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Serviço Social – 1° Período
 Kelen Cristina Aparecida da Silva Quilupas
 O Objeto do Serviço Social e Suas Expressões na Sociedade 
 
 Trindade - GO
 2013
 
 
 Kelen Cristina Aparecida da Silva Quilupas
	
O Objeto do Serviço Social e Suas Expressões na Sociedade 
As expressões da questão social no surgimento do Serviço social e na atualidade.
Trabalho apresentado em requisito à produção textual individual relativa ao 1° semestre. Portfólio para as Disciplinas de: 
Sociologia 
Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I 
Ciência Política 
Filosofia
 
SUMÁRIO
1. Introdução.........................................................................................................02
2. Contexto Histórico............................................................................................02
3.O objeto .............................................................................................................03
4.A questão social no Brasil..................................................................................07
5.Conclusão...........................................................................................................09
Referências............................................................................................................10
 
 
INTRODUÇÃO
Os problemas que assolam nossas vidas, de desemprego a seqüestros, de secas a violência, provocam diversos desajustes na conjuntura político-social do Brasil. Tais problemas são encarados como questões sociais. Procura-se ver o que uma coisa leva a outra, e desta a mais outra ainda.
A preocupação diante deles estão quando ultrapassam níveis considerados normais, portanto controlável pelo poder, que esteve e está nas mãos das elites políticas e econômicas.
A questão social desde muito é encarada pela própria sociedade como responsabilidade tão e somente do governo. Por outro lado os problemas sociais passaram a ser encarados como decorrentes da carência de recursos materiais e intelectuais, assim com da pobreza. Esta, por sua vez, vista como causa individual e de responsabilidade de cada um.
Esses fenômenos sociais são tidos como éticos e morais, associados à permanência da ordem social do governante que está no poder. Muitas experiências foram feitas por governos locais no sentido de combater os problemas sociais. Ter como objeto de análise o objeto do Serviço Social é sempre um desafio. O Serviço Social é uma profissão legitimada socialmente, isto significa que ele tem uma função social. As profissões são criadas para responderem às necessidades dos homens. O desenvolvimento das forças produtivas coloca as necessidades de novas profissões, assim como considera outras desnecessárias. Mas, mesmo respondendo a uma necessidade social, o que pode ser corroborado pelo número de assistentes sociais inseridos no mercado de trabalho; pelo fato de que eles, efetivamente, trabalham desenvolvendo ações que tem um produto, produto social com dimensões econômicas e políticas; ainda assim, o Serviço Social mantém, historicamente, o dilema da especificidade profissional. Especificidade, esta, que é dada pelo objeto profissional. Em termos bastante simples, a questão é: sobre o que trabalha o Serviço Social? A resposta a esta questão responde, também, com qual objetivo trabalha o Serviço Social.O objeto do Serviço Social, neste sentido, está, intimamente, vinculado a uma visão de homem e mundo; fundamentado numa perspectiva teórica que, no modo capitalista de produção, implica em uma opção política – a teoria norteadora da ação, a ação que re-constrói a teoria, demonstram de que lado está o Serviço Social. E, desde o Movimento de Reconceituação, o Serviço Social tem construído uma ação voltada para a maioria da população. Mas esta não foi sempre sua história.
