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Atuação do fisioterapeuta nas UTI

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Anuário da Produção 
Acadêmica Docente 
Vol. III, Nº. 4, Ano 2009 
Paula Regina Pereira Braz 
Faculdade Anhanguera de Anápolis 
prof.paulabraz@yahoo.com.br 
Joelene Onoelcie Samara de 
Oliveira Lima Martins 
Hospital Municipal de Goianápolis 
onoelcie@yahoo.com.br 
Gilberto Vieira Junior 
Centro Universitário de Anápolis 
UniEvangélica 
gilbertovjr@gmail.com 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA NAS UNIDADES 
DE TERAPIA INTENSIVA DA CIDADE DE 
ANÁPOLIS 
 
RESUMO 
Este estudo, com abordagem qualitativa, teve por objetivo analisar a atuação 
do fisioterapeuta em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) da cidade de 
Anápolis, com a finalidade de observar a uniformidade ou não de atuações e 
a adequação quanto às habilidades e competências de um profissional dessa 
área. Para isso foram entrevistados sete fisioterapeutas que estão envolvidos 
com o atendimento de pacientes das UTIs da cidade de Anápolis. Através 
das entrevistas surgiram as seguintes categorias de discussão: “qualificação 
do fisioterapeuta, acesso ao manuseio da ventilação mecânica, período de 
permanência na UTI, benefícios da inserção do fisioterapeuta na UTI, 
relacionamento com a equipe multiprofissional, procedimentos realizados 
pelo fisioterapeuta e procedimentos de competência do fisioterapeuta 
realizado por outros profissionais”. Conclui-se que nem todos os 
profissionais possuem qualificação adequada para a plena atuação nas UTIs, 
porém há homogeneidade quanto aos procedimentos fisioterápicos, 
diferenciando apenas no acesso ao manuseio da ventilação mecânica. 
Palavras-Chave: unidades de terapia intensiva; fisioterapeutas; atuação. 
ABSTRACT 
At present study with qualitative boarding had for objective to analyze the 
performance of the physiotherapist in Intensive Care Units (UTIs) of the city 
Anápolis, with the purpose to observe the uniformity or not of performances 
and the adequacy as the abilities and competence of a professional of this 
area. For this seven physiotherapists had been interviewed and they are 
involved with the attendance of patients of the UTIs the city of Anápolis. 
Through the interviews the following categories had comment about 
category: “qualification of the physiotherapist, access to the manuscript of 
the mechanics ventilation, period of permanence in the UTI, benefits of the 
insertion of the physiotherapist in the UTI, working relationship with many 
professionals, procedures made for physiotherapist and procedures of 
competence of the physiotherapist made for other professionals”. Concluded 
that nor all the professionals have qualification adjusted for the full 
performance in the UTIs, however has homogeneity as procedures of the 
physicaltherapy, differentiating only in the access to the manuscript of the 
mechanics ventilation. 
Keywords: intensive care unit; physiotherapists; performance. 
 
Anhanguera Educacional S.A. 
Correspondência/Contato 
Alameda Maria Tereza, 2000 
Valinhos, São Paulo 
CEP 13.278-181 
rc.ipade@unianhanguera.edu.br 
Coordenação 
Instituto de Pesquisas Aplicadas e 
Desenvolvimento Educacional - IPADE 
Artigo Original 
Recebido em: 14/1/2010 
Avaliado em: 20/2/2010 
Publicação: 19 de março de 2010 
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1. INTRODUÇÃO 
A Fisioterapia foi regulamentada como profissão pelo Decreto Lei nº 938, de 13 de 
outubro de 1969. Sua atividade inclui a realização de métodos, técnicas e de 
procedimentos terapêuticos sob contato físico aplicados diretamente ao paciente, estando 
este consciente ou não. Dependendo da especialidade do fisioterapeuta, sua atuação pode 
estar intimamente vinculada ao atendimento de pacientes em condições clínicas graves, 
em estado terminal e mesmo em situações de risco de vida (ARAÚJO; NEVES JÚNIOR, 
2003). 
