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- -1 LITERATURAS CONTEMPORÂNEAS EM LÍNGUA INGLESA UNIDADE 2 - A "GERAÇÃO PERDIDA" E A ERA DO JAZZ Autoria: Lucas Araujo Chagas e Fernando Aparecido Poiana - Revisão Técnica: Cristina Mayer Acunzo - -2 Introdução Qual é o papel da literatura em momentos de crise? Como escritores distintos lidam com mudanças sociais e morais radicais em seus textos? Quais são os desafios estéticos de registrar as incertezas de um período que se vende, ao mesmo tempo, como de euforia e de desilusão? Historicamente, a arte, nas suas diversas formas e manifestações, tende a progredir aos saltos quando a sociedade em que ela se insere se depara com algum tipo de encruzilhada moral e cultural que a força a fazer revisões profundas de seus princípios que, consequentemente, levam a mudanças estruturais decisivas. Ao contrário do que perspectivas críticas mais conservadoras possam sugerir ou mesmo querer aceitar, é historicamente natural que essas mudanças aconteçam, porque a literatura, a pintura, a música, a escultura, enfim, as manifestações artísticas todas das quais temos notícia precisam, diante de tais cenários extremos, de alguma maneira procurar novas formas de recriar e ressignificar o mundo do qual são parte, de onde emergem e com o qual sempre dialogam política e culturalmente. Não se trata, portanto, de simplisticamente defender a tese temerária de que a arte é uma consequência direta do seu mundo. Mas se trata, antes de tudo, de reconhecer que a arte, por mais autônoma que seja em sua constituição formal e lógica interna, jamais pode se dar ao luxo de ignorar as questões históricas e morais que norteiam os rumos da sociedade na qual ela surge e à qual ela fala. Em “American Literature 1914-1945”, introdução para o volume editado por Mary Loeffelholz da The Norton (2007), a pesquisadora recorre a um argumento semelhante ao exposto acimaAnthology of American Literature para situar o seu problema de pesquisa e brevemente expõe a dinâmica das transformações sócio-histórico- econômico-culturais que definiram os rumos da sociedade norte-americana no período entre as duas guerras mundiais e mesmo depois. Em seu texto, Loeffelholz (2007, 1.178) argumenta que, em linhas gerais, foi entre os anos de 1914 e 1945 que a modernidade chegou aos Estados Unidos e os escritores, por sua vez, se viram instados a negociar em suas obras, mas também nos meandros editoriais do seu ofício, os vários imbróglios políticos, culturais e estéticos que nasciam do conflito entre se manter fiel às formas de representação literária já consagradas, por um lado, e aventurar-se em busca de novas formas mais condizentes com as demandas temáticas e representacionais que surgiam com cada vez mais força, por outro. Nesse sentido, Loeffelholz (2007, p. 1.179) explica que, entre 1914 e 1945, os Estados Unidos tiveram de lidar com dilemas profundos que permeavam – e ainda permeiam – a relação entre a vontade pessoal e as restrições impostas pelas convenções sociais e regras institucionais. Essa tensão é um aspecto central para entendermos tanto as discussões sobre a estética literária dos principais escritores norte-americanos da época quanto a abrangência e as inovações temáticas da literatura norte-americana do entreguerras. Nesta unidade, estudaremos um pouco mais sobre essas questões e daremos um enfoque maior à literatura anglófona de origem estadunidense. Antes de discutirmos detalhadamente aspectos da produção literária de alguns dos autores significativos da época, vamos estudar primeiro alguns dos aspectos históricos, políticos e econômicos desse período. Bons estudos! 2.1 Contextualizando a literatura norte-americana - -3 A sociedade norte-americana do foi um momento histórico eivado de contradiçõesperíodo entreguerras políticas e socioculturais. Em seu texto, Loeffelholz (2007, p. 1177-1184) explica que, nesse período, diferentes parcelas da sociedade começaram a reivindicar mais assertivamente os bônus sociais e culturais pelo sacrifício patriótico ao qual tiveram de se submeter durante a participação dos Estados Unidos na Primeira Guerra. Como Loeffelholz (2007, p. 1.177-1.184) afirma, mulheres, negros, gays começaram a reivindicar mais espaço, mais representatividade e, consequentemente, mais oportunidades de exercerem a sua suposta liberdade de buscar melhores condições materiais e culturais de vida no país, colocando permanentemente em xeque os valores morais conservadores de matriz eurocêntrica no país. Segundo Loeffelholz (2007, p. 1.372): Whether they witnessed World War I at first hand or from a distance, Americans saw the home of nineteenth-century European high culture at once exploded into bits and, in another way, bound together by a shared nightmare. De fato, euforia e desencanto são dois sentimentos que encapsulam muito da atmosfera desse período de pouco mais de três décadas em que os EUA tardiamente participaram de duas guerras mundiais, enfrentaram o previsível, porém nem por isso evitado, desastre econômico e social causado pela quebra da bolsa de 1929 e viram caducar os preceitos morais que regulavam a vida social até então. Se é verdade que na década de 1920 até a crise de 1929 os EUA tinham passado por anos de grande afluência econômica, também é verdade que toda essa abundância financeira não conseguiu dirimir, como explica Loeffelholz (2007, p. 1.179), nem as disparidades econômicas entre ricos e pobres, nem o racismo. De fato, diante desse cenário, a própria noção de começou a ser questionadarepresentatividade democrática sistematicamente por toda a parcela da população sem direito ao voto. Como explica Loeffelholz (2007, p. 1.372): Militant suffragists denounced the hypocrisy of crusading for