidências já remete ao tipo de pesquisa que será elaborado, ou seja, indica que a pesquisa será desenvolvida com base em um problema real (uma situação real) e em suas formas de resolução. Na saúde, esse tipo de pesquisa é muito comum e sua aplicação tem como benefício “[...] a mudança da prática baseada em tradição, rituais e tarefas para uma prática reflexiva baseada em conhecimento científico promovendo a melhoria da qualidade da assistência prestada ao cliente e familiares” (Galvão; Sawada, 2003, p. 57). Assim, a prática baseada em evidências tem sido um dos destaques na melhoria da assistência à saúde, visto que os resultados apresentados em pesquisas auxiliam na renovação dos processos envolvidos na prática profissional em saúde. Com ela, deixa-se uma tradição, rituais e tarefas e passa-se a atuar por meio de uma prática reflexiva, pautada em conhecimento científico. Perceba que há uma diferença entre a prática baseada em evidências e a prática real. A primeira remete à realização da prática com base em pesquisas e a segunda é a pesquisa baseada na prática, em que há uma inversão na ordem da pesquisa e da prática profissional. De todo modo, conforme mencionam Galvão e Sawada (2003, p. 59), “A utilização de pesquisas é fundamental para a implementação da prática baseada em evidências”. A prática realizada em evidências surge como divisor de águas em determinados tratamentos, pois fornece ao profissional de saúde a possibilidade de uma abordagem clínica feita com base no conhecimento e na evidência científica. TEMA 2 – REVISÃO INTEGRATIVA DE LITERATURA O termo integrativa que acompanha essa possibilidade de revisão de literatura, em uma pesquisa, surgiu da ideia de se integrar opiniões e conceitos, ou seja, propiciando uma síntese de vários conceitos sobre um determinado ponto/objeto de estudo. Assim, Botelho, Cunha e Macedo (2011, p. 127) definem a revisão integrativa como um método de pesquisa que busca em várias publicações a geração de novos conhecimentos, por meio da verificação do que as pesquisas anteriores já descobriram sobre determinado problema e realizando a integração entre essas pesquisas, fazendo com que novos conhecimentos sejam produzidos. Para Souza, Silva e Carvalho (2010, p. 102), a revisão integrativa de literatura é definida como “[...] um método que proporciona a síntese de conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática”. Já Mendes, Silveira e Galvão (2008) apresentam a revisão integrativa de literatura como uma das ferramentas da prática baseada em evidências e citam que “[...] esse método tem a finalidade de reunir e sintetizar resultados de pesquisas sobre um delimitado tema ou questão, de maneira sistemática e ordenada, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento do tema investigado” (Mendes; Silveira; Galvão, 2008, p. 759). Para que possa ser caracterizada uma revisão integrativa, é preciso que as etapas realizadas para o desenvolvimento de um estudo sejam bem delineadas e explicitadas, para que, inicialmente, o pesquisador delimite o tema que irá trabalhar. E, conforme Mendes, Silveira e Galvão (2008) salientam, os processos para uma revisão integrativa de literatura são similares aos da pesquisa convencional, nos quais deve-se definir a problemática e a hipótese e, feito isso, iniciar a definição dos descritores, que é a etapa de delimitação dos termos para a busca de respostas a um questionamento. Na segunda etapa do processo de elaboração de uma revisão integrada, deve ser realizada a seleção das amostras com critérios de inclusão e exclusão que devem ser claros e objetivos – entretanto, nada impede que eles sejam atualizados e readequados durante o processo de busca dos artigos ou mesmo durante a elaboração da revisão integrativa. A próxima etapa será realizar a leitura criteriosa dos artigos selecionados; afinal, apenas pelos descritores não é possível se definir os artigos que contemplem um determinado assunto. Com a leitura dos artigos, conclui-se a lista de trabalhos que farão parte da revisão integrativa e inicia-se a próxima etapa, de categorização dos estudos selecionados, que corresponde a classificar e tabelar as informações principais dos artigos selecionados. A quinta etapa da revisão integrativa é de análise e interpretação dos dados, na qual o autor deverá apontar os itens que não foram abordados pelos autores consultados e evidenciar que são assuntos para futuras discussões. Na sexta e última etapa, o autor da pesquisa irá apresentar os resultados obtidos. A Figura 2 apresenta, de forma resumida, os elementos que devem compor a revisão integrativa. Figura 2 – Processo de revisão integrativa Fonte: Botelho; Cunha; Macedo, 2011, p. 128. O benefício da revisão integrativa está no conhecimento que se adquire ao se fazer uso de tal método, tendo em vista a gama de estudos que serão avaliados em face de uma mesma problemática. TEMA 3 – REVISÃO SISTEMÁTICA DE LITERATURA A prática de saúde baseada em evidências surgiu há poucos anos e vem alterando a prática comum dos profissionais da saúde. Essa alteração nos processos de trabalho deve-se ao atendimento de uma necessidade apontada pelos próprios profissionais, conforme expõe Cochrane (1979, citado por Cochrane Brasil, [S.d.]b): “Uma crítica a nossa profissão é que não temos sumários clínicos que apareçam e situalizemde maneira periódica organizados por especialidades e subespecialidades de todos os ensaios clínicos que existem no momento”. Situações como essas fizeram com que a pesquisa em saúde fosse alterada e passasse a ser baseada em evidências, assim como ocorreu também o inverso (tratamentos baseados em pesquisas), fazendo com que surgisse um novo nicho de pesquisa: a revisão sistemática de literatura, que busca “[...] sintetizar estudos primários semelhantes e de boa qualidade” e com isso apresenta um excelente “[...] nível de evidência para tomadas de decisões em questões sobre terapêutica” (Cochrane Brasil, [S.d..]a). A revisão sistemática na pesquisa em saúde tem como objetivo guiar a prática clínica, pois o método aplicado na revisão sistemática é extremamente rigoroso, o que lhe faz ter um ponto de divergência com a revisão integrativa (Sampaio; Mancini, 2007), conforme destacado no Quadro 1, que traça uma análise e faz uma comparação entre a revisão integrativa e a sistemática. Quadro 1 – Análise e comparação entre a revisão integrativa e a sistemática Tipo de revisão Definição Propósito Escop o Amostra Análise Revisão integrativ a Um sumário da literatura sobre um conceito específico ou um dado assunto, em que o conteúdo pesquisado é sumariado (resumido), analisado, para se chegar às conclusões Revisar métodos, teorias e/ou estudos empíricos sobre um tópico particular Limita do ou amplo Pesquisa quantitativ a ou qualitativa; literatura teórica; literatura metodológ ica Narrativ a Revisão sistemáti ca Um sumário de pesquisas passadas, com base em um objetivo e com uma abordagem rigorosa de estudos com hipóteses idênticas ou relativas ao que se busca Sumariar (resumir) evidência concernente a um problema clínico específico Limita do Pesquisa quantitativ a de metodolog ia similar Narrativ a ou estatíst ica Fonte: Elaborado com base em Botelho; Cunha; Macedo, 2011, p. 128. Com base no Quadro 1, podemos perceber que, apesar de os dois tipos de pesquisa serem de revisão, encontram-se diferenças entre eles, principalmente relacionadas à metodologia da pesquisa. Com base nisso, Rother (2007) aponta sete passos para a realização de uma revisão sistemática, conforme Figura 3 a seguir. Figura 3 – Passos para a elaboração de uma revisão sistemática Fonte: Elaborado com base em Rother, 2007. No primeiro passo encontra-se a formulação da pergunta, o que é compatível com as demais formas de revisão, em que primeiro precisamos definir a problemática para então dar continuidade aos demais processos que abrangem a revisão. O segundo passo, aqui chamado de localização dos estudos, é a busca pelos artigos que irão compor a revisão, sendo que o autor da pesquisa não deve se limitar a um tipo de publicação e sim expandir a sua busca por trabalhos publicados em anais de eventos, manuais, estudos publicados por especialistas e demais materiais que contemplem a temática em pesquisa. Entretanto, faz-se necessário destacar que é preciso detalhar a estratégia utilizada na busca dos materiais. O terceiro passo corresponde à seleção dos estudos levantados na etapa anterior e, assim como no segundo passo, o detalhamento das informações sobre os critérios de seleção e exclusão é extremamente importante – deve-se inclusive informar o motivo das exclusões realizadas. A etapa de coleta de dados é o momento de apontar as variáveis encontradas, bem como a metodologia utilizada em cada pesquisa e o seu desfecho clínico, ou seja, possibilitando a comparação entre os estudos selecionados. O quinto passo refere-se à junção e classificação dos estudos selecionados baseando-se no grau de semelhança entre eles, podendo-se também realizar uma análise estatística dos resultados encontrados (assim se terá uma revisão sistemática com meta-análise). A interpretação dos dados está no sexto passo para elaboração de uma revisão sistemática, de acordo com Rother (2007), e consiste em se apontar a evidência encontrada, assim como a viabilidade de aplicabilidade dos resultados propostos, considerando-se o custo disso e avaliando-se se a relação entre benefícios e riscos é condizente com o descrito nos estudos consultados. O último passo refere-se à atualização do estudo após a sua publicação ou a publicação de novos estudos, “[...] caracterizando uma publicação dinâmica que deve ser atualizada cada vez que surjam novos estudos no tema” (Rother, 2007). Essa elaboração detalhada da metodologia baseia-se na necessidade de reprodução dos passos definidos, visto que “esse tipo de estudo serve para nortear o desenvolvimento de projetos, indicando novos rumos para futuras investigações” (Sampaio; Mancini, 2007, p. 83). É notório que os resultados de pesquisas clínicas fornecem muitas evidências, haja vista os efeitos da intervenção; entretanto, a pesquisa sistemática auxilia na construção mais robusta da investigação dos eventos, visto que faz a