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AÇÃO DE REGRESO NAS CAMBIAIS

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
RUAN DIEGO DE LIMA SOUSA – RA00155134 - MB4
AÇÃO DE REGRESSO NAS CAMBIAIS
SÃO PAULO
2015
DECLARAÇÕES CAMBIAIS
 
Declaração cambial é a maneira pela qual alguém se obriga num título de crédito lançando a sua assinatura. Sob a égide das obrigações cambiais, somente será obrigado cambiariamente aquele que apõe sua assinatura num título de crédito. As declarações cambiais são: saque, aceite, endosso e aval.
Para a formalidade de constituição e exigibilidade do crédito cambiário há que se atentar para a lei especial de cada título que dispõe as regras dos atos cambiários nas relações creditórias e suas características específicas, compatíveis com cada título de crédito.
 
 
Saque ou emissão
 
O saque (ou emissão) é o ato cambiário de criação de um título de crédito. Configura declaração cambial relacionada a constituição do crédito cambiário e tem como efeito vincular o sacador/emitente ao pagamento. 
 
 
Aceite
 
Aceite é ato cambiário pelo qual o sacado reconhece a validade da ordem de pagamento e expressa sua concordância.
É ato de iniciativa do sujeito sacado em títulos que são considerados ordem de pagamento. Nestes termos, o sacado concorda com a ordem lançando sua assinatura no anverso do título ou no verso - desde que identificado pela expressão “aceito” – e se torna aceitante. Destarte, sacado não é obrigado cambiariamente. Sob a égide das obrigações cambiais retro esposada, somente será obrigado cambiariamente aquele que apõe sua assinatura num título de crédito. Assim, o sacado é obrigado cambiário somente após o aceite, momento em que abandona a situação jurídica de sacado e assume a situação jurídica de aceitante, devedor principal do título.
 
Endosso
 
O endosso é o ato cambiário de transferência do direito documentado em título de crédito nominativo a ordem.  É ato exclusivo do beneficiário cujo nome esteja expresso no título. Ao proceder ao endosso, o beneficiário abandona a situação jurídica de beneficiário e assume a posição jurídica de endossante, co-obrigado na relação creditória.
Conceitua-se endossante o sujeito que transfere os diretos creditórios constantes do título por endosso ao endossatário, sujeito que assume a posição de credor do título por endosso.
O endosso se consuma pela assinatura do endossante no título acompanhada de tradição, entrega efetiva do documento ao endossatário.
Na transferência do título pelo endosso, não se configura sucessão jurídica entre endossante e endossatário. Sob a égide do princípio da autonomia das obrigações cambiárias, o endossatário adquire direito autônomo, sendo incabível suscitar irregularidades anteriores constantes do título. A relação direta existe apenas entre endossante e endossatário.
Regra geral, o endosso produz dois efeitos:
a) transfere a titularidade do crédito, exceto nos casos de endossos impróprios (endosso-mandato e endosso-caução;
b) vincula o endossante na qualidade de coobrigado (art. 15) salvo endosso sem garantia ou cláusula proibitiva de novo endosso.
Classificam-se os endossos em endossos translativos e endossos impróprios. O endosso translativo transmite o direito emergentes do título e a propriedade do documento. São admissíveis as seguintes espécies de endosso translativo:
a) endosso em branco na qual não se especifica a quem é transferido o título (endossatário);
b) endosso em preto (nominativo ou pleno), havendo identificação expressa do nome daquele que recebe o título por endosso (endossatário) geralmente precedido da declaração de transferência (“pague-se a ...”); 
c) endosso ao portador: endosso feito a pessoa não determinada, precedido da declaração de transferência (“pague-se ao portador”);
Os endossos impróprios não produzem efeito de transferir a titularidade do crédito, mas legitimam a posse. Enquadram-se nesta categoria:
i) endosso-mandato ou endosso procuração: não transmitem titularidade, apenas legitima posse do mandatário/procurador para proceder aos atos em nome do mandante, proprietário do título;
ii) endosso-caução ou endosso pignoratício: título é onerado por penhor a favor do endossatário que fica na posse; endossatário é credor pignoratício do endossante.
O endosso sem garantia não produz efeito de vincular o endossante ao pagamento do título. O título assim endossado isenta o endossante de forma absoluta da responsabilidade de garantir o pagamento do cheque ao endossatário e credores posteriores. Nesta hipótese o endosso tem efeito de cessão de crédito.
Poderá ainda o endossante ser garante do pagamento apenas em relação ao endossatário, inserindo cláusula proibitiva de novo endosso. Neste caso, o endossante não garante o pagamento se houver transgressão da proibição a quem seja o título posteriormente endossado e tal endosso terá efeito de cessão de crédito.
 
