Buscar

DOS DEVERES DAS PARTES

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

DOS DEVERES DAS PARTES
CPC, art. 14. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do processo:
I - expor os fatos em juízo conforme a verdade;
II - proceder com lealdade e boa-fé;
III – não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são destituídas de fundamento;
IV – não produzirá provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou defesa do direito; 
V – cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final;
Parágrafo único. Ressalvados os advogados que se sujeitam exclusivamente aos estatutos da OAB, a violação do disposto no inciso V deste artigo constitui ato atentatório ao exercício da jurisdição, podendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa em montante a ser fixado de acordo com a gravidade da conduta e não superior a 20% (vinte por cento) do valor da causa; não sendo paga no prazo estabelecido, contado do trânsito em julgado da decisão final da causa, a multa será inscrita sempre como dívida ativa da União ou do Estado.
Posto que o processo civil seja, de sua índole, eminentemente dialético, é reprovável que as partes se sirvam dele, faltando ao dever da verdade, agindo com deslealdade e empregando artifícios fraudulentos; porque tal conduta não se compadece com a dignidade de um instrumento que o Estado põe à disposição dos contendores para atuação do direito e a realização da justiça.
De fato, o processo, como instrumento de realização do direito material, tem os seus limites de atuação muito além da mera técnica legislativa. O processo deve ser visto também como instrumento ético e de cooperação entre os sujeitos envolvidos na busca da justa solução do litígio (embora as partes defendam interesses antagônicos). O juiz, a todo tempo, deve zelar pelo espírito cooperativo entre as partes, reprimindo qualquer ato atentatório à dignidade da Justiça. Deve, portanto, imperar o princípio da boa-fé. Ada Pellegrini Grinover leciona:
“De há muito, o processo deixou de ser visto como instrumento meramente técnico, para assumir a dimensão de instrumento ético voltado a pacificar com justiça. Nessa ótica, a atividade das partes, embora empenhadas em obter vitória, convencendo o juiz de suas razões, assume uma dimensão de cooperação com o órgão judiciário, de modo que de sua posição dialética no processo possa emanar um provimento jurisdicional o mais aderente possível à verdade (...)”
O art. 347 do CPC excetua a regra de não omissão. No referido dispositivo é previsto que a parte não é obrigada a depor de fatos criminosos ou torpes que lhe foram imputados, ou sobre assunto a cujo respeito, por estado ou profissão deva guardar sigilo, afora nos casos de ações de filiação, desquite e anulação de casamento. Salienta-se, porém, que a parte deve deixar claro que suprimirá determinada informação, e não apenas calar, podendo dar a entender ao juízo que tal fato inexista.
O engano exclui a má-fé. É bastante normal que fatos sejam esquecidos com o passar do tempo, ou até que, involuntariamente, a nossa memória modifique o verdadeiro ocorrido em nossa lembrança. Não deve a parte tentar preencher as lacunas criadas pelo esquecimento. Não lembrando da informação, deve apenas declarar isso em juízo. Pontes de Miranda ressalta:
“Quando uma parte se engana a respeito de um fato, tem de dizer por que o afirmou, ou o negou. Não deve qualquer parte expor como verdadeiro o que apenas lhe parece provável, posto que possa expor o que lhe parece ter acontecido, com a ressalva de que apenas lhe pareça ou suspeita. Aí, ela não ofende o dever da verdade perante a justiça, porque a incerteza pode acontecer a qualquer pessoa, mesmo a juiz que aprecia os fatos que foram expostos pelas partes”.
Advogar contra súmula vinculante também pode caracterizar a defesa destituída de fundamento. Da mesma forma, advogar contra jurisprudência pacífica de tribunal superior. Isso não significa que a parte não possa demonstrar que, no caso concreto, a sua pretensão é legítima. Por exemplo, o STF deferiu medida cautelar na ação declaratória de constitucionalidade n.º 4, vedando a antecipação de tutela em face a fazenda pública. Em princípio, postular liminar contra a fazenda pública poderia ser considerada pretensão de má-fé. Isso não significa que a parte que precise de uma intervenção cirúrgica urgente não possa postular tal tutela.
O DEVER DE EXPOSIÇÃO DOS FATOS CONFORME A VERDADE
No processo, presentes também estão a noção de dever, de obrigação e de ônus. No que tange aos deveres, são condutas exigidas dos sujeitos do processo e dos terceiros que dele participam, para que a justiça seja feita como deve ser.