CONTEXTO HISTÓRICO
Do ponto de vista social, ocorreu uma grande concentração humana nas cidades inglesas, devido ás profundas transformações que estavam ocorrendo nos campos. Desde o século XVII, a agricultura na Inglaterra vinha passando por uma profunda reestruturação. O processo conhecido como enclosures, ou cercamentos, buscava maior produtividade no campo, tendo o lucro como objetivo principal. Em linhas gerais, o cercamento é a substituição do sistema de exploração agrícola de subsistência, típico do regime feudal, pela exploração em larga escala geral, tinham como objetivo a substituição da agricultura pela criação de carneiros, a fim de fornecer lã para a indústria. O sistema de enclosures levou uma grande massa de camponeses à miséria, forçando-os a abandonar suas terras em busca de trabalho nas cidades, que estavam em franco crescimento. A situação decorre do fato de que “no sistema comunal, as terras, tanto as do senhor quanto as do arrendatário, não são contínuas e sim divididas em parcelas distribuídas pelos dois ou três campos de cultivo, os quais permanecem abertos. O cercamento vai consistir, precisamente, na reunião em um só bloco das várias parcelas pertencentes a cada um, seguida do seu cercamento, transformando-o em campo fechado. Cessam, então, os ‘direitos comuns’, que beneficiavam a todos, e o senhor, possuidor de um ou dois terços das parcelas, estende suas propriedades sobre as ‘terras comuns’(bosques, prados, pastagens, pântanos), forçando a maior parte dos camponeses a abandonar ou vender as terras que ocupam” (Santos, 1965, p.25) Como conseqüência dessas mudanças no campo, as cidades cresceram enormemente, devido ao afluxo das massas de camponeses atraídos para o trabalho nas fábricas, formando o proletariado industrial. As cidades também atraíram a indústria e aumentou substancialmente o processo de urbanização. Entre 1790 e 11841, Londres passou de 1 milhão de habitantes a perto de 2,5 milhões. O rápido processo de urbanização provocou a degradação do espaço urbano anterior, do meio ambiente e a destruição dos valorestradicionais. As condições de habitabilidade se agravaram com o surgimento de novos problemas, tais com a contaminação do ar e da água e acúmulo sem igual de detritos humanos e industriais, entre outros. Além disso, ocorria uma monstruosa exploração do homem pelo homem nas fábricas, onde se trabalhava em jornadas de mais de 16 horas por dia e crianças e mulheres eram empregadas por salários ultrajantes e viviam em precárias condições (na sua maioria aglomeradas em casas sujas, em péssimo estado, superlotadas e sem a mínima infra-estrutura, como água e esgoto, que eram jogados na rua, a céu aberto). Essa condição urbana provocava problemas sociais gravíssimos advindos da rápida urbanização: doenças, ausência de moradia, prostituição, alcoolismo, suicídios, surtos de violência, epidemias de tifo, cólera, entre outros. Um dos surtos de violência mais significativos foi provocado pela mobilização dos trabalhadores, dos quais as máquinas estavam tirando empregos e deveriam, segundo eles, ser destrutivas: esse movimento entrou na história como o Movimento dos Luditas. Acrescente-se a tudo isso a concentração de máquinas, terras e ferramentas sob o controle de poucos indivíduos, e fica bastante claro por que emergiu com bastante intensidade a ‘questão social’. Em torno de 1850, embora um número significante de habitantes da Inglaterra mantivesse suas ocupações tradicionais, usando técnicas e métodos de organização antiquados, em sua maioria tiveram seu meio de vida mudado radicalmente pela Revolução Industrial e seus desdobramentos em outros campos – como o crescimento da população e seu deslocamento do campo para a cidade; a melhoria do sistema de transporte, que ampliou o mercado interno para muitos produtos que até então eram vendidos apenas localmente; “e pela expansão do comércio exterior que ampliou a variedade de artigos no mercado inglês e criou um grau sem precedentes de dependência do mercado mundial” (Deane, 1975, p. 293). Essa profundidade das transformações em curso colocava, para os filósofos da época, a sociedade num plano de análise; ou seja, por se construir num problema, tornava-se objeto de estudo.
