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Livro Leitura e Produção de Texto

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LICENCIATURA
LEITURA E
PRODUÇÃO DE TEXTOS
José Genésio Fernandes
Maria Emília Borges Daniel
ead
Coordenadoria de Educação
Aberta e a Distância
Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Luiz Inácio Lula da Silva
MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Fernando Haddad
SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Carlos Eduardo Bielschowsky
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
REITOR
Manoel Catarino Paes - Peró
VICE-REITOR
Amaury de Souza
COORDENADOR DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA - UFMS
COORDENADOR DA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL - UFMS
Antonio Lino Rodrigues de Sá
COORDENADOR ADJUNTO DA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL - UFMS
Cristiano Costa Argemon Vieira
COORDENADORA DO CURSO DE LETRAS - PORTUGUÊS E ESPANHOL (MODALIDADE A DISTÂNCIA)
Damaris Pereira Santana Lima
CÂMARA EDITORIAL
SÉRIE
Antonio Lino Rodrigues de Sá
Dario de Oliveira Lima
Damaris Pereira Santana Lima
Jacira Helena do Vale Pereira
Magda Cristina Junqueira Godinho Mongelli
APRESENTAÇÃO
Prezados aprendentes:
Bem vindos ao Curso de Graduação da Coordenadoria de Educação a
Distância/UFMS! Vocês estão participando de um curso de graduação “a
distância”, mas não estão sozinhos, por vários motivos.
Primeiro, porque não são alunos confinados em espaço e tempo de sala
de aula presencial, onde o professor tem posição privilegiada no espaço e
comando absoluto do tempo. A sala agora é bem mais ampla e sem bordas:
São Gabriel do Oeste, Água Clara, Rio Brilhante; Siqueira Campos, Nova
Londrina, Paranavaí, Cruzeiro do Oeste, Cidade Gaúcha; Apiaí e Igarapava.
Segundo, porque estão juntos, fazendo parte de um grande grupo de
pessoas no qual só existem mesmo aprendentes. São aprendentes todos
os envolvidos nas atividades desta disciplina, Leitura e Produção de Textos:
aqueles que optaram por outros cursos como os de Letras Português-
Espanhol, Matemática, Pedagogia e Pedagogia-Educação Especial; os
coordenadores, os professores, os tutores à distância, os tutores presenciais
e os bibliotecários. Todos desejosos da moeda mais cobiçada e nunca
plenamente conquistada: o conhecimento imprescindível para viver e
operar no mundo de hoje.
Assim, no horizonte de expectativas dos aprendentes, não há lugar para
aquela pedagogia da vigilância de gente sem aspiração – mas somente
para atitudes de autodisciplina, de responsabilidade e de empenho para
aprender sempre MAIS e COM os outros. Pois, como diz o poema de
Antonio Machado: “Caminhante, são teus rastos o caminho, e nada mais./
caminhante, não há caminho, faz-se caminho ao andar. / Ao andar faz-se o
caminho, / E, ao olhar-se para trás, vê-se a senda que jamais se há de voltar
a pisar. / Caminhante, não há caminho. Somente sulcos no mar”.
Boa sorte.
Professores:
José Genésio Fernandes
Maria Emília Borges Daniel
Sobre os autores
JOSÉ GENÉSIO FERNANDES
é Professor de Semiótica e de Leitura e Produção de Textos no Departamento de Letras –
Centro de Ciências Humanas e Sociais – da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Atua também no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem da mesma
universidade. É Mestre em Teoria da Literatura, pela Universidade Federal de Pernambuco,
e Doutor em Semiótica e Lingüística Geral pela Universidade de São Paulo.
É artista plástico e coordenador da revista Rabiscos de Primeira:
caderno de publicação dos alunos de graduação em Letras da UFMS.
E-mail: jfernand@nin.ufms.br
MARIA EMÍLIA BORGES DANIEL
é Professora de Língua Portuguesa e Lingüística no Departamento de Letras –
Centro de Ciências Humanas e Sociais – da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Atua também nos programas de pós-graduação em Estudos de Linguagem e em Educação
da mesma universidade. É Mestre em Lingüística Aplicada - Ensino e Aprendizagem
de Língua Materna –, pela Universidade Estadual de Campinas, e Doutora
em Semiótica e Lingüística Geral pela Universidade de São Paulo.
Atualmente desenvolve pesquisa na área de Lingüística Textual.
E-mail: mariaemi@nin.ufms.br
Imagem de capa:
Árvore de letras - óleo sobre cartão
Genésio Fernandes
 tância
Para começo de conversa 7
UNIDADE 1
Fundamentos e pressupostos conceituais sobre o texto 15
1 Considerações sobre algumas noções básicas 17
1.1 Considerações sobre a noção de linguagem,
língua, texto e gênero 18
1.2 Considerações sobre a noção de leitura,
de produção de sentidos e de práticas de leitura 26
UNIDADE 2
O texto e suas condições de produção e interpretação 33
2 Conhecimentos de que dependem a leitura e a escrita de textos 35
2.1 A produção de textos escritos: conhecimentos a serem considerados 37
2.2 O contexto nos processos de construção de sentidos na leitura e na escrita 43
2.3 Texto e intertextualidade 47
2.4 Texto e gêneros textuais 49
UNIDADE 3
O texto e suas estratégias de construção e interpretação 59
3 Referenciação e progressão referencial 61
3.1 Estratégias de referenciação 64
3.2 Formas de introdução de referentes no modelo textual 65
3.3 Retomada ou manutenção no modelo textual 65
Coerência textual: um princípio de interpretabilidade 71
SUMÁRIO
6 LETRAS (Português e Espanhol) – Licenciatura
EM BRANCO
VERSO DE PÁGINA
7Leitura e Produção de Textos
Vamos lá! Esta é a disciplina intitulada “Leitura e produção de
textos!”.
Em nosso curso, vamos falar muito da atividade que os ho-
mens realizam com a linguagem. É. Os homens agem uns sobre os
outros, com e por meio da linguagem. Já reparou? Dia e noite, eles
estão produzindo e lendo textos, com algum objetivo. Dessa imen-
sa produção linguageira resultam as imagens desses homens, de
suas comunidades, de seus países. Se um povo morre e deixa tex-
tos, podemos saber dele por meio da leitura dos textos que deixou.
Se não deixa textos, desaparece para sempre.
Esta disciplina tem três unidades. Cada unidade está dividida
em tópicos ou subunidades. A disciplina tem como objetivo apre-
sentar e discutir pressupostos conceituais sobre o texto e compre-
ender as estratégias exigidas para sua construção e interpretação.
Primeiro, jogamos a peteca para você:
• O que é linguagem?
• O que é língua?
• O que é texto?
• O que é gênero?
• O que é leitura?
• Que tipos de conhecimento a leitura e a escrita mobilizam?
1 PARA COMEÇO DE CONVERSA
Está vendo? Com essas perguntas, surgem
respostas e outras perguntas na sua cabeça. Todo
mundo sabe um pouco. Ajuntando esse pouco
com o pouco que os outros sabem dá uma bolada
grande... de sabedoria. Tente responder a essas
questões e anote suas reflexões. Assim, no final da
disciplina, você poderá verificar se o que já sabe
cresceu com a contribuição das aulas,
das leituras e dos colegas.
8 LETRAS (Português e Espanhol) – Licenciatura
Perguntando e respondendo, você vai fazer o seu caminho de
“aprendente”. Seus colegas e nós, também. Aprendemos a vida
inteira e aprendemos mais quando ninguém nos obriga a isso. É
ou não é? Como diz o poema de Antonio Machado, o caminho se
faz caminhando:
Caminhante, são teus rastos o caminho, e nada mais.
Caminhante, não há caminho, faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se o caminho,
E, ao olhar-se para trás, vê-se a senda que jamais se há de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho. Somente sulcos no mar
1.1 Introduzindo a Disciplina
A disciplina LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO é obrigatória
para os alunos dos diferentes Cursos de Graduação. O objetivo dela
é contribuir para que o aluno tenha bom desempenho em duas
atividades de linguagem, indispensáveis em qualquer área do co-
nhecimento.
São essas mesmas em que você está pensando: atividades de
leitura e de produção de textos.