democracy abroad while denying the vote to women at home. […] African Americans who volunteered for or were drafted in the segregated armed forces also registered the contradiction between American ideals of democracy and their treatment as second-class citizens. De fato, essas são algumas das contradições sociais profundas do período entreguerras nos Estados Unidos. Tais paradoxos apontados por Loeffelholz complicavam bastante as relações sociais no país, o que, no campo da vida prática e das interações cotidianas, gradualmente azedava as relações e, com isso, passava a desafiar constantemente a tão cara à cultura e à moral norte-americana. A figuraideologia do destino manifesto Você o conhece? Marsha P. Johnson foi uma travesti e estadunidense que se tornou famosadrag queen enquanto ativista e líder dos movimentos de libertação à repressão gay nos Estados Unidos. Fundadora do movimento conhecido como Frente de Libertação Gay, juntamente como Sylvia Rivera, Marsha foi, entre os anos 1960 e 1990, um dos maiores nomes da liberdade de expressão gay no mundo. A ativista inspirou muitos escritores da “geração perdida”, como Christopher Isherwood e W. H. Auden. Infelizmente, Marsha foi assassinada em 1992 e até hoje a polícia estadunidense não conseguiu concluir o inquérito de seu assassinato. - -4 constantemente a tão cara à cultura e à moral norte-americana. A figuraideologia do destino manifesto “Desempregados nos Estados Unidos na década de 1920” mostra essa sociedade em crise. Figura 1 - Desempregados nos Estados Unidos na década de 1920 Fonte: Everett Collection, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer: fila de pessoas desempregadas vestidas com roupões de frio esperando na porta de uma padaria assistencial para pessoas carentes na cidade de Chicago (EUA). A foto está em preto e branco. Na placa da padaria está escrito “Free Soup, Coffee & Doughnuts for the Unemployed” (Sopa, café e rosquinhas grátis para desempregados). Afinal, a pergunta que esses conflitos impunham a qualquer cidadão médio com alguma capacidade de observação e interpretação da realidade era bastante básica: se nós nos EUA temos tanto apreço assim pela democracia, por que não dirigirmos nossas forças para, antes de tudo, garantir que ela seja plena e eficiente no nosso próprio território? Além disso, se os anos 1920começaram de forma economicamente auspiciosa, com todos os excessos consumistas que o capitalismo pode gerar e dos quais tanto gosta de se alimentar, o final dessa década confrontou o com uma realidade bastante amarga. sonho americano Como explica Loeffelholz (2007, p. 1.183): In the United States, the Depression made politics and economics the salient issues and overrode questions of individual freedom with questions of mass collapse. Free-enterprise capitalism had always justified itself by arguing that although the system made a small number of individuals - -5 always justified itself by arguing that although the system made a small number of individuals immensely wealthy it also guaranteed better lives for all. This assurance now rang hollow. Nesse sentido, a foi um golpe muito severo na crença e na ideologia liberal-quebra da bolsa de 1929 empreendedora norte-americana, uma vez que a crise financeira provou que, no seu limite, o sistema capitalista havia fracassado, porque não conseguia nem garantir solidez das grandes riquezas, nem as condições economicamente medianas de vida para a grande população de consumistas do país (SOARES, 2009). Ou seja, com a quebra da bolsa de 1929, o capitalismo ironicamente mostrava a sua grande capacidade de unir toda a nação pelo viés da miséria, verdade amarga demais para uma população que havia se acostumado à abundância financeira e ao sentimento de onipotência trazido e alimentado pelo dinheiro. Confira a figura “Favelas no interior de Hooverville in Manhattan (EUA) em 1932”. Figura 2 - Favelas no interior de Hooverville in Manhattan (EUA) em 1932 Fonte: Everett Collection, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer: foto feita em preto e branco em 1932 retratando as favelas que começaram a surgir nos subúrbios americanos após 1929. Na foto, barracos construídos com restos de materiais de construção, pedaços de madeira e lixo se confundem na paisagem. Ao fundo, há um prédio branco e alguns guindastes, demonstrando uma espécie de centro industrial. Drasticamente empobrecidos e sem perspectivas concretas de se recuperar economicamente no futuro próximo, muitos indivíduos acabaram tomando ações extremas e dando fim às suas próprias vidas. Loeffelholz (2007, p. 1.183), por exemplo, explica que, nesse período, um elevado número de pessoas, de diferentes classes sociais, - -6 1.183), por exemplo, explica que, nesse período, um elevado número de pessoas, de diferentes classes sociais, acabou se suicidando. Nesse sentido, podemos dizer que a prática do suicídio despontou como um gesto último e extremo de individualidade dentro de um acelerado processo de modernização social que, como aponta Loeffelholz (2007, p. 1.182), só foi possível graças aos “new modes of production, transportation, and communication” (LOEFFELHOLZ, 2007, p. 1.182). Teste seus conhecimentos (Atividade não pontuada) WASHINGTON, 25 dez 2008 (AFP) - A atual recessão pode fazer com que aumente o número de suicídios, temem os especialistas da saúde americanos, que evocam o fantasma da crise dos anos 1930 e seus subsequentes dramas humanos. A morte na terça-feira de Thierry de la Villehuchet, um investidor francês que se matou em Nova York depois de se ver arruinado pela fraude de Bernard Maddoff, voltou a gerar medo de uma onda de suicídios em Wall Street em consequência da “quinta-feira negra”, que, por sua vez, é mais mito que realidade. “Em períodos de recessão, o índice de suicídios tende a aumentar. Isso se viu em 1929 e nos anos que se seguiram”, observou Ron Maris, ex-diretor do Centro sobre Suicídios da Universidade da Carolina do Sul. As linhas de telefone “SOS suicida” foram reforçadas nos últimos meses. “Comprovamos um aumento do número de ligações”, afirmou Marshall Ellis, da Associação CrisisLink que cobre a região de Washington e recebe cerca de 2.300 consultas por mês. Em outubro, logo depois do início da crise causada pela falência do banco Lehman Brothers, o número de ligações para a CrisisLink sofreu um aumento de 132% com relação a outubro de 2007. Sobre os cinco últimos meses, o aumento alcançou 81%. “As pessoas estão angustiadas pelo que acontece. Estão desconectadas (da sociedade) e expressam seu medo”, observa Ellis. “Certas pessoas dizem que têm medo de perder o emprego e outras explicam que se sentem cada vez pior quanto à pouca possibilidade de encontrar trabalho”. FRANCE PRESSE. Como em 1929, a crise econômica pode aumentar o número de suicídios. , Washington, 25G1 dez. 2008. Disponível em: http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL935158-9356,00- . Acesso em: 15 fev.COMO+EM+A+CRISE+ECONOMICA+PODE+AUMENTAR+O+NUMERO+DE+SUICIDIOS.html 2021. Os anos posteriores à Primeira Guerra Mundial marcaram um tempo de profundas mudanças e contrastes sociais nos Estados Unidos. A esse respeito, marque a alternativa correta: • a. A sociedade estadunidense estava no auge de seu poderio econômico quando a Primeira Guerra acabou, o que deixou o país em uma situação econômica estável e tranquila. • b. Em 2007, o número de suicídios ocorridos nos Estados Unidos é menor do que os ocorridos em 1929, demonstrando que a sociedade estadunidense tem uma estabilidade social permanente. • c. A Primeira Guerra Mundial deixou os Estados Unidos ricos, o que ocasionou um enriquecimento muito grande da população estadunidense e uma melhora significativa na qualidade de vida. • d. A crise de 1929 revelou as fragilidades e contradições econômicas e sociais em que se baseia o “sonho americano”, demonstrando que a sociedade estadunidense não é tão hegemônica quanto se mostra. • e. O número de suicídios nos Estados Unidos em 2007 e 1929 revela que as crises suicidas no • • • • • - -7 • e. O número de suicídios nos Estados Unidos em 2007 e 1929 revela que as crises suicidas no país são regulares e têm inteira relação com o enriquecimento da população. Resposta(s) correta(s): • d. A crise de 1929 revelou as fragilidades e contradições econômicas e sociais em que se baseia o “sonho americano”, demonstrando que a sociedade estadunidense não é tão hegemônica quanto se mostra. 2.1.1 O jazz norte-americano No campo da moral e do comportamento individual e social propriamente ditos, bem como das relações entre a arte e as demandas do seu contexto histórico, as pouco mais de três décadas entre o início da Primeira Guerra e o fim da Segunda Guerra testemunharam mudanças bastante radicais para os padrões da ideologia puritana e conservadora norte-americana. Como aponta Loeffelholz (2007, p. 1.179): The 1920s saw significant changes in sexual mores, as was to be expected when young people were no longer under the watchful eyes of their small-town elders. […] The middle-class double sexual standard had, in fact, always granted considerable freedom to men; now, however, women – enfranchised and liberated by automobiles and job possibilities away from home – began to demand similar freedom for themselves. Women’s demands went well beyond the erotic, however, encompassing education, professional work, mobility, and whatever else seemed like social good hitherto reserved for men. Female dress changed; long, heavy, restricting garments gave way to short, light-weight, easily worn store-bought clothing. The combination of expanding urban life with new psychologies oriented to self-expression also brought into being new social possibilities for women and men whose sexual desires did not conform to traditional patterns. Poucas manifestações artísticas encapsularam tão bem essas rápidas mudanças quanto . Cole Porter, poro jazz exemplo, considerado o revolucionário do jazz estadunidense e cuja imagem pode ser vista na figura “Selo comemorativo de Cole Porter”, foi um dos compositores dos agora chamados que conseguiramjazz standards discutir questões ligadas à sexualidade com franqueza e finesse. Canções como “Night and Day”, “Let’s Do It”, “You’ve Got That Thing”, “It’s Too Darn Hot”, “I’m a Gigolo” e “Love for Sale” são algumas das composições de Porter que musicalmenterecriam essa nova atmosfera sócio-histórica e dão forma a essa maior abertura temática sobre temas que até então eram grandes tabus na sociedade norte-americana conversadora e puritana (FERRO, 2015). • • - -8 Figura 3 - Selo comemorativo de Cole Porter Fonte: Rook76, Shutterstock, 2021. - -9 Fonte: Rook76, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer: selo produzido em celebração a Cole Porter, musicista estadunidense. Ele está vestido de terno azul e gravata vermelha de bolinhas brancas e está sentado ao lado de um piano. No fundo há um papel de parede com uma partitura. À frente, está escrito “Cole Porter, USA, 29”. Diante desse contexto de intensa , de maior conscientização social dos afro-americanos eemancipação feminina das consequentes alterações da estrutura social norte-americana, romancistas, poetas e dramaturgos começaram a buscar formas de recriar em seus textos essa nova dinâmica social, seus conflitos e suas contradições. São alguns desses textos que vamos analisar mais cuidadosamente no próximo item (FERRO, 2015). É importante considerar que o movimento afro-americano vivenciado nos Estados Unidos nos oferece grandes recursos para pensar o movimento afro-brasileiro. No desenrolar do conteúdo, seria interessante você tentar observar essas relações tentando identificar correlações entre ambos (SOARES, 2009). 