O serviço social surgiu no Brasil em 1934, período em que o capitalismo ingressava na sua fase monopólica, onde houve a necessidade de um estado regulador das relações sociais, em razão dos antagonismos gerados entre capital e trabalho nesta fase do capitalismo. Tratava-se de um contexto de urbanização da sociedade brasileira que se deu com a industrialização de sua economia, posta esta pela necessidade do capital, em nível mundial, o qual precisava introduzir um novo modelo de produção para a retomada do aumento da taxa de lucro. Com o surto industrial, que atraiu para as cidades aqueles que se encontravam na lavoura, meio de sobreviver da população até o momento, pois se tratava de uma economia agrária, surge um novo segmento de trabalhadores e junto com ele, uma série de situações de desconforto, causado pela sua exposição, dentro e fora das fábricas, a condições subumanas. Esses trabalhadores eram desprovidos de qualquer política de seguridade dentro das fábricas, além de serem expostos a duras jornadas de trabalho. Fora das fábricas sua situação era igual, suas condições de moradia eram precárias, não tinham assistência à saúde ou de qualquer outro tipo, ficando o ônus de sua reprodução por sua conta, que só poderia ser suprido através do seu salário, conseguido através da venda de sua força de trabalho, o que era agravado pelo fato de os salários serem baixos e ainda devido às fábricas, por estarem em momento de sua implantação, não terem capacidade de absorver toda a demanda por trabalho. Esses trabalhadores vinham se mobilizando para que as suas condições de miserabilidade fossem reconhecidas pelos capitalistas, exigindo deles outra postura. Suas reivindicações giravam em torno de melhores condições de vida dentro e fora das fábricas, e foram através de muita pressão de suas manifestações, respondidas, quase sempre com repressão, que esses trabalhadores fizeram algumas conquistas, culminando no reconhecimento da existência da “questão social” e no seu tratamento como questão política. A questão social deixou de ser tratada como caso de polícia para ser reconhecida como deficitária da relação entre capital e trabalho, pois os capitalistas tiveram de reconhecer que não era mais possível dominar pela repressão, uma vez que este tratamento gerava conflitos e interferia de maneira negativa no processo de produção. Sentia-se assim a necessidade da criação de “consensos”.
O OBJETO
Da incapacidade individual às determinações estruturais
Em 62 anos, 1937 a 1999, o Serviço Social realizou uma transformação no interior da profissão. Começou creditando aos homens a “culpa” pelas situações que vivenciavam, e acreditando que uma prática doutrinária, fundamentada nos princípios cristãos, era a chave para a “recuperação da sociedade”. Chega, em 1999, assumindo uma postura marxiana, analisando que a forma de produção social é a causa prioritária das desigualdades – os homens, individualmente, não são desiguais, a forma de produção e apropriação do produto social é que produz as desigualdades, modo de produção este que deve ser reproduzido, para manter a dominação de classe. É um salto elogiável para uma profissão que começou querendo moldar os homens de acordo com os princípios cristãos de respeito à autoridade, e, hoje, tem, nos homens, a autoridade máxima a ser respeitada; uma profissão que tinha nos homens o objeto do seu trabalho, e, hoje, entende que os homens são sujeitos da história.O objeto do Serviço Social, no Brasil, tem, historicamente, sido delimitado em virtude das conjunturas políticas e sócio-econômicas do país, sempre tendo-se em vista as perspectivas teóricas e ideológicas orientadoras da intervenção profissional.Assim, é que, no início do Serviço Social no Brasil, 1937, o objeto definido era o homem, mas um homem específico: o homem morador de favelas, pobre, analfabeto, desempregado, etc. Enfim, entendia-se que esse homem era incapaz, por sua própria natureza, de “ascender” socialmente. Daí que o objeto do Serviço Social era este homem, tendo por objetivo moldá-lo, integrá-lo, aos valores, moral e costumes defendidos pela filosofia neotomista.Posteriormente, o Serviço Social ultrapassa a idéia do homem como objeto profissional. Passa-se à compreensão de que a situação deste homem – analfabeto, pobre, desempregado, etc. – é fruto, não só de uma incapacidade individual, mas, também, de um conjunto de situações que merecem a intervenção profissional. O objeto do Serviço Social se coloca, então, como a situação social problema:
“... o Serviço Social atua na base das inter-relações do binômio indivíduo-sociedade. [...] Como prática institucionalizada, o Serviço Social se caracteriza pela atuação junto a indivíduos com desajustamentos familiares e sociais. Tais desajustamentos muitas vezes decorrem de estruturas sociais inadequadas” (Documento de Araxá, 1965, p.11).
