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Thamy Soligo – Medicina 7º, 2023 -> AES-20 1 PNEUMONIAS Ü Função pulmonar: a região com pneumonia não é ventilada (mas é perfundida) = distúrbio V/Q do tipo Shunt e hipoxemia. • A gravidade da hipoxemia varia conforme a quantidade de pulmão afetada pela pneumonia e fluxo sanguíneo local (que pode ser reduzido pela doença ou por vasoconstrição hipóxica). • Pode ter hipoxemia grave e redução da complacência. Ü Complicações: (1) Destruição e necrose tecidual levando à formação de abscessos; (2) Disseminação da infecção para a cavidade pleural, causando epiema; (3) Disseminação bacterêmica para outros sítios (coração, pericárdio, cérebro, rins, baço ou articulações). è Pneumonia adquirida na comunidade: surge até 48h após admissão hospitalar. è Pneumonia nosocomial: surge 48h após internação hospitalar (PAH – Pneumonia adquirina no hospital) ou 48h após IOT (PAVM – Pneumonia associada a ventilação mecânica); è Pneumonia associada aos cuidados em saúde (PACS): em pacientes institucionalizados, que estiveram hospitalizados durante +2 dias nos 90 dias precedentes, que têm contato frequente com instituições de saúde ou que estão imunodeprimidos. PAC – PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE Transmissão Quando pensar Quadro clínico Radiografia Complicação Confir. etiológica Tratamento 1 Streptocococcus pneumoniae (Pneumococo) Diplococo Gram+. Bactéria típica. Aspiração (após colonização da orofaringe). Todos os casos (exceto RN). Típico. - Pneumonia lobar (mais); - Broncopneumonia (infiltrado alveolar broncopneumônico). - Derrame broncopneumônico É a bactéria que fornece dados mais confiáveis pelo Gram de escarro. - Betalactâmicos (penicilina G, amoxicilina, ampicilina, cefuroxima, ceftriaxona, cefotaxima); - Outras: macrolídeos, doxiciclina, e fluoroquinolonas respiratórias. 2 Mycoplasma Pneumoniae Bastonete (não Gram). Atípico. Gotículas da tosse e da fala (como vírus respiratórios). - Criança +5 anos ou adultos jovens - Com quadro atípico - Relato de casos com intervalo de semanas nos moradores de mesma casa. Atípica (ou típica). - Quadro gripal; - Tosse seca: pode se tornar produtiva, daí escarro purulento com raias de sangue; - Sintomatologia viral, geralmente autolimitada, mas o período de incubação, 2-3 semanas, é mais longo (vírus é 1-3 dias). - Infiltrado broncopneumônico ou intersticial. - Pode ter derrame pleural associado Manifestações extrapulmonares: Fenômeno de Raynaud; Eritema multiforme; Anemia hemolítica por crioaglutinas; Miringite bolhosa. Teste da fixação do complemento é o de escolha para confirmação etiológica. Exame de escarro: revela padrão inflamatório neutrofílico mas sem bactérias significativas. - Macrolídeos (eritromicina, azitromicina ou claritromicina); ou - Doxiciclina. 3 Haemophilus Influenzae Cocobacilo Gram- Típico. - Crianças de 3 a 5 anos; - Idosos +65 anos - DPOC (é o patógeno mais comum da pneumonia em e traqueobronquite no DPOC); - Doenças pulmonares estruturais Típico. - Broncopneumonia. - Cefalosporina 2ª geração (cefuroxima); ou - Cefalosporina 3ª geração (ceftriaxona, cefotaxima); ou - Amoxicilina + clavulanato. Inflamação do parênquima pulmonar com preenchimento alveolar por infiltrado necro-inflamatório (neutrófilos + exsudato com debris celulares) Thamy Soligo – Medicina 7º, 2023 -> AES-20 2 4 Chlamydia Pneumoniae Pequenas bactérias parasitas intracelular obrigatória. Atípico. Gotículas da tosse e da fala (como vírus respiratórios); menor infectividade. + 65 anos. Atípica. - Faringite, bronquite, sinusite; - Tosse seca e mal-estar podem durar por semanas a meses (duração mais longa que micoplasma); - Rouquidão e sibilos são os achados mais frequentes. Microimunofluorescência indireta (teste sorológico de escolha). - Macrolídeos (eritromicina, azitromicina ou claritromicina); ou - Doxiciclina. 