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LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ
Acadêmica: Carla Cristina Scottini
Professor- Roberto Jacobsen Reiser 
Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI
Curso (DIR331/3) – Turma de Direito
27/04/2020
RESUMO
O presente trabalho discorre acerca da caracterização da litigância de má-fé no
âmbito do processo civil. Sob esse enfoque, todos os indivíduos que praticam atos temerários ao processo estão sujeitos a sanções, sejam elas as previstas no CPC, ou previstas em regulamentos e leis específicas de regência da atividade envolvida na demanda.
É importante salientar que, mesmo não havendo a comprovação de danos às partes
ou ao processo, as atitudes e condutas praticadas sob à luz da má-fé processual causam danos ao Estado e à sociedade, tornando a Justiça morosa e atrasando a prestação jurisdicional. Diante disso, deve o magistrado reprimir a atuação da parte que vai a juízo sem motivo razoável, com a intenção de ferir direitos alheios e angariar recursos financeiros. Porém, a grande dificuldade que esses conceitos doutrinários apresentam é definir quando há ou quando não há litigância de má-fé, tendo em vista que se trata de uma conduta subjetiva e que deve ser configurada pelo magistrado de maneira objetiva, com o intuito de que a punição do ato lesivo e desleal seja efetivada. Trata-se de responsabilidade subjetiva. Ora, a má-fé processual somente restará configurada se houver dolo da parte, isto é o animus deliberado de prejudicar a outra parte ou procrastinar propositalmente a marcha processual. Palavras-chave: Processo-civil-justiça
Abstract
The present work discusses the characterization of the litigation of bad faith in the
the scope of civil procedure. Under this approach, all individuals who perform reckless acts to the process are subject to sanctions, whether those provided for in the CPC, or provided for in regulations and laws specific regency of the activity involved in the demand. It is important to note that, even if there is no evidence of damage to the parties or the proceedings, the attitudes and conduct sworn out in the light of procedural bad faith cause damage to the state and society, making justice time-consuming and delaying judicial provision. In view of this, the magistrate must repress the action of the party that goes to court without reasonable reason, with the intention of hurting the rights of others and raising financial resources. However, the great difficulty that these doctrinal concepts present is to define when there is or when there is no litigant of bad faith, given that it is conduct subjective and the magistrate should configure that objectively, with the intention that the punishment of the harmful and unfair act is effected. It's about subjective responsibility. However, procedural bad faith will only remain configured if there is a deed on the part, i.e. The deliberate animus of harming the other party or purposely procrastinating the gait Procedural 
Keywords: Civil-justice procedure.
1. CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA
A má-fé processual é a conduta, culposa ou dolosa, praticada por uma das partes ou ambas, para prejudicar a outra ou para prejudicar terceiros, com o objetivo de obter um fim ilegal, de retardar o andamento processual, ou ainda para se alterar a verdade dos fatos.
Para Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade litigante de má-fé é:
... é a parte ou interveniente que no processo, age de forma maldosa, com dolo ou culpa, causando danos processual à parte contrária. É o improbus litigator, que se utiliza de pensamentos escusos com o objetivo de vencer ou que, sabendo ser difícil ou impossível vencer, prolonga deliberadamente o andamento do processo, procrastinando o feito.
A litigância de má-fé é o ato comissivo, pelo qual determinada parte, de forma dolosa ou até mesmo culposa, pratica, acarretando um eventual dano à parte contrária e ao Poder Judiciário como um todo.
Rui Stocco afirma que a litigância de má-fé é:
 “A qualificação jurídica da conduta legalmente sancionada daquele que atua em juízo, convencido de não ter razão, com ânimo de prejudicar o adversário ou terceiro, ou criar obstáculos ao exercício de seu direito
Nas palavras de José Olímpio de Castro Filho, a litigância de má-fé: 
Consiste em não corromper dos próprios fins do processo e representa a consciência de se degenerar os elementos de fato da relação substantiva (o que vulgarmente se chama de dolo material ou substancial) ou o degenerado uso dos meios processuais (dolo processual), tudo com o fim de o juiz compor defeituosamente o conflito de interesses.
