Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Aula 7: Segunda Geração dos Annales Como afirma Peter Burke, em seu livro “A Escola dos Annales 1929-1989 – A Revolução Francesa da Historiografia” a história dos Annales pode assim ser interpretada em termos da existência de três gerações, mas serve também para ilustrar o processo cíclico comum segundo o qual os rebeldes de hoje serão os establishment de amanhã, ... A criação da Revista dos Annales marca importante mudança na produção do conhecimento histórico, com a inauguração de uma nova forma de produção da história. A revista, desde seu início, foi pensada como algo que deveria ser a porta-voz de uma análise nova da história, baseada na interdisciplinaridade. Compreender a história da Segunda Geração dos Annales passa necessariamente por entender a forma de analisar a história a partir da perspectiva de Fernand Braudel. Elemento importante no desenvolvimento da história como algo global, ainda que esse conceito seja confuso e impreciso, ele concebeu a história total de uma determinada civilização como articulada em níveis de duração, do evento à estrutura e dela ao evento, cuja análise, descrição e articulação seriam fundamentais para a construção do quadro total dessa sociedade. No momento em que a Escola dos Annles foi gerada, em 1929, Fernand Braudel tinha 27 anos. Ele estudou na Sorbonne e, ao mesmo tempo, ministrou aula de História em uma escola da Argélia. Fernand Braudel, o mais influente historiador da Segunda Geração dos Annales, sucedeu Lucien Febvre, assumindo a direção da Revista dos Annales, tornando-se, até sua morte, em 1985, o mais importante e influente historiador francês. Em sua obra, a construção de uma história global é tema constante, principalmente porque, segundo ele, as diferentes ciências deveriam transpor fronteiras e prestar-se a reagrupamentos e não buscar o divórcio entre as mesmas, principalmente ciências afins. Segundo ele: O desejo de se reafirmar junto aos outros, dá forçosamente lugar a novas curiosidades: negar o próximo pressupõe conhecê-lo previamente. Mais ainda: sem terem explícita vontade disso, as ciências sociais impõem-se umas às outras: cada uma pretende captar o social na sua totalidade; cada uma delas se intromete no terreno de suas vizinhas, na crença de permanecer no próprio. A economia descobre a sociologia, que a rodeia; e a história – talvez a menos estruturada das ciências do homem – aceita todas as lições que lhe oferece a sua múltipla vizinhança e esforça-se por as repercutir. A concepção de uma história de longa duração acompanha o trabalho de Braudel ao longo de sua produção acadêmica. Sua principal obra, “O Mediterrâneo e o mundo mediterrâneo à época de Felipe II”, caminha no sentido de criar uma história que abre diferentes perspectivas e olhares para a história e seu diálogo com outras ciências, principalmente com a geografia. Ele busca a interdisciplinaridade com outras ciências, retomando uma ideia central dos primeiros Annales e para ele, a crise existente entre a geografia e a história abriria espaço para o desenvolvimento de um novo conceito, a geo-história, que viria a resolver os problemas de descrição e narração que ambas viviam. Seu livro é considerado uma obra-prima, pois trabalha tópicos como política, sociedade, geografia e cultura de forma brilhante, o que corrobora sua ideia de construir uma história global, com uma clara abertura das ciências entre si, cada qual contribuindo de alguma forma para o conceito de história total. Suas intenções com a geografia aparecem claras. O exemplo mais acessível parece ainda o da coerção geográfica. Durante séculos, o homem é prisioneiro de climas, de vegetações, de populações animais, de culturas, de um equilíbrio lentamente construído do qual não pode desviar-se sem o risco de pôr tudo novamente em jogo. Vede o lugar da transumância na vida montanhesa; a permanência de certos setores da vida marítima enraizados em certos pontos privilegiados das articulações litorâneas; a durável implantação das cidades; a persistência das rotas e dos tráficos; a fixidez surpreendente do quadro geográfico das civilizações.