Como um aluno de matemática, de pedagogia ou de letras pode
cumprir as atividades do curso sem aptidão para ler e escrever tex-
tos? Como poderá interagir com o conhecimento produzido e ar-mazenado nos livros e nos sites da Internet? Como poderá interagir
com os colegas do curso, lendo e redigindo textos para construir e
expor suas idéias, para concordar ou discordar dos outros? Tudo
passa pela linguagem.
A questão da linguagem é, pois, uma questão central para to-
dos os domínios do conhecimento, para todos os cursos, para to-
das as disciplinas. Esta disciplina tem como objetivo oferecer opor-
tunidade de você se tornar um bom leitor e produtor de textos.
Entretanto, esse não é objetivo só desta disciplina, mas de todas as
outras, durante todo o tempo que durar seu Curso de Gradua-
ção. Trata-se de um aprendizado constante e da responsabilidade
de todos os professores – não somente do professor de Língua
Portuguesa. Saber ler e produzir textos com proficiência é o mais
significativo sinal de bom desempenho lingüístico, como bem
observa Fiorin (2003, p. 3).
 Quais são essas atividades que tanto o aluno de
matemática quanto o aluno de psicologia é obrigado a
realizar no Curso de Graduação?
9Leitura e Produção de Textos
Mas o que é saber ler?
Podemos afirmar que um aluno é bom leitor quando demons-
tra ser capaz de interagir com o autor, por meio do texto, e de
construir os significados inscritos no interior de um texto, rela-
cionando tais significados com o conhecimento de mundo do
seu tempo. Ler é, portanto, uma atividade complexa de cons-
trução de um sentido para o texto, utilizando o conhecimento
lingüístico, o conhecimento de mundo e o conhecimento ad-
quirido nos livros.
 É ser capaz de realizar a ação que se tem em mente, por meio
do texto. Um exemplo ajuda a entender isso. Se minha loja de
eletrodoméstico está com o estoque baixo, preciso fazer o meu for-
necedor saber disso, das minhas necessidades, do meu interesse
de compra, da quantidade e das especificidades dos produtos de-
sejados. Uma ação como essa se faz por meio da redação de um
gênero específico de texto: o pedido de compra. Você pode me
dizer que isso até o carregador da loja sabe fazer, sem muito estu-
do. Ele pode dispor de informações sobre tudo o que a loja precisa
e até mais do que o dono. Sabe, sim. O que ele não sabe é identifi-
car o gênero de texto apropriado para fazer isso, hierarquizar as
informações e estabelecer relações apropriadas entre elas, para ar-
gumentar e defender pontos de vistas. Essa capacidade de realizar
tais articulações no interior de um texto não é muito comum hoje
em dia.
Muita gente pensa que essa capacidade é resultado de bons co-
nhecimentos gramaticais e de rigoroso treinamento em redação e
análise de frases isoladas. Grande engano! É preciso muito mais do
que isso, pois a construção de um determinado gênero de texto
envolve atividades mais complexas do que a justaposição de uma
frase ao lado de outra. Envolve conhecimento dos mecanismos de
construção textual e capacidade de operar com eles para produzir
os efeitos de sentido pretendidos.
Esperamos que você vá fazendo o seu caminho de aprendente
nessa teia de interações com os colegas, os professores e os tutores
e que esta disciplina contribua para que tenha sucesso no curso
escolhido. Esperamos que possamos nos tornar uma comunidade
aprendente, isto é, todos nós nos colocando em atitude de ensinar
e de aprender, abertos para o novo e capazes de socializar experi-
ências e conhecimentos.
Que a sua caminhada nesta disciplina seja prazerosamente
enriquecedora!
E o que é ser bom produtor de texto?
10 LETRAS (Português e Espanhol) – Licenciatura
1.2 Plano da Disciplina:
Leitura e Produção de Texto
Carga horária: 60 horas
Professores: José Genésio Fernandes e
 Maria Emília Borges Daniel
OBJETIVOS
Geral:
Possibilitar o desenvolvimento de competências, habilidades e es-
tratégias essenciais para a leitura e a produção de textos, com vistas
à conscientização sobre a natureza sociointerativa da linguagem
no processo de formação integral do educador.
Específicos:
– dar condições para o aluno compreender o texto como um todo
de sentido, um tecido cujo fim é a produção de efeitos de sentido;
– possibilitar a compreensão do gênero de texto como forma de
ação social e historicamente situada;
– possibilitar a compreensão da leitura como um processo com-
plexo de construção de sentido;
– oferecer conhecimentos e exercícios para o aprimoramento da
capacidade de leitura e de produção de diferentes gêneros de tex-
tos, de maneira crítica.
EXPERIÊNCIAS DE APRENDIZAGEM
Ao longo de cada unidade serão propostas leituras e atividades a
serem desenvolvidas individualmente, discutidas com o Tutor e
socializadas, isto é, colocadas no FÓRUM para leitura e apreciação
de todos os participantes de todas as cidades.
Leituras: em cada unidade será apresentado um tema (Texto-base),
a ser estudado e debatido e a indicação de Leituras Complementa-
res (Saber mais). Para aprofundamento de subtemas, serão
indicadas obras ou páginas na Internet (Referências).
Interação: para discussão dos textos e das atividades, o aprendente
contará com o apoio do tutor, recorrendo a diferentes ferramentas
TEMAS
Unidade II
O texto e suas condições de
produção e interpretação
Unidade I
Fundamentos e pressupostos
conceituais sobre o texto
Unidade III
O texto e suas estratégias de
construção e interpretação
11Leitura e Produção de Textos
e meios de comunicação (tira-dúvidas, bate-papo, telefone, fax), e
poderá trocar idéias com colegas de curso (Fórum, Webmail).
Processo avaliativo
As atividades de aprendizagem encontradas nas unidades ser-
vem de auto-avaliação e são discutidas nos momentos do Fórum e
do Bate-Papo.
Ao final da disciplina, apoiado nas reflexões construídas ao lon-
go das leituras, o aprendente produzirá texto sobre bases teórico-
metodológicas do projeto pedagógico do curso a distância em que
vai atuar.
AMPLIANDO HORIZONTES
Como você pode observar no Plano do curso, o objetivo central
desta disciplina é colocar você em contato com um saber e um saber-
fazer específicos: leitura e produção de diferentes gêneros de texto, ou
seja, possibilitar-lhe o desenvolvimento de competências, habili-
dades e estratégias essenciais para a leitura e a produção de textos
de circulação geral e acadêmica, com vistas à conscientização so-
bre a natureza sociointerativa da linguagem no processo de sua
formação profissional integral.
Por isso, organizamos o seu percurso em 3 unidades temáticas:
Na unidade I – Fundamentos e pressupostos conceituais so-
bre o texto: faremos estudos do texto em suas dimensões teórica e
prática, enfocando seus aspectos constitutivos mais fundamentais,
desde as condições externas de produção e interpretação até os
elementos internos de configuração textual e enunciativa, demons-
trando que a leitura e a produção de textos são atividades de cons-
trução de sentido que pressupõem a interação autor-texto-leitor
Na unidade II – O texto e suas condições de produção e in-
terpretação: discutiremos que, além das pistas e sinalizações que o
texto oferece, entram em jogo, na construção do sentido, os co-
nhecimentos do leitor e do produtor. É desses conhecimentos que
trataremos nessa unidade.
Na unidade III – O texto e suas estratégias de construção e
interpretação: enfatizaremos que a referenciação é uma atividade
discursiva e que o processamento textual se dá numa oscilação entre
vários movimentos: um para a frente
(projetivo) e outro para trás (retrospec-
tivo), representáveis parcialmente pela
catáfora e pela anáfora, respectivamen-
te, além dos movimentos abruptos, fu-
sões, alusões, etc.
Conforme Koch & Elias (2006, p. 135), “As-
sim sendo, longe de se constituir como a soma
de elementos novos com outros já postos em
etapas posteriores, o texto é um universo de
relações seqüenciadas, mas não lineares”.
12 LETRAS (Português e Espanhol) – Licenciatura
PONTO DE ENCONTRO
 Esperamos que, aofinal das leituras e discussões feitas ao longo
da Disciplina, você possa:
• conhecer e discutir os fundamentos e pressupostos conceituais
sobre texto e leitura, compreendendo a produção e a leitura de
textos como atividades interativas de construção de sentido;
• analisar o texto, considerando-o dentro de suas condições de
produção e interpretação;
• avaliar o texto, levando em consideração suas estratégias de
construção e interpretação.
