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1 LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA Aula 7 – Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar Professora Eveline Lima O Estado existe para a consecução do bem comum, gozando de um conjunto de prerrogativas que lhe asseguram posição privilegiada nas relações jurídicas de que faz parte, pois se o interesse público se sobrepõe ao particular, deve-se admitir em certos casos a preponderância do ente que visa ao bem comum nas suas relações com os particulares. Uma das situações em que a prevalência é visualizada é a cobrança de tributos. O Estado possui poder de, por ato próprio (a lei), obrigar os particulares a se solidarizarem com o interesse público, através da entrega compulsória de um valor em dinheiro. O Estado possui um poder de grande amplitude, mas esse poder não é ilimitado. A relação jurídico-tributária não é apenas uma relação de poder, pois é balizada pelo Direito, tendo o legislador constituinte originário traçado as principais diretrizes e limitações ao exercício de tal poder diretamente na Constituição Federal. CONCEITO LEGALIDADE: cuida da vedação de instituição/majoração do tributo sem prévia autorização legislativa e da política de incentivos fiscais. Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; O art. 97, do CTN, enumera as matérias inseridas no campo da reserva legal, in verbis: Art. 97. Somente a lei pode estabelecer: I - a instituição de tributos, ou a sua extinção; II - a majoração de tributos, ou sua redução...; III - a definição do fato gerador da obrigação tributária principal...; IV - a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo...; V - a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas; VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa ou redução de penalidades. O sujeito passivo que efetuar pagamento de tributo sem base legal terá direito à repetição (devolução) do que pagou indevidamente. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS O art. 153, §1°, CF, traz exceções ao princípio da legalidade, afirmando que a alteração da alíquota de alguns impostos não depende de lei, podendo ser alterada por ato do Poder Executivo (Decreto Presidencial ou outro), mas somente na forma que a lei definir. Se não tiver previsão em lei, não pode haver alteração. Assim, a mesma lei que cria o tributo deve definir o limite de atuação do Executivo na alteração da alíquota. Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: I – importação de produtos estrangeiros; II – exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados; (...) IV – produtos industrializados; V – operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários; (...) §1°. É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos incisos I, II, IV e V. OOBSERVAÇÃOBSERVAÇÃO:: Na prática, a alíquota dos tributos aduaneiros (II e IE) tem sido alteradas por Resolução da Câmara de Comércio Exterior – CAMEX, enquanto IPI e IOF diretamente por decreto �������� nos dois casos trata-se de ato do Executivo. A possibilidade de alteração da alíquota destes quatro impostos por ato do Executivo decorre da sua função extrafiscal, pois são utilizados como instrumentos para implementar a política econômica do Governo. Assim, devem ser alterados com agilidade, a fim de garantir a adoção de medidas eficazes no planejamento da economia brasileira. OOBSERVAÇÃOBSERVAÇÃO:: O Código Tributário Nacional afirma que o Poder Executivo pode alterar a alíquota e a base de cálculo destes impostos, mas estes dispositivos não foram recepcionados pela CF, que somente admite a alteração da alíquota. EEXEMPLOXEMPLO��������:: IPI ���� utilizado para proteção da indústria nacional. Se um setor está em crise de superprodução, o governo adota medidas tributárias para conter a produção e produzir somente o que o mercado pode consumir e não quebrar a indústria. Quando um setor precisa ser incentivado, o governo reduz a alíquota para aumentar a atividade de produção. EEXEMPLOXEMPLO��������:: II e IE ���� utilizados como instrumentos da política de comércio exterior brasileiro para equilíbrio da balança comercial. Se o Brasil está importando muito e exportando pouco, deverá reduzir a alíquota de exportação para o brasileiro exportar mais e elevar a alíquota de importação para equilibrar a balança comercial brasileira e manter capital de investimento no Brasil. EEXEMPLOXEMPLO��������:: IOF ���� utilizado como forma de regular, incentivar ou desaquecer determinados setores da indústria, do comércio ou da agricultura. O governo pode isentar do pagamento deste imposto aquele que comprar dólar para adquirir máquina no exterior a fim de modernizar o parque industrial ou determinar que o contribuinte não pagará nada sobre a troca de moeda, ou seja, não paga IOF sobre o câmbio. ISONOMIA: veda o tratamento jurídico diferenciado de pessoas que se encontram sob os mesmos pressupostos de fato, impedindo discriminações tributárias que privilegiem determinadas pessoas físicas ou jurídicas. Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos; Se o tratamento diferenciado guardar relação de pertinência lógica com o motivo do tratamento discriminatório, não há que se falar em afronta ao princípio da isonomia. Da mesma forma, não afronta este princípio quando 2 a lei elege determinada situação, objetivamente considerada, para prescrever a inclusão ou exclusão de determinado benefício, ou a imposição de certo gravame. ExemploExemplo:: quem monta uma indústria de televisão em São Paulo não está nas mesmas condições de quem monta uma indústria de televisão na Zona Franca de Manaus, porque em Manaus não há boas estradas, não há vias baratas de escoamento da produção, não tem mão-de-obra qualificada em grande número à disposição, não tem indústria de apoio para os componentes que esta indústria específica poderia precisar. Ou seja, quem monta uma indústria na região norte do País enfrentará dificuldades, gastos adicionais, que não serão enfrentadas por quem está no eixo São Paulo – Minas Gerais – Rio de Janeiro, portanto, está em situação de desigualdade e deve receber tratamento desigual, então não fere a isonomia se a lei isentar a indústria da zona norte de quase todos os impostos. IISONOMIASONOMIA NANA JJURISPRUDÊNCIAURISPRUDÊNCIA DODO STFSTF ContribuiçãoContribuição previdenciáriaprevidenciária dosdos servidoresservidores inativosinativos:: havia discriminação entre servidores com mesmo provento, mas de diferentes esferas, pois os inativos e pensionista federais pagavam contribuição menor que os estaduais e municipais. O STF refutou a discriminação. (ADI 3105, Rel. Min. Ellen Gracie, Rel. p/ Acórdão Min. Cezar Peluso, Tribunal Pleno, j. 18/08/2004) DiscriminaçãoDiscriminação comcom basebase nana funçãofunção ouou ocupaçãoocupação exercidaexercida:: o STF entendeu haver discriminação sem fundamento em desigualdade que justificasse a diferenciação quando declarou insubsistente a pretensão de um contribuinte obter isenção do IPTU, com base em Lei do Município de Niterói/RJ, apenas por ser servidor público. (AI 157.871-AgR) DiscriminaçãoDiscriminação entreentre empresasempresas lucrativaslucrativas ee deficitáriasdeficitárias:: a COFINS incide sobre receita ou faturamento, sendo paga por todos os contribuintes,lucrativos ou não, enquanto a CSLL incide sobre o lucro líquido, não sendo paga pelos contribuintes que registram prejuízo. Ao majorar a alíquota da COFINS de 2% para 3% a Lei n° 9.718/98 previu que o contribuinte sujeito às duas exações poderia abater até 1/3 da COFINS com a CSLL, quando obtivesse lucro no exercício. Argumentou-se que isto feria a isonomia porque beneficiava as empresas lucrativa, negando benefício às deficitárias, mas o STF entendeu que a lei atenuara a carga tributária das empresas sujeitas a dupla tributação. EMENTA: TRIBUTÁRIO. COFINS. ART. 8.º E § 1.º DA LEI N.º 9.718/98. ALÍQUOTA MAJORADA DE 2% PARA 3%. COMPENSAÇÃO DE ATÉ UM TERÇO COM A CONTRIBUIÇÃO SOBRE O LUCRO LÍQUIDO - CSLL, QUANDO O CONTRIBUINTE REGISTRAR LUCRO NO EXERCÍCIO. ALEGADA OFENSA AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA. Por efeito da referida norma, o contribuinte sujeito a ambas as contribuições foi contemplado com uma bonificação representada pelo direito a ver abatido, no pagamento da segunda (COFINS), até um terço do quantum devido, atenuando-se, por esse modo, a carga tributária resultante da dupla tributação. Diversidade entre tal situação e a do contribuinte tributado unicamente pela COFINS, a qual se revela suficiente para justificar o tratamento diferenciado, não havendo que falar, pois, de ofensa ao princípio da isonomia. Não-conhecimento do recurso. (STF, RE 336134, Rel. Min. Ilmar Galvão, Tribunal Pleno, j. 20/11/2002) SIMPLESSIMPLES –– discriminaçãodiscriminação entreentre empresasempresas comcom basebase nana atividadeatividade exercidaexercida:: a inclusão no SIMPLES depende da receita bruta anual, mas alguns contribuintes foram excluídos, mesmo que não superados os limites de receita bruta, como as sociedades constituídas por profissionais liberais. O STF entendeu que o objetivo do tratamento diferenciado concedido às ME’s e EPP’s é: a) dar-lhes condições de concorrer com grandes empresas, protegendo-as contra eventuais abusos de poder econômico, assim como b) diminuir a informalidade, mantendo-as como a grande fonte de empregos no País. Entretanto, o Min. Maurício Corrêa, em seu voto, afirmou que: ... as sociedades civis de prestação de serviços profissionais relativos ao exercício de profissão regulamentada não sofrem o impacto do domínio do mercado pelas grandes empresas; não se encontram, de modo substancial, inseridas no contexto da economia informal; em razão do preparo científico, técnico e profissional dos seus sócios estão em condições de disputar o mercado de trabalho, sem assistência do Estado; não constituiriam, em satisfatória escala, fonte de geração de empregos se lhes fosse permitido optar pelo ‘Sistema Simples’. Como conclusão, o STF prolatou Acórdão, do qual se destaca o trecho a seguir transcrito, in verbis: (...) Não há ofensa ao princípio da isonomia tributária se a lei, por motivos extrafiscais, imprime tratamento desigual a microempresas e empresas de pequeno porte de capacidade contributiva distinta, afastando do regime do SIMPLES aquelas cujos sócios têm condição de disputar o mercado de trabalho sem assistência do Estado. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. (STF, ADI 1643, Rel. Min. Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, j. 05/12/2002) SEGURANÇA JURÍDICA OU NÃO SURPRESA: a segurança jurídica, ao lado da justiça, é um dos objetivos fundamentais do Direito. Em matéria tributária, são corolários deste princípio: o princípio da irretroatividade, da anterioridade e da noventena, que serão analisado com mais detalhes adiante. IRRETROATIVIDADE: consiste na necessidade de prévia definição legal do fato gerador da obrigação tributária, ou seja, a lei definidora do fato gerador não se aplicará a situações jurídicas já concretizadas. Quando a lei é publicada, sua aplicação será para os fatos geradores posteriores à sua publicação, não alcançando os anteriores. Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) III – cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; ExemploExemplo:: a norma diz que quem vende suprimentos de informática deve emitir Nota Fiscal série Z; se um ano depois surge outra norma determinando que a Nota fiscal deverá ser série Y, o contribuinte não poderá ser penalizado por sempre ter emitido a nota série Z, pois não tinha como prever a alteração. Veja-se o que o CTN diz sobre a possibilidade da norma retroagir: Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito: I – em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados; II – tratando-se de ato não definitivamente julgado: a) quando deixe de defini-lo como infração; b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo; c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática. ANTERIORIDADE: objetiva evitar surpresas que gerem dificuldades financeiras para o contribuinte, que precisa ter a segurança de que no período de 01/01 a 31/12 não haverá criação ou majoração de tributos, sabendo, previamente, a carga tributária que suportará naquele exercício financeiro. Este princípio se aplica à criação/aumento de tributo; a lei que reduz/extingue tributo pode entrar em vigor no mesmo exercício. Art. 150.Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) III – cobrar tributos: (...) b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; 3 O Estado tem a faculdade de criar novos tributos ou majorar os existentes quando quiser, mas sua cobrança fica adiada para o exercício seguinte ao da publicação da lei que os instituiu ou aumentou. EEXCEÇÕESXCEÇÕES AOAO PPRINCÍPIORINCÍPIO DADA AANTERIORIDADENTERIORIDADE:: �������� Empréstimos compulsórios de calamidade pública ou guerra (art. 148, I, CF). �������� Impostos extraordinários de guerra (art. 154, II, CF). �������� Contribuição para a seguridade social, que pode ser cobrada em 90 dias da data da publicação da lei (art. 195, §6°, CF). �������� IPI, II, IE e IOF, pois são marcados pela função extrafiscal e são destinados à aplicação e implementação da política econômica do governo federal (art. 153, I, II, IV, V). ANTERIORIDADE NONAGESIMAL OU NOVENTENA: aplicada em conjunto com a anterioridade, impondo prazo mínimo de 90 dias para a cobrança do tributo, que, ainda assim, só pode ser cobrado no exercício financeiro seguinte. Art. 150.Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) III – cobrar tributos: (...) c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; PROIBIÇÃO DE CONFISCO: também conhecido como princípio da razoabilidade ou proporcionalidade da carga tributária. O tributo deve ser razoável, não podendo ser tão oneroso que chegue a representar um confisco, afinal, seu objetivo é somente garantir a manutenção da sociedade e não prejudicar o orçamento individual do contribuinte. Art. 150.Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) IV – utilizar tributo com efeito de confisco; O confisco se caracteriza pela expropriação, pelo poder público, do patrimônio privado sem pagamento de justa indenização, como, por exemplo, se o Estado toma para si a casa de um cidadão sem pagar a correspondente indenização. Em matéria tributária é tarefa extremamente difícil identificar quando ocorreuconfisco, mas a doutrina tem interpretado este dispositivo afirmando que há confisco quando a atividade do sujeito passivo se torna inviável em decorrência da tributação, independentemente da porcentagem. PROIBIÇÃO DE LIMITAÇÃO AO TRÁFEGO DE PESSOAS OU BENS: a simples passagem de um Município para outro ou de um Estado para outro não pode constituir-se como hipótese de incidência tributária. Art. 150.Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) V – estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público; ExceçõesExceções:: �������� cobrançacobrança dede ICMSICMS, pois este imposto é devido pela circulação de mercadorias e não pelo tráfego entre os Estados e Municípios e �������� pedágiopedágio, que, conforme decisão do STF, possui natureza jurídica de taxa de conservação de vias públicas. Tributário. Pedágio. Lei nº 7.712, de 22/12/88. Pedágio: natureza jurídica: taxa: CF, art. 145, II, art. 150, V. Legitimidade constitucional do pedágio instituído pela Lei nº 7.712, de 1988. (STF, RE 181.475, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 25/06/1999). UNIFORMIDADE GEOGRÁFICA: é a isonomia vista por outro ângulo. O tratamento deve ser uniforme para todas as regiões do País, mas é possível conceder um determinado incentivo, por exemplo, para a Zona Franca de Manaus, a fim de que se restabeleça a igualdade entre esta e as demais regiões, promovendo o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico. Art. 151. É vedado à União: I – instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do País;
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