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XXIV Encontro Anual de Iniciação Científica - UEPG 11 e 13 de Novembro de 2015 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS: UMA ANÁLISE DE SUA EFICÁCIA A PARTIR DOS CONCEITOS DE SOCIOEDUCAÇÃO E RESSOCIALIZAÇÃO Área: Ciências Sociais Aplicadas - Direito Forma de Apresentação: Apresentação Oral Bolsa: PROVIC Instituição: UEPG - Universidade Estadual de Ponta Grossa Autor Tipo E-mail William Hilgemberg APRESENTADOR william.hilgemberg@gmail.com Dirceia Moreira ORIENTADOR Palavras-Chave: Estatuto da Criança e do Adolescente; Socioeducação; Medidas Socioeducativas MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS: UMA ANÁLISE DE SUA EFICÁCIA A PARTIR DOS CONCEITOS DE SOCIOEDUCAÇÃO E RESSOCIALIZAÇÃO William Hilgemberg (PROVIC/Fundação Araucária/UEPG), Dirceia Moreira, e-mail: dirceia@dirceiam.com.br. Universidade Estadual de Ponta Grossa/ Departamento de Direito Processual. Ciências Sociais Aplicadas. Direito Penal. Palavras-chave: Estatuto da Criança e do Adolescente, Socioeducação, Medidas Socioeducativas. Resumo A pesquisa, de cunho exploratório, tem por objetivo geral analisar, a partir das pesquisas já realizadas, as medidas socioeducativas, tendo em vista seu objetivo declarado de socioeducação em comparação com o objetivo de ressocialização declarado para as penas. Para atingir o objetivo geral, por meio de pesquisa bibliográfica e documental de cunho qualitativo, buscou-se, principalmente: caracterizar o sistema socioeducativo, a partir da Lei nº 8.069/90, Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e da Lei nº 12.594/2012, Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), e o sistema de execução penal, a partir da Lei nº 7.210/84, Lei de Execução Penal (LEP), buscando determinar os objetivos declarados na legislação para socioeducação e para a ressocialização; distinguir as categorias socioeducação, reinserção social e ressocialização. Restou evidenciado que existem, tanto no sistema de execução penal quanto no Encontro de Pesquisa da Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG http://sites.uepg.br/eaic/eaic2015/artigo.php?id_artigo=809 1 de 5 20/10/2015 16:33 socioeducativo, fragilidades decorrentes da não efetivação por parte do Estado de políticas públicas de segurança e de políticas públicas voltadas a socioeducação, determinando que os objetivos legais declarados de ressocialização, no que toca a execução da pena, e de socioeducação, no que diz respeito ao adolescente autor de ato infracional, não estejam sendo atingidos. Introdução O interesse em se buscar fazer uma análise comparativa entre a execução da pena aplicada aos maiores de 18 anos, legalmente considerados imputáveis penalmente, e a execução das medidas socioeducativas, aplicadas aos adolescentes autores de ato infracional, assim considerados aqueles entre 12 e 18 anos, portanto, inimputáveis penalmente, a partir de seus objetivos declarados na legislação de ressocialização e socioeducação, respectivamente, se deu em razão das diversas propostas de Emenda à Constituição que tramitam no Senado Federal (PECs 20/1999, 90/2003, 74 e 83/2011, 21/2013 e PEC 33/2012) com a finalidade de reduzir a idade penal de 18 para 16 anos, buscando punir os adolescentes autores infratores com maior rigor, tendo sempre como um de seus argumentos a ineficácia das medidas socioeducativas no tocante a socioeducação ou ressocialização do adolescente autor de ato infracional. Revisão de literatura A pesquisa é de caráter exploratório, qualitativa, tendo sido usadas como técnicas a pesquisa bibliográfica e documental. Inicialmente foi realizada pesquisa bibliográfica denominada Estado da Arte, na base de dados do CAPES, utilizando-se dos seguintes buscadores:socioeducação; medidas socioeducativas; adolescente autor de ato infracional; ato infracional, ressocialização e redução da maioridade penal, para se verificar o que já havia sido produzido acerca da socioeducação e da ressocialização. Posteriormente, foi levado a efeito um levantamento das pesquisas já realizadas que tiveram por objetivo avaliar tanto a execução das medidas socioeducativas, quanto a execução de penas no Brasil, sempre sob o prisma de se atingir ou não os objetivos declarados na lei para a socioeducação e para ressocialização. Resultados e Discussão A adoção, pelo art. 227 de Constituição Federal de 1988, da Doutrina da Proteção Integral, fundada no valores dos Direitos Humanos veio