2.2 A "geração perdida" e a literatura norte-americana Por um lado, o período entre o fim da Primeira Guerra e a crise de 1929 ficou conhecido como a nosEra do Jazz EUA, justamente por causa do clima eufórico e hedonista alimentado pelo aparente bem-estar econômico norte- americano. Por outro, no entanto, também se fala bastante da obra de escritores que, escrevendo nesse período e depois dele, acabaram agrupados sob o guarda-chuva conceitual forjado pela expressão . “geração perdida” De fato: American literature in these decades registers all sides of the era’s struggles and debates, while sharing a commitment to explore the many meanings of modernity and express them in forms appropriate to a modern vision. Some writers rejoiced while others lamented; some anticipated future utopias and others believed that civilization had collapsed; but the period’s most influential voices believed that old forms would not work for new times, and were inspired by the possibility of creating something entirely new. (LOEFFELHOLZ, 2007, p. 1.178) Você o conhece? Ella Fitzgerald Sings Cole Porter (1956) é uma coletânea de temas famosos compostos por Porter, regravados na voz de uma das maiores cantoras da história do jazz com a orquestra de Buddy Bregman. O disco reúne 35 composições, incluindo alguns dos maiores clássicos desse compositor. O repertório tem um arranjo musical diverso e foi gravado de forma inspiradora. A coletânea ficouElla Fitzgerald Sings Cole Porter conhecida como marco do jazz pela genuinidade da composição artística, melódica e pela capacidade de construir reflexões sociais a respeito dos anos 1930 e 1940. - -10 Essa profusão de perspectivas, muitas delas radicalmente conflitantes, contribuiu para um acentuado senso de ambivalência social e cultural do período. Tal sentimento, por sua vez, encontrou diferentes formas de expressão na literatura, bem como alimentou debates acalorados sobre o papel social do escritor, debate que, se por um lado, não era inteiramente novo, por outro acabou ganhando contornos estético-políticos bastante próprios. Another issue was the question of how engaged in political and social struggle a work of literature ought to be – of how far literature should exert itself for (or against) social transformation. Should art be a domain unto itself, exploring universal questions and enunciating transcendent truths, or should art participate in the politics of the times? For some, a work that was political in aim counted as propaganda, not art; others thought that apolitical literature was evasive and simplistic; for still others, the call to keep art out of politics was covertly political, in conservative directions, even if it did not acknowledge itself as such. (LOEFFELHOLZ, 2007, p. 1.178-1.179) De acordo com a , no coração da geração perdida está o sentimento de que após aEnciclopédia Britannica Primeira Guerra Mundial a outrora invocada com certo ar de autoridade para explicar o mundo emoralidade para regular as relações entre indivíduos e sociedade havia se tornado totalmente inócua. Desse modo, qualquer manifestação de esperança, de seguridade e mesmo de humanismo que se pautasse em um tipo de moral equiparável ao mundo pré-Primeira Guerra assumia, necessariamente, contornos conceitualmente falsos e operacionalmente vazios do ponto de vista social, político e cultural. É a consciência profunda de uma mudança radical e não necessariamente positiva pela qual o mundo havia passado que aproxima esses artistas. E não exatamente um conjunto comum de procedimentos estético-formais. Como veremos, do ponto de vista crítico é bastante forçoso tentar traçar paralelos estilístico-formais entre autores como F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, Gertrude Stein, e. e. cummings, John Dos Passos e Hart Crane. 2.2.1 Gertrude Stein Gertrude Stein (1874-1946) é um dos grandes nomes associados à "geração perdida". Loeffelholz (2007, p. 1.356- 1.358) conta que a autora desenvolveu uma escrita bastante singular, sendo profundamente influenciada pelas concepções estéticas de pintores como Henri Matisse, Pablo Picasso e Georges Braque, em uma obra literária que frequentemente flerta com a ambição de levar ao limite a noção de sentido, ou simplesmente a real possibilidade de haver sentido. Confira a figura “Estátua em homenagem a Gertrude Stein, patrona da arte estadunidense”. - -11 Figura 4 - Estátua em homenagem a Gertrude Stein, patrona da arte estadunidense Fonte: Robert R. Condon, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer: estátua de Gertrude Stein – Nova York (EUA). Artista feminista e lésbica estadunidense, Stein foi uma das matriarcas mundiais dos movimentos modernistas. A estátua foi feita em bronze. Stein aparece sentada, com os braços unidos, cabelo curto e refletindo sobre a vida com olhar fixado no chão. Sobre a vida de Stein, Loeffelholz (2007, p. 1.356-1.358) conta que ela perdeu os pais muito cedo, mas herdou - -12 Sobre a vida de Stein, Loeffelholz (2007, p. 1.356-1.358) conta que ela perdeu os pais muito cedo, mas herdou um patrimônio familiar que lhe garantiu as condições financeiras necessárias para poder se dedicar a escrever literatura, colecionar obras de arte e se tornar uma grande ao, entre outras coisas,fomentadora cultural orientar escritores na busca de uma prosa mais refinada e literariamente sólida. De fato, como se a obra de Stein por si só já não fosse boa o suficiente para definitivamente inscrever o nome da autora no cânone literário