Na década de 70, com a mobilização popular contra a ditadura militar, o Serviço Social revê seu objeto, e o define como a transformação social. Apesar do objeto equivocado, afinal a transformação social não se constitui em tarefa de nenhum profissional – é uma função de partidos políticos; o que este objeto, efetivamente, representou foi a busca, pelas assistentessociais, de um vínculo orgânico com as classes subalternizadas e exploradas pelo capital. E é esta postura política que tem marcado os debates do Serviço Social até os dias atuais. Teoricamente, o Serviço Social passa a orientar-se pela análise marxiana da sociedade burguesa, mas abandonou a transformação social como objeto profissional e, no âmbito da ABESS/CEDEPSS **, o objeto passou a ser definido como a questão social, ou as expressões da questão social:
“O assistente social convive cotidianamente com as mais amplas expressões da questão social, matéria prima de seu trabalho. Confronta-se com as manifestações mais dramáticas dos processos da questão social no nível dos indivíduos sociais, seja em sua vida individual ou coletiva” (ABESS/CEDEPSS, 1996, p. 154-5).
O que é questão social?
A concepção de questão social está enraizada na contradição capital x trabalho, em outros termos, é uma categoria que tem sua especificidade definida no âmbito do modo capitalista de produção. A concepção de questão social mais difundida no Serviço Social é a de CARVALHO e IAMAMOTO, (1983, p.77):
“A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão”.
Não contraditória à esta concepção, temos a de TELES, (1996, p. 85):
“... a questão social é a aporia das sociedades modernas que põe em foco a disjunção, sempre renovada, entre a lógica do mercado e a dinâmica societária, entre a exigência ética dos direitos e os imperativos de eficácia da economia, entre a ordem legal que promete igualdade e a realidade das desigualdades e exclusões tramada na dinâmica das relações de poder e dominação”.
Portanto, a questão social é uma categoria que expressa a contradição fundamental do modo capitalista de produção. Contradição, esta, fundada na produção e apropriação da riqueza gerada socialmente: os trabalhadores produzem a riqueza, os capitalistas se apropriam dela. É assim que o trabalhador não usufrui das riquezas por ele produzidas. A questão social representa uma perspectiva de análise da sociedade. Isto porque não há consenso de pensamento no fundamento básico que constitui a questão social. Em outros termos, nem todos analisam que existe uma contradição entre capital e trabalho. Ao utilizarmos, na análise da sociedade, a categoria questão social, estamos realizando uma análise na perspectiva da situação em que se encontra a maioria da população – aquela que só tem na venda de sua força de trabalho os meios para garantir sua sobrevivência. É ressaltar as diferenças entre trabalhadores e capitalistas, no acesso a direitos, nas condições de vida; é analisar as desigualdades e buscar forma de superá-las. É entender as causas das desigualdades, e o que essas desigualdades produzem, na sociedade e na subjetividade dos homens. E as conseqüências da apropriação desigual do produto social são as mais diversas: analfabetismo, violência, desemprego, favelização, fome, analfabetismo político, etc.; criando “profissões” que são frutos da miséria produzida pelo capital: catadores de papel; limpadores de vidro em semáforos; “avião” – vendedores de drogas; minhoqueiros – vendedores de minhocas para pescadores; jovens faroleiros – entregam propagandas nos semáforos; crianças provedoras da casa – cuidando de carros ou pedindo esmolas, as crianças mantêm uma irrisória renda familiar; pessoas que “alugam” bebês para pedir esmolas; sacoleiros – vivem da venda de mercadorias contrabandeadas; vendedores ambulantes de frutas; etc. Além de criar uma imensa massa populacional que freqüenta igrejas, as mais diversas, na tentativa de sair da miserabilidade em que se encontram. Como toda categoria arrancada do real, nós não vemos a questão social, vemos suas expressões: o desemprego, o analfabetismo, a fome, a favela, a falta de leitos em hospitais, a violência, a inadimplência, etc. Assim é que, a questão social só se nos apresenta nas suas objetivações, em concretos que sintetizam as determinações prioritárias do capital sobre o trabalho, onde o objetivo é acumular capital e não garantir condições de vida para toda a população. Neste terreno contraditório entre a lógica do capital e a lógica do trabalho, a questão social representa não só as desigualdades, mas, também, o processo de resistência e luta dos trabalhadores. Por isto ela é uma categoria que reflete a luta dos trabalhadores, da população excluída e subalternizada, na luta pelos seus direitos econômicos, sociais, políticos, culturais. E é aí, também, que residem as transformações históricas da concepção de questão social. O avanço das organizações dos trabalhadores e das populações subalternizadas coloca em novos patamares a concepção de questão social. Se, no período ditatorial brasileiro pós-64 a luta prioritária era romper com a dominação política, hoje a luta é pela consolidação da democracia e pelos direitos de cidadania. As transformações no mundo do trabalho, seja com a substituição do homem pela máquina, seja pela erosão dos direitos trabalhistas e previdenciários, exigem, também, que se reatualize a concepção de questão social. Importa ressaltar que a questão social é uma categoria explicativa da totalidade social, da forma como os homens vivenciam a contradição capital – trabalho. Ela desvenda as desigualdades sociais, políticas, econômicas, culturais, bem como coloca a luta pelos direitos da maioria da população, ou, como os homens resistem à subalternização, à exclusão, e à dominação política e econômica. Considerando a concepção de questão social aqui, minimamente, debatida, resta-nos perguntar se é possível que ela se constitua em objeto do Serviço Social.
