Buscar

Aula_UFRJ_Disciplina_Obrigatória_Direito_Processual_Civi l_III

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 37 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 37 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 37 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 
FACULDADE NACIONAL DE DIREITO
DIREITO PROCESSUAL CIVIL III (IUS 365)
Prof. Felippe Borring Rocha
fborring@gmail.com 
PROCESSO CIVIL EM MOVIMENTO - http://felippeborring.blogspot.com/ 
Prof. FELIPPE BORRING ROCHA
	Defensor Público do Estado do Rio de Janeiro. Mestre e Doutorando em Direito. Professor dos cursos de graduação, pós-graduação e preparatórios para concursos públicos. Articulista, palestrante e autor, dentre outros, dos livros Teoria Geral dos Recursos Cíveis, Manual dos Juizados Especiais Cíveis: Estaduais, Juizados Especiais Cíveis e Criminais Estaduais e Federais. Membro do IAB, do IBDP e dos Conselhos Editoriais da Revista de Direito da DPGE/RJ e da Lumen Juris.
I - CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
	1. Tutela Cautelar
	2. Processos nos Tribunais
	3. Uniformização da Jurisprudência
	4. Declaração de Inconstitucionalidade
	5. Homologação de Sentença Estrangeira
	6. Ação Rescisória
	7. Recursos
II - BIBLIOGRAFIA 
	ASSIS, Araken de. Manual dos Recursos, São Paulo: RT.
	BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Tutela Cautelar e Tutela Antecipada: Tutelas Sumárias e de Urgência (tentativas de sistematização), São Paulo: Malheiros.
	CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, Vol. II e III, São Paulo: Atlas.
	DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro. Curso de Direito Processual Civil, Vol. III, Salvador: JusPodivm;
	MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Incidente de Uniformização de Jurisprudência, São Paulo:Saraiva. 
	MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil, Vol. IV: Processo Cautelar. São Paulo: RT.
	MENDES, Gilmar Ferreira. Controle de Constitucionalidade: Aspectos Jurídicos e Políticos, Saraiva: São Paulo. 
	MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil, Vol. V, Rio de Janeiro: Forense.
	NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios Fundamentais – Teoria Geral dos Recursos, São Paulo: RT.
	NERY JÚNIOR, Nelson; et alii. Código de Processo Civil Comentado, São Paulo: RT.
	PINTO, Nelson Luiz. Manual dos Recursos Cíveis, São Paulo: Malheiros;
	ROCHA, Felippe Borring. Teoria Geral dos Recursos Cíveis, São Paulo: Elsevier;
	SILVA, Ovídio A. Baptista da. Do Processo Cautelar, Rio de Janeiro: Forense.
	THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. II e III, Rio de Janeiro: Forense.
	VIGLIAR, José Marcelo Menezes. Uniformização da Jurisprudência, São Paulo: Atlas.
III - AVALIAÇÃO
 
	PR1 – Primeira prova, abrangendo toda a matéria até a última aula anterior;
	PR2 – Segunda prova, abrangendo toda a matéria até a última aula anterior (enfoque na matéria lecionada após a PR1);
	2CH – Prova de segunda chamada para a PR1 e para a PR2, abrangendo toda a matéria;
	FINAL – Toda a matéria. 
IV - ESTRUTURA DAS PROVAS
 
	1. Cinco questões (discursivas/objetivas).
	2. Consulta à legislação não comentada ou anotada.
	3. Vistoria da legislação antes da prova.
	Obs.: Na aula subsequente à sua aplicação da PR1, após ministrada matéria nova, ocorrerá a entrega, correção e revisão da prova. 
V - MATERIAL DE AULA 
 
	Código de Processo Civil (atualizado)
	Constituição Federal (atualizada) 
VI - MATERIAL DE APOIO (BLOG) 
 
	Artigos jurídicos
	Decisões judiciais
	Exercícios práticos
VII – CRONOGRAMA DAS AULAS
	1ª Aula: 19/08/2013 (Tutela Cautelar)
	2ª Aula: 23/08/2013 (Tutela Cautelar)
	3ª Aula: 26/08/2013 (Tutela Cautelar)
	4ª Aula: 30/08/2013 (Tutela Cautelar)
	5ª Aula: 02/09/2013 (Tutela Cautelar)
	6ª Aula: 06/09/2013 (Tutela Cautelar)
	7ª Aula: 09/09/2013 (Tutela Cautelar)
	8ª Aula: 13/09/2013 (Processo nos tribunais)
	9ª Aula: 16/09/2013 (Uniformização da Ju-risprudência e Declaração de Inconstitucionalidade)
10ª Aula: 20/09/2013(Homologação de Sentença Estrangeira e Ação Rescisória)
11ª Aula: 23/09/2013(Ação Rescisória)
12ª Aula: 27/09/2013 (Recursos)
13ª Aula: 07/10/2013 (Recursos)
14ª Aula: 11/10/2013 (Recursos)
15ª Aula: 14/10/2013 (Recursos)
16ª Aula: 18/10/2013 (Recursos)
17ª Aula: 21/10/2013 (Recursos)
18ª Aula: 25/10/2013 (Recursos)
19ª Aula: 01/11/2013 (PR1)
20ª Aula: 04/11/2013 (Recursos e entrega das provas)
21ª Aula: 08/11/2013 (Recursos)
22ª Aula: 11/11/2013 (Recursos)
23ª Aula: 18/11/2013 (Recursos)
24ª Aula: 22/11/2013 (Recursos)
25ª Aula: 25/11/2013 (Recursos)
26ª Aula: 29/11/2013 (PR2)
27ª Aula: 02/12/2013 (Entrega das provas)
28ª Aula: 06/12/2013 (2CH)
29ª Aula: 09/12/2013 (FINAL)
30ª Aula: 13/12/2013 (Entrega das provas).
PARTE I
TUTELA CAUTELAR 
1. Introdução 
	a) Novo paradigma sobre o estudo das cautelares: foco metodológico na tutela cautelar e não mais o processo cautelar.
	b) Projeto do novo CPC: Exclusão do livro das cautelares (utilização do sistema de tutelas de urgência e do rito ordinário).
2. Teoria Geral da Tutela Cautelar 
	A tutela cautelar é um segundo gênero de tutela. Coloca-se em contraposição à tutela cognitiva e executiva. Estas duas são satisfativas, enquanto a cautelar não é capaz de satisfazer o direito substancial. É instrumental-assecuratória. Por isso, é necessário traçar regras de adequação da Teoria Geral do Processo à Tutela Cautelar.
	2.1. Tutela cautelar
	A tutela cautelar tem natureza imediata (processual), ou seja, ela não visa tutelar o direito material controvertido propriamente dito, mas sim criar condições para que ele possa ser adequada e eficazmente tutelado no futuro. Com a tutela cautelar cria-se um meio de proteger as tutelas satisfativas dos males da demora processual.
	2.2. Ação cautelar
	Ação cautelar é o poder de pleitear do Estado-Juiz a prestação da tutela jurisdicional cautelar. A ação cautelar tem as mesmas características gerais das demais ações. É importante lembrar que, embora a ação cautelar esteja sempre vinculada à outra ação, as condições da ação cautelar nem sempre serão as mesmas da ação principal;
	A parte terá legitimidade ativa para o processo cautelar toda vez que tiver legitimidade para o processo principal. A legitimidade passiva, entretanto, pode variar, de acordo com o caso. Em regra, se o demandante pede medida cautelar inadequada para solucionar a situação de crise por ele narrada ou elege meio impróprio para a obtenção da medida, o procedimento deverá ser encerrado, sem resolução do mérito (267, VI, do CPC). Entretanto, a fungibilidade pode atenuar essa situação (art. 798 c/c 805 do CPC).
	2.3. Processo cautelar
	O processo cautelar é o instrumento processual, deflagrado por uma ação cautelar, através do qual é prestada a tutela cautelar. É comum chamá-lo de “medida cautelar”. O processo cautelar sempre está vinculado a outro processo, de natureza satisfativa. O processo cautelar tem os mesmo pressupostos processuais dos demais processos (embora não se confunda com os pressupostos do processo principal). O processo cautelar pode se desenvolver por um procedimento “comum” (rito das cautelares atípicas/inominadas) ou “especial (ritos cautelares típicos/nominados).
	O processo cautelar pode ser classificado:
	a) em relação ao momento em que é proposto: antecedentes ou preparatórias (ajuizados antes da propositura da ação principal); incidentes ou incidentais (ajuizados no curso da ação principal). 
	b) Quanto à finalidade (processual): cautelares de garantia da cognição; cautelares de garantia da execução; cautelares de garantia (caução).
	c) Quanto à finalidade (objeto): medidas para assegurar bens, medidas para assegurar pessoas, medidas para assegurar provas;
	2.4. Medida cautelar
	A medida cautelar é o provimento judicial decorrente do exercício de uma tutela cautelar. É resultado do poder cautelar. O conteúdo de uma medida cautelar é sempre uma ordem mandamental (fazer, não fazer ou entregar) especialmente voltada para proteger o resultado útil da tutela satisfativa. A medida cautelar é o resultado final de um processo cautelar, quando acolhido o pedido cautelar. Neste caso, temos a sentença cautelar. A medida cautelar, entretanto, também pode ser deferida por meio de uma decisão interlocutória, dentro do próprio processo cautelar ou incidentalmente num processo satisfativo. É a chamada liminar cautelar.2.5. Liminar cautelar
	Apesar do nome, a liminar cautelar pode ser proferida a qualquer tempo, dentro de um processo em curso, cautelar ou satisfativo. É um decisão interlocutória que tem como conteúdo uma medida cautelar. Mesmo quando eventualmente proferida no corpo de uma sentença satisfativa, ela não perde sua natureza de liminar. Existem alguns procedimentos satisfativos nos quais a liminar cautelar é expressamente prevista. Ex.: mandado de segurança, ação popular, ACP etc. São as chamadas liminares ínsitas;
	Nos demais procedimentos, onde a medida cautelar não é expressamente prevista, ainda assim, é possível obter a sua concessão, através da aplicação do art. 273, § 7º, do CPC. São as chamadas liminares incidentes:
Art. 273. (...) 
§ 7o Se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental do processo ajuizado. 
	2.6. Poder geral de cautela 
	É uma autorização concedida ao juiz para que, além das medidas cautelares típicas (previstas no CPC), possa também conceder medidas cautelares atípicas, quando as medidas típicas não se revelarem adequadas à garantia da efetividade do processo principal. Esse poder decorre da impossibilidade previsão abstrata de todas as situações de perigo para a efetividade do processo e deve ser exercido de forma subsidiária, para completar um sistema. O poder geral de cautela é corolário da garantia constitucional da tutela jurisdicional adequada – art. 5º, XXXV CFRB;
	A doutrina tradicional considerava poder geral de cautela um poder discricionário do juiz. A corrente moderna, no entanto, é no sentido de que, presentes os requisitos para sua concessão, não há discricionariedade, falando-se sim em um poder-dever do juiz. O poder geral de cautela também se vincula à necessidade. Medidas desnecessárias não devem ser deferidas. Não pode o juiz também deferir medidas de cunho satisfativo. Por fim, a medida cautelar só podem ser decretada de ofício em casos excepcionais, quando estiver em risco a efetividade do processo principal, ou nos casos expressamente previstos em lei.
	2.7. Cautelar “satisfativa”
	A doutrina majoritária não tem admitido a existência de um “processo cautelar satisfativo”. Seria isso uma contradição, pois o que é cautelar, não satisfaz, e o que satisfaz, não é cautelar. Assim, os processos que são chamados de cautelares satisfativos (não vinculados a um processo principal) seriam, na verdade, processos satisfativos que corriam sob o rito cautelar;
	A maior divergência, no entanto, diz respeito à existência de uma “medida cautelar satisfativa”. Ela ocorreria quando não fosse possível separar o objeto da tutela cautelar e da tutela satisfativa. P. ex., cautelar de alimentos (alimentar significa proteger o resultado útil do processo principal e também deferir o direito material). A posição majoritária, entretanto, é que não existem medidas cautelares satisfativas.
	2.8. Intervenção de terceiros
 Algumas modalidades de intervenção de terceiros são admitas no processo cautelar: a assistência (simples ou qualificada), o recurso de terceiro prejudicado e a nomeação à autoria. Não se admite a oposição, mas, alguns autores, minoritários, aceitam a denunciação da lide e o chamamento ao processo.
	2.9. Características das cautelares
	a) Revogabilidade: são revogáveis a qualquer tempo (art. 807 do CPC);
	b) Fungibilidade: possibilidade de substituição por caução ou outra medida cautelar que assegure a efetividade do processo principal (art. 805 do CPC);
	c) Instrumentalidade: vinculada a um processo principal (art. 796 do CPC);
	d) Sumariedade: o provimento cautelar é fundado num juízo de probabilidade (cognição sumária), incapaz de formar coisa julgada material, salvo em casos como de prescrição ou decadência;
	e) Referibilidade: obrigatoriedade da medida cautelar estar vinculada a um processo principal como conteúdo substancial;
	f) Provisoriedade/Temporariedade: a me-dida liminar possui existência delimitada no tempo.
	2.10. Eficácia no tempo
	A medida cautelar é provimento fadado ao desaparecimento. A medida cautelar perde sua eficácia se a ação principal não for intentada em trinta dias (apenas para as medidas preparatórias) ou se não for executada em trinta dias ou se for extinto o processo principal. Cessando a eficácia da medida cautelar, a parte não poderá repetir o pedido, salvo por novo fundamento. 
	2.11. Requisitos de concessão da medida cautelar
	