Nos encontros a distância, a intenção é provocar sua reflexão
sobre essa coisa que é como a água para o peixe: a linguagem, esse
líquido, esse ar dentro do qual e a partir do qual os homens criam
um mundo de significados. No bojo dessa questão, a compreensão
do processo de produção de texto e de leitura é fundamental para
o sucesso do aprendente em qualquer disciplina, de qualquer curso.
Nos momentos de “encontro”, suas reflexões serão socializadas
nos espaços que a plataforma disponibilizar e/ou presencialmente.
GLOSSÁRIO
A ser construído por todos ao longo das atividades do módulo.
– Linguagem: é uma faculdade, uma capacidade humana. É essa
capacidade que distingue os homens dos animais.
– Língua: é um conjunto de convenções, para permitir o exercício
da faculdade de linguagem – faculdade essa que, como vimos,
preexiste como entidade abstrata a todo e qualquer ato de
comunicação. Com a palavra língua, devemos entender o material,
léxico, gramatical, estocado em competência. A Língua, o conjunto
de convenções, é o que permite ao homem o exercício da linguagem
como uma capacidade humana. A língua é um produto social da
faculdade de linguagem.
– Texto: é um todo organizado de sentido. Dizer que ele é um todo
organizado de sentido implica afirmar que o texto é um conjunto
formado de partes solidárias, ou seja, que o sentido de uma
depende das outras.
Desejamos a você boas leituras e ótimas reflexões.
E que o caminhante, aqui e ali, tenha companhias
na viagem de eterno aprendente.
13Leitura e Produção de Textos
– Gênero: é uma forma de ação sócio-histórica.
– Leitura: é um processo complexo de construção ou de atribuição
de sentido, por meio da interação do leitor com o autor, mediada
pelo texto. Ler não é pegar um sentido pronto, já presente no texto,
diante dos nossos olhos. A atividade de ler é uma construção de
sentido. Construção solitária? Não. Uma construção solidária em
que eu construo o sentido numa relação que envolve o leitor com
sua história de vida e de leitura; o texto como uma construção; o
autor que o elaborou num tempo e num espaço determinados e
com algum propósito.
– Práticas de leitura; o que é isso? Melhor definir isso,
primeiramente, por meio de exemplo: a prática do comer dos
ribeirinhos do rio Acre não é a mesma de uma cidade do sul do
Brasil. Uma moça do Acre foi um dia para um encontro em um
hotel do sul. Depois de 4 dias, disse: não vejo a hora de voltar para
casa para poder almoçar gostoso. Assustado, um dos participantes
exclamou: nossa, mas você não almoçou nesses quatro dias que
está aqui!? Sim, disse ela, mas isso aqui não é almoçar gostoso como
na minha casa. Aqui tem muito talher, muita etiqueta do que pode
e não pode fazer à mesa. Na minha casa temos outras maneiras de
comer: sentamos juntos à mesa ou no chão para comer, pegamos
os alimentos com as mãos para colocar na boca. Almoçar gostoso é
isso, à maneira lá de casa. Se eu fizer isso aqui, vão estranhar e até
ter nojo de mim. Assim, também existem PRÁTICAS DE LEITURA,
maneiras diferentes de usar o livro. A leitura é uma prática
encarnada em gestos, espaços e hábitos. Na leitura religiosa,
recomenda-se beijar a bíblia etc. Você já leu aquele livro intitulado
“livros que se lêem com uma mão só”? Existem lugares mais ou
menos apropriados para a leitura de certas obras. Cada comunidade
de leitores tem seus hábitos. Existe a prática da leitura do romance
sentimental; a prática da leitura do romance policial; a prática da
leitura acadêmica e tantas outras. Cada uma com seus gestos, seus
espaços, suas competências, sua temática e seus objetivos
específicos.
– Etnocentrismo espontâneo da leitura: essa expressão denomina
aquela atitude espontânea de pensar que a única prática de leitura
existente na sociedade é aquela praticada pelos letrados, pelos
chamados de gente culta. A expressão é do autor brasileiro João
Hansen e mencionada por Roger Chartier em sua obra “Au bord
de la falaise”.
– Produção de texto: é o processo complexo de construção de
sentidos por meio da interação do autor com o leitor mediado pelo
texto. Ou seja, é um projeto de dizer, constituído em uma dada
situação comunicativa, para alguém, com certa finalidade e de um
determinado modo, dentre tantos outros possíveis.
Se um dia tiver
interesse em saber
mais, leia a
A ordem dos livros,
de: Roger Chartier
(Brasília: Editora
UnB,1994).
Saiba mais
14 LETRAS (Português e Espanhol) – Licenciatura
REFERÊNCIAS:
OBRAS A SEREM UTILIZADAS PELOS ALUNOS
1. KOCH, Ingedore G. Villaça. e ELIAS, Vanda Maria. Ler e
compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006.
2. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e
funcionalidade. In: DIONÍSIO, Ângela P., MACHADO, Anna R.
e BEZERRA, Maria A. (Orgs.) Gêneros textuais & ensino.
Rio de Janeiro: Lucerna, 2002, p. 18 a 36.
3. ______ Gêneros textuais: configuração, dinamicidade e
circulação. In; KARVNOSKI, Acir Mário & GRYDECZKA (Orgs).
Gêneros textuais: reflexões e ensino. Paraná: Haygangue, 2005.
4. SAVIOLI, Francisco Platão e FIORIN, José Luiz. Lições de
texto: leitura e redação. 4. ed., São Paulo: Ática, 2003.
REFERÊNCIAS:
OBRAS CONSULTADAS
ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo:
Parábola Editorial, 2005.
CARNEIRO, Agostinho Dias. Redação em construção: a escritura do texto. 2.
ed., São Paulo: Moderna, 2001.
CULIOLI, A. Pour une linguistique de l’énonciation. 3 vol. Paris: Opherys,
1990-1999.
DELL’ISOLA, Regina Lúcia P. Retextualização de gêneros escritos. Rio de
Janeiro: Lucerna, 2007.
DRUMMOND, Carlos Drummond de. O poder ultrajovem. São Paulo: Record,
1992, p. 49.
ILARI, Rodolfo. Introdução à semântica: brincando com a gramática. 2. ed.,
São Paulo: Contexto, 2001.
————. Introdução ao léxico: brincando com as palavras. São Paulo:
Contexto, 2002.
KOCH, Ingedore V. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto,
2006.
_______ Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002.
LAKOFF, G. & JOHNSON, M. Metaphores we live by. Chicago: The Chicago
University Press, 1980.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de
retextualização. 6. ed., São Paulo: Cortez, 2005
NEVES, Maria Helena Moura. Gramática de usos do português. São Paulo:
Editora da Unesp, 2000.
15Leitura e Produção de Textos
UNIDADE 1
Fundamentos e
pressupostos conceituais
sobre o texto
16 LETRAS (Português e Espanhol) – Licenciatura
Esta é a primeira unidade do módulo. Mãos à obra.
O objetivo central é que você possa conhecer e discutir alguns
fundamentos e pressupostos conceituais sobre o texto e a leitura
como atividades de produção de sentido na interação humana.
 Para tornar a leitura mais suave e as discussões focadas
em aspectos específicos, dividimos esta primeira
unidade em três subunidades.
Pode começar a leitura. Mas, lembre-se: você não está em
uma aula daquelas entre quatro paredes.
Você é o caminhante, o aprendente.
Você é que faz o seu mapa de viagem.
Pode iniciar a leitura pelo
tópico que mais lhe interessar.
1.1 Considerações sobre a noção de linguagem,
língua, texto e gênero.
1.2 Considerações sobre a noção de leitura,
de produção de sentidos e de práticas de leitura.
17Leitura e Produção de Textos
O que é linguagem? O que é língua? O que é um texto? Como
é produzido o sentido no texto? Uma carta íntima é um texto? O
outdoor da sua rua é um texto? E uma fotodo álbum de família,
uma escultura, uma partitura musical: são todos textos? O que é
leitura? É pegar um sentido pronto no texto? É construir um sen-
tido para o texto? Ler é uma atividade solitária ou não? O que se
entende por prática de leitura? É correto discriminar tipos de leito-
res e de leituras?