Essas circunstâncias são comuns aos fisioterapeutas que trabalham nas Unidades 
de Terapia Intensiva. Desde 1980, esse profissional atuante na área de terapia intensiva 
tem se tornado um especialista no cuidado do paciente crítico. Devido a isso, houveram 
grandes evoluções, e a atuação do fisioterapeuta que se estendia a aplicação de técnicas 
fisioterápicas, incorporou a reabilitação de cuidados com a via aérea artificial e, mais 
recentemente ao manuseio da assistência ventilatória mecânica invasiva e não invasiva. 
(SOBRAFIR, 2006). Sabe-se que existem contestações a respeito do papel do fisioterapeuta 
em UTIs, em especial, quanto ao manuseio da ventilação mecânica. Devido a esse fato, foi 
despertado o interesse de investigar a atuação desse profissional, a fim de saber o motivo 
da existência dessas contestações. 
O objetivo deste estudo foi analisar a atuação do fisioterapeuta em UTIs da 
cidade de Anápolis, para isso verificou-se o período de tempo diário de permanência do 
fisioterapeuta na UTI, os procedimentos realizados por este, a realização de 
procedimentos de competência do fisioterapeuta realizados por outros profissionais, o 
conhecimento do fisioterapeuta sobre a importância de sua inserção na UTI e a 
qualificação desse profissional para estar atuando junto à equipe multiprofissional. 
2. HISTÓRIA E ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA EM TERAPIA INTENSIVA 
A história da UTI passa por transformações desde sua criação em meados de 1926 nos 
Estados Unidos, onde a monitorização e manutenção dos pacientes críticos tinha seu 
limite tanto no aspecto teórico, prático e de tecnologia. A fisioterapia dedicada ao paciente 
crítico teve seu início nas décadas de 1940 e 1950 com a crise da poliomielite. Inicialmente 
tinha seu enfoque na assistência ventilatória com manuseio dos ventiladores não 
invasivos designado de Pulmão de aço ou Iron Lung. Muitos pacientes com acometimento 
ventilatório e pulmonar beneficiaram-se destes ventiladores, felizmente interrompendo a 
falência ventilatória provisória em muitos e salvando-os. Ainda nesta fase, surgem as 
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lesões neurológicas incapacitantes que transformou o atendimento pneumo e neuro-
funcional, ou seja, é estabelecida conceitualmente e definitivamente a função da 
Fisioterapia na UTI (FERRARI, 2007). 
Em 2001, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) 
reconhece os primeiros cursos de Fisioterapia Intensiva no Brasil, dando início à 
conceituação moderna da atuação do fisioterapeuta intensivista, este com atuação 
exclusiva nas unidades de Terapia Intensiva e Semi-Intensiva (FERRARI, 2006). 
O perfil do fisioterapeuta intensivista vai além do fisioterapeuta 
pneumofuncional e do neurofuncional, pela necessidade do conhecimento clínico mais 
aprofundado exigido pelas necessidades de resoluções de intercorrências mais 
prevalentes nos pacientes críticos. Sua participação está relacionada com procedimentos 
complexos na UTI, tais como a ventilação artificial, o atendimento de parada cardíaca, a 
intubação endotraqueal, bem como a monitoração da mecânica pulmonar (COFFITO, 
2007). 
Sendo assim, fica explícita a complexidade do trabalho do fisioterapeuta diante 
da cobrança pela efetividade de suas condutas e da necessidade de controlar os riscos ao 
paciente. Deste modo é imperativo a correta habilitação desse profissional, para sua plena 
inserção junto à equipe multiprofissional atuante nas UTIs (YAMAGUTI, 2006). 
No momento que o paciente é admitido na UTI, ele é recebido pela equipe 
multidisciplinar, que incluem o médico, a enfermeira e o fisioterapeuta (ROCANTI; 
PORTIOLI, 1997). 
O fisioterapeuta desempenha um papel chave em qualquer programa de 
reabilitação pulmonar, pois é ele quem está apto para orientar e supervisionar os 
exercícios de treino de força muscular respiratório, aplica as técnicas de respiração, atuana assistência ventilatória invasiva e não invasiva, monitorando os parâmetros do 
ventilador mecânico, assim como no desmame do ventilador, realiza manobras de higiene 
brônquica antes da aspiração, manobras motoras intensivas com cinesioterapia global, 
avaliando a força e a condição muscular global, analisa e interpreta exames 
complementares de rotina das UTIs (FERRARI, 2007). 
