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ramos-jgg_competencia_penal-2015.pdf

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1 
CCCCOMPETÊNCIA PENALOMPETÊNCIA PENALOMPETÊNCIA PENALOMPETÊNCIA PENAL 
 
JJJJOÃO OÃO OÃO OÃO GGGGUALBERTO UALBERTO UALBERTO UALBERTO GGGGARCEZ ARCEZ ARCEZ ARCEZ RRRRAMOSAMOSAMOSAMOS 
Professor de Direito Processual Penal da UFPR 
Procurador da República 
 
Ementa: 1. Noções introdutórias1. Noções introdutórias1. Noções introdutórias1. Noções introdutórias –––– 2. Conceito2. Conceito2. Conceito2. Conceito –––– 3. Crit3. Crit3. Crit3. Critérios de divisão da érios de divisão da érios de divisão da érios de divisão da 
competênciacompetênciacompetênciacompetência –––– 4444. . . . Critério material constitucionalCritério material constitucionalCritério material constitucionalCritério material constitucional –––– 5555. C. C. C. Critério hieritério hieritério hieritério hierárquicorárquicorárquicorárquico –––– 
6. Critério territorial6. Critério territorial6. Critério territorial6. Critério territorial –––– 7. Critério 7. Critério 7. Critério 7. Critério procedimentalprocedimentalprocedimentalprocedimental –––– 8888. . . . CCCCritério ritério ritério ritério funcionalfuncionalfuncionalfuncional 
intraintraintraintraprocessualprocessualprocessualprocessual –––– 9999. C. C. C. Critério organizacionalritério organizacionalritério organizacionalritério organizacional –––– 10101010. . . . Modificações Modificações Modificações Modificações da da da da 
competênciacompetênciacompetênciacompetência –––– 11.11.11.11. ConflitosConflitosConflitosConflitos de competênciade competênciade competênciade competência –––– 12. Conceitos complementares12. Conceitos complementares12. Conceitos complementares12. Conceitos complementares 
 
1. Noções introdutórias1. Noções introdutórias1. Noções introdutórias1. Noções introdutórias 
A Jurisdição, conforme já visto, é una no país inteiro. Não poderia ser 
diferente, ante as suas características. Todavia, essa conclusão, que decorre da 
leitura da Constituição da República e da estrutura dos poderes constituídos, 
contrasta com o que é revelado pelos sentidos: além de haver mais um juiz no 
Brasil, nele há também diversas “justiças” especializadas. 
O fator que gera a impressão da existência de inúmeras Jurisdições chama-se 
competência.1 
A criação da categoria denominada competência decorre de inúmeros fatores. 
Em primeiro lugar, a tarefa jurisdicional de um país continental como o Brasil não 
poderia ser realizada nem por uma pessoa só, nem por um tribunal só. Além 
disso, há fatores econômicos, sociais e políticos que pesam na opção de ampliar 
a cobertura jurisdicional. Economicamente se justifica a ramificação do Poder 
Judiciário, na medida em que o deslocamento de suas estruturas pelo território 
nacional poderia ser mais custoso do que a manutenção de órgãos judiciários em 
vários rincões do país. Socialmente é mais do que desejável que o Poder Judiciário 
esteja próximo de todos os cidadãos. E, politicamente, a organização federativa 
do Estado brasileiro impõe um certo grau de pulverização dos órgãos 
jurisdicionais. É preciso, portanto, dividir o trabalho jurisdicional entre muitos 
órgãos judiciais. Essa divisão deve ser feita não somente conforme critérios 
 
1 Cf. SILVA, Germano Marques da. Curso de Processo Penal, Lisboa: Ed. Verbo, 1993, v. 1, p. 109; COUTURE, 
Eduardo J. Fundamentos del Derecho Procesal Civil, 3ª ed., Buenos Aires: Ed. Depalma, 1993, p. 29. 
2 
territoriais, mas também conforme critérios materiais. 
Isto é, mesmo que um juiz tenha competência para atuar apenas em um 
território previamente circunscrito, é cada vez menos conveniente que ele atue 
como juiz de todas as questões jurídicas submetidas ao Judiciário e relacionadas 
àquele território. É preciso que esse trabalho seja dividido com outros juízes e que 
a repartição do trabalho entre todos seja feita conforme critérios materiais, para 
que a Jurisdição se beneficie da especialização. 
Assim, a competência garante que a divisão de trabalho seja feita conforme 
critérios racionais, objetivos e prévios, isto é, que não levem em consideração 
fatos criminosos já ocorridos. 
Todavia, embora todo juiz tenha poder jurisdicional, a divisão de trabalho, 
estabelecida pela Constituição da República, pelas leis e pelas normas de 
organização judiciária, tem o poder de dar-lhe ou de tirar-lhe competência para 
conhecer de um determinado caso. Assim, o juiz, sempre com jurisdição, pode 
não ter competência jurisdicional. 
 
2. Conceito2. Conceito2. Conceito2. Conceito 
A competência é também denominada de capacidade objetiva do juiz e se 
constitui no conjunto de critérios que, aplicados segundo um método, permite 
repartir o trabalho jurisdicional entre diversos juízes, de maneira que, no exato 
momento do cometimento de um crime, já se saiba, com relativa precisão, qual 
o órgão jurisdicional competente para julgar quem for acusado de seu 
cometimento. 
A competência é método de exclusão e de determinação. Excluem-se 
paulatinamente órgãos judiciários como competentes para conhecer de uma 
causa criminal, até que reste determinado um único órgão judiciário. A 
competência é determinada por critérios jurídico-políticos. Jurídicos, porque 
exsurgem da Constituição, das leis e das normas de organização judiciária; 
políticos, porque baseados na experiência e em critérios adotados pelo legislador. 
 
3. Critérios de divisão da competência3. Critérios de divisão da competência3. Critérios de divisão da competência3. Critérios de divisão da competência 
Diversos são os critérios para a determinação da competência penal: a causa 
criminal (critério material), a função pública exercida pelo imputado (critério 
3 
hierárquico), o local do crime (critério territorial), o procedimento oral para os 
crimes de menor potencial ofensivo (critério procedimental), a organização dos 
órgãos judiciais locais (critério organizacional) e os atos processuais a serem 
praticados dentro de cada processo (critério funcional intraprocessual). 
Conforme o sistema processual penal vigente no Brasil, o primeiro critério 
para a determinação da competência é o da causa criminal. É também 
denominado de competência ratione materiæ ou de “competência material em 
sentido estrito”. A competência material em sentido estrito cuida de determinar 
quais das “Justiças” será competente para julgar determinado caso. É estabelecido 
pela Constituição da República e em alguns casos pela lei ordinária, e se funda 
na natureza do crime em tese praticado. 
São as suas características que vão fornecer a maioria dos critérios para a 
determinação da competência. E é correto que assim seja, pois a competência é 
baseada principalmente em critérios objetivos. São assim os aspectos dos bens 
jurídicos atingidos pela conduta, do tipo penal provavelmente praticado, da 
qualidade do ofendido, do local do crime, da gravidade do crime etc. 
Uma vez determinada a competência material, cabe determinar a 
competência por prerrogativa de função. É também corretamente denominada 
de competência ratione muneris e impropriamente denominada de “foro 
privilegiado”. Aqui o critério muda, por exigências de ordem política e jurídica. 
Em síntese, cabe saber se o cargo que o imputado exerce exige o julgamento por 
um tribunal, e determinar qual tribunal deve ser esse. Trata-se de ver se dentre as 
prerrogativas da função pública exercida pelo imputado, a critério da 
Constituição, está a de exigir o julgamento por um órgão judiciário acima dos 
órgãos judiciários de primeira instância. Entre as instituições públicas do país, há 
diversos sistemas hierárquicos que não poderiam ser ignorados pela organização 
jurisdicional. O presidente da República, cargo máximo do poder federal, não 
poderia ser julgado pelo juiz de Direito, que não se encontra no ápice da pirâmidejudiciária de um Estado-membro. Essa relação que, à falta de uma terminologia 
mais adequada, chamamos de hierárquico-institucional, foi resolvida em termos 
jurídico-políticos pela Constituição e previne, conforme veremos adiante, algumas 
dificuldades institucionais. 
Em um primeiro momento, a resposta à indagação a respeito da competência 
por prerrogativa de função é fornecida pela Constituição da República. Se se 
tratar de uma das autoridades que deva ser julgada, em matéria criminal, pelo 
4 
Supremo Tribunal Federal, pelo Superior Tribunal de Justiça ou pelo Superior 
Tribunal Militar, a tarefa de determinar a competência estará quase terminada. 
Se o crime de que se trata for da competência da Justiça Estadual, pode ser que 
o imputado tenha foro por prerrogativa de função conforme a Constituição do 
Estado ao qual pertença o cargo que exerce. 
Se a função exercida pelo réu não lhe concede competência por prerrogativa 
de função em nenhum dos dois tribunais superiores com competência originária, 
passa a ser importante o critério territorial. 
O local dos fatos – ou, à falta de um local, aquele que resultar da aplicação 
de regras jurídicas supletivas – tem relevância para saber onde deverá ser julgado 
o réu. Esse critério é especialmente importante nos casos de competência do 
Tribunal do Júri. Afinal de contas, prima facie, cabe à sociedade do lugar onde o 
crime doloso contra a vida foi cometido julgar os fatos. Tanto que o 
desaforamento – que é a transferência do local do julgamento, ocasionada pela 
dúvida quanto à imparcialidade do júri ou quanto à segurança do réu – comporta 
um procedimento especial (CPP, art. 427-428). 
O local dos fatos também será importante para determinar a competência 
naqueles casos em que há competência originária por prerrogativa de função dos 
tribunais de apelação, federais e estaduais. 
Em seguida, um critério que pode determinar a competência jurisdicional é o 
da gravidade jurídico-penal do fato. Com efeito, os crimes de menor potencial 
ofensivo – entendidos como aqueles cuja pena máxima não ultrapasse dois anos 
de privação da liberdade – são de competência do chamado “Juizado Especial 
Criminal” (Lei 9.099, art. 60). 
Por fim, restará determinar quais atos que, durante o desenvolvimento do 
processo, serão praticados por quais autoridades judiciárias. Esse critério distribui 
as tarefas jurisdicionais dentro de uma mesma situação processual no sentido 
horizontal e no sentido vertical. No sentido horizontal trata-se de saber a 
autoridade jurisdicional competente conforme a fase da persecução penal e 
conforme o objeto da valoração jurisdicional; no sentido vertical, cabe saber as 
atribuições conforme a atividade recursal exercida pelas partes. 
 