Para Rosângela Laskoski Biscaia: 
Quem litiga abusivamente fere o princípio da lealdade processual, na exata medida em que atua dolosamente e de forma contraditória com os fins de processo judicial.
Em sua obra, Leonel Maschietto, define como litigante de má-fé: 
Não só as partes envolvidas na demanda, mas “o advogado, o interveniente, ou qualquer outra pessoa que atue no processo, seja direta ou indiretamente, e que aja de forma faltosa com os princípios da boa-fé, causando ou não danos ao processo”.
2. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ
Litigância de má-fé: Em primeiro lugar, cabe-nos anotar que a norma se dirige às partes do processo (autor e réu) e aos terceiros (assistente, assistente litisconsorcial, chamado ao processo e denunciado à lide), não aos advogados, ao defensor público, ao magistrado e aos membros do Ministério Público, que se sujeitam a regras próprias, os primeiros, às do direito comum, podendo ser demandados em ação de indenização por perdas e danos; o magistrado, ao art. 143, podendo ser demandado quando proceder com dolo ou fraude, bem assim quando recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providências que deva ordenar de ofício, ou a requerimento da parte, e os representantes do Ministério Público (e a própria instituição, segundo pensamos), ao art. 181,quando exercerem suas funções com dolo ou fraude.
Sobre a atuação do advogado: Se percebe que as manifestações da parte são conduzidas por petições elaboradas pelo advogado que a representa, o que pode induzir à conclusão de que o patrono da parte é que deve responder por perdas e danos, já que as petições que elabora é que têm o condão de se aproximar das condutas listadas no art. 80. Embora o raciocínio não seja absurdo, doutrina e jurisprudência entendem que a litigância de má-fé é da parte, podendo esta exercer o direito de regresso contra o advogado, quando for condenada ao pagamento de valores, como decorrência da atuação do seu advogado. A litigância de má-fé merece mais atenção por parte do magistrado, para que seja reprimida e combatida, já que o processo interessa não apenas às partes, mas ao Estado, que assumiu a função de pacificar o conflito de interesses, devendo fazê-lo de forma qualificada, coibindo atos que comprometam a relação processual. O CPC adotou a posição de que a conduta de má-fé supõe um elemento subjetivo,
isto é, uma intenção maliciosa, de tal modo que essa conduta é punida conforme preceituam os artigos 79 E 80 do novo CPC. Art. 5º do Novo CPC dispõe que todos aqueles intervêm no processo devem agir conforme a boa-fé processual. Assim o art. 79.  Responde por perdas e danos aquele que litigar de má-fé como autor, réu ou interveniente. A concepção formal de litigância de má-fé atualmente se situa no texto do art. 80, incisos I ao VII, do CPC/2015. 
Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que:
I - Deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso;
II - Alterar a verdade dos fatos;
III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal;
IV - Opuser resistência injustificada ao andamento do processo;
V - Proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;
VI - Provocar incidente manifestamente infundado;
VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.
Discute-se em sede doutrinária se o rol das condutas tipificadas no art. 80, incisos I ao VII, do CPC/2015, seria taxativo (numerus clausus) ou meramente exemplificativo (numerus apertus). No sentido da taxatividade das hipóteses legais, afirma-se que, por se tratarem de regras sancionatórias, sua interpretação deve ser restritiva. Argumenta-se, em sentido contrário a taxatividade legal, que a limitação das condutas vedadas seria imprópria porque a repressão à violação da boa-fé processual “impõe-se por normas de direito material bem mais abrangentes, como a própria cláusula geral de boa-fé objetiva, que autoriza, senão a imposição de multa, ao menos a indenização dos prejuízos sofridos pela outra parte.
2.1. CARACTERIZAÇÃO DA LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ
2.1.1. DEDUZIR PRETENSÃO OU DEFESA CONTRA TEXTO EXPRESSO EM LEI OU FATO INCONTROVERSO
Parte da premissa, vencida na hermenêutica contemporânea, de que a lei tem sempre um sentido unívoco. Daí a razão pela qual alude o “texto expresso de lei”. Ocorre que as normas jurídicas normalmente apresentam uma abertura semântica que permite ao interprete construir duas ou mais soluções legitimas a partir de seu conteúdo.