Todos estes recursos utilizados contribuem para redução da taxa de mortalidade, 
taxa de infecção, tempo de permanência na UTI e no hospital e índice de complicações 
(SAKUMA, 2007). 
Como a participação direta do fisioterapeuta ocorre em procedimentos de maior 
complexidade administrados em UTI, tais como a ventilação artificial, existem 
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contestações quanto ao manuseio do ventilador mecânico por esse profissional, se seria 
ilegal ou deveria ser realizado somente pelo médico (COFFITO, 2006). 
No capítulo 10° do II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica “Recursos 
Fisioterápicos em assistência ventilatória”, destaca se: 
O crescimento dessa especialidade expressa se pelo aumento do número de 
fisioterapeutas, constituindo equipes especializadas com o atendimento contínuo e 
ininterrupto que atualmente, integram as equipes multidisciplinares de terapia 
intensiva. Quando bem estruturada e envolvida com a dinâmica da UTI a equipe 
beneficia se, intensificando sua ação e assumindo mais amplamente os cuidados 
respiratórios dos pacientes em ventilação mecânica, assegurando assim, a manutenção 
das vias aéreas, a elaboração, o acompanhamento e execução dos protocolos de 
assistência ventilatória da UTI (JORNAL DE PNEUMOLOGIA, 2000 apud SOBRAFIR, 
2006). 
Neste capítulo, seus dois sub-itens evidenciam a ação do fisioterapeuta no 
manuseio do ventilador, a saber: 
Prevenção das complicações geradas por incapacidade de manter eficiente remoção das 
secreções brônquicas, incapacidade de manter o volume pulmonar adequado e 
mobilidade no leito, gerenciamento do trabalho respiratório, alternando 
terapeuticamente os limites de sobrecarga e repouso aos músculos respiratórios 
(JORNAL DE PNEUMOLOGIA, 2000 apud SOBRAFIR, 2006). 
Desse modo fica evidente que o fisioterapeuta manuseia o ventilador 
principalmente se o faz objetivando a ação especificamente fisioterápica. 
Sobre o manuseio do ventilador mecânico requer uma interpretação cuidadosa a 
resolução COFFITO-8, capítulo 1: 
Artigo 3°- Constituem atos privativos do fisioterapeuta prescrever, ministrar e 
supervisionar terapia física, que objetive preservar, manter, desenvolver ou restaurar a 
integridade de órgão sistema ou função do corpo humano, por meio de: 
I - Ação isolada ou concomitante de agente termoterápico ou crioterápico, hidroterápico, 
aeroterápico, fototerápico, eletroterápico ou sonidoterápico [...] (AZEREDO, 2002). 
O termo “agente aeroterápico” pode dar respaldo a utilização do ventilador 
mecânico pelo fisioterapeuta (AZEREDO, 2002). 
Encontrou-se na nossa realidade três modos básicos de atuação das equipes 
multiprofissionais nas UTIs. As equipes que permanecem 24 horas nas unidades e 
geralmente, trabalham sobre protocolos de assistência, as equipes que permanecem 12 
horas nas unidades por não darem cobertura todo tempo outros profissionais acabam 
assumindo parte das funções do fisioterapeuta e, equipes que durante o período diurno 
atendem aos pacientes críticos porem não exclusivamente. Desse modo, a inserção dentro 
da unidade é menor e suas funções, em geral, estão restritas aos procedimentos 
fisioterápicos (AZEREDO, 2002). 
De acordo com dois desses modos de atuação, pode-se comprovar que o 
fisioterapeuta não sustenta o manuseio de ventiladores devido a pouca permanência nas 
UTIs (AZEREDO, 2002). 
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Raramente, observa-se investimento nas profissões da área da saúde dificultando 
o aprimoramento de práticas e pesquisas, além de não garantir todas as possibilidades 
terapêuticas do usuário do serviço (CREFITO, 2006). 
3. METODOLOGIA 
Este estudo foi submetido á analise pelo comitê de ética em pesquisa da 
UniEVANGÉLICA e aprovado sem restrições. Todos os voluntários que participaram do 
estudo deram seu consentimento através de assinatura do termo de forma livre e após 
esclarecimentos. 