junção de várias literaturas com uma mesma conclusão, o que torna esse tipo de pesquisa fundamental para se avaliar a eficácia e os efeitos das intervenções, conforme apontam Sampaio e Mancini (2007). Figura 4 – Hierarquia de evidências: investigações com localização superior na hierarquia apontam maior força de evidência Fonte: Sampaio; Mancini, 2007, p. 85. A revisão sistemática faz uso da síntese de publicações a fim de nortear a prática baseada em evidências. Entretanto, o ponto crucial da aplicabilidade da pesquisa sistemática é a resistência a ela manifestada por parte de alguns profissionais de saúde, que não se adequaram aos novos rumos da ciência e não fazem da literatura uma prática do seu cotidiano profissional. TEMA 4 – ELABORAÇÃO DE APRESENTAÇÃO EM SLIDES De antemão, destacamos que para uma apresentação em slides não há uma regra específica, então, cada instituição de ensino utiliza o modelo que lhe convém. Entretanto, existem alguns fatores que podem lhe auxiliar no momento de montar slides para apresentação de seu trabalho de conclusão de curso (TCC), artigo científico etc. Assim, como no caso do artigo, a apresentação também deve seguir uma sequência lógica; logo, utilize como base a ordem recomendada para a elaboração do texto escrito, para sequenciar a sua apresentação (título e autores, objetivo, método, resultados e discussão e, por último, conclusão/considerações finais e referências). Caso a instituição de ensino não forneça um template (modelo) de slide e deixe sua criação a critério do autor da pesquisa, prefira então utilizar fundos claros, preferencialmente brancos, e fonte de cor única – na dúvida, preta, pois assim evitamos poluição visual. Ainda com relação à fonte, embora, assim como no restante da apresentação, não haja uma regulamentação a respeito, opte por fontes intermediárias entre 20 a 28, pois fontes muito pequenas atrapalham a visualização e fontes grandes demais ocupam muito espaço, fazendo com que a apresentação se torne longa demais ou que você deixe de transmitir informações importantes por falta de espaço no slide. Ainda com relação à questão estrutural do slide, atente para o espaçamento entre linhas em cada slide, a fim de manter um padrão. O mesmo vale para as margens (sabemos que, às vezes, falta somente uma palavra para completar determinado trecho e, esticando um pouco mais o quadro, ela caberá, mas visualmente isso fica feio, então não o faça). Entrando no mérito das informações presentes em cada slide, atente para que ele não fique com muito texto, tendo em vista que a apresentação deve ser elaborada em tópicos e servir apenas para orientá-lo (o slide não deve servir de substituto da apresentação, como algo a ser lido e pronto, afinal, a banca já tem o seu artigo e já o leu. O que está em jogo é o seu conhecimento sobre o assunto abordado, certo?). Verifique se o texto do slide está de acordo com as regras ortográficas e,assim como nos artigos, a linguagem empregada nesse texto deve ser impessoal – portanto, não utilize nele a primeira pessoa do plural ou singular. Saiba mais Caso haja alguma parte do texto do slide que você tenha dificuldade de lembrar, selecione uma palavra-chave e deixe-a em negrito; assim, ao olhar para o destaque, você recordará do texto. As imagens devem ser utilizadas com cautela nos slides, apenas nos casos de fato necessários, em que a imagem realmente passe alguma informação relevante a quem esteja assistindo à apresentação. É importante, também, para uma boa apresentação, que você realize treinamentos utilizando um cronômetro. Assim, você saberá se o tempo de fala é condizente com o tempo determinado pela instituição (normalmente, o tempo gasto por slide é de 1 a 2 minutos). Os ensaios auxiliam na confiabilidade da apresentação: quanto mais você treiná-la, mais seguro se sentirá para realizá-la. Saiba mais A apresentação de um artigo ou TCC é considerada parte do seu currículo e afere o seu profissionalismo. Assim, para esse momento importante, escolha vestir roupas discretas e formais. Para as mulheres, o uso da maquiagem é importante, porém utilize-a com cuidado, optando por uma apresentação mais clean, estilo dia a dia. TEMA 5 – ELABORAÇÃO DE BANNER/PÔSTER O banner ou pôster é uma modalidade diferente das demais apresentações, em que o participante decide o que quer ver e mede o quanto quer saber, assim: ele pode levar 10 minutos (tempo padrão de apresentação de um banner), agradecer ao apresentador e ir embora; ou pode continuar ali perguntando e interagindo com o apresentador; ou pode ser também que o seu pôster não lhe chame a atenção e ele apenas passe por você, sem querer ouvir sua explanação; e ainda tem aqueles participantes que não querem ver a apresentação e preferem analisar os dados sozinhos. Ou seja, não há um padrão para apresentação de banner/pôster, diferentemente da apresentação oral, em que o apresentador define como irá realizá-la e não existe necessariamente uma interação direta com o participante durante sua apresentação. Enfim, tendo explicado a diferença entre apresentação de pôster/banner e apresentação oral, vamos à elaboração. Assim como para a apresentação de slides, a elaboração de banners também não possui norma própria e deve ser realizada de acordo com os padrões informados pela instituição proponente. Entretanto, existem algumas dicas para que você elabore o banner de forma bem visualmente atraente e interessante. Vamos às dicas! a. Não se esqueça de apresentar itens essenciais: título do trabalho e autores (não precisa deixar tudo em caixa alta, pois isso pode tomar muito espaço). b. Cuidado com a quantidade de texto inserida, pois banners muito densos tornam-se desinteressantes (o uso aproximado de 800 palavras é o recomendável). c. Evite uso de palavras extremamente técnicas e rebuscadas, pois isso pode afastar as pessoas desse tipo de apresentação. d. Utilize o padrão de fonte que a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) indica (Times New Roman ou Arial), na mesma combinação recomendada para os slides (fundo claro e fonte escura). Para indicar nova área no pôster, basta utilizar a fonte um pouco maior que o restante do texto e negritá-lo. e. Cuidado com o espaçamento entre linhas. Mantenha um padrão! f. Para cada sessão do pôster, costuma-se utilizar até 65 caracteres. g. Sempre que possível, utilize listas e imagens, pois elas são mais visuais e atrativas, mas não se esqueça dos seus títulos! E cuide para que o tamanho de cada imagem seja ideal para ela ser vista de longe (entre 1,5 m a 2 m). h. Mesmo em se tratando de um banner, as normas de citação permanecem, então prefira a citação indireta e indique sempre as suas fontes. i. As referências devem estar presentes em seu pôster. Assim, insira-as no mesmo padrão de tamanho, cor e fonte que no restante do texto. j. Cuidado com a impressão! Ao levar o arquivo do banner para imprimir, certifique-se de que o arquivo não esteja “desformatado”, ou seja, com informações em locais inapropriados (a melhor forma é levá-los em PDF). Para ter certeza das cores selecionadas para impressão, (às vezes há uma diferença entre o que se vê numa tela e depois no formato impresso), a sugestão é fazer antes a impressão em um papel e verificar a tonalidade das cores empregadas no banner. Saiba mais Conheça a fundo o seu estudo, pois, apesar de o banner ter a peculiaridade de o participante fazer a leitura e interpretação das informações, você deve estar pronto para atendê-lo e responder aos seus questionamentos. Elaborando seu banner com base nas informações mencionadas, dificilmente você terá algum problema. Lembre-se de que a intenção do banner é atrair a atenção dos participantes. Portanto, empregue esse recurso sempre com objetividade. Na prática Agora que você possui conhecimentos em pesquisa e estruturação de trabalhos acadêmicos, organize o template de um banner no tamanho de 120 cm (altura) x 90 cm (largura). A sugestão é utilizar o Power Point, para editá-lo. FINALIZANDO Nesta aula, falamos sobre a pesquisa baseada em evidências, bem como sobre a pesquisa de revisão interativa e sistemática, que se diferem pelo rigor da metodologia, já que a revisão sistemática tem o intuito de aplicabilidade clínica (aliar a pesquisa à clínica). Posteriormente, descobrimos que não há normas para a elaboração de slides, banners ou pôsteres. Entretanto, algumas dicas são essenciais para a elaboração correta desses trabalhos. Por fim, descobrimos como ocorre a apresentação oral e como ela se difere de apresentações de pôsteres ou banners e assim fechamos o conteúdo desta aula. Esperamos que tenha gostado de nossas aulas e desejamos uma boa produção acadêmica!seja, um povo com saúde irá ajudar seu país a se desenvolver e a crescer. Vamos apresentar outra forma de influência da pesquisa nas políticas públicas a seguir. Pense nas campanhas publicitárias de saúde, como a de antitabagismo. O cigarro, em 1881, estava em plena expansão e várias indústrias faturavam alto com a venda de seus produtos. Paralelamente ao movimento em prol dos cigarros, havia grupos que alertavam sobre os riscos desse vício, embora a indústria tabagista crescesse exponencialmente. Entretanto, uma pesquisa realizada no ano de 1972 deu o start para os riscos ao uso do tabaco e, então, novas pesquisas foram realizadas para estabelecer a relação entre uso do tabaco e doenças graves (destarte que apenas a publicação sobre a possível relação entre doenças e o tabaco já seria o suficiente para retroceder as vendas de cigarro) (Boeira, 2006). A confirmação aconteceu e, assim, políticas públicas foram criadas para incentivar as pessoas a deixarem de fumar, tais como a Lei n. 9.294, de 15 de julho de 1996[1], que dispõe sobre as “restrições ao uso e à propaganda de produtos fumígeros” (Brasil, 1996). A referida ação teve pleno êxito no ano de 2014 com a regulamentação da Lei antifumo/ambientes 100% livres do tabaco. Pouco mais de um ano após promulgada a lei antifumo, percebeu-se uma redução de 11% entre os tabagistas passivos (aqueles que não fumam, mas convivem com fumantes) (Brasil, 2014; Abe; Issa; Kallil Filho, 2018). Com esses exemplos, conseguimos encontrar a primeira resposta para os primeiros