A obrigação de expor os fatos conforme a verdade não é mais exclusividade das partes e seus procuradores. Todos os demais participantes do processo estão sujeitos a ela, o que inclui, por exemplo, testemunhas e peritos. A testemunha que mentir ou o perito que falsear o laudo incorrerão nas sanções do Código de Processo Civil (CPC), arts. 16 e seguintes, sem prejuízo de outras sanções criminais e administrativas (GONÇALVES, 2012, p. 136).
Contudo, o dever de expor os fatos em juízo, conforme a verdade, é imposto pela lei fundamentalmente às partes e seus procuradores. Às partes porque são elas as que promovem ou sofrem, na qualidade de autores ou réus, ações ou ações incidentes no curso de processos já instaurados; aos procuradores porque são eles que representam as partes em juízo, falando nos autos em seus nomes.
Vejamos a lição de Costa Machado: “Pois bem, seja qual for o destinatário da norma, o que importa salientar é que o dever de veracidade aqui previsto sempre deve ser considerado em termos, vale dizer, com relatividade, uma vez que não se pode perder de vista que a exposição dos fatos é segundo a "verdade" de quem expõe, exposição parcial, unilateral, tendenciosa em certa medida, portanto. Não se pode exigir, do litigante, isenção ou imparcialidade, mas tal isenção é exigida de todo terceiro desinteressado que de qualquer forma participe do processo”. (MACHADO, 2009, p.51)
Só haverá ofensa a tal dever, se intencionalmente, a verdade for falseada. Se for apresentada de maneira errônea involuntariamente, porque uma falsa percepção da realidade, uma incompreensão dos fatos, uma má avaliação dos acontecimentos, ou qualquer outro tipo de equívoco, a infração não estará caracterizada.
 A LEALDADE E A BOA-FÉ PROCESSUAL
A ideia do legislador é vedar a utilização de expedientes desonestos, desleais, que sejam meramente protelatórios. Essa hipótese é explicitada pelo art. 17 que, em rol meramente exemplificativo, enumera condutas tidas como litigância de má-fé: a) deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso; b) alterar a verdade dos fatos; usar do processo para conseguir objetivo ilegal; c) opuser resistência injustificada ao andamento do processo; d) proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo; e) provocar incidentes manifestamente infundados; f) interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.
“A rigor, agir com lealdade e boa-fé abrange todas as demais obrigações e implica o dever de agir com honestidade no curso do processo. Constitui, portanto, ofensa a essa regra a utilização de expedientes desonestos, que retardam e prejudicam a sua boa solução”. (GONÇALVES, 2012, 136).
É preciso que o litigante tenha perpetrado voluntariamente os autos mencionados para responder por má-fé. Não basta, por exemplo, que ele deduza pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso. É preciso que saiba que o está fazendo, que o faça voluntária e conscientemente (GONÇALVES, 2012, 137).
Logo, é dever de todos aqueles que participam do processo, agir com lealdade e boa-fé em todos os atos processuais (art. 14, II do CPC), recriminando-se, na espécie, com multa, os atos assim praticados ilicitamente.
Assim, há dolo processual da parte manifesto quando se habilita a rediscutir a matéria já firmada pelo manto da coisa julgada;
O DEVER DE FUNDAMENTAR AS PRETENSÕES EM JUÍZO
Aquele que relata os fatos e, consequentemente, formula pretensão, deve crer no relato e na pretensão oriunda dos mesmos fatos, valendo o mesmo para o réu, e, bem assim, para o interveniente.
O dever em questão se vincula mais intensamente à dedução do direito aplicável pelas partes. Pretensão e defesa sem fundamento são aquelas desprovidas de juridicidade, contrárias ao direito, desamparadas pela ordem jurídica.
Para Costa Machado: “Violam a lei tais atos se a parte e/ou seu advogado conhece a falta de sustentação jurídica. Dada a circunstância de que, para fins de ética processual, não há diferença entre a formulação de pretensão sem fundamento (pelo autor), alegação de defesa sem fundamento (pelo réu) e sustentação de posição jurídica sem fundamento (por um assistente, v. g.) em prol de uma das partes, há de se reconhecer que também a "todos aqueles que de qualquer forma participam do processo", como diz o caput, é imposto o dever estabelecido por este inciso III”. (MACHADO, 2009, p.52).
