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Circulo vicioso da pobreza - Miguel Amaral

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A pobreza é um fenómeno que faz parte da realidade de muitos países, nomeadamente, dos países designados por subdesenvolvidos, entre os quais Guiné-Bissau. Estes países sofrem de um síndrome designado na literatura económica por círculo vicioso da pobreza. O primeiro economista a dar uma explicação plausível deste fenómeno, foi o sueco Gunnar Myrdal, prémio Nobel da Economia em 1974, explicava ele, os países pobres caracterizam-se, pelo facto, dos seus cidadãos terem níveis de rendimento muito baixos, por essa razão, o pouco rendimento que usufruem é dedicado na sua totalidade ao consumo, ou seja, não têm capacidade de poupança. Sem capacidade de realizar poupança não é possível investir, logo, não há formação de capital. Se um país não tem capacidade de investimento, também não terá capacidade para aumentar a sua produção, nem a sua produtividade e muito menos criar emprego. Se um país não tem capacidade para aumentar a sua produção, isso significa, que o país em questão entrará em estagnação e vai acabar por empobrecer. Portanto, os países pobres caracterizam-se por não possuírem uma capacidade intrínseca de gerar poupança porque consomem todo o seu rendimento para poder sobreviver. Se um país somente consome, isso significa, que só produz bens de consumo, portanto, não produz bens de investimento, e sem investimento não existem incrementos de capital, logo, não existe crescimento económico.
Esta abordagem do fenómeno ainda é superficial, para entender o conceito do círculo vicioso da pobreza, é necessário aprofunda-lo um pouco mais, no entanto, já estamos em condições de entender as palavras de Ragnar Nurkse sobre esta problemática, quando afirmou, que o circulo vicioso da pobreza é uma constelação circular de forças que actuam para manter um país pobre em estado de pobreza. Estas forças que caracterizam o círculo vicioso actuam em três dimensões, a económica, a política e a social.
Na dimensão económica existem quatro forças que interagem entre si, o ponto de partida é o investimento produtivo, de natureza pública ou privada, pois trata-se de uma condição indispensável para qualquer processo de produção de bens e serviços, portanto, de crescimento económico, a sua ausência conduz à estagnação económica. Numa situação estrutural de pobreza, a ausência de investimento produtivo gera uma evolução económica muito mais próxima da estagnação, do que, do crescimento económico. Por sua vez, a estagnação económica estrangula as possibilidades de aumentar os lucros empresariais e por inerência aumentar os salários, logo, uma redução dos lucros provoca uma escassez da poupança. Sem formação da poupança, empresarial e familiar, não existem condições para financiar o investimento produtivo.
Na dimensão política também encontramos quatro forças, normalmente, o ponto de partida nos países pobres, é uma ditadura, cuja consequência mais imediata se traduz na falta de liberdade dos cidadãos. A falta de liberdade individual e colectiva impossibilita a implementação de processos de cidadania, que implicam uma maior predisposição das instituições estatais para apresentarem contas e a terem em consideração os interesses dos mais pobres, fortalecendo a sua participação nos processos políticos, nas decisões locais e eliminando obstáculos sociais resultantes das diferenças de sexo, raça e da condição social. A falta de liberdade conduz a corrupção que usualmente nasce na esfera pública e acaba por se instalar em praticamente todos os sectores sociais. Por sua vez, a corrupção e a falta de transparência produzem um efeito de insegurança e de instabilidade que reforçam a própria ditadura.
Por fim, temos a dimensão social, cuja esfera de forças, tem início na falta de formação e nos elevados níveis de analfabetismo, que são o produto de um sistema educativo fraco que produz níveis de ensino deficientes. A escassez de conhecimentos da população produz comportamentos sociais que são autênticos travões para o progresso social (escassa disciplina no trabalho, baixa ambição profissional, pouca predisposição para a mudança e a experimentação, superstições, etc) originando um espírito conformista e pouco critico em relação ao seu entorno socioeconómico. O conformismo explica porque razão as grandes massas de pobres se resignam a sua condição sem nunca ponderarem escapar das suas graves privações. No caso de existir uma minoria privilegiada com acesso ao ensino superior em países mais desenvolvidos é muito provável que depois de alcançados os seus objectivos de formação, a maior parte dessa minoria não pondere regressar aos seus países de origem fomentando assim o êxodo das elites. A emigração das elites acaba sempre por hipotecar o desenvolvimento da educação nos países mais pobres, cujo efeito final, é o reforço da falta de formação.