4. 4. 4. 4. Critério material constitucionalCritério material constitucionalCritério material constitucionalCritério material constitucional 
O primeiro critério para a determinação a autoridade judiciária competente é 
5 
o material. Em outras palavras, a natureza da matéria jurídica a ser examinada 
pelo juiz é o primeiro elemento para a determinação da competência. Nesse 
momento levam-se em consideração o ramo jurídico a ser trabalhado 
primacialmente pelo juiz em seu trabalho, a natureza jurídica do titular do direito 
possivelmente lesado etc. 
É lógico que assim seja. A especialização do trabalho jurisdicional é uma 
tendência inescapável, mormente diante do aumento da complexidade das 
relações sociais, comerciais, econômicas e políticas e, em consequência, das 
próprias normas jurídicas a serem aplicadas. O conhecimento enciclopédico é 
cada vez mais impossível e, por ser inevitavelmente raso, inútil de fato. 
A organização jurisdicional reconhece esse fato e divide inicialmente a 
competência com base no critério material constitucional. 
O método de determinação do critério material constitucional se realiza 
através do exame da Constituição da República e de sua legislação 
complementar. 
O método é o eliminatório. Assim, dado um fato criminoso, examina-se a 
Constituição da República para se saber se esse fato deve ser julgado por algum 
órgão da chamada “Justiça Especial”. São duas as “Justiças Especiais” com alguma 
atribuição criminal: a Justiça Eleitoral (Constituição, arts. 118 a 121) e a Justiça 
Militar (Constituição, art. 124). O primeiro passo é determinar se a causa criminal 
é de competência de uma delas. A ordem do processo eliminatório não alterará 
o resultado final, desde que se vá do especial para o geral. 
É possível que a competência criminal seja da chamada “Justiça Eleitoral”. 
Para investigar essa possibilidade não bastará uma consulta à Constituição da 
República. Isso porque essa “Justiça”, por definição, tem por competência o 
processamento e o julgamento da matéria eleitoral. No caso criminal, do chamado 
crime eleitoral. 
Conforme a definição material de HERMES VILCHEZ GUERRERO, “crimes 
eleitorais são as condutas tipificadas em razão do processo eleitoral e, portanto, 
puníveis em decorrência de serem praticadas por ocasião do período em que se 
preparam e realizam as eleições e ainda porque visam a um fim eleitoral”.2 
 
2 GUERRERO, Hermes Vilchez. “Dos crimes eleitorais”, em Revista brasileira de ciências criminais, nº 16 (1996), 
p. 137. 
6 
Contudo, optou-se no Brasil pelo critério formal. São crimes eleitorais os que 
a legislação definir como tais (Constituição, art. 121, caput). Após a Constituição 
da República de 1988 não foi editada essa lei complementar. Entretanto, o 
entendimento prevalecente é que o Código Eleitoral (Lei 4.737) foi recepcionado 
pela nova ordem constitucional como lei complementar. 
Portanto, em princípio, são crimes eleitorais os descritos no Código Eleitoral.3 
Contudo, não é somente o Código Eleitoral que define os crimes eleitorais. 
Essas figuras típicas também encontram-se definidas, entre outros, na Lei 6.091 
(art. 11), na LC 64 (art. 25), na Lei 8.713 (art. 57), na Lei 9.100 (art. 67),4 e na Lei 
9.504 (arts. 33, § 4º, 34, §§ 2º e 3º, 39, § 5º, 40, 68, §§ 1º e 2º, 72, 87 e 90, 94, § 
2º). 
Os crimes eleitorais pertencem ao que se convencionou denominar de 
“Direito Penal Especial”. Integra-o também o Direito Penal Militar, embora, como 
pontua com bastante precisão JOSÉ FREDERICO MARQUES, “o caráter ‘especial’ do 
Direito Penal militar é muito mais acentuado que o do Direito Penal eleitoral. Este 
último é aplicado por uma jurisdição especial composta, na sua quase totalidade, 
de juízes e magistrados [SIC] recrutados na justiça comum. E tão tênue é a sua 
separação do Direito Penal comum, que a Justiça Eleitoral tem competência para 
processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe forem conexos” (CPP, 
art. 79, inciso I, a contrario sensu).5 
Uma vez definido que o crime é um dos acima relacionados, o iter para 
determinar a competência jurisdicional para julgar o autor do fato está quase 
trilhado. Resta determinar qual o órgão, dentro da Justiça Eleitoral, competente 
para julgá-lo. Essa competência pode ser dos juízes eleitorais e dos tribunais 
regionais eleitorais. 
São órgãos da Justiça Eleitoral, com alguma competência penal, o Tribunal 
Superior Eleitoral (Constituição, art. 118, inciso I; CE, arts. 22, inciso II, e 276), os 
tribunais regionais eleitorais (Constituição, art. 118, inciso II; CE, art. 29, incisos 
I, letras “d” e “e” e II), e os juízes eleitorais (Constituição, art. 118, inciso III; CE, 
 
3 Nomeadamente os arts. 289 a 322, 323 a 327, 330 a 332 e 334 a 354. A Lei 9.504 (art. 107) revogou os arts. 92, 
246, 247, 250, 322, 329, 333 do Código Eleitoral. 
4 Tanto a Lei 8.713 quanto a Lei 9.100 são bons exemplos de técnica legislativa defeituosa. Embora sejam leis que 
estabeleceram normas para eleições específicas(1994 e 1996) ambas contêm definições de crimes eleitorais que, 
por não conterem nenhuma limitação, aplicam-se para condutas praticada em eleições posteriores. 
5 MARQUES, José Frederico. Tratado de Direito Penal, 1ª ed. atual., Campinas: Ed. Bookseller, 1997, v. 1, p. 38. 
7 
art. 35, incisos II e III). 
A competência jurisdicional será, obviamente, de um desses órgãos. 
Nesse momento passa a ser importante o chamado “Princípio da Simetria”, 
implícito no sistema. Segundo esse princípio, a Justiça Eleitoral é organizada de 
forma simétrica à Justiça Federal, que é o seu paradigma. À semelhança da Justiça 
Comum Federal, possui órgãos jurisdicionais de primeira instância (Juízes 
Eleitorais e Juntas Eleitorais), órgãos jurisdicionais de segunda instância (Tribunais 
Regionais Eleitorais) e órgão jurisdicional de terceira instância (Tribunal Superior 
Eleitoral). Logo, obedece às mesmas regras para determinação da competência. 
Assim, é possível determinar a competência como se tal determinação fosse válida 
para a Justiça Comum Federal e transferir o resultado para a Justiça Eleitoral. 
Por ser simétrica à Justiça Comum Federal, obedece a todos os critérios 
estabelecidos por esta e válidos para a determinação da competência jurisdicional. 
É importante, para a descoberta do órgão da Justiça Eleitoral competente, a 
determinação da competência ratione muneris e da competência ratione loci e da 
competência de juízo, que é estabelecida pelo Código de Processo Penal e pelas 
leis de organização judiciária. 
É preciso não esquecer que a Justiça Eleitoral somente é estruturada em bases 
permanentes a partir da segunda instância, que é o Tribunal Regional Eleitoral. 
Assim, o crime eleitoral cometido pelo Governador do Estado do Acre, na 
cidade de Rio Branco, será processado e julgado pelo Tribunal Superior Eleitoral. 
Se o crime for cometido por outra pessoa, sem foro privilegiado, o processo e o 
julgamento dar-se-ão perante Juiz de Direito, no exercício de atribuições eleitorais. 
Por fim, se o crime for cometido por Promotor de Justiça ou por Procurador da 
República, será processado e julgado pelo Tribunal Regional Eleitoral. 
A competência da Justiça Eleitoral, repita-se uma vez, refere-se aos crimes 
eleitorais. Não é da competência da Justiça Eleitoral, mas sim da Justiça Comum 
federal, a competência para julgar crime de falso testemunho prestado em 
processo eleitoral, tendo em conta que o crime foi praticado em detrimento da 
União Federal.6 
Ainda nessa etapa de determinação do juízo especial competente, se o fato 
não for de competência da Justiça Eleitoral, pode ser estabelecido que é da 
 
6 Conflito de Competência nº 106.970-SP – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Og Fernandes – julgados em 14.out.2009 – 
conflito conhecido para declarar competente o juízo federal, suscitante – votação unânime – DJU, 22.nov.2009. 
8 
competência da Justiça Militar. Como se conclui a respeito da competência da 
Justiça Militar? 
A Justiça Militar é competente para processar e julgar o chamado “crime 
militar”, definido pelo Código Penal Militar (art. 9º). 
Esse dispositivo considera crime militar aquele descrito no Código Penal 
Militar “quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não 
previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial” (CPM, art. 9º, 
inciso I). 
São também crimes militares, em tempo de paz, aqueles previstos no Código 
Penal Militar, ainda que sejam definidos na legislação penal comum, quanto 
praticados “por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar 
na mesma situação ou assemelhado” (CPM, art. 9º, inciso II, letra “a”);7 “por 
militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração 
militar, contra militar na reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil” (CPM, 
art. 9º, inciso II, letra “b”);8 “por militar em serviço ou atuando em razão da 
função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do 
lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou 
assemelhado, ou civil” (CPM, art. 9º, inciso II, letra “c”); “por militar durante o 
período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou 
assemelhado, ou civil” (CPM, art. 9º, inciso II, letra “d”; e “por militar em situação 
de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, 
ou a ordem administrativa militar”(CPM, art. 9º, inciso II, letra “e”). 
Também são considerados crimes militares, em tempo de paz, os praticados 
por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, 
considerados como tais os crimes mencionados nos incisos I e II do art. 9º do 
CPM, quando praticados “contra o patrimônio sob a administração militar, ou 
 
