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1 CCCCOMPETÊNCIA PENALOMPETÊNCIA PENALOMPETÊNCIA PENALOMPETÊNCIA PENAL JJJJOÃO OÃO OÃO OÃO GGGGUALBERTO UALBERTO UALBERTO UALBERTO GGGGARCEZ ARCEZ ARCEZ ARCEZ RRRRAMOSAMOSAMOSAMOS Professor de Direito Processual Penal da UFPR Procurador da República Ementa: 1. Noções introdutórias1. Noções introdutórias1. Noções introdutórias1. Noções introdutórias –––– 2. Conceito2. Conceito2. Conceito2. Conceito –––– 3. Crit3. Crit3. Crit3. Critérios de divisão da érios de divisão da érios de divisão da érios de divisão da competênciacompetênciacompetênciacompetência –––– 4444. . . . Critério material constitucionalCritério material constitucionalCritério material constitucionalCritério material constitucional –––– 5555. C. C. C. Critério hieritério hieritério hieritério hierárquicorárquicorárquicorárquico –––– 6. Critério territorial6. Critério territorial6. Critério territorial6. Critério territorial –––– 7. Critério 7. Critério 7. Critério 7. Critério procedimentalprocedimentalprocedimentalprocedimental –––– 8888. . . . CCCCritério ritério ritério ritério funcionalfuncionalfuncionalfuncional intraintraintraintraprocessualprocessualprocessualprocessual –––– 9999. C. C. C. Critério organizacionalritério organizacionalritério organizacionalritério organizacional –––– 10101010. . . . Modificações Modificações Modificações Modificações da da da da competênciacompetênciacompetênciacompetência –––– 11.11.11.11. ConflitosConflitosConflitosConflitos de competênciade competênciade competênciade competência –––– 12. Conceitos complementares12. Conceitos complementares12. Conceitos complementares12. Conceitos complementares 1. Noções introdutórias1. Noções introdutórias1. Noções introdutórias1. Noções introdutórias A Jurisdição, conforme já visto, é una no país inteiro. Não poderia ser diferente, ante as suas características. Todavia, essa conclusão, que decorre da leitura da Constituição da República e da estrutura dos poderes constituídos, contrasta com o que é revelado pelos sentidos: além de haver mais um juiz no Brasil, nele há também diversas “justiças” especializadas. O fator que gera a impressão da existência de inúmeras Jurisdições chama-se competência.1 A criação da categoria denominada competência decorre de inúmeros fatores. Em primeiro lugar, a tarefa jurisdicional de um país continental como o Brasil não poderia ser realizada nem por uma pessoa só, nem por um tribunal só. Além disso, há fatores econômicos, sociais e políticos que pesam na opção de ampliar a cobertura jurisdicional. Economicamente se justifica a ramificação do Poder Judiciário, na medida em que o deslocamento de suas estruturas pelo território nacional poderia ser mais custoso do que a manutenção de órgãos judiciários em vários rincões do país. Socialmente é mais do que desejável que o Poder Judiciário esteja próximo de todos os cidadãos. E, politicamente, a organização federativa do Estado brasileiro impõe um certo grau de pulverização dos órgãos jurisdicionais. É preciso, portanto, dividir o trabalho jurisdicional entre muitos órgãos judiciais. Essa divisão deve ser feita não somente conforme critérios 1 Cf. SILVA, Germano Marques da. Curso de Processo Penal, Lisboa: Ed. Verbo, 1993, v. 1, p. 109; COUTURE, Eduardo J. Fundamentos del Derecho Procesal Civil, 3ª ed., Buenos Aires: Ed. Depalma, 1993, p. 29. 2 territoriais, mas também conforme critérios materiais. Isto é, mesmo que um juiz tenha competência para atuar apenas em um território previamente circunscrito, é cada vez menos conveniente que ele atue como juiz de todas as questões jurídicas submetidas ao Judiciário e relacionadas àquele território. É preciso que esse trabalho seja dividido com outros juízes e que a repartição do trabalho entre todos seja feita conforme critérios materiais, para que a Jurisdição se beneficie da especialização. Assim, a competência garante que a divisão de trabalho seja feita conforme critérios racionais, objetivos e prévios, isto é, que não levem em consideração fatos criminosos já ocorridos. Todavia, embora todo juiz tenha poder jurisdicional, a divisão de trabalho, estabelecida pela Constituição da República, pelas leis e pelas normas de organização judiciária, tem o poder de dar-lhe ou de tirar-lhe competência para conhecer de um determinado caso. Assim, o juiz, sempre com jurisdição, pode não ter competência jurisdicional. 2. Conceito2. Conceito2. Conceito2. Conceito A competência é também denominada de capacidade objetiva do juiz e se constitui no conjunto de critérios que, aplicados segundo um método, permite repartir o trabalho jurisdicional entre diversos juízes, de maneira que, no exato momento do cometimento de um crime, já se saiba, com relativa precisão, qual o órgão jurisdicional competente para julgar quem for acusado de seu cometimento. A competência é método de exclusão e de determinação. Excluem-se paulatinamente órgãos judiciários como competentes para conhecer de uma causa criminal, até que reste determinado um único órgão judiciário. A competência é determinada por critérios jurídico-políticos. Jurídicos, porque exsurgem da Constituição, das leis e das normas de organização judiciária; políticos, porque baseados na experiência e em critérios adotados pelo legislador. 3. Critérios de divisão da competência3. Critérios de divisão da competência3. Critérios de divisão da competência3. Critérios de divisão da competência Diversos são os critérios para a determinação da competência penal: a causa criminal (critério material), a função pública exercida pelo imputado (critério 3 hierárquico), o local do crime (critério territorial), o procedimento oral para os crimes de menor potencial ofensivo (critério procedimental), a organização dos órgãos judiciais locais (critério organizacional) e os atos processuais a serem praticados dentro de cada processo (critério funcional intraprocessual). Conforme o sistema processual penal vigente no Brasil, o primeiro critério para a determinação da competência é o da causa criminal. É também denominado de competência ratione materiæ ou de “competência material em sentido estrito”. A competência material em sentido estrito cuida de determinar quais das “Justiças” será competente para julgar determinado caso. É estabelecido pela Constituição da República e em alguns casos pela lei ordinária, e se funda na natureza do crime em tese praticado. São as suas características que vão fornecer a maioria dos critérios para a determinação da competência. E é correto que assim seja, pois a competência é baseada principalmente em critérios objetivos. São assim os aspectos dos bens jurídicos atingidos pela conduta, do tipo penal provavelmente praticado, da qualidade do ofendido, do local do crime, da gravidade do crime etc. Uma vez determinada a competência material, cabe determinar a competência por prerrogativa de função. É também corretamente denominada de competência ratione muneris e impropriamente denominada de “foro privilegiado”. Aqui o critério muda, por exigências de ordem política e jurídica. Em síntese, cabe saber se o cargo que o imputado exerce exige o julgamento por um tribunal, e determinar qual tribunal deve ser esse. Trata-se de ver se dentre as prerrogativas da função pública exercida pelo imputado, a critério da Constituição, está a de exigir o julgamento por um órgão judiciário acima dos órgãos judiciários de primeira instância. Entre as instituições públicas do país, há diversos sistemas hierárquicos que não poderiam ser ignorados pela organização jurisdicional. O presidente da República, cargo máximo do poder federal, não poderia ser julgado pelo juiz de Direito, que não se encontra no ápice da pirâmidejudiciária de um Estado-membro. Essa relação que, à falta de uma terminologia mais adequada, chamamos de hierárquico-institucional, foi resolvida em termos jurídico-políticos pela Constituição e previne, conforme veremos adiante, algumas dificuldades institucionais. Em um primeiro momento, a resposta à indagação a respeito da competência por prerrogativa de função é fornecida pela Constituição da República. Se se tratar de uma das autoridades que deva ser julgada, em matéria criminal, pelo 4 Supremo Tribunal Federal, pelo Superior Tribunal de Justiça ou pelo Superior Tribunal Militar, a tarefa de determinar a competência estará quase terminada. Se o crime de que se trata for da competência da Justiça Estadual, pode ser que o imputado tenha foro por prerrogativa de função conforme a Constituição do Estado ao qual pertença o cargo que exerce. Se a função exercida pelo réu não lhe concede competência por prerrogativa de função em nenhum dos dois tribunais superiores com competência originária, passa a ser importante o critério territorial. O local dos fatos – ou, à falta de um local, aquele que resultar da aplicação de regras jurídicas supletivas – tem relevância para saber onde deverá ser julgado o réu. Esse critério é especialmente importante nos casos de competência do Tribunal do Júri. Afinal de contas, prima facie, cabe à sociedade do lugar onde o crime doloso contra a vida foi cometido julgar os fatos. Tanto que o desaforamento – que é a transferência do local do julgamento, ocasionada pela dúvida quanto à imparcialidade do júri ou quanto à segurança do réu – comporta um procedimento especial (CPP, art. 427-428). O local dos fatos também será importante para determinar a competência naqueles casos em que há competência originária por prerrogativa de função dos tribunais de apelação, federais e estaduais. Em seguida, um critério que pode determinar a competência jurisdicional é o da gravidade jurídico-penal do fato. Com efeito, os crimes de menor potencial ofensivo – entendidos como aqueles cuja pena máxima não ultrapasse dois anos de privação da liberdade – são de competência do chamado “Juizado Especial Criminal” (Lei 9.099, art. 60). Por fim, restará determinar quais atos que, durante o desenvolvimento do processo, serão praticados por quais autoridades judiciárias. Esse critério distribui as tarefas jurisdicionais dentro de uma mesma situação processual no sentido horizontal e no sentido vertical. No sentido horizontal trata-se de saber a autoridade jurisdicional competente conforme a fase da persecução penal e conforme o objeto da valoração jurisdicional; no sentido vertical, cabe saber as atribuições conforme a atividade recursal exercida pelas partes. 