objetivos de nossa aula: saber o início da pesquisa em saúde e esclarecer a importância dela para sociedade. Agora vamos conversar sobre o que é ciência e o que é conhecimento científico. https://conteudosdigitais.uninter.com/libraries/newrota/?c=/gradNova/2021/farmacia/metodologiaCientifica/a1&hash=3u0Jf1zuk93zpxVYIcnLAvXtf1yhxn401ePtARb7BA30cX1TZLMezjh103Lxq1jCxjuFEhN7uRODfKV57VUCq6Ir+F98+INY7YtBQtJBP4YoAgGn/N4gGzV+0MWfB02pvCdszlwyyZhfXtH/3y7rKnNQdYIH0H189iJvsXd0XE/3F0MD60PQCRF4+nFG048I&ne=False&hash=3u0Jf1zuk93zpxVYIcnLApw3nWNGaL3fJ5wcDkEpCzrE/LBlv1rSxXwbHW0Xj5Oqtl3rqjTUqju0xjkSa+UQBVvV3QhxD8nQZrNKA8D01CkDpEXrtg/EgeO8S6ATl5UoTvyL2B+FCWZM++UEB3BI003wQGIZGBVrqXd2qk5zHTM=&ne=False#_ftn1 TEMA 2 – CIÊNCIA E CONHECIMENTO CIENTÍFICO: CONCEITOS E CLASSIFICAÇÃO DA CIÊNCIA, O CONHECIMENTO CIENTÍFICO E OUTROS TIPOS DE CONHECIMENTO Ciência é sinônimo de conhecimento científico? E aquilo que sabemos porque todo mundo sabe, será que é conhecimento científico? São esses tópicos que iremos abordar neste tema, com o intuito de descobrir o que é a ciência e a diferença dela para conhecimento científico; o que é conhecimento científico e o que é conhecimento popular, além de conhecer as classificações da ciência. Então, para iniciar nossa conversa, vamos entender o que é conhecer: Conhecer é atividade especificamente humana. Ultrapassa o mero “dar-se conta de”, e significa a apreensão, a interpretação. Conhecer supõe a presença de sujeitos; um objeto que suscita sua atenção compreensiva; o uso de instrumentos de apreensão; um trabalho de debruçar-se sobre. Como fruto desse trabalho, ao conhecer, cria-se uma representação do conhecido - que já não é mais o objeto, mas uma construção do sujeito. O conhecimento produz, assim, modelos de apreensão - que por sua vez vão instruir conhecimentos futuros. (Araújo, 2004 apud França, 1994, p. 140) Diante do exposto, tem-se que o conhecimento é ter consciência das necessidades que o permeiam e ir em busca de respostas. Como esse conhecimento pode ser construído de várias maneiras, com ele nascem os tipos de conhecimento: empírico ou popular, científico, religioso ou filosófico, apresentados na figura a seguir: Figura 2 – Tipos de conhecimento Fonte: Caveião, 2020. Os conhecimentos não podem ser menosprezados pela forma como foram construídos. Por isso, mesmo classificado como um conhecimento empírico (senso comum), ainda é um tipo de conhecimento, elaborado por meio de metodologia diferenciada, a qual não apresenta profundidade e é subjetiva. Contudo, “não se distingue do conhecimento científico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto conhecido: o que os diferencia é a forma, o modo ou o método e os instrumentos do 'conhecer'" (Araujo, 2006). Com relação ao conhecimento teológico, podemos destacar que também não pode ser constatado, já que seus acontecimentos transcendem gerações. Contudo, é importante ressaltar que nesse tipo de conhecimento a evolução é lenta e passível de estagnação. Há que se destacar que os tipos de conhecimento fazem a ciência evoluir, uma vez que as problemáticas do cotidiano necessitam de respostas. Assim, logo vêm o conhecimento empírico ou religioso ou filosófico e, em seguida, o estudo científico para certificá-lo (ou não). Agora que já sabemos o que é conhecimento, conhecimento científico e conhecimento popular, vamos descobrir o que é a ciência: Ciência é a junção organizada de vários conhecimentos científicos. Conforme aponta Cartoni (2009, p. 17), “é o processo de produção de conhecimento. Pode ser entendida, nesse sentido, como um conjunto de métodos lógicos e empíricos que permitem a observação sistemática de fenômenos, a fim de compreendê-los e estabelecer padrões regulares que seguem”. Para Araujo (2005), ciência é concebida como: A ciência, pois, é uma forma de conhecimento que, compreendida num sentido mais específico, [...] "O discurso científico tem a intenção confessada de produzir conhecimento, numa busca sem fim da verdade" (Alves, 1987: 170). Para conseguir alcançar esse conhecimento mais adequado, mais fiel à realidade, a ciência busca o desejado equilíbrio entre as duas dinâmicas do conhecimento, isto é, a constante renovação e a consolidação dos conhecimentos já construídos. Sendo um conjunto de conhecimento, seu objetivo é responder a questionamentos, solucionar problemáticas e desenvolver formas de simplificar situações difíceis da vida. Em outras palavras, a ciência pode ser vista como uma forma de buscar o bem-estar das pessoas. Por ser organizada, a ciência tem classificações conforme aponta a imagem a seguir: Figura 3 – Classificação das ciências Fonte: Elaborado com base em: Wazlawick, 2010, p. 5. As ciências formais são assim classificadas por tratarem de elementos abstratos, diferentemente das ciências factuais, que atuam baseadas em fatos concretos, adquiridos por meio de dados empíricos, os quais, por sua vez, encontram-se atrelados a teorias. Por isso, como representante das ciências formais, apontamos a matemática, já do segundo grupo (factual), temos geologia, biologia e a química. Compreenda que a ciência não é indiscutível e sempre existe espaço para questioná-la. Imagine se ninguém tivesse questionado a ciência após ter sido constatado como verdade que a Terra era o centro do universo? Até hoje essa seria a verdade única, mas após novos estudos e pesquisas, hoje sabemos que não é assim. Não que a ciência aceite mentiras, mas ela aceita a verdade até o ponto em que se comprove o contrário, por isso sempre abre espaço para novos conhecimentos e novos estudos. Dessa forma, ela pode se reinventar e se renovar, ou seja, as verdades na ciência são transitórias (Cartoni, 2009). Diante disso, pode-se afirmar que o conhecimento científico deve se abrir a novas pesquisas para que esteja em constante progresso e atualização. Assim, é necessário que, ao iniciar um processo de investigação científica, esta seja pautada pelo critério da falseabilidade, que “exclui aqueles modos de evadir a falsificação logicamente admissíveis”, de maneira a minimizar os riscos de interferência do pesquisador nos resultados (Cartoni, 2009, p. 18). Compreenda que não é por falta de ética que o pesquisador pode realizar tal interferência, mas sim por ter como verdade e não conseguir perceber suas ações involuntárias em busca da sua verdade. Por isso, a metodologia deve ser muito bemfundamentada, para que lacunas como essas deixem de existir. Um bom pesquisador sempre terá uma postura crítica, ética e racional no desenvolvimento de seu estudo. Agora que já sabemos o que é conhecimento e ciência, seus tipos e classificações, abordaremos outra temática: método científico. Para isso, vamos analisar o que são método, metodologia científica e método científico. TEMA 3 – MÉTODO CIENTÍFICO: DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO, MÉTODO INDUTIVO, MÉTODO DEDUTIVO, MÉTODO HIPOTÉTICO-DEDUTIVO, MÉTODO DIALÉTICO Método científico é essencial para formular uma pesquisa, pois é por meio dele que você definirá os passos a seguir. Vamos utilizar um exemplo simples para mostrar que o método científico está em nosso cotidiano sem nos darmos conta disso. Você vai pegar o transporte público para ir à faculdade e, para isso, antes de sair de casa, certifica-se de que seu cartão transporte está em sua carteira. Sai de casa, entra no ônibus e, ao passar o cartão transporte na máquina de cobrança, nada acontece. Diante disso, você começa a se questionar: “será que tenho créditos? Será que a máquina está quebrada?”. Esses questionamentos são hipóteses que você está formulando. Em seguida, inicia sua busca pelas respostas (verificar se há crédito, verificar se tem dinheiro para pagar etc.). O motivo de o seu cartão não ser aceito você pode nunca descobrir (nem todo estudo tem resultado positivo, mas isso é assunto para outra hora), mas o fato de você ter uma problemática e formular hipóteses já configura a utilização de um método científico. Afinal, o método científico é definido como regras utilizadas para realização de uma experiência que tenha o intuito de produzir/corrigir/integrar ciência (conhecimento), e pode ser conceituado como: etapas para elaboração de trabalhos científicos (Jacobsen, 2016; Borges, 2014). Dessa forma, determina-se que para ser um método científico é preciso existir um problema (questionamento), a formulação de hipóteses, testes das hipóteses e obtenção de um resultado, conforme demonstra a figura a seguir. Figura 4 – Resumo de método científico Fonte: Jacobsen, 2016. Para ilustrar ainda mais o que é o método científico, temos a seguir a sugestão de um trecho do programa Mundo de Beakman, em que o apresentador explica o que é método científico. Acesse para saber mais: . Sabendo o que é um método científico e as etapas necessárias que o compõem, podemos passar a desvendar outros assuntos vinculados ao método científico, tais como: método indutivo, método dedutivo, método hipotético-dedutivo e o método dialético. O método indutivo refere-se à análise de uma situação concreta por parte do pesquisador, o qual “realizará um processo de indução até chegar a uma premissa maior” (Borges, 2014, p. 86), ou seja, os resultados são obtidos por meio da observação sistemática do pesquisador, conforme afirmou Francis Bacon, pai do método indutivo. Para que o pesquisador faça uso desse método científico, é preciso que realize alguns procedimentos (Diniz; Silva, 2008, p. 4): ● observação sistemática dos fenômenos; ● elaboração de classificações a partir da descoberta de relação entre os fenômenos observados; ● construção de hipóteses (verdades provisórias) a partir das relações observadas; ● verificação das hipóteses por meios de experimentações e testes; https://www.youtube.com/watch?v=XgxmiUWyOL4 ● construção de generalizações, a partir dos resultados experimentados e testados, servindo como explicação para outros estudos que apresentem casos similares; ● confirmação das hipóteses para se estabelecer as leis gerais sobre os fenômenos investigados. Esse método dificilmente abrange pesquisas no âmbito das ciências sociais, tendo em vista que se trata da repetição de fenômenos, o que é muito difícil de ocorrer em fenômenos sociais. O método dedutivo é o oposto da prerrogativa do método indutivo, configura-se em “pegar uma hipótese genérica e, por intermédio da dedução, chegar a uma conclusão, a uma solução ao problema” (Borges, 2014, p. 86). Diniz e Silva (2008, p. 6) expõem que o método dedutivo “parte das teorias e leis consideradas gerais e universais buscando explicar a ocorrência de fenômenos particulares”. As autoras continuam, ainda, afirmando que o método dedutivo surge das leis universais (pensamentos racionais) que chegam a determinada conclusão, assim, o “exercício do pensamento pela razão cria uma operação na qual são formuladas premissas e as regras de conclusão que se denominam demonstração”. Entre os dois métodos, existem pontos de convergência, tal como a busca pela verdade, e pontos de divergência (figura 5): Figura 5 – Diferenças entre os métodos de indução e de dedução Fonte: Metodologia científica, [S.d.]. Conhecendo esses dois métodos, passaremos a discutir sobre o método hipotético-dedutivo e o método dialético. Vamos iniciar pelo hipotético-dedutivo, que pode ser considerado a junção dos métodos dedutivo e indutivo, acrescido de racionalização e experimentação. Trata-se de um método que versa na apresentação de hipóteses prováveis (com tendência de viabilidade) para a resolução de um problema, após o levantamento de possíveis resoluções, realiza-se uma limpeza de hipóteses falsas e encerra-se com a comprovação (ou não) das hipóteses que restaram. Assim, nesse método, trabalhamos com a problemática, as hipóteses, a exclusão de falsas hipóteses e, então, a comprovação (ou não) das hipóteses (Fumec, 2013). Almeida [S.d.]) coloca o método hipotético da seguinte forma: [...] se o conhecimento é insuficiente para explicar um fenômeno, surge o problema; para expressar as dificuldades do problema são formuladas hipóteses; das hipóteses deduzem‐se consequências a serem testadas ou falseadas (tornar falsas as consequências deduzidas das hipóteses); enquanto o método dedutivo procura confirmar a hipótese, o hipotético‐dedutivo procura evidências empíricas para derrubá‐las. Em relação ao método dialético, o autor o define como “empregado em pesquisa qualitativa, considera que os fatos não podem ser considerados fora de um contexto social; as contradições se transcendem dando origem a novas contradições que requerem soluções”. Compreenda que dialético vem de diálogo, ou seja, da argumentação e contra-argumentação, um debate de ideias que não permite comprovações, as quais não tratam de objetos fixos e interligados a outras questões que estão ao seu redor. O método dialético encontra-se no campo qualitativo, visto que não há como mensurar os dados, pois estão em constante alteração. Diante disso, o método dialético configura-se nos seguintes passos: Tese, antítese e a síntese (que pode gerar uma nova tese). Sendo a tese uma pretensão de verdade, a antítese, elementos que desmontam a tese, a síntese é o que sobrou deste embate entre a tese e a antítese. Tudo o que vimos até agora são métodos, mas, afinal, o que é a metodologia? É a ciência em que se estuda o método científico. Em outras palavras, a metodologia refere-se aos métodos utilizados na pesquisa. Por fim, qual é a diferença entre método científico e metodologia? A metodologia se refere aos procedimentos e ao conjunto de técnicas que serão utilizados na pesquisa. Passamos a falar, então, em métodos como sendo “métodos de abordagem” e em metodologias como os “métodos de procedimento”, que podem ser chamados de técnicas de pesquisa (Fumec, 2013, p. 93). TEMA 4 – CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS DE PESQUISA Ao falar em classificação por tipo de pesquisa, temos muitas análises a serem realizadas. A pesquisa pode ser classificada de acordo com a abordagem (quantitativa ou qualitativa), ou conforme sua natureza (básica ou aplicada). Temos, ainda, a pesquisa quanto ao seu objetivo (exploratória, descritiva ou explicativa) e quanto aos procedimentos (experimental, bibliográfica, documental, de campo, estudo de caso, de levantamento, e outras).Por enquanto, vamos nos ater apenas à sua natureza e ao objetivo, pois as demais classificações veremos nas próximas aulas. O tipo de pesquisa, considerando sua natureza, pode ser classificado em básica, que consiste em “gerar conhecimentos novos, úteis para o avanço da ciência, sem aplicação prática prevista. Envolve verdades e interesses universais” (Silveira;Gerhardt, 2009, p. 34), enquanto a pesquisa de natureza aplicada remete ao inverso da primeira, pois tem como objetivo gerar conhecimento para aplicação prática, ou seja, visa à resolução de problemas específicos, por isso está mais relacionada a interesses locais. Passamos agora a discutir o tipo de pesquisa considerando seu objetivo. Para isso, utilizaremos a definição de Gil (2002, p. 41) para a pesquisa exploratória, que a esclarece muito bem: Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado. Na maioria dos casos, essas pesquisas envolvem: (a) levantamento bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e (c) análise de exemplos que "estimulem a compreensão”. As pesquisas exploratórias são comumente utilizadas em pesquisas bibliográficas ou estudos de caso. As pesquisas classificadas como descritivas visam descrever (como seu nome bem a denomina) as características de determinada população, grupo, enfim, objeto de estudo. Para esse tipo de objetivo, comumente utiliza-se a aplicação de questionários e realiza-se a observação sistemática, já que seu objetivo está em avaliar opiniões, crenças ou até mesmo dados demográficos, tais como idade, altura e estado de saúde. Para concluir a abordagem sobre o tipo de pesquisa descritiva, apontamos que essa, juntamente da exploratória, é uma das mais utilizadas por pesquisadores sociais. Por fim, a pesquisa explicativa comumente avalia “os fatores que determinam ou contribuem para ocorrência de fenômenos” (Gil, 2002, p.42). Ela tem o intuito de explicar o motivo dos fatos por meio do aprofundamento da realidade. Isso faz com que esse tipo de pesquisa seja muito delicado, uma vez que o risco de erros pode ser considerável. A utilização desse tipo de objetivo está relacionada a pesquisas do tipo experimentais ou ex-post facto (que estudaremos mais adiante). TEMA 5 – BUSCA EM BASES DE DADOS E DESCRITORES Você pode estar se perguntando sobre a necessidade deste tópico. Podemos fazer nossa pesquisa utilizando a base de sites de busca (como Google), porém, vale destacar que a busca pelo endereço ou a indicação de um local qualquer se difere da busca por informações científicas que podem dar a base para seu estudo. Sabemos que muitas informações inseridas na internet são falsas e sem comprovações, por isso é preciso saber onde e como buscar essas informações, com fundamentação e evidência científica. Para nos auxiliar nessa busca, utilizamos as bases de dados eletrônicas, que são como imensas revistas científicas, prontas para serem acessadas a qualquer momento. Latorraca et al. (2019) expõem de forma brilhante a diferença entre realizar uma busca no google e em uma base de dados científica: “aproximadamente 413.000 resultados no Google Acadêmico com o termo ‘myocardial revascularization’ tornam-se 99.540 no Medline (via PubMed) para uma busca simples usando o mesmo termo”. Segundo os autores, isso acontece porque a Pubmed tem uma base mais bem estruturada, que irá em busca apenas dos artigos científicos com embasamento no assunto, e não pela simples citação da palavra em seu texto. Agora que já citamos uma das bases da saúde (Pubmed), vamos apresentar as demais: Bireme, LILACS, IBECS, MEDLINE, Biblioteca Cochrane e SciELO (Quadro 1): Quadro 1 – Principais bases de dados da saúde BASE DE DADOS DESCRIÇÃO BIREME Biblioteca atrelada ao Sistema Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde. Visa disseminar o conhecimento para fins acadêmicos e de pesquisa. LILACS Base que integra o Sistema Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde. IBECS Utiliza a metodologia LILACS, desenvolvida pela BIREME, com a finalidade de posteriormente se poderem integrar as bases de dados IBECS y LILACS (Bases de dados de Literatura Latino-americana de Ciências da saúde), o que permitirá recompilar esta seleção de literatura científica latino-americana e espanhola numa única Base de Dados Bibliográfica LILACS-IBECS, como referência internacional PUBMED É uma base de dados desenvolvida pelo National Center for Biotechonology Information (NCBI) na Library of Medicine (NLM) disponível na web. É uma das diversas bases de dados que fazem parte do sistema de recuperação Entrez do NCBI, que é um sistema da busca e de recuperação que integra as informações das bases de dados da NCBI com o PubMed e inclui: MEDLINE, Nucleotide Sequences, Protein Sequences, Macromolecular Structures e Whole Genomes. MEDLINE É o maior componente do PubMed. Cobre mais de 4.800 revistas publicadas nos Estados Unidos e em mais de 70 outros países desde 1966. Produzida pela National Library of Medicine (NLM), é uma base de dados de literatura internacional que reúne referências bibliográficas e resumos de revistas biomédicas, cobrindo as áreas de medicina, enfermagem, odontologia, medicina veterinária e ciência pré-clínicas. A atualização da base de dados é mensal. BIBLIOTEC A COCHRAN E É uma Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) que tem acesso diferenciado à melhor coleção de fontes de informação de evidência sobre os efeitos das intervenções em saúde oferecidas aos profissionais de saúde dos países da América Latina e Caribe. SCIELO É uma biblioteca virtual piloto que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros com base hospedada na FAPESP. Fonte: Latorraca et al., 2019. Agora que já sabemos o que são e quais são as mais importantes bases de dados para saúde, vamos passar a discutir sobre os descritores. Estes são palavras/termos que podemos utilizar para definir a busca, ou seja, são definidores de assuntos. Entre os descritores mais conhecidos, encontram-se os DeCS, que significam descritores da saúde, e os MeSH, que correspondem a Medical Subheadings. A utilização do descritor dependerá da base de dados utilizada (Latorraca et al., 2019). Os descritores