norte- americano e mundial, ela ainda acabou sendo responsável por ajudar outros autores a desenvolverem sua própria voz literária. Stein deixou uma vasta obra literária, tanto na prosa quanto na poesia. Em The Autobriography of Alice B. Toklas e , Stein revisita as convenções da escrita autobiográfica para, a partir disso,Everybody’s Autobiography encontrar formas de lidar com a complexa realidade do mundo pós-Primeira Guerra com suas novas formas de moralidade e com desafios individuais e sociais. Ao mesmo tempo, ambos os livros recriam as ambiguidades de uma atmosfera sócio-histórica-cultural de um mundo economicamente devastado pela crise de 1929 e que gradualmente via a ameaça fascista rapidamente ganhar terreno pelos países europeus. Merecem destaque pela abordagem singular que dão aos seus temas estas produções em prosa de Stein. Three Lives. The World is Round. The Making of Americans. Quanto à sua produção poética, um livro de Stein (1914) que merece destaque é . LoeffelholzTender Buttons (2007, p. 1.358) pensa esse livro como “a cubist prose-poem collage of domestic objects”. Muitos dos poemas de são quase aforísticos no tratamento que dão ao seu tema, criando uma tensãoentre a banalidadeTender Buttons dos objetos e das ações que flagram, como “A Box”, “A Table”, “A Drawing”, “Water Raining”, e a singularidade estética com a qual essas coisas e situações são recriadas em verso. Como explica Loeffelholz (2007, p. 1.358), “the effect of such writing is often absurd, because expected patterns do not appear but are continually disrupted and frustrated”. O que emerge a partir disso, portanto, é o efeito de que a própria realidade se torna um universo ilógico, um total desatino, a partir do momento que a contemplamos em seus pormenores comezinhos. Você sabia? Nos anos 1920, o governo norte-americano proibiu a venda e o consumo de álcool no país. Os louros da decisão foram quase imediatos: a criminalidade aumentou, impulsionada pelo lucrativo ramo do contrabando de bebidas alcoólicas, e os estabelecimentos clandestinos brotaram por todo lado. Mais de uma década depois, percebeu-se que transformar o álcool em bode expiatório moral tinha sido um erro político e econômico, mas a decisão já havia custado ao fisco milhões de dólares em impostos não arrecadados. - -13 2.2.2 Ernest Hemingway Outro escritor importante da chamada “geração perdida” é Ernest Hemingway (1899-1961). Na breve biografia que faz sobre ele, Loeffelholz (2007, p. 1.980-1.982) diz que Hemingway nasceu em uma família numerosa e economicamente bem estabelecida, foi motorista de ambulância na Primeira Guerra, foi correspondente de guerra na Espanha franquista e, ao longo da vida, sempre se posicionou como antifascista e antinazista, embora também não confiasse totalmente nas boas intenções das forças revolucionárias partidárias da ideologia comunista. Confira a figura “Estátua em homenagem a Ernest Hemingway”. Figura 5 - Estátua em homenagem a Ernest Hemingway Fonte: Noradoa, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer: estátua de Hemingway feita em bronze situada no Paseo de Hemingway, Plaza de los Toros, Pamplona, Espanha. O busto é mostrado de baixo para cima, Hemingway aparece barbudo e olhando para frente. De fato, a ficção de Hemingway constantemente recria literariamente momentos de conflito, sejam conflitos bélicos, sejam seus traumas e suas consequências negativas para aqueles diretamente envolvidos neles. The Sun Also Rises, , A Farewell to Arms For Whom the Bell Tolls Narrativas cujos protagonistas são diretamente impactados pelas consequências das guerras em que se envolvem direta ou indiretamente. The Old Man and the Sea O tema do conflito aparece sob formas mais existenciais na prosa de Hemingway. As reflexões e ações do - -14 O tema do conflito aparece sob formas mais existenciais na prosa de Hemingway. As reflexões e ações do personagem são permeadas por certo senso de desajuste completo entre o indivíduo, seu senso de pertencimento e de valor, e o seu mundo. Tais temas também surgem, de diferentes maneiras, e com diferentes intensidades, nos contos do escritor. No prefácio para , Charles Scribner Jr. argumenta que:The Complete Short Stories of Ernest Hemingway Many of Hemingway’s early stories are set in northern Michigan, where his family owned a cottage on Waloon Lake and where he spent his summers as a boy and youth. The group of friends he made there, including the Indians who lived nearby, are doubtless represented in various stories, and some of the episodes are probably based at least partly on fact. […] Later stories, also set in America, related to Hemingway’s experiences as a husband and father, and even as a hospital patient. The cast of characters and the variety of themes became as diversified as the author’s own life. (SCRIBNER JR., 2003, p. xvi). Desse comentário, portanto, deduzimos que Hemingway é amplamente percebido como, antes de tudo, um recriador literário das suas próprias vivências e que, nesse processo de reescrita a tensão entre pertencimento sempre emerge como uma força motriz central da ficção desse autor.e deslocamento 2.2.3 F. Scott Fitzgerald Outro nome central associado não só à “geração perdida”, mas também à agitação da Era do Jazz, é F. Scott Fitzgerald (1896-1940). De fato, como explica Loeffelholz (2007, p. 1.822), ele encarnou como poucos a euforia e a ressaca dessa era que caracterizam a década de 1920 nos EUA. Segundo a autora: In the 1920s and 1930s F. Scott Fitzgerald was equally famous as a writer and as a celebrity author whose lifestyle seemed to symbolize the two decades; in the 1920s he stood for all-night partying, drinking, and the pursuit of pleasure while in the 1930s he stood for the