4. 4. 4. 4. Critério material constitucionalCritério material constitucionalCritério material constitucionalCritério material constitucional O primeiro critério para a determinação a autoridade judiciária competente é 5 o material. Em outras palavras, a natureza da matéria jurídica a ser examinada pelo juiz é o primeiro elemento para a determinação da competência. Nesse momento levam-se em consideração o ramo jurídico a ser trabalhado primacialmente pelo juiz em seu trabalho, a natureza jurídica do titular do direito possivelmente lesado etc. É lógico que assim seja. A especialização do trabalho jurisdicional é uma tendência inescapável, mormente diante do aumento da complexidade das relações sociais, comerciais, econômicas e políticas e, em consequência, das próprias normas jurídicas a serem aplicadas. O conhecimento enciclopédico é cada vez mais impossível e, por ser inevitavelmente raso, inútil de fato. A organização jurisdicional reconhece esse fato e divide inicialmente a competência com base no critério material constitucional. O método de determinação do critério material constitucional se realiza através do exame da Constituição da República e de sua legislação complementar. O método é o eliminatório. Assim, dado um fato criminoso, examina-se a Constituição da República para se saber se esse fato deve ser julgado por algum órgão da chamada “Justiça Especial”. São duas as “Justiças Especiais” com alguma atribuição criminal: a Justiça Eleitoral (Constituição, arts. 118 a 121) e a Justiça Militar (Constituição, art. 124). O primeiro passo é determinar se a causa criminal é de competência de uma delas. A ordem do processo eliminatório não alterará o resultado final, desde que se vá do especial para o geral. É possível que a competência criminal seja da chamada “Justiça Eleitoral”. Para investigar essa possibilidade não bastará uma consulta à Constituição da República. Isso porque essa “Justiça”, por definição, tem por competência o processamento e o julgamento da matéria eleitoral. No caso criminal, do chamado crime eleitoral. Conforme a definição material de HERMES VILCHEZ GUERRERO, “crimes eleitorais são as condutas tipificadas em razão do processo eleitoral e, portanto, puníveis em decorrência de serem praticadas por ocasião do período em que se preparam e realizam as eleições e ainda porque visam a um fim eleitoral”.2 2 GUERRERO, Hermes Vilchez. “Dos crimes eleitorais”, em Revista brasileira de ciências criminais, nº 16 (1996), p. 137. 6 Contudo, optou-se no Brasil pelo critério formal. São crimes eleitorais os que a legislação definir como tais (Constituição, art. 121, caput). Após a Constituição da República de 1988 não foi editada essa lei complementar. Entretanto, o entendimento prevalecente é que o Código Eleitoral (Lei 4.737) foi recepcionado pela nova ordem constitucional como lei complementar. Portanto, em princípio, são crimes eleitorais os descritos no Código Eleitoral.3 Contudo, não é somente o Código Eleitoral que define os crimes eleitorais. Essas figuras típicas também encontram-se definidas, entre outros, na Lei 6.091 (art. 11), na LC 64 (art. 25), na Lei 8.713 (art. 57), na Lei 9.100 (art. 67),4 e na Lei 9.504 (arts. 33, § 4º, 34, §§ 2º e 3º, 39, § 5º, 40, 68, §§ 1º e 2º, 72, 87 e 90, 94, § 2º). Os crimes eleitorais pertencem ao que se convencionou denominar de “Direito Penal Especial”. Integra-o também o Direito Penal Militar, embora, como pontua com bastante precisão JOSÉ FREDERICO MARQUES, “o caráter ‘especial’ do Direito Penal militar é muito mais acentuado que o do Direito Penal eleitoral. Este último é aplicado por uma jurisdição especial composta, na sua quase totalidade, de juízes e magistrados [SIC] recrutados na justiça comum. E tão tênue é a sua separação do Direito Penal comum, que a Justiça Eleitoral tem competência para processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe forem conexos” (CPP, art. 79, inciso I, a contrario sensu).5 Uma vez definido que o crime é um dos acima relacionados, o iter para determinar a competência jurisdicional para julgar o autor do fato está quase trilhado. Resta determinar qual o órgão, dentro da Justiça Eleitoral, competente para julgá-lo. Essa competência pode ser dos juízes eleitorais e dos tribunais regionais eleitorais. São órgãos da Justiça Eleitoral, com alguma competência penal, o Tribunal Superior Eleitoral (Constituição, art. 118, inciso I; CE, arts. 22, inciso II, e 276), os tribunais regionais eleitorais (Constituição, art. 118, inciso II; CE, art. 29, incisos I, letras “d” e “e” e II), e os juízes eleitorais (Constituição, art. 118, inciso III; CE, 3 Nomeadamente os arts. 289 a 322, 323 a 327, 330 a 332 e 334 a 354. A Lei 9.504 (art. 107) revogou os arts. 92, 246, 247, 250, 322, 329, 333 do Código Eleitoral. 4 Tanto a Lei 8.713 quanto a Lei 9.100 são bons exemplos de técnica legislativa defeituosa. Embora sejam leis que estabeleceram normas para eleições específicas(1994 e 1996) ambas contêm definições de crimes eleitorais que, por não conterem nenhuma limitação, aplicam-se para condutas praticada em eleições posteriores. 5 MARQUES, José Frederico. Tratado de Direito Penal, 1ª ed. atual., Campinas: Ed. Bookseller, 1997, v. 1, p. 38. 7 art. 35, incisos II e III). A competência jurisdicional será, obviamente, de um desses órgãos. Nesse momento passa a ser importante o chamado “Princípio da Simetria”, implícito no sistema. Segundo esse princípio, a Justiça Eleitoral é organizada de forma simétrica à Justiça Federal, que é o seu paradigma. À semelhança da Justiça Comum Federal, possui órgãos jurisdicionais de primeira instância (Juízes Eleitorais e Juntas Eleitorais), órgãos jurisdicionais de segunda instância (Tribunais Regionais Eleitorais) e órgão jurisdicional de terceira instância (Tribunal Superior Eleitoral). Logo, obedece às mesmas regras para determinação da competência. Assim, é possível determinar a competência como se tal determinação fosse válida para a Justiça Comum Federal e transferir o resultado para a Justiça Eleitoral. Por ser simétrica à Justiça Comum Federal, obedece a todos os critérios estabelecidos por esta e válidos para a determinação da competência jurisdicional. É importante, para a descoberta do órgão da Justiça Eleitoral competente, a determinação da competência ratione muneris e da competência ratione loci e da competência de juízo, que é estabelecida pelo Código de Processo Penal e pelas leis de organização judiciária. É preciso não esquecer que a Justiça Eleitoral somente é estruturada em bases permanentes a partir da segunda instância, que é o Tribunal Regional Eleitoral. Assim, o crime eleitoral cometido pelo Governador do Estado do Acre, na cidade de Rio Branco, será processado e julgado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Se o crime for cometido por outra pessoa, sem foro privilegiado, o processo e o julgamento dar-se-ão perante Juiz de Direito, no exercício de atribuições eleitorais. Por fim, se o crime for cometido por Promotor de Justiça ou por Procurador da República, será processado e julgado pelo Tribunal Regional Eleitoral. A competência da Justiça Eleitoral, repita-se uma vez, refere-se aos crimes eleitorais. Não é da competência da Justiça Eleitoral, mas sim da Justiça Comum federal, a competência para julgar crime de falso testemunho prestado em processo eleitoral, tendo em conta que o crime foi praticado em detrimento da União Federal.6 Ainda nessa etapa de determinação do juízo especial competente, se o fato não for de competência da Justiça Eleitoral, pode ser estabelecido que é da 6 Conflito de Competência nº 106.970-SP – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Og Fernandes – julgados em 14.out.2009 – conflito conhecido para declarar competente o juízo federal, suscitante – votação unânime – DJU, 22.nov.2009. 