As três dimensões do circulo vicioso da pobreza estão inter-relacionadas, do seguinte modo, a insuficiência do investimento produtivo não permite a constituição das infra-estruturas necessárias para o desenvolvimento de um sistema educativo capaz, esta lacuna é responsável pela falta de formação da população. Sem uma população bem formada não é possível fomentar a responsabilidade social, existindo deste modo uma maior propensão para comportamentos de instabilidade política, que produzem maiores níveis de incerteza na sociedade, os efeitos nocivos, fazem-se sempre sentir na esfera do crescimento económico.
Estimado Leitor podemos identificar vários países que padecem do síndrome da pobreza, em todos eles podemos encontrar os mesmos mecanismos nocivos que desencadearam a patologia, a grande maioria tem um passado ditatorial cujas manifestações mais graves e mais evidentes são os elevados índices de analfabetismo funcional e a extrema pobreza em que vive a sua população.
Os regimes ditatoriais estarão sempre vocacionados para a pobreza, são estados incompatíveis com o paradigma actual de sociedade, caracterizado pela égide das sociedades abertas, no entanto, estes estados poderão sobreviver e subsistir no tempo, nomeadamente, pela insignificância que representam no mundo ou quando detentores de activos estratégicos não puserem em causa os interesses geopolíticos das potências dominantes.
No entanto, o drama do círculo vicioso da pobreza persiste e manifesta-se sempre na ausência de crescimento económico, para fomentar o crescimento é necessário estimular o desenvolvimento económico, que somente pode ser alcançado se o país em causa estiver dotado de um tecido empresarial forte com capacidade para realizar investimento de capital (físico e humano). Um sector empresarial dinâmico é vital para iniciar a senda do progresso económico porque somente com um tecido empresarial forte será possível gerar emprego, reduzir a emigração, aumentar as receitas fiscais, elevar os rendimentos das famílias e os níveis de bem-estar da sociedade.
O cerne desta questão, uma verdadeira encruzilhada, reside em saber como se abandona o círculo vicioso da pobreza? A resposta mais imediata, é afirmar, através do investimento empresarial, mas como se financia esse investimento? Nos países ricos o investimento empresarial é financiado através da poupança interna. Mas nos países pobres como se financia?
Um país pobre é sempre refém do círculo vicioso da pobreza, precisamente, pela sua manifesta incapacidade para gerar poupança interna, a única alternativa, é procurar e encontrar fontes de financiamento externas para financiar o seu desenvolvimento económico. O Estimado Leitor estará, a questionar-se, mas quais são essas fontes de financiamento externo?
O primeiro passo será obter recursos através das suas exportações, utilizando as divisas externas para financiar e pagar os bens de capital que necessita para fomentar o seu crescimento económico, o segundo passo será estimular a sua capacidade para atrair investimento directo estrangeiro para o país, um outro passo será atrair divisas através do recurso à créditos internacionais ou recorrer aos recursos oficiais de ajuda ao desenvolvimento, por fim,um pais pobre pode e deve utilizar as remessas enviadas pelos seus emigrantes para financiar o seu investimento empresarial.
Para quebrar o circulo vicioso da pobreza será sempre necessário recorrer à fontes de financiamento externas, mas existe uma particularidade, sendo o financiamento externo uma condição necessária, não é suficiente, só por si não garante que um país pobre seja capaz de abandonar a pobreza, porque um dos factores determinantes será sempre a capacidade de atracção de investimento directo estrangeiro por parte do país pobre, essa capacidade de atracção depende de vários factores, entre os quais, o país ser detentor de um sistema jurídico que garanta a propriedade privada e que permita exigir o cumprimento dos contratos. Será fundamental incentivar o aumento da concorrência eliminando situações de monopólio e de oligopólio internos, combater a corrupção, evitar o controlo dos preços e os elevados impostos aplicados as importações e exportações, por fim, reduzir a subsidio dependência em relação ao Estado. Convém, não esquecer os governos democráticos, por regra, possuem uma administração pública mais eficiente, com menos trâmites burocráticos excessivos e mais imune ao tráfico de influências, o que permite um combate mais eficaz a corrupção e contribuir, deste modo, para suprimir as dolências crónicas da pobreza.
Miguel Amaral

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