	a) Fumus boni iuris (“fumaça do bom direito”): A medida cautelar se destina à tutela de uma situação de urgência, logo, precisa ser célere, sob pena de não ser efetiva. Por esse motivo a concessão da medida cautelar não pode estar vinculada à demonstração da existência (juízo de certeza) do direito substancial afirmado pelo demandante. O juiz deve se contentar com a aparência desse direito. A tutela jurisdicional cautelar deve ser prestada com base em cognição sumária, conforme um juízo de probabilidade;
	Assim, o fumus boni iuris representa a probabilidade da existência do direito alegado pela parte que postula uma medida cautelar. Além disso, o fumus boni iuris também é um limite para a concessão da tutela cautelar, pois se há certeza quanto à existência do direito, não é adequada a concessão da medida cautelar. Nesse caso, o correto seria a imediata concessão de tutela jurisdicional principal (satisfativa), seja através de uma liminar ou de uma sentença;
	b) O periculum in mora, por sua vez, retrata o risco que a demora na apreciação do mérito da questão possa trazer para o provimento principal. O tempo, portanto, deve ser um fator de comprometimento da eficácia da decisão e não do seu exercício. O fumus boni iuris e o periculum in mora pertencem ao mérito do processo cautelar. Se estão presentes, o pedido da ação cautelar será julgado procedente.
2.12. Competência para a concessão de uma medida cautelar 
A competência para a concessão de uma medida é fixada pela competência para o processo principal (art. 800 do CPC) e tem caráter funcional (absoluto). Quando o processo principal ainda não foi proposto, o processo cautelar (preparatório) observará as regras de fixação da competência daquele. Se o processo principal já está em curso, a medida cautelar pode ser requerida no seu bojo ou através de um processo cautelar incidental a ele distribuído, por dependência;
	Existe divergência quando a ação cautelar tiver que ser proposta em um juízo, mas a medida cautelar tiver que ser efetivada em outro. Nessa hipótese, se for determinado o cumprimento da medida por precatória, haveria o risco da perda da efetividade. Assim, admite-se deferir a competência, nos casos de maior urgência, ao juízo do local onde deverá ser efetivada a medida. Após a efetivação, se a parte ré arguir a incompetência, os autos deverão ser encaminhados ao juízo originalmente competente. Caso contrário, prorroga-se a competência para a cautelar e também para o processo principal;
	Sendo necessária uma medida cautelar e existindo um recurso pendente numa instância superior, inicialmente deve ser verificado se a questão cautelar está relacionada ao recurso. Em caso negativo, o juízo competente para o processo cautelar será aquele onde o processo principal está tramitando. Em caso positivo, o processo cautelar será distribuído ao órgão para o qual o recurso foi interposto;
	Em regra, é possível atribuir efeito suspensivo a um recurso apenas formulando um pedido ao relator (p. ex. art. 527, III, do CPC). No caso dos recursos especial e extraordinário, entretanto, o entendimento majoritário é necessário uma ação cautelar para atribuição de efeito suspensivo. Assim, se tais recursos ainda não foram admitidos no tribunal de origem, a competência dessa ação cautelar será do próprio tribunal. Depois de admitidos, caberá ao tribunal superior correspondente (STF ou STJ) apreciar o pedido cautelar (súmulas 634 e 635 do STF).
	2.13. Procedimento cautelar comum
	O procedimento cautelar “comum”está para o processo cautelar assim como o rito ordinário está para o processo de conhecimento (aplicação residual e subsidiária). O art. 801 do CPC apresenta os requisitos da inicial, ao qual deve ser aplicado, no que for cabível, o regramento contido nos art. 282, 283 e 39 do CPC. A petição deve conter a narrativa da questão cautelar. Nos casos de cautelar preparatória, o demandante deve expor, sucintamente, as características da demanda principal;
	O mais importante, no entanto, é a demonstração do fumus boni iuris e do periculum in mora, que representa o mérito do pedido cautelar. Além disso, o demandante deve formular seu pedido cautelar (obrigação de fazer, não fazer ou dar), com ou sem medidas de apoio (multa, busca e apreensão etc), qualificar as partes, requerer a citação do réu, indicar o valor da causa (em regra, de alçada) e as provas que pretende produzir;
	O juiz recebe a inicial e pode conceder imediatamente a medida cautelar, mesmo sem ouvir a outra parte (804 do CPC). Essa é uma medida excepcional que só deve ser concedida em casos extremos, uma vez que limita o contraditório (contraditório postergado ou diferido). O juiz pode também, antes de deferir a liminar, determinar a realização de uma audiência de justificação, onde ouvirá o demandante e colherá provas sobre os requisitos da cautelar. Pode ainda condicionar à concessão da liminar à prestação de caução, para resguardar direitos do demandado;
	O provimento que defere ou indefere a media cautelar é uma decisão interlocutória, impugnável por agravo de instrumento. Após fase liminar, ocorrerá a citação, que será em regra feita pelo correio. Se houver um provimento liminar, a intimação deve ser feita pessoalmente, através de oficial de justiça. O prazo de resposta é de 5 dias (802 do CPC). Além da contestação se admite também as exceções, mas não a reconvenção. 
	Se o réu não oferece contestação, ocorre sua revelia, que permite o julgamento imediato do mérito da causa. Caso o réu conteste, o autor poderá ser ouvido em réplica. Após, o juiz irá deferir as provas que ainda forem necessárias ao julgamento da causa. O juiz somente marcará audiência de instrução e julgamento se houver prova a nela ser produzida. Caso contrário, deverá prolatar a sentença. De modo que o rito comum cautelar não tem a audiência preliminar (art. 331 do CPC).
3. Procedimentos cautelares específicos
 