Questão Social: Objeto do Serviço Social?
IAMAMOTO, (1997, p. 14), define o objeto do Serviço Social nos seguintes termos:
“Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na saúde, na assistência social pública, etc. Questão social que sendo desigualdade é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam as desigualdades e a ela resistem, se opõem. É nesta tensão entre produção da desigualdade e produção da rebeldia e da resistência, que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movido por interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou deles fugir porque tecem a vida em sociedade. [...] ... a questão social, cujas múltiplas expressões são o objeto do trabalho cotidiano do assistente social”.
É indiscutível a inserção da intervenção do Serviço Social no âmbito das desigualdades sociais, ou, mais amplamente, da questão social. Entretanto, considerando a concepção de questão social, é de se perguntar se a mesma, ou suas expressões, podem se constituir em objeto de uma única profissão. Estamos partindo da concepção de que o objeto é o que demonstra, coloca a especificidade profissional. Ora, entender a questão social como objeto específico do Serviço Social, das duas uma: ou se destitui a questão social de toda a abrangênciaconceitual, ou se retoma a uma visão do Serviço Social como o único capaz de atuar nas mudanças/transformações da sociedade. Se pensarmos na abrangência da concepção de questão social, concluiremos que as mais diversas profissões têm suas atuações determinadas por ela: o médico que atende problemas de saúde causados por fome, insegurança, acidentes de trabalho, etc.; o engenheiro que projeta habitações a baixo custo; o advogado que atende as pessoas sem recursos para defender seus direitos; enfim, os mais diferentes profissionais que, também, atuam nas expressões da questão social. Há, ainda, outra reflexão possível: em sendo a questão social uma categoria que explicita, expressa, as desigualdades geradas pelo modo de produção capitalista, ela se colocaria, também, como objeto de todos aqueles que apostam no capitalismo como a forma perfeita de produção da vida social. Assim, ela, também, se expressaria nas políticas econômicas, sociais, culturais, traçadas em âmbito governamental, para manter as classes que vivem do trabalho subordinadas e dominadas. Ou seja, se a manifestação da desigualdade, a luta pelos direitos sociais e de cidadania, são uma expressão da questão social, não interessa as classes detentoras dos poderes políticos e econômicos que haja um acirramento da contradição, viabilizando, desta forma, espaços de organização da população. Neste sentido, a contradição capital – trabalho também é um objeto dos que buscam, na manutenção do capitalismo, a garantia de privilégios econômicos e políticos.
Segundo FALEIROS, (1997, P. 37):
“... a expressão questão social é tomada de forma muito genérica, embora seja usada para definir uma particularidade profissional. Se for entendida como sendo as contradições do processo de acumulação capitalista, seria, por sua vez, contraditório colocá-la como objeto particular de uma profissão determinada, já que se refere a relações impossíveis de serem tratadas profissionalmente, através de estratégias institucionais/relacionais próprias do próprio desenvolvimento das práticas do Serviço Social. Se forem as manifestações dessas contradições o objeto profissional, é preciso também qualificá-las para não colocar em pauta toda a heterogeneidade de situações que, segundo Netto, caracteriza, justamente, o Serviço Social”.
Portanto, definir como objeto profissional a questão social, não estabelece a especificidade profissional. Podemos entender na sugestão de FALEIROS, que qualificar a questão social significa apreender o que compete ao Serviço Social no âmbito da questão social. Se falarmos, por exemplo, nas expressões sociais da questão social, estaremos, minimamente, definindo um espaço de atuação profissional.
Há que se ressaltar que, para FALEIROS, entretanto, o objeto do Serviço Social se define pelo empowerment:
“A questão do objeto profissional deve ser inserida num quadro teórico-prático, não pode ser entendida de forma isolada. Penso que no contexto do paradigma da correlação de forças o objeto profissional do serviço social se define como empoderamento, fortalecimento, empowerment do sujeito, individual ou coletivo, na sua relação de cidadania (civil, política, social,incluindo políticas sociais), de identificação ( contra as opressões e discriminações), e de autonomia ( sobrevivência, vida social, condições de trabalho e vida...)” (fonte: correspondência pessoal, 15/10/1999)
Não estamos defendendo, aqui, a opção por um ou outro objeto. O fundamental é repensarmos como o objeto de Serviço Social tem sido colocado, e como poderemos revê-lo para darmos objetividade a atuação profissional. Entendemos que, a cada situação, temos que re-construir o objeto profissional. Entretanto, ele tem determinações mais amplas, e essa re-construção tem por finalidade, apenas, garantir, no processo de intervenção, as particularidades de cada situação, inserida no contexto específico de onde atuamos.
A QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL: A DIFÍCIL CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA
 As dificuldades por que passam os brasileiros são tidas como problemas sociais, estas por sua vez, se ultrapassarem ao nível considerado “normal”, passam a serem consideradas como fenômeno social.
O problema está, justamente, em se considerar normal o que é nocivo, pernicioso.
O que tem acontecido? Tem sido tênue a linha que liga a questão social com o que ela representa. Por exemplo, as injustiças e desigualdades sociais que não representam ameaças diretas ao controle político e da ordem são deixados à mercê, tolerados, deixados no campo daquilo que consideram como sendo normal. Já a violência, seqüestros, homicídios, dentre outros, por serem ameaças diretas à ordem e ao poder, têm prioridade da ação governamental, quando ganham investimentos pesados, mesmo sem grandes resultados, pois as suas causas estão vivas e bastantes potenciais.
É assim que fenômenos sociais, como pobreza, aqueles decorrentes das secas, são toleráveis, só ganham prioridade , quando associados aos que representam ameaças à ordem . Exemplo: quando a pobreza é associada à violência, então são tomadas algumas providências para que volte aos níveis aceitáveis, portanto controláveis.
E antes? Como era encarada a questão social? No final do século XIX, em decorrência dos grandes aglomerados urbanos, os problemas sociais cresceram, principalmente por causa do modelo econômico que explorava o trabalho livre. A pobreza e os demais problemas individuais, portanto de responsabilidade privada, ficava a cargo da filantropia, da caridade proveniente da elite econômica (sua própria causadora), saindo-se ainda com prestígio social pelos “atos fraternais”. E assim permanece nas primeiras décadas do século XX, e ainda agora, como fenômeno esporádico.
Uma mudança significativa houve com as transformações econômicas, com a formação das classes assalariadas urbanas (o operariado), somando-se aos imigrantes europeus, com experiências de lutas sociais de caráter anarquistas, quando lutavam por melhores condições de vida.
Mas a questão do bem-estar dos cidadãos (agora, os trabalhadores assalariados) nada tem a ver com os pobres (desempregados, considerados não-cidadãos).
A partir de 1930 a questão social do trabalho é matéria do governo, enquanto que o da pobreza (desvalidos) continua coisa da filantropia. Aqui há uma diferenciação entre problemas sociais e questões sociais. Um é indesejável, porém aceito, o outro, mais abrangente, é até legitimado, tido como permanente e estrutural.
Cidadania e pobreza assumiram características distintas. A primeira é vinculada ao trabalho , a segunda à situação de carência, à marginalização, a não contribuição aos cofres públicos, portanto ficando à mercê da caridade alheia. O que é bem diferente dos países europeus, onde a questão social é tratada com respeito. Aqui os direitos sociais não passam de políticas sociais, dirigidas a dois públicos distintos: direitos dos cidadãos e “assistência” social aos pobres.