PROIBIÇÃO DA PRÁTICA DE ATO INÚTEIS AO PROCESSO
As provas produzidas pelas partes devem ser pertinentes, isto é, apropriadas para demonstrar aquilo que é o objeto de discussão no curso do processo. Do contrário, ou quando o juiz perceber que as partes suscitam incidentes meramente protelatórios, que não interessam senão para o retardamento do desfecho do processo, deve, sem prejuízo, de indeferir as provas, considerar aquele que as requereu como litigante de má-fé.
O juiz deve examinar esse, como os demais deveres, com uma certa tolerância. A parte pode requerer honestamente uma prova, que intende pertinente, conquanto o juiz pense que seja supérflua ou irrelevante, sem que com isso haja ofensa ao dever legal.
Vejamos a jurisprudência: “O exercício do direito de defesa não é absoluto, encontrando limites estabelecidos em lei, restrições estas que ao invés de acarretarem infração a princípios constitucionais, ensejam seu equilíbrio, promovendo a jurisdição em consonância com o devido processo legal. A produção de provas é orientada à demonstração dos fatos alegados pelas partes no processo. Consiste em ferramenta destinada ao juiz, com finalidade precípua de propiciar a formação de seu convencimento para a devida solução da controvérsia deduzida em juízo. Não obstante se reconheça a prerrogativa das partes de produzirem provas para a comprovação de suas alegações, cumpre ressalvar que o exercício de tal direito não é absoluto, sendo limitado aos meios de prova admitidos em lei, bem como aos momentos adequados para o requerimento e sua produção, sendo ainda sua realização condicionada à constatação de relevância e pertinência para prova requerida. Cumpre notar que ao juiz cabe o direcionamento da instrução do processo, determinando as diligências a serem realizadas para a devida formação de seu convencimento, sendo seu dever indeferir medidas protelatórias ou inúteis à sua convicção quanto à lide deduzida em juízo, consoante acentua o art. 130 do CPC, ora reproduzido: "Art. 130. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias". Neste contexto, a inutilidade da prova solicitada para a solução lide não acarreta o cerceamento de defesa, sendo a dispensa de tal instrução um dever do juiz para a promoção célere do andamento processual, eliminando-se atos imprestáveis à devida composição do litígio”�. 
CUMPRIMENTO COM EXATIDÃO DOS PROVIMENTOS MANDAMENTAIS
São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do processo cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final.
Tais deveres foram instituídos pela Lei nº 10.358/2001, que têm sua justificativa vinculada, evidentemente, aos institutos da antecipação da tutela e da tutela específica (arts. 273 e 461), significando um meio de potencializar a eficácia de tais provimentos mediante o sancionamento da conduta violadora, pelo que o legislador a qualifica de "ato atentório ao exercício da jurisdição" figura prevista pelo parágrafo único do art. 14, do CPC.
Ressalvados os advogados que se sujeitam exclusivamente aos estatutos da OAB, a violação do dever em tela constitui ato atentatório ao exercício da jurisdição, podendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar, ao responsável, multa em montante a ser fixado de acordo com a gravidade da conduta e não superior a vinte por cento do valor da causa. Não sendo paga no prazo estabelecido, contado do trânsito em julgado da decisão final da causa, a multa será inscrita sempre como dívida ativa da União ou do Estado
� ((MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento nº 1.0024.01.566881-7/001. Des.(a) Pedro Bernardes, Belo Horizonte, 06 de novembro de 2012. Disponível em: � HYPERLINK "http://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaPalavrasEspelhoAcordao.do?&numeroRegistro=1&totalLinhas=8&paginaNumero=1&linhasPorPagina=1&palavras=proibi%E7%E3o%20e%20ato%20e%20in%FAtil&pesquisarPor=ementa&pesquisaTesauro=true&orderByData=1&referenciaLegislativa=Clique%20na%20lupa%20para%20pesquisar%20as%20refer%EAncias%20cadastradas...&pesquisaPalavras=Pesquisar&" �http://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaPalavrasEspelhoAcordao.do?&numeroRegistro=1&totalLinhas=8&paginaNumero=1&linhasPorPagina=1&palavras=proibi%E7%E3o%20e%20ato%20e%20in%FAtil&pesquisarPor=ementa&pesquisaTesauro=true&orderByData=1&referenciaLegislativa=Clique%20na%20lupa%20para%20pesquisar%20as%20refer%EAncias%20cadastradas...&pesquisaPalavras=Pesquisar&�).

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando