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Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar Graduação Copyright © 2023 Delinea Tecnologia Educacional 3 Introdução As doenças que afetam a cavidade oral podem causar disfagia, além de refluxo gastroesofágico. As alterações que podem prejudicar a cavidade oral incluem câncer de boca, doenças que afetam o sistema imune e doenças crônicas mal controladas. O tratamento do câncer de boca pode requerer ressecção cirúrgica do tumor ou tratamentos com radiação local. Nesses casos, é importante que sejam observados sinais e sintomas que possam comprometer a alimentação, podendo ser necessário alterar a consistência da dieta ou da temperatura, além de modificar alimentos que possam causar desconforto, ou utilizar outras vias de alimentação, como sondas enterais ou gastrostomias. Assim, o manejo nutricional torna-se importante, uma vez que, em todas essas possibilidades, o estado nutricional pode ser gravemente afetado, repercutindo na piora do tratamento, bem como em hospitalizações e complicações do estado geral de saúde. A redução da ingesta alimentar ou do alcance das necessidades nutricionais podem causar perda de peso e força muscular, além de desnutrição e anorexia severa. Objetivos da aprendizagem • Compreender que as alterações na cavidade oral podem causar impacto nutricional. • Entender que as alterações no esôfago podem causar impacto nutricional. Doenças da cavidade oral e esôfago Palavras-chave: nutrição, câncer, refluxo, disfagia, dietoterapia. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 4 Doenças da cavidade oral e do esôfago A digestão de alimentos inicia na cavidade oral, na qual os dentes trituram os alimentos em pedaços pequenos, e a saliva umidifica e transforma esse alimento em bolo alimentar, sendo produzida por meio das glândulas salivares. Na boca, a ptialina inicia a digestão do amido que, logo, é interrompida quando entra em contato com o conteúdo ácido no estômago. Há também o muco, uma proteína que lubrifica e une o bolo alimentar, para que este seja melhor engolido. Algumas secreções orofaríngeas apresentam a lipase, iniciando a digestão de lipídios ainda na boca (Mahan; Escott-Strump, 2010). A partir disso, o bolo alimentar passa pela faringe por meio do controle voluntário. No entanto, após essa fase, o processo de deglutição e digestão torna-se involuntário ao chegar no esôfago através da peristalse, que tem a capacidade de deslocar o alimento de maneira rápida até chegar ao estômago (Mahan; Escott-Strump, 2010). A saúde e o bem-estar do corpo humano dependem de um sistema gastrointestinal saudável e funcionante. Quando existem alterações ou doenças na cavidade oral ou no esôfago, é inevitável que a alimentação, a digestão, o apetite e o paladar não sejam afetados, interferindo, assim, no estado nutricional do indivíduo. A seguir veremos algumas das doenças mais comuns que podem afetar a cavidade oral e o esôfago. Cavidade oral Fonte: ©alila/123RF, Plataforma Deduca (2024). #ParaTodosVerem: há duas ilustrações: à esquerda, o recorte anatômico de um perfil humano com enfoque na cavidade oral; à direita, uma boca aberta com língua e arcada dentária superior e inferior íntegras. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 5 As doenças da cavidade oral estão, em grande parte, relacionadas ao câncer. No entanto, outras doenças ocasionadas, como diabetes mellitus, infecção pelo vírus da imunodeficiência humana, do inglês Human Immunodeficiency Virus (HIV) e síndrome da imunodeficiência adquirida, do inglês Acquired Immunodeficiency Syndrome (Aids) e infecções fúngicas, podem causar alterações como as gengivites e candidíases orais que prejudicam a alimentação e a nutrição. O câncer na cavidade oral pode afetar os lábios, a mucosa, as gengivas, o céu da boca e a língua, causando feridas com dificuldade maior de cicatrização, além de ocasionar manchas avermelhadas ou esbranquiçadas (Goldman; Schaefer 2014). Cavidade oral A forma de alimentação e nutrição estão relacionadas diretamente ao desenvolvimento dental, à força óssea, à preservação e ao cuidado com a gengiva e mucosa, além de prevenir e manejar doenças da cavidade oral. Alterações da cavidade oral Uma vez que o estado da cavidade oral é alterado, é estabelecida uma relação entre a capacidade ou forma de um indivíduo consumir os alimentos, modificando a forma e a consistência destes, prejudicando, assim, a nutrição e o estado nutricional (Mahan; Escott-Strump, 2010). Doenças crônicas como o diabetes mellitus, quando insatisfatoriamente controladas, podem ocasionar diversas alterações orais, como xerostomia, candidíase, síndrome de ardência bucal e doenças periodontais. Ainda, afetando diretamente o controle da glicemia, já que a capacidade de consumo dos alimentos pode sofrer um impacto negativo, podendo causar piora progressiva da doença e dos sintomas (Mahan; Escott-Strump, 2010). As infecções fúngicas, que, na maioria das vezes, podem ser causadas por imunossupressão, acarretam sintomas como queimações, dores na cavidade oral e disfagia. Nesse caso, algumas úlceras também podem acompanhar as infecções, reduzindo a capacidade de ingestão de alimentos. Além disso, as infecções por HIV e Aids podem desenvolver manifestações orais como estomatite, xerostomia e sarcoma de Kaposi, causadas frequentemente por reações do sistema imune quando comprometido, desnutrição e efeitos gastrointestinais da infecção do HIV (Mahan; Escott-Strump, 2010). Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 6 Alterações orais: infecções fúngicas Infecções fúngicas Doenças que afetam o sistema imune ÚlcerasHIV e Aids Fonte: adaptado de Mahan e Escott-Strump (2010). As causas mais frequentes para o desenvolvimento de câncer na cavidade oral estão relacionadas ao uso abusivo de tabaco e bebidas alcoólicas. Há também outros fatores ambientais que podem contribuir para o desenvolvimento de neoplasias, como exposição a radiações, refino de metais, exaustão de diesel, fogão à lenha, asbesto, irritantes crônicos, deficiência de vitamina A e imunossupressão (Goldman; Schaefer 2014). Alguns vírus, como o do papilomavírus humano, do inglês Human Papiloma Virus (HPV), são cancerígenos e responsáveis pelo aumento da incidência de câncer nesta região, apresentando um índice de cerca de 65% dos tumores de orofaringe (Goldman; Schaefer 2014). Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 7 Vírus Fonte: Plataforma Deduca (2024). #ParaTodosVerem: imagem com fundo azul e enfoque em uma colônia de vírus, com o formato arredondado e algumas antenas ao redor. No entanto, não somente as neoplasias localizadas na boca podem afetar a integridade desta cavidade, os tratamentos para diversos tipos de cânceres como quimioterapia, radioterapia na região de cabeça pescoço, medicamentos e cirurgias na cavidade oral podem causar manifestações orais e na capacidade de alimentação do paciente (Mahan; Escott-Strump, 2010). Causas de câncer na cavidade oral: álcool e tabaco O uso abusivo de drogas como o tabaco e o álcool torna-se cancerígeno, gerando tumores sólidos em todas as superfícies da boca. Cigarro Fonte: ©macrovetor, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: ilustração de um cigarro na cor branca, com a ponta acesa soltando fumaça para cima. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 8 HPV A infecção do vírus é sexualmente transmissível, do inglês Sexually Transmitted Disease (DST). Além de causar câncer na região da boca, podem surgir tumores no colo do útero. Vírus Fonte: ©eraxion/123RF, Plataforma Deduca (2024). #ParaTodosVerem: ilustração de vírus na cor verde, em formato arredondado, ligados a antenas. Os principais tipos de câncer que acometem a cavidade oral fazem parte daqueles classificados por câncer de cabeça e pescoço, ou seja, podem estar localizados nessas duas regiões, incluindo boca, faringe, laringe, garganta e esôfago. Os mais comuns são os carcinomas de células escamosas, que têm origem por meio de superfícies mucosasDietoterapia e fisiopatologia hospitalar 55 A recomendação é que a consistência da dieta inicial seja branda e hipolipídica (menos de 30% do valor energético total – VET), aumentando o fracionamento para seis refeições ao dia. Em casos de a via oral ser contraindicada, deve ser iniciada a nutrição enteral em até 72 horas, utilizando fórmulas poliméricas e semielementares (Arvanitakis et al., 2020). Nos casos de pancreatite aguda grave, a via oral não é recomendada, e a nutrição enteral deve ser iniciada assim que garantida a estabilidade hemodinâmica. A nutrição enteral deve ser iniciada de forma trófica, progredindo de acordo com tolerância. Deve ser descontinuada a nutrição enteral em casos de aumento da pressão intra-abdominal (PII). A recomendação é a seguinte, para energia: 25 a 35 kcal/kg peso ideal/dia; para proteína: de 1,2 a 1,5 g/kg peso ideal/dia; e para lipídios: até 2 g/kg/dia (Arvanitakis et al., 2020). Energia 25 a 35 kcal/kg peso ideal/dia. Proteínas 1,2 a 1,5 g/kg peso ideal/dia. Lipídios até 2 g/kg/dia. Pancreatite crônica A pancreatite crônica é caracterizada por danos irreversíveis ao pâncreas, levando à fibrose e à perda das funções dos tecidos exócrinos, como as células acinares, e dos tecidos endócrinos, como as ilhotas de Langerhans. Existem diferentes tipos de pancreatite crônica, incluindo pancreatite por