Foi realizada uma pesquisa qualitativa exploratória. No início do segundo 
semestre de 2006, realizamos um levantamento junto aos hospitais de Anápolis a fim de 
saber quais hospitais possuíam Unidades de Tratamento Intensivo. Após essa etapa, 
buscou-se conhecer quantos e quais fisioterapeutas trabalhavam nestas unidades, em cada 
hospital. 
A coleta de dados foi realizada nos meses de março e abril de 2007, por meio de 
ficha de identificação, entrevista estruturada e aberta, a ordem das perguntas permaneceu 
invariável para todos os entrevistados, o tempo não foi controlado ficando o examinador à 
vontade para responder as questões levantadas. 
Foram entrevistados sete fisioterapeutas que estão envolvidos com atendimento 
de pacientes nas UTIs da cidade de Anápolis, que se dispuseram a colaborar 
voluntariamente com o estudo. As entrevistas foram conduzidas pelas pesquisadoras 
participantes e gravadas em fita cassete após a explicação detalhada da pesquisa e 
esclarecimentos necessários ao participante do estudo com sua assinatura no Termo de 
Consentimento Livre e Esclarecido. 
A análise dos dados foi feita em quatro momentos: No primeiro pela transcrição 
dos depoimentos dos entrevistados, pela leitura ampla de todas as entrevistas do 
princípio ao fim. O segundo momento foi marcado pela intenção de caminhar para 
elaboração da discriminação das unidades de significados, as quais foram extraídas após 
releitura de cada depoimento. No terceiro momento após a obtenção das unidades de 
significados, elas foram agrupadas em temas ou categorias. No quarto momento foi 
sintetizada e integrada a análise realizada pelas pesquisadoras contidas em todas as 
categorias. 
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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 
Um dos objetivos desse estudo foi identificar o perfil dos fisioterapeutas que atuam nessas 
unidades hospitalares. Através dos resultados, observou-se que quanto ao gênero a 
maioria dos profissionais pertence ao sexo feminino. A média de idade foi de 26 anos. A 
maioria teve sua formação na Universidade Estadual de Goiás e Universidade Católica de 
Goiás, sendo que a média do tempo de formação foi de 3 anos. A maioria realizou sua 
especialização no Centro de Estudos Avançados e Formação Integrada (CEAFi) em 
Goiânia, sendo que a média do tempo de especialização foi de 1 ano. 
4.1. Qualificação Profissional 
A ação do fisioterapeuta em terapia intensiva, como membro efetivo da equipe é um fato 
incontestável, portanto, faz-se necessário que o fisioterapeuta seja habilitado por uma 
sólida formação e bagagem prática para indicar e aplicar condutas específicas da 
fisioterapia respiratória, caso contrário, tanto a efetividade da atuação pode ficar 
comprometida quanto os riscos ao paciente podem aumentar de forma proibitiva 
(YAMAGUTI, 2006). 
De acordo com a Política Nacional de Atenção ao Paciente Crítico (PNAPC), 
criada pela Portaria do Ministério da Saúde: 
Anexo V: 1.1: Recursos humanos: 
Em face da especificidade do atendimento fisioterapêutico no âmbito da assistência em 
terapia intensiva torna-se recomendável a exigência de experiência mínima comprovada 
de 4 anos, titulação ou especialização lato-sensu. (BRASIL, 2005 apud CREFITO, 2006). 
Ao analisar os profissionaisque atuam em UTI da cidade de Anápolis de acordo 
com a PNAPC, apenas 28,6% dos entrevistados não estariam aptos para o atendimento 
fisioterapêutico intensivista, pois não possuem especialização na área de fisioterapia 
respiratória e/ou hospitalar e os 71,4% restantes possuem especialização, mas não 
apresentam o tempo mínimo de experiência exigido de acordo com essa política. 
4.2. Manuseio da Ventilação Mecânica 
Ao analisar o segundo Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica “Recursos 
Fisioterápicos em assistência ventilatória”, fica evidente que o fisioterapeuta manuseia o 
ventilador principalmente se o faz objetivando a ação especificamente fisioterápica. 