Os cidadãos são protegidos por contribuírem, já os pobres, por não contribuírem, sobram programas de caráter filantrópico, e isso ainda, aos grupos mais carentes, portanto mais propício à ameaça social.
Outra característica assumida pela questão social brasileira é o caráter paternalista e clientelista nos diversos níveis do poder. Dessa forma firma-se na sociedade a imposição de uns e a subserviência de outros, do mais alto cargo ao mais baixo, e destes ao povo, em forma de apadrinhamento, de dependência, de sujeição aos direitos sociais, à personificação do Estado, aos grupos partidários locais, estaduais e nacionais.
É assim que as elites desses níveis se apoderam do poder e dos problemas e mazelas do povo para perpetuarem-se, mesmo que se revezando, no poder.
A questão social vinculou-se a dependênciaentre política econômica e a política social, estando centralizando ao Estado, ao poder, por considerarem o povo em geral (trabalhadores, desempregados) como incapaz de garantir sua sobrevivência, assim tolerando as associações populares (sindicatos, etc.), controlados, a serviço dos dois lados, para fazer valer o sistema protecionista e filantrópico, com raríssimos privilégios, no caso dos assalariados.
Desde a sua origem, o nosso sistema de proteção social, ao invés de existir para garantir a capacitação e inclusão dos cidadãos (desvalidos, desempregados, analfabetos, miseráveis) no mercado de trabalho, tem funcionado apenas para reproduzir o sempre atual sistema de reprodução de subalternidade, de subserviência, de apadrinhamento das classes assalariadas e do povo em geral para com aqueles detentores do poder econômico e político do país.
Então a questão social no Brasil é moldada de acordo com os interesses das elites políticas. A questão social, que com a questão trabalhista firma-se como proteção social (como direitos sociais e filantropia), assume característica paternalista, de política do favor, de patriarcalismo autoritário, ou seja, misérias transformam-se em instrumentos, armas de dominação, bem como a reprodução do sistema. Por isso, atualmente, direitos são vistos pela elite como privilégios, favores.
Historicamente, sabemos que o brasileiro tornou-se cordial e “permissivo”, manso, por moldagem forçada pelas elites políticas e econômicas, através das próprias políticas sociais . Estranhamente não foram os governos mais ditatoriais que mais sufocaram a questão social, mas nos períodos considerados democráticos, normais, quando os mais poderosos melhor se apropriaram do sistema e dos benefícios, passando o resto aos menos pobres, o restante aos pobres e as migalhas aos muito pobres. É aqui que está o traço dominador da política social.
No Brasil, ao contrário de muitos países, as políticas sociais não só reproduzem as desigualdades como aumentam a subalternidades dos desamparados. Isso é que é mais cruel e ditatorial, na essência da palavra.
É comum em hospitais públicos do interior uns serem melhor atendidos por serem eleitores do prefeito, outros até nem podem ser atendidos por terem votado na oposição. Isso sem contar o nepotismo e o clientelismo muito em voga.
Ficam todos os dependentes de serviços públicos à mercê da boa vontade dos funcionários públicos (assalariados, pagos pelo Estado, portanto pelos impostos do povo) para obterem o mínimo do direito básico que é seu.
A relação no Brasil entre cidadania e mercado, obedece a alguns critérios de proteção social estabelecidos: previdência social para aqueles que são assalariados na iniciativa privada, estabelecendo relações sociais entre os trabalhadores do setor privado. Mas esse sistema foi combatido nos anos 90pelas elites dirigentes por considerarem oneroso. Depois o Estado, passou a subsidiar os serviços, mas adotou a política de privatizações dos serviços sociais, quando esses serviços sociais passam a ser atividades lucrativas, fonte de acúmulo de capitais, portanto sujeitas às leis do mercado, enquanto que a população permanece descapitalizada.
É o caso do setor de energia, de telefonia e a indústria farmacêutica controlados pelo capital privado (e a te estrangeiro), tornando os serviços e produtos caros.