8 competência da Justiça Militar. Como se conclui a respeito da competência da Justiça Militar? A Justiça Militar é competente para processar e julgar o chamado “crime militar”, definido pelo Código Penal Militar (art. 9º). Esse dispositivo considera crime militar aquele descrito no Código Penal Militar “quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial” (CPM, art. 9º, inciso I). São também crimes militares, em tempo de paz, aqueles previstos no Código Penal Militar, ainda que sejam definidos na legislação penal comum, quanto praticados “por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado” (CPM, art. 9º, inciso II, letra “a”);7 “por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar na reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil” (CPM, art. 9º, inciso II, letra “b”);8 “por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil” (CPM, art. 9º, inciso II, letra “c”); “por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil” (CPM, art. 9º, inciso II, letra “d”; e “por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar”(CPM, art. 9º, inciso II, letra “e”). Também são considerados crimes militares, em tempo de paz, os praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerados como tais os crimes mencionados nos incisos I e II do art. 9º do CPM, quando praticados “contra o patrimônio sob a administração militar, ou 7 Conflito de jurisdição nº 6.555-SP – STF – Pleno – Rel. Min. Rafael Mayer – julgado em 2.out.1985 – conflito conhecido para declarar competente a Justiça Militar estadual – votação unânime – DJU, 18.out.1985 – RTJ nº 115, p. 1.095; Recurso extraordinário nº 122.706-RJ – STF – Pleno – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – Rel. p/ o acórdão Min. Carlos Velloso – julgado em 21.nov.1990 – recurso não conhecido – votação majoritária – DJU, 3.abr.1992, p. 4.292 – RTJ nº 137, p. 418; Conflito de competência nº 7.071-RJ – STF – Pleno – Rel. Min. Sydney Sanches – julgado em 5.set.2002 – conflito conhecido para declarar competente a Justiça Militar – votação unânime – DJU, 1º.ago.2003; . 8 Conflito de competência nº 106.623-DF – STJ – 6ª Turma – Rel. Min. Og Fernandes – julgado em 28.out.2009 – conflito conhecido para declarar competente a Justiça Militar, juízo suscitado – votação unânime – DJU, 11.nov. 2009. 9 contra a ordem administrativa militar” (CPM, art. 9º, inciso III, letra “a”); “em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo” (CPM, art. 9º, inciso III, letra “b”); “contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras” (CPM, art. 9º, inciso III, letra “c”); “ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a determinação legal superior” (CPM, art. 9º, inciso III, letra “d”). Parece óbvio que “ilícitos penais praticados por militares que não estavam de serviço, não executavam missão militar e que agiam por motivos pessoais, particulares, em local não sujeito à administração militar” não são da competência da Justiça Militar.9 Também não é militar o crime praticado por conscrito do Exército, de folga e fora de área de administração militar, contra praça da Polícia Militar em serviço.10 Em 1996, através de uma alteração legislativa (Lei 9.299, declarada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal11), o próprio CPM passou a dispor que os crimes dolosos contra a vida praticados por militar contra civil são da competência da Justiça Comum (CPM, art. 9º, parágrafo único), isto é, do Tribunal do Júri (Constituição, art. 5º, inciso XXXVIII),12 ainda que tenha sido 9 Conflito de competência nº 7.120-PA – STF – Pleno – Rel. Min. Carlos Velloso – julgado em 14.nov.2002 – conflito conhecido para declarar competente a Justiça Comum estadual, suscitante – votação unânime – DJU, 19.dez. 2002, p. 71; Conflito de competência nº 79.435-DF – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima– julgado em 24.out.2007 – conflito conhecido para declarar competente a Justiça Comum Estadual, suscitada – votação unânime – DJU, 28.out.2008. 10 Conflito de competência nº 7.051-SP – STF – Pleno – Rel. Min. Maurício Corrêa – julgado em 17.abr.1997 – conflito conhecido para declarar competente o juízo comum estadual – votação unânime – DJU, 9.mar.2001, p. 103. 11 Recurso extraordinário nº 260.404-MG – STF – Pleno – Rel. Min. Moreira Alves – julgado em 22.mar.2001 – não conhecido e declarada a constitucionalidade do parágrafo único do art. 9º do Código Penal Militar – votação unânime – DJU, 21.nov.2003. 12 Conflito de competência nº 45.134-MG – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Og Fernandes – julgado em 29.out.2008 – conflito conhecido para declarar competente o juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Ribeirão das Neves – votação unânime – DJe, 7.nov.2008. 10 usada uma arma da corporação.13 Se, porém, o crime de homicídio for militar, a competência é da Justiça Militar e será o Conselho de Justiça competente para o julgamento.14 A Lei 8.457, conhecida como “Lei Orgânica da Justiça Militar”, é o diploma que cria e define a competência dos Tribunais e Juízes Militares. A Justiça Militar está organizada em dois graus de jurisdição, a saber o Superior Tribunal Militar (Constituição, art. 12, inciso I; Lei 8.457, art. 1º, inciso I) e as auditorias militares e conselhos de Justiça (Constituição, art. 122, inciso II; Lei 8.457, arts. 15 e 16). A Lei 8.457 divide o país em doze circunscrições judiciárias militares, que abrangem um ou mais estados. A 1ª Circunscrição abrange os Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, a 2ª Circunscrição, o Estado de São Paulo, a 3ª Circunscrição, o Estado do Rio Grande do Sul, a 4ª Circunscrição, o Estado de Minas Gerais, a 5ª Circunscrição, os Estados do Paraná e Santa Catarina, a 6ª Circunscrição, os Estados da Bahia e Sergipe; a 7ª Circunscrição, os Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas; a 8ª Circunscrição, os Estados do Pará, Amapá e Maranhão, a 9ª Circunscrição, os Estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso; a 10ª Circunscrição, os Estados do Ceará e Piauí, a 11ª Circunscrição, o Distrito Federal e os Estados de Goiás e Tocantins; e a 12ª Circunscrição, os Estados do Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia (Lei 8.457, art. 2º). Se o fato criminoso não for da competência da Justiça Eleitoral nem da Justiça Militar, é porque é da competência da Justiça Comum. Estabelecida a certeza de que o fato não é de competência do juízo especial, fica certo que deverá ser julgado pelo juízo comum, também chamado de “Justiça Comum”. O segundo passo nessa etapa consiste em determinar qual dos ramos da “Justiça Comum” deve julgá-lo: se a “Justiça Comum Federal”, se a “Justiça Comum Estadual”. É preciso dizer, neste momento, o seguinte: tanto a “Justiça Comum Federal”, 13 Conflito de competência nº 19.833-SP – STJ – 3ª Seção – Rel. p/ o acórdão Min. Anselmo Santiago – julgado em 25.jun.1997 – conflito conhecido para declarar competente o juízo estadual, suscitante – votação majoritária, vencido os Mins. Luiz Vicente Cernicchiaro, relator original e Vicente Leal – DJU, 23.mar.1998. 14 Recurso extraordinário nº 122.706-RJ – STF – Pleno – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – Rel. p/ o acórdão Min. Carlos Velloso – julgado em 21.nov.1990 – recurso não conhecido – votação majoritária – DJU, 3.abr.1992, p. 4.292 – RTJ nº 137, p. 418. 11 quanto a “Justiça Comum Estadual”, são, conforme os nomes dão a entender, “Justiças Comuns”. Contudo, no confronto entre ambas, aquela é especial em relação a esta. Por essa razão, o próximo passo é determinar se o fato é da competência da “Justiça Comum Federal”. O método continua sendo eliminatório. A competência criminal da Justiça Federal se extrai da Constituição e consiste no seguinte: a) a persecução dos crimes políticos (Constituição, art. 109, inciso IV, primeira figura); b) a persecução dos crimes praticados em detrimento de bens, serviços ou interesse da União, das suas entidades autárquicas ou empresas públicas (Constituição, art. 109, inciso IV, segunda figura); Entre as autarquias federais encontram-se o Banco Central do Brasil (BCB), as universidades federais, os institutos federais de educação, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN),15 o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT), a Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO), a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC), o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO) e as inúmeras agências reguladoras federais, como a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), a Agência Nacional do Cinema (ANCINE), a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a Agência Nacional do Petróleo (ANP), a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (ANATER) entre outras. Entre as empresas públicas federais poderíamos mencionar o Banco Nacional 15 Conflito de competência nº 106.413-SP – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima – julgado em 14.out.2009 – conflito conhecido para declarar competente o juízo federal, suscitante – votação unânime – DJU, 9.nov.2009. 