Aval
 
Aval é  ato cambiário de garantia, admitindo-se as espécies em branco (não identifica a quem é dado, o avalizado) e em preto (há identificação do avalizado). É o ato cambiário pelo qual o avalista, garante a dívida de avalizado.
Avalizado é o devedor que se beneficia do aval, tendo sua dívida garantida perante o credor. Assegura-se direito de regresso contra co-obrigados anteriores no título ao avalista que é obrigado a pagar obrigação cambiária de avalizado.
FORMAS DE AÇÃO CAMBIAL
A ação cambial pode ser de duas formas, dependendo de contra quem será movida e da causa de sua propositura:
a) ação direta: é estabelecida contra o devedor principal (sacado, na letra de câmbio e duplicata; emitente, na nota promissória e no cheque) e seus avalistas, sendo nesta hipótese o protesto do título facultativo, pois independe deste para iniciar o exercício de seu direito de ação. É necessário que seja visível a verificação do não pagamento, bem como a sua não efetuação na data prevista.
O avalista e o credor poderão ser cobrados em conjunto ou individualmente. Ao avalista a situação equiparada ao devedor principal, possibilita que a ação seja movida inicialmente contra ele, antes do devedor. Mas a ele cabe, depois de pagar a importância devida, agir em regresso contra o aceitante, e caso este não satisfaça, poderá se voltar aos obrigados anteriores.
 b) ação indireta ou ação regressiva: aquela que é movida pelo portador atual contra os obrigado anteriores, como no caso do endossante que paga ao endossatário. Ela hoje se consubstancia na ação de regresso, havendo obrigatoriedade da existência de protesto, sob pena de perda do seu direito de regresso.
Não satisfeito o credor na totalidade da dívida pelo devedor principal e pelo avalista, será permitido iniciar ação de regresso contra os obrigados regressivos.
PRESCRIÇÃO
Segundo Clovis Bevilaqua, prescrição seria a perda da ação atribuída a um direito de toda sua capacidade defensiva em consequência do não uso delas, durante um determinado espaço de tempo.
A ação Cambial prescreve em períodos distintos em relação aos diferentes signatários da letra de câmbio.
“Art. 70 - Todas as ações contra ao aceitante relativas a letras prescrevem em três anos a contar do seu vencimento. As ações ao portador contra os endossantes e contra o sacador prescrevem num ano, a contar da data do protesto feito em tempo útil ou da data do vencimento, se se trata de letra que contenha cláusula "sem despesas". As ações dos endossantes uns contra os outros e contra o sacador prescrevem em seis meses a contar do dia em que o endossante pagou a letra ou em que ele próprio foi acionado.”
	CREDOR
	DEVEDOR
	PRAZO
	DISPOSITIVO LEGAL
	Qualquer signatário portador, endossante e avalista e ainda o sacador
	Aceitante e seus avalistas
	3 anos a contar do vencimento
	Art. 70, primeira parte LU
	Portador
	Endossantes e seus avalistas, sacador e seus avalistas.
	1 ano a contar do protesto em tempo hábil
	Art. 70, segunda parte LU
	Endossantes
	Em relação aos demais endossantes ou endossantes sacadores.
	6
meses a contar do dia em que pagou ou do dia em que foi acionado
	Art. 70, terceira parte LU
DIFERENÇAS ENTRE A SOLIDARIEDADE CAMBIAL PARA A SOLIDARIEDADE CIVIL
Os devedores do título cambial são devedores solidários. Há uma solidariedade cambiária que o Fábio Ulhoa Coelho chama de regressividade, que não se confunde em hipótese nenhuma com a solidariedade civil, eis que vigora no direito cambiário o princípio da autonomia e consequentemente a inoponibilidade das exceções. 
A solidariedade civil decorre da lei ou do contrato. Nesta solidariedade o credor poderá cobrar de um e/ou de todos os devedores toda a dívida. Uma vez que um dos devedores paga a dívida inteira, ele terá o direito de regresso, ou seja, poderá cobrar dos demais devedores a cota parte que cada um deles devia. Os devedores são ligados ao mesmo credor através de uma única obrigação. Se uma obrigação estiver viciada, este vício alcança a todos os devedores porque as obrigações civis não possuem autonomia, por exemplo, se a obrigação de pagar a dívida prescrever para um devedor, ela também prescreverá para todos os outros. 