Com a crescente globalização econômica, acentua-se a privatização, quando a questão social deixa de ser associada ao mercado de trabalho para ser vinculada ao mercado de consumo. Atualmente o Estado procura diminuir o seu tamanho, ou seja, reduzir os custos.
O cidadão agora é visto pela sua capacidade de consumo, assim também a sua proteção social. Então é cada um por si, não existe a compensação das desigualdades sociais, das injustiças.
O povo se vê desvalido de direitos sociais básicos, enquanto que as elites políticas não articulam democracia política com democracia social, pois o país é uma das maiores economias do mundo e também é uma das maiores desigualdades sociais.
Direitos sociais cada vez mais passam a ser entendidos como necessidades sociais, pois os direitos estando privatizados vincula a proteção à capacidade produtiva de cada um. É o caso da aposentadoria, que deixou de ser regulada pelo tempo de trabalho para tempo de contribuição. Ou seja, que cada um se ampare, que se garanta, porque senão...
As desigualdades de nada parecem a se acentuar, elas persistem na pobreza tradicional, e se renovam nas novas pobrezas decorrentes das transformações econômicas, como as conseqüências da globalização e da organização da nova ordem mundial.
Como as desigualdades sociais acentuam-se e tornam-se radicais, a pobreza tornou-se algo muito natural, fruto da acentuação da globalização e do modelo capitalista, ou seja, de fatores externos, como se não bastassem os internos, esses que adquirimos no decorrer do tempo.
As elites políticas continuam se revezando no poder, agindo de acordo com seus interesses e focalizando a pobreza, por eles mesmo produzida, como uma “questão social” enfrentando-as com políticas sociais nos grupos identificados como vulneráveis, quase sempre sob os holofotes da grande mídia, principalmente em épocas de eleição.
Naturaliza-se a pobreza, principalmente porque rende debates políticos, cada um jogando ao ar que a pobreza é fruto do fracasso do seu opositor, ao mesmo tempo em que uma pequena parcela da sociedade concentra a maior parte da renda nacional, a grande parte da sociedade vive de migalhas, faltando-lhes o básico como família, saúde, educação de qualidade, etc.
A necessidade atual consiste em o Estado fazer-se forte no sentido de atuar em prol da sociedade, portando uma verdadeira democracia, distributiva de renda, enfrentando as desigualdades sociais.
O Brasil deve, portanto romper as velhas amarras do interesse feroz burguês e aristocrático e transformar a democracia em algo que seja do povo de fato, em que o “público” seja realmente de todos, construindo o espaço que seja suficiente para toda a sociedade brasileira.
Cabe ao brasileiro agora lutar por uma ordem social mais democrática, superando a sua subordinação pelas elites, considerando a coletividade, transformando a questão social numa questão redistributiva da riqueza e do poder. Assim todos ganham.
CONCLUSÃO
A questão social tem sido o espinho no pé desse país, mas não se procura encarar o problema como ele verdadeiramente é, quando a jogam no campo da filantropia e não um caso da nação como um todo, vendo-a como algo que está aquém e além das nossas vidas, como se fosse irreal.
Os problemas sociais foram uma constante no Brasil desde tempos imemoriais, encaradas como coisa da filantropia alheia, mesmo no decorrer do tempo, com o surgimento das grandes cidades, quando tais problemas se tornaram mais agravantes. Com as mudanças verificadas na sociedade, na questão trabalhista, o problema da pobreza tomou outro rumo, separando-se dos problemas do cidadão, que era aquele que contribuía financeiramente com os cofres públicos.
As elites dirigentes atuaram e atuam naquilo que consideram perigoso à ordem nacional, melhor dizendo, ao poder temporal daqueles que se revezam, deixando estar situações de pobreza, de violência, de desajustes sociais, porém consideradas normais, ao sabor de seu próprio destino.
Pouco se procura ligar o contesto de uma questão social com o que ela representa, e o que ainda vai representar.
Tal realidade firma-se com o modelo político-social que mais perpetua a situação problemática do povo, do que atenua, mais se faz em proveito das elites dirigentes, do que dos desvalidos da nação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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