concretizar os Direitos Fundamentais para as crianças e adolescentes, transformando-os em sujeito de direito (RAMIDOFF, 2008). Para efetivação de tais diretos, foi promulgado o ECA e, recentemente, o Sinase, formando o conjunto de dispositivos legais que regulamentam o sistema socioeducativo e a socioeducação. As medidas socioeducativas aplicáveis aos adolescentes autores de ato infracional, sendo este definido pelo art. 103 do ECA como a conduta descrita como crime ou contravenção penal, estão determinadas no art. 112 do ECA, sendo elas: advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços a comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação. A medida socioeducativa em sua essência tem caráter educativo-pedagógico, onde o adolescente deve ser estimulado para a própria organização de sua vida, Encontro de Pesquisa da Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG http://sites.uepg.br/eaic/eaic2015/artigo.php?id_artigo=809 2 de 5 20/10/2015 16:33 compreendendo as relações interpessoais e as regras que o permeiam (RAMIFOFF, 2008, pg. 103). Segundo o disposto no art. 1º do Sinase os objetivos das medidas socioeducativas são: a responsabilização do adolescente quanto às consequências lesivas do ato infracional, sempre que possível incentivando a sua reparação; a integração social do adolescente e a garantia de seus direitos individuais e sociais, por meio do cumprimento de seu plano individual de atendimento; e a desaprovação da conduta infracional, efetivando as disposições da sentença como parâmetro máximo de privação de liberdade ou restrição de direitos, observados os limites previstos em lei. Aos maiores de 18 anos, imputáveis, pela prática de crime ou contravenção penal, segundo o disposto no art. 32 do Código Penal, aplicam-se as penas privativas de liberdade, restritivas de direito e a multa. A LEP, em seu art. 1º determina que "A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado" devendo o Estado recorrer à cooperação da comunidade nas atividades de execução da pena e da medida de segurança. Todavia, devido a falta de estrutura não é o que ocorre. Apesar da aparente semelhança as categorias de socioeducação, reintegração social e ressocialização, diferem conceitualmente. Para Adimari (apud Zanella (2011) a socioeducação é definida na aplicação de sanção fundamentalmente pedagógica tratando do desenvolvimento de ações educativas que visem à formação para a cidadania. Para Baratta (2015), a ressocialização não é o melhor termo a se usar, uma vez que denota uma posição passiva do indivíduo e ativa do Estado e da sociedade num papel de superioridade. De outra forma a reintegração social importaria em uma abertura de comunicação e interação entre a prisão e a sociedade (BARATTA, 2015, p.3), de forma que o aprisionado possa ter a oportunidade de visualizar-se mais fora do que dentro da prisão, sendo reinserido na sociedade por meio hábeis a proporcionar sua permanência e subsistência no meio comum a todos, e não fechado a um núcleo social de excluídos. A reinserção seria, então, o último momento quando do efetivo retorno do apenado ao convívio social.O relatório de pesquisa divulgado em 2015, pelo Instituto de Pesquisas Aplicadas-IPEA, sobre a reincidência criminal no Brasil, alerta para a dificuldade em estabelecer um critério de aferição da ressocialização, elegendo a reincidência em sua concepção estritamente legal, mesmo reconhecendo como não sendo o melhor, para tratar da ressocialização dos apenados do sistema prisional brasileiro. Os dados colhidos na pesquisa do IPEA apontam a taxa de reincidência dos apenados em 46,03%. A faixa etária no momento do crime, em 42,1%, era de 18 a 24. Constatou-se que 8,8% dos apenados são analfabetos, e a maioria dos apenados, e também reincidentes, tem o ensino fundamental incompleto como grau de escolaridade – 42,0% e 58,5% respectivamente. A pesquisa não identificou a existência ações voltadas aos egressos do sistema prisional, havendo, portanto poucas, quando não inexistentes, ações de efeito “ressocializador”. No levantamento de dados do Programa Justiça ao Jovem vinculado ao Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário do Conselho Nacional de Justiça – CNJ, e do Levantamento Anual dos/as Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa – 2012 da Secretaria de Direitos Humanos – SDH, a reincidência em ato infracional tem uma taxa de Encontro de Pesquisa da Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG http://sites.uepg.br/eaic/eaic2015/artigo.php?id_artigo=809 3 de 5 20/10/2015 16:33 43%. A idade média dos adolescentes em cumprimento de medida de privação de liberdade é de 16,7 anos. Dos adolescentes inseridos nos programas de execução de medidas socioeducativas 8% do total foi considerado analfabeto e 89% interrompeu seus estudos aos 14 anos não concluindo o ensino fundamental, este compreendido entre a 1ª e 8ª série, que sem reprovações é concluído aos 14 anos. O percentual de acompanhamento dos egressos no Brasil é de 18,44%, um número nitidamente baixo e contrário às disposições do art. 94, XVIII do ECA e do art. 11, V, do Sinase. A ausência de políticas públicas de base visando à proteção e efetivação de direitos fundamentais e o descaso das autoridades com a política socioeducativa infelizmente transformam a socioeducação em um “discurso de fachada” (ROSA, 2011, pg. 355). Conclusões Verificou-se pelas pesquisas existentes que nem o sistema de execução penal, nem o sistema socioeducativo, vêm cumprindo os objetivos de ressocialização e socioeducação, com uma proximidade no que se refere as taxas de reincidência. Em especial, com relação ao sistema socioeducativo, constatou-se o prevalecimento do aspecto punitivo sobre o socioeducativo. Percebeu-se, ainda, que a não aplicação do ECA em sua totalidade, devido a deficiência das políticas públicas que tornem o SGD efetivo e, em especial, com respeito a socioeducação, impedem que ela se realize nos termos formalmente determinados, tanto pelo ECA quanto pelo Sinase. Essa ausência por parte do Estado de um integral cumprimento da legislação é um dos fatores que leva a setores conservadores da sociedade, reiteradamente, trazerem a discussão temas como o rebaixamento da idade penal e o endurecimento da legislação relativamente ao adolescente autor de ato infracional. A efetiva concretização do estabelecido no ECA e no Sinase, relativamente a forma de cumprimento das medidas socieducativas, poderia indicar eventuais reformulações para avançar no sentido de que o objetivo legal declarado da socioeducação fosse alcançado. Agradecimentos Agradeço a UEPG pela oportunidade desta pesquisa, a Fundação Araucária, pelo fomento, e à orientadora Dirceia Moreira pelo apoio e dedicação. Referências BARATTA, Alessandro. Ressocialização ou controle social: uma abordagem crítica da “reintegração social” do sentenciado. Alemanha. Disponível em: http://www.juareztavares.com/textos/baratta_ressocializacao.pdf. Acesso em: 20 de julho 2015. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. ________. Lei Federal nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em 19 de maio de 2014. ________. Lei Federal nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012. Institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12594.htm. Acesso Encontro de Pesquisa da Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG http://sites.uepg.br/eaic/eaic2015/artigo.php?id_artigo=809 4 de 5 20/10/2015 16:33 em 04 de junho de 2014. ________. Panorama Nacional: a execução das medidas socioeducativas de internação.Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 2012. ________. Relatório de pesquisa: reincidência criminal no Brasil.Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), 2015. ________. Levantamento anual dos/as adolescentes em conflito com a lei – 2012. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), 2013. RAMIDOFF, Mário Luiz. Lições de direito da criança e do adolescente. 2. tir. Curitiba: Juruá, 2006. ROSA, Alexandre Morais da. Introdução Crítica ao Ato Infracional: Princípios e Garantias Constitucionais. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. SCHMIDT, Fabiana. Adolescente Privados de Liberdade. Curitiba: Juruá, 2009. VOLPI, Mário (Org.). O adolescente o ato infracional. São Paulo:Cortez, 1997. ZANELLA, M. N. Bases teóricas da Socioeducação: análise das práticas de intervenção e metodologias de atendimento do adolescente em situação de conflito com a lei. Dissertação de Mestrado- Universidade Bandeirante de São Paulo, São Paulo, 2011. ISSN: Anais do Encontro de Pesquisa da Universidade Estadual de Ponta Grossa - Ponta Grossa/PR - 11 e 13 de Novembro de 2015 - http://eaic.uepg.br/ Voltar Imprimir Encontro de Pesquisa da Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG http://sites.uepg.br/eaic/eaic2015/artigo.php?id_artigo=809 5 de 5 20/10/2015 16:33
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