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ECONOMIA BRASILEIRA 
AULA 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Walcir Soares da Silva Junior 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Após o sucesso do Plano Real, o Brasil finalmente conseguiu controlar a 
inflação galopante que assolava a economia há décadas. Com a estabilização 
da moeda, as expectativas eram altas em relação a um cenário econômico mais 
equilibrado e próspero. No entanto, a realidade mostrou que a simples conquista 
da estabilidade não era suficiente para solucionar os enormes abismos 
existentes na economia brasileira. 
Nesse contexto, o governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) 
assumiu a presidência em 1995 com a difícil tarefa de implementar políticas 
econômicas e sociais capazes de enfrentar os desafios estruturais do país. 
Durante seus dois mandatos consecutivos, de 1995 a 2002, FHC enfrentou uma 
série de obstáculos, incluindo uma crise financeira internacional e a resistência 
política às reformas propostas. 
Uma das principais marcas do governo FHC foi a busca pela estabilidade 
macroeconômica, por meio de medidas como o controle da inflação, a redução 
do déficit público e a adoção de uma política monetária responsável. Essas 
medidas trouxeram resultados positivos, como a retomada do crescimento 
econômico, o aumento dos investimentos estrangeiros e a conquista da 
confiança dos mercados internacionais. 
No entanto, as políticas de ajuste estrutural adotadas pelo governo FHC 
também geraram impactos sociais significativos. Setores como a indústria 
nacional, agricultura familiar e trabalhadores menos qualificados enfrentaram 
dificuldades, aumentando as disparidades sociais e a concentração de renda. 
Além disso, a falta de investimentos em áreas como educação e saúde fragilizou 
o sistema público, contribuindo para a perpetuação de desigualdades sociais. 
Após oito anos de governo FHC, em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva 
assumiu a presidência da República. Seu governo, marcado por um forte 
discurso em favor dos mais pobres e das políticas sociais, representou uma 
mudança significativa na condução do país. Os dois primeiros governos de Lula, 
de 2003 a 2010, foram caracterizados por uma agenda econômica que buscava 
conciliar o crescimento econômico com a redução das desigualdades sociais. 
 
 
 
3 
TEMA 1 – ESTABILIZAÇÃO E REFORMAS: OS ANOS FHC (1995-2002) 
Segundo Silveira Filho (2000), apesar das sucessivas diminuições da taxa 
anual de inflação, o crescimento econômico, que foi de 5,6% em 1994, caiu para 
3,4% em 1995 e 2,6% em 1996. A balança comercial, superavitária de 1981 a 
1994, apresentou déficits sistemáticos de 1995 a 2000, conforme pode ser 
observado na Figura 1. Isso significava o fim da fonte de recursos próprios para 
pagar os juros da dívida externa e a necessidade de aumento dos fluxos de 
capital externo para compensar essa perda. 
O balanço de pagamentos (BP) de uma economia pode ser entendido 
pela metáfora de uma “catraca” que contabiliza todas as divisas (no presente 
momento, o dólar) que entram e saem do país. O BP pode ser dividido em duas 
partes básicas: a conta corrente e a conta capital e financeira. A conta corrente 
contabiliza todas as entradas e saídas que podem ser consideradas fluxos (bens 
e serviços, rendas e outros tipos de transferências). A conta capital e financeira, 
por sua vez, contabiliza todas as entradas e saídas que podem ser consideradas 
estoques (investimentos de todos os tipos). 
Portanto, um déficit sistemático na balança comercial (lado dos fluxos, 
conta corrente) precisa ser necessariamente compensado por entradas na conta 
capital e financeira, para que o país possa honrar seus compromissos em moeda 
estrangeira. De 1995 a 2000, o investimento estrangeiro, tanto direto (empresas 
que se instalaram no país, por exemplo) quanto em carteira (investimentos em 
títulos ou ações brasileiros), cumpriram esse papel. 
Figura 1 – Balança comercial (FOB) — Saldo em US$ (milhões) 
 