Constatou-se que dos entrevistados apenas 42,8% possuem total acesso ao 
manuseio da ventilação mecânica e 58,2% não possuem acesso, a não ser em caso de 
solicitação pelo médico responsável, comprovando assim, que existe tanto insegurança 
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quanto falta de conhecimento da equipe médica em indicar tal procedimento aos 
fisioterapeutas. No entanto, pode-se observar que o profissional especialista na área está 
apto para avaliar adequadamente o paciente e aplicar o melhor procedimento em 
ventilação mecânica, pesando os riscos e benefícios em potenciais, sempre presentes em 
pacientes críticos. 
Um estudo realizado para avaliar o grau de conhecimento, atualização e 
familiaridade sobre ventilação não invasiva (VNI) entre médicos, enfermeiros e 
fisioterapeutas em UTIs, concluiu que os fisioterapeutas mostraram mais atualizados e 
mais aptos a instalar a VNI do que médicos e enfermeiros. Isso se deve ao fato de que, na 
divisão de tarefas na UTI, cabe a esta categoria profissional a instalação e monitorização 
da VNI. Além disso, existe maior ênfase no ensino da VNI durante a graduação destes 
profissionais (NÁPOLIS et al., 2006). 
4.3. Período Diário de Permanência 
Segundo a Política Nacional de Atenção ao Paciente Crítico, criada pela Portaria do 
Ministério da Saúde: 
Anexo v 1.1 Recursos Humanos: [...] outro ponto a esclarecer é em relação à 
especificação do turno da manhã, da tarde e da noite. Entendemos a necessidade da 
presença do profissional fisioterapeuta em sistema de rotina em plantão, para cobertura 
de 24 horas, a cada 8 leitos ou fração de leitos. (BRASIL, 2005 apud CREFITO, 2006). 
Na prática observou-se que não existe um sistema de rotina e plantão, 
constatando que 28,6% dos entrevistados permanecem 6 horas na UTI, 28,6% 
permanecem 5 horas, 28,6% permanecem 3 horas e 14,2% permanecem 4 horas, sendo 
assim comprovou-se que pelos fisioterapeutas não darem cobertura em tempo integral, 
outros profissionais acabam assumindo parte das suas funções. 
Somente com a inserção exclusiva desse especialista nas UTIs é que a organização 
e a qualidade desses serviços serão adequadas, pois o fisioterapeuta, além de competente 
no que diz respeito à garantia de adequada ventilação e de oxigenação do paciente crítico, 
é o profissional responsável pelo “desmame” da prótese ventilatória, reduzindo o tempo 
de permanência do paciente nas UTIs e a incidência de complicações associada à 
ventilação mecânica (SOBRAFIR, 2006). 
4.4. Procedimentos Realizados pelo Fisioterapeuta 
O fisioterapeuta realiza avaliação das funções gerais e respiratórias traçando um plano de 
cuidados individuais. Ele estabelece as medidas para o suporte ventilatório instalando os 
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equipamentos de oxigenoterapia ou ventilação mecânica. O fisioterapeuta deve estar 
atento aos parâmetros do ventilador para manter adequada a ventilação do paciente, 
sendo iniciado o processo de desmame logo após a resolução do evento que indicou o 
processo de ventilação mecânica (SEPÚLVEDA et al., 1997). 
Associada aos recursos ventilatórios, são utilizadas técnicas fisioterápicas que 
incluem: manobras de higiene brônquica, mobilização geral do paciente, exercícios 
respiratórios, treinamento muscular respiratório e readaptação progressiva do paciente 
aos esforços. Essas técnicas objetivam prevenir complicações pela incapacidade da 
eliminação das secreções respiratórias, preservar o volume pulmonar, diminuir o trabalho 
respiratório e prevenir alterações conseqüentes à imobilidade no leito (DAVID, 2001). 
De acordo com os relatos, percebeu-se que todos os entrevistados, após a 
prescrição do médico, realizam, em geral, procedimentos semelhantes por almejarem os 
mesmos objetivos que foram citados anteriormente, diferenciando apenas no que diz 
respeito às condutas em ventilação mecânica. 