gloomy aftermath of excess. (LOEFFELHOLZ, 2007, p. 1.822) Na breve biografia que faz de Fitzgerald, Loeffelholz (2007, p. 1.822) conta que ele não nasceu em uma família abastada, e que, por isso mesmo, só conseguiu estudar em boas instituições graças à ajuda de uma tia. A autora acrescenta que seu período na Princeton University foi importante para a sua formação como escritor, embora ele tenha largado a universidade antes de completar seu curso, e que ao longo da vida, o escritor ganhou e esbanjou dinheiro em uma velocidade astronômica. Loeffelholz (2007, p. 1.822) diz que Fitzgerald casou-se com Zelda Sayer, com quem ele sempre teve um relacionamento tumultuoso, e ambos acabaram vivendo em diferentes partes dos EUA e também em Paris. Confira uma foto do autor na figura “Scott Fitzgerald”. - -15 Figura 6 - Scott Fitzgerald Fonte: Everett Collection, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer: foto em preto e branco de Scott Fitzgerald tirada em 1928. O escritor aparece vestindo um casaco de frio sobre o suéter e está com ambas as mãos nos bolsos olhando para a câmera. Fitzgerald era um escritor de prosa dos mais refinados e argutos. Ele escreveu importantes livros de contos, - -16 Fitzgerald era um escritor de prosa dos mais refinados e argutos. Ele escreveu importantes livros de contos, como , e também , este último livroFlappers and Philosophers All the Sad Young Men Tales of the Jazz Age contendo o conto “The Curious Case of Benjamin Button”, adaptado para o cinema por Hollywood em 2008. Fitzgerald era, de fato, um grande contador de histórias, e Loeffelholz (2007, p. 1.823) destaca o ritmo frenético com que Fitzgerald escrevia, enfatizando o lado absolutamente prolífico do autor e o lado altamente rentável da ficção dele. Embora tenha escrito muitos contos, foi como romancista que Fitzgerald realmente conseguiu se destacar. Sua estreia no gênero foi com que, como conta Loeffelholz (2007, p. 1.822), rendeu muitosThis Side of Paradise dividendos financeiros ao autor. Com e , no entanto, é que Fitzgerald entrouThe Great Gatsby Tender Is the Night para a história da literatura norte-americana. Separados por doze anos de diferença, esses romances apresentam questões temáticas profundas em comum e, sob certo ângulo, podem ser lidos como o desdobramento um do outro, principalmente na relação profunda que os dois romances estabelecem entre as noções de desejo individual, ambição e desilusão. Sobre os paralelos entre os dois romances, Loeffelholz (2007, p. 1.823) afirma que: As in the character [in ] begins as a discipline of the work ethic The Great Gatsby, Tender is the Night and turns into a pursuer of wealth, and the American Dream accordingly turns into a nightmare. Unlike Gatsby, whose characters never really connect with each other, shows aTender is the Night range of intimacies, none of them successful. É nesse sentido, portanto, que Fitzgerald soube flagrar com uma percepção especialmente refinada as nuances e idiossincrasias do contexto sócio-histórico-político-moral a partir do qual ele escreveu. Por isso mesmo é que seus romances acabaram se tornando grandes documentos ficcionais que registram, pelo viés da reinvenção literária, a dinâmica da vida em sociedade nos Estados Unidos da Era do Jazz. 2.2.4 John Dos Passos Na breve biografia que faz de John Dos Passos (1896-1970), Loeffelholz (2007, p. 1.853-1.854) conta que o autor nasceu em uma família abastada e, ao longo da vida, passou por profundas mudanças ideológicas, indode uma posição libertária e revolucionária de esquerda para uma visão politicamente conservadora, posicionando-se à direita, decisão justificada por ele a partir do que entendia como desencantos políticos e ameaças à soberania do sujeito. Loeffelholz (2007, p. 1.356-1.358) também conta que Dos Passos, que estudou em ótimas instituições, como Choate School e Harvard, foi motorista de ambulância voluntário durante a Primeira Guerra e que, com o conflito terminado, dedicou-se ao jornalismo e à literatura. Estes são os livros mais conhecidos e literariamente relevantes de Dos Passos. Three Soldiers. Você quer ler? O enredo de já foi adaptado para o cinema mais de uma vez e The Great Gatsby também foi adaptado para o formato mangá pela East Press. No Brasil, essa adaptação foi publicada pela L&PM Pocket e foi traduzida por Adriana Kazue Sada. - -17 Three Soldiers. Manhattan Transfer. A chamada U.S.A. Trilogy, formada pelos romances , e The 42nd Parallel 1919 The Big Money. Esses romances foram fundamentais para estabelecer os alicerces estéticos e alguns dos principais temas da literatura de Dos Passos. Como explica Loeffelholz, a trilogia mais famosa de Dos Passos fala da “twentieth- century America from coast to coast and at every social level; its portrayal is savagely satirical” (LOEFFELHOLZ, 2007, p. 1.854). Outras obras tardias de Dos Passos incluem , , Adventures of a Young Man Number One The Grand e .Design Midcentury Menos prolífico como poeta do que como romancista, Dos Passos publicou a coletânea A Push Cart at the Curb (1922). Poemas de Dos Passos também foram publicados em revistas como a , comoPoetry: A Magazine of Verse é o caso, por exemplo, do poema “Crimson Tent”. Nesse poema sem um esquema específico ou regrado de rimas, figuras mitológicas e elementos da natureza são invocadas para compor um cenário meditativo no qual a ideia de subjetividade é pensada em conjunto com a inserção desse sujeito poético em um contexto em que ele não se encaixa totalmente, e no qual precisa negociar as suas condições de existência. 2.2.5 e. e. cummings Edward Estlin Cummings (1894-1962) – ou simplesmente e. e. cummings (como costumava assinar), conta Loeffelholz (2007, p. 1.807-1.808) – nasceu em Massachusetts e era filho de um professor de Harvard, universidade em que também estudou e onde teve contato com muitos dos poetas que lhe serviriam de influência ao longo da carreira. Essa educação sólida deu a cummings alicerces muito firmes dentro da tradição poética de língua inglesa que o permitiram fazer, em seus versos, bastante consequentes eexperimentações esteticamente fundamentadas. Confira a figura “e. e. cummings: o percussor do poema modernista”. - -18 Figura 7 - e. e. cummings: o precursor do poema modernista Fonte: Olga Popova, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer: foto em preto e branco do selo comemorativo de e. e. cummings, poeta norte-americano que foi o precursor do poema moderno. Na foto, o escritor aparece olhando o horizonte com a mão no queixo e o dedo indicador segurando a face. Sobre os interesses temáticos gerais da poesia de e. e. cummings, Loeffelholz explica que ele era um autor de: [...] a particularly agreeable kind of modernist poetry, distinguished by clever formal innovation, a - -19 [...] a particularly agreeable kind of modernist poetry, distinguished by clever formal innovation, a tender lyricism, and the thematic celebration of individuals against mass society. […] His poetry [is an] attack on depersonalized, commercial mass culture and celebrated loners, lovers, and nonconformists. (LOEFFELHOLZ, 2007, p. 1.807) Esse tom e essa dicção obervamos em alguns poemas bastante conhecidos de cummings, como “next to of course god america i”, no qual heroísmo e barbárie são postos em paralelo, em um registro ao mesmo tempo lúgubre e sarcástico. Em “a salesman is an it that stinks Excuse”, cummings eleva o tom crítico em relação às relações humanas mediadas exclusivamente pelo consumismo e pelo interesse venal, o que fica claro principalmente no verso “a salesman is an it that stinks to please” (CUMMINGS, 1959, p. 86). No verso, o vendedor é reduzido a uma coisa asquerosa cujo objetivo é apenas agradar para obter vantagens comerciais sobre o seu público-alvo ou presa. Teste seus conhecimentos (Atividade não pontuada) Em meio a nomes de gigantes da sua geração, como Ezra Pound, T. S. Eliot e Marianne Moore, o poeta americano E. E. Cummings – ou e. e. cummings, como ele preferia grafar – se destaca pelo frescor sempre vivo de seus poemas e pela natureza límpida de suas imagens (e nesse sentido, ele é, como os outros, um imagista). Mas seu traço é, sobretudo, o fato de haver-se mantido fiel a um projeto de exploração constante dos recursos constitutivos da literatura. Particularmente em relação aos recursos gráficos, o empreendimento de E. E. Cummings só poderia ser comparado ao , de Mallarmé, aos de Pound e aos Un coup de dés Cantos Calligrammes de G. Apollinaire. A poesia de Mallarmé, Pound, Apollinaire, E. E. Cummings – sem esquecer, é claro, dos futuristas russos e do chileno Huidobro – poderia ser entendida como um tensionamento dos limites da literatura naquilo que ela tem de essencial em relação a outras formas de expressão: a arte da palavra escrita. Isso porque sua obra se constitui no momento de expansão de duas novas “mídias” que iriam revolucionar a comunicação a partir do século XIX: o cinema e a máquina de escrever. Em E. E. Cummings, pode-se perceber ao mesmo tempo o traço das pesquisas estéticas de Mallarmé e de Apollinaire – pesquisas que se aproveitam do desenvolvimento da tipografia – e as consequências do advento do cinema e da utilização da máquina de escrever. Na verdade, Cummings terá tido uma aguda percepção nas modificações no domínio daquilo que Friedrich Kittler chama de , Aufschreibesysteme sistemas de “escrita” (ou de “notação”). MÜLLER, A.; DOMINGUES; M. O olho da letra: E. E. Cummings, o caligrama, a máquina de escrever e o cinema. , São Paulo, v. 1, n. 3, 2005, [ ]. Disponível em: Caligrama S. p. https://www.revistas.usp.br/caligrama/article/view . Acesso em: 15 fev. 2021./56682/59713 A respeito da tipologia escrita de E. E. Cummings, marque a alternativa correta: • a. E. E. Cummings influenciou transformações profundas na maneira de escrever os poemas, poesias e textos literários. • b. E. E. Cummings replicou os modelos escritos de Mallarmé, principalmente no que diz respeito à métrica. • c. O autor foi um grande nome da poesia campestre quando retoma o estilo galego-português • • • - -20 • c. O autor foi um grande nome da poesia campestre quando retoma o estilo galego-português para traçar a musicalidade poética. • d. O cinema e a máquina de escrever fizeram de E. E. Cummings um dos maiores cineastas estadunidenses. • e. A sistemática de escrita de E. E. Cummings foi denominada como tipografia, segundo Friedrich Kittler. Resposta(s) correta(s): • a. E. E. Cummings influenciou transformações profundas na maneira de escrever os poemas, poesias e textos literários. 2.2.6 Hart Crane Na seção que dedica a Hart Crane (1899-1932), Loeffelholz (2007, p. 1.968) conta que, embora tenha nascido em Ohio, e tendo passado um período da sua vida em Cleveland, foi em New York que o escritor construiu e solidificou sua carreira nas letras. A autora ressalta a grande diligência e o estudo a partir dos quais Crane forjou sua voz literária, sugerindo que Crane não só tinha um grande em língua inglesadomínio da tradição poética que o precedia, sobretudo os versos de Whitman, mas também uma determinação muito grande em, a partir dessa erudição literária sistematicamente cultivada, encontrar formas de representação poética que juntassem aspectos dessa tradição com as novas demandas morais, sociais e culturais dos EUA da década de 1920. Do ponto de vista do estilo, Loeffelholz (2007, p. 1.968) explica que: Crane’s practice centered on metaphor – the device that, in his view, represented the difference betweenpoetry and expository prose. He believed that metaphor had preceded logic in the development of human thought and that it still remained the primary mode in which human knowledge was acquired and through which experience was connected to mind. Um dos poemas mais conhecidos e importantes de Crane é “Chaplinesque”. Nele, o eu lírico cria uma atmosfera em que resignação e desilusão se complementam, ganhando vida em versos como “our obsequies are; in a way, no enterprise” (CRANE, 2007, p. 1.969). Na voz do eu lírico, temos o retrato das nossas vivências como sendo “meek adjustments” (CRANE, 2007, p. 1.969) e “random consolations” (CRANE, 2007, p. 1.969), em um tom pessimista que ironicamente celebra a mansidão do indivíduo diante das circunstâncias e o caráter falível da aleatoriedade das explicações que tentamos forjar para a nossa presença no mundo. • • • • Você quer ver? O filme , de Woody Allen, apresenta como personagens coadjuvantesMidnight in Paris grandes nomes da literatura e da música norte-americana nesse período. No filme, aparecem escritores como Gertrude Stein, Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald, T. S. Eliot, Cole Porter, entre outros. - -21 2.3 Análises literárias Leituras mais estruturantes dos textos literários e, portanto, de fundo político reacionário, podem argumentar que qualquer tentativa de estabelecer paralelos temáticos entre a literatura de um determinado período e a contemporaneidade não se aplica e que, pior ainda, podem afoitamente, como é típico da tagarelice infundada e intelectualmente ressentida dessa nossa era da desinformação, acusar de tendencioso o crítico que consegue encontrar, nos próprios textos literários, os paralelos profundos entre a cultura e a moral de diferentes momentos históricos e sociedades. No entanto, qualquer leitura inteligente e séria do quadro histórico-social-político do período entreguerras, como a apresentada por Eric Hobsbawm em e The Age of Empire (1875-1914) The Age of Extremes – A History , rapidamente mostra que, ao lermos as formas como esses autores recriaram aof the World, 1914-1945 atmosfera histórica do período em que viveram em suas obras, percebemos que eles têm muito mais a nos dizer do que a distância temporal e geográfica podem sugerir. De fato, poucos foram os avanços profundos da nossa sociedade em relação ao quadro cultural e moral dos EUA do período entreguerras. O mundo ainda é preconceituoso nas mais diversas formas e, apesar dos discursos de inclusão que certamente têm ajudado a mitigar um pouco desses problemas, o fato é que ainda somos uma sociedade exacerbadamente intolerante e pautada por valores consumistas. No século XXI, já passamos por pelo menos uma grande crise de especulação financeira que teve alguns efeitos. Quebrou várias empresas. Empobreceu pessoas mundo afora. Provou que a autorregulação da economia é um dos vários componentes falsos da mitologia do self-made man. Nem em termos sanitários somos tão diferentes, uma vez que a pandemia de Covid-19 tem apresentado efeitos tão devastadores ou maiores do que a epidemia de gripe espanhola, com a diferença básica que com a pandemia emergiu também uma forte ideologia negacionista e anticiência que tem condenado milhões à morte por asfixia. Ou seja, o ar que respiramos, quando conseguimos respirar, ainda é um ar da geopolítica macabra e conduzida por indivíduos que foram muito bem caracterizados por e. e. cummings no aforístico “a politician is an arse upon /which everyone has sat except a man” (CUMMINGS, 1959 p. 87). Diante de tantos paralelos que esfregam na nossa cara a colossal mediocridade em que vivemos, por que a literatura da chamada “geração perdida” não teria, portanto, coisas importantes a nos dizer? Com essa questão, concluímos o nosso paralelo, cientes de que cabe a você, estudante, refletir sobre os desdobramentos desses parentescos temáticos profundos. Conclusão Nesta unidade, você teve a oportunidade de aprender sobre o contexto histórico, social, político e cultural do período entreguerras nos EUA, as transformações pelas quais o país passou e os novos elementos que passaram a competir por espaço no quadro moral norte-americano da época. Ao longo do texto, você pôde estudar um pouco sobre a dinâmica social nos EUA entre 1914 e 1945 e teve a chance de examinar como diferentes autores lidaram com a tensão entre valores morais ultrapassados diante de uma nova realidade que se impunha e as tentativas de forjar novos valores em maior sintonia com as demandas dessa nova dinâmica cultural e social. - -22 tentativas de forjar novos valores em maior sintonia com as demandas dessa nova dinâmica cultural e social. Esperamos que a partir dessas questões você tenha ferramentas sólidas para pensar a literatura norte- americana do período entreguerras, mas também para refletir sobre o nível de comprometimento a partir do qual você cria a sua relação com o mundo, com a realidade à sua volta, bem como sobre as consequências sociais e culturais das perspectivas a partir das quais você reflete sobre o seu papel e o das suas decisões na sociedade. Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • conhecer a Era do Jazz e as características sócio-histórico-culturais da "geração perdida"; • estudar aspectos gerais da poética de Gertrude Stein; • compreender aspectos gerais da poética de Ernest Hemingway; • conhecer aspectos gerais da poética de F. Scott Fitzgerald; • identificar aspectos gerais da poética de John dos Passos; • entender aspectos gerais da poética de e. e. cummings; • analisar aspectos gerais da poética de Hart Crane. Referências CRANE, H. Chaplinesque. : LOEFFELHOLZ, M. (Ed.). 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