	3.1. Introdução
	Os procedimentos cautelares específicos são procedimentos que visam atender a um determinado interesse, que, em tese, não seria adequadamente tutelado através do procedimento geral. No entanto, naquilo em que forem omissos, os procedimentos especiais se utilizam subsidiariamente do procedimento geral; 
	Apesar dos procedimentos específicos terem, em regra, uma carga cognitiva maior do que o procedimento cautelar geral, ambos não possuem natureza satisfativa, nem constituem título executivo. É preciso alertar, ainda, que alguns dos procedimentos arrolados como cautelares específicos no CPC não têm natureza cautelar (notificações, protesto, atentado etc). Nestes casos, alguns das características próprias das cautelares não poderão ser aplicadas. 
	3.2. Arresto 
	O arresto cautelar, previsto no CPC a partir do art. 813, não pode ser confundido com o arresto executivo, previsto no art. 653. O primeiro é uma ação cautelar autônoma; o segundo, mero incidente do processo de execução (pré-penhora), cabível quando o executado não é localizado para ser citado, mas o oficial de justiça encontra bens penhoráveis;
	O arresto é a medida cautelar que tem por fim apreender judicialmente bens indeterminados do devedor, como garantia de futura execução por quantia certa. Sua finalidade é afastar o perigo de que o devedor dilapide seu patrimônio (periculum di infruttuosità), antes que o credor possa penhorar bens suficientes para garantia da dívida. Para tanto, são apreendidos tantos bens do devedor quantos sejam necessários para a futura satisfação do credor;
	Os bens arrestados ficarão depositados, e, durante a execução, o arresto será convertido em penhora. Ao contrário do que ocorre no sequestro, o credor não tem por objetivo a proteção de um bem determinado, que esteja sob disputa, mas o resguardo da futura execução por quantia certa, afetando parte do patrimônio do devedor, que se verá privado da possibilidade de desfazer-se dos bens em detrimento do credor;
	O arresto pode ser preparatório ou incidente a uma ação principal de conhecimento, de natureza condenatória, ou de execução por quantia certa. A proteção que se busca com o arresto é de futura execução por quantia, pois outras formas de execução exigirão formas diversas de resguardo (p. ex., o sequestro ou busca e apreensão, nas execuções para entrega de coisa certa);
	Para que seja possível postular pelo arresto é necessário que a dívida sob risco de frustração já exista, embora não seja necessário que ela esteja vencida. Admite-se também o arresto ainda que a obrigação esteja sujeita a condição suspensiva. Afinal, ao titular de direito eventual, sujeito a condição suspensiva, é permitido exercer os atos destinados a conservá-lo;
	O periculum in mora no arresto há de ser também superveniente à existência da obrigação, salvo ignorância ou desconhecimento escusável do credor. Assim, se no momento em que a dívida surgiu o credor já conhecia o perigo, ou poderia conhecê-lo, não se poderá admitir o arresto. Se quando a obrigação foi contraída o perigo já era conhecido, deve-se concluir que o credor assumiu o risco;
	Necessário frisar também que o arresto só pode recair sobre bens penhoráveis. A finalidade do arresto é garantir a futura execução por quantia, resguardando o patrimônio do devedor para uma futura expropriação. Assim, se um bem não pode ser penhorado, não faz sentido que ele seja arrestado;
	Existem situações, previstas no próprio CPC e outras leis, em que o arresto deverá ser concedido. As situações de perigo enumeradas nos incisos do art. 813 não são taxativas, mas exemplificativas. Assim, caberá o arresto sempre que houver perigo de que o decurso do tempo possa trazer perigo à futura execução por quantia certa, mesmo que não se consiga adequar a circunstância concreta a uma das hipóteses abstratas previstas nos incisos do art. 813;
	O procedimento do arresto corresponde ao procedimento comum das ações cautelares, previsto nos art. 801 a 803 do CPC. A petição inicial deve atender aos requisitos do art. 801 combinado com o art. 282, e deve cumprir as determinações dos art. 813 e 814, todos do CPC. Para provar que estão preenchidos os requisitos para a concessão do arresto, o credor poderá valer-se de prova documental, ou de justificação prévia. A justificação prévia poderá ser feita em segredo e de plano, quando ao juiz parecer indispensável;
	A concessão do arresto será feita independentemente de justificação prévia quando for requerida pela Fazenda Pública, nos casos previstos em lei ou quando o credor prestar caução. O fato de o credor prestar caução, entretanto, não implica que ele vá, inexoravelmente, obter a liminar. No entanto, em face da natureza de contracautela que tem a caução, o juiz terá mais liberdade para aferir os pressupostos para o deferimento da liminar;
	Concedido o arresto, o devedor poderá obter a suspensão da execução da medida, desde que pague ou deposite em juízo a importância da dívida, mais custas e honorários advocatícios, ou desde que dê fiador idôneo, ou preste caução bastante para a garantia da dívida. A razão desse dispositivo é evidente: se o devedor dá ao credor garantias bastantes de pagamento da dívida, deixa de haver o periculum in mora que ensejou a concessão do arresto;
	No entanto, só haverá cessação da medida cautelar de arresto se houver o pagamento, a novação ou a transação. Ocorrendo tais circunstâncias, extingue-se a obrigação, extinguindo-se eventual execução por quantia. Assim, não se justifica a persistência do arresto. Concedida a medida e julgada procedente a ação principal, o arresto convolar-se-á, oportunamente, em penhora.
	3.3. SequestroO sequestro consiste na apreensão de coisa determinada, que é objeto de um litígio, a fim de resguardar a sua entrega ao vencedor. A apreensão justifica-se pelo temor de que a coisa litigiosa venha a perecer ou a deteriorar-se, não podendo mais tarde ser entregue incólume ao vencedor. O sequestro não será convolado em penhora, para futura alienação do bem, mas garantirá a posterior entrega a quem vencer a ação principal;
	Tal como no arresto, o bem sequestrado será entregue a um depositário, que assume o encargo de guardar a coisa e de preservar a sua integridade e incolumidade. A escolha do depositário cabe ao juiz, mas poderá recair sobre pessoa indicada, de comum acordo pelas partes, ou sobre uma das partes, desde que ofereça maiores garantias e preste caução idônea (CPC, art. 824);
	As circunstâncias que autorizam a concessão do sequestro e os bens que podem ser sequestrados estão elencados no art. 822 do CPC. Não foi feliz, porém, o legislador, pois acabou deixando de fora diversas situações em que o sequestro seria necessário para evitar danos à coisa litigiosa. Teria andado melhor o legislador se tivesse estabelecido de forma genérica os requisitos para a concessão da medida. Por isso, às hipóteses do art. 822 do CPC não se pode atribuir caráter taxativo;
	Cabe o sequestro:
	a) quando houver uma disputa sobre bens móveis, semoventes ou imóveis (e seus acessórios) e houver fundado receio de quais bens possam ser danificados;
	b) dos bens do casal, nas ações de separação, divórcio e de anulação de casamento, se o cônjuge os estiver dilapidando;
	c) nos demais casos expressos em lei (arts. 919, 1.016, § 1º, e 1.218, VII, do CPC);
	Nada há de específico no procedimento do sequestro, que segue, no que couber, o procedimento adotado pelo CPC para a ação cautelar de arresto. Os bens sequestrados ficam à disposição do juízo, sob depósito, até que a ação principal lhes dê destino.
	3.4. Busca e apreensão 
	Em várias acepções o CPC emprega a expressão “busca e apreensão”. Na execução para entrega de bem móvel, o devedor é citado para, em dez dias, entregar a coisa ou depositá-la em juízo, sob pena de busca e apreensão (art. 625 do CPC). No incidente de exibição de documento ou coisa, o juiz pode determinar a sua busca e apreensão quando for descumprida a ordem judicial de depósito (art. 362 do CPC);
	Da mesma forma, na venda com reserva de domínio, em que a mora do devedor estiver provada pelo protesto do título (art. 1.071 do CPC). Além disso, a própria ação de busca e apreensão prevista no livro das cautelares pode ter natureza cautelar ou satisfativa. Quando se buscar, por meio da ação de busca e apreensão, um provimento definitivo, sem necessidade de propositura de outra demanda, a ação será de conhecimento, e não cautelar;
	É o que ocorre nas ações de busca e apreensão propostas pela mãe, que já detém a guarda do filho, ante a recusa do pai em restituí-lo. O pedido formulado pela mãe esgota-se com a busca e apreensão de seu filho. Nesse caso, a ação não tem natureza cautelar, que se caracteriza sempre pela acessoriedade e provisoriedade, mas de ação de conhecimento, sob o rito cautelar. A mãe poderá, inclusive, postular um liminar, que nesse caso também terá natureza satisfativa;
	A ação de busca e apreensão verdadeiramente cautelar é aquela visa resguardar pessoas e coisas enquanto não definida a questão numa ação principal. Um exemplo é quando a mãe quer recuperar a posse de seu filho que está saindo do país com seu pai, antes de ser definida a guarda. Aqui, a cautelar serve para a proteção do resultado útil da ação principal e não para satisfazer o direito da mãe;
	Importante notar que ação de busca e apreensão de coisas têm caráter subsidiário em relação ao arresto e sequestro. Será deferida a apreensão judicial da coisa, por meio da busca e apreensão, desde que não estejam preenchidos os pressupostos para a concessão do arresto e do sequestro, caso em que o interessado deverá valer-se dessas medidas;
	O requerente exporá, na petição inicial, as razões que justificam a concessão da medida e a ciência de estar a coisa ou a pessoa no lugar designado. A liminar poderá ser deferida de plano ou após justificação prévia, que se realizará em segredo de justiça, se for indispensável. Deferida a liminar, será expedido mandado com a indicação do lugar em que a diligência deverá ser efetuada e com a descrição da pessoa ou coisa a ser apreendida.
	O mandado deverá estar assinado pelo juiz de quem emanar a ordem. O mandado será cumprido na forma do art. 842 do CPC e, finda a diligência, deverá ser lavrado auto circunstanciado pelos oficiais de justiça, que colherão as assinaturas das testemunhas. 
	3.5. Caução 
	A ação cautelar de caução é o meio processual para oferecimento da garantia ao cumprimento de uma obrigação, que se efetiva com a apresentação de um fiador idôneo (caução fidejussória) ou com o oferecimento de bens (coisa ou dinheiro) colocados à disposição do juízo (caução real). A finalidade essencial da caução cautelar é funcionar como uma medida de contracautela;
	A medida de contracautela visa afastar os danos que a concessão de uma medida cautelar pode gerar para a parte requerida. Ela pode ser oferecida pelo requerente, para embasar um pedido cautelar, ou postulada pelo requerido, para afastar ou modificar a cautelar postulada contra ele;
	No primeiro caso, será requerida a citação da pessoa em benefício de quem a caução será dada, em petição inicial que deverá indicar o valor a caucionar, o modo pelo qual a caução será prestada, a estimativa dos bens e a prova da suficiência da caução ou da idoneidade do fiador. O réu será citado para, em cinco dias, aceitar a caução ou contestar o pedido;
	No segundo caso, o beneficiário da caução requererá a citação da parte contrária para prestá-la, sob pena de incorrer na sanção prevista em lei ou em contrato para a sua falta. O requerido será citado para, em 5 dias, prestar a caução ou oferecer contestação. O juiz julgará de plano se não houver contestação, se a caução oferecida ou prestada for aceita, ou se não houver necessidade de produção de outras provas. Havendo necessidade de provas, o juiz designará AIJ, e, no prazo de 5 dias, proferirá sentença;
	Quando for procedente o pedido, no processo iniciado por quem deve prestar a caução, o juiz determinará que seja tomada por termo a caução oferecida, dando-a por prestada. Procedente o pedido no processo de caução iniciado pela pessoa em cujo favor ela há de ser prestada, o juiz fixará prazo para que o requerido a apresente, sob pena de impor a sanção cominada para a falta de apresentação;
	É comum que a caução seja exigida no bojo de um processo principal. Nesses casos, não haverá necessidade de instauração de um procedimento específico para a sua efetivação. A caução será prestada de plano, por determinação judicial ou a requerimento da parte interessada, cabendo ao juiz decidir de sua idoneidade e adequação;
	A caução poderá ser prestada por quem integra essa relação jurídica processual ou por um terceiro (art. 828 do CPC,). E comum, por exemplo, que a caução exigida de pessoa jurídica seja prestada com o oferecimento de bens que pertencem pessoalmente aos sócios. Quando a caução for fidejussória, o fiador judicial torna-se responsável pelo débito, tornando-se sujeito passivo de eventual execução (art. 568, IV, do CPC);
	Será sempre possível requerer o reforço de caução quando a garantia desfalcar-se. O rito será o dos arts. 836 e 837 do CPC. Por outro lado, é possível exigir caução, ações intentadas por quem, nacional ou estrangeiro, não resida no Brasil ou se ausente do país no curso da demanda, para garantir eventual pagamento dos ônus sucumbenciais (art. 835 do CPC). A caução será dispensada se parte tiver bens imóveis no Brasil, que assegurem tal pagamento.
	3.6. Ação de Exibição
	Trata-se de procedimento onde o interessado pede ao Estado-Juiz que determine a alguém que exiba coisa ou documento que, por força de lei ou de contrato, deveria ter exibido ao requerente. Este procedimento ésempre preparatório, pois se já existir uma ação principal em curso, a exibição deverá ser requerida em caráter incidental (art. 355 a 363 e 381 e 382 do CPC);
	Se a exibição revelar alguma informação que possa embasar uma ação principal, a medida se revelará como verdadeiramente cautelar. No entanto, se não for necessário o ajuizamento de uma ação principal, a medida terá caráter satisfativo. De qualquer forma, a exibição tem efeitos permanentes, independentemente da ação principal, por isso, não se aplica a regra do art. 808 do CPC (cessão dos efeitos das cautelares);
	Os procedimentos são os mesmos previstos para a exibição incidental, ou seja, a exibição pela parte ou por terceiro. O CPC prevê dois procedimentos para exibição incidental: um, no caso da coisa ou documento estar com uma das partes do processo; outro, na hipótese do documento ou coisa estar com terceiro ao processo. A mesma divisão vai ser mantida na exibição cautelar (pedido feito em face de quem será parte no processo principal ou em face de quem não será parte no processo principal), com a diferença que em todos os casos o réu será citado, pois se trata de uma ação cautelar preparatória.
	3.7. Produção antecipada de provas
	A ação cautelar de produção antecipada de provas é uma das mais antigas do direito, chamada de procedimento cautelar ad perpetuam rei memoriam. Ela visa colher provas que estão sob risco de desaparecimento (periculum in mora), para assegurar a sua produção na ação principal; 
	Para poder requerer a cautelar de antecipação de provas, o autor deverá descrever qual o risco de seu perecimento e quais os fatos que deverão ser o objeto da prova. O juiz, então, irá colher a prova e “homologá-la”, sem sobre ela formar um juízo de valor. Este será feito na ação principal; 
	Normalmente, a cautelar de produção antecipada de provas assume feição de procedimento preparatório. No entanto, como assinalado no próprio CPC (art. 847 do CPC), a cautelar pode ser proposta de forma incidental, se na ação principal ainda não foi iniciada a fase probatória da instrução. De um lado, podem ser colhidos em caráter antecipatório, o interrogatório das partes e a oitiva das testemunhas. De outro, pode ser procedida a prova pericial; 
	A competência para a ação cautelar de produção antecipada de provas segue, em regra, a diretriz geral do art. 800 do CPC. Ocorre que, não raras vez, o juízo competente para a ação principal não é aquele onde a prova deve ser colhida. Por isso, excepcionalmente, aceita-se que esta cautelar seja proposta no local onde a prova vai ser colhida. Neste caso, a maioria entende que a competência da ação principal fica atraída para aquele juízo. 
	3.8. Alimentos Provisionais
	Inicialmente, necessário diferenciar os alimentos provisionais (art. 852 a 854 do CPC) dos alimentos provisórios (art. 4º da Lei n.º 5.478/68). Os provisórios são uma modalidade especial de tutela antecipada na ação de alimentos, quando já existe certeza sobre o dever alimentar; os provisionais são cautelares e só devem ser deferidos se houver plausibilidade sobre o dever alimentar (fumus boni iuris), com o objetivo de promover a subsistência do requerente até que seja definida sua condição jurídica;
	A ação cautelar de alimentos provisionais é cabível nas ações de separação, divórcio e anulação de casamento, além daquelas que possam resultar na imposição de um dever alimentar, como ocorre no caso de um filho que processa o causador da morte de seu pai (art. 948, II, do CC). Ao contrário do que estabelece o art. 800 do CPC, ainda que exista recurso na instância superior, a cautelar de alimentos será proposta na origem, em busca de uma maior acessibilidade ao alimentando (art. 853 do CPC);
	Ao formular o pedido, o autor deverá expor a necessidade urgente dos alimentos (periculum in mora) e a possibilidade do alimentante (fumus boni iuris). Trata-se de regra simétrica ao comando contido no art. 1.694 do CC. Na petição inicial, poderá ainda constar um pedido de liminar para pagamento mensal de um valor a título de pensionamento;
	Existe quem sustente, minoritariamente, que no caso de alimentandos incapazes, que a eficácia da medida cautelar de alimentos não cessa com o decurso do prazo de 30 dias previsto no art. 808 do CPC. De acordo com estes autores, em razão do aspecto satisfativo da medida, caberia ao alimentante apresentar ação negatória para se afastar do dever alimentar, não bastando a sentença de improcedência. 
	3.9. Ação de Arrolamento de Bens
	O objetivo da ação de arrolamento é a documentação da existência e do estado de determinados bens, quando houver o receio de que eles sejam subtraídos, danificados ou dissipados (periculum in mora). O requerente também deverá demonstrar seu interesse na conservação (fumus boni iuris); 
	Não se confunde o arrolamento com o sequestro, embora o receio em ambos os casos seja o mesmo. Neste, o que se quer é apreender determinado bem conhecido; naquele, o objetivo é documentar a existência e a condição dos bens que estão na posse do réu. Via de regra, o réu ficará como depositário dos bens, devendo zelar por sua conservação. O procedimento não tem qualquer peculiaridade, além da previsão expressa da possibilidade de concessão da liminar cautelar, com ou sem oitiva prévia do réu.
	3.10. Outras medidas cautelares
	O art. 888 do CPC elenca outras ações cautelares típicas, que não tem qualquer peculiaridade procedimental (seguem o rito comum das cautelares): obras de conservação em coisa litigiosa ou apreendida;	a entrega de bens de uso pessoal, o afastamento do lar, interdição ou a demolição de prédio etc.
	3.11. Ações previstas nos ritos cautelares mas que não têm natureza cautelar
	a) Protestos, Notificações e Interpelações (art. 867 a 873 do CPC): têm por objetivo prevenir a responsabilidade, prover a conservação e ressalva de seus direitos ou manifestar qualquer intenção de modo formal;
	b) Homologação do penhor legal (art. 874 a 876 do CPC): visa regularizar judicialmente o penhor legal (art. 1.467 do CC);
	c) Posse em nome do nascituro (art. 877 a 878 do CPC): visa assegurar os direitos sucessórios de uma criança ainda não nascida;
d) Atentado (art. 879 a 881 do CPC): visa combater atos que, no curso do processo, violem a penhora, o arresto, o sequestro, a imissão na posse, o embargo em obra ou que ilegalmente inova no estado das coisas submetidas à juízo;
e) Protesto (art. 882 a 884 do CPC): visa protestar títulos ou contas;
f) Apreensão de títulos (art. 885 a 887 do CPC): visa obter a apreensão de título não restituído ou sonegado pelo emitente, sacado ou aceitante (com pedido de prisão)./////
PARTE II
A ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS 
1. Os tribunais
	Existem órgãos chamados de tribunais que não pertencem ao Poder Judiciário, como o tribunal de contas, o tribunal desportivo, o tribunal marítimo e o tribunal arbitral. Existe, ainda, um órgão de primeira instância chamado de tribunal do júri. O que será estudado nesse momento, entretanto, são apenas os órgãos do Poder Judiciário de superposição (segunda instância);
	Os Tribunais podem ser de Justiças Especiais (Eleitoral, Militar e Trabalhista) e da Justiça Comum (Estadual e Federal), além do STJ e do STF. Os Tribunais tem três funções principais:
	a) julgar recursos;
	b) julgar os incidentes oriundos de órgãos inferiores (uniformização de jurisprudência, declaração de inconstitucionalidade, conflito de competência, reexame necessário, suspensão de segurança etc);
	c) processar e julgar ações nos casos de competência originária;
	A pedra angular do funcionamento de um tribunal é o seu regimento interno. É nele que são fixadas as atribuições e os procedimentos de funcionamento dos seus órgãos. Apesar disso, o CPC fixa algumas premissas gerais, que são aplicadas em todos os tribunais.
2. Distribuição e autuação 
 
	Da mesma forma que a primeira instância, os tribunais têm um setor de distribuição e autuação de feitos. Se chega no tribunal uma ação de competência originária, ela é recebida e distribuída ao órgão competente (art. 251e ss. do CPC), observando-se os princípios da publicidade, da alternatividade e do sorteio (art. 548 do CPC). Tratando-se de um recurso ou incidente, ele será registrado e autuado, para processamento (art. 547 do CPC);
	No momento da autuação, os autos são encaminhados para um órgão (se houver mais de um, através de sorteio) e, dentro do órgão, para um relator (também por sorteio). Estes sorteios não ocorrerão no caso de haver prevenção (art. 253, III, do CPC). A prevenção do órgão é absoluta, mas a do relator não, pois a maioria dos regimentos fala em distribuição “preferencialmente” o mesmo relator que já conheceu da causa anteriormente.
3. O relator 
 
	O relator é o responsável por conduzir o processamento da causa no órgão. Ele deve adotar as medidas administrativas e judiciais para que o procedimento seja cumprido: abrir vista às partes e ao MP, juntar documentos, expedir solicitações, deferir liminares etc. Além disso, é responsabilidade dele fazer o relatório, com a exposição dos pontos controvertidos sobre a causa.
4. A ordem dos trabalhos 
 
	Uma vez recebidos os autos pelo relator, ele poderá realizar três tipos de atividades:
	a) depois de estudar a causa, devolver os autos à secretaria do órgão com o seu "visto" (art. 549 do CPC);
	b) adotar alguma das providências previstas nos arts. 557 e 558 do CPC;
	c)se afastar da causa;
	a) A devolução dos autos à secretaria do órgão.
	Se o relator devolver os autos à secretaria, isso significa que a causa será julgada pelo órgão. Tratando-se de ação originária, apelação ou embargos infringentes, a secretaria remeterá os autos para o revisor (art. 551 do CPC). O revisor normalmente é o juiz imediatamente seguinte ao relator, na ordem descendente de antiguidade dentro do órgão. Ele tem vista dos autos, mas não precisa fazer relatório;
	Não haverá revisor nos recursos interpostos nas causas de procedimentos sumários, de despejo e nos casos de indeferimento liminar da petição inicial. Os demais juízes do órgão são chamados de vogais. Eles não têm contato com os autos antes da sessão de votação e votam de acordo com o relatório apresentado pelo relator. Em tese, somente os vogais podem pedir vista dos autos antes de votar (na prática, qualquer julgador pode pedir vista);
	Com ou sem revisor, os autos serão, em seguida, apresentados ao presidente, que designará dia para julgamento, mandando publicar a pauta no órgão oficial. Entre a data da publicação da pauta e a sessão de julgamento mediará, pelo menos, o espaço de 48 horas (art. 552 do CPC);
	Na sessão de julgamento, depois de feita a exposição da causa pelo relator, o presidente, não se tratando de embargos declaratórios ou agravo de instrumento, dará a palavra, sucessivamente, às partes e ao MP, pelo prazo de 15 minutos, a fim de sustentarem as suas razões (arts. 554 e 565 do CPC);
	Qualquer questão preliminar suscitada no julgamento da causa será decidida antes do pronunciamento sobre o mérito. Versando a preliminar sobre nulidade suprível, o tribunal, havendo necessidade, converterá o julgamento em diligência, ordenando a remessa dos autos ao juiz, a fim de ser sanado o vício (art. 560 do CPC). Se o próprio tribunal puder, poderá sanar o vício e prosseguir no julgamento da causa (art. 518 do CPC);
	No julgamento perante os tribunais inferiores, a decisão será tomada, na câmara ou turma, pelo voto de 3 juízes (art. 555 do CPC).  Proferidos os votos, o presidente anunciará o resultado do julgamento, designando para redigir o acórdão o relator ou, se este for vencido, o autor do primeiro voto vencedor (art. 556 do CPC). O acórdão conterá ementa (art. 563 do CPC) e será publicado no órgão oficial (art. 564 do CPC). 
	b) As providências previstas nos art. 557 e 558 do CPC
	Quando recebe os autos, ao invés de devolva-los à secretaria com seu visto, o relator pode adotar alguma das providências previstas no art. 557 do CPC:
	I – Julgamento unipessoal (teoria da jurisdição equivalente): julgar inadmissível, improcedente ou procedente a pretensão deduzida, em consonância com a jurisprudência, em decisão sujeita à agravo interno (julgado no órgão); 
	II – Proferir decisão liminar (provimento unipessoal cautelar ou satisfativo); 
	III – Proferir atos ordinatórios (ouvir as partes e o MP, pedir informações, determinar diligências etc). 
	c) Se afastar da causa
	Ao receber os autos, o relator pode perceber que ele ou o órgão a que está vinculado não podem julgar a causa. São exemplos dessa situação quando o relator está impedimento ou suspeito, quando o órgão é incompetente ou já existe um órgão prevento etc. Nesses casos, a causa será remetida para o juiz tabelar ou para o órgão competente./// 
PARTE III
UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA 
1. Introdução 
 
	O incidente de uniformização da jurisprudência foi introduzido no CPC de 1973 (art. 476 a 479), por iniciativa de Alfredo Buzaid, com o objetivo de criar um meio de uniformizar a jurisprudência dos tribunais inferiores, substituindo o recurso de revista previsto no CPC de 1939. A ideia original era que as súmulas tivessem efeito vinculante, mas o Congresso excluiu tal possibilidade.
	A inspiração do instituto veio da tradição dos assentos portugueses. A forma de incidente, entretanto, difere da estrutura utilizada na América Latina e na Península Ibérica, onde institutos semelhantes têm a forma de recurso (recurso de uniformidad de la ley, recurso de uniformização da jurisprudência etc). A principal diferença, no entanto, é que o incidente de uniformização brasileiro é instaurado antes de formada a decisão.
2. Conceito
 
	Trata-se de um incidente de uniformização interno, que visa afastar os dissídios jurisprudenciais entre órgãos de um tribunal inferior. O incidente de uniformização é cabível também no STJ, onde possui um regramento próprio, previsto nos arts. 118 a 121 do RISTJ. 
3. Cabimento 
 
	De acordo com o art. 476 do CPC, o incidente de uniformização da jurisprudência tem lugar nos órgãos fracionários dos tribunais inferiores, quando os julgadores, vislumbrando a possibilidade do seu julgamento contrariar um entendimento jurisprudencial assentado, suspender o processo e submeter a questão ao órgão indicado pelo Regimento. In verbis:
	Art. 476.  Compete a qualquer juiz, ao dar o voto na turma, câmara, ou grupo de câmaras, solicitar o pronunciamento prévio do tribunal acerca da interpretação do direito quando: 
	I - verificar que, a seu respeito, ocorre divergência; 
	II - no julgamento recorrido a interpretação for diversa da que Ihe haja dado outra turma, câmara, grupo de câmaras ou câmaras cíveis reunidas.
4. Pressupostos
a) A existência de um julgamento em curso (antes de proferida formalmente a decisão final);
b) O julgamento pode ser tanto de uma causa originária como de um recurso;
c) O julgamento deve estar ocorrendo perante "turma, câmara ou grupo de câmaras";
d) A constatação da existência de uma divergência sobre uma questão jurídica (material ou processual) para o julgamento da causa;
e) A divergência deve ser sobre "teses jurídicas" ou sobre a “correta interpretação do direito”;
f) A divergência já tiver sido objeto de manifestação por outros órgãos daquele tribunal (jurisprudência).
5. Legitimação 
	De acordo com o art. 476 do CPC, são legitimados:
	a) O juiz integrante do órgão judicial onde ocorre o julgamento da causa, com direito a voto, antes ou durante o julgamento;
	b) A parte da demanda, em requerimento prévio, “ao arrazoar o recurso ou em petição avulsa”;
	c) O MP (fiscal da lei), ao oferecer parecer no processo onde oficia.
6. Julgamento 
 
	a) Admissibilidade
	Compete à turma, à câmara ou grupo de câmaras fazer o primeiro juízo de admissibilidade e instaurar o incidente, suspendendo o julgamento da causa. Submetido à votação e reconhecida a divergência, lavrar-se o acórdão, fixando o ponto controvertido. O acórdão não precisa ser unânime. 
	Em seguida, os autos são remetidos ao tribunal pleno para realização do segundo juízo de admissibilidade. Em sendo este positivo, é marcado o julgamento (art. 477 do CPC).Se o tribunal pleno recursar a admissibilidade do incidente, o órgão fracionado deverá prosseguir no julgamento da causa, como se ele não tivesse existido. A decisão sobre o juízo de admissibilidade, no órgão fracionário ou no órgão pleno, não estão sujeitas a recurso. 
	b) Mérito
	No órgão especial, o julgamento do incidente se limitará a indicar qual a interpretação ou tese a ser aplicada ao caso. O MP será ouvido, na condição de fiscal da lei, independentemente da natureza da causa (art. 478 do CPC). Não é permitido ao órgão especial apreciar outras questões jurídicas estranhas à controvérsia e, muito menos questões de fato. A decisão sobre a questão controvertida é irrecorrível e vinculará o órgão suscitante, que completar o julgamento tomando em consideração a tese fixada. Só então será possível ao vencido interpor recurso.
7. Edição de súmula
	De acordo com o art. 479 do CPC, se o julgamento do incidente for tomado por votação da maioria simples valerá para a solução do caso no órgão suscitante. Mas se a votação for por maioria absoluta ou por unanimidade, a solução também poderá servir de base para a edição de uma súmula. A súmula editada não tem força vinculante para os casos futuros, mas funciona como referencial para instrumentos que se utilizam da jurisprudência para seu funcionamento (p. ex., arts. 120, parágrafo único, e 557). 
8. Incidente de assunção da competência 
	Esse mecanismo já existia no âmbito do STJ (arts. 14, II, e 12, parágrafo único, II, do RISTJ) e do STF (art. 22, parágrafo único, a e b, do RISTF). Na Reforma de 2001, foi incorporado ao CPC, para aplicação nos tribunais inferiores. Trata-se de um instituto, que visa prevenir ou compor dissídios jurisprudenciais dentro de um mesmo tribunal (incidente de uniformização interno), através do deslocamento para o tribunal pleno do julgamento da causa relevante. In verbis:
	Art. 555. No julgamento de apelação ou de agravo, a decisão será tomada, na câmara ou turma, pelo voto de 3 (três) juízes.
	§ 1o Ocorrendo relevante questão de direito, que faça conveniente prevenir ou compor divergência entre câmaras ou turmas do tribunal, poderá o relator propor seja o recurso julgado pelo órgão colegiado que o regimento indicar; reconhecendo o interesse público na assunção de competência, esse órgão colegiado julgará o recurso.////
PARTE IV
DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE 
1. O controle de constitucionalidade
	No direito brasileiro, o controle da constitucionalidade das leis e atos normativos pelo Poder Judiciário pode ocorrer de duas formas:
	a) Pela via principal (concentrada);
	b) Pela via incidental (difusa). 
	a) Controle concentrado
	Retrata verdadeira demanda autônoma, onde o mérito da causa é aferir a compatibilidade da norma com as regras constitucionais. Esta ação é da competência do STF, na hipótese de leis ou atos normativos federais ou estaduais, em face da CF (art. 102, inc. I, a, da CF), e dos Tribunais de Justiça estaduais, no caso de leis ou atos normativos estaduais e municipais, em face da Constituição Regional (art.125, § 2º, da CF).
	b) Controle difuso
	Dá-se o controle difuso quando qualquer órgão judicial, ao decidir uma causa de sua competência, tenha que apreciar, como prejudicial ao mérito, a questão da constitucionalidade de lei ou ato normativo invocado pela parte. Por expressa disposição da Carta Magna, entretanto, a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo só pode ser declarada pelo voto da maioria absoluta dos membros do Tribunal (art. 97).
	Assim, quando a apreciação da causa estiver afeta a um órgão fracionário do Tribunal, havendo a possibilidade do reconhecimento da inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, será necessária a instauração do incidente de inconstitucionalidade. Caso ele seja aprovado, o julgamento da causa será suspenso e os autos serão encaminhados para o órgão com atribunição regimental para se manifestar sobre o tema (Tribunal Pleno ou Órgão Especial).
	Portanto, o incidente de arguição de inconstitucionalidade representa o instrumento capaz de levar ao órgão máximo de um Tribunal de Justiça a apreciação do controle difuso de constitucionalidade de leis ou atos normativos, quando a causa estiver em tramitando perante um órgão fracionário daquele Tribunal, em observância à reserva de plenário prevista no art. 97 da CF.
2. Pressupostos
	a) Existência de um julgamento em curso (antes de proferida formalmente a decisão final);
	b) O julgamento pode ser tanto de uma causa originária como de recurso;
	c) O julgamento deve estar ocorrendo perante "turma ou câmara"; 
	d) A constatação de que uma lei ou ato normativo pertinente para o julgamento da causa pode ser considerado inconstitucional;
	e) A ausência de manifestação do colegiado do STF sobre a constitucionalidade da questão.
3. Legitimidade
	Apenas o relator da causa é que ostenta legitimidade para propor aos demais integrantes do órgão julgador o incidente de declaração de inconstitucionalidade. Nada impede, entretanto, que outros julgadores, as partes ou o MP encaminhem ao relator a proposta de aplicação do dispositivo.
	Obs.: O MP será sempre ouvido sobre a arguição de inconstitucionalidade, antes da decisão pela Turma ou Câmara a que tocar o conhecimento do processo (art. 480). Instaurando o incidente durante a sessão, o representante do Parquet terá que formular parecer oral. Sua função é de custos legis, logo, ele não tem a obrigação de defender a constitucionalidade da lei ou ato normativo inquinado. 
4. Julgamento
	Art. 480.  Argüida a inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo do poder público, o relator, ouvido o Ministério Público, submeterá a questão à turma ou câmara, a que tocar o conhecimento do processo.
	Art. 481.  Se a alegação for rejeitada, prosseguirá o julgamento; se for acolhida, será lavrado o acórdão, a fim de ser submetida a questão ao tribunal pleno.
a) Admissibilidade
	A arguição é feita perante o órgão do tribunal encarregado do julgamento do processo (Turma ou Câmara). Esse órgão não tem competência para declarar a inconstitucionalidade da norma impugnada, mas pode reconhecer a sua constitucionalidade, assim como rejeitar a arguição de inconstitucionalidade (presunção de constitucionalidade das normas). Assim, "se a alegação for rejeitada, prosseguirá o julgamento" da causa. Esta a decisão é irrecorrível. 
	Quando o incidente tiver sido provocado pelas partes com a necessária antecedência, o Ministério Público já terá sido ouvido antes da sessão de julgamento. Mas quando suscitado no voto de algum juiz, na própria sessão, a decisão do incidente terá que ser adiada para cumprir-se o disposto no art. 480, que manda ouvir-se, previamente, o Ministério Público. 
	Mas, se o órgão judicial fracionário der acolhida à arguição, o julgamento do feito será suspenso, lavrando-se acórdão e remetendo-se a questão ao Tribunal Pleno ou ao órgão especial que o represente (art. 481). Recebendo o acórdão do incidente, o Tribunal poderá negar a divergência, caso em que devolverá os autos ao órgão suscitante para que prossiga no julgamento do feito, como se o incidente não tivesse ocorrido. Se admitir o incidente, passa a análise do seu mérito.
b) Mérito 
 	Admitido o incidente, o Tribunal irá julgar a questão de inconstitucionalidade da lei ou ato normativo impugnado. O julgamento é puramente de direito, em torno da questão constitucional controvertida.
	O tribunal, no entanto, não fica adstrito aos fundamentos atribuídos à pretensa inconstitucionalidade pelo suscitante do incidente. Como ensina Barbosa Moreira, "não há que cogitar de vinculação do tribunal a uma suposta causa petendi, até porque a arguição não constitui pedido em sentido técnico, e as questões de direito são livremente suscitáveis, ex officio, pelos órgãos judiciais, na área que lhes toque exercer atividade cognitiva”. Por isso, o Tribunal pode não reconhecer a incompatibilidade alegada pela parte, mas declarar a inconstitucionalidade da lei frente a outro dispositivo de natureza constitucional.
	Por outro lado, não bastaque a maioria dos membros do Tribunal vote pela inconstitucionalidade. Para tal reconhecimento é indispensável que haja votos homogêneos (mesma tese jurídica), proferidos por número de juízes superior à metade do total dos membros do tribunal. Se o reconhecimento for apenas de maioria simples, a lei ou ato impugnado não será declarado inconstitucional.
	A decisão do tribunal que acolhe a arguição de inconstitucionalidade é irrecorrível. Só caberá recurso da decisão que posteriormente a Turma ou Câmara vier a proferir, com base na tese fixada pelo Pleno (Súmula 513 do STF). O órgão do tribunal encarregado da decisão do caso que motivou o incidente ficará vinculado ao entendimento fixado pelo tribunal. A questão, todavia, poderá voltar a ser discutida em outros procedimentos.// 
PARTE V
HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA 
1. Introdução
 
	O Direito Brasileiro adota, como regra, o chamado sistema monista. Por esse sistema, as decisões judiciais ou equivalentes somente têm eficácia no País depois de homologadas pelo Poder Judiciário nacional. Ficam fora dessa exigência apenas as decisões submetidas a tratados e acordos internacionais; 
	Além disso, somente as decisões oriundas de causas de competência internacional concorrente (art. 88 do CPC) é que podem ser homologadas no Brasil. De fato, as causas de competência internacional exclusiva (art. 89 do CPC), por envolverem questões sobre o território (soberania nacional), não podem ser reconhecidas quando julgadas por estados estrangeiros. Além disso, as decisões estrangeiras tem que passar por uma análise formal e material de adequação antes de poderem produzir efeitos no País. Para verificar todas essas condições, foi criado um procedimento especial chamado de homologação de sentença estrangeira. 
2. Conceito 
 
	A homologação de sentença estrangeira representa o procedimento especial cognitivo, da competência originária do STJ (105, I, da CF), voltado a dotar de eficácia judicial (exequatur) a sentença proferida por Estado estrangeiro, para que ele possa ser cumprido no Brasil (arts. 483 e 484 do CPC). 
3. Cabimento
 
	Para deflagrar o procedimento, é necessário primeiro que o interessado tenha uma sentença estrangeira cujos efeitos queira ver produzidos no Brasil. O termo sentença, aqui, deve ser interpretado de forma ampla, abrangendo as decisões arbitrais (Lei n.º 9.307/96, art. 35), os atos estatais e os atos religiosos, com equivalência judicial no Brasil. Em seguida, o interessado deve verificar se estão presentes os requisitos previstos no art. 15 da LINDB e na Resolução n.º 9/05 do STJ); 
	Assim, a sentença estrangeira tem que estar traduzida e autenticada, tem que ter sido proferida pelo juízo competente, tem que apresentar a citação válida do réu etc (aspectos formais da homologação). Além disso, o STJ tem que verificar se o conteúdo da decisão é compatível com a soberania nacional, com a ordem pública e os bons costumes, a coisa julgada brasileira etc (aspectos materiais da homologação). 
	4. Julgamento
 
	Ao proceder à homologação da sentença estrangeira, o STJ não pode julgar novamente a causa, mas, tão somente, apreciar a presença de requisitos necessários para seu cumprimento no Brasil (juízo de derivação ou delibação). Acolhida a pretensão, o STJ expede o exequatur, que é a ordem de cumprimento da decisão estrangeira (título executivo judicial – art. 584, IV CPC), a ser processado, se necessário, na primeira instância da Justiça Federal (art. 109, X, da CF) 
5. Procedimento
 
	Uma vez admitida a demanda, é determinada a citação do réu para responder no prazo de 15 dias (se necessário, por carta rogatória). Se o réu ficar revel, será nomeado curador especial para representá-lo. Se, entretanto, contestar, deverá se ater à discussão sobre a observância dos requisitos legais para homologação da sentença estrangeira (não pode rediscutir o mérito da causa). Após contestação, o autor pode oferecer réplica no prazo de 5 dias; Em seguida, os autos são encaminhados para o MP, que atua como fiscal da lei no feito; 
	Após o oferecimento do parecer pelo Subprocurador da República, aos autos são encaminhados para o Presidente do STJ. Ele vai verificar se alguém se opôs à pretensão homologatória (réu ou MP). Se ninguém se opôs, o próprio Presidente julga monocraticamente o pedido (em decisão sujeita à agravo regimental, no prazo de 5 dias); se ocorre oposição à pretensão homologatória, a causa é submetida à Corte Especial do STJ. 
6. Sentença
	Existe uma antiga divergência sobre a natureza jurídica da sentença de procedência na homologação de sentença estrangeira. Majoritariamente, diz-se que é uma sentença constitutiva, pois é o exequatur que representa o título executivo (art. 584, IV CPC), . A posição minoritária, no entanto, diz que o título executivo é a sentença estrangeira (onde está a obrigação judicialmente reconhecida). Logo o exequatur teria natureza declaratória. 
PARTE VI
AÇÃO RESCISÓRIA 
1. Conceito e Natureza Jurídica 
	Um dos efeitos da coisa julgada é sanar todas as invalidades intrínsecas do processo (nulidades absolutas e relativas e anulabilidades). Há casos, porém, em que mesmo com o trânsito em julgado a decisão permanece apresentando vícios. Estes vícios fazem com que a decisão seja rescindível, através de um remédio específico, denominado ação rescisória; 
	A ação rescisória, portanto, representa uma modalidades especial de ação anulatória, voltada para atacar a decisão acobertada pela coisa julgada material, permitido, via de regra, o rejulgamento da matéria objeto de apreciação da sentença rescindida. A ação rescisória não visa a anulação ou a nulificação da sentença, eis que não há, in casu, nulidade ou anulabilidade. O vício agora existente é a rescindibilidade e seu efeito é permitir a desconstituição da sentença. As nulidades são atacáveis dentro do mesmo processo enquanto que a rescindibilidade somente pode ser atingida pela ação rescisória;
	A ação rescisória não é um recurso, mas uma ação autônoma de impugnação (ação de conhecimento), uma vez que só é cabível após a formação da coisa julgada, ou seja, após o término do processo. Além disso, o recurso surge dentro da relação jurídica processual onde foi proferida a decisão atacada, enquanto que a ação rescisória faz surgir um novo processo (nova relação jurídica processual), distinto daquele em que foi prolatada a sentença rescindenda. 
2. O Julgamento da ação rescisória 
	O julgamento da ação rescisória possui duas fases:
	a) juízo rescindente: ocorrerá em todas as ações rescisórias julgadas procedentes;
	b) juízo rescisório: Se o primeiro pedido feito (rescindente) for procedente, passa-se, salvo em algumas hipóteses, ao segundo momento, quando então julgar-se-á, novamente, aquilo que fora objeto de apreciação pela sentença rescindida; 
	A decisão de procedência proferida no 1º juízo (rescindente) é constitutiva negativa e a de procedência no 2º juízo (rescisório) será, conforme o caso, meramente declaratória, constitutiva ou condenatória. No juízo rescisório, o tribunal estará apreciando novamente a causa que fora objeto da decisão abarcada pela sentença rescindida, o que faz com que este capítulo da decisão tenha seu conteúdo determinado pela demanda original. 
3. O Cabimento da ação rescisória 
	A ação rescisória só é cabível em face de sentenças de mérito, com cognição exauriente, acobertas pela autoridade de coisa julgada (art. 485 do CPC). Incabível, pois, a propositura de "ação rescisória” para atacar sentença terminativa ou definitiva, com cognição sumária. Também não cabe ação rescisória antes do trânsito em julgado da sentença. Por expressa disposição legal, não cabe ação rescisória em face de decisão proferida nos Juizados Especiais; 
	As hipóteses de rescindibilidade da sentença são expressamente previstas em lei, e devem ser interpretadas restritivamente, uma vez que a possibilidade de ataque à coisa julgada substancial é de todo excepcional. As hipótese de cabimento da ação rescisória são: 
	Art. 485, I – A sentença proferida por juizque a tenha dado por prevaricação, concussão ou corrupção;
	Obs.: Não é necessário que o juiz tenha sido condenado criminalmente, mas, apenas, que o delito tenha se configurado;
	Art. 485, II – Decisão proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente;
	Obs.: Não haverá o juízo rescisório, devendo o tribunal, após rescindir a sentença (juízo rescindente), remeter os autos ao juízo competente. 
	Art. 485, III - A sentença ter resultado "de dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou de colusão entre as partes, afim de fraudar a lei";
	Art. 485, IV – Torna-se rescindível a sentença que "ofender a coisa julgada";
	Art. 485, V - É rescindível a sentença que "violar literal disposição de lei". 
	Obs.: Ocorre a violação da lei quando o órgão prolator da sentença rescindenda afronta o direito positivo, entendendo-se a palavra "lei", contida no dispositivo, em sentido amplo. 
	Art. 485, VI - É também rescindível a sentença que "se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou seja provada na própria ação rescisória";
	Obs.: A prova falsa pode ser de qualquer natureza, pouco importando tratar-se de falsidade material ou ideológica. A falsidade pode ser provada em outro processo ou na própria ação rescisória. 
	Art. 485, VII – É rescindível a sentença quando, "depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável";
	Art. 485, VIII – É permitida a rescisão da sentença "quando houver fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação, em que se baseou a sentença";
	Art. 485, IX - Admite-se, ainda, a rescisão da sentença de mérito no caso previsto de ter a mesma se fundado em "erro de fato, ou seja, quando a sentença admitir um fato inexistente, ou quando considerar inexistente um fato efetivamente ocorrido“.
	Atenção: existe algumas hipóteses especiais de cabimento da ação rescisória previstas para a sentença proferida no procedimento de inventário e partilha (art. 1030 do CPC).
4. A Legitimidade 
	Podem propor a ação rescisória quem foi parte do processo onde se prolatou a sentença rescindenda, seus sucessores a qualquer título, o terceiro juridicamente interessado e o MP (art. 487 do CPC). Como regra, o terceiro juridicamente interessado será aquele que poderia ter intervido no processo original. Considera-se, também, legitimado a propor ação rescisória aquele que esteve ausente do processo principal, embora dele devesse ter participado na condição de litisconsorte necessário; 
	Quanto ao MP, terá legitimidade para demandar a rescisão da sentença se não foi ouvido no processo onde se proferiu a sentença rescindenda, quando sua intervenção teria sido obrigatória, ou quando a sentença é rescindível por ter sido fruto de colusão entre as partes, afim de fraudar a lei. A legitimidade passiva para a demanda é obtida por exclusão. São legitimados todos aqueles que tenham sido partes do processo original e não figurem já no polo ativo desta nova relação processual. 
5. O procedimento 
	O procedimento da ação rescisória está regulado nos arts. 488 a 494 do CPC. Ele se desenvolve perante o órgão competente do tribunal onde foi proferida a decisão que se pretende ver rescindida, respeitando a estrutura hierárquica. A petição inicial segue os moldes do art. 282 do CPC, devendo conter, como já dito, dois pedidos (rescindente e rescisório). O autor pode pedir uma liminar satisfativa ou cautelar (suspensiva); 
	Junto com a petição deve ser comprovado o deposito da importância de 5% sobre o valor da causa, à disposição do juízo. Este valor será entregue ao demandado, a título de multa, se o pedido de rescisão for julgado, por unanimidade de votos, improcedente ou inadimissível. Se a parte for beneficiária da gratuidade de Justiça, poderá ser isentada do depósito da caução. O valor da causa rescisória deverá corresponder ao valor da causa original, corrigido monetariamente, salvo se o seu objeto for o de alterar apenas parte do julgado. 
	Distribuída a um relator, a petição inicial poderá ser por ele indeferida liminarmente nos casos previstos no art. 295 do CPC ou quando não tiver sido efetuado o depósito (art. 488, II). Se a demanda for aceita, será determinada a citação do réu, que poderá apresentar sua resposta no prazo ser fixado pelo relator, entre 15 e 30 dias. No prazo da resposta, o réu pode contestar o pedido, opor-lhe exceções (incompetência, impedimento ou suspeição), impugnações (valor da causa, gratuidade de Justiça) ou reconvir do pedido, com uma nova demanda rescisória em relação ao mesmo julgado. 
	Após o decurso do prazo da resposta, o processo segue o rito ordinário. Havendo necessidade da produção de provas, o relator poderá determinar que elas sejam colhidas pelo juízo da comarca onde as mesmas devam ser produzidas, fixando prazo para tanto. Encerrada a fase instrutória, será a demanda rescisória julgada pelo órgão colegiado competente, o qual exercerá, em primeiro lugar, o iudicium rescindens e, se for o caso, passará em seguida ao iudicium rescissorium. 
6. O prazo 
	Estabelece o art. 495 do CPC que "o direito de propor ação rescisória se extingue em dois anos, contados do trânsito em julgado da decisão". Trata-se de prazo decadencial, que não se suspende nem se interrompe. Consumada a decadência, surge a "coisa soberanamente julgada", que consiste na mais estável das situações jurídicas decorrentes de um ato jurisdicional. Apenas com a relativização da coisa julgada é possível rever tal julgamento.//// 
PARTE VI
RECURSOS 
TEORIA GERAL DOS RECURSOS
 
1. Introdução
	O estudo dos recursos pode ser divido em:
	a) Teoria Geral dos Recursos: abrange os conceitos, os princípios e os efeitos e outros temas relativos aos recursos;
	b) Recursos em Espécie: análise das espécies de recurso (apelação, agravo, embargos de declaração etc). 
 