4.5. Procedimentos da Fisioterapia Realizados por Outros Profissionais 
O desempenho do fisioterapeuta que trabalha em UTIs é caracterizado pela utilização de 
técnicas e manobras terapêuticas com o objetivo de prevenir a obstrução e o acúmulo de 
secreções nas vias aéreas, que interferem na respiração normal; melhorar a limpeza e 
ventilação das vias aéreas através da mobilização e drenagem das secreções; aumentar a 
resistência à fadiga e Tolerância aos exercícios em geral; reduzir os gastos de energia 
durante a respiração através da reeducação da respiração; prevenir ou corrigir 
deformidades posturais associadas a distúrbios respiratórios; promover o relaxamento; 
manter ou melhorar a mobilidade torácica e melhorar a efetividade da tosse. 
Os entrevistados relataram que a equipe de enfermagem realiza algumas 
manobras de competência do fisioterapeuta sendo as principais, a aspiração e mudança de 
decúbito, sugerindo assim a importância da presença integral do fisioterapeuta dentro 
dessas unidades para garantir a efetividade do tratamento. 
4.6. Benefícios da Inserção do Fisioterapeuta na UTI 
O objetivo dessa pergunta foi verificar se os próprios profissionais sabem da importância 
da sua atuação na área de terapia intensiva. 
Observou-se que todos os entrevistados reafirmam essa importância, porém, 
percebemos que mesmo alguns profissionais, em especial os médicos, se sentem inseguros 
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em relação à realização dos procedimentos fisioterápicos, principalmente no que diz 
respeito ao manuseio da ventilação mecânica. Ainda assim, 58,2% dos entrevistados não 
se preocuparam em demonstrar suas capacidades no manuseio da ventilação mecânica, e 
suas funções dentro das unidades ficam restritas às técnicas fisioterápicas. 
4.7. Relacionamento com a Equipe Multiprofissional 
O relacionamento interprofissional da equipe de saúde tem se alterado devido a diversos 
fatores incluindo o avanço tecnológico e a complexidade das ações médicas, a acentuada 
melhora da formação dos profissionais da saúde e a democratização da sociedade como 
um todo. O conceito de equipe multiprofissional apresentou uma evolução lenta, mas 
gradual. Seus membros têm contribuições específicas para dar, de valor comparado e 
todos devem funcionar em plena harmonia para que resulte na excelência do padrão de 
assistência (SOBRAFIR, 2006). 
Através dos relatos dos entrevistados, percebeu-se que a convivência é 
harmoniosa e que na maioria das vezes os profissionais realmente trabalham em equipe. 
No entanto, estes profissionais relataram que no início existe uma difícil aproximação, 
principalmente com a equipe de enfermagem. 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Os dados da pesquisa demonstraram que nem todos os profissionais possuem 
qualificação e experiência adequada na área para a plena atuação nas UTIs, porém há 
homogeneidade quanto aos procedimentos fisioterápicos, diferenciando apenas no acessoao manuseio da ventilação mecânica. Em relação aos procedimentos realizados por outros 
profissionais constatou-se que os profissionais de enfermagem realizam aspiração e 
mudança de decúbito na ausência do fisioterapeuta e quanto ao relacionamento 
multiprofissional a maioria relata ter uma boa convivência, mas restrita a comunicação 
sobre o estado do paciente. Sobre o período diário de permanência na UTI os profissionais 
permanecem de 3 a 6 horas diárias, sendo assim comprovou-se que não existe um sistema 
de rotina e plantão, para cobertura de 24 horas. Em relação ao conhecimento do 
fisioterapeuta sobre a importância de sua inserção na UTI observou-se que os 
profissionais reafirmam a importância, mas é difícil obter autonomia frente ao paciente 
crítico por raramente haver credibilidade nessas profissões mais recentes da área da 
saúde, dificultando o aprimoramento de práticas e o reconhecimento da profissão. 
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Sugere-se que devem ser tomadas medidas adicionais para a adequada inserção 
deste profissional dentro dos serviços hospitalares. 
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Docente universitária na área de anatomia 
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Traumato-ortopédica (2009), Especialização em 
Didática e metodologia do ensino superior (2009). 
Joelene Onoelcie S. de Oliveira Lima Martins 
Fisioterapeuta do Hospital Municipal de 
Goianápolis. 
Gilberto Vieira Junior 
Fisioterapeuta, especialista em fisioterapia 
cardiorrespiratória, docente do curso de 
fisioterapia da UniEvangélica.

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