12 de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Caixa Econômica Federal,16 a Casa da Moeda do Brasil (CMB), a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT),17 a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (INFRAERO), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), a Empresa Brasileira de Radiodifusão (Radiobrás), a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), o Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO), a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP) entre outras. Quando a Constituição se refere a interesse quer dizer interesse concreto, específico. Isso quer dizer que não está incluído, como fator determinante da competência da Justiça Comum federal o interesse genérico no bom nome das instituições, por exemplo.18 c) a persecução dos crimes previstos em tratado ou convenção internacional quando, iniciada a execução no Brasil, o resultado tenha ocorrido ou devesse ter ocorrido no estrangeiro ou vice-versa (Constituição, art. 109, inciso V); d) a persecução dos crimes cometidos com grave violação dos direitos humanos, quando o Superior Tribunal de Justiça houver resolvido pelo deslocamento da competência para a Justiça Federal (Constituição, art. 109, inciso V-A); e) a persecução dos crimes contra a organização do trabalho (Constituição, art. 109, inciso VI, primeira figura); f) a persecução dos crimes contra o sistema financeiro e contra a ordem econômico-financeira, quando assim o determinar a lei (Constituição, art. 109, inciso VI, segunda figura); 16 Embargos de Declaração no Agravo Regimental no Conflito de Competência nº 98.778-SP – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Sebastião Reis Júnior – julgados em 24.ago.2011 – embargos acolhidos para sanar a omissão e atribuir- lhes efeito modificativo a fim de declarar competente o juízo federal, suscitado – votação unânime – DJe, 2.set.2011. 17 Conflito de competência nº 17.757-BA – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Fernando Gonçalves – julgado em 12.nov.1997– votação unânime – DJU, 9.dez.1997. No mesmo sentido: Habeas corpus nº 73.467-SP – STF – 2ª Turma – ordem deferida – DJU, Seção 1, de 11.out.1996; Habeas corpus nº 75.106-SP – STF – 2ª Turma – Rel. Min. Néri da Silveira – julgado em 27.mai.1997 – ordem deferida – votação unânime – Informativo STF nº 73. 18 Conflito de competência nº 104.041-RS – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima – julgado em 14.out.2009 – conflito conhecido para declarar competente o juízo estadual, suscitante – votação unânime – DJU, 9.nov.2009. 13 g) a persecução dos crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar (Constituição, art. 109, inciso IX); h) a persecução dos crimes de ingresso ou permanência de estrangeiro (Constituição, art. 109, inciso X, primeira figura). Também é da competência criminal da Justiça Federal: i) o processamento e o julgamento dos habeas corpus em matéria de sua competência ou quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra “Justiça” (Constituição, art. 109, inciso VII); e j) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, exceto os casos de competência dos tribunais federais (Constituição, art. 109, inciso VIII). O sistema ainda obriga a combinação de regras constitucionais. Por exemplo, no caso dos crimes contra a vida praticados a bordo de navios ou aeronaves. Há, nesse caso, um aparente conflito entre a regra constitucional que atribui o julgamento do caso a um juiz federal (Constituição, art. 109, inciso IX) e a outra regra, também constitucional, que afeta o julgamento dos crimes contra a vida ao Tribunal do Júri (Constituição, art. 5º, inciso XXXVIII). Como não é juridicamente possível haver um conflito real entre normas, ele é resolvido através da formação do Tribunal do Júri Federal.19 O Supremo Tribunal Federal editou a Súmula Vinculante nº 45, que dispõe que “a competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual”. O Superior Tribunal de Justiça decidiu que “se a denúncia imputa ao paciente a prática de crimes previstos na Lei nº 7.492/86, diploma legal que definiu que definiu os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, a ação penal deve ser processada e julgada pela Justiça Federal, como expressamente previsto no seu art. 26, sendo despiciendo o debate sobre a existência ou não de lesão a bens, serviços ou interesses da União Federal”.20 Contudo, se o crime atinge apenas o 19 Conflito de competência nº 14.488-PA – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Vicente Leal – julgado em 19.out.1995 – conflito conhecido e declarado competente o juízo federal, suscitante – votação unânime – DJU, 11.dez.1995, p. 43.174. 20 Habeas corpus nº 6.777-RS – STJ – 6ª Turma – Rel. Min. Vicente Leal – julgado em 19.mar.1998 – ordem indeferida – votação unânime – DJU, 25.mai.1998. 14 patrimônio de particulares, não representando risco algum ao sistema como um todo, como no caso de descumprimento criminoso de cláusula por parte de operadora de consórcio,21 ou de falsificação e uso de guias de recolhimento da Previdência Social para lesar particulares, sem prejuízo para a autarquia federal,22 a competência é da Justiça Estadual (STJ, Súmula 107). O Supremo Tribunal Federal decidiu que “caracteriza-se, em tese, como crime militar o de concussão, quando praticado por funcionário público municipal, agindo na qualidade de Secretário de Junta de Serviço Militar, em face do que conjugadamente dispõem o parágrafo único do art. 124 da Constituição Federal, o art. 9º, inciso III, “a”, do Código Penal Militar, e o art. 11, § 1º, da Lei nº 4.375, de dezessete de agosto de 1964, já que, de certa forma, o delito atinge a ordem da administração militar, ao menos em sua imagem perante a opinião pública, mesmo que vítimas, sob aspecto patrimonial, sejam outros cidadãos e não a administração”.23 Compete à Justiça Federal julgar servidor público estadual acusado de se haver apropriado de verba repassada pela União, mediante convênio, a ser aplicada, por exemplo, no Sistema Único de Saúde (SUS).24 No caso de coação imputável a relator de processo em curso em qualquer tribunal do país (exceto o Supremo Tribunal Federal) a competência é do Superior Tribunal de Justiça.25 O tão-só fato de um furto ter sido cometido em zona portuária não desloca a competência para a Justiça Comum Federal. É indispensável, para tanto, “a 21 Conflito de competência nº 18.164-MG – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Vicente Leal – julgado em 18.dez.1997 – conflito conhecido, para declarar competente a justiça estadual – votação unânime – DJU, 16.fev.1998. 22 Conflito de competência nº 47.901-MG – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Paulo Medina – julgado em 23.ago.2006 – conflito conhecido para declarar competente o juízo estadual, suscitado – votação unânime – DJU, 25.set.2006, p. 231; Conflito de competência nº 62.405-PR – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura – julgado em 12.set.2007 – conflito conhecido para declarar competente o juízo estadual, suscitado – votação unânime – DJU, 27.set.2007. 23 Habeas corpus nº 73.602-5 – STF – 1ª Turma - Rel. Min. Sydney Sanches – ordem parcialmente deferida, para anular o acórdão do STM no ponto em que, desde logo, recebeu a denúncia, devendo o Juiz-Auditor prosseguir no exame desta, decidindo se a recebe ou não – votação unânime – DJU, 18.abr.1997. 24 Recurso extraordinário nº 196.982-PR – STF – julgado em 20.fev.1997 – conhecido e provido – Informativo STF nº 60; Habeas corpus nº 74.887-RJ – STF – 2ª Turma – Rel. Min. Néri da Silveira – julgado em 13.mai.1997 – ordem deferida – votação unânime – Informativo STF nº 71. 25 Habeas corpus nº 2.847-3-RS – STJ – 5ª Turma – Rel. Min. Jesus Costa Lima – julgado em 7.nov.1994 – ordem deferida – votação unânime – DJU, 28.nov.1994, p. 32.622. 15 demonstração do interesse direto e imediato da União Federal”.26 É da competência da Justiça Federal o processamento e o julgamento de crimes relacionados com a malversação de dinheiro público entregue pela União Federal a Município mediante convênio.27 Concluindo esse primeiro passo, o processo eliminatório também está praticamente concluído. Isso porque o que não for da competência da Justiça Comum Federal será da competência da “Justiça Comum Estadual”. Tendo em conta o caráter residual da competência da Justiça Estadual, a tendência é que um número muito maior de feitos seja de sua competência. O Superior Tribunal de Justiça decidiu que “compete à justiça estadual processar e julgar ação onde se discute provável falsificação e utilização de cédula de identidade expedida por instituto estadual”.28 Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de estelionato praticado contra particular, mediante falsificação de guias de recolhimento de contribuições previdenciárias, quando não ocorrente lesão a autarquia federal (STJ, Súmula nº 107). O Supremo Tribunal Federal decidiu que compete à justiça estadual o processo e o julgamento de crime de concussão praticado por servidor público de cadeia pública estadual mesmo que os sujeitos passivos de crime sejam presos federais, sob o fundamento de que a cooperação na execução da decisão da autoridade judiciária federal não afasta o interesse da administração da justiça 26 Conflito de competência nº 20.534-SP – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. William Patterson – julgado em 12.nov.1997 – votação unânime – DJU, 9.dez.1997. 27 Recurso ordinário em habeas corpus nº 71.419-6-MT – STF – 2ª Turma – Rel. Min. FranciscoRezek – julgado em 31.mai.1994 – parcialmente conhecido e, nessa parte, improvido – votação unânime – DJU, 16.jun.1995, p. 18.219; Recurso ordinário em habeas corpus nº 4.133-1-PI – STJ – 5ª Turma – Rel. Min. Edson Vidigal – julgado em 5.dez.1994 – parcialmente provido – votação unânime – DJU, 6.fev.1995, p. 1.361; Ação Penal (Questão de ordem) nº 93.04.05611-0-PR – TRF da 4ª Região – Pleno – Rel. Juiz Vladimir Passos de Freitas – julgado em 24.mar.1993 – remetidos os autos ao TJPR – votação majoritária – DJU, 5.mai.1993, p. 16.152; Ação penal nº 94.04.42520-6-RS – TRF da 4ª Região – Pleno – Rel. para o acórdão Juíza Ellen Gracie Northfleet – julgado em 9.nov.1994 – suscitado conflito negativo de competência – votação majoritária, vencido o juiz Dória Furquim, relator original – DJU, 29.mar.1995, p. 16.986; Inquérito nº 94.04.49454-2-RS – TRF da 4ª Região – 1ª Seção – Rel. Juiz Jardim de Camargo – julgado em 8.mar.1995 – suscitado conflito negativo de competência – votação unânime – DJU, 29.mar.1995, p. 16.986. 