Produção de texto e de leitura são atividades que realizamos
com e por meio da linguagem, para produzir sentido, e dependem
de muitos conhecimentos. Quais, por exemplo?
1 CONSIDERAÇÕES SOBRE ALGUMAS NOÇÕES BÁSICAS
Não. Não precisa responder agora. Nem espere que a
gente lhe dê a resposta. As perguntas são para
começar a pensar no assunto. A gente sempre sabe
alguma coisa. Vamos retomar essas questões ao final
da leitura dessa unidade e conversar sobre isso.
Certo?
Você já sabe que, aqui, ninguém dá mapa do
caminho para o caminhante. Assim, se o desejar,
antes de ler o TEXTO-BASE deste tópico, leia o
primeiro capítulo do livro-texto, intitulado Ler e
compreender os sentidos do texto, de Ingedore V.
Koch e Vanda Maria Elias. São Paulo: Contexto,
2006, p. 9-37. Leia, também, a lição número 1,
intitulada Considerações sobre a noção de texto,
no livro Lições de texto: leitura e redação, de José
Luiz Fiorin e Francisco Platão. São Paulo: Con-
texto, 2003, p. 11-24.
Convite...
18 LETRAS (Português e Espanhol) – Licenciatura
1.1 Considerações sobre a noção de linguagem,
língua, texto e gênero
O homem está no mundo, na vida. Os animais também. Ho-
mens e animais estão sempre agindo de alguma forma para atingir
seus objetivos. A diferença é que os animais agem por instinto. Por
instinto, o cão bravio ataca, mata e pronto. Nunca vimos um cão
sofrendo de remorso. Os animais não lidam com um mundo de
significação, produzido na e por meio da linguagem. Eles não sen-
tem a necessidade de atribuir significação às coisas para realizar
suas ações. O homem, sim. Ele pode até matar, como o cão bravio,
mas sofrerá, depois, para harmonizar o significado de sua ação com
o mundo de significação, de valores, no qual ele vive e se move
como o peixe na água.
 O mundo dele é um mundo humano, significativo para ele.
Para agir, o homem depende de dar uma significação às suas ações.
Quando os espanhóis colonizaram o México, dominando os ín-
dios, surgiram perguntas muito sérias para eles: o que é um índio,
é bicho ou gente? Ele tem alma? Para facilitar a conquista, matan-
do-os, era preciso responder a essas questões. Assim, houve longos
debates sobre se os silvícolas eram animais ou homens, se tinham
alma ou não. E os colonizadores mais ferozes bem que desejaram
que os debates concluíssem pela definição dos índios como bichos,
pois, assim, a empreitada colonizadora viraria uma alegre caçada,
sem nenhum problema. Isso quer dizer que eles tiveram de lidar
com algumas noções, afirmar um ponto de vista. Os homens agem
sempre de um ponto de vista que faz sentido para eles.
Na universidade, os acadêmicos realizam ações para conhecer o
mundo da linguagem. Para isso, partem sempre do esclarecimen-
to de algumas noções, definindo o ponto de vista mais adequado
para a ação de conhecer. Há muitos pontos de vista teóricos: é pre-
ciso escolher o mais adequado. Assim, vamos ter de começar nos-
so estudo pelo esclarecimento de algumas noções importantes para
quem se dedica ao estudo da linguagem no que diz respeito à leitu-
ra e à produção de texto. Se vamos nos ocupar de linguagem, de
língua, de sentido, de texto, de leitura e produção de textos, é pre-
ciso, primeiramente, fazer algumas perguntas.
O que é linguagem? o que é língua? O que é texto?
O que é leitura e produção de texto e de sentido?
É preciso um esforço para dar respostas mais apropriadas a es-
sas questões. Podemos começar por pensar no assunto, por nós
mesmos. Todo mundo sabe um pouco sobre o que seja a lingua-
 Um exemplo!
19Leitura e Produção de Textos
A linguagem – a fala humana – é uma inesgotável riqueza de
múltiplos valores. A linguagem é inseparável do homem e se-
gue-o em todos os seus atos. A linguagem é o instrumento gra-
ças ao qual o homem modela o seu pensamento, seus senti-
mentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade e seus atos, o
instrumento graças ao qual ele influencia e é influenciado, a
base última e mais profunda da sociedade humana. Mas é tam-
bém o recurso último e indispensável do homem, seu refúgio
nas horas solitárias em que o espírito luta com a existência, e
quando o conflito se resolve no monólogo do poeta e na medi-
tação do pensador. Antes mesmo do primeiro despertar de nossa
consciência, as palavras já ressoavam à nossa volta, prontas para
envolver os primeiros germes frágeis de nosso pensamento e a
nos acompanhar inseparavelmente através da vida, desde as
mais humildes ocupações da vida quotidiana aos momentos
mais sublimes e mais íntimos dos quais a vida de todos os dias
retira, graças às lembranças encarnadas pela linguagem, força e
calor. A linguagem não é um simples acompanhante, mas sim
um fio profundamente tecido na trama do pensamento; para o
indivíduo, é o tesouro da memória e a consciência vigilante
transmitida de pais para filho. Para o bem e para o mal, a fala é
a marca da personalidade, da terra natal e da nação, o título de
nobreza da humanidade. O desenvolvimento da linguagem está
tão inextricavelmente ligado ao da personalidade de cada indi-
víduo, da terra natal, da nação, da humanidade, da própria vida,
que é possível indagar-se se ela não passa de um simples refle-
xo ou se ela não é tudo isso: a própria fonte do desenvolvimen-
to dessas coisas.
gem. Sabe, sim, pois todos nós nos movemos nela e por meio dela,
como o peixe na água.
A linguagem é uma faculdade humana, uma capacidade que o
homem tem de se comunicar com seus semelhantes, é uma abs-
tração.
Há grandes estudiosos da linguagem. Um deles é Hjelmslev.
Vejamos o que ele diz na obra, intitulada Prolegômenos a uma teo-
ria da linguagem, Editora Perspectiva, pp. 1-5. É um dos mais be-
los textos sobre o estudo da linguagem:
A linguagem é, pois, uma faculdade, uma capacidade humana.
Uma capacidade que os animais não possuem. Por isso o texto diz
que ela é o título de nobreza do homem. É essa capacidade que
distingue o homem dos outros animais.
Não é bonito?
20 LETRAS (Português e Espanhol) – Licenciatura
Língua. O que devemos entender com esse conceito?
A língua é um conjunto de convenções, para permitir o exer-
cício da faculdade de linguagem – faculdade essa que, como vi-
mos, preexiste como entidade abstrata a todo e qualquer ato de
comunicação. Com a palavra língua, devemos entender o materi-
al léxico e gramatical, estocado em competência.
A Língua, o conjunto de convenções, é o que permite ao homem o
exercício da linguagem como uma capacidade humana.
Acrescentemos mais uma coisa: a língua é um produto social
da faculdade de linguagem. O que isso quer dizer? Quer dizer que
ninguém, sozinho, pode criar a língua ou modificá-la. Você deve
ter visto aquela discussão na TV, no rádio ou em revistas e jornais,
sobre uma antiga proposta de troca da palavra futebol pela palavra
ludopédio. Viu? Pois é, de vez em quando aparece uma pessoa, como
um tal de Antônio de Castro Lopes, querendo criar a língua sozi-
nho. As pessoas acham graça e só. Por quê? Porque uma palavra
entra no dicionário, somente quando a sociedade toda entra em
acordo sobre sua adoção na forma e no conteúdo, quando passa a
usá-la. A língua só existe em virtude de um contrato estabelecido
entre os membros da comunidade. Por isso se diz que ela é supra-
individual, na medida em que é um objeto convencional, fruto de
um pacto social.
O indivíduo tem de aprender a língua, para poder exercer bem
a capacidade de linguagem que possui. Conforme afirma Culioli
(1990, p.14), a “[...] atividade da linguagem remete a uma ativida-
de de reprodução e de reconhecimento das formas, ora, essas for-
mas não podemser estudadas independentemente dos textos, e os
textos não podem ser independentes das línguas”.
Está entendendo?