[1] BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a história. São Paulo: A constante presença de aspectos geográficos interagindo com as sociedades despertam a curiosidade de Braudel, que passa a considerá-la como elemento de extrema importância para o estudo de uma dada civilização. Considera a geografia tanto nos aspectos físicos quanto humanos, o que corrobora sua tese de que o homem ocupou o espaço, tornou-o habitável e imprimiu nele, marcadamente, suas características, tornando-o cenário de suas ações. Ressalta-se aqui que, para Braudel, a geografia, mesmo com grande importância, era uma ciência subordinada à história, assim como a economia, a sociologia, a antropologia e demais ciências. Ao retornar de sua viagem ao Brasil, depois de lecionar na Universidade de São Paulo no período de 1935 a 1937, Braudel conheceu Lucien Febvre que escrevia sua tese inicialmente intitulada “Felipe II e o Mediterrâneo”, quando foi convencido por Braudel a inverter o título, o tornando assim “O Mediterrâneo e Felipe II”. Braudel começou a escrever sua tese durante a Segunda Guerra Mundial enquanto estava preso em um campo perto de Lubeck. Embora não pudesse consultar bibliotecas, sua memória permitiu que iniciasse os rascunhos de “O Mediterrâneo” em cadernos que eram enviados a Lucien Febvre, e assim devolvidos posteriormente. “O Mediterrâneo” é famoso pela forma que foi escrito, marcando uma nova forma de abordagem do passado. O livro foi dividido em três partes, temos a História “quase sem tempo”, que trata das relações entre o homem e o ambiente; a História mutante das estruturas já conhecidas e trabalhadas como economia, política, cultura e campo social; e a terceira parte corresponde à História dos acontecimentos e também corresponde à ideia principal e original de sua tese, a política exterior de Felipe II. O trabalho de Braudel foi influenciado por diversos historiadores, dentre eles destaca-se o medievalista Henri Pirenne por seu trabalho de estudo sobre a ascensão de Carlos Magno. Assim como o geógrafo Friedrich Ratzel, responsável pelas ideias na área de Geopolítica que fizeram com que Braudel começasse a formular suas próprias ideias sobre essa temática. A principal aspiração de Braudel era a de atingir a “História Total”, porém em seus trabalhos pouco se encontra a respeito de “mentalidades coletivas” e até mesmo sobre valores ou atitudes. Em seus trabalhos também não encontramos muito a respeito de honra, vergonha e masculinidade. Esse sistema de valores, de acordo com o que a Antropologia nos mostra, ainda tem bastante importância no mundo mediterrâneo. Por tais motivos ou “ausências” ocorre a insinuação de que seu livro não propõe um problema, o que Febvre e Bloch defendem como base da pesquisa histórica, uma História voltada para os problemas. Porém, vemos em Braudel essa preocupação quando diz que “a região é o alicerce da pesquisa, esse alicerce é o problema”. E assim, o único problema para Braudel “é demonstrar que o tempo avança com diferentes velocidades”. A importância de Braudel para os Historiadores está na sua tentativa em dividir o tempo histórico em tempo geográfico, social e individual. Nos levando assim a Longa Duração, que se baseia no tempo geográfico. E embora ele coloque o meio como um dos ponto mais importantes, sua contribuição para a História está na forma como ele estabelece a complexa interação entre meio, economia, sociedade, política, cultura e os acontecimentos. E ainda, para ele, a contribuição que o historiadorpresta às ciências sociais está na consciência de que as “estruturas” são passíveis de mudanças. Podemos dividir da seguinte forma a questão temporal em Braudel: Curta duração- é o tempo dos acontecimentos, é a história dos eventos, é uma história superficial dos fatos. Média duração - é o tempo das conjunturas, onde visualiza a mutação das estruturas políticas, econômicas, sociais e mentais. Longa duração- é o tempo da história quase imóvel ou quase sem tempo da relação entre o homem e o ambiente. É muito comum a confusão entre história quantitativa e serial, mesmo porque são irmãs, mas não são a mesma coisa. Na ‘História Serial’ é estabelecido uma “série”. O historiador François Furet define no livro Atelier do Historiador a História Serial em termos da constituição do fato histórico em séries homogêneas e comparáveis. Ou seja, é a serialização do fato histórico no intuito de acompanhar sua repetição e mudanças na longa duração, ou média duração. Embora os primeiro trabalhos da história serial tenham sido pensados em trabalhos da curta e da média duração, é possível uma serialização em períodos da curta duração. Assim, talvez pela primeira vez, há a possibilidade de analisar como objeto um conjunto de materiais que foram depositados no decorrer dos tempos sob a forma de signos, de traços, de instituições, de práticas, de obras, etc.[1] Nessa aula você: Compreendeu a história da Segunda Geração da Escola dos Analles; analisou as principais características desse momento da história; apreendeu sobre os principais autores que compuseram a Segunda Geração dos Annales
Compartilhar