7 Conflito de jurisdição nº 6.555-SP – STF – Pleno – Rel. Min. Rafael Mayer – julgado em 2.out.1985 – conflito 
conhecido para declarar competente a Justiça Militar estadual – votação unânime – DJU, 18.out.1985 – RTJ nº 
115, p. 1.095; Recurso extraordinário nº 122.706-RJ – STF – Pleno – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – Rel. p/ o 
acórdão Min. Carlos Velloso – julgado em 21.nov.1990 – recurso não conhecido – votação majoritária – DJU, 
3.abr.1992, p. 4.292 – RTJ nº 137, p. 418; Conflito de competência nº 7.071-RJ – STF – Pleno – Rel. Min. Sydney 
Sanches – julgado em 5.set.2002 – conflito conhecido para declarar competente a Justiça Militar – votação unânime 
– DJU, 1º.ago.2003; . 
8 Conflito de competência nº 106.623-DF – STJ – 6ª Turma – Rel. Min. Og Fernandes – julgado em 28.out.2009 – 
conflito conhecido para declarar competente a Justiça Militar, juízo suscitado – votação unânime – DJU, 11.nov. 
2009. 
9 
contra a ordem administrativa militar” (CPM, art. 9º, inciso III, letra “a”); “em 
lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou 
assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no 
exercício de função inerente ao seu cargo” (CPM, art. 9º, inciso III, letra “b”); 
“contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, 
observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras” 
(CPM, art. 9º, inciso III, letra “c”); “ainda que fora do lugar sujeito à administração 
militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de 
serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou 
judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a 
determinação legal superior” (CPM, art. 9º, inciso III, letra “d”). 
Parece óbvio que “ilícitos penais praticados por militares que não estavam de 
serviço, não executavam missão militar e que agiam por motivos pessoais, 
particulares, em local não sujeito à administração militar” não são da competência 
da Justiça Militar.9 Também não é militar o crime praticado por conscrito do 
Exército, de folga e fora de área de administração militar, contra praça da Polícia 
Militar em serviço.10 
Em 1996, através de uma alteração legislativa (Lei 9.299, declarada 
constitucional pelo Supremo Tribunal Federal11), o próprio CPM passou a dispor 
que os crimes dolosos contra a vida praticados por militar contra civil são da 
competência da Justiça Comum (CPM, art. 9º, parágrafo único), isto é, do 
Tribunal do Júri (Constituição, art. 5º, inciso XXXVIII),12 ainda que tenha sido 
 
9 Conflito de competência nº 7.120-PA – STF – Pleno – Rel. Min. Carlos Velloso – julgado em 14.nov.2002 – 
conflito conhecido para declarar competente a Justiça Comum estadual, suscitante – votação unânime – DJU, 
19.dez. 2002, p. 71; Conflito de competência nº 79.435-DF – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima– 
julgado em 24.out.2007 – conflito conhecido para declarar competente a Justiça Comum Estadual, suscitada – 
votação unânime – DJU, 28.out.2008. 
10 Conflito de competência nº 7.051-SP – STF – Pleno – Rel. Min. Maurício Corrêa – julgado em 17.abr.1997 – 
conflito conhecido para declarar competente o juízo comum estadual – votação unânime – DJU, 9.mar.2001, p. 
103. 
11 Recurso extraordinário nº 260.404-MG – STF – Pleno – Rel. Min. Moreira Alves – julgado em 22.mar.2001 – 
não conhecido e declarada a constitucionalidade do parágrafo único do art. 9º do Código Penal Militar – votação 
unânime – DJU, 21.nov.2003. 
12 Conflito de competência nº 45.134-MG – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Og Fernandes – julgado em 29.out.2008 – 
conflito conhecido para declarar competente o juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Ribeirão das Neves – 
votação unânime – DJe, 7.nov.2008. 
10 
usada uma arma da corporação.13 Se, porém, o crime de homicídio for militar, a 
competência é da Justiça Militar e será o Conselho de Justiça competente para o 
julgamento.14 
A Lei 8.457, conhecida como “Lei Orgânica da Justiça Militar”, é o diploma 
que cria e define a competência dos Tribunais e Juízes Militares. 
A Justiça Militar está organizada em dois graus de jurisdição, a saber o 
Superior Tribunal Militar (Constituição, art. 12, inciso I; Lei 8.457, art. 1º, inciso 
I) e as auditorias militares e conselhos de Justiça (Constituição, art. 122, inciso II; 
Lei 8.457, arts. 15 e 16). 
A Lei 8.457 divide o país em doze circunscrições judiciárias militares, que 
abrangem um ou mais estados. A 1ª Circunscrição abrange os Estados do Rio de 
Janeiro e Espírito Santo, a 2ª Circunscrição, o Estado de São Paulo, a 3ª 
Circunscrição, o Estado do Rio Grande do Sul, a 4ª Circunscrição, o Estado de 
Minas Gerais, a 5ª Circunscrição, os Estados do Paraná e Santa Catarina, a 6ª 
Circunscrição, os Estados da Bahia e Sergipe; a 7ª Circunscrição, os Estados de 
Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas; a 8ª Circunscrição, os 
Estados do Pará, Amapá e Maranhão, a 9ª Circunscrição, os Estados de Mato 
Grosso do Sul e Mato Grosso; a 10ª Circunscrição, os Estados do Ceará e Piauí, 
a 11ª Circunscrição, o Distrito Federal e os Estados de Goiás e Tocantins; e a 12ª 
Circunscrição, os Estados do Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia (Lei 8.457, 
art. 2º). 
Se o fato criminoso não for da competência da Justiça Eleitoral nem da Justiça 
Militar, é porque é da competência da Justiça Comum. 
Estabelecida a certeza de que o fato não é de competência do juízo especial, 
fica certo que deverá ser julgado pelo juízo comum, também chamado de “Justiça 
Comum”. O segundo passo nessa etapa consiste em determinar qual dos ramos 
da “Justiça Comum” deve julgá-lo: se a “Justiça Comum Federal”, se a “Justiça 
Comum Estadual”. 
É preciso dizer, neste momento, o seguinte: tanto a “Justiça Comum Federal”, 
 
13 Conflito de competência nº 19.833-SP – STJ – 3ª Seção – Rel. p/ o acórdão Min. Anselmo Santiago – julgado 
em 25.jun.1997 – conflito conhecido para declarar competente o juízo estadual, suscitante – votação majoritária, 
vencido os Mins. Luiz Vicente Cernicchiaro, relator original e Vicente Leal – DJU, 23.mar.1998. 
14 Recurso extraordinário nº 122.706-RJ – STF – Pleno – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – Rel. p/ o acórdão Min. 
Carlos Velloso – julgado em 21.nov.1990 – recurso não conhecido – votação majoritária – DJU, 3.abr.1992, p. 
4.292 – RTJ nº 137, p. 418. 
11 
quanto a “Justiça Comum Estadual”, são, conforme os nomes dão a entender, 
“Justiças Comuns”. Contudo, no confronto entre ambas, aquela é especial em 
relação a esta. 
Por essa razão, o próximo passo é determinar se o fato é da competência da 
“Justiça Comum Federal”. 
O método continua sendo eliminatório. 
A competência criminal da Justiça Federal se extrai da Constituição e consiste 
no seguinte: 
a) a persecução dos crimes políticos (Constituição, art. 109, inciso IV, primeira 
figura); 
b) a persecução dos crimes praticados em detrimento de bens, serviços ou 
interesse da União, das suas entidades autárquicas ou empresas públicas 
(Constituição, art. 109, inciso IV, segunda figura); 
Entre as autarquias federais encontram-se o Banco Central do Brasil (BCB), as 
universidades federais, os institutos federais de educação, o Instituto do 
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN),15 o Instituto Nacional do 
Seguro Social (INSS), o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte 
(DNIT), a Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do 
Trabalho (FUNDACENTRO), a Superintendência Nacional de Previdência 
Complementar (PREVIC), o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e 
Tecnologia (INMETRO) e as inúmeras agências reguladoras federais, como a 
Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), a Agência Nacional de 
Aviação Civil (ANAC), a Agência Nacional do Cinema (ANCINE), a Agência 
Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a Agência Nacional do Petróleo (ANP), a 
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a Agência Nacional de 
Transportes Aquaviários (ANTAQ), a Agência Nacional de Transporte Terrestre 
(ANTT) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a Agência 
Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (ANATER) entre outras. 
Entre as empresas públicas federais poderíamos mencionar o Banco Nacional 
 