Linguagem
uma capacidade humana
Língua
conjunto de convenções e
regras, para permitir o
exercício da faculdade de
linguagem
Se você quiser ver a
lista de palavras que
o médico Antonio de
Castro Lopes queria
criar sozinho para a
língua portuguesa,
acesse o nome dele
no Google.
Muito bem. Tendo essa capacidade da linguagem e possuindo
uma língua, a portuguesa, por exemplo, o homem produz textos
na vida social. O que é texto? Uma carta íntima é um texto? Um
romance é um texto? E um bilhetinho? Um convite de casamento,
Saiba mais
Não é demais repetir:
veja o quadro:
21Leitura e Produção de Textos
Observe os textos 1, 2 e 3, a seguir:
Genésio Fernandes
Desenho para a série
Figuras da folia
Nanquim sobre papel, 2007
12cm X 10cm
Texto 1
Texto 2
Texto 3
uma conta de luz são textos? Se você pensou em afirmar que sim,
acertou. São textos verbais.
Mas e uma fotografia? É um texto? Uma escultura, um dese-
nho, uma partitura musical? Certamente você pensou que sim.
Pode até ter tido uma pequena dúvida, mas pensou que sim. São
textos, sem dúvida alguma! Não são textos verbais, mas são textos
visuais ou audiovisuais. E o outdoor, os programas de TV, as tirinhas
de jornal, as propagandas? São também textos? Sem dúvida. São
os chamados textos sincréticos, isto é, aqueles que utilizam várias
formas de expressão: o verbal e o audiovisual.
22 LETRAS (Português e Espanhol) – Licenciatura
Veja bem. Os homens, possuindo a capacidade da linguagem,
não param de produzir textos, utilizando as mais variadas formas
de expressão. No bilhete, utilizam a expressão verbal, as palavras
da língua e todos os recursos que ela possui. Na música, utilizam
os sons e, na escultura, o volume. No desenho, usam a linha e, na
pintura, as cores. Na propaganda, nos programas de TV e nos fil-
mes, utilizam todos esses meios de expressão juntos, combinados.
Na vida moderna, a cada batida do nosso coração, surgem bilhões
de textos. Podemos dizer que nossa vida está envolvida numa
textosfera.
 No dia 21/11/2007, a Folha de S. Paulo deu a notícia de que
pesquisadores europeus encontraram a garra fossilizada de um
escorpião do mar, de 2,5 metros de comprimento, em uma pedrei-
ra, na Alemanha. A matéria apresentava um desenho do escorpião
ao lado de um homem, para melhor indicar seu tamanho. Três
dias depois, aparecia na Folha esta tirinha:
Quer um exemplo?
Folha de S. Paulo, 24 nov. 2007
Texto 4
Veja: o leitor que não acompanhou o noticiário da Folha nos dias
anteriores terá mais dificuldade para compreender a tirinha. Hoje é
assim: aparece um texto na imprensa e, poucos dias depois, apare-
cem outros textos cuja leitura depende do conhecimento do primei-
ro. É como se estivéssemos condenados a ler tudo para poder ler.
Estamos rodeados de textos. E não tem querer ou não querer. Eles
não pedem licença: simplesmente invadem nossa vida, por meio
dos nossos cinco sentidos. Mas é preciso insistir: o que é mesmo
um texto? Veja os textos 5 e 6, abaixo:
Texto 5
23Leitura e Produção de Textos
Texto 6
A escritura ele ficou brabo carro e mulher nada disso terra e
enchente, pois a reza nem acabou e era chofer do ônibus quan-
do a bíblia entra. Cachorro cachorro e o pneu nada vai dar cer-
to na bíblia. Vendido foi debandou o boi tem carro novo é as-
sim mesmo. Quando e o céu com o padre, chove as peças che-
gam e tem enxada, nada de mais. Não vale. Macarrão nem deus
ouve a oração peca. Falaram na dona e roça assombração o mato
virou
Texto vem do verbo tecer. Se digo que minha avó teceu uma
toalha de mesa, o que está implícito no que digo? Que ela amon-
toou um punhado de fios, de qualquer jeito? Não! Certamente,
não. Se você está pensando que o certo é dizer que ela organizou os
fios para formar a toalha, então acertou.
Leia novamente os dois textos acima: qual deles parece mais
um amontoado de palavras do que uma organização, com algum
propósito determinado? O Texto 5 ou o Texto 6? Certamente o
Texto 6. O Texto 6 é um amontoado de palavras, sem nexo. As
partes não formam um todo de sentido. Esse amontoado de pala-
vras é tão doido que não dá para perceber quem fala, o que fala,
para quem e com que objetivo. Se você acha que isso é coisa de
louco, acertou.
Quem vai a uma roça chamada Barra, em um dos grotões de
Minas, encontra um louco. Ele vai à janela do carro e fala assim. Os
visitantes do lugar, por educação, fingem que entendem e dizem:
sim, é... sim..., sim senhor!. Não deixa de ser uma cena de tentativa
de comunicação, mas quem participa dela não consegue construir
um sentido para o palavreado que ele vai amontoando na sua fala.
Um texto é, portanto, um todo organizado de sentido. É um todo
que faz sentido como um todo. Veja bem: não é uma soma de suas
partes. Não se trata de soma de partes.
Se lhe derem a ler somente o quadrinho da terceira parte do
Texto 5, o máximo que você poderia ler é que se trata de uma briga
de dois personagens que discordam da posição da frente de algu-
ma coisa. Não saberíamos bem quem é a terceira personagem da
Releia o Texto 5. Se alguém recortar a tira em
quatro partes, embaralhá-las e for dando uma de cada vez
para ler, você vai ver que cada uma delas tem um sentido
particular e não o sentido do todo.
24 LETRAS (Português e Espanhol) – Licenciatura
cena e nem por que a imagem dela está diluída, pois não disporía-
mos das figuras que ela tem nos outros quadrinhos (primeiro e
segundo). Além disso, a primeira coisa que o texto perde, se for
recortado, é o contexto de produção. Nem mesmo saberíamos a
que gênero de texto pertenceria. Ou seja, ninguém saberia mais se
o terceiro quadrinho é uma tirinha de jornal ou uma ilustração
isolada de um livro. Não saberia também da relação do texto com
outro texto, o das histórias em quadrinhos da crítica Mafalda, cri-
ada pelo argentino Quino.
Lendo a parte, o leitor percebe um sentido que não é o mesmo
do todo. No seu todo, lemos que Mafalda lança a pergunta aos
colegas: “Para onde vocês acham que a humanidade está indo?”
Para dar a resposta, os dois meninos entram numa disputa verbal.
Eles discordam do sentido da palavra “frente”. Nenhum deles cede
à possibilidade de a “frente” significar o que o outro quer. O que o
todo do texto permite ler é que o entendimento entre as pessoas é
sempre difícil, mesmo quando as posições parecem convergir. Todo
mundo concorda que a humanidade tem de evoluir, de ir para a
frente, mas não consegue fechar acordo sobre o sentido/direção da
expressão “para frente”.
Portanto, o sentido do texto não é a soma do sentido de cada
parte isolada. O sentido do texto é o que resulta da construção do
todo do texto, pela relação entre as partes que o compõem. Não dá
para compreender o todo do texto, lendo somente partes isoladas.
Guarde esta palavra: relação. Tudo no texto significa por meio de
relações. Relação de muitas coisas. Você compreenderá isso cada
vez mais à medida que for estudando.
Falta ainda dizer que um texto é sempre
uma resposta a um discurso anterior sobre
qualquer coisa. Quer um exemplo disso? Por
volta de 1970/1980, as rádios não paravam
de tocar a música de um cantor popular
chamado Odair José, considerado brega.
Essa letra, Texto 7, convoca o povo a parar
de tomar a pílula. Esse discurso não surgiu do nada e por nada. Ele
surgiu em resposta a um outro discurso já existente na época.
Primeiro, leia o texto da letra e depois responda:
qual era esse outro discurso, o que ele
recomendava ao povo?
Acesse o site do cantor Odair José, no Google,
se quiser ouvir a música. É considerada brega,
mas não deixa de ser um documento do que
aconteceu no Brasil, na época.
Se tiver interesse por estudos da cultura e da
história, por meio de letras como essa, veja o
livro “Eu Não SouCachorro, Não” de Paulo
César de Araújo, que é referência obrigatória
no estudo da música popular brasileira. Veja:
www.brasilcultura.com.br/
conteudo.php?id=480&menu=92&sub=518 – 29k.
Saiba mais
25Leitura e Produção de Textos
Texto 7:
PARE DE TOMAR A PÍLULA
Já nem sei há quanto tempo
nossa vida é uma vida só
e nada mais
Nossos dias vão passando
e você sempre deixando
tudo pra depois
Todo dia a gente ama
mas você não quer deixar nascer
o fruto desse amor
Não entende que é preciso
ter alguém em nossa vida
seja como for
Você diz que me adora
que tudo nessa vida sou eu
então eu quero ver você
esperando um filho meu
entao eu quero ver você
esperando um filho meu
(REFRÃO)
Pare de tomar a pílula
Pare de tomar a pílula
Pare de tomar a pílula
Porque ela não deixa o nosso
filho nascer (3x)
Você diz que me adora
Que tudo nessa vida sou eu
Entao eu quero ver você
Esperando um filho meu
Entao eu quero ver você
Esperando um filho meu
Pare de tomar a pílula
Pare de tomar a pílula
Pare de tomar a pílula
Porque ela não deixa o nosso
filho nascer (3x)
Veja você que o texto repete sem cessar um refrão: “pare de
tomar a pílula!”. O texto dessa música era uma resposta a um outro
discurso cuja prática já estava em andamento: o discurso do Governo
da ditadura militar, que pedia para a população tomar a pílula
anticoncepcional. Os Estados Unidos exigiram do Brasil um
programa de controle da natalidade como condição para liberar
empréstimos. O Governo não teve saída: mesmo a contragosto da
Igreja católica, adotou o programa. Odair José foi, então, a voz que
repetia para os ouvidos da população o discurso da Igreja católica,
contra o programa de controle da natalidade. Resumindo:
• a linguagem é uma faculdade humana;
• a língua é o conjunto de convenções e regras, para permitir o exercício da
faculdade de linguagem;
• tendo essa capacidade e sabendo a língua, o homem produz textos para se
comunicar;
• o texto é um todo organizado de sentido e não um aglomerado de partes;
• os textos podem ser verbais e não-verbais;
• o texto é produzido sempre como uma resposta a um discurso anterior;
• atribuir sentido a um texto depende, portanto, de uma interação entre quem o
produz e quem o recebe e da ativação de uma série de conhecimentos e habilidades
por parte de ambos. Por essa razão é que falamos de UM sentido para o texto e não
de O sentido.
26 LETRAS (Português e Espanhol) – Licenciatura
1.2 Considerações sobre a noção de leitura,
de produção de sentidos e de práticas de leitura
Muito bem. Coloque a mão no lado esquerdo do peito: imagine
que a cada batida do coração, os homens produzem milhares de
textos. Mas os homens não produzem textos indiferenciadamente,
assim como Deus não criou os animais todos iguais. Nos estudos
de Biologia, vemos que os animais são distribuídos em gêneros e
espécies.
No mundo da linguagem, os textos compreendem gêneros di-
ferentes. Cada gênero de texto serve para os homens realizarem
ações diferentes. Os gêneros são, portanto, formas de ação. Quem
vai escrever um texto sabe que vai fazer uma ação específica, com
um fim específico e sabe que gênero de texto deve escolher para
realizar bem a ação pretendida.
Por exemplo, para realizar a ação de fazer alguém querido saber
de seus sentimentos íntimos, você sabe que tem de escolher o gê-
nero certo para fazer isso: a carta íntima. A carta é um gênero de
texto, a ferramenta certa para comunicar assuntos pessoais e ínti-
mos entre amigos ou pessoas que se amam. Escolher um gênero
de texto para realizar uma ação, como a de fazer um pedido de
emprego, é como escolher a roupa certa para ir a uma festa de
casamento, à noite, em uma igreja. Ninguém vai com a roupa que
bem quer. Escolhe uma roupa considerada apropriada para aquela
situação social.
Quer dizer socialmente aceita,
historicamente aceita. Ninguém vai a uma festa dessas usando
biquini e nem uma roupa do século 17. A não ser que queira reali-
zar outra ação: a de chocar.
Quem não sabe escolher e produzir o gênero de texto apropria-
do para fazer a ação de pedir um emprego, por exemplo, tem me-
nor chance de exercer a cidadania.
Porque na luta para conseguir o emprego,
ele já sai perdedor.
Lembremos ainda que, para atribuir sentido a um texto, preci-
samos saber a que gênero ele pertence. Sabemos disso por meio
do conhecimento cultural ou por meio do estudo. Na página 20,
você viu o Texto 5, a tirinha da Mafalda. Vimos que a leitura de um
só quadrinho não permitia construir o sentido do texto 5 como
um todo. Agora, com essas considerações, você sabe por quê. Por-
que, olhando um só quadrinho da tirinha, não é possível saber a
ação que o texto pretende realizar. Não é possível saber a que gêne-
ro pertence. Somente o conhecimento da tirinha como um gênero
humorístico permite ao leitor construir o sentido global do texto,
considerando essa instrução genérica. Ou seja, o leitor é instruído a
produzir sentido de humor e não de tragédia, por exemplo.
Que quer dizer apropriada?
Por quê?
27Leitura e Produção de Textos
Então fiquemos, por ora, sabendo do seguinte:
• o gênero é uma forma de ação sócio-histórica, uma ferra-
menta;
• saber escolher o gênero de texto apropriado para realizar uma
ação e saber escrevê-lo bem são habilidades importantes para o
exercício da cidadania;
• conhecer o gênero de um texto é condição necessária para
uma adequada atribuição de sentido a esse texto, pois o gênero
dá instrução a respeito da ação que se pratica por meio dele.
O estudante brasileiro tem a capacidade da linguagem, ele co-
nhece a língua portuguesa, ele sabe o que é um texto, ele sabe que
o gênero é uma forma de ação, ele escolhe um gênero apropriado
para realizar uma ação determinada. Assim, pode produzir milhões
de textos. Como dissemos, estamos hoje envolvidos numa textosfera.
Então falta falar de uma outra coisa: da leitura. O que é leitura? O
que é ler?
Aqui, é preciso um esclarecimento. A concepção de leitura varia
conforme a concepção de língua adotada. Lembre-se do que fala-
mos no início: para os colonizadores espanhóis, matar um índio
poderia significar coisas bastante diferentes, conforme a concep-
ção que se desse ao termo “índio”. Se “índio” fosse definido como
o ser dotado de alma, matá-lo seria pecado mortal e crime; caso
contrário, seria apenas uma cena de caçada como a de qualquer
animal.
Conforme Koch (2006, pp. 9 a 13), na concepção mais antiga, a
língua é definida como representação ou espelho de pensamento.
Dessa concepção vão derivar as concepções: de sujeito como um
sujeito psicológico, individual, senhor de sua vontade e de suas
ações; de leitura como uma atividade de captação das intenções e
idéias do autor, sem considerar que, no ato de leitura, contam muito,
para a produção de sentido, as experiências e os conhecimentos do
leitor, bem como a interação que ele estabelece com o autor por
meio do texto.
Veja bem que o foco da preocupação é o autor e suas intenções,
pois se considera que o sentido estaria centrado nele. Se assim fos-
se, bastaria ao leitor, para dizer que lê bem, captar as intenções do
autor. Isso é um problema. Por quê? Simplesmente porque, na
leitura de um texto de Machado de Assis, por exemplo, não temos
mais o autor, para perguntar-lhe se as intenções que vemos no seu
texto correspondem, de fato, àquelas que ele teria tido ao escrever
Resumindo...
28 LETRAS (Português e Espanhol) – Licenciatura
o romance Dom Casmurro. Neste curso de EaD, você vai se relaci-
onar com seus colegas, no Fórum, por meio de textos. Não é? Ora,
não dá para seu colega que está longe, em outra cidade, ficar de-
pendendo de saber das intenções que você teria tido ao escrever,
para poder entender o seu texto ou mensagem.
É muito comum, também, uma outra concepção de língua. Tra-
ta-se de entendê-la como código, portanto, como mero instrumen-
tode comunicação. Na vida, os homens criam metáforas para falar
das coisas. Isso vai passando de boca em boca e vai ficando como
verdade. Nem sempre são. Os homens vão vivendo conforme o
esquema dessas metáforas, mas nem sempre elas correspondem à
verdade. A metáfora da língua como instrumento ou código de
comunicação é uma delas. Lakoff e Johnson (1980) criticam a con-
cepção de língua como código de comunicação. Eles afirmam que,
se concebemos assim a língua, fica pressuposto o seguinte:
a) as idéias (ou significações) são objetos;
b) as expressões lingüísticas são os continentes desse objetos;
c) comunicar é passar qualquer objeto ou coisa.
Se a atividade de comunicação fosse isso, um trabalho de colo-
car idéias-coisas no código da língua, a leitura seria uma atividade
de retirada das idéias-coisas desse código, utilizado nos textos/men-
sagens. Você percebe que, conforme essa maneira de pensar, o foco
é o texto. A leitura seria concebida como decodificação ou
descodificação. Como você vê, aqui, ler seria retirar um sentido do
código. Por isso, muita gente, inclusive professores, utiliza dois
verbos para referir-se ao ato de comunicação e de leitura: eles fa-
lam sempre em “passar” e em “retirar”. Por exemplo: “o texto pas-
sa uma mensagem clara, mas os alunos não sabem retirar nada do
que lêem”.
Acontece que essa concepção de língua e de leitura não
corresponde aos fatos. A metáfora da língua como código, entendi-
do como canal de passagem de conteúdos, faz a gente viver pen-
sando coisas erradas. Quem namora, por exemplo, sabe que isso
não é verdade. Se fosse verdade, não haveria nunca mal entendi-
dos entre as pessoas que se amam. Por isso devemos saber que:
a) a língua NÃO é um canal, um veículo isento por onde transi-
tam idéias;
b) a leitura NÃO é apenas decodificação, ou seja, NÃO é ativida-
de de retirar um sentido já pronto, posto no texto.
Em resumo, até aqui, falamos de duas concepções de língua
que não são mais aceitas, porque não permitem compreender o
fenômeno da linguagem nas atividades de leitura e produção de
texto.
Certo?
29Leitura e Produção de Textos
Depois dessas reflexões, procure lembrar como foram as suas
aulas de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental e Médio.
Tente lembrar-se do discurso dos professores, para ver que
concepção de língua e de leitura eles adotavam no ensino da
disciplina. Se adotavam a primeira concepção, certamente
perguntavam, em algum momento de suas instruções de aula:
o que o autor quis dizer? Qual foi intenção dele? Se adotavam
a segunda concepção, perguntavam: o que o texto quer passar?
Na concepção interacional (dialógica), tudo é compreendido
numa rede de relações. É na interação que tomam forma a língua,
os sujeitos, a atividade de produção de sentidos nos textos escritos
e na leitura.
Portanto, desse ponto de vista, o sentido a ser lido não se en-
contra somente no texto para o leitor retirá-lo ou pegá-lo pronto. A
leitura é, pois, uma atividade de produção ou de construção do
sentido na interação do leitor com o autor mediada pelo texto.
Veja você que a leitura não é, aqui, mera atividade de decodificação.
Veja também que o sentido que o leitor lê no texto não é uma coisa
que já estaria lá, à espera dele. O sentido é construído na relação e
depende de muitos conhecimentos por parte do leitor. Vamos fa-
lar desses conhecimentos mais à frente. Por ora, fiquemos com
isso: a leitura é uma atividade interativa complexa de produção ou
de construção de sentidos.
Isso quer dizer que, na atividade de leitura, “a compreensão
não requer que os conhecimentos do texto e os do leitor coinci-
dam, mas que possam interagir dinamicamente” (ALLIENDE &
CONDEMARÍN, citados por KOCH, 2006, p. 37).
Você deve estar desconfiado do que estamos falando, não? Cor-
rija-nos, se estivermos enganados, mas achamos que está pensan-
do o seguinte: se o autor produziu um texto para alguém, deve ter
construído nele algum sentido. É verdade. Ninguém escreve um
texto sem algum propósito. Todo texto tem um objetivo. Tendo
em mente esse objetivo, a imagem e os valores do leitor para quem
se destina o texto, e de posse de diferentes tipos de conhecimento
Então, como resolver essa questão?
Que concepção de língua, de sujeito, de texto e de
leitura é mais adequada para compreender a
atividade linguageira do homem em sociedade?
30 LETRAS (Português e Espanhol) – Licenciatura
(lingüísticos, enciclopédicos ou de mundo e interacionais), o autor
constrói um espaço de significação e espera que o leitor ocupe esse
espaço com sua capacidade de construir sentidos, ativando conhe-
cimentos de diferentes tipos, inclusive aque-
les da sua história de vida e de leituras. Ou
seja, o autor pressupõe a participação do lei-
tor na construção do sentido, considerando
a (re)orientação que lhe é dada. Por isso, há
sempre múltiplas leituras possíveis para um
mesmo texto. Um exemplo ajuda sempre,
para compreender que o autor constrói o tex-
to numa relação contratual implícita com o
leitor.
Em toda banca de revista, existem os fa-
mosos romances sentimentais de massa. No
Brasil, são aqueles das séries Sabrina, Bianca
e Júlia. São os romances que seguem a tradi-
ção do chamado romance cor-de-rosa ou ro-
mances do coração, cujas representações che-
garam até nós por meio de imagens, dese-
nhos e pinturas. Veja, à esquerda: uma mu-
lher toda sentimento, lendo extasiada, com
a mão no coração.
Na produção desses romances, os autores precisam saber: que
os leitores desse tipo de literatura são mulheres; que a maioria
delas não possui um vocabulário muito sofisticado; que não tem
habilidade de leitura de períodos muito extensos; que, nesse tipo
de leitura, procura os valores do amor eterno e das paixões mais
diversas; que utiliza esses textos para uma atividade de leitura
lúdica.
Portanto, como você observa, tanto a escrita como a leitura são
processos complexos de construção de sentido, regidos por con-
tratos: contrato de escrita e de leitura. No caso da produção de
romances sentimentais, o autor e as leitoras seguem um contrato
implícito. Tanto é verdade que, quando a editora publica algum
romance que não tem os valores desejados pelas leitoras (amor
eterno, paixões; personagens gentis, lugares românticos e final
feliz), ou que apresenta vocabulário difícil ou enredo de romance
policial, por exemplo, recebe delas cartas de protesto e até amea-
ças de processo. Veja uma dessas cartas, tal como foi escrita pela
leitora:
31Leitura e Produção de Textos
São Pedro, 25 de dezembro de 1985
Janice Florido
Editora
Janice num dos livros que comprei nestas férias, li a sua mensagem
para que nós disséssemos nossa opinião sobre as revistas, então ái vai
a minha.
Leio os romances de Júlia, Sabrina, Bianca e outra a muitos anos, qdo
posso, compro, qdo não troco as minhas revistas em bancas de troca.
E em todos esses anos, as únicas de quem eu não gostei, para ser
sincera detestei, odiei, foram aquelas escritas, que se passam na grécia,
onde o personagem é grego e arrogante, machista.
Para você ter uma idéia melhor eu ganhei de uma amiga, uma revista
com o título “As flechas de Cupido” número 176, Julia, novinha em
folha, e eu não consegui ler, por favor não coloque muitos romances de
grego nas bancas, a paisagem podem ser maravilhosa, o entardecer
divino, as ruínas dos templos maravilhosas, mas os romances destes
gregos são cansativos.
Espero não tê-la deixado chateada, pois sei que você e toda sua equipe
trabalha com afinco e carinho para que nós leitoras, possamos desfrutar
de momentos maravilhosos e mágicos.
É uma pena que eu não tenha condições de ir toda a semana na banca
para comprar os livros, pois infelizmente, estão caros. Mas se eu tivesse
condição financeira, também não iria comprar de romances de gregos.
Talvez eu não goste desses romances, pois já vivo há 20 anos com um
machão.
Adoro finais felizes,principalmente daqueles em que no final eles
acabam com bebezinhos. Mas fora isso, você está de parabéns pelos
romances publicados, pois sei o quanto é difícil contentar a todos.
 Parabéns, felicidades de uma fã de romance:
 Marisa Plim de Jesus.