Fonte: Banco Central do Brasil, Balanço de Pagamentos (BPM5) (BCB / BP (BPM5)) - BPN_SBC. 
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O Brasil concretizou essa compensação com sucesso por muitos anos. 
De acordo com Silveira Filho (2000), o investimento direto no Brasil passou de 2 
bilhões de dólares em 1994 para 32 bilhões no ano 2000. Com isso, a 
dependência do cenário externo tornou-se cada vez maior, uma vez que a 
decisão dos investidores estrangeiros é incentivada ou interrompida de acordo 
com as expectativas do mercado em relação aos países em desenvolvimento, 
como o Brasil. Essa dependência foi o principal vetor das dificuldades 
econômicas desse período. 
Quadro 1 – Lista de presidentes da república de 1995 a 2010 
Período Presidente Denominação 
1995-2003 Fernando Henrique Cardoso 
Sexta República 
2003-2011 Luiz Inácio Lula da Silva 
 
Eleito em 1994 (vide Quadro 1), o primeiro governo de Fernando Henrique 
Cardoso (FHC) tinha como trunfo o sucesso do Plano Real. No entanto, de 
acordo com Silveira Filho (2002), em seus dois mandatos, o crescimento da 
inflação superou o crescimento do salário-mínimo, embora este estivesse 
sempre à frente da cesta básica. Mas isso era algo positivo apenas para aqueles 
que conseguiram manter seus empregos. Como mostra a Figura 2, a taxa média 
de desemprego de 1995 a 2002 foi de 12,69%, alcançando 14,70% em 1998 e 
1999, reduzindo-se apenas após 2003. 
Figura 2 – Brasil: taxa de desemprego (%) 
 
Fonte: Fundo Monetário Internacional, World Economic Outlook database (FMI/WEO). 
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O superaquecimento da economia no início de 1995, a queda nas 
reservas internacionais e os desdobramentos da crise do México colocavam o 
Brasil sujeito a um potencial efeito dominó, amarrado pelo regime de câmbio fixo. 
Embora hoje seja considerado bem-sucedido desde a sua gênese, o Plano Real, 
à época, despertava muitas incertezas sobre as políticas que deveriam ser 
adotadas e o receio da volta da hiperinflação. 
Todas essas pressões levaram à adoção, já em março de 1995, de 
medidas como a desvalorização controlada da taxa de câmbio e o aumento da 
taxa de juros nominal. A sinalização de que o governo estava disposto a defender 
sua política cambial levou ao retorno dos investidores internacionais e à 
recomposição das reservas. Esse ambiente favorável levou a quedas sucessivas 
na taxa de inflação por quatro anos consecutivos (Giambiagi, 2005). 
No entanto, junto à estabilidade da moeda, dois problemas se tornaram 
cada vez piores: o desequilíbrio externo e a crise fiscal. O primeiro foi causado, 
principalmente, pelo aumento exorbitante das importações após a 
implementação do Plano Real em conjunto com a redução das exportações, 
levando ao déficit comercial apresentado na Figura 1. E a solução do primeiro 
problema, a necessidade de investimentos externos, aumentava o 
endividamento e os pagamentos de juros, lucros e dividendos, levando ao 
segundo problema. A crise internacional de 1998 e a decorrente queda nas 
exportações agravaram ainda mais a situação. 
A solução era sabida, uma necessária desvalorização do Real, 
sobrevalorizado desde o início do Plano Real. O temor era a volta da inflação, 
uma vez que a experiência mexicana em 1995 teve como consequência uma 
inflação de mais de 50%. O receio do governo, frente ao ano eleitoral, levou à 
decisão de desvalorizar a moeda, de maneira gradual, apenas no já esperado 
segundo mandato de FHC. 
Entre 1994 e 1998, três crises importantes afetaram o mercado financeiro 
internacional: a crise do México (final de 1994), a crise asiática (1997) e a crise 
da Rússia (1998). Nessas três crises, sendo partedo conjunto de países 
emergentes, o Brasil se viu diante da escassez de recursos internacionais que, 
dado o contexto da época, sustentavam a estabilidade da economia brasileira. 
No entanto, a última crise, a moratória russa, foi o estopim para uma necessária 
e imediata ação. 
 