15 Conflito de competência nº 106.413-SP – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima – julgado em 
14.out.2009 – conflito conhecido para declarar competente o juízo federal, suscitante – votação unânime – DJU, 
9.nov.2009. 
12 
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Caixa Econômica Federal,16 
a Casa da Moeda do Brasil (CMB), a Companhia de Pesquisa de Recursos 
Minerais (CPRM), a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a 
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT),17 a Empresa Brasileira de 
Infraestrutura Aeroportuária (INFRAERO), a Empresa Brasileira de Pesquisa 
Agropecuária (EMBRAPA), a Empresa Brasileira de Radiodifusão (Radiobrás), a 
Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), o Serviço Federal de Processamento 
de Dados (SERPRO), a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São 
Paulo (CEAGESP) entre outras. 
Quando a Constituição se refere a interesse quer dizer interesse concreto, 
específico. Isso quer dizer que não está incluído, como fator determinante da 
competência da Justiça Comum federal o interesse genérico no bom nome das 
instituições, por exemplo.18 
c) a persecução dos crimes previstos em tratado ou convenção internacional 
quando, iniciada a execução no Brasil, o resultado tenha ocorrido ou devesse ter 
ocorrido no estrangeiro ou vice-versa (Constituição, art. 109, inciso V); 
d) a persecução dos crimes cometidos com grave violação dos direitos 
humanos, quando o Superior Tribunal de Justiça houver resolvido pelo 
deslocamento da competência para a Justiça Federal (Constituição, art. 109, inciso 
V-A); 
e) a persecução dos crimes contra a organização do trabalho (Constituição, 
art. 109, inciso VI, primeira figura); 
f) a persecução dos crimes contra o sistema financeiro e contra a ordem 
econômico-financeira, quando assim o determinar a lei (Constituição, art. 109, 
inciso VI, segunda figura); 
 
16 Embargos de Declaração no Agravo Regimental no Conflito de Competência nº 98.778-SP – STJ – 3ª Seção – 
Rel. Min. Sebastião Reis Júnior – julgados em 24.ago.2011 – embargos acolhidos para sanar a omissão e atribuir-
lhes efeito modificativo a fim de declarar competente o juízo federal, suscitado – votação unânime – DJe, 2.set.2011. 
17 Conflito de competência nº 17.757-BA – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Fernando Gonçalves – julgado em 
12.nov.1997– votação unânime – DJU, 9.dez.1997. No mesmo sentido: Habeas corpus nº 73.467-SP – STF – 2ª 
Turma – ordem deferida – DJU, Seção 1, de 11.out.1996; Habeas corpus nº 75.106-SP – STF – 2ª Turma – Rel. 
Min. Néri da Silveira – julgado em 27.mai.1997 – ordem deferida – votação unânime – Informativo STF nº 73. 
18 Conflito de competência nº 104.041-RS – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima – julgado em 
14.out.2009 – conflito conhecido para declarar competente o juízo estadual, suscitante – votação unânime – DJU, 
9.nov.2009. 
13 
g) a persecução dos crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, 
ressalvada a competência da Justiça Militar (Constituição, art. 109, inciso IX); 
h) a persecução dos crimes de ingresso ou permanência de estrangeiro 
(Constituição, art. 109, inciso X, primeira figura). 
Também é da competência criminal da Justiça Federal: 
i) o processamento e o julgamento dos habeas corpus em matéria de sua 
competência ou quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não 
estejam diretamente sujeitos a outra “Justiça” (Constituição, art. 109, inciso VII); 
e 
j) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade 
federal, exceto os casos de competência dos tribunais federais (Constituição, art. 
109, inciso VIII). 
O sistema ainda obriga a combinação de regras constitucionais. Por exemplo, 
no caso dos crimes contra a vida praticados a bordo de navios ou aeronaves. Há, 
nesse caso, um aparente conflito entre a regra constitucional que atribui o 
julgamento do caso a um juiz federal (Constituição, art. 109, inciso IX) e a outra 
regra, também constitucional, que afeta o julgamento dos crimes contra a vida ao 
Tribunal do Júri (Constituição, art. 5º, inciso XXXVIII). Como não é 
juridicamente possível haver um conflito real entre normas, ele é resolvido através 
da formação do Tribunal do Júri Federal.19 
O Supremo Tribunal Federal editou a Súmula Vinculante nº 45, que dispõe 
que “a competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por 
prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual”. 
O Superior Tribunal de Justiça decidiu que “se a denúncia imputa ao paciente 
a prática de crimes previstos na Lei nº 7.492/86, diploma legal que definiu que 
definiu os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, a ação penal deve ser 
processada e julgada pela Justiça Federal, como expressamente previsto no seu 
art. 26, sendo despiciendo o debate sobre a existência ou não de lesão a bens, 
serviços ou interesses da União Federal”.20 Contudo, se o crime atinge apenas o 
 
19 Conflito de competência nº 14.488-PA – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Vicente Leal – julgado em 19.out.1995 – 
conflito conhecido e declarado competente o juízo federal, suscitante – votação unânime – DJU, 11.dez.1995, p. 
43.174. 
20 Habeas corpus nº 6.777-RS – STJ – 6ª Turma – Rel. Min. Vicente Leal – julgado em 19.mar.1998 – ordem 
indeferida – votação unânime – DJU, 25.mai.1998. 
14 
patrimônio de particulares, não representando risco algum ao sistema como um 
todo, como no caso de descumprimento criminoso de cláusula por parte de 
operadora de consórcio,21 ou de falsificação e uso de guias de recolhimento da 
Previdência Social para lesar particulares, sem prejuízo para a autarquia federal,22 
a competência é da Justiça Estadual (STJ, Súmula 107). 
O Supremo Tribunal Federal decidiu que “caracteriza-se, em tese, como crime 
militar o de concussão, quando praticado por funcionário público municipal, 
agindo na qualidade de Secretário de Junta de Serviço Militar, em face do que 
conjugadamente dispõem o parágrafo único do art. 124 da Constituição Federal, 
o art. 9º, inciso III, “a”, do Código Penal Militar, e o art. 11, § 1º, da Lei nº 4.375, 
de dezessete de agosto de 1964, já que, de certa forma, o delito atinge a ordem 
da administração militar, ao menos em sua imagem perante a opinião pública, 
mesmo que vítimas, sob aspecto patrimonial, sejam outros cidadãos e não a 
administração”.23 
Compete à Justiça Federal julgar servidor público estadual acusado de se 
haver apropriado de verba repassada pela União, mediante convênio, a ser 
aplicada, por exemplo, no Sistema Único de Saúde (SUS).24 
No caso de coação imputável a relator de processo em curso em qualquer 
tribunal do país (exceto o Supremo Tribunal Federal) a competência é do 
Superior Tribunal de Justiça.25 
O tão-só fato de um furto ter sido cometido em zona portuária não desloca a 
competência para a Justiça Comum Federal. É indispensável, para tanto, “a 
 
21 Conflito de competência nº 18.164-MG – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Vicente Leal – julgado em 18.dez.1997 – 
conflito conhecido, para declarar competente a justiça estadual – votação unânime – DJU, 16.fev.1998. 
22 Conflito de competência nº 47.901-MG – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Paulo Medina – julgado em 23.ago.2006 – 
conflito conhecido para declarar competente o juízo estadual, suscitado – votação unânime – DJU, 25.set.2006, p. 
231; Conflito de competência nº 62.405-PR – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura – julgado 
em 12.set.2007 – conflito conhecido para declarar competente o juízo estadual, suscitado – votação unânime – 
DJU, 27.set.2007. 
23 Habeas corpus nº 73.602-5 – STF – 1ª Turma - Rel. Min. Sydney Sanches – ordem parcialmente deferida, para 
anular o acórdão do STM no ponto em que, desde logo, recebeu a denúncia, devendo o Juiz-Auditor prosseguir 
no exame desta, decidindo se a recebe ou não – votação unânime – DJU, 18.abr.1997. 
24 Recurso extraordinário nº 196.982-PR – STF – julgado em 20.fev.1997 – conhecido e provido – Informativo STF 
nº 60; Habeas corpus nº 74.887-RJ – STF – 2ª Turma – Rel. Min. Néri da Silveira – julgado em 13.mai.1997 – 
ordem deferida – votação unânime – Informativo STF nº 71. 
25 Habeas corpus nº 2.847-3-RS – STJ – 5ª Turma – Rel. Min. Jesus Costa Lima – julgado em 7.nov.1994 – ordem 
deferida – votação unânime – DJU, 28.nov.1994, p. 32.622. 
15 
demonstração do interesse direto e imediato da União Federal”.26 
É da competência da Justiça Federal o processamento e o julgamento de 
crimes relacionados com a malversação de dinheiro público entregue pela União 
Federal a Município mediante convênio.27 
Concluindo esse primeiro passo, o processo eliminatório também está 
praticamente concluído. Isso porque o que não for da competência da Justiça 
Comum Federal será da competência da “Justiça Comum Estadual”. Tendo em 
conta o caráter residual da competência da Justiça Estadual, a tendência é que 
um número muito maior de feitos seja de sua competência. 
O Superior Tribunal de Justiça decidiu que “compete à justiça estadual 
processar e julgar ação onde se discute provável falsificação e utilização de cédula 
de identidade expedida por instituto estadual”.28 
Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de estelionato 
praticado contra particular, mediante falsificação de guias de recolhimento de 
contribuições previdenciárias, quando não ocorrente lesão a autarquia federal 
(STJ, Súmula nº 107). 
O Supremo Tribunal Federal decidiu que compete à justiça estadual o 
processo e o julgamento de crime de concussão praticado por servidor público 
de cadeia pública estadual mesmo que os sujeitos passivos de crime sejam presos 
federais, sob o fundamento de que a cooperação na execução da decisão da 
autoridade judiciária federal não afasta o interesse da administração da justiça 
 
26 Conflito de competência nº 20.534-SP – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. William Patterson – julgado em 12.nov.1997 
– votação unânime – DJU, 9.dez.1997. 
27 Recurso ordinário em habeas corpus nº 71.419-6-MT – STF – 2ª Turma – Rel. Min. FranciscoRezek – julgado 
em 31.mai.1994 – parcialmente conhecido e, nessa parte, improvido – votação unânime – DJU, 16.jun.1995, p. 
18.219; Recurso ordinário em habeas corpus nº 4.133-1-PI – STJ – 5ª Turma – Rel. Min. Edson Vidigal – julgado 
em 5.dez.1994 – parcialmente provido – votação unânime – DJU, 6.fev.1995, p. 1.361; Ação Penal (Questão de 
ordem) nº 93.04.05611-0-PR – TRF da 4ª Região – Pleno – Rel. Juiz Vladimir Passos de Freitas – julgado em 
24.mar.1993 – remetidos os autos ao TJPR – votação majoritária – DJU, 5.mai.1993, p. 16.152; Ação penal nº 
94.04.42520-6-RS – TRF da 4ª Região – Pleno – Rel. para o acórdão Juíza Ellen Gracie Northfleet – julgado em 
9.nov.1994 – suscitado conflito negativo de competência – votação majoritária, vencido o juiz Dória Furquim, 
relator original – DJU, 29.mar.1995, p. 16.986; Inquérito nº 94.04.49454-2-RS – TRF da 4ª Região – 1ª Seção – Rel. 
Juiz Jardim de Camargo – julgado em 8.mar.1995 – suscitado conflito negativo de competência – votação unânime 
– DJU, 29.mar.1995, p. 16.986. 
28 Conflito de competência nº 18.304-SP – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro – julgado em 
27.mai.1998 – conflito conhecido e declarado competente o juízo estadual – votação unânime – DJU, 27.mai.1998. 
16 
estadual no julgamento do caso.29 
No caso de falsificação de nota fiscal, ainda que o objetivo tenha sido o de 
sonegar tributo federal – que, por exemplo, não pode ser perseguido por extinção 
da punibilidade de seu agente – a competência é da Justiça Comum Estadual.30 
É da competência da Justiça Comum Estadual julgar crimes praticados em 
detrimento de sociedades de economia mista, como o Banco do Brasil, Petrobrás 
etc.31 
É firme a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que 
somente constitui crime contra a organização do trabalho violações que atinjam 
os direitos dos trabalhadores enquanto coletividade. Salvo essa hipótese, a 
competência para processar e julgar esses fatos é da Justiça Comum Estadual.32 
Os crimes que configurem malversação ou dilapidação do patrimônio das 
associações ou entidades sindicais, embora sejam equiparados ao peculato (CP, 
art. 312) são de competência da Justiça Estadual.33 
Também é da competência da Justiça Comum Estadual os crimes contra a 
fauna, por não constituírem, de per se, lesão a bens, serviços ou interesses da 
 
29 Recurso extraordinário nº 211.941-SC – STF – 1ª Turma – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – julgado em 9.jun.1998 
– conhecido e provido – votação unânime – Informativo STF nº 114 – DJU, 4.set.1998. 
30 Conflito de competência nº 3.692-5-CE – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro – julgado em 
17.jun.1993 – conflito conhecido e declarado competente o juízo estadual, suscitante – votação unânime – DJU, 
2.ago.1993, p. 4.171. 
31 Conflito de competência nº 1.921-AL – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro – julgado em 
20.jun.1991 – conflito conhecido e declarado competente o juízo estadual, suscitado – votação unânime – DJU, 
1º.jul.1991, p. 9.160; Conflito de competência nº 1.403-GO – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. José Cândido – julgado 
em 6.set.1990 – conhecido e declarado competente o juízo estadual, suscitado – votação unânime – DJU, 
24.set.1990, p. 9.965. 
32 Conflito de competência nº 1.522-SP – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Edson Vidigal – julgado em 20.nov.1990 – 
conflito conhecido e declarado competente o juízo estadual, suscitado – votação majoritária – DJU, 3.dez.1990, p. 
14.303; Conflito de competência nº 8.466-0-GO – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Pedro Acioli – julgado em 20.out.1994 
– conflito conhecido e declarado competente o juízo estadual, suscitado – votação unânime – DJU, 28.nov.1994, 
p. 32.561; Conflito de competência nº 9.071-7-RS – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro – julgado 
em 6.out.1994 – conflito conhecido e declarado competente o juízo estadual, suscitado – votação unânime – DJU, 
28.nov.1994, p. 32.563; Conflito de competência nº 5.740-0-SP – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Assis Toledo – julgado 
em 1º.jun.1995 – conflito conhecido e declarado competente o juízo estadual, suscitado – votação unânime – DJU, 
21.ago.1995, p. 25.347. 
33 Conflito de competência nº 130.954-SP – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Marilza Maynard (Des. conv. TJ/SE) – 
julgado em 26.fev.2014 – conflito conhecido e declarado competente o juízo estadual, suscitante – votação unânime 
– DJe, 14.mar.2014. 
17 
União.34 
 
5555. C. C. C. Critério hierárquicoritério hierárquicoritério hierárquicoritério hierárquico 
A estrutura do Estado brasileiro, no que diz respeito ao exercício das funções 
públicas, é piramidal. Na verdade, cada um dos Poderes e cada uma das unidades 
do Estado, tem uma estrutura mais ou menos no formato de uma pirâmide. No 
alto de cada uma dessas pirâmides se encontram os chefes dos Poderes ou de 
cada uma das unidades da federação. Assim, o Poder Executivo, no âmbito da 
União Federal, é chefiado pelo presidente da República, o Congresso Nacional é 
chefiado pelo presidente do Senado Federal e o Poder Judiciário é chefiado pelo 
presidente do Supremo Tribunal Federal. Nos estados membros uma estrutura 
parecida se forma, tendo um chefe cada um dos poderes. 
Essas estruturas piramidais são, em grande medida, marcadas pela hierarquia. 
Não se trata de hierarquia no sentido militar do termo, em que o oficial inferir 
deve obediência estrita ao superior. Nem sempre os servidores situados em um 
nível inferior da hierarquia devem obedecer ou concordar com o entendimento 
de seus superiores. Em cada uma das estruturas há espaço para um grau maior 
ou menor de independência funcional. Mesmo assim, a estrutura hierárquica está 
presente e não pode ser desconsiderada. No Processo Penal tem relevância 
transcendente, especialmente no campo da competência. 
Assim, consideremos que cada uma das pirâmides – do Executivo, Legislativo 
e Judiciário – encontram-se lado a lado. Grosso modo, pode-se dizer que os 
diversos níveis hierárquicos, entre primeiro, segundo e demais escalões se 
equivalem. Assim, os chefes de cada um dos poderes se encontram em níveis 
mais ou menos equivalentes. Do mesmo modo os que se situam no escalão 
exatamente inferior e assim por diante. Não que haja uma simetria perfeita, mas 
é certo que as pirâmides se assemelham. Por isso mesmo, nas interações entre as 
diversas pirâmides, a hierarquia de cada uma é levada em consideração. 
Principalmente no que diz respeito à competência penal. 
Dessa maneira, naqueles casos em que um elemento de um nível hierárquico 
superior seja suspeito da prática de um crime, torna-se profundamente 
inconveniente que ele seja julgado por um juiz situado em um nível hierárquico 
 
34 Conflito de competência nº 27.848-SP – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Hamilton Carvalhido – julgado em 8.nov.2000 
– conflito conhecido para declarar competente o juízo estadual, suscitado – votação unânime – DJU, 19.fev.2001. 
18 
inferior. Algo assim seria como uma quebra de hierarquia institucional. A 
inconveniência de um arranjo como esse não é meramente retórica. Ela pode se 
traduzir em consequências graves, com prejuízo à dignidade da Justiça. 
Assim, tome-se o exemplo de um desembargador de um tribunal de apelação 
que fosse suspeito da prática de um crime de competência da Justiça Comum 
estadual. Se não houvesse a regra da competência por prerrogativa de função esse 
desembargador seria julgado por um juiz de Direito. Parece muito clara a 
inconveniência de um arranjo como esse, já que a carreira do juiz depende em 
grande medida da vontade dos desembargadores. Se esse julgamento assim se 
desse, dificilmente escaparia de um juízo moral negativo; se a sentença do juiz 
fosse condenatóriaa suspeita seria de retaliação contra o desembargador; se fosse 
absolutória, pareceria mera submissão o juiz ao seu superior hierárquico. 
O mesmo ocorre quando se consideram as interações entre as diversas 
pirâmides. Se um ministro de Estado é suspeito da prática de uma infração penal 
um juiz federal não poderia julgá-lo, pelas mesmas razões. O presidente da 
República, de quem o ministro é auxiliar direto, é quem nomeia os ministros dos 
tribunais regionais federais e do Superior Tribunal de Justiça (Constituição, art. 
94, parágrafo único). 
Assim, o critério hierárquico-institucional, também chamado de competência 
por prerrogativa de função, competência “ratione personæ”, “ratione muneris”, 
foro privilegiado e competência hierárquica, exerce uma função relevantíssima 
no concerto dos poderes constituídos e na dignidade da atividade jurisdicional. É 
um dos principais critérios para a determinação da competência jurisdicional 
(CPP, art. 69, inciso VII). 
É estabelecido em função da qualidade dos cargos exercidos pelas pessoas 
suspeitas da prática de crime. É positivado diretamente pela Constituição da 
República e, no caso da Justiça Estadual, pelas Constituições estaduais. 
Ao Supremo Tribunal Federal cabe julgar, nas infrações penais comuns, o 
presidente da República, o vice-presidente da República, os membros do 
Congresso Nacional, os seus próprios ministros e o procurador-geral da República 
(Constituição, art. 102, inciso I, letra “b”). Nas infrações penais comuns e nos 
crimes funcionais, os ministros de Estado, os comandantes da Marinha, do 
Exército e da Aeronáutica, os membros dos tribunais superiores, os ministros do 
Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter 
permanente (Constituição, art. 102, inciso I, letra “c”). 
19 
Ao Superior Tribunal de Justiça cabe julgar, nos crimes comuns, os 
governadores dos estados e do distrito federal; nos crimes comuns e nos crimes 
funcionais, cabe-lhe julgar os desembargadores dos tribunais de Justiça dos 
estados e do distrito federal, os membros dos tribunais de contas dos estados e do 
distrito federal, os membros dos tribunais regionais federais, os membros dos 
tribunais regionais eleitorais, os membros dos tribunais regionais do Trabalho, os 
membros dos conselhos ou tribunais de contas dos municípios e os membros do 
Ministério Público da União que atuam perante tribunais (Constituição, art. 105, 
inciso I, letra “a”). 
Cabe aos tribunais regionais federais julgar, nos crimes comuns e nos crimes 
funcionais, os juízes federais, os juízes militares federais, os juízes do Trabalho e 
os membros do Ministério Público da União que atuam em primeira instância 
(Constituição, art. 108, inciso I, letra “a”).35 
Quando a Constituição dispõe que o julgamento cabe ao tribunal não significa 
que todos os membros do tribunal deverão participar do julgamento. Os tribunais 
poderão cometer o julgamento ao seu órgão especial, a um grupo de turmas ou 
câmaras ou até mesmo a uma de suas turmas ou câmaras.36 
O Supremo Tribunal Federal consagrou o princípio da simetria, ao afirmar 
que os prefeitos municipais – cujos foros por prerrogativa de função são os 
tribunais de Justiça – serão processados e julgados pelos tribunais regionais 
federais nos crimes praticados em detrimento de bens, serviços ou interesses da 
União, por serem estes simétricos àqueles (Constituição, art. 109, inciso IV).37 
O Supremo Tribunal Federal dispunha que “cometido o crime durante o 
exercício funcional, prevalece a competência especial por prerrogativa de função, 
ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados após a cessação daquele 
exercício” (STF, Súmula nº 394). Diversos eram os seus precedentes.38 
 
35 Conflito de competência nº 18.724-RJ – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Anselmo Santiago – julgado em 24.set.1997 
– conflito conhecido para declara competente o TRF da 2ª Região, suscitante – votação unânime – DJU, 
10.nov.1997. 
36 Habeas corpus nº 74.650-1-GO – STF – 1ª Turma – Relator Ministro Ilmar Galvão – ordem indeferida – 
Informativo STF, nº 64 – DJU, 21.mar.1997, p. 8.509. 
37 Habeas corpus nº 78.728-RS – STF – 2ª Turma – Rel. Min. Maurício Corrêa – julgado em 23.fev.1999 – ordem 
deferida – votação unânime – DJU, 16.abr.1999 – Ementário nº 1.946. 
38 Recurso criminal nº 491-DF – STF – Pleno – Rel. Min. Pedro dos Santos – julgado em 15.dez.1923 – provido – 
RSTF, nº 62 (1923), p. 60-88; Habeas corpus nº 32.097 – STF – 1ª Turma – Rel. Min. Mário Guimarães, convocado 
– julgado em 20.ago.1952 – Ementário nº 111, p. 548; Habeas corpus nº 35.501-DF – STF – Pleno – julgado em 
20 
Contudo, em decisão unânime tomada pelo seu Plenário em 25 de agosto de 
1999, o Supremo Tribunal Federal cancelou a Súmula nº 394. Por maioria de 
votos (sete votos contra quatro) os Ministros decidiram não editar uma nova 
Súmula sobre a competência especial por prerrogativa de função. O fundamento 
da decisão foi no sentido de que o foro especial por prerrogativa de função não 
é privilégio de caráter pessoal, mas que é estabelecido em razão do cargo 
exercido. Ou seja, terminado o exercício do cargo ou o mandato, cessa também 
a competência do STF para julgar os crimes comuns cometidos por essas 
autoridades. A decisão também ressalvou a validade de todos os atos praticados 
e as decisões proferidas até agora pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal 
com base na referida súmula e determinou a interrupção do prazo prescricional 
dos crimes de acordo com a lei processual penal.39 
O Supremo Tribunal Federal já decidiu que a competência por prerrogativa 
de função também abrange os atos de investigação criminal.40 Isso quer dizer que 
a investigação só pode ser iniciada e realizada com autorização do tribunal 
competente para julgar o acusado com forro por prerrogativa de função. 
 
6666. C. C. C. Critério territorialritério territorialritério territorialritério territorial 
O território é dos mais antigos critérios para estabelecer a competência 
criminal. E também dos mais adequados, pois possibilita uma colheita mais eficaz 
de provas do fato e de suas circunstâncias. No local onde ocorreram os fatos 
 
4.jul.1958 – DJU, 5.jul.1958 – Ementário nº 346, p. 959; Recurso criminal nº 39.682-MG – STF – 2ª Turma – 
julgado em 20.ago.1958 – DJU, 21.ago.1958 – Ementário nº 353, p. 872 – RTJ nº 6, p. 408; Habeas corpus nº 
38.409-PR – STF – Pleno – julgado em 17.nov.1961 – DJU, 20.nov.1961 – Ementário nº 484, p. 921; Reclamação 
nº 473-GB – STF – Pleno – julgado em 18.nov.1962 – DJU, 19.nov.1964 – Ementário nº 603, p. 33 – RTJ nº 22, p. 
47; Habeas corpus nº 40.400-DF – STF – Pleno – julgado em 24.jun.1964 – DJU, 25.jun.64, p. 2033 – Ementário 
nº 582, p. 862; Habeas corpus nº 40.398-DF – STF – Pleno – julgado em 1º.jul.1964 – DJU, 2.jul.1964 – Ementário, 
nº 583, p. 816; Habeas corpus nº 40.382-DF – STF – Pleno – julgado em 8.jul.1964 – DJU, 9.jul.1964 – Ementário 
nº 584, p. 950. 
39 Inquérito (Questão de Ordem) nº 687-4-DF – STF – Pleno – Rel. Min. Sydney Sanches – julgado em 25.ago.1999 
– cancelada a Súmula nº 394, recusada a proposta de edição de nova Súmula , declarada a validade de todos os 
atos e decisões proferidas pelo STF com base na Súmula nº 394 e determinada a remessa dos autos ao juízo de 
primeira instância – votação unânime quanto ao cancelamento da Súmula nº 394, majoritária quanto à recusa de 
editar nova Súmula e unânime quanto à eficácia ex nunc da decisão e unânime quanto à remessa dos autos à 
Justiça de 1º Grau – DJU, 9.nov. 2001, p. 44 – RTJ, nº 179, p. 912 ss. 
40 Inquérito nº 3.438-SP – STF – 1ª Turma – Rel. Min. Rosa Weber – julgado em 11.ago.2014 – rejeitadas as 
preliminares e recebida a denúncia – votação unânime quanto às preliminares e majoritáriaquanto ao recebimento 
da denúncia, vencido o Min. Luiz Fux – DJe 27, 10.fev.2015. 
21 
normalmente se situam os vestígios do crime e há mais provas a serem colhidas. 
Também é o local onde normalmente é o local onde residem as testemunhas, o 
réu e a vítima e, enfim, é o local onde o crime teve suas repercussões sobre a 
comunidade. 
O critério territorial, também denominado foro, divide-se em comum e 
especial. 
Antes de seguir adiante é mister esclarecer que a problemática de determinar 
o critério territorial não se aplica aos tribunais superiores nem aos tribunais de 
apelação, relativamente aos acusados que detenham foro por prerrogativa de 
função. 
Isso porque esses tribunais possuem competência que abrange todo o 
território nacional. Assim, se um ministro de Estado é suspeito da prática um 
crime, o Supremo Tribunal Federal será competente para julgá-lo (Constituição, 
art. 102, inciso I, letra “b”). Nesse caso não importa o lugar, dentro do território 
brasileiro, que o crime tenha sido cometido. A mesma lógica se aplica ao Superior 
Tribunal de Justiça. O que determina a competência nesses casos é a função 
pública exercida pelo acusado. 
Quanto aos tribunais de apelação, a regra também se aplica, embora em parte. 
Quer dizer: se o crime foi cometido por um deputado estadual no território do 
seu estado, a competência poderá ser do Tribunal de Justiça, se a respectiva 
Constituição estadual dispuser nesse sentido, pouco importando o local do crime. 
Se o crime for cometido fora do território do estado, embora não haja norma 
constitucional explicita a respeito, a melhor solução é, por simetria, considerar 
que o competente será o Tribunal de Justiça do estado em que o crime for 
cometido, tampouco importando o lugar do crime dentro daquele território. 
As unidades utilizadas para determinar a competência territorial são a 
comarca e os distritos, no caso das Justiças estaduais e as seções e subseções 
judiciárias, no caso da Justiça Federal. Essas unidades não correspondem, 
exatamente, à unidade territorial estabelecida nas leis federais, estaduais e 
municipais. Assim, uma comarca poderá abranger mais de um município e um 
município poderá ter várias comarcas e distritos. O que determina a existência de 
comarcas, distritos, seções e subseções judiciárias são, basicamente, critérios 
demográficos e administrativos, submetidos a decisão política. 
Caso o imputado não detenha foro por prerrogativa de função e estabelecida 
22 
a competência material, o próximo passo será determinar o critério territorial 
determinante da competência. Também ele é fornecido por características do 
caso concreto; especificamente, pelo local de ocorrência do fato criminoso. Trata-
se do critério territorial comum. 
Dado que o caso concreto ocorreu em um determinado lugar no espaço, 
cumprirá determinar qual autoridade materialmente será competente 
territorialmente para dele conhecer. A descoberta dessa autoridade depende de 
descobrir como a competência é repartida territorialmente. 
Concretamente, a competência territorial de cada autoridade judiciária vem 
previamente estabelecida pelas normas de organização judiciária, que observa 
mas nem sempre segue a divisão administrativa do território. Assim, uma comarca 
pode abranger mais de um município. 
O critério territorial comum é, em caráter principal, o local em que foi 
consumado o crime (CPP, art. 70, caput, primeira figura).41 
Por sua vez, o crime é dito consumado quando nele se reúnem todos os 
elementos de sua definição típica (CP, art. 14, inciso I). É importante perceber 
que esse momento varia conforme se trate de crime material, formal, de mera 
conduta, culposo, omissivo, comissivo por omissão, permanente, habitual, 
qualificado pelo resultado etc. 
Nos crimes materiais, como o homicídio (CP, art. 121), o furto (CP, art. 155) 
e o estelionato (CP, art. 171), a consumação típica coincide com a consumação 
material, isto é, com a obtenção de um resultado. No caso do crime de estelionato, 
a competência territorial é do local em que o criminoso obteve a vantagem ilícita 
em prejuízo alheio.42 
Nos crimes formais, como o abandono de incapaz (CP, art. 133), a violação 
de domicílio (CP, art. 150) e a concussão (CP, art. 316), a consumação ocorre 
com a conduta do agente, independentemente da aferição de um resultado 
material. 
Nos crimes de mera conduta, como o ato obsceno (CP, art. 233), a 
 
41 Cf. caso em que o STJ, à guisa de uma “interpretação lógico-sistemática” do Código de Processo Penal, recusa-
se a aplicar esse critério em crime de homicídio, Habeas corpus nº 196.458-SP – STJ – 6ª Turma – Rel. Min. 
Sebastião Reis Júnior – julgado em 6.dez.2011 – ordem denegada – votação unânime – DJe 8.dez.2012. 
42 Conflito de competência nº 34.776-RS – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Fernando Gonçalves – julgado em 
26.jun.2002 – conflito conhecido para declarar competente o juízo suscitado – votação unânime – DJU 12.ago.2002. 
23 
consumação coincide com a conduta do agente. 
Nos crimes culposos, a consumação ocorre exatamente no momento e no 
local da ocorrência do resultado naturalístico. Nesses casos, sem resultado 
naturalístico não há consumação nem tentativa, isto é, não há crime. 
Nos crimes omissivos, como a omissão de socorro (CP, art. 135) e o abandono 
material (CP, art. 244) a consumação ocorre exatamente quando e onde o autor 
deveria agir e não age para evitar um resultado indesejável. 
Nos crimes comissivos por omissão, a consumação ocorre com o resultado 
naturalístico. 
Nos crimes habituais, como o favorecimento da prostituição ou outra forma 
de exploração sexual (CP, art. 228), o rufianismo (CP, art. 230) e o charlatanismo 
(CP, art. 283), a consumação ocorre quando e onde se caracterizar uma reiteração 
de atos correspondentes ao modelo típico, os quais caracterizem habitualidade. 
Nos crimes qualificados pelo resultado, como o roubo qualificado pelo 
resultado morte (CP, art. 157, § 3º, segunda figura), o estupro com resultado morte 
(CP, art. 213, § 2º), a epidemia com resultado morte (CP, art. 267, § 1º), a 
consumação coincide com a ocorrência do resultado que agrava especialmente a 
punibilidade. 
No caso dos crimes tentados, a competência é determinada pelo lugar onde 
foi praticado o último ato de execução (CPP, art. 70, caput, segunda parte). 
Caso seja impossível, aplicados os critérios anteriores, determinar o foro 
comum competente, o Código de Processo Penal lança mão do critério territorial 
especial – ou foro especial. Esse instrumento será necessário mesmo quando seja 
conhecido o lugar do crime. 
A primeira hipótese é dos crimes não praticados no território nacional mas 
que o Brasil, por variada ordem de razões, obrigou-se a processar e julgar. Esses 
casos são os de extraterritorialidade da lei penal brasileira (CP, art. 7º). Nesses 
casos, muitas vezes, sabe-se exatamente o lugar do crime, tanto que se pode 
afirmar que ocorreu fora do território brasileiro. 
Nesse caso, o foro competente, no Brasil, é o da capital do Estado em que 
pela última vez tiver residência do réu (CPP, art. 88, primeira parte). Se ele jamais 
tiver residido no Brasil, a capital da República será o foro especial competente 
(CPP, art. 88, segunda parte). 
24 
A segunda hipótese é a dos crimes que praticados no território nacional mas 
em águas marítimas territoriais, nos rios e lagos fronteiriços. Ou ainda fora do 
território nacional em sentido físico, mas dentro de embarcações nacionais, que 
são consideradas, por ficção e para esse efeito, território nacional. Nesses casos, 
embora os crimes tenham sido praticados no território nacional, é impossível, com 
base nos critérios existentes, determinar o foro competente. 
Assim, a primeira regra, referente aos crimes praticados a bordo de navios,é 
no sentido de que é competente o foro do local do primeiro porto brasileiro onde 
tocar a embarcação, após o crime (CPP, art. 89, primeira parte). Quando o navio 
estiver se afastando do Brasil, a competência será do local onde por último tiver 
tocado (CPP, art. 89, segunda parte). 
No caso de crimes praticados a bordo de aeronaves nacionais dentro do 
espaço aéreo correspondente ao território brasileiro, ou correspondente ao alto-
mar, ou, ainda, a bordo de aeronave estrangeira, dentro do espaço aéreo 
correspondente ao território nacional, o foro especial competente é o local do 
pouso após o crime (CPP, art. 90, primeira parte). Quando a aeronave estiver se 
afastando do Brasil, o foro especial competente é o do local da decolagem (CPP, 
art. 90, segunda parte). 
Se se trata de crime à distância — início do crime no território nacional e sua 
consumação fora dele — a competência jurisdicional será determinada pelo lugar 
em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução (CPP, art. 70, § 
1º). 
Em alguns crimes permanentes, como o sequestro e cárcere privado (CP, art. 
148) e a extorsão mediante sequestro (CP, art. 159), a consumação ocorre quando 
e onde o criminoso coloca sua vítima sob vigília e a impede de deixá-la. Nesses 
casos, se atos forem praticados em territórios de mais de uma autoridade 
judiciária, a competência firmar-se-á pela prevenção (CPP, art. 71).43 O mesmo 
ocorre com o outrora denominado crime de quadrilha ou bando, hoje chamado 
“associação criminosa” (CP, art. 288), mormente quando essa associação atua em 
 
43 Conflito de competência nº 121.600-GO – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca – julgado 
em 24.jun.2015 – conflito conhecido, para declarar a competência do juízo suscitado – votação unânime – DJe 
1º.jul.2015. 
25 
diversos locais.44 
Caso o crime tenha sido praticado inicialmente dentro do território nacional 
e seu último ato de execução tenha se verificado fora dele, será competente o juiz 
do local onde o crime tenha produzido algum resultado, ainda que parcial ou do 
local onde ele deveria o produzir (CPP, art. 70, § 2º). 
Quando um mesmo crime tenha sido praticado em vários locais dentro do 
território nacional, a competência se firma pela prevenção (CPP, art. 83).45 
O estatuto processual penal ainda dispõe que, no caso de incerto o limite 
territorial entre dois ou mais foros competentes, ou incerto o foro por ter sido a 
infração consumada ou tentada nas divisas entre dois ou mais foros, a 
competência também se determina pela prevenção (CPP, art. 70, § 3º). 
No caso de crime continuado, cuja execução se estende pelo território de dois 
ou mais foros, a competência firma-se pela prevenção (CPP, art. 71). 
Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência territorial subsidiária 
passa a ser o domicílio ou residência do réu (CPP, art. 72, caput). 
No caso do réu ter mais de uma residência, a competência é determinada pela 
prevenção (CPP, art. 72, § 1º). Da mesma maneira no caso do réu que não tiver 
residência certa ou for ignorado seu paradeiro (CPP, art. 72, § 2º). 
No caso de ação penal privada o querelante poderá preferir o foro de 
domicílio ou de residência do réu, ainda que conhecido o lugar da infração (CPP, 
art. 73). Não está incluída nessa regra a ação penal privada subsidiária da ação 
penal pública. 
Quando incerta competência e impossível determinar o foro especial de 
acordo com as regras gerais (CPP, arts. 89 e 90) a competência determinar-se-á 
pela prevenção (CPP, art. 91). 
 
 
44 Conflito de competência nº 46.661-PR – STJ – 3ª Seção – Rel. Min. Laurita Vaz – julgado em 28.jun.2006 – 
conflito conhecido e declarado competente o juízo de Direito Araguari, SC, suscitado – votação unânime – DJU 
2.ago.2006. 
45 Habeas corpus nº 82.009-RJ – STF – 2ª Turma – Rel. Min. Nelson Jobim – julgado em 12.nov.2002 – 
parcialmente conhecido e, nessa parte, denegado – votação unânime – DJU 19.dez.2002, p. 129; Habeas corpus 
nº 13.624-RJ – STJ – 5ª Turma – Rel. Min. Felix Fischer – julgado em 13.dez.2000 – ordem denegada – votação 
unânime – DJU 5.fev.2001. 
26 
7777. C. C. C. Critério ritério ritério ritério procedimentalprocedimentalprocedimentalprocedimental 
Conforme a denominação por nós proposta, o critério procedimental pretende 
determinar a competência penal conforme o procedimento penal especial. Há 
casos que o procedimento penal exige um órgão judicial especial, com 
características diferenciadas em relação aos demais. Daí que esse procedimento, 
aliado às características das diversas fases processuais e do órgão julgador, ajuda 
a determinar a competência jurisdicional. 
Dois são os exemplos constitucionais desse critério para determinar a 
competência penal. 
O primeiro deles é tradicional do Direito Processual Penal brasileiro e 
remonta ao Código do Processo Criminal de primeira instância, de 1832. Trata-
se da competência do Tribunal do Júri. 
A Constituição de 1988 garantiu a instituição do tribunal do júri, assegurados 
a plenitude de defesa, o sigilo das votações, a soberania dos veredictos, bem como 
a competência para julgamento dos crimes dolosos contra a vida (Constituição, 
art. 5º, inciso XXXVIII). Com isso, impôs que esse critério procedimental – o qual 
prevê um procedimento penal que preveja a deliberação sigilosa por parte de um 
corpo de jurados, entre outros caracteres especialíssimos – determine a 
competência para o tribunal do júri, qual seja, a dos crimes dolosos contra a vida. 
Trata-se de um critério de determinação da competência que pode se articular 
com o critério material constitucional. Em outras palavras, é perfeitamente 
possível a realização de júri no âmbito da Justiça Federal.46 O Supremo Tribunal 
Federal já decidiu que o critério procedimental cede em face do critério 
hierárquico. Assim, o acusado com cargo que aponte para a competência de 
tribunais em face do critério hierárquico e que seja acusado de crime doloso 
contra a vida será julgado conforme esse critério e não pelo tribunal do júri.47 
O segundo exemplo surgiu no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, com 
a emergência do conceito de “criminalidade de bagatela”, especialmente no 
Direito Penal alemão. Nessa época, a atitude tradicional do Processo Penal 
 
46 Habeas corpus nº 63.662-PE – STF – 1ª Turma – Rel. Min. Oscar Corrêa – julgado em 11.mar.1986 – ordem 
indeferida – votação unânime –DJU, 15.ago.1986, p. 13.927 – RTJ nº 119, p 121; Habeas corpus nº 79.044-RJ – 
STF – 2ª Turma – Rel. Min. Nelson Jobim – julgado em 20.abr.1999 – ordem indeferida – votação unânime – 
DJU, 30.jun.2000, p. 40. 
47 Recurso extraordinário nº 162.966-RS – STF – Pleno – Rel. Min. Néri da Silveira – julgado em 27.mai.1993 – 
conhecido e provido, para afirmar a competência do TJ/RS – votação unânime – DJU, 8.abr.1994, p. 7.250. 
27 
brasileiro, de não diferenciar substancialmente os procedimentos para quase toda 
a espécie de crime – excetuados os dolosos contra a vida –passou a ser objeto de 
debates intensos por parte da doutrina. A crítica mais importante centrou-se no 
tratamento procedimental dos chamados crimes de bagatela. A mais frequente 
dessas críticas apontava para o fato de que, naquela época, a persecução penal 
para a apuração e eventual punição do culpado por um crime gravíssimo era 
substancialmente a mesma utilizada para punir crimes de gravidade diminuta. Em 
outras palavras, o Estado gastava a mesma energia para perseguir crimes 
gravíssimos – como os roubos e os sequestros seguidos de morte, só para ficar 
com dois exemplos – que gastava para perseguir, por exemplo, os furtos de coisas 
de pequeno valor. 
Com o tempo gasto para perseguir os crimes de poucagravidade acreditava-
se que se fomentava a impunidade dos autores de crimes de maior gravidade, 
com vítimas em situação periclitante, fatos que naquela época já afligiam a 
sociedade brasileira. 
Por conta dessa preocupação doutrinária e também social, a Constituição 
findou por previr a criação de juizados especiais, providos por juízes togados ou 
por juízes togados e por juízes leigos, competentes para a “conciliação, o 
julgamento e a execução” das “infrações penais de menor potencial ofensivo”, 
através de um procedimento que prestigiasse a oralidade e a sumariedade, 
permitida a transação e o julgamento de recursos por juízes de primeiro grau, na 
forma da lei (Constituição, art. 98, inciso I). Outro exemplo do critério de 
procedimental. 
Embora tivessem ocorrido outras tentativas de criação de juizados logo depois 
da promulgação da Constituição, somente em 1995 foi editada a Lei 9.099, que 
criou efetivamente o “Juizado Especial Criminal”, provido por juízes togados ou 
togados e leigos, com a competência para conciliar, julgar e executar as infrações 
penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e 
continência (Lei 9.099, art. 60). 
As infrações penais de menor potencial ofensivo são as contravenções penais 
(todas) e os crimes cuja pena prevista não ultrapassasse dois anos, cumulada ou 
não com multa (Lei 9.099, art. 61). 
Das decisões dos juízes togados cabe recurso para a turma recursal. Das 
28 
decisões da turma recursal cabe apenas recurso extraordinário.48 
 
8. Critério funcional intraprocessual8. Critério funcional intraprocessual8. Critério funcional intraprocessual8. Critério funcional intraprocessual 
A competência jurisdicional pode ser distribuída, durante a persecução penal, 
entre diversas autoridades judiciárias. A esse critério se chama de competência 
funcional. Essa competência pode ser distribuída em dois sentidos: no horizontal 
e no vertical. Diz-se horizontal para significar a distribuição da competência numa 
mesma persecução, e num mesmo grau de jurisdição, isto é, desde a investigação 
criminal até a prolação da sentença. Nesse mesmo nível diversos juízes podem se 
ocupar de um mesmo processo, seja conforme as fases da persecução, seja 
conforme o objeto do juízo. 
O outro sentido, o vertical, refere-se ao processo quando há mudança de grau 
de jurisdição, decorrente do exercício de um recurso por uma das partes. 
É possível que as normas de organização judiciária cindam a competência 
funcional horizontal tendo como base a fase da persecução penal. É possível que 
sejam criadas, no âmbito do território abrangido por um tribunal, varas 
especializadas na tramitação de inquéritos policiais. Nesse caso, a distribuição dos 
feitos será feita inicialmente a uma vara, que analisará os pedidos de quebra de 
sigilo, de busca e apreensão, de prisão processual, de liberdade vinculada a fiança 
etc. 
Somente depois de oferecida a denúncia ou a queixa o processo será 
distribuído para uma vara criminal, para a instrução processual. 
Também ocorre esse fenômeno em alguns Estados em que as varas do 
Tribunal do Júri somente são responsáveis pela tramitação dos feitos após a 
preclusão da decisão de pronúncia, isto é, na fase do judicium causæ (CPP, art. 
421, caput). Também nesse caso há uma cisão da horizontal da competência pela 
fase da persecução penal. 
O critério funcional horizontal pela fase da persecução penal decorre das 
normas de organização judiciária. 
A lei também prevê um critério funcional pelo objeto do juízo. Segundo esse 
critério, divide-se o trabalho dentro do processo conforme o objeto sobre o qual 
 
48 Reclamação nº 2.132-MG – STF – 2ª Turma – Rel. Min. Celso de Mello – julgada em 19.nov.2002 – julgada 
procedente – votação unânime – DJU, 14.fev.2003, p. 81. 
29 
deve operar a jurisdição. 
Assim, por exemplo, no processo de competência do Tribunal do Júri, divide-
se a competência pelo objeto do juízo entre o Presidente do Tribunal do Júri e os 
jurados. Estes devem indagar sobre a autoria do fato, sobre a materialidade, e 
responder quanto aos elementos do crime, como tipicidade, formal e material e 
culpabilidade. Aquele opera, primeiramente, sobre indícios de autoria e prova de 
materialidade e, depois de proferido o veredicto pelos jurados, sobre a pena a ser 
aplicada. 
Essa cisão decorre da Constituição, que consagrou o Tribunal do Júri, já 
tradicional em nosso ordenamento (Constituição, art. 5º, inciso XXXVIII). Mas 
também decorre da lei processual penal, que atribui ao juiz-presidente do 
Tribunal do Júri a prolação das decisões de pronúncia, impronúncia e absolvição 
sumária (CPP, arts. 413-421), bem como a elaboração dos quesitos (CPP, arts. 482, 
parágrafo único e 483), aos jurados a prolação do veredito (CPP, art. 482, caput) 
e ao juiz-presidente, finalmente, a elaboração da sentença (CPP, 492). 
Finalmente, a lei previu um critério funcional vertical, que decorre do 
exercício da atividade recursal. 
Ele cuida de estabelecer os órgãos competentes após a prolação das decisões 
judiciais, especialmente quando da interposição de recursos. 
Uma vez proferida uma decisão recorrível, pode se dar que uma das partes 
interponha recurso. Cuida-se de saber quais serão as atribuições de cada órgão 
judiciário durante a tramitação do recurso. Por exemplo, o que vai caber ao 
próprio prolator da decisão, o que vai caber ao juiz-presidente do Tribunal ad 
quem, o que vai caber ao relator do recurso e o que vai caber à turma ou câmara 
julgadora. 
A competência funcional vertical decorre das normas de organização 
judiciária, aí incluídos os regimentos internos dos tribunais. 
 
9. 9. 9. 9. CCCCritério organizacionalritério organizacionalritério organizacionalritério organizacional 
É impropriamente denominado pela lei de “competência pela natureza da 
infração” (CPP, arts. 69, inciso III e 74). Pressupõe já ter sido aplicado o critério 
material constitucional e o critério territorial. É estabelecido em função da 
conveniência de criar varas judiciais em função da atividade a ser desenvolvida. 
Tem como objetivo buscar a delimitação de trabalho entre juízes cujo critério 
30 
material constitucional já os apontou como competentes, e que atuam em um 
mesmo território. Deve buscar precipuamente a organização e a otimização do 
trabalho judicial. É positivado pelas normas de organização judiciária e é o último 
dos critérios para a determinação da competência jurisdicional. 
Na prática, esse critério de divisão da competência é que resulta na existência 
de varas especializadas no processo e julgamento de determinadas espécies de 
crimes. 
Essa conveniência geralmente resulta da existência de uma lei especial que 
define os crimes, o processo e o julgamento de determinados crimes, bem como 
a existência de certa criminalidade habitual ou profissional que aconselhe o 
tratamento especializado. É o caso de varas especializadas para julgar crimes 
relativos ao tráfico ilícito de drogas, crimes contra o sistema financeiro, crimes 
contra a mulher, crimes contra crianças, crimes tributários, crimes de trânsito etc. 
É frequente que, no âmbito internacional, o país se comprometa a reprimir 
determinados crimes. Com o objetivo de otimizar essa repressão, uma das 
medidas preferidas tem sido a criação de varas especializadas. Um exemplo dessa 
providência são os juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher, 
com competência cível e criminal e previstos em tratado internacional 
(Convenção Interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a 
mulher, de 1994, art. 7º, letra “g”) e em lei federal (Lei 11.340, arts. 1º e 14). 
 
10. 10. 10. 10. Modificações dModificações dModificações dModificações da competênciaa competênciaa competênciaa competência 
Em princípio,

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