2.1.2. ALTERAÇÃO DA VERDADE DOS FATOS
Nelson Nery Junior afirma que:
“Alterar a verdade dos fatos consiste em afirmar fato inexistente, negar fato existente, ou dar versão mentirosa para fato verdadeiro”,
 De forma que basta a culpa ou o erro inescusável para a caracterização da litigância de má-fé.
A alteração da verdade dos fatos, hipótese caracterizadora de litigância de má-fé,
tem estreita relação com o dever de verdade processual. Trata-se, também, de afronta ao dever de boa-fé e de lealdade processual.
2.1.3. USAR DO PROCESSO PARA CONSEGUIR OBJETIVO ILEGAL
Ora, a utilização do processo, isto é, a propositura de uma demanda é um
instrumento de realização de direitos e cumprimento deveres, promovido pelo Estado, com o
objetivo de trazer soluções aos mais diversos conflitos de interesses da sociedade. Logo, deve
o processo ser regido por princípios que vedem a atuação temerária e injusta de indivíduos
que visem ao prejuízo alheio (dever de verdade processual, dever de probidade, dever de
lealdade processual, dever de boa-fé). Tratam-se, aqui, dos casos em que o Poder Judiciário é ludibriado com a propositura de uma ação, que visa ser um mero expediente para que a parte maliciosa possa obter o que não é permitido pelo nosso ordenamento jurídico, causando, em diversas ocasiões, prejuízos à parte contrária e a terceiros. Deve-se ter em mente que a hipótese em estudo é de difícil reconhecimento no caso prático, pois não existe parâmetro específico para que se possa reconhecer se a parte, por meio do processo, quer atingir objetivo ilegal. Dessa forma, o ordenamento jurídico pátrio dá à sensibilidade do magistrado a confiança necessária para realizar tal tarefa.
2.1.4. RESISTÊNCIA INJUSTIFICADA AO ANDAMENTO DO PROCESSO
O retardamento do andamento processual traz inúmeros prejuízos à parte
contrária, e também à sociedade, pois, indiretamente ela é atingida pelos efeitos da demora na
apreciação das demandas judiciais. É de essencial importância que o processo tenha uma duração razoável, sem que seja finalizado muito rapidamente e sem que leve muito tempo para ser julgado. Trata-se de direito fundamental previsto no artigo 5º, LXXVIII da Constituição Federal.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
(...) LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a
razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação.
A possibilidade de se obter a tutela jurisdicional em tempo razoável confunde-se,
em grande parte, com a efetividade do processo, de modo que a resistência injustificada ao
andamento do processo gera a morosidade processual, que, em muitas situações, apresenta-se
como a principal causa de descrédito do Poder Judiciário.
2.1.5 PROCEDER DE MODO TEMERÁRIO EM QUALQUER INCIDENTE OU ATO DO PROCESSO. 
A lei impõe às partes que a boa-fé seja perseguida tanto no processo principal
como em seus incidentes, e também nos demais atos processuais. A intenção do legislador no
inciso ora em estudo é circunscrever as possibilidades de improbidade processual, de forma
que a conduta temerária ensejada e, eventualmente praticada pelo improbus litigator não fuja
às penalidades da lei, dando-lhe chances mínimas de atuar maliciosamente.
2.1.6. PROVOCAR INCIDENTES MANIFESTAMENTE INFUNDADOS
É aquele que é provocado sem qualquer possibilidade de êxito e cujo ausência de viabilidade vai desde logo aferida pelo órgão jurisdicional. 
Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery afirmam que:
Agindo o litigante de forma procrastinatória, provocando incidentes destituídos de fundamentação razoável, será considerado de má-fé
Aduz Rosângela Laskoski Biscaia que o incidente infundado dispensa o elemento subjetivo, 
“Não se exige elemento intencional quando verificada a ausência de fundamento, pois, quem provoca incidentes processuais manifestamente infundados, revela, no mínimo, um comportamento culposo.”.