A solidariedade cambiária é diferente da solidariedade civil. Na solidariedade cambiária há autonomia nas relações jurídicas. Cada devedor possui a sua própria obrigação. As obrigações cambiárias são autônomas e independentes. Cada devedor possui a sua própria obrigação. Se houver um vício intrínseco em uma obrigação cambiária, este vício não será estendido aos demais devedores. E o vício de uma relação cambiária não pode ser oposto pelo sujeito que figurar em outra relação cambiária. 
A solidariedade cambiária só tem em comum com a solidariedade civil a possibilidade de o credor executar qualquer um dos devedores ou todos conjuntamente. Na solidariedade cambiária não se admite o chamamento ao processo, previsto no art. 77, III do CPC (devedores solidários em relação à uma dívida comum) porque na solidariedade cambiária há o princípio da autonomia e consequentemente, há o princípio da inoponibilidade de exceções pessoais, o que demonstra que cada devedor cambiário tem a sua própria obrigação, que não se confunde com as obrigações dos demais devedores, pois são autônomas e independentes.
JURISPRUDÊNCIAS
JURISPRUDÊNCIA 01
TJ-SC - Apelacao Civel AC 58168 SC 2003.005816-8 (TJ-SC)
Data de publicação: 08/09/2005
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA LASTRADA EM BORDERÔS DE DESCONTO, RELATIVOS A DUAS DUPLICATAS E CARTA DE FIANÇA - SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA, CONDENANDO A DESCONTÁRIA DOS TÍTULOS E RESPECTIVOS GARANTES AO PAGAMENTO DA DÍVIDA - INSURGÊNCIA DOS ACIONADOS - PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DOS FIADORES REJEITADA - EXISTÊNCIA DE SOLIDARIEDADE ENTRE A OBRIGADA PRINCIPAL E RESPECTIVOS GARANTES, AUTORIZANDO A FORMAÇÃO DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO PARA COBRANÇA DA DÍVIDA (ART. 1492 , I E II , CC/16 E ART. 46 , CPC )- MÉRITO - ALEGAÇÃO DE IMPOSSIBILIDADE DA COBRANÇA FRENTE A FALTA DE PROTESTO DAS CÁRTULAS, ACARRENTANDO A PERDA DO DIREITO DE REGRESSO DA ENDOSSATÁRIA - INOCORRÊNCIA FACE A PRETENSÃO ESTAR LASTRADA NOS BORDERÔS DE DESCONTO SUBSCRITOS PELA DEVEDORA/AFIANÇADA, CONSTANDO A DESCRIÇÃO DO TÍTULO, VALOR DA OBRIGAÇÃO E ACESSÓRIOS, COMO O RESPECTIVO VENCIMENTO - AUSÊNCIA, CONTUDO, DE PROVA DO INADIMPLEMENTO DO SACADO EM RELAÇÃO A UMA DAS CÁRTULAS, DADA A AUSÊNCIA DO PROTESTO - ÔNUS DA PROVA DE FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO DA AUTORA/RECORRIDA (ART. 333 , I , CPC )- EXCLUSÃO DA IMPORTÂNCIA REPRESENTADA NA CAMBIAL NÃO PROTESTADA - PRECEDENTE DA CÂMARA - RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. "A ação de cobrança de contrato de desconto de duplicatas tem por pressuposto a inadimplência do sacado, o que se demonstra através do respectivo protesto. Não tendo o banco credor trazido aos autos o referido instrumento, furtou-se em comprovar o fato constitutivo do direito invocado, ferindo o disposto no art. 333 , I , do Código de Processo Civil , sendo, portanto, em relação àqueles fatos não demonstrados, improcedente o pedido formulado" (AC n. , de São Carlos. Relator: Des. Gastaldi Buzzi, J. 24.04.03).
JURISPRUDÊNCIA 02
TJ-SP - Apelação APL 00354747120068260309 SP 0035474-71.2006.8.26.0309 (TJ-SP)
Data de publicação: 31/07/2015
Ementa: AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE CAMBIAIS, COMBINADA COM SUSTAÇÃO DOS EFEITOS DO PROTESTO, TUTELA ANTECIPADA E DANO MORAL - PROTESTO INDEVIDO DE CHEQUES, CUJOS PAGAMENTOS FORAM RECEBIDOS - PROVA ORAL - SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA - DANO MORAL, RECONHECIDA A SOLIDARIEDADE DOS CORRÉUS, FIXADO EM R$ 15 MIL. 1. APELAÇÃO (EMPRESA) - LEGITIMIDADE PASSIVA INEQUÍVOCA - EFEITOS DA OUTORGA JUDICIAL - ENDOSSO TRANSLATIVO DOS CHEQUES - CERCEAMENTO DE DEFESA INOCORRENTE – PROVA DOCUMENTAL HÍGIDA - COMPOSIÇÃO NA FALÊNCIA - IMPOSSIBILIDADE DE EXECUÇÃO DE CÁRTULAS DADAS EM GARANTIA - REGRESSO FACULTADO - NEXO CAUSAL - ABUSO DO EXERCÍCIO DO DIREITO - PROTESTOS INDEVIDOS - VALOR DO DANO MORAL CRITERIOSAMENTE FIXADO - CONSCIENTIZAÇÃO E INIBIÇÃO DE CONDUTA DE CULPA GRAVE - ART. 186 DO CÓDIGO CIVIL - RECURSO DESPROVIDO. 2. APELAÇAO (CORRÉU) - LEGITIMIDADE PASSIVA CARACTERIZADA - PROTESTO INDEVIDO E ABUSIVO DE CHEQUES, CUJOS VALORES FORAM PAGOS - CERCEAMENTO DE DEFESA INEXISTENTE - RISCO MANIFESTO DE COBRANÇA DE VALOR PAGO - DANO MORAL CRITERIOSAMENTE FIXADO - RECURSO DESPROVIDO. 3, AMBOS RECURSOS DESPROVIDOS, COM OBSERVAÇÃO.

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