se aproximam das palavras-chave, porém se diferem por serem interligados., ou seja, por meio do termo utilizado, torna-se possível fazer a busca em qualquer banco de dados. Ao realizar uma busca, é preciso saber como utilizar o descritor, pois você pode fazer a junção de dois termos e não obter o resultado esperado, por isso utilizamos os operadores booleanos, que são conectores de termos. Funciona da seguinte forma: você indicará para abase de dados se você quer uma busca de publicações que tenham pelo menos um dos termos (or), se quer que ela busque publicações que tenham os dois termos utilizados (and), ou se você quer apenas um termo específico (not/and not), conforme aponta imagem a seguir (Latorraca, 2019, p. 62): Figura 6 – Descritores Fonte: Latorraca, 2019. A utilização desses operadores faz com que sua busca seja mais direcionada ao que se espera, assim, ela poderá ser mais abrangente quando utilizado termo or ou and, e mais específica no caso de not/and not. Na prática Escolha um tema para a realização de uma pesquisa científica que seja relevante para a área da saúde. Identifique um problema (questionamento), formule hipóteses e organize as informações para essa pesquisa. FINALIZANDO Em nossa aula, apresentamos o início da ciência, como surgiu e a importância dela para a sociedade atual. Depois, passamos a conversar sobre os tipos de métodos utilizados, e descobrimos que existem os hipotéticos, os indutivos,os dedutivos e o dialético. Em seguida, descobrimos o que é a metodologia (ciência em que se estuda o conjunto dos métodos) e a diferença entre ela e o método propriamente dito (que é a técnica utilizada). Para finalizar, apontamos as principais bases de dados da saúde e sua importância para a pesquisa científica, bem como o que são os descritores e como realizar uma busca utilizando os operadores booleanos. Em nossos próximos encontros, você vai conhecer os elementos de um trabalho científico e perceberá a importância dos temas tratados nesta aula para a realização de um artigo científico. AULA 2 Prof. Cristiano Caveião Conversa inicial Em diversas situações, deparamo-nos com alunos que desconhecem os componentes de um trabalho científico ou mesmo que acreditam que um artigo utiliza as mesmas regras de uma monografia. Assim, conhecer os elementos de um trabalho científico é muito importante, pois você pode se deparar com um convite para elaborar um trabalho, mas nem mesmo saber os itens que o compõem e como esses itens são estruturados – justificativa e objetivo, por exemplo. Quando escreve um texto, você se lembra de inserir a referência que utilizou? Muitas vezes nós temos a impressão de que não precisamos informar quem é o autor de referência, já que escrevemos o texto com base em nossas ideias e apenas utilizamos o autor para saber mais sobre o conteúdo. Contudo, engana-se quem pensa assim, pois todo conhecimento surgiu de alguma fonte, e por isso precisamos informá-la. Outro ponto importante para a elaboração de um trabalho científico está relacionado ao tipo de abordagem metodológica: quantitativa ou qualitativa, assunto que já vimos brevemente, mas agora vamos abordar com mais propriedade. Basicamente, o que veremos nesta aula são os elementos que compõem a introdução: tema, problema, justificativa e objetivo (figura 1). Mas, como na introdução fazemos uso das citações, então esse assunto também será abordado, bem como o tipo de abordagem (qualitativa ou quantitativa). Figura 1 – Esquematização dos assuntos contidos na Introdução de um trabalho científico e síntese dos temas abordados nesta aula Fonte: Praça, 2008, p. 79. Com essa breve exposição, vamos dar início à nossa aula, em que serão abordados os seguintes conteúdos: Figura 2 – Conteúdos da aula TEMA 1 – TEMA, DELIMITAÇÃO DO TEMA, TÍTULO DA PESQUISA De forma suscinta, o tema é o assunto que se pretende estudar. Conforme expõe Praça (2008): “o tema refere-se a aspectos gerais sobre um determinado assunto a ser estudado, diferentemente de título do projeto de pesquisa, que deve ser mais específico e escolhido posteriormente” (Praça, 2015, p. 78). Para a escolha do tema, o pesquisador deve considerar suas aptidões e tendências, tendo em vista que seu interesse no assunto facilitará a realização da pesquisa (em razão do interesse na temática), e assim o pesquisador terá a oportunidade de ampliar seu conhecimento em função da realização da pesquisa (FEA, [S.d.]). Normalmente, em trabalhos científicos acadêmicos, a escolha do tema é realizada em conjunto com o orientador da pesquisa, mas não é regra. O tema é bem abrangente, pois é o assunto de que irá tratar na pesquisa, assim pode ser saúde pública ou diabetes, por exemplo. Do tema você deve começar a definir mais especificamente o que se pretende estudar. Digamos que seja sobre saúde pública. Certo! Mas isso não é o suficiente, pois não temos como falar sobre saúde pública em todas as suas vertentes, como tempo de existência e personagens, por isso se faz necessário delimitar o tema. Dessa forma, vamos falar sobre saúde pública nos hospitais. O assunto está sendo direcionado para um tema específico, mas vamos continuar as perguntas: você pretende estudar todos os hospitais? Nacionais e internacionais? A saúde pública será apenas brasileira ou abordará os sistemas de saúde dos outros países? A pesquisa tem um recorte temporal? Apenas com as perguntas realizadas, é possível reduzir ainda mais o campo de pesquisa, embora ainda existam outras questões a serem levantadas com relação ao tema, tais como: O que especificamente irá avaliar nos hospitais que atuam com a saúde pública? Será a humanização? Será com relação à prestação de contas? Inicialmente, acreditamos que basta ter um tema para escrever o texto, mas a delimitação do tema é muito importante, pois você saberá o que irá buscar/pesquisar especificamente. Além disso, com o tema delimitado será possível levantar a problemática, próximo assunto que abordaremos. Veja que a delimitação do tema não é o seu título, mas sim aquilo que se pretende estudar/pesquisar. O título será constituído apenas após delimitação do tema, pois nele deve constar, de forma sucinta, o tema da pesquisa, a problemática, a localização e o tempo, os dois últimos apenas quando pertinente. Corroborando com esse pensamento, Lopes Neto et al. (2002) citam que os títulos devem ser elaborados de maneira clara, objetiva e ainda apresentar a essência do objeto de estudo. Os autores afirmam que a importância do título está até mesmo para que se possa fazer cumprir o papel da pesquisa científica (disseminação do conhecimento), pois um título bem elaborado fará com que os pesquisadores se interessem mais facilmente pela pesquisa. Os autores supracitados apontam, ainda, que mais de 50% dos artigos avaliados por eles não traziam um título adequado (considerados parcialmente adequados), ou seja, muitos autores não conseguem definir a importância do seu estudo no título, fazendo com que a disseminação daquela informação seja prejudicada. Portanto, para criar um título, atente-se para os seguintes itens: Figura 3 – Elementos de atenção para criação de título Fonte: Caveião, 2020. Uma dica bem importante para deixar seu título alinhado com a pesquisa é utilizar o objetivo da pesquisa sem o verso. Sabendo definir o tema e o título, vamos descobrir outros elementos que compõem essa parte inicial do trabalho científico. TEMA 2 – JUSTIFICATIVA, PROBLEMA DE PESQUISA, HIPÓTESE, OBJETIVOS Ao longo da discussão deste tópico, você poderá perceber como todos os itens de um artigo se articulam/se conversam. Eles seguem uma linha de raciocínio na qual um estará ligado ao outro, não deixando espaço para discordância ou incoerência entre os itens trabalhados. No tópico anterior falamos brevemente sobre o problema de pesquisa, mas não conceituamos nem mesmo conversamos sobre esse item, que é muito importante na elaboração da pesquisa. Por isso, vamos iniciar nossa discussão falando a respeito disso. Para Cunha, Dal Magro e Dias (2012), a problemática da pesquisa é a base do estudo científico, pois com ela definida, os passos seguintes serão para formular a sua resposta/solução. O problema de pesquisa ou problemática da pesquisa é a pergunta do que se busca responder com o estudo em questão (ou seja, o problema da pesquisa é sempre formulado em forma de pergunta). No entanto, vale destacar que não podemos formular qualquer pergunta e achar que temos uma problemática. Considera-se problema científico apenas quando a ciência não consegue responder a seu questionamento, ou seja, trata-se de algo inédito, que você irá descobrir para contribuir com a sociedade (Cunha; Dal Magro; Dias, 2012). O problema de pesquisa está intimamente relacionado ao objetivo, pois o objetivo geral será a resposta para o seu problema. Vamos exemplificar a relação entre tema, problemática e objetivo (Perceba que os três itens devem estar alinhados e ser de interesse social/real): o tema é doenças crônicas; a problemática: o número de doentes crônicos no Brasil chega a ser endêmico? Veja que a problemática o leva para um campo mais específico do tema e, junto dele, traz um problema relacionado a esse tema. O objetivo será a busca pela resposta dessa problemática (nesse caso, investigar o número de doentes crônicos no Brasil). Observe que o tema inicialera bem abrangente. Com a inserção da problemática e do objetivo, ele passou a ficar mais específico e é nessa especificidade que se tira/cria o título do trabalho. Definido o problema, tem-se o objetivo geral da pesquisa, porém uma problemática não tem uma busca única, há sempre outros problemas embutidos que acabam sendo investigados em busca da resposta do objetivo geral. Essa busca por outros porquês são os objetivos específicos. Normalmente, um estudo científico é constituído de um objetivo geral (pergunta maior) e três objetivos específicos (perguntas menores relacionadas à busca do objetivo geral). Fazendo uso das doenças crônicas, os objetivos específicos poderiam ser: analisar por região brasileira o número de doentes crônicos; avaliar quais doenças crônicas são prevalentes e o perfil geral dos doentes crônicos. Veja como todos os objetivos específicos nos levam à obtenção da resposta do objetivo geral. Outro fator importante no objetivo é que ele sempre deve se iniciar com um verbo no infinitivo (conhecer, comparar, identificar, reconhecer, diferenciar, organizar, analisar, mostrar etc). Comumente (não é regra), os objetivos gerais utilizam-se de verbos mais generalistas e abrangentes (colaborar, desenvolver, reconhecer etc.), e os objetivos específicos, verbos mais direcionados (comparar, distinguir, analisar, avaliar, identificar etc.). Em paralelo à definição da problemática e do objetivo, está o motivo que o levou a fazer tal escolha (a justificativa do estudo). Como vimos anteriormente, tanto o bjetivo quanto o problema devem ter relação com problemas da sociedade que ainda não têm respostas, assim, a justificativa deve estar relacionada a essa lógica, e não a motivos pessoais (vide quadro a seguir). Quadro 1 – Considerações sobre a formulação da justificativa Fonte: Caveião, 2020. Para formulação da justificativa, vale se perguntar: por que escolhi esse tema? Qual é a função da minha pesquisa? Para quem se destina meu estudo? Com essas perguntas, torna-se mais fácil escrever sua justificativa. Sobre as hipóteses, nós já falamos em momento anterior, mas como ela está relacionada à introdução, vale relembrar: As hipóteses são as suposições realizadas para testar sua pesquisa. Ou seja, após a definição do objetivo, você irá formular formas para respondê-lo, ou seja, começar a se perguntar se “isso ou aquilo” seria a provável resposta para seu problema de pesquisa (esses “questionamentos” são as hipóteses do seu estudo). Sua função é responder às perguntas de investigação, por isso elas serão comprovadas ou não durante o estudo. A não comprovação da hipótese não significa que seu estudo esteja incorreto ou seja desqualificado, mas sim que a resposta que você pensou ser a mais provável não obteve resultado. Normalmente, a formulação da hipótese ocorre naturalmente, uma vez que, ao criar uma pergunta da problemática, o pesquisador já inicia internamente a formulação de possíveis respostas, com base no conhecimento de que dispõe. Vamos a um exemplo a seguir. Oliveira (2012, p. 5), em seu projeto de pesquisa intitulado “Comunicação Organizacional e Comunicação Pública: Interações, convergências e conflitos”, apontou como problemática de seu estudo o seguinte: “a comunicação organizacional, no contexto atual, demanda integração com a comunicação pública, de forma a estabelecer uma política de comunicação global, que entrelace o os interesses das organizações com os interesses da sociedade?”. E as hipóteses para a problemática foram: ● Quando a Comunicação Organizacional integra a Comunicação Pública como conceito fundamental tende a gerar conflitos entre os interesses do mercado e do Estado. ● Numa sociedade democrática, quando a Comunicação Organizacional inclui a Comunicação Pública como conceito fundamental da esfera pública, tende ao reconhecimento dos stakeholders, profissionais da comunicação e da sociedade. ● Políticas de comunicação organizacional podem contribuir com a comunicação pública, na medida em que o que se desenvolve na esfera privada tem reflexo na esfera pública. ● As empresas que adotam políticas de comunicação organizacional integrada, que não se restringem aos resultados mercadológicos, são as que geram impacto positivo na esfera pública, pois têm visão mais estratégica e abrangente de seu compromisso com as questões de interesse público. (Oliveira, 2012, p. 5) Com isso, concluímos os principais itens que compõem a introdução, conforme podemos notar na imagem a seguir. Em seguida, passaremos a discutir sobre a fundamentação teórica e seus elementos. Figura 3 – Síntese dos elementos que constituem uma pesquisa Fonte: Caveião, 2020. TEMA 3 – REVISÃO DE LITERATURA, CITAÇÕES DIRETAS E INDIRETAS O referencial teórico é a base do seu texto científico, e pode-se dizer que é o suporte para o que está sendo apresentado em seu texto. A qualidade do estudo tem estrita relação com o referencial teórico, pois é nesse momento que ocorre a familiarização da teoria já consagrada e publicada com a problemática do estudo, em que há uma correlação do que já foi estudado anteriormente com a sua inovação de estudo (Echer, 2001; Gonçalves, 2019) Echer (2001) aponta que a revisão de literatura apresenta outra importância nos estudos científicos, que é criar a problemática, tendo em vista que o autor poderá saber o que já foi pesquisado e estudado e o que ainda necessita de investigação. Para fazer uma boa revisão de literatura, atente-se para os seguintes itens: ● Evite a utilização de advérbios; ● Evite generalizar as situações; ● Não faça julgamentos ou emissão de opinião; ● Utilize linguagem impessoal. O uso dessa base (a revisão de literatura), seja para criar a problemática ou mesmo para fundamentar a sua pesquisa, como dissemos, será baseada em publicações de autores, por isso é imprescindível a utilização das citações, que podem ser diretas ou indiretas. Muitas vezes, nos deparamos com alunos que não compreendem o motivo de inserir o nome de um autor para acompanhar o trecho que ele (aluno) escreveu, já que as ideias foram produzidas por ele (aluno). No entanto, para que o aluno pudesse produzir aquele parágrafo, foi preciso buscar informações sobre o assunto na literatura, por isso ele deve mencionar qual ou quais autores o inspiraram a escrever aquele texto. Nesse exemplo citado, o aluno utilizou a citação indireta, que é quando se faz a leitura de um/ou mais artigo(s) e escreve o texto de acordo com as suas ideias (utilizando as suas palavras). Isso se chama parafrasear[1]. Sobre a citação indireta, podemos afirmar ainda que se trata de reescrever com base no autor original, mantendo a ideia original, mas com o texto modificado pelo atual autor (Jung, 2004). Vamos a um exemplo a seguir. Citação direta e original retirada do artigo escrito por Lovatto et al. em 2007: “[A] revisão tem como objetivo extrair informações de trabalhos publicados com ou sem (mais comum) análises estatísticas”. Citação indireta, realizada por nós: A revisão objetiva retira a essência dos trabalhos já publicados por outros autores, estudos esses que contêm (ou não) análises estatísticas (Lovatto et al. 2007). Percebe a diferença? É a mesma ideia, porém, escrita de forma diferente. Note que o autor original da ideia não deixou de ser mencionado, afinal, mesmo que as palavras escritas não tenham sido produzidas por ele, a ideia lhe pertencia, por isso foi necessário citá-lo. Nas citações diretas, o autor normalmente é mencionado no seguinte formato: (SOBRENOME, ANO DE PUBLICAÇÃO). Dessa forma mesmo, dentro dos parênteses e em caixa alta. Quando você informa no texto quem é o autor, a regra é inserir o sobrenome do autor e apenas o ano de publicação da obra em questão entre parênteses, da seguinte maneira: Lovatto et al. (2007) afirma que a revisão objetiva retira a essência dos trabalhos já publicados por outros autores, estudos essesque contêm (ou não) análises estatísticas. A regra para inserção do autor na citação dependerá da revista, que fará a indicação de qual modelo de referência deve ser utilizado: Formato numérico ou autor-data. No Brasil, é mais comum utilizarmos as normas da ABNT, que têm como padrão o modelo autor-data, mas nada impede que uma revista nacional queira utilizar o formato numérico. Isso, contudo, será assunto para outra aula, pois nesse momento vamos nos ater às citações! A citação direta refere-se à escrita literal do autor consultado, ou seja, é reproduzir aquilo que você leu. Quando inserimos a referência, não é plágio. Obviamente, não podemos utilizar um artigo inteiro como citação direta e apenas https://conteudosdigitais.uninter.com/libraries/newrota/?c=/gradNova/2021/farmacia/metodologiaCientifica/a2&hash=3u0Jf1zuk93zpxVYIcnLApw3nWNGaL3fJ5wcDkEpCzrE/LBlv1rSxXwbHW0Xj5Oqtl3rqjTUqju0xjkSa+UQBVvV3QhxD8nQZrNKA8D01CkDpEXrtg/EgeO8S6ATl5UoTvyL2B+FCWZM++UEB3BI05d6y5sUixSQtGq84vzjTAs=&ne=False#_ftn1 inserir nosso nome, afinal isso não terá nada de inédito, além do mais, existem regras que nos impedem de realizar essa ação. A citação direta pode ser curta ou longa. A primeira refere-se à transcrição do texto original que tenha menos de três linhas. O trecho transcrito deve ficar entre aspas para apontar que se refere à cópia do autor, já a segunda é um texto com quatro linhas ou mais e, para essa, devemos realizar um recuo de 4 cm da margem esquerda, fonte arial 10 e espaçamento entre linhas simples (Jung, 2004). Vamos aos exemplos: Citação direta curta: “promover saúde requer articulação entre os diversos setores sociais, além da saúde, que garantam condições aos usuários de se empoderarem” (Santos et al., 2014, p. 919). Citação direta longa: Um modelo voltado para a promoção da saúde pressupõe que o processo de saúde/doença é resultante de determinantes sociais, econômicos, culturais, étnico/ raciais, psicológicos e comportamentais, que podem contribuir para o aparecimento das doenças e constituem fatores de risco para a população, configurando seus índices de qualidade de vida. Dessa forma, promover saúde requer articulação entre os diversos setores sociais, além da saúde, que garantam condições aos usuários de se empoderarem para o controle social na gestão de conhecimentos, técnicas, poder, recursos físicos, financeiros e humanos, voltando-os para a ação nos seus determinantes de saúde/doença. (Santos et al., 2014, p. 919) Observe que na citação direta há a obrigatoriedade de inserir a página em que se encontra o trecho extraído. Há outro tipo de citação, a citação da citação, que ocorre quando você lê em um artigo uma citação, gosta, não procura o autor original, mas utiliza essa mesma citação em seu trabalho. Nesse caso, “no texto deve ser indicado o sobrenome do(s) autor(es) do trabalho original, não consultado, seguido da preposição ‘apud’ e do sobrenome do(s) autor(es) da obra consultada” (Jung, 2004, grifo nosso). Exemplo: Jorge (2000) apud Jung (2004). Acabamos de usar outro item muito importante das citações: “grifo do autor” ou “grifo nosso”. Essa expressão é utilizada quando fazemos um destaque na citação e devemos indicar quem destacou o trecho. Se fomos nós, usamos “grifo nosso”; se já estava destacado da citação do autor, “grifo do autor”. Conseguimos abordar os principais tópicos sobre as citações. Em aulas futuras, voltaremos a falar delas, mas as relacionaremos com as referências. TEMA 4 – MÉTODOS DE PESQUISA: QUANTITATIVO Vamos apenas relembrar o que já conversamos sobre a importância da metodologia e dos métodos aplicados nas pesquisas, e é por meio deles que podemos reproduzir o experimento e confirmar os resultados obtidos. Com base nisso, anteriormente, nós falamos sobre os tipos de pesquisa considerando sua natureza (básica e aplicada) e seu objetivo (exploratórias, descritivas e explicativas). Na aula de hoje, falaremos sobre a abordagem utilizada, que pode ser qualitativa ou quantitativa. A pesquisa quantitativa refere-se a tudo o que pode ser mensurado ou classificado. É o tipo de pesquisa que trabalha com dados e estatística. Conforme expõem Dalfovo, Lana e Silveira (2008, p. 7): “a pesquisa quantitativa pelo uso da quantificação, tanto na coleta quanto no tratamento das informações, utilizando-se técnicas estatísticas, objetivando resultados que evitem possíveis distorções de análise e interpretação, possibilitando uma maior margem de segurança”. Sua finalidade é garantir a precisão dos resultados, em que a possibilidade de resultados diferentes seja mínima. Por isso, os tipos de pesquisas que mais se apropriam da abordagem quantitativa são as experimentais com objetivo descritivo (aquele que tem a finalidade de relacionar variáveis). Além disso, Dalfovo, Lana e Silveira (2008, p. 8) destacam que a pesquisa quantitativa pode ser utilizada nos seguintes tipos de estudo: [...] de correlação de variáveis ou descritivos (os quais por meio de técnicas estatísticas procuram explicar seu grau de relação e o modo como estão operando), os estudos comparativos causais (onde o pesquisador parte dos efeitos observados para descobrir seus antecedentes), e os estudos experimentais (que proporcionam meios para testar hipóteses). Para trabalhar com estudos quantitativos, é preciso definir os dados elementares (variáveis específicas), pois esses serão a base para realizar estudos estatísticos e avaliar as demais variáveis. Há uma variável da pesquisa quantitativa que é quando ela faz a descrição dos objetos de estudos. Assim, ela se torna quanti-quali ou quantativa-descritiva. Esse tipo de abordagem é comumente aplicado a questionários e entrevistas, pois obtém dados mensuráveis, mas também há a abordagem de opinião ou observação do entrevistado. Já que adentramos no tipo de abordagem qualitativa, vamos conversar sobre ela. TEMA 5 – MÉTODOS DE PESQUISA: QUALITATIVO A pesquisa qualitativa é o inverso da quantitativa, pois se trata de uma abordagem com a finalidade de “descrever a complexidade de determinado problema, sendo necessário compreender e classificar os processos dinâmicos vividos nos grupos, [...], possibilitando o entendimento das mais variadas particularidades dos indivíduos” (Dalfovo; Lana; Silveira, 2008, p. 8). A pesquisa qualitativa tem um perfil metodológico de estudos que envolvem questões mais complexas, com questionamentos que contam com posições intelectuais e ideológicas, buscando compreender os fenômenos de maneira mais aprofundada (Minayo; Sanches, 1993). Dessa forma, evidencia-se que a abordagem qualitativa está mais voltada para estudos sociais, que envolvem opiniões e sujeitos sociais. Conforme expõem Minayo e Sanches (1993, p. 244): A abordagem qualitativa realiza uma aproximação fundamental e de intimidade entre sujeito e objeto, uma vez que ambos são da mesma natureza: ela se volve com empatia aos motivos, às intenções, aos projetos dos atores, a partir dos quais as ações, as estruturas e as relações tornam-se significativas. Em razão da abordagem utilizada nesse método, as principais pesquisas qualitativas envolvem pesquisa observacional (análise do ambiente, sem a intenção de alterá-lo) ou pesquisa ação (observação com intenção de alteração), que estão contidas no tipo de pesquisa exploratória (Wainer, 2007). Com a explanação do método qualitativo, percebem-se as diferenças com a abordagem quantitativa (figura 4). Figura 4 – Diferenças entre o qualitativo e quantitativo Fonte: Cristiano Caveião, 2020. Na prática A fundamentação teórica dará credibilidade a seu trabalho e embasará as discussões de sua pesquisa. De acordo com o tema que escolheu em momento anterior, faça uma busca nas principais bases de dados da área da saúde, selecione os autores para a fundamentação teórica do seu trabalho e defina o método de sua pesquisa. FINALIZANDO Hoje passamos a abordar os itens presentes na introdução deum trabalho científico, vimos a definição e a delimitação do tema, passamos para a definição do problema e, consequentemente, pensamos em título, objetivo, justificativa e hipóteses. Tendo esses itens definidos, seguimos com a discussão sobre a importância do referencial teórico e descobrimos que ele é a base de seu estudo, pois você pode direcioná-lo e descobrir as respostas para a sua problemática, afinal verá o que os outros autores já publicaram sobre o assunto e construirá sua própria base. Mas para fazer o referencial teórico, vimos que será preciso utilizar as citações, que podem ser diretas (longas ou curtas) ou indiretas (quando se reproduz com outras palavras aquilo que o autor de referência afirmou). Aprendemos até mesmo que é possível utilizar uma referência quando não temos acesso à obra original, fazendo uso da citação da citação. Concluímos nossa aula conhecendo os tipos de metodologia, considerando a abordagem metodológica: qualitativa (quando se utiliza de opiniões e observações, dados não mensuráveis) ou quantitativa (que se refere a dados mensuráveis). Para os próximos encontros, continuaremos a falar sobre os elementos do trabalho científico, abordando itens ainda não relatados que apresentam relação com o que já falamos, mas de forma mais aprofundada, como população e amostra, coleta de dados, cronograma e elaboração de referências. AULA 3 Prof. Cristiano Caveião Conversa inicial Dando continuidade aos elementos que compõem um estudo científico, nesta aula trataremos sobre itens que envolvem a metodologia, tais como população e amostra, coleta e formas de análise de dados. Posteriormente, abordaremos o cronograma. Sim: para se fazer um projeto é preciso ter um cronograma – assim como em várias ações no nosso cotidiano – com prazos bem determinados para cada etapa do estudo. E, para concluir, falaremos sobre as referências. Mas, calma, não precisa ficar com medo ou ansioso. Sabemos que esse assunto causa muita controvérsia entre os discentes, mas você perceberá que, depois que passamos a conhecer melhor os formatos de referência, as dificuldades se esvaem. Para iniciar a nossa aula, vamos apresentar um esquema de como ela foi estruturada, pois, assim, vocês terão conhecimento de cada um dos assuntos abordados. Figura 1 – Tópicos abordados nesta aula TEMA 1 – POPULAÇÃO E AMOSTRA Imagine que você pretende realizar um estudo com os usuários diabéticos de uma unidade básica de saúde de determinado bairro da sua cidade. Nesse caso, a população do estudo são todos os usuários dessa unidade de saúde; já a amostra são apenas os diabéticos. Ou seja, população é o todo e amostra refere-se apenas àqueles com que você irá trabalhar/pesquisar. Fácil, não? Vamos acompanhar mais algumas definições de amostra e população para que não fique nenhuma dúvida sobre isso. Alves et al. (2013, p. 3) expõem que “A população de uma pesquisa é o conjunto total de elementos, itens, objetos ou pessoas que possuem as informações buscadas pelos pesquisadores e sobre os quais serão realizadas inferências”, ao passo que o conjunto das informações efetivamente avaliadas são as amostras. Contudo, os autores destacam que, para que a amostra seja significativa, é preciso que possua um tamanho considerável (Alves et al., 2013). A amostragem pode ser realizada de duas formas: probabilística ou não probabilística. A amostragem probabilística é aquela que se refere às escolhas aleatórias de amostras, tal como expõem Alves et al.: “[...] é o processo de amostragem em que cada elemento da população tem uma chance fixa de ser incluído na amostra”. As técnicas utilizadas nesse tipo de abordagem são as dispostas na Figura 2. Figura 2 – Técnicas de amostragem probabilística Observação: considera-se estratificada proporcional a amostragem que utiliza a mesma fração para cada grupo. A amostragem não probabilística é realizada de acordo com a representatividade das informações para o pesquisador, ou seja, o pesquisador irá intervir no processo de escolha das amostras (Martins et al., 2016). Figura 3 – Técnicas de amostragem não probabilística Ok, sabemos as técnicas de amostragem e sabemos o que são amostras, mas como elas surgiram? O pioneiro da amostragem probabilística foi Anders Kiaer, em 1890. A primeira técnica utilizada foi a aleatória (empregada até hoje em censos demográficos). A amostragem aleatória fez com que outros estatísticos passassem a estudar a possibilidade de utilização de amostras pequenas e assim surgem os intervalos de confiabilidade, que dão início a uma nova forma de estudo, por amostragem, conforme expõe Sandoval (2018, p. 76): Assim inicia-se uma nova fase de pesquisa survey com amostragens de diferentes tamanhos, porém também com as condições de estimar suas respectivas representatividades, conforme o tamanho da população. A possibilidade de poder estudar fenômenos sociais com amostras bastante menores do que o total da população, tornou o levantamento survey com amostragens aleatórias um método de pesquisa social usado para estudar grandes coletividades, com níveis altos de representatividade. Após essa descoberta, várias outras foram surgindo até chegarmos às técnicas supracitadas. Bem, já sabemos quem é a nossa população e quais são as amostras. Agora, precisamos descobrir como trabalhar com elas, quais técnicas podemos utilizar para extrair informações das amostras, ou seja, quais são as técnicas da coleta de dados. TEMA 2 – TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS Compreende-se como coleta de dados a escolha do instrumento que o pesquisador utilizará para extrair os dados da sua amostra, bem como a descrição de sua aplicação. Por isso, a coleta de dados é realizada de acordo com o tipo de pesquisa, conforme menciona Gil (2002, p. 43): O delineamento refere-se ao planejamento da pesquisa em sua dimensão mais ampla, que envolve tanto a diagramação quanto a previsão de análise e interpretação de coleta de dados. Entre outros aspectos, o delineamento considera o ambiente em que são coletados os dados e as formas de controle das variáveis envolvidas. Como o delineamento expressa em linhas gerais o desenvolvimento da pesquisa, com ênfase nos procedimentos técnicos de coleta e análise de dados, torna-se possível, na prática, classificar ás pesquisas segundo o seu delineamento. O elemento mais importante para a identificação de um delineamento é o procedimento adotado para a coleta de dados. Diante do exposto, vamos verificar de modo mais acentuado quais são os tipos de pesquisa e, indiretamente, as formas de coleta de dados utilizadas em cada um deles e, no tópico seguinte, trataremos sobre os instrumentos de pesquisa. Vamos iniciar pela pesquisa bibliográfica. Conforme vimos brevemente nos tópicos anteriores, a pesquisa bibliográfica é aquela que se baseia em publicações de outros autores para fazer a sua fundamentação teórica e as discussões pertinentes ao seu objetivo. Em suma, as fontes bibliográficas dividem-se entre os livros – tanto aqueles de leitura corrente quanto os de referência – e as publicações periódicas – nesse campo encontram-se as revistas e os jornais (Gil, 2002). Saiba mais Livros concorrentes são os livros as obras literárias e de divulgação, já os livros de referência são os informativos e os remissivos, tal como os dicionários. A pesquisa bibliográfica é fundamental em estudos históricos e na fundamentação de hipótese dos demais tipos de pesquisa e a sua utilização requer que a coleta de dados seja realizada por meio de fontes consultadas, ou seja, livros e periódicos. O maior entrave à pesquisa bibliográfica está no risco de os autores se apropriarem e ampliarem a difusão de informações equivocadas, disponíveis em fontes secundárias. Portanto, para minimizar esse risco, Gil (2002, p. 43) dispõe que “[...] convém aos pesquisadores assegurarem-se das condições em que os dados foram obtidos, analisar em profundidade cadainformação para descobrir possíveis incoerências ou contradições e utilizar fontes diversas, cotejando-as cuidadosamente.” A pesquisa documental é bem próxima da pesquisa bibliográfica. As duas se diferenciam pelas fontes consultadas: enquanto a bibliográfica é restrita a livros e periódicos, a documental trabalha com um leque de opções mais diversificado, pois permite a consulta a documentos oficiais de órgãos públicos e instituições privadas, documentos advindos de partidos políticos, igrejas, sindicatos – podem ser utilizadas também cartas, ofícios, memorandos, gravações e outros documentos. Os dados coletados confundem-se com as fontes de pesquisa. Vejamos agora a pesquisa experimental. Esse tipo de pesquisa “[...] consiste em determinar um objeto de estudo, selecionar as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, definir as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto” (Gil, 2002, p. 47). Como esse tipo de pesquisa pode ser realizado tanto em objetos físicos, tais como líquidos, ratos, células etc.; quanto em objetos sociais (grupos, pessoas, instituições e outros), a gama de instrumentos para coleta de dados torna-se enorme, pois definir o instrumento a ser utilizado dependerá do objeto que se esteja trabalhando. O estudo de coorte, muito utilizado em pesquisas na área da saúde, consiste em acompanhar um grupo de amostras por determinado período. Esse tipo de pesquisa pode ser realizado de duas formas: a prospectiva, que se utiliza do presente, em sua análise; e a retrospectiva, que faz um comparativo do passado com o presente, ou seja, faz uma linha histórica do que havia e do que é encontrado no presente. A pesquisa de campo é muito empregada no campo da antropologia e na saúde coletiva, pois seu objetivo é estudar a estrutura social de determinado grupo. A sua coleta de dados, normalmente, é realizada por meio da aplicação de questionários e formulários que possibilitam uma análise quantitativa. Mas, isso não é regra e a pesquisa de campo pode ser também realizada por meio de análise qualitativa. No tipo de pesquisa de estudo de caso, objetiva-se realizar a “[...] investigação de um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real, onde os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente percebidos” (Gil, 2002, p. 54). Com relação à sua forma de coleta de dados, Gil (2002, p. 132) expõe que: O processo de coleta de dados no estudo de caso é mais complexo que o de outras modalidades de pesquisa. Isso porque ([...] no estudo de caso utiliza-se sempre mais de uma técnica. Isso constitui um princípio básico que não pode ser descartado. Obter dados mediante procedimentos diversos é fundamental para garantir a qualidade dos resultados obtidos. Os resultados obtidos no estudo de caso devem ser provenientes da convergência ou da divergência das observações obtidas de diferentes procedimentos. Dessa maneira é que se torna possível conferir validade ao estudo, evitando que ele fique subordinado à subjetividade do pesquisador. Com isso, concluímos a nossa discussão sobre a relação do tipo de pesquisa com a coleta de dados e vamos passar a conhecer os instrumentos de pesquisa utilizados nas coletas, bem como os métodos para se analisar os dados adquiridos por meio desses instrumentos. TEMA 3 – MÉTODOS PARA ANÁLISE DOS DADOS E INSTRUMENTOS DE COLETA DOS DADOS Os dados são todo o material coletado no campo e que ajudarão no cumprimento dos objetivos de uma pesquisa. A coleta dos dados ocorre com base em um modelo escolhido: ● mediante análise de conteúdo; ● mediante análise temática; ● à luz de uma teoria ou autor; ● com apoio de softwares. São considerados como instrumentos de coleta de dados primários: formulários, questionários, entrevistas e observação estruturada. Conforme vimos anteriormente, a escolha desse instrumento será realizada de acordo com o tipo de pesquisa a ser realizada. Diante disso, o pesquisador pode utilizar um instrumento já existente e, fazendo ele essa opção, será preciso que avalie se todos os questionamentos propostos pelo instrumento escolhido são pertinentes ao objetivo do seu estudo. Caso os instrumentos existentes não contemplem a sua necessidade, então será preciso criar a sua ferramenta de coleta de dados e, para isso, ele deverá considerar alguns elementos, conforme demonstrado na Figura 4. Figura 4 – Relação de perguntas feitas para elaboração de um instrumento de coleta de dados (ICD) Fonte: Elaborado com base em Perovano, 2016, p. 336. A Figura 4 demonstra que os elementos escolhidos para compor o ICD devem auxiliar a busca pela compreensão da resposta ao objetivo da pesquisa, considerando as suas possíveis variáveis. Por isso, antes de se elaborar um ICD, é preciso ter a fundamentação teórica do estudo, pois o conhecimento adquirido com as demais bibliografias dá base para se elaborar questionamentos pertinentes ao objetivo da pesquisa. Sabendo isso, vamos passar a falar sobre os instrumentos propriamente ditos. É muito comum, ao elaborarmos a metodologia de uma pesquisa, ficarmos em dúvida quanto à utilização da ferramenta empregada, e raramente nos questionamos se estamos aplicando um questionário ou um formulário ou uma entrevista e optamos pelo instrumento pela afinidade que temos com ele e não por sua aplicabilidade. Então, para que isso não aconteça com você, vamos esclarecer as diferenças entre esses instrumentos (Quadro 1). Quadro 1 – Diferença entre entrevista, questionário e formulário Instrumen to Apresentação das questões Recebimento das respostas Entrevista Oralmente Oralmente Questioná rio Por escrito Por escrito Formulári o Por escrito Oralmente Fonte: Martins et al., 2016, p. 7. Perovano (2016) relata que, entre as três ferramentas descritas no Quadro 1, os questionários estão entre os mais utilizados pelos pesquisadores. Entre os benefícios desses instrumentos, destaca-se a sua agilidade para obter respostas. Além disso, esse tipo de instrumento facilita a comparação entre os dados obtidos. Por outro lado, tem-se a dificuldade de retorno dos questionários enviados e a incapacidade de eles captarem se há compreensão dos questionamentos por parte do pesquisado – por isso, ao se elaborar um questionário, é preciso que sejam utilizadas palavras de fácil entendimento e que a sua redação tenha clareza nos questionamentos efetuados. Os questionários podem conter apenas perguntas abertas (discursivas), apenas fechadas (múltipla escolha, seleção etc.) ou os dois tipos de pergunta (o que é denominado como questionário semiestruturado). A forma de realização do questionário dará o direcionamento da abordagem da pesquisa (se ela é quantitativa, qualitativa ou quali-quanti). O formulário aproxima-se muito do questionário, mas difere-se deste na sua forma de aplicação, pois nela o pesquisador realiza a pesquisa com o participante, ou seja, ele fará os questionamentos, fazendo com os atores fiquem frente a frente, tornando possível a explicação dos questionamentos sem, contudo, uso de interferência ou influência nas respostas. A desvantagem desse instrumento é a possibilidade de coerção do pesquisado, que pode se sentir envergonhado ou intimidado e distorcer as respostas para elas parecerem supostamente mais aceitáveis. Além disso, o formulário apresenta uma maior dispensação de recursos financeiros, para o pesquisador se locomover e realizar/aplicar os formulários, bem como demanda maior tempo de coleta de dados (Diehl; Tatim, 2004). No instrumento denominado como entrevista, será preciso que o pesquisador possua um rol de questionamentos a serem realizados e, assim como no questionário, as entrevistas podem se realizar em três formatos (fechadas, abertas ou com os dois tipos de perguntas). A entrevista é utilizada quando se quer saber mais sobre fatos vividos pelos entrevistados; assim, sugere-se a utilização de entrevista quando o pesquisador pretende