 
6 
Como descreve Giambiagi (2005, p. 176), 
Depois de três ataques especulativos contra o Real — em 1995, 1997 
e 1998, em cada uma das crises externas anteriores — o instrumento 
clássico de combate a esses ataques — a alta da taxa de juros — não 
mais se mostrava suficiente para debelar o problema, além de agravar 
seriamente a situação fiscal. Foi nesse contexto de crise que FHC 
iniciou o seu segundo mandato presidencial, em janeiro de 1999. 
A desvalorização cambial se tornou iminente em meados de janeiro de 
1999, quando, após tentativas fracassadas de manter a política cambial, o 
governo permitiu que o câmbio flutuasse. Em apoio ao câmbio flutuante, o 
governo adotou duas providências importantes: a elevação das taxas de juros e 
o sistema de metas de inflação que, juntamente com outras medidas de ajuste 
fiscal, tiveram sucesso em não elevar a taxa de inflação. 
O governo FHC, principalmente em sua segunda gestão, apresentou 
diversos avanços no que diz respeito às políticas sociais. É desse período a 
criação de programas como o Bolsa-Escola, do Ministério da Educação, que 
garantia benefícios às famílias que mantivessem os filhos na escola; o Bolsa-
Renda, do Ministério da Integração, que atendia famílias pobres que 
enfrentavam o problema da seca; o Auxílio Gás, do Ministério de Minas e 
Energia, para subsidiar o custo do botijão de gás para famílias pobres; e o 
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), da Secretaria de 
Assistência Social, que garantia bolsas de estudos para crianças em situação de 
trabalho infantil. 
Giambiagi (2005, p. 186) defende que 
Quando se compara a situação social do Brasil no início da década de 
2000 com a de outros países da América Latina afetados por processos 
de ajuste fiscal, nota-se que, como resultado dessas iniciativas, o Brasil 
dispõe de mais instrumentos de proteção às classes mais 
desfavorecidas da população. Além disso, a distribuição dos recursos 
é feita de forma democrática, já que a verba de um modo geral é 
repassada diretamente para as pessoas, sem passar pela 
intermediação de lideranças políticas, como em outros países da 
região. 
Em resumo, o primeiro governo de FHC foi caracterizado por uma política 
cambial rígida, forte dependência do financiamento externo e um grande 
desequilíbrio fiscal. Já o segundo governo se caracterizou pelo câmbio flutuante, 
redução do déficit em conta corrente e políticas fiscais contracionistas. Como 
 
 
7 
ponto comum, ambos os governos tiveram o combate à inflação e a preocupação 
com a volta da hiperinflação sempre em destaque. 
De acordo com Giambiagi (2005), a herança deixada pelo governo FHC 
foi um tripé de políticas econômicas, a saber, metas de inflação, regime de 
câmbio flutuante e austeridade fiscal, que, se mantidas a longo prazo, criariam 
condições para o desenvolvimento econômico com baixa inflação e equilíbrio 
fiscal e externo. Além disso, o governo FHC deixou para seu sucessor um 
conjunto de mudanças estruturais, como a Lei de Responsabilidade Fiscal, a 
reforma parcial da Previdência Social, o ajuste fiscal nos estados, o fim dos 
monopólios estatais nos setores de petróleo e telecomunicações, e a reinserção 
do Brasil no mundo. 
TEMA 2 – O PRIMEIRO GOVERNO LULA (2003-2006) 
A ascensão da esquerda ao poder no Brasil, por meio do Partido dos 
Trabalhadores (PT), ocorreu em 2002, com a eleição em primeiro turno de Luiz 
Inácio Lula da Silva. As expectativas do mercado ao longo do ano foram 
marcadas por certo ceticismo em relação à continuidade das políticas em prol da 
estabilidade, introduzidas no governo FHC. Muitos acreditavam na possibilidade 
de uma moratória ou adoção de políticas populistas por parte de um governo 
liderado pelo PT (Giambiagi, 2005). 
O processo de moderação foi iminente. Ao longo do tempo, inclusive antes 
das eleições de 2002, o PT abandonou discursos mais extremos de seus 
principais interlocutores e adotou uma posição mais ao centro. Mas foi a partir 
de 2003, já no governo, com a publicação de um documento oficial intitulado 
Política Econômica e Reformas Estruturais, que o governo explicitamente propôs 
um modelo de desenvolvimento que buscava equilibrar a estabilidade econômica 
com o aumento dos gastos sociais. 
De acordo com Giambiagi (2005, p. 203): 
O citado texto enfatizava tópicos como a necessidade de rever a Lei 
de Falências; a concessão de autonomia operacional ao Banco 
Central; a importância de modificar as regras de aposentadoria do 
funcionalismo; a defesa de uma maior focalização do gasto público e 
outras propostas que, até então, o PT tinha tradicionalmente 
combatido. Emblemático da mudança de enfoque do Partido foi o 
reconhecimento, nesse documento do Ministério da Fazenda, do 
mérito de muitas das políticas sociais do governo anterior. 
 