calcificação, geralmente decorrente do consumo excessivo de álcool; pancreatite por obstrução pancreática, causada pela obstrução prolongada dos ductos pancreáticos devido a condições como Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 56 neoplasias, traumas e estenoses; e pancreatite por inflamação, associada a doenças autoimunes (Silva, 2011). Dor abdominal Fonte: ©nattnukhanka, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: imagem do abdome de um homem vestindo camiseta branca. Ele está com as duas mãos apoiadas no abdome. Os principais sintomas da pancreatite crônica são dor abdominal, diarreia, perda de peso involuntária, vômitos e esteatorreia. Os níveis de amilase e lipase costumam subir em manifestações agudas da doença. Para identificar o quanto a doença está avançada, é possível realizar a pesquisa de gordura nas fezes: uma coleta de fezes por 72 horas associada à ingestão de 100 g de gordura por dia (Silva, 2011). Além disso, pode ocorrer diabetes mellitus, já que as células que produzem insulina são prejudicadas e, com a progressão da doença, pode ocorrer a azotorreia (aumento da quantidade de matéria nitrogenosa na urina ou nas fezes). Todas essas complicações causam deficiências nutricionais, principalmente de vitaminas lipossolúveis, assim como de tiamina, cálcio, magnésio e zinco (Silva, 2011). Dessa forma, realizar uma avaliação nutricional acurada e que realize o diagnóstico do estado nutricional desses pacientes é fundamental. O diagnóstico não pode ser baseado somente no IMC ou no peso corporal, pois não é capaz de identificar casos de sarcopenia em obesos, por exemplo (Arvanitakis et al., 2020). Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 57 Pancreatite crônica: sintomas Dor abdominal, diarreia, perda de peso involuntária, vômitos e esteatorreia. Náuseas e vômitos Fonte: ©racool_studio, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: imagem de uma mulher jovem vestindo roupa rosa com a mão direita sobre o abdome e a mão esquerda na boca, com expressão facial de dor. Pancreatite crônica: complicações Diabetes mellitus, azotorreia e deficiências nutricionais. Controle glicose Fonte: ©marketlan, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: imagem de uma mão masculina apoiada sobre uma superfície. Na ponta do dedo médio, uma gota de sangue encostada em uma fita ligada ao aparelho que verifica o valor da glicose. O objetivo da terapia nutricional do paciente com pancreatite crônica é controlar a má-absorção e melhorar a condição nutricional do paciente, evitando, assim, a desnutrição proteico-energética. A diminuição da dor também deve ser um objetivo, por meio da diminuição da estimulação do pâncreas exócrino. A pancreatite crônica idiopática é frequentemente associada a uma mutação do gene de fibrose cística, e terapias voltadas à fibrose cística podem beneficiar os pacientes (SBNPE, 2011a; Arvanitakis et al., 2020). Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 58 Recomenda-se que seja ofertada uma alimentação por via oral, preferencialmente em consistência normal, de forma balanceada e não restritiva. Ela deve ser hipercalórica e hiperproteica (se paciente desnutrido) e normolipídica, pois não há recomendações em restringir os lipídios da dieta, exceto em casos de esteatorreia não controlada. Com um fracionamento aumentado seis vezes ao dia, alimentos ricos em fibras devem ser evitados (pelo aumento de flatulência, bolo fecal e perda de gordura, podendo inibir a reposição de enzimas pancreáticas). No entanto, é necessário avaliar a tolerância individual, pois muitos pacientes têm diabetes mellitus e, nesse caso, as fibras seriam benéficas (Arvanitakisp et al., 2020). Paciente comendo Fonte: ©freepik, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: imagem de um paciente sentado, com vista de perfil, apoiado em uma mesa com frutas e uma sopa, segurando uma colher. As recomendações nutricionais de energia são de 30 a 35 kcal/kg/dia e, em casos de desnutrição grave, iniciar com 20 kcal/kg/dia com progressão (evitando a síndrome de realimentação). Para proteínas, a recomendação é de 1 a 1,5 g/kg/ dia para os lipídios: > 30% do VET de lipídios (se bem tolerado) ou 20% do VET de lipídios + triglicerídeos de cadeia média (TCM) quando não houver ganho de peso e esteatorreia; e 0,7 a 1 g/kg/d de lipídios (hipolipídica) (Arvanitakis et al., 2020). Energia 30 a 35 kcal/kg/dia e, em casos de desnutrição grave, iniciar com 20 kcal/kg/ dia com progressão. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 59 Proteínas 1 a 1,5 g/kg/dia. Lipídios > 30% do VET de lipídios (se bem tolerado) ou 20% do VET de lipídios + TCM quando não houver ganho de peso e esteatorreia; e 0,7 a 1 g/kg/dia. A suplementação enzimática deve ser realizada quando há insuficiência do pâncreas exócrino, sendo diagnosticada por meio de exames laboratoriais e/ ou sinais e sintomas como esteatorreia, flatulência, dispepsia, cólicas, inchaço abdominal e urgência em evacuar. Muitas vezes, a esteatorreia pode não ser notada, e a suplementação pode iniciar em casos de perda de peso, hipoalbuminemia, diminuição de magnésio, pré-albumina, colinesterase e proteína ligadora de retinol. Essa suplementação deve ser feita em refeições que contenham gorduras, podendo ser ingerida durante ou após as refeições (Arvanitakis et al., 2020). Dica de leitura A pancreatite crônica é uma síndrome desenvolvida a partir de anor- malidades funcionais do pâncreas, resultando em fibrose e atrofia glandular. Dessa forma, consequentemente, há inflamação aguda e crônica. Para entender mais sobre o assunto, leia o artigo “Pancreatite crônica: revisão de literatura”. Disponível em: https://acervomais.com.br/index.php/saude/article/ view/11024/6484 https://www.researchgate.net/publication/351764732_Periodizacao_da_Antiguidade_contribuicao_de_Clau https://acervomais.com.br/index.php/saude/article/view/11024/6484 https://acervomais.com.br/index.php/saude/article/view/11024/6484 Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 60 Conclusão O pâncreas é uma glândula que tem localização abdominal, e desempenha funções exócrinas e endócrinas fundamentais para o organismo. Tem de 15 a 25 centímetros de extensão e faz parte do sistema digestivo. O surgimento de doenças agudas ou crônicas, como as pancreatites, pode prejudicar o funcionamento e os mecanismos relacionados às referidas funções, ocasionando diversos impactos na saúde e no estado nutricional do paciente. As manifestações agudas e crônicas dessas doenças requerem atenção especial ao estado nutricional e aos cuidados com a alimentação. No caso de pancreatites agudas, é fundamental avaliar o grau da doença, aplicaro tratamento necessário e ajustar a dietoterapia conforme a avaliação, a fim de respeitar sintomas como dor e desconforto abdominal, com o retorno gradual da alimentação oral. Na pancreatite crônica, mudanças definitivas em hábitos de vida e alimentares devem ser feitas. Portanto, adaptar a dieta é primordial para melhorar progressivamente os sinais e os sintomas das doenças pancreáticas. A eliminação do consumo abusivo de álcool, a adoção de hábitos alimentares saudáveis e a redução do consumo de alimentos ricos em gordura pode melhorar os sintomas e prevenir novas crises agudas em casos de pancreatite crônica. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 61 Referências Básicas GOLDMAN, L.; SCHAFER, A. I. Goldman Cecil Medicina. 24. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. MARTINS, C.; SAEKI, S. L. Interação fármaco x nutrientes. 3. ed. Curitiba: Nutroclínica, 2013. SILVA, S. M. C. S. 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Pancreatite de sulco: uma breve revisão de literatura. Revista Brasileira de Pesquisa em Saúde, Vitória, v. 25, n. 2, p. 72-79, 2023. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 62 SOCIEDADE BRASILEIRA DE NUTRIÇÃO PARENTERAL E ENTERAL (SBNPE). Associação Brasileira de Nutrologia. Terapia nutricional na pancreatite crônica. 2011a. Disponível em: https://amb.org.br/files/_BibliotecaAntiga/terapia_ nutricional_na_pancreatite_cronica.pdf. Acesso em: 18 fev. 2024. SOCIEDADE BRASILEIRA DE NUTRIÇÃO PARENTERAL E ENTERAL (SBNPE). Sociedade Brasileira de Clínica Médica. Associação Brasileira de Nutrologia. Terapia nutricional na pancreatite aguda. 2011b. Disponível em: https://amb. org.br/files/_BibliotecaAntiga/terapia_nutricional_na_pancreatite_aguda. pdf. Acesso em: 18 fev. 2024. VITOLO, M. R. Nutrição: da gestação ao envelhecimento. 2. ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2014. https://amb.org.br/files/_BibliotecaAntiga/terapia_nutricional_na_pancreatite_cronica.pdf https://amb.org.br/files/_BibliotecaAntiga/terapia_nutricional_na_pancreatite_cronica.pdf https://amb.org.br/files/_BibliotecaAntiga/terapia_nutricional_na_pancreatite_aguda.pdf https://amb.org.br/files/_BibliotecaAntiga/terapia_nutricional_na_pancreatite_aguda.pdf https://amb.org.br/files/_BibliotecaAntiga/terapia_nutricional_na_pancreatite_aguda.pdf _Hlk160529165 _Hlk159115942do sistema digestivo superior e, também, por um grupo abrangente de neoplasias das glândulas salivares. No entanto, outros tipos podem ser desenvolvidos na cavidade oral, como linfomas e sarcomas (Goldman; Schaefer 2014). Quando o câncer tem origem na cavidade oral, algumas das alterações mais comuns são odinofagia secundária à massa tumoral, disfagia, obstruções, infecções na boca e ulcerações. Com tantas possibilidades, e outras complicações secundárias, o déficit da ingestão de alimentos acontece, levando à perda de peso e a complicações comuns em pacientes com câncer, como a desnutrição e a caquexia. Ademais, o tratamento pode agravar ainda mais a situação nutricional, uma vez que pode ser necessário realizar ressecção cirúrgica do tumor, passando por radioterapia ou quimioterapia. Esta tem como efeitos adversos náuseas, vômitos e anorexia, complicando ainda mais a ingestão de alimentos. Outros fatores como mastigação, deglutição, salivação e alteração do paladar podem contribuir para o agravo do quadro nutricional (Mahan; Escott-Strump, 2010). Dessa forma, torna-se indispensável o papel da nutrição em casos de alimentação prejudicada por qualquer que seja a lesão ou doença na cavidade oral. Nesses casos, é recomendado que as escolhas dos alimentos sejam observadas, uma vez que a capacidade de mastigar e engolir determinados alimentos pode ser desconfortável ou Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 9 impossível. Bebidas alcoólicas devem ser evitadas, assim como alimentos que possam causar dor ou desconforto no momento da alimentação. Alterar a consistência de determinados alimentos pode ser uma estratégia para melhorar a aceitação, visto que alimentos muito duros ou secos podem prejudicar a alimentação (Silva, 2011). Alimentação Fonte: ©stockking, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: imagem da vista lateral de uma mulher com suéter preto tomando uma sopa, segurando a colher em uma mão e um livro aberto na outra. Outra estratégia é que os alimentos sejam consumidos em temperaturas frias ou mornas, evitando extremidades. É preciso evitar alimentos que possam irritar o estômago, como comidas muito condimentadas, pimentas, sal e açúcar em excesso, além de comidas muito ácidas ou cítricas. Em alguns casos de obstruções ou pós-cirúrgico, pode ser necessária a utilização de sondas nasoenterais ou gastroplastias, como escolha de via de alimentação do paciente, evitando, assim, prejuízos nutricionais (Mahan; Escott-Strump, 2010). Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 10 Saiba mais O câncer de cabeça e pescoço afeta diretamente as principais áreas de alimentação. Para saber mais sobre o assunto, confira o artigo “Impacto da terapia nutricional em pacientes com câncer de cabeça e pescoço com desnutrição: uma revisão sistemática”. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/cmbio/article/ view/34959/24807 O esôfago é um órgão em formato tubular que faz parte do trato gastrointestinal (TGI) superior, ligando a cavidade oral ao estômago. A deglutição dos alimentos é realizada por meio de movimentos peristálticos involuntários: o bolo alimentar é movimentado após a passagem pelo esfíncter superior; depois de percorrer o esôfago, o esfíncter esofágico inferior é acionado e relaxa, possibilitando que o bolo alimentar chegue ao estômago (Mahan; Escott-Strump, 2010). Esôfago Fonte: ©brgfx, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: ilustração anatômica do sistema digestivo completo, incluindo ca- vidade oral, esôfago, estômago, fígado, apêndice, vesícula, intestino delgado, intestino grosso e reto. https://periodicos.ufba.br/index.php/cmbio/article/view/34959/24807 https://periodicos.ufba.br/index.php/cmbio/article/view/34959/24807 Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 11 O esôfago, quando íntegro e funcional, tem defesas sobre a ação do ácido gástrico. No entanto, quando há alguma disfuncionalidade, é possível que ocorram doenças como disfagia e refluxo gastroesofágico. A disfagia é a dificuldade de deglutição, e pode ser originada por lesões do sistema nervoso central ou periférico, câncer, tumores benignos e alguns distúrbios da motilidade do esôfago ou do esfíncter esofágico inferior (Goldman; Schaefer 2014). Ainda, o tratamento deve ser realizado em conjunto com a medicina, a nutrição e a fonoaudiologia. É importante que seja estabelecida a consistência correta dos alimentos de acordo com o grau da disfagia e, em casos de dietas líquidas ou pastosas que não consigam atingir as necessidades nutricionais, deve-se considerar dietas hiperproteicas e hipercalóricas, bem como o uso de suplementos. Em casos de contraindicação da via oral para a alimentação, devem ser consideradas outras vias para o paciente, evitando acidentes como engasgos por broncoaspiração e evoluções para pneumonias (Vitolo, 2014). Dica de leitura A disfagia é a incapacidade de engolir, sendo um processo fisiológico e voluntário que faz parte da alimentação. Quando há dificuldade nes- sa atividade, o estado nutricional pode ser afetado diretamente. Para saber mais sobre a disfagia e a relação com a nutrição, confira o artigo “Disfagia e melhoria do estado nutricional: características tecno-fun- cionais de espessantes comerciais”. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/ view/15244/13645 As estratégias de terapia nutricional têm o objetivo de manter ou recuperar o estado nutricional adequado de cada indivíduo, de modo a evitar distúrbios, bem como desidratação e desnutrição, garantindo, assim, a oferta de nutrientes necessários para a manutenção do organismo e a recuperação de possíveis doenças de base (Vitolo, 2014). https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/15244/13645 https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/15244/13645 Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 12 Disfagia Dificuldade de engolir ou deglutir alimentos e líquidos. Dessa forma, requer tratamento fonoaudiológico, médico e nutricional, de maneira a evitar riscos e restabelecer a alimentação. Esôfago Órgão que faz parte do sistema digestivo, estando localizado entre a cavidade oral e o estômago. Ainda, tem 25 centímetros de extensão e é formado por músculos que promovem os movimentos de peristaltismo (Goldman; Schaefer 2014; Vitolo, 2014). A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é muito comum em adultos e idosos, com uma incidência de cerca de 20 a 40%. O sintoma principal é a pirose, uma sensação de queimação no esôfago, provocando desconforto e irritação na garganta, causado pelo retorno ao esôfago de conteúdos ácidos pépticos gástricos e desencadeando uma inflamação na mucosa esofágica. Isto se dá devido a redução da pressão no esfíncter esofágico inferior (EEI), permitindo o retorno destes conteúdos ácidos. A DRGE pode ser diagnosticada com a realização de uma endoscopia digestiva alta, exame elaborado com a utilização de um endoscópio de fibra óptica para visualizar e identificar lesões no esôfago, estômago e duodeno (Goldman; Schaefer 2014; Silva, 2011; Mahan; Escott- Strump, 2010). A exposição prolongada a conteúdos ácidos pode resultar em esofagite, erosões, úlceras, estenose e alguns tipos de disfagia (Mahan; Escott-Strump, 2010). O tratamento da DRGE pode ser medicamentoso, com a utilização de medicamentos inibidores da bomba de prótons e cirúrgico para reverter úlceras e hérnia de hiato, porém deve estar aliado a mudanças de hábitos alimentares. Para melhorar os sintomas e evitar que a doença progrida, alterações na alimentação são necessárias. Isso inclui comer porções menores com maior frequência ao longo do dia, evitar o consumo de cafeína e outros alimentos que contem teobromina e xantina, bebidas alcoólicas e alimentos gordurosos, pois possuem a capacidade de reduzir a pressão feita no EEI para que não retornem ácidos gástricos ao esôfago e assim aumentando as chances de DRGE. Além disto, devem adotados alguns hábitos para melhora dos sintomas como não comer perto da hora de deitar, evitar consumode líquidos durante a refeição, e dar preferências a alimentos saudáveis e naturais em vez de processados e ultra-processados e, no caso de úlceras, evitar comidas duras e ácidas (Mahan; Escott-Strump, 2010; Silva, 2011). Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 13 Tratamento nutricional Reduzir sintomas Aumentar o fracionamento e reduzir o volume das refeições Comer em posição reta (90 graus) Evitar deitar após as refeições Elevar a cabeceira da cama Alimentos que devem ser evitados Alimentos que reduzem a pressão do EEI: café, mate, chá preto, bebidas alcoólicas, chocolate - fontes de teobomina e xantina Alimentos que irritam a mucosa: alimentos ácidos, temperos e especiarias fortes e picantes Alimentos que estimulam a secreção gástrica: com alto teor de purinas (algumas fontes de proteína) e alimentos gordurosos Fonte: adaptado de Silva (2011). DRGE não erosiva Comum na população adulta, com vasta etiologia. As devidas causas podem ser de origem mecânica, como falha do esfíncter esofágico inferior, aumento do suco gástrico ou estresse. Dor no esôfago Fonte: ©eddows-animator, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: imagem do torso de uma mulher com camiseta branca e as duas mãos sobre o peito. Em sobreposição, há uma imagem nas cores amarela e vermelha simulando queimação ou azia. DRGE erosiva Há complicações mais agravantes e que requerem maior acompanhamento, como úlceras, esofagites e estenoses. Em algumas situações, devem ser feitos tratamentos cirúrgicos. Desconforto no esôfago Fonte: ©cookie_studio, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: imagem de um homem jovem usando camiseta branca. No rosto, há expres- são de dor. A mão direita está sobre o pescoço; já a mão esquerda está cruzada na barriga. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 14 A hérnia de hiato, que é uma protrusão de uma parte do estômago para o interior do tórax por meio do hiato esofágico do diafragma, pode alterar a anatomia do esôfago e desencadear uma DRGE e esofagite. Na obesidade é comum que a hérnia de hiato leve a DRGE, pois o aumento da pressão intra-abdominal presente nesta condição pode desencadeá-lo. Para melhora dos sintomas a perda de peso e mudanças na alimentação se tornam fundamentais (Silva, 2011). Doenças da cavidade oral Fonte: ©kamranAydinov, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: imagem de um paciente masculino deitado com a boca aberta, com o auxílio de um afastador labial. As mãos de outro profissional aparecem com um instru- mento em mãos, examinando a boca do paciente. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 15 Conclusão Diversas doenças e manifestações podem afetar órgãos do sistema digestivo alto, causando alterações nas funções básicas destes. Uma vez interferindo nesse processo, que, apesar básico, é fundamental para a sobrevivência de forma fisiológica, envolve diversos órgãos e processos extremamente complexos de forma voluntária e involuntária. No momento em que doenças têm a capacidade de causar alterações nesse processo, há um grande risco de perda de peso, carência de nutrientes, perda de força e capacidade funcional, piora do estado geral, desnutrição e anorexia. Vimos sobre algumas das doenças que podem comprometer o estado nutricional. Entre elas, estão o câncer de boca; o diabetes mellitus, que, quando não tratado, pode impactar diretamente as funções da boca e da alimentação; infecções fúngicas decorrentes de vírus que afetam o sistema imunológico, como HIV e Aids; e o tratamento de câncer em regiões como cabeça e pescoço, ou em outras partes do corpo, que também pode interferir diretamente na funcionalidade bucal. A disfagia é caracterizada pela dificuldade de engolir, podendo afetar a ingestão de saliva, líquidos ou alimentos sólidos. Essa condição pode estar associada a doenças neurológicas ou, ainda, ser consequência de certos tipos de câncer. Por fim, exploramos mais detalhadamente a DRGE, incluindo causas, opções de tratamento e o papel crucial que a nutrição e os hábitos alimentares desempenham na piora ou na significativa melhora dos sintomas. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 16 Referências Básicas GOLDMAN, L.; SCHAFER, A. I. Goldman Cecil Medicina. 24. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. MARTINS, C.; SAEKI, S. L. Interação fármaco x nutrientes. 3. ed. Curitiba: Nutroclínica, 2013. SILVA, S. M. C. S. Tratado de alimentação, nutrição e dietoterapia. 2. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2011. Complementares CALIXTO-LIMA, L.; REIS, N. T. Interpretação de exames laboratoriais aplicados à nutrição clínica. Rio de Janeiro: Rubio, 2012. CARDOSO, S. P.; MARTINS, C. Interação droga-nutriente. Curitiba: Nutroclínica, 2002. COUSINS, R. J.; ROSS, A. C. Tratado de nutrição moderna na saúde e na doença. 10. ed. Barueri: Manole, 2009. DUARTE, A. C. G. Semiologia imunológica nutricional. Rio de Janeiro: Axcel Books do Brasil Editora Ltda., 2003. IKEDA, C. M. et al. Disfagia e melhoria do estado nutricional: características tecno- funcionais de espessantes comerciais. Research, Society and Development, Vargem Grande Paulista, v. 10, n. 5, e50610515244, 2021. MAHAN, L. K.; ESCOTT-STRUMP, S. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 12. ed. São Paulo: Rocca, 2010. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 17 SOUZA, V. G. et al. Impacto da terapia nutricional em pacientes com câncer de cabeça e pescoço com desnutrição: uma revisão sistemática. Revista de Ciências Médicas e Biológicas, Salvador, v. 20, n. 1, p. 137-143, 2021. VITOLO, M. R. Nutrição: da gestação ao envelhecimento. 2. ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2014. 18 Introdução As condições que alteram a funcionalidade dos órgãos do sistema digestivo podem causar impactos nutricionais ao organismo, uma vez que o papel de ingestão, digestão, absorção e nutrição do corpo pode ser comprometido por determinadas doenças. Nesses casos, há a possibilidade de desenvolver subnutrição, deficiências de nutrientes, redução de força e perda de funcionalidade, desnutrição grave e até mesmo óbito, em casos extremos. O déficit de nutrientes pode acontecer devido à redução de funções. Além disso, algumas doenças podem causar inapetência, vômitos e diarreias, que podem reduzir a ingesta alimentar. Em casos assim, a intervenção com terapia nutricional é fundamental, com a adaptação correta de alimentos, consistências, quantidades, fracionamento e vias de alimentação. Doenças gástricas e intestinais requerem terapia nutricional adequada e individualizada. Algumas das enfermidades que iremos ver a seguir são gastrite, úlceras, doenças inflamatórias intestinais (retocolite ulcerativa, doença de Crohn, síndrome do intestino irritável) e doença celíaca. Objetivos da aprendizagem • Estabelecer a melhor terapia nutricional em pacientes com doenças gástricas. • Determinar a melhor terapia nutricional em pacientes com doenças intestinais. Terapia nutricional nas doenças do estômago e intestino Palavras-chave: gastrite, intestino, estômago, inflamação, celíaco. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 19 Gastrites e úlceras gastrointestinais As gastrites são inflamações da mucosa gástrica, e ocorrem em casos de desequilíbrio químico, infecções ou anormalidades neurais que possam desestruturar a integridade da mucosa do estômago. A causa mais comum da gastrite é pela infecção por Helicobacter pylori, uma bactéria pouco resistente ao meio ácido presente no estômago. Nesses casos, há uma inflamação devido a respostas inatas e à imunidade sistêmica. Dessa forma, a presença dessa bactéria pode, quando não tratada, desenvolver ulcerações sintomáticas e câncer de estômago (Goldman; Schaefer, 2014; Silva, 2011). A gastrite pode surgir devido ao uso de medicamentos que impactam a mucosa gástrica, consumo de bebidas alcoólicas, tabagismo, situações de estresse, entre outros fatores. Essa condição pode se manifestar de forma aguda, surgindo abruptamente, sendo de curta duração e desaparecendo sem deixar sequelas. Por outro lado,também pode ser crônica, caracterizada pela atrofia progressiva e persistente da mucosa gástrica (Mahan; Escott-Strump, 2010). As úlceras no estômago são doenças com evoluções crônicas e podem ser ativadas sem precedentes seguidos de períodos de remissão. Ainda, são caracterizadas pela perda da capacidade dos mecanismos de defesa e reparo da mucosa, ocasionando a perda de tecidos da mucosa nas áreas do tubo digestivo que entram em contato com a secreção ácida presente no estômago. Podem ser causadas por infecções pelo H. pylori, gastrites, uso de medicamentos como a aspirina, e estresse, além do uso abusivo de álcool e tabaco (Goldman; Schaefer, 2014; Mahan; Escott-Strump, 2010). Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 20 Etiologia das úlceras Úlceras Gastrites Tabaco e álcool Estresse Medicamentos H. pylori Fonte: adaptado de Mahan e Escott-Strump (2010). Dor e desconforto são sintomas frequentes em úlceras gástricas. Ademais, podem ocorrer impactos significativos na nutrição de indivíduos em fases agudas da doença, ou quando não tratada, como anorexia, perda de peso não intencional, náuseas, vômitos e azia. As complicações incluem hemorragias e perfurações, podendo resultar na perfuração da cavidade peritoneal, afetando outros órgãos próximos à lesão, além de corroer uma artéria e levar a hemorragias graves (Mahan; Escott-Strump, 2010). Dessa forma, em doenças como gastrite ou úlcera, o agravante é o desequilíbrio entre os fatores que agridem e protegem a mucosa, resultando em lesões. Uma avaliação acurada sobre o estado nutricional do indivíduo com essas enfermidades é imprescindível (Silva, 2011). Em tais circunstâncias, é frequente observar não apenas a perda de peso, mas também deficiências nutricionais, sendo mais prevalente a redução da ingestão de energia, proteínas e fontes de ferro. Na gastrite crônica, é comum ocorrer um déficit nutricional de vitamina B12 (Mahan; Escott-Strump, 2010). Sintomas das úlceras gástricas Dor, desconforto, impactos nutricionais, náuseas e vômitos. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 21 Complicações das úlceras gástricas Perfurações e hemorragia. Déficits nutricionais Redução de energia, carência de proteínas e fontes de ferro (Mahan; Escott- Strump, 2010; Vitolo, 2014). Nessas situações, a terapia nutricional deve ter em vista a manutenção ou restauração do estado nutricional. Entretanto, em casos de hemorragia, é recomendado o jejum e a observação até que o quadro seja estabilizado. Assim que possível, deve-se iniciar a alimentação com alimentos líquidos por via oral, progredindo gradativamente para consistências mais sólidas, de acordo com a tolerância do paciente (Silva, 2011). Em casos de gastrite ou úlceras agudas sem complicações, é recomendado que a terapia nutricional tenha como objetivo evitar alimentos que possam agravar os sintomas e irritar o estômago, como alimentos ultraprocessados, excesso de cafeína, refrigerantes, álcool, pimentas e alimentos muito ácidos. As recomendações nutricionais de energia devem ser adequadas para manter ou recuperar o estado nutricional, e a consistência dos alimentos deve variar de acordo com as condições individuais de cada paciente (Silva, 2011). Estômago Fonte: ©catalyststuff, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: ilustração de um estômago com conteúdo gástrico líquido na cor verde, preenchido até a metade. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 22 Doenças inflamatórias intestinais As doenças inflamatórias intestinais (DIIs) são condições crônicas que afetam o trato gastrointestinal, sendo caracterizadas pela manifestação recorrente de sinais e sintomas exacerbados, que variam de acordo com o tipo de doença, localização e extensão do processo fisiopatológico. As formas mais comuns são a retocolite ulcerativa (RCU) e a doença de Crohn (DC) (Mahan; Escott-Strump, 2010). Sabe-se que o sistema imune é responsável por grande parte dos fenômenos que envolvem as DII, incluindo os sintomas, estágios crônicos, as complicações desenvolvidas e regressões da doença. Isto se dá pela exacerbação da resposta humoral, aumentando a produção de anticorpos. Neste processo estão presentes as células T da mucosa intestinal e outras células da mucosa intestinal como as mesenquimais, epiteliais, endoteliais e as células nervosas, envolvendo o processo inflamatório da doença (Silva, 2011). Entre os elementos do processo inflamatório estão presentes as citoquinas, substancias secretadas por diversas células, e que agem ativando, modulando e inibindo a resposta imune do intestino, sendo elas o fator de necrose tumoral (TNF), interferon e as linfocinas. A resposta inflamatória gerada pelas DII resultam então em um dano tecidual do sistema gastrointestinal, tornando os mecanismos regulatórios anormais ou então os fatores da resposta imune da fase aguda são exacerbados, desencadeando uma fibrose e a depreciação tecidual. A partir disto são comuns o aparecimento de complicações como a diarreia, perda de peso, Hiper-Homocisteinemia e obstruções gastrointestinais parciais (Mahan; Escott- Strump, 2010; Silva, 2011). As causas são multifatoriais e pouco compreendidas, embora existam evidências significativas da influência de fatores ambientais, como aspectos genéticos, composição da microbiota intestinal e integridade da barreira intestinal (incluindo imunidade inata e permeabilidade) (Silva, 2011). A principal diferença entre essas doenças inflamatórias é que a RCU acomete somente o intestino grosso; já a DC pode se manifestar em todos os órgãos que fazem parte do trato digestivo, da boca ao ânus (Silva, 2011). Dor abdominal Dor contínua, de grau moderado a intenso, localizada no quadrante inferior direito. Cólicas no hipogástrio Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 23 Precedem e podem ter sensação de alívio após evacuações. Dor difusa associada à distensão abdominal Associada a vômitos e náuseas com redução ou parada da eliminação de gases e fezes. Diarreia crônica Dor abdominal e, em casos de cólon não comprometido, apresenta-se sem sangue, muco ou pus (Silva, 2011). Diagnósticos de DIIs Doença de Crohn Avaliação do quadro clínico; exames laboratoriais, histológicos e de imagem; e endoscopias. Retocolite ulcera�va Gravidade da crise aguda; evolução clínica; extensão do processo inflamatório; exames laboratoriais e radiológicos; e endoscopia. Fonte: adaptado de Silva (2011). A terapia é realizada por meio de medicamentos, imunomoduladores e probióticos, além de terapias nutricionais e biológicas. Indivíduos portadores de DIIs têm a função do trato gastrointestinal comprometida em muitos momentos, interferindo diretamente no estado nutricional e ajudando com o aparecimento da deficiência de diversos nutrientes (Silva, 2011). É fundamental que seja realizada uma avaliação criteriosa do estado nutricional com esse público, avaliando perda de peso involuntária, possíveis anemias e deficiência de micronutrientes (Mahan; Escott-Strump, 2010). Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 24 Medicamentos Fonte: ©wirestock, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: imagem de cerca de 15 cápsulas de comprimidos brancos, preenchi- dos com bolinhas brancas, espalhados sobre uma superfície também branca. Fatores relacionados à deficiência nutricional nas DIIs (Mahan; Escott-Strump, 2010): Diminuição na ingestão alimentar Anorexia, náuseas, vômitos, dor abdominal e diarreia. Diminuição da ingestão alimentar Fonte: ©jcomp, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: imagem de uma mulher jovem inclinada para frente, com a mão direita sobre a boca e a mão esquerda apoiada na barriga, com expressão facial de desconforto. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 25 Má-absorção Redução da área absortiva (doença e ressecções), supercrescimento bacteriano e deficiência de sais biliares. Intestino Fonte: ©brgfx, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: ilustração anatômica do intestino delgado, intestino grosso e reto.As recomendações nutricionais das DIIs estão voltadas à recuperação ou manutenção do estado nutricional. Dessa forma, as necessidades energéticas vão ao encontro desse objetivo, e recomenda-se, em média, 35 a 40 kcal/kg (peso ideal) /dia; para proteínas, devem ser ofertadas de 1 a 1,5 g (ou até 2 g para desnutridos) /kg. A dieta deve ser hipolipídica (também não possua traços, para isto é fundamental ler os rótulos destes alimentos. Usa-se o termo cozinha livre de glúten para aquela que não há contaminações diretas ou indiretas de alimentos (Mahan; Escott-Strump, 2010). Dica de leitura A doença de Crohn é uma enfermidade autoimune inflamatória que afeta o intestino delgado. Para compreender um pouco mais sobre os impactos nutricionais em pacientes com DC, bem como a impor- tância da avaliação e da terapia nutricional, confira o artigo “A impor- tância da avaliação do estado nutricional em pacientes portadores de doença celíaca”. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/ view/28749/24810 https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/28749/24810 https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/28749/24810 Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 31 Conclusão Existem diversas enfermidades que podem afetar órgãos que fazem parte do sistema digestivo. Aqui, o enfoque foi para doenças localizadas no estômago e no intestino. A gastrite e as úlceras estomacais são comuns em parte da população adulta, causando dores e desconfortos no estômago. Em alguns casos, essas condições podem ser agravadas, resultando em sintomas mais sérios e representando, assim, riscos à saúde, como hemorragias de órgãos e tecidos. Geralmente, o diagnóstico dessas doenças é realizado por meio de sinais e sintomas, juntamente com exames como a endoscopia. O tratamento para gastrite e úlceras estomacais envolve medicamentos, podendo ser complementado com terapia nutricional. Evitar alimentos que possam agravar a doença e causar desconforto gástrico pode melhorar a qualidade de vida, além de promover uma alimentação mais saudável, já que muitos desses alimentos são considerados pouco saudáveis. Além disso, DIIs, como a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, são condições crônicas que afetam o trato gastrointestinal. O tratamento para essas enfermidades é medicamentoso, com vistas a estabilizar e restaurar as funções dos órgãos afetados. Além dos medicamentos, são utilizados imunomoduladores, probióticos e terapia nutricional como parte do tratamento. Outras doenças que afetam o trato gastrointestinal incluem a síndrome do intestino irritável e a doença celíaca, na qual o glúten desencadeia processos inflamatórios no trato gastrointestinal. O tratamento para a DC envolve a remoção do glúten da alimentação. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 32 Referências Básicas GOLDMAN, L.; SCHAFER, A. I. Goldman Cecil Medicina. 24. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. MARTINS, C.; SAEKI, S. L. Interação fármaco x nutrientes. 3. ed. Curitiba: Nutroclínica, 2013. SILVA, S. M. C. S. Tratado de alimentação, nutrição e dietoterapia. 2. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2011. Complementares CALIXTO-LIMA, L.; REIS, N. T. Interpretação de exames laboratoriais aplicados à nutrição clínica. Rio de Janeiro: Rubio, 2012. CARDOSO, S. P.; MARTINS, C. Interação droga-nutriente. Curitiba: Nutroclínica, 2002. COUSINS, R. J.; ROSS, A. C. Tratado de nutrição moderna na saúde e na doença. 10. ed. Barueri: Manole, 2009. DUARTE, A. C. G. Semiologia imunológica nutricional. Rio de Janeiro: Axcel Books do Brasil Editora Ltda., 2003. MAHAN, L. K.; ESCOTT-STRUMP, S. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 12. ed. São Paulo: Rocca, 2010. VITOLO, M. R. Nutrição: da gestação ao envelhecimento. 2. ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2014. OLIVEIRA, K. A. S. et al. The disease of nutritional status assessment in patients with celiac disease. Research, Society and Development, Vargem Grande Paulista, v. 11, n. 5, e51911528749, 2022. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 33 ROYA, M. J. B. et al. Comparação dos efeitos de dieta imunomoduladora com glutamina ou probióticos no tratamento da retocolite ulcerativa: síntese de evidências. Revista Saúde em Foco, Teresina, n. 9, p. 384-387, 2017. 