28 Conflito de competência nº 18.304-SP – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro – julgado em 27.mai.1998 – conflito conhecido e declarado competente o juízo estadual – votação unânime – DJU, 27.mai.1998. 16 estadual no julgamento do caso.29 No caso de falsificação de nota fiscal, ainda que o objetivo tenha sido o de sonegar tributo federal – que, por exemplo, não pode ser perseguido por extinção da punibilidade de seu agente – a competência é da Justiça Comum Estadual.30 É da competência da Justiça Comum Estadual julgar crimes praticados em detrimento de sociedades de economia mista, como o Banco do Brasil, Petrobrás etc.31 É firme a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que somente constitui crime contra a organização do trabalho violações que atinjam os direitos dos trabalhadores enquanto coletividade. Salvo essa hipótese, a competência para processar e julgar esses fatos é da Justiça Comum Estadual.32 Os crimes que configurem malversação ou dilapidação do patrimônio das associações ou entidades sindicais, embora sejam equiparados ao peculato (CP, art. 312) são de competência da Justiça Estadual.33 Também é da competência da Justiça Comum Estadual os crimes contra a fauna, por não constituírem, de per se, lesão a bens, serviços ou interesses da 29 Recurso extraordinário nº 211.941-SC – STF – 1ª Turma – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – julgado em 9.jun.1998 – conhecido e provido – votação unânime – Informativo STF nº 114 – DJU, 4.set.1998. 30 Conflito de competência nº 3.692-5-CE – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro – julgado em 17.jun.1993 – conflito conhecido e declarado competente o juízo estadual, suscitante – votação unânime – DJU, 2.ago.1993, p. 4.171. 31 Conflito de competência nº 1.921-AL – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro – julgado em 20.jun.1991 – conflito conhecido e declarado competente o juízo estadual, suscitado – votação unânime – DJU, 1º.jul.1991, p. 9.160; Conflito de competência nº 1.403-GO – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. José Cândido – julgado em 6.set.1990 – conhecido e declarado competente o juízo estadual, suscitado – votação unânime – DJU, 24.set.1990, p. 9.965. 32 Conflito de competência nº 1.522-SP – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Edson Vidigal – julgado em 20.nov.1990 – conflito conhecido e declarado competente o juízo estadual, suscitado – votação majoritária – DJU, 3.dez.1990, p. 14.303; Conflito de competência nº 8.466-0-GO – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Pedro Acioli – julgado em 20.out.1994 – conflito conhecido e declarado competente o juízo estadual, suscitado – votação unânime – DJU, 28.nov.1994, p. 32.561; Conflito de competência nº 9.071-7-RS – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro – julgado em 6.out.1994 – conflito conhecido e declarado competente o juízo estadual, suscitado – votação unânime – DJU, 28.nov.1994, p. 32.563; Conflito de competência nº 5.740-0-SP – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Assis Toledo – julgado em 1º.jun.1995 – conflito conhecido e declarado competente o juízo estadual, suscitado – votação unânime – DJU, 21.ago.1995, p. 25.347. 33 Conflito de competência nº 130.954-SP – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Marilza Maynard (Des. conv. TJ/SE) – julgado em 26.fev.2014 – conflito conhecido e declarado competente o juízo estadual, suscitante – votação unânime – DJe, 14.mar.2014. 17 União.34 5555. C. C. C. Critério hierárquicoritério hierárquicoritério hierárquicoritério hierárquico A estrutura do Estado brasileiro, no que diz respeito ao exercício das funções públicas, é piramidal. Na verdade, cada um dos Poderes e cada uma das unidades do Estado, tem uma estrutura mais ou menos no formato de uma pirâmide. No alto de cada uma dessas pirâmides se encontram os chefes dos Poderes ou de cada uma das unidades da federação. Assim, o Poder Executivo, no âmbito da União Federal, é chefiado pelo presidente da República, o Congresso Nacional é chefiado pelo presidente do Senado Federal e o Poder Judiciário é chefiado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal. Nos estados membros uma estrutura parecida se forma, tendo um chefe cada um dos poderes. Essas estruturas piramidais são, em grande medida, marcadas pela hierarquia. Não se trata de hierarquia no sentido militar do termo, em que o oficial inferir deve obediência estrita ao superior. Nem sempre os servidores situados em um nível inferior da hierarquia devem obedecer ou concordar com o entendimento de seus superiores. Em cada uma das estruturas há espaço para um grau maior ou menor de independência funcional. Mesmo assim, a estrutura hierárquica está presente e não pode ser desconsiderada. No Processo Penal tem relevância transcendente, especialmente no campo da competência. Assim, consideremos que cada uma das pirâmides – do Executivo, Legislativo e Judiciário – encontram-se lado a lado. Grosso modo, pode-se dizer que os diversos níveis hierárquicos, entre primeiro, segundo e demais escalões se equivalem. Assim, os chefes de cada um dos poderes se encontram em níveis mais ou menos equivalentes. Do mesmo modo os que se situam no escalão exatamente inferior e assim por diante. Não que haja uma simetria perfeita, mas é certo que as pirâmides se assemelham. Por isso mesmo, nas interações entre as diversas pirâmides, a hierarquia de cada uma é levada em consideração. Principalmente no que diz respeito à competência penal. Dessa maneira, naqueles casos em que um elemento de um nível hierárquico superior seja suspeito da prática de um crime, torna-se profundamente inconveniente que ele seja julgado por um juiz situado em um nível hierárquico 34 Conflito de competência nº 27.848-SP – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Hamilton Carvalhido – julgado em 8.nov.2000 – conflito conhecido para declarar competente o juízo estadual, suscitado – votação unânime – DJU, 19.fev.2001. 18 inferior. Algo assim seria como uma quebra de hierarquia institucional. A inconveniência de um arranjo como esse não é meramente retórica. Ela pode se traduzir em consequências graves, com prejuízo à dignidade da Justiça. Assim, tome-se o exemplo de um desembargador de um tribunal de apelação que fosse suspeito da prática de um crime de competência da Justiça Comum estadual. Se não houvesse a regra da competência por prerrogativa de função esse desembargador seria julgado por um juiz de Direito. Parece muito clara a inconveniência de um arranjo como esse, já que a carreira do juiz depende em grande medida da vontade dos desembargadores. Se esse julgamento assim se desse, dificilmente escaparia de um juízo moral negativo; se a sentença do juiz fosse condenatóriaa suspeita seria de retaliação contra o desembargador; se fosse absolutória, pareceria mera submissão o juiz ao seu superior hierárquico. O mesmo ocorre quando se consideram as interações entre as diversas pirâmides. Se um ministro de Estado é suspeito da prática de uma infração penal um juiz federal não poderia julgá-lo, pelas mesmas razões. O presidente da República, de quem o ministro é auxiliar direto, é quem nomeia os ministros dos tribunais regionais federais e do Superior Tribunal de Justiça (Constituição, art. 94, parágrafo único). Assim, o critério hierárquico-institucional, também chamado de competência por prerrogativa de função, competência “ratione personæ”, “ratione muneris”, foro privilegiado e competência hierárquica, exerce uma função relevantíssima no concerto dos poderes constituídos e na dignidade da atividade jurisdicional. É um dos principais critérios para a determinação da competência jurisdicional (CPP, art. 69, inciso VII). É estabelecido em função da qualidade dos cargos exercidos pelas pessoas suspeitas da prática de crime. É positivado diretamente pela Constituição da República e, no caso da Justiça Estadual, pelas Constituições estaduais. Ao Supremo Tribunal Federal cabe julgar, nas infrações penais comuns, o presidente da República, o vice-presidente da República, os membros do Congresso Nacional, os seus próprios ministros e o procurador-geral da República (Constituição, art. 102, inciso I, letra “b”). Nas infrações penais comuns e nos crimes funcionais, os ministros de Estado, os comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, os membros dos tribunais superiores, os ministros do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente (Constituição, art. 102, inciso I, letra “c”). 19 Ao Superior Tribunal de Justiça cabe julgar, nos crimes comuns, os governadores dos estados e do distrito federal; nos crimes comuns e nos crimes funcionais, cabe-lhe julgar os desembargadores dos tribunais de Justiça dos estados e do distrito federal, os membros dos tribunais de contas dos estados e do distrito federal, os membros dos tribunais regionais federais, os membros dos tribunais regionais eleitorais, os membros dos tribunais regionais do Trabalho, os membros dos conselhos ou tribunais de contas dos municípios e os membros do Ministério Público da União que atuam perante tribunais (Constituição, art. 105, inciso I, letra “a”). Cabe aos tribunais regionais federais julgar, nos crimes comuns e nos crimes funcionais, os juízes federais, os juízes militares federais, os juízes do Trabalho e os membros do Ministério Público da União que atuam em primeira instância (Constituição, art. 108, inciso I, letra “a”).35 Quando a Constituição dispõe que o julgamento cabe ao tribunal não significa que todos os membros do tribunal deverão participar do julgamento. Os tribunais poderão cometer o julgamento ao seu órgão especial, a um grupo de turmas ou câmaras ou até mesmo a uma de suas turmas ou câmaras.36 O Supremo Tribunal Federal consagrou o princípio da simetria, ao afirmar que os prefeitos municipais – cujos foros por prerrogativa de função são os tribunais de Justiça – serão processados e julgados pelos tribunais regionais federais nos crimes praticados em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, por serem estes simétricos àqueles (Constituição, art. 109, inciso IV).37 O Supremo Tribunal Federal dispunha que “cometido o crime durante o exercício funcional, prevalece a competência especial por prerrogativa de função, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados após a cessação daquele exercício” (STF, Súmula nº 394). Diversos eram os seus precedentes.38 35 Conflito de competência nº 18.724-RJ – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Anselmo Santiago – julgado em 24.set.1997 – conflito conhecido para declara competente o TRF da 2ª Região, suscitante – votação unânime – DJU, 10.nov.1997. 36 Habeas corpus nº 74.650-1-GO – STF – 1ª Turma – Relator Ministro Ilmar Galvão – ordem indeferida – Informativo STF, nº 64 – DJU, 21.mar.1997, p. 8.509. 37 Habeas corpus nº 78.728-RS – STF – 2ª Turma – Rel. Min. Maurício Corrêa – julgado em 23.fev.1999 – ordem deferida – votação unânime – DJU, 16.abr.1999 – Ementário nº 1.946. 38 Recurso criminal nº 491-DF – STF – Pleno – Rel. Min. Pedro dos Santos – julgado em 15.dez.1923 – provido – RSTF, nº 62 (1923), p. 60-88; Habeas corpus nº 32.097 – STF – 1ª Turma – Rel. Min. Mário Guimarães, convocado – julgado em 20.ago.1952 – Ementário nº 111, p. 548; Habeas corpus nº 35.501-DF – STF – Pleno – julgado em 20 Contudo, em decisão unânime tomada pelo seu Plenário em 25 de agosto de 1999, o Supremo Tribunal Federal cancelou a Súmula nº 394. Por maioria de votos (sete votos contra quatro) os Ministros decidiram não editar uma nova Súmula sobre a competência especial por prerrogativa de função. O fundamento da decisão foi no sentido de que o foro especial por prerrogativa de função não é privilégio de caráter pessoal, mas que é estabelecido em razão do cargo exercido. Ou seja, terminado o exercício do cargo ou o mandato, cessa também a competência do STF para julgar os crimes comuns cometidos por essas autoridades. A decisão também ressalvou a validade de todos os atos praticados e as decisões proferidas até agora pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal com base na referida súmula e determinou a interrupção do prazo prescricional dos crimes de acordo com a lei processual penal.39 O Supremo Tribunal Federal já decidiu que a competência por prerrogativa de função também abrange os atos de investigação criminal.40 Isso quer dizer que a investigação só pode ser iniciada e realizada com autorização do tribunal competente para julgar o acusado com forro por prerrogativa de função. 6666. C. C. C. Critério territorialritério territorialritério territorialritério territorial O território é dos mais antigos critérios para estabelecer a competência criminal. E também dos mais adequados, pois possibilita uma colheita mais eficaz de provas do fato e de suas circunstâncias. No local onde ocorreram os fatos 4.jul.1958 – DJU, 5.jul.1958 – Ementário nº 346, p. 959; Recurso criminal nº 39.682-MG – STF – 2ª Turma – julgado em 20.ago.1958 – DJU, 21.ago.1958 – Ementário nº 353, p. 872 – RTJ nº 6, p. 408; Habeas corpus nº 38.409-PR – STF – Pleno – julgado em 17.nov.1961 – DJU, 20.nov.1961 – Ementário nº 484, p. 921; Reclamação nº 473-GB – STF – Pleno – julgado em 18.nov.1962 – DJU, 19.nov.1964 – Ementário nº 603, p. 33 – RTJ nº 22, p. 47; Habeas corpus nº 40.400-DF – STF – Pleno – julgado em 24.jun.1964 – DJU, 25.jun.64, p. 2033 – Ementário nº 582, p. 862; Habeas corpus nº 40.398-DF – STF – Pleno – julgado em 1º.jul.1964 – DJU, 2.jul.1964 – Ementário, nº 583, p. 816; Habeas corpus nº 40.382-DF – STF – Pleno – julgado em 8.jul.1964 – DJU, 9.jul.1964 – Ementário nº 584, p. 950. 39 Inquérito (Questão de Ordem) nº 687-4-DF – STF – Pleno – Rel. Min. Sydney Sanches – julgado em 25.ago.1999 – cancelada a Súmula nº 394, recusada a proposta de edição de nova Súmula , declarada a validade de todos os atos e decisões proferidas pelo STF com base na Súmula nº 394 e determinada a remessa dos autos ao juízo de primeira instância – votação unânime quanto ao cancelamento da Súmula nº 394, majoritária quanto à recusa de editar nova Súmula e unânime quanto à eficácia ex nunc da decisão e unânime quanto à remessa dos autos à Justiça de 1º Grau – DJU, 9.nov. 2001, p. 44 – RTJ, nº 179, p. 912 ss. 40 Inquérito nº 3.438-SP – STF – 1ª Turma – Rel. Min. Rosa Weber – julgado em 11.ago.2014 – rejeitadas as preliminares e recebida a denúncia – votação unânime quanto às preliminares e majoritáriaquanto ao recebimento da denúncia, vencido o Min. Luiz Fux – DJe 27, 10.fev.2015. 21 normalmente se situam os vestígios do crime e há mais provas a serem colhidas. Também é o local onde normalmente é o local onde residem as testemunhas, o réu e a vítima e, enfim, é o local onde o crime teve suas repercussões sobre a comunidade. O critério territorial, também denominado foro, divide-se em comum e especial. Antes de seguir adiante é mister esclarecer que a problemática de determinar o critério territorial não se aplica aos tribunais superiores nem aos tribunais de apelação, relativamente aos acusados que detenham foro por prerrogativa de função. Isso porque esses tribunais possuem competência que abrange todo o território nacional. Assim, se um ministro de Estado é suspeito da prática um crime, o Supremo Tribunal Federal será competente para julgá-lo (Constituição, art. 102, inciso I, letra “b”). Nesse caso não importa o lugar, dentro do território brasileiro, que o crime tenha sido cometido. A mesma lógica se aplica ao Superior Tribunal de Justiça. O que determina a competência nesses casos é a função pública exercida pelo acusado. Quanto aos tribunais de apelação, a regra também se aplica, embora em parte. Quer dizer: se o crime foi cometido por um deputado estadual no território do seu estado, a competência poderá ser do Tribunal de Justiça, se a respectiva Constituição estadual dispuser nesse sentido, pouco importando o local do crime. Se o crime for cometido fora do território do estado, embora não haja norma constitucional explicita a respeito, a melhor solução é, por simetria, considerar que o competente será o Tribunal de Justiça do estado em que o crime for cometido, tampouco importando o lugar do crime dentro daquele território. As unidades utilizadas para determinar a competência territorial são a comarca e os distritos, no caso das Justiças estaduais e as seções e subseções judiciárias, no caso da Justiça Federal. Essas unidades não correspondem, exatamente, à unidade territorial estabelecida nas leis federais, estaduais e municipais. Assim, uma comarca poderá abranger mais de um município e um município poderá ter várias comarcas e distritos. O que determina a existência de comarcas, distritos, seções e subseções judiciárias são, basicamente, critérios demográficos e administrativos, submetidos a decisão política. Caso o imputado não detenha foro por prerrogativa de função e estabelecida 22 a competência material, o próximo passo será determinar o critério territorial determinante da competência. Também ele é fornecido por características do caso concreto; especificamente, pelo local de ocorrência do fato criminoso. Trata- se do critério territorial comum. Dado que o caso concreto ocorreu em um determinado lugar no espaço, cumprirá determinar qual autoridade materialmente será competente territorialmente para dele conhecer. A descoberta dessa autoridade depende de descobrir como a competência é repartida territorialmente. Concretamente, a competência territorial de cada autoridade judiciária vem previamente estabelecida pelas normas de organização judiciária, que observa mas nem sempre segue a divisão administrativa do território. Assim, uma comarca pode abranger mais de um município. O critério territorial comum é, em caráter principal, o local em que foi consumado o crime (CPP, art. 70, caput, primeira figura).41 Por sua vez, o crime é dito consumado quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição típica (CP, art. 14, inciso I). É importante perceber que esse momento varia conforme se trate de crime material, formal, de mera conduta, culposo, omissivo, comissivo por omissão, permanente, habitual, qualificado pelo resultado etc. Nos crimes materiais, como o homicídio (CP, art. 121), o furto (CP, art. 155) e o estelionato (CP, art. 171), a consumação típica coincide com a consumação material, isto é, com a obtenção de um resultado. No caso do crime de estelionato, a competência territorial é do local em que o criminoso obteve a vantagem ilícita em prejuízo alheio.42 Nos crimes formais, como o abandono de incapaz (CP, art. 133), a violação de domicílio (CP, art. 150) e a concussão (CP, art. 316), a consumação ocorre com a conduta do agente, independentemente da aferição de um resultado material. Nos crimes de mera conduta, como o ato obsceno (CP, art. 233), a 41 Cf. caso em que o STJ, à guisa de uma “interpretação lógico-sistemática” do Código de Processo Penal, recusa- se a aplicar esse critério em crime de homicídio, Habeas corpus nº 196.458-SP – STJ – 6ª Turma – Rel. Min. Sebastião Reis Júnior – julgado em 6.dez.2011 – ordem denegada – votação unânime – DJe 8.dez.2012. 