2.1.7. INTERPOR RECURSO COM INTUITO MANIFESTAMENTE PROTELATÓRIO
Ao mesmo tempo em que os princípios do contraditório e da ampla defesa e do
duplo grau de jurisdição asseguram o ataque a decisões proferidas pelos magistrados, a lei pune o comportamento da parte e do terceiro, que faz uso de recurso com o objetivo de procrastinar a marcha processual, exigindo acurado exame dos fatos pelo magistrado, e o cotejo da lei com os elementos objetivos do processo. A procrastinação ocorre com maior frequência em relação ao recurso de embargos de declaração. Se a parte interpuser esse recurso, afirmando que a decisão seria injusta, sem identificar a omissão, a obscuridade e/ou a contradição a ser sanada, entendemos que o magistrado está autorizado a aplicar o dispositivo,observando o princípio da fundamentação.
CONCLUSÃO
Por se tratar de um instrumento legal, técnico e ético, que busca o reconhecimento
ou a satisfação de um direito, o processo deve ser pautado pela boa-fé, lealdade, probidade e
respeito entre as partes. Ocorre, entretanto, que as condutas maliciosas e desleais dificultam o exercício do processo em fornecer à sociedade a tutela jurisdicional pretendida. Logo, devem as partes pautar suas condutas no dever de lealdade processual, no dever de verdade processual e na boa-fé processual, para que seja garantida uma “luta leal” entre as partes, e como consequência, o desfecho mais justo possível da demanda. A litigância de má-fé é o desrespeito aos princípios e deveres previstos no artigo 5° do novo CPC (boa-fé processual, verdade processual, probidade processual), levando ao retardamento do andamento processual e, por vezes, prejuízos à parte contrária. Percebe-se que a litigância de má-fé se caracteriza mediante um ato processual eivado de um vício moral e ético, que fere o objeto deste ato, geralmente com intuito protelatório, impedindo, por vezes o exercício de direitos, como no caso das demandas intentadas contra texto expresso de lei ou contra fato incontroverso. Por um lado, o Novo CPC traz previsões explícitas para combater a litigância de má-fé. Revela, então, interesse de evitar a sobrecarga do Judiciário com processos desnecessários e preservar a celeridade e eficácia do processo. Por outro, uma interpretação muito estrita dessas previsões pode limitar os direitos de ação e de defesa assegurados pela Constituição Federal. E não se pode esquecer de que nem sempre é fácil comprovar a existência de litigância de má-fé. Dessa forma, existe um dilema que só pode ser superado se a litigância de má-fé for combatida pelos próprios advogados, na representação de seus clientes. Em outras palavras, é necessária ética no Direito. Desse modo, ao invés de reprimir a litigância de má-fé, será possível preveni-la.
REFERÊNCIAS
BISCAIA, Rosângela Lascosk, Litigância de má-fé no Processo do Trabalho e a Condenação Solidária do Advogado, 2006, 125 f., Dissertação. Curso de Pós-graduação. Pontíficia Universidade Católica de São Paulo, p.64.
CASTRO FILHO, José Olímpio de. Abuso do direito no processo civil. 2ª ed. Revisada e atualizada. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1960 apud Paulo Fernando de Britto Feitosa, 2010, p.121.
JUNIOR, Nelson Nery, NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil Comentado e legislação extravagante. 10ª edição revista, atualizada e ampliada, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 213.
JUNIOR, Nelson Nery, NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil Comentado e legislação extravagante. 10ª edição revista, atualizada e ampliada, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 214.
MASCHIETTO, Leonel. A litigância de má-fé na Justiça do Trabalho e a análise da responsabilização do advogado. 2006, 235 f. Dissertação Curso de Pós-graduação. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, p.46.
Revistados STOCO, Rui. Abuso do Direito e Má-fé Processual (Aspectos Doutrinários). São Paulo: Editora Tribunais, 2002.

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