5 Vírus respiratórios: influenza A e B, adenovírus, vírus sinciais respiratórios, parainfluenza Influenza: RNA fita única. Atípico. Contato direto (gotículas por fala, tosse ou espirro) ou indireto (contaminação de superfícies). - Crianças; - Quadro gripal + infiltrado intersticial difuso; - SDRA a partir do 3º dia. (1)Síndrome Gripal - Febre, tosse seca, dor de garganta, mialgia, cefaleia (resolução espontânea); (2)Síndrome Respiratória Aguda Grave - Começa como SG; - Franca pneumonia viral (em geral superinfecção bacteriana acompanha). Swab nasofaríngeo: análise por RT-PCR. Antivirais: - Oseltamavir (Tamiflu VO, 12/12h por 5 dias); - Zanamavir (Relenza 2 inalações de 12/12h por 5 dias). Prevenção: Vacinação anual (vacina vírus inativado). X Legionella pneumophila Cocobacilo Gram- parasita intracelular obrigatório; Atípico. É inalada em partículas de aerossol do ar (até ar condicionado). - +50 anos, fumante, alcoólatra e imunodeprimidos; - Pneumonia grave; - Hiponatremia 40oC; - Imunodepressão celular (corticosteroide, SIDA, transplante). - Febre alta (+40oC); - Calafrios, mialgia, cefaleia; - Tosse produtiva (pode vir com hemoptoicos); - Dor no peito, dispneia; - Possível Sinal de Faget (dissociação pulso- temperatura); - Proeminente quadro gastrintestinal (diarreia, náuseas, vômitos); - Hiponatremia grave e elevação enzimas hepáticas; - Leucocitose neutrofílica. - Infiltrado broncopneumônico que logo evolui para condensação (às vezes bilateral). - Trombocitopenia; - CIVD. - Antígeno urinário; - Anticorpo fluorescente direto no exame de escarro; - Cultura do escarro em meio próprio. - Macrolídeo venoso (claritromicina); - Casos mais graves: associar Rifampicina ou Quinolona. Thamy Soligo – Medicina 7º, 2023 -> AES-20 3 TÍPICO ATÍPICO S.Pneumoniae, Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis, Klebsiella pneumoniae, Staphylococcus aureus, Streptococcus pyogenes, Pseudomonas aeruginosa, Bactérias anaeróbias. Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia pneumoniae, Legionella pneumophila, Chlamydia psitacci, Coxiella burnetti, vírus respiratórios. QUADRO CLÍNICO - Mal-estar, dispneia, calafrios, cefaleia, mialgia; - Febre alta (39-40oC); - Tosse com expectoração purulenta; - Dor pleurítica (quando se estende até a margem pulmonar); - Pode ter cianose. - Virose respiratória prolongada; - Dor de garganta; - Mal-estar, mialgia; - Tosse seca (pode se tornar produtiva; mais branca); - Febre 38 – 39ºC. EXAME FÍSICO - Taquidispneia superficial, taquicardia; - Ausculta pulmonar com ruídos adventícios: estertores inspiratórios ou roncos; - Mais grave: AP sugestiva de Síndrome Consolidação ou Derrame Pleural. - Normal; ou - AP: discretos estertores crepitantes ou sibilos; - Há dissociação clínico-radiológica. RADIOGRAFIA Infiltrado pulmonar alveolar com consolidação: - Alveolar broncopneumônico (broncopneumonia): consolidação do pulmão em focos; - Lobar: consolidação de grande porção de um lobo ou lobo inteiro. Consolidação = solidificação do pulmão pela substituição de ar por exsudato nos alvéolos. Infiltrado pulmonar intersticial. LABORATORIAIS Hemograma Leucocitose (15-35.000) com desvio à esquerda; maciça ativação de neutrófilos. Leucocitose com neutrofilia (sem desvio à esquerda). Bioquímica Geralmente normal; possível hiponatremia leve. Alterações na Leigionella. Gasometria Indicada se pneumonia grave e SpO2 AES-20 4 DIAGNÓSTICO DE PNEUMONIA -> Achados clínicos + Achados exame físico + Radiografia com infiltrado pulmonar Sinais de Alerta: - Confusão mental - Hipotensão (PASmuito alta (+40º) ou muito baixa (-35º) - Taquicardia >125bpm - Taquipneia >30ipm - Oximetria 25) - Taquicardia (FC>100) - Ausculta: estertores (creptos); murmúrio vesicular reduzido - Sempre: verificar SatO2 SatO2 baixa + desconforto respiratório = fazer Gasometria. Idosos: podem não ter febre, nem tosse. Também com coriza, dor de garganta, febre muito alta, infiltrado bilateral: considerar infecção viral conjunta. RADIOGRAFIA DE TÓRAX (sempre) OUTROS EXAMES (não necessário) Padrão: infiltrado -> consolidação - Bronconpneumonia (alvéolos): focos difusos (S.Aureus, Gram-) - Lobar (alvéolos): consolidação em parte ou todo lobo (Pneumococo) - Intersticial: aspecto reticular (atípicos; mycoplasma, vírus) - Complicação: derrame pleural HEMOGRAMA - Leucocitose com desvio à esquerda: típicos - Leucocitose com neutrofilia: atípicos DIAGNÓSTICO DE PNEUMONIA: sinais clínicos compatíveis + imagem de infiltrado pulmonar (consolidação) Menos de 50 anos Mais de 50 anos Sem comorbidades e sem sinais de alarme na apresentação clínica Com comorbidades ou sinais de alarme Não necessita exame microbiológico Exames complementares para calcular gravidade (Escore PSI e CRUB-65) ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO E DECISÃO SOBRE INTERNAÇÃO ESCORE PORT/PSI Fatores demográficos 1.Idade homem [n.anos] 2.Idade mulher [n.anos – 10] 3.Reside casa repouso, abrigo [n.anos +10] Comorbidades 4.Câncer [+30] 5.Doença hepática [+20] 6.ICC [+10] 7.Doença cerebrovascular [+10] 8.Insuficiência renal [+10] Exame Físico 9.Estado mental alterado [+20] 10.FR >30ipm [+20] 11.PA sistólica 40º [+15] 13.Pulso >125/minuto [+10] Laboratoriais e radiografia 14.pH 30 mg/dL [+20] 16.Sódio 250 mg/dL [+10] 18.Hematócrito 43mg/dL [+1] R.Respiração FR >30ipm [+1] B.Baixa pressão arterial PAS =65 anos PORT I: aus.predi. PORT II: 130 GRUPO 1: 0 ou 1 GRUPO 2: 2 GRUPO 3: 3 a 5 Mort: 0,1-0,4% Mort: 0,6-0,7% Mort: 0,9-2,8% Mort: 8,2-9,3% Mort: 27-31,1% Mort: 1,5% Mort: 9,2% Mort: 22% Tratamento ambulatorial Ambulatorial, obs ou rápida internação Internação hospitalar Internação hospitalar Avaliar necessidade UTI Tratamento ambulatorial Internação breve ou trata ambulatorial assistido Internação hospitalar Considerar UTI (4 ou 5) INDICAÇÕES UTI Critérios Maiores Choque séptico necessitando vasopressor Necessidade ventilação mecânica invasiva Critérios Menores FR>=30ipm Relação PaO2/FiO2 =43 mg/dL Leucopenia (leucograma AES-20 5 TRATAMENTO Pacientes ambulatoriais Baixo risco e sem fatores modificadores Monoterapia: amoxicilina ou macrolídeo (5 a 7 dias) Amoxicilina (1000mg; 8/8h); ou Azitromicina (500mg no 1º dia e depois 250mg 1x/dia); ou Claritromicina liberação prolongada (1000mg 1x/dia). Com fatores modificadores que aumentam probabilidade de resistência bacteriana Fatores modificadores - Doença pulmonar crônica - Insuficiencia cardíaca - Doença hepática crônica - Doença renal - Etilismo - Neoplasia maligna - Asplenia Terapia combinada de antibióticos Amoxicilina+clavulanato (500mg 8/8h) + Macrolídeos como Azitromicina (500mg no 1º dia e depois 250mg/dia) ou Claritromicina (1000 mg/dia) Monotoreapia com quinolona. Quinolona respiratória como Levofloxacina (750mg/dia) ou Moxifloxacina (400mg/dia) ou Gemifloxacina (320mg/dia) Pacientes internados Não grave Terapia combinada Betalactâmico Ceftriaxone (1-2g/dia EV), Cefotaxime (2g 8/8h EV) ou Ampicilina/Sulabactam (1,5-2g 6/6h EV) + Macrolídeos como Azitromicina (500mg no 1º dia e depois 250mg/dia – pode ser oral ou EV) Monoterapia Quinolona respiratória como Levofloxacina (750mg/dia) ou Moxifloxacina (400mg/dia) ou Gemifloxacina (320mg/dia) Graves sem fatores de risco para infecção por P.aeruginosa ou agentes MRSA Terapia combinada Amoxicilina+clavulanato (500mg 8/8h) + Macrolídeos como Azitromicina (500mg no 1º dia e depois 250mg/dia) ou Claritromicina (1000 mg/dia) Betalactâmico Ceftriaxone (1-2g/dia EV), Cefotaxime (2g 8/8h EV) ou Ampicilina/Sulabactam (1,5-2g 6/6h EV) + Macrolídeos como Azitromicina (500mg no 1º dia e depois 250mg/dia – pode ser oral ou EV) PAC com MRSA Características clínicas sugestivas - Infiltrado cavitário ou necrose - Presença de cateter venoso central - Aumentando rapidamente derrame pleural - Hemoptise pura - Influenza concomitante - Neutropenia - Exantema eritematoso - Pústulas na pele - Paciente jovem, previamente saudável - Pneumonia grave durante meses de verão Vancomicina (15mg/kg 12/12h EV) Linezolida (600mg 12/12h EV)