	a) O papel dos recursos
	b) A crise dos sistemas recursais
	c) Perspectivas (NCPC)
	d) A importância da Teoria Geral dos Recursos 
2. Princípios fundamentais 
 
	a) Princípio do duplo grau
	b) Princípio da taxatividade 
	c) Princípio da fungibilidade
	d) Princípio da voluntariedade
	e) Princípio da dialeticidade 
	f) Princípio ne reformatio in pejus 
	g) Princípio do tantum devolutum quantum appellatum 
	h) Princípio da unirrecorribilidade 
3. Conceito de recurso 
 
	O conceito mais difundido no Brasil sobre o recurso afirma tratar-se de um remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração da decisão judicial que se impugna (Barbosa Moreira); 
	Análise do conceito de Barbosa Moreira:
	a) “Voluntário”: a interposição do recurso representa ato de vontade, derivado do direito de ação. É a manifestação da insatisfação.
	Obs.: O reexame necessário não é recurso, mas condição de eficácia de determinadas decisões proferidas contra a Fazenda Pública (art. 475 do CP).
 	b) “Dentro do mesmo processo”: O recurso não cria uma nova relação jurídica dentro do processo, mesmo que esteja em autos apartados (agravo de instrumento, por ex.). Ele apenas cria uma nova etapa dentro do procedimento (salvo o recurso de terceiro); 
	c) “Reforma, invalidação, integração ou esclarecimento”: são os objetivos dos recursos (pedidos recursais): 
I – “Reforma”: se vincula à existência de um error in judicando, ou seja, um erro no julgamento. O juiz profere uma declaração errônea da vontade da lei. A solução dada pelo juiz não foi a solução correta para o caso (razões de fato ou de direito). A instância recursal dá nova decisão ao caso. Essa decisão fica no lugar da decisão anterior (substitui); 
	II – “Invalidação”: se vincula à existência de um error in procedendo, ou seja, um descumprimento de uma norma de caráter processual. Ocorre um vício de forma na decisão que acarreta sua nulidade. Este caso a instância recursal reconhece a existência do erro, anula a decisão e devolve os autos para o juízo originário para este prolate nova decisão. A decisãodo recurso não substitui a decisão do juízo originário; 
	III – “Esclarecimento”: ocorre nos casos em que a decisão proferida é obscura ou contraditória. O que se pretende nestas situações é que o juízo prolator da decisão reexprima o que já havia afirmado na decisão recorrida, de modo mais claro. O vício não é da decisão em si, mas sim da expressão das ideias nela contidas. Trata-se de um dos objetivos específicos dos Embargos de Declaração; 
	IV – “Integração”: É a atividade de suprir lacunas existentes na decisão (integrar significa tornar inteiro). Aqui a atividade julgadora não se encerrou, pois deixou de apreciar alguma coisa. O recurso pretende reabrir a atividade decisória, para que seja apreciada a questão que ainda não foi apreciada. Trata-se de um dos objetivos específicos dos de Declaração; 
	d) “decisão judicial”: só os provimentos judiciais de conteúdo decisório são sujeitas a recurso (art. 504 do CPC). Algumas decisões são irrecorríveis por expressa disposição legal (art. 543, § 2º, do CPC, por ex.)ou porque têm mecanismos próprios de impugnação (exceção de incompetência, por ex.). 
4. Classificações
 
	a) Recursos comuns e recursos excepcionais (direito estrito);
	b) Recursos de motivação livre e recursos de motivação vinculada;
	c) Recursos de devolução ampla e recursos de devolução restrita. 
5. Interposição do recurso
 
	No sistema recursal existe o juízo de interposição, onde o recurso é apresentado e verificada a sua regularidade, e o juízo de julgamento, onde a admissibilidade é definida e o mérito do recurso é analisado. Alguns recursos têm o juízo de interposição e o juízo de julgamento concentrado num único órgão, como é o caso do agravo de instrumento; 
	A maioria dos recursos, entretanto, são interpostos numa instância e julgados em outra, hierarquicamente superior. É o caso da apelação, que é interposta no juízo que proferiu a sentença e tem seu mérito julgado no tribunal. Forma-se, assim, um sistema de dupla filtragem, na qual o recurso é admitido na origem e remetido para a instância superior, que revê a admissibilidade feita, podendo confirmá-la ou não. Nos órgãos onde é feita a interposição, o juízo não tem competência para apreciar o mérito do recurso. 
	Formas especiais de interposição:
	a) Interposição adesiva
	Via de regra, a interposição de um recurso deve ocorrer no prazo recursal, independentemente do comportamento da parte adversa. Alguns recursos, entretanto, podem ser interpostos de forma subordinada ao recurso interporto pela parte contrária. Nestes casos, o recurso interposto pela parte contrária é chamado de principal e o recurso subordinado é chamado de adesivo; 
	Somente a apelação, os embargos infringentes, o recurso especial e o recurso extraordinário podem ser interpostos sob a forma adesiva. Para tanto, é necessário que tenha havido sucumbência recíproca entre as partes e apenas uma delas tem interposto o recurso no prazo original. Assim, a parte recorrida, no prazo das contrarrazões, pode interpor seu próprio recurso; 
	b) Interposição retida
	A maioria dos recursos, uma vez interpostos, tem seu processamento feito e seu mérito julgado. Alguns recursos, entretanto, podem ser interpostos sob a forma retida. Nesse caso, o recurso, depois de admitido, tem sua tramitação sobrestada. 
	Assim, o mérito só será analisado em um momento posterior, quando houver a remessa para o juízo de julgamento, mediante reiteração do recorrente. Apenas 3 recursos que podem ser interpostos sob a forma retida: agravo, recurso especial e recurso extraordinário. O recurso adesivo deve observar as mesmas regras previstas para a interposição principal. A diferença é que o recurso adesivo ficará subordinado ao principal. Se o recurso principal for inadmitido ou desistido, o adesivo perde o objeto.   
	Ainda que o recorrente não tenha optado pela forma retida de interposição, a lei processual permite que o relator do agravo de instrumento (art. 527, II, do CPC), do recurso especial e do recurso extraordinário (art. 542, § 3º, do CPC), no momento de fazer sua admissão, entendendo que a questão recursal não demanda imediata revisão, submeta tais recursos à forma retida (conversão em recurso retido). 
6. O julgamento do recurso
 
	O julgamento dos recursos se divide em duas fases:
	a) Juízo de admissibilidade: verifica-se a presença dos requisitos de admissibilidade dos recursos, verificando-se se ele tem condições de ser julgado. É o direito de ver o recurso julgado.
	b) Juízo de mérito: verifica-se a procedência ou não da pretensão manifestada no recurso. É o direito de ver o recurso provido. 
	6.1. Juízo de admissibilidade
	6.1.1. Condições do recurso
	De acordo com a doutrina majoritária, as condições da ação se dividem em legitimidade da parte, interesse de agir e possibilidade jurídica do pedido. Projetando esses elementos na realidade dos recursos, tem-se como condições do recurso a legitimidade para recorrer, o interesse em recorrer e a possibilidade jurídica do recurso. 
	I – Legitimidade para recorrer
	De acordo com o art. 499 do CPC, podem recorrer as partes, o MP e o terceiro. Partes não são apenas o demandante e o demandado, são todos aqueles que participam do procedimento (assistente, nomeado, litisdenunciado, arrematante etc). O MP sempre pode recorrer quando for parte ou fiscal da lei. Quando for fiscal da lei, ele não precisa de sucumbência. Recurso de terceiro prejudicado é uma modalidade de intervenção de terceiro. 
II – Interesse em recorrer
É o binômio necessidade-adequação que o recorrente deve apresentar ao interpor um recurso. O recorrente tem necessidade do recurso quando sofre uma sucumbência, ou seja, uma derrota. É preciso também que advenha para o recorrente um efetivo prejuízo em razão da decisão impugnada e que o recurso seja capaz de reverter tal circunstância. O recurso também deve ser adequado para atacar o tipo de decisão impugnada.
III – Possibilidade jurídica do recurso
O recurso será juridicamente possível quando estiver previsto em lei. Este requisito está ligado à previsão legal de recurso para aquela hipótese recursal. 
 
6.2. Pressupostos recursais
 	Da mesma forma que as condições recursais, os pressupostos recursais são uma projeção dos pressupostos processuais à realidade dos recursos. Assim, pode-se falar em órgão com competência recursal, recorrentes capazes, regularidade formal do recurso e inexistência de fatores extintivos, impeditivos ou modificativos do direito do recorrente.
a) órgão com competência recursal: juízo de interposição, com competência recursal;
b) recorrentes capazes (capacidade processual e capacidade postulatória): os mesmos requisitos da capacidade das partes;
c) Regularidade formal do recurso: requisitos gerais – tempestividade, preparo e forma escrita (salvo o agravo retido oral), fundamentação e pedido; requisitos especiais – o dependem do recurso (por ex., demonstrar a repercussão geral no recurso extraordinário);
d) Inexistência de fatores extintivos, impeditivos ou modificativos do direito do recorrente: renúncia, desistência, perda do objeto material (por ex., morte da parte numa causa personalíssima), perda do objeto processual (por ex., retratação pelo juízo a quo) etc. 
7. Efeitos dos recursos
 
Os efeitos dos recursos podem ser divididos em:
a) efeitos de interposição;
b) efeitos de julgamento.
 
7.1. Efeitos de interposição
 
a) Efeito impeditivo ou obstativo
 
Uma vez interposto dentro do prazo recursal, o recurso impede a preclusão da decisão impugnada. O efeito impeditivo está diretamente ligado ao sistema de preclusões processuais. Assim, apenas as decisões que não são recorridas se tornam estáveis (salvo as decisões irrecorríveis). 
 
b) Devolutivo
O termo devolutivo decorre da expressão latina tantum devolutum quantum apellatum. Na atualidade, devolver significa transferir o julgamento de uma causa, total ou parcialmente, para o juízo recursal competente. O órgão recursal competente (ad quem) estará limitado ao que tiver sido objeto da impugnação, mas pode decidir sobre todas as matérias

Continue navegando