34 Terapia nutricional nas doenças hepáticas Introdução O fígado é um órgão complexo que desempenha diversas funções no organismo. As doenças hepáticas podem ter graves consequências para a saúde e a sobrevivência, devido às importantes funções desempenhadas pelo fígado. Elas podem desencadear uma série de complicações que afetam outros órgãos e funções do organismo. As hepatopatias impactam diretamente o estado nutricional, uma vez que afetam as funções do metabolismo de carboidratos, lipídios, proteínas, vitaminas e minerais. Isso pode levar a deficiências nutricionais, perda de peso involuntária, desnutrição grave e outras complicações relacionadas ao estado nutricional. Neste estudo, será abordada a fisiopatologia das doenças hepáticas, com foco nas hepatopatias alcoólicas e não alcoólicas, além das recomendações e da terapia nutricional para essas condições. Objetivos da aprendizagem • Conhecer a terapia nutricional nas doenças hepáticas. • Compreender a fisiopatologia das doenças hepáticas e seus impactos. Palavras-chave: fígado, hepatopatias, álcool, desnutrição, estado nutricional. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 35 Terapia nutricional nas doenças hepáticas O fígado é um órgão vital, cuja perda de função pode gerar consequências graves à saúde, não sendo possível sobreviver sem ele. A estrutura é complexa, já que é um órgão que desempenha inúmeras funções. É a maior glândula corporal, tem dois lobos principais, direito e esquerdo, e é irrigado por sangue por duas fontes: a artéria hepática (suprindo um terço do sangue que vem da aorta) e a veia porta (suprindo o restante e coletando sangue do trato digestivo) (Goldman, 2014; Mahan; Escott-Strump, 2010). Fígado Fonte: ©wanxina, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: ilustração de uma mão aberta. Acima dela, há o desenho de um fígado. O fígado tem funções no metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas; armazenamento e ativação de micronutrientes; produção e eliminação da bile; conversão da amônia e ureia; e metabolismo de esteroides. Ainda, funciona como câmara de filtração e irrigação. A bile é formada por meio das células hepáticas e tem saída do fígado através de ductos biliares. É armazenada na glândula biliar e liberada no duodeno quando há a necessidade de auxílio na digestão de alimentos gordurosos, emulsificando a gordura e formando compostos por meio de ácidos graxos, auxiliando, assim, a absorção (Mahan; Escott-Strump, 2010). Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 36 Fígado saudável Fonte: ©brgfx, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: ilustração de um fígado saudável na cor vermelha, composto pelos lóbulos direito e esquerdo. Em relação ao metabolismo de macronutrientes, o metabolismo de carboidratos acontece quando a galactose e a frutose são transformadas em glicose no hepatócito ou na célula hepática. Então, o fígado armazena a glicose como glicogênio (processo de glicogênese) e tem a capacidade de enviá-lo de volta para o sangue quando os níveis de glicose forem baixos (processo de glicogenólise). Além disso, o fígado tem a função de produção de glicose (processo de gliconeogênese), decorrente de alguns precursores do ciclo do ácido tricarboxílico (Mahan; Escott-Strump, 2010). O fígado metaboliza proteínas por meio dos processos de transaminação e desaminação oxidativa, que convertem os aminoácidos em substratos utilizados na produção de energia e glicose, além de sintetizar aminoácidos não essenciais. No que diz respeito ao metabolismo de lipídios, o fígado utiliza ácidos graxos provenientes da alimentação e do tecido adiposo corporal, que são transformados em acetil- coenzima A. Ademais, o fígado produz cetonas e realiza a síntese e a hidrólise de triglicerídeos, fosfolipídios, colesterol e lipoproteínas (Mahan; Escott-Strump, 2010). Metabolismo de carboidratos Transformação da galactose e frutose em glicose no hepatócito e armazenamento em forma de glicogênio. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 37 Metabolismo de proteínas A transaminação e a desaminação oxidativa transformam aminoácidosem substratos para utilização como energia, além de sintetizar aminoácidos não essenciais. Metabolismo de lipídios Transformação de ácidos graxos em acetil-coenzima A (Mahan; Escott- Strump, 2010). Os marcadores bioquímicos e exames laboratoriais são ferramentas utilizadas para auxiliar no diagnóstico, no acompanhamento e na evolução das doenças, assim como nas hepatopatias. A partir deles, é possível analisar as alterações das funções hepáticas, das lesões e dos marcadores virais, bem como de inflamações, resistência à insulina e índices de prognósticos (Calixto-Lima, 2012). Exames laboratoriais nas hepatopatias Exame Interpretação Bilirrubina sérica total Superprodução ou absorção, conjugação ou excreção prejudicadas pelo fígado. Bilirrubina direta Níveis altos podem ser disfunção do parênquima hepático e dos ductos biliares. Bilirrubina indireta Níveis altos são observados na hemólise e na eritropoese deficiente. Desidrogenase láctica (DHL) A elevação é observada em lesões hepáticas e neoplasias com comprometimento hepático. Globulina Níveis elevados na doença hepática crônica e hepatite autoimune. Alanina aminotransferase (ALT) Redução dos níveis pode ser sinal de recuperação da doença ou redução massiva dos hepatócitos (pior prognóstico). Aspartato aminotransferase (AST) Níveis altos quando há lesão com necrose. Gamaglutamitransferase (gama- GT) Valores elevados são encontrados na colestase intra-hepática, na obstrução biliar e em processos infiltrativos. Fosfatase alcalina (FA) Níveis elevados podem indicar hepatite e cirrose. Tempo de protrombina Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 38 Exame Interpretação Albumina sérica Baixos níveis são comuns em doenças crônicas do fígado. Ferritina sérica A elevação pode estar relacionada a hepatopatias crônicas e carcinomas hepáticos. Marcadores para hepatite viral Indicam a presença das hepatites virais: IgM ou IgA. Fonte: adaptado de Calixto-Lima (2012). Doenças hepáticas alcoólicas A doença hepática alcoólica é causada pelo consumo abusivo de álcool por meio do acetaldeído, um produto tóxico do metabolismo do álcool que causa danos ao fígado. Há três estágios da doença: a esteatose hepática por álcool, a hepatite alcoólica e a cirrose. A hepatite alcoólica é marcada pela hepatomegalia, com aumento da bilirrubina sérica, além da elevação das transaminases e anemia. Outros efeitos da doença são dor abdominal, anorexia, náuseas e vômitos, diarreia, perda de peso involuntária e febre (Mahan; Escott-Strump, 2010). Na cirrose, os sintomas podem ser os mesmos da hepatite, só que mais intensos, adicionados a sangramentos do trato gastrointestinal, ascite, encefalopatia hepática (EH) e hipertensão portal (Mahan; Escott-Strump, 2010). Consumo de álcool Fonte: ©nensuria, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: imagem de uma pessoa segurando uma garrafa de bebida alcoólica, servindo-a em um copo de vidro com gelo. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 39 Doenças hepáticas não alcoólicas As doenças hepáticas não alcoólicas têm diversas causas, podendo ser virais, cancerosas, adquiridas, fulminantes e crônicas. As hepatites virais são inflamações no fígado e podem ser do tipo A, B, C, D e E. As hepatites de tipo A e E são de origem infecciosa, sendo transmitidas por via fecal-oral. As demais (B, C e D) têm a transmissão a partir do sangue e fluidos do organismo (Mahan; Escott-Strump, 2010). Hepatites: sintomas – fase 1 Febre, artralgia, artrite, rash cutâneo e angioedema (Mahan; Escott-Strump, 2010). Rash cutâneo Fonte: ©freepik, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: imagem de uma pessoa coçando o cotovelo esquerdo com a mão direita. A pele está coberta por pintas vermelhas. Hepatites: sintomas – fase 2 Mal-estar, fadiga, mialgia, anorexia, náuseas e vômitos (Mahan; Escott-Strump, 2010). Fadiga Fonte: ©wayhomestudio, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: imagem de uma mulher jovem com cabelo preso, olhos fechados e as duas mãos sobre a boca com expressão de cansaço. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 40 Sintomas hepatites: fase 3 Sintomas preexistentes associados à icterícia. Icterícia Fonte: ©dariakulkova, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: imagem de um homem jovem com pele e olhos amarelados, apontando para o olho direito As hepatites fulminantes são causadas por uma disfunção grave do órgão quando não há presença de doença hepática prévia, aliada ao desenvolvimento de EH. As principais causas estão ligadas a hepatites virais e toxicidade química (medicamentos e produtos químicos), tendo alto risco de desfechos desfavoráveis (Mahan; Escott-Strump, 2010). A doença do fígado gorduroso não alcoólica, do inglês Nonalcoholic Fatty Liver Disease (NAFLD), pode variar de esteatose a esteatose hepática, e consiste no acúmulo de gordura nos hepatócitos, podendo causar fibrose, cirrose e carcinoma. As principais causas são o uso de drogas, anomalias congênitas e distúrbios do metabolismo adquiridos, sendo mais comum em pessoas obesas com diabetes mellitus e dislipidemias. A esteatose hepática não alcoólica, do inglês Nonalcoholic Steatohepatitis (Nash), está associada à deposição de tecido fibroso ao fígado, podendo ser uma evolução da NAFLD, já que a resistência à insulina pode causar esteatose e o estresse oxidativo causado pode gerar essa evolução (Goldman, 2014; Mahan; Escott-Strump, 2010). Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 41 NAFLD É o acúmulo de gordura em células hepáticas (hepatócitos), que podem desenvolver fibrose, cirrose e câncer. Gordura do fígado Fonte: ©eranicle, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: imagem de um fígado humano visto de frente com deposição de gordura, mudando relativamente a cor de avermelhado para algumas partes amareladas devido à deposi- ção de gordura. Nash Condição em que o fígado torna-se fibroso. Muitas vezes, é uma evolução da NAFLD. Fígado fibroso Fonte: ©eranicle, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: imagem de um fígado humano visto de frente coberto por tecido fibroso. A encefalopatia hepática é uma manifestação clínica de patologias hepáticas crônicas ou agudas. A causa está relacionada à ruptura da barreira hematoencefálica, permitindo que substâncias tóxicas, como a amônia, presentes no sangue, atinjam o cérebro ou vice-versa. Isso ocorre devido ao comprometimento da função de detoxificação e redução na capacidade de síntese de amônia em pacientes com doenças hepáticas, resultando em hiperamonemia. Esta, consequentemente, desencadeia um efeito neurotóxico, aumentando o risco de inflamação sistêmica (Silva, 2011). A EH pode ser classificada em quatro estágios: no grau I, o paciente pode sofrer alterações como sonolência e euforia; no grau II, há maior sonolência, podendo haver flapping ou asterixis; no grau III, o paciente dorme na maior parte do tempo e responde a estímulos verbais, podendo apresentar confusão mental, voz lenta e Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 42 asterixis; já no grau IV, o paciente encontra-se comatoso e pode não responder a estímulos dolorosos (asterixis ausente) (Silva, 2011). Estágios da EH Grau I Sonolência Euforia Grau II Sonolência Flapping Asterixis Grau III Sonolência na maior parte do tempo Grau IV Comatoso Fonte: adaptado de Silva (2011). A doença hepática não alcoólica está ligada diretamente à disbiose intestinal, que é definida por um desequilíbrio na microbiota do intestino. Este desequilíbrio pode ocorrer devido à redução ou elevação do número de bactérias intestinais ou decorrente a perda da diversidade de bactérias. Instalada a disbiose, cria-se um ambiente favorável para o desenvolvimento de doenças, entre elas as doenças hepáticas não alcoólicas (Almeida, Barroso, Gonçalves, 2020). Estas alterações da microbiota intestinal resultam em uma translocação bacteriana, gerando aumento de entrega de polissacarídeos, ácidos graxos livres e outras toxinas no fígado, através da veia porta. Há também elevação de bactériasEscherichia coli, resultando na fermentação de carboidratos e na produção de etanol endógeno, causando o aumento periférico de álcool e consequentemente a piora no quadro das doenças hepáticas não alcoólicas (SIDHU et al., 2017). Em relação ao cuidado nutricional com esses pacientes, deve ser reduzido o consumo de alimentos fontes de amônia. Dessa forma, o consumo de proteínas, principalmente a carne vermelha, que contém maiores quantidades de amônia, deve ser evitado (Silva, 2011). Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 43 Carne vermelha Fonte: ©chandlervid85, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: imagem de uma tábua de madeira apoiada em uma superfície bran- ca; sobre ela, há dois pedaços de carne vermelha crua. A ascite é caracterizada pelo acúmulo de líquido na cavidade abdominal, e diversas complicações contribuem para esse desenvolvimento. Uma das estratégias para aliviar o desconforto e eliminar o líquido retido é a paracentese, uma técnica que retira o líquido abdominal. Além disso, podem ser prescritos medicamentos diuréticos para ajudar na eliminação do excesso de líquidos, cujos efeitos colaterais podem ser hiponatremia, hipocalemia, hipomagnesemia e hipocalcemia, sendo crucial monitorar as concentrações séricas. Geralmente, o tratamento dietético para ascite envolve a restrição de sódio, com recomendação de consumo de até 2 g por dia (Mahan; Escott-Strump, 2010; Martins; Saeki, 2013). As hepatopatias podem causar diversos danos ao estado nutricional, como desnutrição, anorexia, náuseas e vômitos, além de redução da ingesta alimentar, má-digestão e absorção. Ademais, algumas restrições dietéticas necessárias para controlar os sintomas e a piora de complicações como a ascite, EH e edema podem prejudicar a ingesta alimentar, agravando ainda mais o estado nutricional (Silva, 2011). Confira as principais causas de desnutrição energético-proteica em hepatopatias (Silva, 2011): Ingestão inadequada Anorexia, vômitos e náuseas, alcoolismo, esvaziamento gástrico lento, restrições alimentares e hospitalizações frequentes. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 44 Má-absorção ou má-digestão Colestase e hipertensão linfática, além de doenças intestinais e pancreáticas. Alterações metabólicas Hipermetabolismo, aumento da oxidação de lipídios e estoque de glicogênio baixo. Aumento da demanda energética Infecções e hemorragias gastrointestinais. É fundamental avaliar e acompanhar o estado nutricional do paciente. No entanto, a avaliação nutricional pode ser complexa, uma vez que parâmetros como peso corporal e índice de massa corporal (IMC) podem não ser totalmente confiáveis devido à presença comum de edemas e ascite (Silva, 2011). A utilização de outros métodos combinados se torna necessária, como o índice creatinina-altura (ICA), sendo este um bom indicador para a avaliação da massa magra corporal quando não há complicações renais associadas. As dobras cutâneas do tríceps (DCT) e a circunferência muscular do braço (CMB) podem ser utilizadas quando não há edema generalizado. Outro método é a dinamometria do aperto de mão, que pode indicar perda de massa muscular ou alterações bioquímicas. Também é importante considerar a classificação da hepatopatia em relação à disfunção do órgão de acordo com os parâmetros de Child-Pugh (Silva, 2011). Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 45 Saiba mais O diagnóstico de doenças hepáticas pode ser complexo, e o tratamento e prognóstico dependem da classificação do estágio em que a enfermidade se encontra, por isso foi desenvolvido o Child-Pugh. Para conhecer mais sobre as classificações de acordo com os parâmetros de Child-Pugh, leia o seguinte artigo. Disponível em: https://www.sbhepatologia.org.br/pdf/manual_ hepatopatia_grave.pdf Métodos como a calorimetria indireta e o Dexa são boas estimativas de energia, pois sofrem pouca interferência sobre os efeitos da doença hepática, entretanto, as aplicabilidades tornam-se limitadas pelo alto custo e, por isso, são utilizadas equações preditivas (Silva, 2011). As necessidades nutricionais variam de acordo com o tipo de doença hepática e o estágio nutricional. Em relação à energia, recomenda-se em média de 25 a 35 calorias por quilo de peso seco, levando em consideração a presença de possíveis edemas e ascite, que podem afetar o peso corporal. Quanto aos lipídios, recomenda-se que 25 a 40% das calorias totais sejam provenientes destes (Mahan; Escott-Strump, 2010). Em relação às recomendações proteicas, para que seja alcançado o balanço nitrogenado em pacientes com hepatite não complicada ou cirrose sem EH, as necessidades proteicas variam de 0,8 a 1 g de proteína por quilo de peso seco/dia. Se o objetivo for promover um balanço nitrogenado positivo, deve-se utilizar, pelo menos, 1,2 a 1,3 g/kg seco/dia; já em situações de estresse ou doença descompensada, deve ser ofertado, ao menos, 1,5 g/kg seco/dia (Mahan; Escott-Strump, 2010). https://www.sbhepatologia.org.br/pdf/manual_hepatopatia_grave.pdf https://www.sbhepatologia.org.br/pdf/manual_hepatopatia_grave.pdf Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 46 Dica de leitura O consumo em excesso de álcool causa graves lesões em órgãos como o fígado, prejudicando a função e resultando em doenças e efeitos como a redução da absorção de nutrientes. Leia mais sobre o impacto do consumo de álcool no estado nutricional no artigo “O impacto do consumo de álcool no estado nutricional”. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/ view/41894/33966 https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/41894/33966 https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/41894/33966 Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 47 Conclusão O fígado pode ser atingido por algumas doenças, que podem ser hereditárias ou adquiridas, sendo de manifestações agudas ou crônicas. As doenças hepáticas alcoólicas se desenvolvem pelo consumo abusivo de álcool e a toxicidade para o organismo, causando danos ao fígado. Há também doenças hepáticas não alcoólicas, como as hepatites, que podem ser virais ou infecciosas; a hepatite fulminante; a doença do fígado gorduroso não alcoólica; a esteatose hepática não alcoólica; e as condições patológicas derivadas dessas doenças, como a ascite e a encefalopatia hepática. As hepatopatias impactam diretamente o estado nutricional, podendo causar desnutrição e anorexia, além de sintomas como náuseas e vômitos, inapetência alimentar por medicamentos, sintomas e desconfortos gastrointestinais, má- digestão e absorção, e estado catabólico acelerado, característico da doença. Desse modo, avaliar e acompanhar o estado nutricional deve fazer parte do tratamento do paciente. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 48 Referências Básicas GOLDMAN, L.; SCHAFER, A. I. Goldman Cecil Medicina. 24. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. MARTINS, C.; SAEKI, S. L. Interação fármaco x nutrientes. 3. ed. Curitiba: Nutroclínica, 2013. SILVA, S. M. C. S. Tratado de alimentação, nutrição e dietoterapia. 2. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2011. Complementares BRASIL. Classificação e estadiamento das doenças hepáticas. Brasil. Sociedade Brasileira de Hepatologia, s.d. Disponível em: https://www.sbhepatologia.org.br/ pdf/manual_hepatopatia_grave.pdf. Acesso em: 20 fev. 2024. CALIXTO-LIMA, L.; REIS, N. T. Interpretação de exames laboratoriais aplicados à nutrição clínica. Rio de Janeiro: Rubio, 2012. CARDOSO, S. P.; MARTINS, C. Interação droga-nutriente. Curitiba: Nutroclínica, 2002. COUSINS, R. J.; ROSS, A. C. Tratado de nutrição moderna na saúde e na doença. 10. ed. Barueri: Manole, 2009. DUARTE, A. C. G. Semiologia imunológica nutricional. Rio de Janeiro: Axcel Books do Brasil Editora Ltda., 2003. FRANÇA, A. C. D.; ALVES, S. C. G. F.; GARCIA, P. P. C. T. O impacto do consumo de álcool no estado nutricional. Research, Society and Development, Vargem Grande Paulista, v. 12, n. 6, e0512641894, 2023. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar49 MAHAN, L. K.; ESCOTT-STRUMP, S. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 12. ed. São Paulo: Rocca, 2010. VITOLO, M. R. Nutrição: da gestação ao envelhecimento. 2. ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2014. SIDHU, Mayenaaz et al. The gut microbiome. Australian family physician, v. 46, n. 4, p. 206, 2017. ALMEIDA, Isadora Barbosa de. BARROSO, Wermerson Assunção. GONÇALVES, Caroline Amélia. Influência da microbiota intestinal na Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 11, Vol. 11, pp. 14-20. Novembro de 2020. ISSN: 2448- 0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/ microbiota-intestinal, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/saude/ microbiota-intestinal https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/microbiota-intestinal https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/microbiota-intestinal 50 Terapia nutricional na pancreatite aguda e crônica Introdução A pancreatite é uma patologia de caráter inflamatório que compromete o pâncreas, uma glândula que tem localização posterior ao estômago, entre o duodeno e o baço, e é responsável pela produção da insulina e a absorção de enzimas digestivas. As principais funções são as endócrinas, por ser responsável pela produção de insulina, aliada à função exócrina, na produção de enzimas digestivas e absortivas. O pâncreas é composto por dois tipos de tecidos glandulares: os ácinos pancreáticos, responsáveis pela produção de enzimas digestivas como lipase, amilase e tripsina. Essas enzimas são liberadas pelo ducto pancreático, que se une ao ducto biliar e chega ao duodeno. Elas são secretadas de forma inativa e são ativadas quando alcançam o trato gastrointestinal. A amilase digere carboidratos, a lipase digere lipídios e a tripsina digere proteínas; e as ilhotas de Langerhans, que têm a função de produção hormonal de glucagon, insulina e somatostatina. O pâncreas pode ser afetado por algumas enfermidades, como as pancreatites, que podem ser agudas ou crônicas. Elas são caracterizadas pela inflamação do pâncreas, e o tratamento nutricional tem foco em restaurar ou manter o estado nutricional adequado, além de garantir a ingesta correta de alimentos e nutrientes, evitando prejuízos nutricionais. Objetivos da aprendizagem • Compreender as alterações fisiopatológicas na pancreatite aguda e crônica. • Conhecer as diferenças no manejo nutricional nas pancreatites crônicas e agudas. Palavras-chave: pâncreas, inflamação, lipídios, estado nutricional, álcool. Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 51 Terapia nutricional na pancreatite aguda e crônica A pancreatite é uma inflamação no pâncreas e tem como características o edema, o exsudato celular e a necrose de gorduras, e pode se manifestar de forma leve, moderada e grave, causando efeitos como autodigestão, necrose do órgão e hemorragias do tecido pancreático. A pancreatite pode ser classificada como aguda ou crônica, e a manifestação inicial é por meio de episódios de dor abdominal em várias intensidades, podendo irradiar até as costas (Goldman; Schaefer, 2014; Mahan; Escott-Strump, 2010). Pancreatite aguda A pancreatite aguda é a inflamação não bacteriana que causa autodigestão destrutiva do pâncreas e dos tecidos peripancreáticos. É a doença aguda gastrointestinal mais comum que requer internação hospitalar. Ainda, tem desfecho favorável na maioria dos pacientes (80%), entretanto, em até 20% pode evoluir para uma pancreatite aguda necrotizante associada à mortalidade. Como há aumento da inflamação sistêmica (TNF-α, IL-6, IL-1), ocorre também o acréscimo do catabolismo, levando à mobilização das reservas energéticas (perda nitrogenada). A gravidade da pancreatite pode ser avaliada de acordo com os critérios de Ranson, que considera os achados clínicos e os exames laboratoriais (Arvanitakis et al., 2020; Silva, 2011). Admissão Idade: > 55 anos; contagem de leucócitos: > 16.000 mcL; glicemia > 200 mg/100 ml; desidrogenase láctica: 300 UI/L; aspartato transaminase: > 250 UI/L (Arvanitakis et al., 2020). Primeiras 48 horas Redução do hematócrito: 10 mg/dL; aumento de ureia: > 5 mg/dL; pO2 arterial: 4 mEq/L (Arvanitakis et al., 2020). Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 52 Sinais 0-2 sinais: mortalidade 1%; 3 a 4 sinais: mortalidade 16%; 5-6 sinais: mortalidade 40%; 7-8 sinais: mortalidade 100% (Arvanitakis et al., 2020). Pâncreas Fonte: ©ann_isme, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: ilustração do pâncreas em cor amarela com aspecto granuloso, en- volvido por uma artéria de grosso calibre na cor avermelhada. As principais causas para a pancreatite aguda são diversas, podendo estar relacionadas ao consumo de álcool em excesso, patologias biliares (comum em mulheres, como obstrução do colédoco e ducto pancreático principal), hipertrigliceridemia, traumas, fármacos, HIV e bactérias. Na maioria dos casos, a dor associada à pancreatite é uma reação dos mecanismos secretórios de enzimas pancreáticas e da bile, principalmente as enzimas digestivas na célula acinar, gerando lesão e promovendo um processo inflamatório com a liberação de mediadores de inflamação (citocinas) (Arvanitakis et al., 2020; Vitolo, 2014). Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 53 Causas da pancreatite aguda Pancreatite aguda Vírus e bactérias Fármacos Trauma Álcool Hipertrigliceridemia Doenças da bile Fonte: Arvanitakis et al. (2020, p. 23). O diagnóstico é feito a partir do aparecimento de fortes dores que podem irradiar pelas costas, somadas à elevação sérica das enzimas lipase e amilase, normalmente três vezes maior do que o limite superior, e exames de imagem, como ultrassom, tomografia computadorizada e ressonância magnética (Arvanitakis et al., 2020). A avaliação nutricional é feita com a utilização de métodos validados que rastreiam e identificam o estado nutricional, como a Avaliação Subjetiva Global (ASG) e o Nutritional Risk Screening (NRS 2002). Pacientes diagnosticados com pancreatite aguda grave devem ser considerados com risco nutricional (Arvanitakis et al., 2020). A terapia nutricional em casos de pancreatite aguda deve, primeiramente, levar em consideração a gravidade da doença. Em casos de pancreatite aguda leve ou moderada, os principais objetivos da terapia nutricional são poupar o pâncreas de esforços, minimizar o catabolismo (perda de massa magra), evitar a desnutrição e realizar a imunomodulação. Na pancreatite aguda grave, o objetivo da terapia nutricional é manter o repouso pancreático (Arvanitakis et al., 2020; SBNPE, 2011b). Dietoterapia e fisiopatologia hospitalar 54 Paciente e médico Fonte: ©dcstudio, Freepik (2024). #ParaTodosVerem: imagem de um paciente idoso deitado em um leito de hospital. No centro da imagem, uma médica de uniforme azul, com uma prancheta em mãos, como se estivesse conferindo exames. Na literatura, ainda existem divergências sobre o tempo em jejum no qual o paciente deve ser mantido em casos de pancreatites agudas leves a moderadas. Algumas vertentes indicam repouso do trato gastrointestinal de dois a cinco dias. No entanto, novas diretrizes apontam que o início da alimentação via oral deve ocorrer após sinais de tolerância do paciente, em média de dois a três dias máximos, quando ele não estiver utilizando opiáceos e não apresentar mais dor, náuseas ou episódios de vômitos (Arvanitakis et al., 2020). Saiba mais As recomendações nutricionais são fundamentais no tratamento de pancreatites agudas e crônicas, cada uma com as devidas particularidades. Para saber mais sobre as principais recomendações nutricionais em pancreatites crônicas, confira a diretriz brasileira publicada. Disponível em: https://amb.org.br/files/_BibliotecaAntiga/terapia_ nutricional_na_pancreatite_cronica.pdf https://amb.org.br/files/_BibliotecaAntiga/terapia_nutricional_na_pancreatite_cronica.pdf https://amb.org.br/files/_BibliotecaAntiga/terapia_nutricional_na_pancreatite_cronica.pdf