 
8 
De fato, o primeiro governo de Lula começou com políticas restritivas de 
ajuste fiscal e aumento da taxa de juros, na tentativa de reduzir as tensões 
macroeconômicas. Outras sinalizações importantes, como a escolha de 
Henrique Meirelles — que era visto com muita confiança pelo mercado — para 
o cargo de presidente do Banco Central, reduções nas metas de inflação, 
aumento da meta de superávit primário e cortes de gastos públicos, 
demonstravam que o Partido dos Trabalhadores não era mais o mesmo dos anos 
anteriores. 
Esse conjunto de ações, somadas aos excelentes resultados da Balança 
Comercial, levaram a uma considerável melhora na confiança do mercado em 
relação ao novo governo. Essa neutralização do “efeito Lula” se traduziu em uma 
redução tanto na taxa de câmbio, que havia aumentado consideravelmente 
devido às expectativas da eleição de Lula, quanto no risco-país, que havia 
chegado a 2000 pontos, caindo para 800 pontos. 
De acordo com Carvalho (2018), o crescimento da economia foi de 5,8% 
já em 2004, impulsionado principalmente pelo crescimento de 14,5% nas 
exportações. Dificilmente isso poderia ser atribuído às políticas econômicas 
internas, mas principalmente ao boom das commodities, um fenômeno de 
expansão na demanda mundial por esses produtos. Em 2005, o crescimento foi 
de 3,2%, com um aumento das exportações de 9,6%. Já os investimentos, que 
haviam registrado um aumento de 8,5% em 2004, cresceram apenas 2%. O ano 
de 2006 fechou com um crescimento econômico de 3,96% e a promessa de um 
crescimento econômico mais robusto. 
Em suma, foram essas medidas adotadas para controlar a inflação e 
promover a estabilidade econômica que permitiram uma redução gradual dos 
juros ao longo do tempo. Somadas ao ambiente econômico internacional 
favorável da época, essas políticas possibilitaram a implementação de 
programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, que contribuíram 
para reduzir os índices de pobreza e desigualdade. Além disso, houve um 
aumento, mesmo que insuficiente, nos investimentos em infraestrutura e um 
estímulo ao consumo interno, impulsionando o crescimento econômico. 
Em termos gerais, o primeiro governo Lula teve resultados econômicos 
mistos. Houve um aumento no crescimento econômico, com uma média de 
aumento de 3,5% ao ano no PIB durante o período. Além disso, houve uma 
 
 
9 
redução significativa na taxa de pobreza e uma melhoria na distribuição de 
renda. No entanto, persistiram alguns desafios estruturais, como a alta carga 
tributária, que continuou a ser um entrave para o desenvolvimento empresarial 
e a competitividade do país, além da burocracia excessiva e investimentos 
insuficientes em infraestrutura (Carvalho, 2018). 
TEMA 3 – O SEGUNDO GOVERNO LULA (2007-2010) 
O segundo governo de Lula marcou um período de continuidadee 
consolidação das políticas adotadas durante seu primeiro mandato como 
presidente do Brasil. Iniciado em 2007, o segundo mandato foi marcado por 
avanços econômicos e sociais significativos. Durante esse período, o governo 
enfrentou desafios, mas também implementou medidas que buscaram fortalecer 
a estabilidade do país e promover, simultaneamente, a redução das 
desigualdades sociais. 
Segundo Carvalho (2018), foi durante o segundo mandato que o 
crescimento das exportações deixou de ser o principal impulsionador do 
crescimento econômico, cedendo lugar para a expansão do mercado interno, 
impulsionada pelo aumento do consumo das famílias e pelos investimentos 
públicos em infraestrutura. A política econômica nesse período foi baseada em 
três pilares: distribuição de renda na base da pirâmide, maior acesso ao crédito 
e maiores investimentos públicos em infraestrutura física e social. 
O programa Bolsa Família, que em 2004 atendia 3,6 milhões de famílias, 
passou a atender 12,8 milhões em 2010. Carvalho (2018) cita estudos 
especializados que sugerem que de 10% a 31% da queda no índice de 
desigualdade de Gini, nesse período, pode ser atribuída aos efeitos do Bolsa 
Família. A lei de valorização do salário-mínimo, aprovada em 2011, mas em 
prática desde 2008, também contribuiu para ampliar a participação dos salários 
na renda e reduzir a disparidade salarial. 
O período, chamado de Milagrinho pelo renomado economista Edmar 
Bacha, de 2006 a 2010, diferentemente do Milagre Econômico observado de 
1968 a 1973, permitiu o crescimento e, finalmente, a divisão do bolo. Esse 
crescimento significou a inclusão no mercado de consumo de uma parte 
importante da população brasileira, resultado das políticas de transferência de 
 
 
10 
renda, valorização do salário-mínimo e retroalimentação entre o consumo e a 
expansão da produção. 
Quanto à expansão dos investimentos públicos, destaca-se o Programa 
de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado em 2007, e o Programa Minha 
Casa, Minha Vida, lançado em 2009. O PAC foi uma iniciativa estratégica 
implementada durante o governo Lula, com o objetivo de impulsionar o 
desenvolvimento econômico e social do Brasil. Teve como foco principal a 
realização de investimentos em áreas-chave, como infraestrutura, habitação, 
energia e saneamento básico. Ao longo de sua execução, o programa alcançou 
resultados significativos, como a construção e recuperação de rodovias, 
aeroportos e portos, a ampliação do acesso à moradia e o aumento da 
capacidade de geração de energia. Além disso, o PAC também contribuiu para 
a geração de empregos e o estímulo à economia, fortalecendo a posição do 
Brasil como um país em crescimento e transformação. 
O Programa Minha Casa Minha Vida foi criado como uma iniciativa para 
enfrentar o déficit habitacional e promover o acesso à moradia digna no Brasil. 
O programa ofereceu subsídios e facilidades de financiamento para a construção 
e aquisição de imóveis, beneficiando principalmente as famílias de baixa renda. 
O programa gerou impactos significativos na economia, como a criação de 
empregos no setor da construção civil e o aumento do consumo de materiais de 
construção. Além disso, contribuiu para a melhoria da qualidade de vida das 
famílias beneficiadas. 
Por fim, torna-se evidente a complexidade dos desafios enfrentados 
durante o segundo governo Lula. Embora tenha havido avanços notáveis, 
também surgiram questionamentos e críticas em relação à sustentabilidade da 
estratégia de crescimento adotada. Especialmente, a visão de que o país 
precisava fortalecer a competitividade das empresas nacionais diante da 
concorrência estrangeira ganhava cada vez mais apoio. 
A mudança da estratégia durante o governo Dilma, entre 2011 e 2016, 
resultou na adoção de uma política voltada para a redução de impostos, 
concessões e estímulos ao setor privado. Embora essa mudança tenha sido 
implementada com o objetivo de impulsionar o crescimento econômico e atrair 
investimentos, ela teve um custo significativo na forma de desaceleração da 
economia. 
 
 
11 
TEMA 4 – SISTEMA DE METAS DE INFLAÇÃO E O TRIPÉ DA POLÍTICA 
ECONÔMICA 
O regime de metas de inflação (SMI) adotado pelo Brasil a partir de junho 
de 1999 tem sido uma âncora nominal dos preços, com o compromisso 
institucional do Banco Central do Brasil (BCB) de manter a inflação próxima de 
uma meta estabelecida. Esse compromisso é essencial para controlar o nível 
geral de preços e tem se baseado em cinco elementos operacionais (Banco 
Central do Brasil, 2021). 
• Forte compromisso institucional do BCB de que a estabilidade de preços 
é o principal objetivo da política monetária. Isso é respaldado pela Lei de 
Responsabilidade Fiscal e pelo Conselho Monetário Nacional, que 
conferem autonomia operacional ao BCB. 
• Publicidade das metas de inflação, ou seja, a divulgação das metas para 
a inflação, que são definidas em horizontes temporais determinados. Essa 
transparência permite que o mercado e os agentes econômicos ajustem 
suas expectativas em relação à inflação. 
• Explicações de como as diversas variáveis econômicas afetam as 
decisões da política monetária. Isso implica fornecer informações claras 
sobre a estrutura de metas e os mecanismos utilizados para atingir essas 
metas. 
• Transparência na estratégia de política monetária, por meio da 
comunicação efetiva com o público e os mercados. O Banco Central do 
Brasil (BCB) divulga regularmente seus planos, objetivos e decisões, 
fornecendo informações que auxiliam na formação das expectativas dos 
agentes econômicos. 
• Atribuição de responsabilidade ao BCB para que a inflação convirja à 
meta. Isso significa que o BCB é responsável por adotar as medidas 
necessárias para alcançar e manter a estabilidade de preços, utilizando 
instrumentos de política monetária. 
Diferentemente de outras âncoras nominais, o SMI possui uma relação 
especial com as expectativas dos agentes econômicos. Ao institucionalizar o 
compromisso de manter a inflação dentro de um patamar determinado, o SMI 
 
 
12 
atua como um guia para as expectativas, fornecendo previsibilidade e orientação 
aos agentes econômicos. 
Além disso, o SMI se destaca pela transparência, pois fornece 
informações detalhadas sobre as metas e os mecanismos de política monetária, 
que são disponibilizadas ao público. Essa transparência contribui para a 
confiança na política monetária e na estabilidade de preços. 
O SMI faz parte de um tripé da política econômica brasileira, juntamente 
com o câmbio flutuante e o superávit primário. Esse tripé foi estabelecido no 
governo FHC com o objetivo de promover maior estabilidade econômica e 
viabilizar o crescimento sustentado do país. O câmbio flutuante permite que a 
taxa de câmbio varie de acordo com as condições de mercado, o que facilita o 
ajuste do fluxo de entrada e saída de recursos do país. Isso evita problemas no 
balanço de pagamentos e contribui para a estabilidade econômica. 
Por fim, o superávit primário consiste na política de controle fiscal, 
garantindo o pagamento dos juros da dívida pública e transmitindo segurança 
aos investidores. Além disso, o superávit primário também ajuda a evitar 
problemas de caixa do governo e reduz a necessidade de aumentos tributários. 
Juntos, o SMI, o câmbio flutuante e a política do superávit primário 
desempenham um papel crucial na promoção da confiança na economia 
brasileira. Durante o período de 1999 a 2014, esses elementos foram 
fundamentais para a estabilidade econômica do país, mantendo as contas 
públicas em ordem e controlando a inflação. No entanto, a partir de 2015, as 
contas públicas do Brasil se deterioraram e a inflação assumiu uma dinâmica 
que dificultou o cumprimento da meta estabelecida. Diversos fatores, como a 
crise econômica mundial, a instabilidade política e a queda na confiança dos 
agentes econômicos, contribuíram para esse cenáriodesafiador. 
É importante ressaltar que as políticas econômicas estão sujeitas a 
mudanças e desafios ao longo do tempo. O SMI e o tripé da política econômica 
podem ser ajustados e aprimorados para lidar com novas circunstâncias e 
garantir a estabilidade e o crescimento sustentado no Brasil. Além disso, é 
essencial considerar as críticas em relação ao SMI e ao tripé de políticas. 
Algumas preocupações apontam para a possível limitação da política monetária 
em lidar com outros objetivos macroeconômicos, como o crescimento econômico 
e o emprego. Questões relacionadas à desigualdade social e distribuição de 
 
 
13 
renda também são levantadas, questionando se essas políticas são capazes de 
promover um desenvolvimento mais inclusivo. 
TEMA 5 – CRISE ECONÔMICA GLOBAL DE 2008 
Este tópico finaliza esse período da economia brasileira analisando os 
desdobramentos da crise mundial de 2008, marcando um ponto de partida para 
a compreensão dos desafios enfrentados pelo país a partir de então. A crise 
financeira global, desencadeada pela quebra do Lehman Brothers nos Estados 
Unidos, teve efeitos significativos em todo o mundo, afetando também a 
economia brasileira. 
A crise de 2008 expôs a vulnerabilidade do sistema financeiro global e 
teve um impacto profundo nos fluxos de comércio, investimentos e na confiança 
dos mercados. No Brasil, a economia sentiu os efeitos dessa crise por meio de 
diversos canais de transmissão, como a queda nas exportações, a diminuição 
dos investimentos estrangeiros e a retração do consumo doméstico. 
Segundo Carvalho (2008), a crise mundial chegou ao Brasil na forma de 
contração de crédito, queda no preço das commodities e saídas de capitais 
estrangeiros, levando à desvalorização do real frente ao dólar. Esses efeitos 
levaram a uma contração da demanda e dois trimestres consecutivos de queda 
no PIB. No entanto, já no segundo trimestre de 2009, o PIB registrou um aumento 
de 2,3%, mantendo-se com taxas de crescimento superiores à média dos países 
da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) até 
meados de 2011. 
Portanto, durante os anos iniciais da crise mundial de 2008, o Brasil foi 
relativamente menos afetado em comparação a outros países, especialmente 
aqueles com economias mais interligadas ao sistema financeiro global. Essa 
resiliência pode ser atribuída a uma combinação de fatores internos e externos. 
Uma das principais razões foi a situação econômica e financeira brasileira 
relativamente sólida na época. O país havia implementado reformas estruturais 
nas décadas anteriores, como a estabilização monetária e a melhoria do 
ambiente de negócios, o que ajudou a fortalecer os fundamentos econômicos e 
financeiros. 
Carvalho (2008) argumenta que além das políticas de transferência de 
renda, valorização do salário-mínimo e investimentos do PAC e da Petrobras, o 
 
 
14 
governo adotou uma política monetária expansionista, conferindo liquidez ao 
sistema financeiro, como a redução de depósitos compulsórios e a criação de 
linhas de crédito com juros subsidiados pelo Banco Nacional de 
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pelos bancos públicos, Caixa 
Econômica Federal e Banco do Brasil. 
No âmbito fiscal, as medidas incluíram desonerações tributárias — 
redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis e, 
posteriormente, para outros bens de consumo duráveis (linha branca), móveis, 
materiais de construção, bens de capital e alguns alimentos —, transferências 
do governo federal para estados e municípios, aumento da participação federal 
em investimentos em parceria com outros entes federativos, ampliação da 
duração e do valor do seguro-desemprego, entre outros (Carvalho, 2018). 
No entanto, é importante ressaltar que, embora o Brasil tenha 
experimentado uma recuperação relativamente rápida nos anos subsequentes à 
crise, ele não ficou imune aos seus desdobramentos. À medida que a crise se 
aprofundava globalmente, o Brasil enfrentou desafios, como a desaceleração 
econômica, a queda nos preços das commodities e a pressão inflacionária. Além 
disso, os efeitos da crise se intensificaram nos anos seguintes, com a 
desaceleração do crescimento econômico, o aumento do desemprego e a 
deterioração das contas públicas. 
Esses desdobramentos tiveram um impacto significativo na economia 
brasileira e foram um dos elementos que moldaram o cenário enfrentado pelos 
governos Dilma Rousseff (2011 a 2016), que buscaram lidar com os desafios 
econômicos e políticos resultantes da crise mundial de 2008. A busca por 
soluções para impulsionar o crescimento econômico e enfrentar a deterioração 
das contas públicas tornou-se uma prioridade. No entanto, a expansão fiscal e o 
aumento dos gastos resultaram em pressões inflacionárias, desequilíbrios fiscais 
e aumento da dívida pública. Além disso, a deterioração da confiança dos 
investidores e a incerteza política contribuíram para um ambiente econômico 
instável, que moldou o cenário enfrentado pelos governos Dilma Rousseff. 
NA PRÁTICA 
1. Explique a relação entre o Plano Real e a necessidade da âncora cambial, 
considerando as implicações e desafios decorrentes dessa escolha. 
 
 
15 
2. De que maneira as crises internacionais do México (final de 1994), a crise 
asiática (1997) e a crise da Rússia (1998) impactaram de forma 
diferenciada os países em desenvolvimento, em especial o Brasil? Analise 
também como o tripé econômico foi utilizado como estratégia para manter 
a estabilidade econômica diante dessas crises. 
3. Como a crise de confiança enfrentada pelo primeiro governo Lula se 
relaciona com as políticas adotadas nesse período? Aborde as principais 
políticas implementadas e discuta como elas influenciaram a contenção 
da crise, levando em consideração os desafios políticos e econômicos 
enfrentados pelo governo. 
4. Qual foi a abordagem adotada pelo segundo governo Lula para conciliar 
o crescimento econômico com a redução da desigualdade social? Analise 
as políticas implementadas nesse período e destaque as principais 
diferenças em relação ao período do Milagre Econômico (1968-1973), 
considerando as transformações sociais, econômicas e políticas ocorridas 
nesse intervalo de tempo. 
FINALIZANDO 
Neste capítulo, abordamos um período de intensos desafios econômicos 
e políticos no Brasil, que englobou os governos de Fernando Henrique Cardoso, 
Luiz Inácio Lula da Silva (primeiro e segundo mandatos) e a crise mundial de 
2008. Durante esses anos, a economia brasileira passou por transformações 
significativas, enfrentando obstáculos e buscando soluções para garantir 
estabilidade e promover o desenvolvimento. 
O governo de Fernando Henrique Cardoso foi marcado pela 
implementação do Plano Real, que trouxe uma estabilização econômica inicial e 
a conquista de avanços importantes. No entanto, também enfrentou desafios, 
como as turbulências financeiras internacionais e a necessidade de adotar 
políticas para fortalecer o equilíbrio fiscal. Em seguida, os governos de Luiz 
Inácio Lula da Silva trouxeram uma nova perspectiva para o país. O primeiro 
mandato de Lula foi marcado pela continuidade das políticas de estabilidade 
econômica, mas também pela busca por uma maior inclusão social e redução 
das desigualdades. Foram implementadas políticas de transferência de renda, 
expansão do crédito e fortalecimento do mercado interno, que impulsionaram o 
 
 
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crescimento econômico e trouxeram benefícios para uma parcela significativa da 
população. 
No entanto, o segundo mandato de Lula enfrentou desafios adicionais, 
como a crise financeira mundial de 2008 e os sinais de esgotamento do modelo 
de desenvolvimento econômico adotado. Os desdobramentos dessa crise e as 
políticas utilizadas em resposta a ela foram elementos cruciais que moldaram o 
cenário enfrentado pelos governos seguintes, em especial o governo de Dilma 
Rousseff.17 
REFERÊNCIAS 
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Metas para a Inflação no Brasil. 2021. Acesso 
em: . Acesso em: 12 jul. 
2023. 
CARVALHO, L. Valsa brasileira: do boom ao caos econômico. 1. ed. São Paulo: 
Todavia, 2018. 
GIAMBIAGI, F. et. al. Economia brasileira contemporânea. Rio de Janeiro: 
Elsevier, 2005. 
SILVEIRA FILHO, J. da. Aquarela brasileira: um perfil econômico do país. 
Curitiba: Ed. do Autor, 2000.

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