42 Conflito de competência nº 34.776-RS – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Fernando Gonçalves – julgado em 26.jun.2002 – conflito conhecido para declarar competente o juízo suscitado – votação unânime – DJU 12.ago.2002. 23 consumação coincide com a conduta do agente. Nos crimes culposos, a consumação ocorre exatamente no momento e no local da ocorrência do resultado naturalístico. Nesses casos, sem resultado naturalístico não há consumação nem tentativa, isto é, não há crime. Nos crimes omissivos, como a omissão de socorro (CP, art. 135) e o abandono material (CP, art. 244) a consumação ocorre exatamente quando e onde o autor deveria agir e não age para evitar um resultado indesejável. Nos crimes comissivos por omissão, a consumação ocorre com o resultado naturalístico. Nos crimes habituais, como o favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual (CP, art. 228), o rufianismo (CP, art. 230) e o charlatanismo (CP, art. 283), a consumação ocorre quando e onde se caracterizar uma reiteração de atos correspondentes ao modelo típico, os quais caracterizem habitualidade. Nos crimes qualificados pelo resultado, como o roubo qualificado pelo resultado morte (CP, art. 157, § 3º, segunda figura), o estupro com resultado morte (CP, art. 213, § 2º), a epidemia com resultado morte (CP, art. 267, § 1º), a consumação coincide com a ocorrência do resultado que agrava especialmente a punibilidade. No caso dos crimes tentados, a competência é determinada pelo lugar onde foi praticado o último ato de execução (CPP, art. 70, caput, segunda parte). Caso seja impossível, aplicados os critérios anteriores, determinar o foro comum competente, o Código de Processo Penal lança mão do critério territorial especial – ou foro especial. Esse instrumento será necessário mesmo quando seja conhecido o lugar do crime. A primeira hipótese é dos crimes não praticados no território nacional mas que o Brasil, por variada ordem de razões, obrigou-se a processar e julgar. Esses casos são os de extraterritorialidade da lei penal brasileira (CP, art. 7º). Nesses casos, muitas vezes, sabe-se exatamente o lugar do crime, tanto que se pode afirmar que ocorreu fora do território brasileiro. Nesse caso, o foro competente, no Brasil, é o da capital do Estado em que pela última vez tiver residência do réu (CPP, art. 88, primeira parte). Se ele jamais tiver residido no Brasil, a capital da República será o foro especial competente (CPP, art. 88, segunda parte). 24 A segunda hipótese é a dos crimes que praticados no território nacional mas em águas marítimas territoriais, nos rios e lagos fronteiriços. Ou ainda fora do território nacional em sentido físico, mas dentro de embarcações nacionais, que são consideradas, por ficção e para esse efeito, território nacional. Nesses casos, embora os crimes tenham sido praticados no território nacional, é impossível, com base nos critérios existentes, determinar o foro competente. Assim, a primeira regra, referente aos crimes praticados a bordo de navios,é no sentido de que é competente o foro do local do primeiro porto brasileiro onde tocar a embarcação, após o crime (CPP, art. 89, primeira parte). Quando o navio estiver se afastando do Brasil, a competência será do local onde por último tiver tocado (CPP, art. 89, segunda parte). No caso de crimes praticados a bordo de aeronaves nacionais dentro do espaço aéreo correspondente ao território brasileiro, ou correspondente ao alto- mar, ou, ainda, a bordo de aeronave estrangeira, dentro do espaço aéreo correspondente ao território nacional, o foro especial competente é o local do pouso após o crime (CPP, art. 90, primeira parte). Quando a aeronave estiver se afastando do Brasil, o foro especial competente é o do local da decolagem (CPP, art. 90, segunda parte). Se se trata de crime à distância — início do crime no território nacional e sua consumação fora dele — a competência jurisdicional será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução (CPP, art. 70, § 1º). Em alguns crimes permanentes, como o sequestro e cárcere privado (CP, art. 148) e a extorsão mediante sequestro (CP, art. 159), a consumação ocorre quando e onde o criminoso coloca sua vítima sob vigília e a impede de deixá-la. Nesses casos, se atos forem praticados em territórios de mais de uma autoridade judiciária, a competência firmar-se-á pela prevenção (CPP, art. 71).43 O mesmo ocorre com o outrora denominado crime de quadrilha ou bando, hoje chamado “associação criminosa” (CP, art. 288), mormente quando essa associação atua em 43 Conflito de competência nº 121.600-GO – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca – julgado em 24.jun.2015 – conflito conhecido, para declarar a competência do juízo suscitado – votação unânime – DJe 1º.jul.2015. 25 diversos locais.44 Caso o crime tenha sido praticado inicialmente dentro do território nacional e seu último ato de execução tenha se verificado fora dele, será competente o juiz do local onde o crime tenha produzido algum resultado, ainda que parcial ou do local onde ele deveria o produzir (CPP, art. 70, § 2º). Quando um mesmo crime tenha sido praticado em vários locais dentro do território nacional, a competência se firma pela prevenção (CPP, art. 83).45 O estatuto processual penal ainda dispõe que, no caso de incerto o limite territorial entre dois ou mais foros competentes, ou incerto o foro por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas entre dois ou mais foros, a competência também se determina pela prevenção (CPP, art. 70, § 3º). No caso de crime continuado, cuja execução se estende pelo território de dois ou mais foros, a competência firma-se pela prevenção (CPP, art. 71). Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência territorial subsidiária passa a ser o domicílio ou residência do réu (CPP, art. 72, caput). No caso do réu ter mais de uma residência, a competência é determinada pela prevenção (CPP, art. 72, § 1º). Da mesma maneira no caso do réu que não tiver residência certa ou for ignorado seu paradeiro (CPP, art. 72, § 2º). No caso de ação penal privada o querelante poderá preferir o foro de domicílio ou de residência do réu, ainda que conhecido o lugar da infração (CPP, art. 73). Não está incluída nessa regra a ação penal privada subsidiária da ação penal pública. Quando incerta competência e impossível determinar o foro especial de acordo com as regras gerais (CPP, arts. 89 e 90) a competência determinar-se-á pela prevenção (CPP, art. 91). 44 Conflito de competência nº 46.661-PR – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Laurita Vaz – julgado em 28.jun.2006 – conflito conhecido e declarado competente o juízo de Direito Araguari, SC, suscitado – votação unânime – DJU 2.ago.2006. 45 Habeas corpus nº 82.009-RJ – STF – 2ª Turma – Rel. Min. Nelson Jobim – julgado em 12.nov.2002 – parcialmente conhecido e, nessa parte, denegado – votação unânime – DJU 19.dez.2002, p. 129; Habeas corpus nº 13.624-RJ – STJ – 5ª Turma – Rel. Min. Felix Fischer – julgado em 13.dez.2000 – ordem denegada – votação unânime – DJU 5.fev.2001. 26 7777. C. C. C. Critério ritério ritério ritério procedimentalprocedimentalprocedimentalprocedimental Conforme a denominação por nós proposta, o critério procedimental pretende determinar a competência penal conforme o procedimento penal especial. Há casos que o procedimento penal exige um órgão judicial especial, com características diferenciadas em relação aos demais. Daí que esse procedimento, aliado às características das diversas fases processuais e do órgão julgador, ajuda a determinar a competência jurisdicional. Dois são os exemplos constitucionais desse critério para determinar a competência penal. O primeiro deles é tradicional do Direito Processual Penal brasileiro e remonta ao Código do Processo Criminal de primeira instância, de 1832. Trata- se da competência do Tribunal do Júri. A Constituição de 1988 garantiu a instituição do tribunal do júri, assegurados a plenitude de defesa, o sigilo das votações, a soberania dos veredictos, bem como a competência para julgamento dos crimes dolosos contra a vida (Constituição, art. 5º, inciso XXXVIII). Com isso, impôs que esse critério procedimental – o qual prevê um procedimento penal que preveja a deliberação sigilosa por parte de um corpo de jurados, entre outros caracteres especialíssimos – determine a competência para o tribunal do júri, qual seja, a dos crimes dolosos contra a vida. Trata-se de um critério de determinação da competência que pode se articular com o critério material constitucional. Em outras palavras, é perfeitamente possível a realização de júri no âmbito da Justiça Federal.46 O Supremo Tribunal Federal já decidiu que o critério procedimental cede em face do critério hierárquico. Assim, o acusado com cargo que aponte para a competência de tribunais em face do critério hierárquico e que seja acusado de crime doloso contra a vida será julgado conforme esse critério e não pelo tribunal do júri.47 O segundo exemplo surgiu no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, com a emergência do conceito de “criminalidade de bagatela”, especialmente no Direito Penal alemão. Nessa época, a atitude tradicional do Processo Penal 46 Habeas corpus nº 63.662-PE – STF – 1ª Turma – Rel. Min. Oscar Corrêa – julgado em 11.mar.1986 – ordem indeferida – votação unânime –DJU, 15.ago.1986, p. 13.927 – RTJ nº 119, p 121; Habeas corpus nº 79.044-RJ – STF – 2ª Turma – Rel. Min. Nelson Jobim – julgado em 20.abr.1999 – ordem indeferida – votação unânime – DJU, 30.jun.2000, p. 40. 47 Recurso extraordinário nº 162.966-RS – STF – Pleno – Rel. Min. Néri da Silveira – julgado em 27.mai.1993 – conhecido e provido, para afirmar a competência do TJ/RS – votação unânime – DJU, 8.abr.1994, p. 7.250. 27 brasileiro, de não diferenciar substancialmente os procedimentos para quase toda a espécie de crime – excetuados os dolosos contra a vida –passou a ser objeto de debates intensos por parte da doutrina. A crítica mais importante centrou-se no tratamento procedimental dos chamados crimes de bagatela. A mais frequente dessas críticas apontava para o fato de que, naquela época, a persecução penal para a apuração e eventual punição do culpado por um crime gravíssimo era substancialmente a mesma utilizada para punir crimes de gravidade diminuta. Em outras palavras, o Estado gastava a mesma energia para perseguir crimes gravíssimos – como os roubos e os sequestros seguidos de morte, só para ficar com dois exemplos – que gastava para perseguir, por exemplo, os furtos de coisas de pequeno valor. Com o tempo gasto para perseguir os crimes de poucagravidade acreditava- se que se fomentava a impunidade dos autores de crimes de maior gravidade, com vítimas em situação periclitante, fatos que naquela época já afligiam a sociedade brasileira. Por conta dessa preocupação doutrinária e também social, a Constituição findou por previr a criação de juizados especiais, providos por juízes togados ou por juízes togados e por juízes leigos, competentes para a “conciliação, o julgamento e a execução” das “infrações penais de menor potencial ofensivo”, através de um procedimento que prestigiasse a oralidade e a sumariedade, permitida a transação e o julgamento de recursos por juízes de primeiro grau, na forma da lei (Constituição, art. 98, inciso I). Outro exemplo do critério de procedimental. Embora tivessem ocorrido outras tentativas de criação de juizados logo depois da promulgação da Constituição, somente em 1995 foi editada a Lei 9.099, que criou efetivamente o “Juizado Especial Criminal”, provido por juízes togados ou togados e leigos, com a competência para conciliar, julgar e executar as infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência (Lei 9.099, art. 60). As infrações penais de menor potencial ofensivo são as contravenções penais (todas) e os crimes cuja pena prevista não ultrapassasse dois anos, cumulada ou não com multa (Lei 9.099, art. 61). Das decisões dos juízes togados cabe recurso para a turma recursal. Das 28 decisões da turma recursal cabe apenas recurso extraordinário.48 8. Critério funcional intraprocessual8. Critério funcional intraprocessual8. Critério funcional intraprocessual8. Critério funcional intraprocessual A competência jurisdicional pode ser distribuída, durante a persecução penal, entre diversas autoridades judiciárias. A esse critério se chama de competência funcional. Essa competência pode ser distribuída em dois sentidos: no horizontal e no vertical. Diz-se horizontal para significar a distribuição da competência numa mesma persecução, e num mesmo grau de jurisdição, isto é, desde a investigação criminal até a prolação da sentença. Nesse mesmo nível diversos juízes podem se ocupar de um mesmo processo, seja conforme as fases da persecução, seja conforme o objeto do juízo. O outro sentido, o vertical, refere-se ao processo quando há mudança de grau de jurisdição, decorrente do exercício de um recurso por uma das partes. É possível que as normas de organização judiciária cindam a competência funcional horizontal tendo como base a fase da persecução penal. É possível que sejam criadas, no âmbito do território abrangido por um tribunal, varas especializadas na tramitação de inquéritos policiais. Nesse caso, a distribuição dos feitos será feita inicialmente a uma vara, que analisará os pedidos de quebra de sigilo, de busca e apreensão, de prisão processual, de liberdade vinculada a fiança etc. Somente depois de oferecida a denúncia ou a queixa o processo será distribuído para uma vara criminal, para a instrução processual. Também ocorre esse fenômeno em alguns Estados em que as varas do Tribunal do Júri somente são responsáveis pela tramitação dos feitos após a preclusão da decisão de pronúncia, isto é, na fase do judicium causæ (CPP, art. 421, caput). Também nesse caso há uma cisão da horizontal da competência pela fase da persecução penal. O critério funcional horizontal pela fase da persecução penal decorre das normas de organização judiciária. A lei também prevê um critério funcional pelo objeto do juízo. Segundo esse critério, divide-se o trabalho dentro do processo conforme o objeto sobre o qual 48 Reclamação nº 2.132-MG – STF – 2ª Turma – Rel. Min. Celso de Mello – julgada em 19.nov.2002 – julgada procedente – votação unânime – DJU, 14.fev.2003, p. 81. 29 deve operar a jurisdição. Assim, por exemplo, no processo de competência do Tribunal do Júri, divide- se a competência pelo objeto do juízo entre o Presidente do Tribunal do Júri e os jurados. Estes devem indagar sobre a autoria do fato, sobre a materialidade, e responder quanto aos elementos do crime, como tipicidade, formal e material e culpabilidade. Aquele opera, primeiramente, sobre indícios de autoria e prova de materialidade e, depois de proferido o veredicto pelos jurados, sobre a pena a ser aplicada. Essa cisão decorre da Constituição, que consagrou o Tribunal do Júri, já tradicional em nosso ordenamento (Constituição, art. 5º, inciso XXXVIII). Mas também decorre da lei processual penal, que atribui ao juiz-presidente do Tribunal do Júri a prolação das decisões de pronúncia, impronúncia e absolvição sumária (CPP, arts. 413-421), bem como a elaboração dos quesitos (CPP, arts. 482, parágrafo único e 483), aos jurados a prolação do veredito (CPP, art. 482, caput) e ao juiz-presidente, finalmente, a elaboração da sentença (CPP, 492). Finalmente, a lei previu um critério funcional vertical, que decorre do exercício da atividade recursal. Ele cuida de estabelecer os órgãos competentes após a prolação das decisões judiciais, especialmente quando da interposição de recursos. Uma vez proferida uma decisão recorrível, pode se dar que uma das partes interponha recurso. Cuida-se de saber quais serão as atribuições de cada órgão judiciário durante a tramitação do recurso. Por exemplo, o que vai caber ao próprio prolator da decisão, o que vai caber ao juiz-presidente do Tribunal ad quem, o que vai caber ao relator do recurso e o que vai caber à turma ou câmara julgadora. A competência funcional vertical decorre das normas de organização judiciária, aí incluídos os regimentos internos dos tribunais. 9. 9. 9. 9. CCCCritério organizacionalritério organizacionalritério organizacionalritério organizacional É impropriamente denominado pela lei de “competência pela natureza da infração” (CPP, arts. 69, inciso III e 74). Pressupõe já ter sido aplicado o critério material constitucional e o critério territorial. É estabelecido em função da conveniência de criar varas judiciais em função da atividade a ser desenvolvida. Tem como objetivo buscar a delimitação de trabalho entre juízes cujo critério 30 material constitucional já os apontou como competentes, e que atuam em um mesmo território. Deve buscar precipuamente a organização e a otimização do trabalho judicial. É positivado pelas normas de organização judiciária e é o último dos critérios para a determinação da competência jurisdicional. Na prática, esse critério de divisão da competência é que resulta na existência de varas especializadas no processo e julgamento de determinadas espécies de crimes. Essa conveniência geralmente resulta da existência de uma lei especial que define os crimes, o processo e o julgamento de determinados crimes, bem como a existência de certa criminalidade habitual ou profissional que aconselhe o tratamento especializado. É o caso de varas especializadas para julgar crimes relativos ao tráfico ilícito de drogas, crimes contra o sistema financeiro, crimes contra a mulher, crimes contra crianças, crimes tributários, crimes de trânsito etc. É frequente que, no âmbito internacional, o país se comprometa a reprimir determinados crimes. Com o objetivo de otimizar essa repressão, uma das medidas preferidas tem sido a criação de varas especializadas. Um exemplo dessa providência são os juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher, com competência cível e criminal e previstos em tratado internacional (Convenção Interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher, de 1994, art. 7º, letra “g”) e em lei federal (Lei 11.340, arts. 1º e 14). 10. 10. 10. 10. Modificações dModificações dModificações dModificações da competênciaa competênciaa competênciaa competência Em princípio,
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