Diante disso, você pode, ainda, estar perguntando: mas essas
leitoras, ao ler esses romances, constroem leituras repetidas, iguais?
Claro que não. Já dissemos acima e repetimos: “a compreensão
não requer que os conhecimentos do texto e os do leitor coinci-
dam, mas que possam interagir dinamicamente”. Isso quer dizer
que cada leitora interage com o autor por meio do texto de manei-
ra diferente, pois cada uma delas possui conhecimentos mais ou
menos amplos e histórias de vida e de leitura também muito dife-
rentes. Diferentes leitores fazem usos diferentes de um mesmo
texto.
Falta dizer-lhe o que você já sabe, por experiência própria: não
existe no mundo somente uma prática de leitura, mas várias: a
prática de leitura dos romances sentimentais, da bíblia, do jornal,
32 LETRAS (Português e Espanhol) – Licenciatura
das revistas femininas, das leis, das obras acadêmicas, dos quadri-
nhos – tanto impressos quanto na tela do computador. Essas práti-
cas gozam de maior ou menor prestígio na vida social, mas todas
elas possuem seus direitos e representam os seres humanos com
seus gestos e maneiras de apropriação e de uso particular e cada
vez único do que lhes cai na mão. Cada prática de leitura tem ob-
jetivos diferentes e exige habilidades diferentes.
Portanto, depois dessas considerações, não vá cair na mania de
discriminação, no que chamam de etnocentrismo letrado. O que sig-
nifica isso? É considerar que só existe uma boa prática de leitura:
aquela das obras consagradas pela elite cultural e que as outras não
contam ou merecem apenas a denominação de “porcaria” ou de
“perda de tempo”.
Para terminar esta parte, leia o artigo Como ensinar a ler a quem já sabe
ler, de Marlene Carvalho e Maurício Silva, na revista Ciência Hoje,
volume 21, número 21, de junho de 1996, e depois discuta dois pon-
tos que considerar importantes com os cursistas no Fórum. O texto
está disponível no site www.ead.ufms.br , no banco de textos da sua
disciplina.
Para saber mais
33Leitura e Produção de Textos
UNIDADE 2
O texto e
suas condições de
produção e interpretação
34 LETRAS (Português e Espanhol) – Licenciatura
Ler e escrever textos na perspectiva da interação
Esta é a segunda unidade do módulo. Mãos à obra.
O objetivo central é que você possa conhecer e discutir
alguns fundamentos e pressupostos conceituais sobre
o texto e a leitura como atividades de produção
de sentido na interação humana.
Para tornar a leitura mais suave e as discussões focadas
em aspectos específicos, dividimos esta segunda unidade
em quatro subunidades.
2.1 A produção de textos escritos: conhecimentos
a serem considerados.
2.2 O contexto nos processos de construção
de sentidos na leitura e na escrita.
2.3 O texto e suas relações intertextuais.
2.4 Texto e gênero textual.
Pode começar a leitura! Mas, lembre-se: você não está em
uma aula daquelas entre quatro paredes. Você é o caminhante,
o aprendente. Você é que faz o seu mapa de viagem.
Pode iniciar a leitura pela subunidade que mais lhe interessar.
35Leitura e Produção de Textos
TEXTO-BASE
O texto como elemento de mediação entre os sujeitos envol-
vidos na produção de sentidos.
Ao iniciarmos esta seção, é necessário que comecemos a refletir
sobre o papel dos textos, orais e/ou escritos, verbais e não verbais,
sobre temas pertinentes às áreas de conhecimento a serem traba-
lhadas no desenvolvimento do curso, na modalidade EaD, no qual
você ingressou.
São os textos que possibilitam a configuração do material didá-
tico, impresso, audiovisual e multimídia, no qual são feitos os re-
cortes das áreas de conhecimento trabalhadas no curso.
Por meio dos textos, é possível garantir que sejam realmente
trabalhados, no curso, os principais conceitos, definidos em cada
área de conhecimento, ou disciplina, ou módulo, ou unidade.
É também mediante os textos que, nas relações entre os sujeitos
da prática educativa, são construídos conceitos, idéias e reflexões
essenciais para a construção de sentidos que se pretende produzir
no desenvolvimento das matérias constantes no currículo do curso.
Evidencia-se, assim, no âmbito da universidade, a indiscutível
utilidade dos textos, tanto por seu caráter interdisciplinar, configu-
rado nas atividades de fala/escuta, escrita/leitura, quanto por ser
um lugar no qual se pode refletir melhor sobre o funcionamento
da linguagem e da língua na construção do(s) sentido(s)
pretendido(s).
Fora da universidade, a proficiência na leitura e na escrita “...tor-
na o indivíduo capaz de compreender o significado das vozes que
se manifestam no debate social e de pronunciar-se com sua pró-
pria voz” (PLATÃO & FIORIN, 2003, p. 3) , o que torna tal aptidão
essencial para o exercício da cidadania. No texto, a seguir, você
poderá compreender melhor essa questão:
2 CONHECIMENTOS DE QUE DEPENDEM A LEITURA
 E A ESCRITA DE TEXTOS
Acompanhe nossa reflexão a respeito.
Ver Glossário
Saiba mais
36 LETRAS (Português e Espanhol) – Licenciatura
Foi o texto escrito, mais que o desenho, a oralidade ou o gesto,
que o mundo ocidental elegeu como linguagem que cimenta a
cidadania, a sensibilidade, o imaginário. É ao texto escrito que
se confiam as produções de ponta da ciência e da filosofia; é ele
que regula os direitos de um cidadão para com os outros, de
todos para com o Estado e vice-versa. Pois a cidadania plena,
em sociedades como a nossa, só é possível — se e quando ela é
possível — para leitores. Por isso, a escola é direito de todos e
dever do Estado: uma escola competente, como precisam ser
os leitores que ela precisa formar.
 (LAJOLO, Marisa. Folha de S. Paulo, 19/9/1993 (com adaptações).
Entretanto, no nosso cotidiano, observamos que jornais fala-
dos, mensagens gravadas em fita, telefonemas substituem tradici-
onais meios de comunicação que se utilizavam da língua escrita. A
língua falada parece ocupar um espaço de maior prestígio.
Diante das circunstâncias atuais e considerando as modernas
tecnologias de comunicação e informação, como é possível expli-
car a manutenção do prestígio da escrita?
Compare a sua resposta com a apresentada no texto que segue,
Você já havia pensado nisso antes?
A manutenção do prestígio da escrita se deve fundamentalmente
à sua função de produção de conhecimento e, ainda que im-
perfeita, é a ferramenta disponível para essa tarefa. De fato, ao
escrevermos, não estamos expressando um pensamento já for-
mado, mas o estamos formando à medida que escrevemos e,
por isso mesmo, a língua escrita não deve mais ser vista como
‘espelho do pensamento´, mas como a responsável por sua
estruturação. Os conhecimentos se vão formando simultanea-
mente à sua expressão lingüística. Nesse terreno, é visível a su-
perioridade da escrita sobre a fala: esta última, pela ausência de
registro, possibilita desvios de raciocínio, incompletude, con-
tradições etc — problemas mais facilmente controlados pela
primeira.
CARNEIRO, Agostinho Dias. Para que aprender a escrever?
In:— Redação em construção: a escritura do texto. 2. ed. rev. e
ampl., São Paulo: Moderna, 2001. p. 9.
37Leitura e Produção de Textos
2.1 A produção de textos escritos:
conhecimentos a serem considerados
Nas considerações anteriores, explicitamos uma concepção de
texto correspondente à de Koch e Elias (2006, p. 214), ou seja, tex-
to como “... um projeto de dizer constituído em uma dada situa-
ção comunicativa, para alguém, com certa finalidade e de determi-
nado modo, dentre tantos outros possíveis”.
Como você já deve estar imaginando, esse projetode dizer, a par-
tir do qual o produtor/locutor constitui os sentidos do texto,
interagindo dinamicamente com o interlocutor/leitor pressupos-
to, envolve uma série de estratégias sociocognitivas. Nesse caso,
estratégia significa “....uma instrução global para cada escolha a ser
feita no curso da ação” (KOCH, 2002, p. 50).
Quando produzimos textos, utilizamos essas estratégias para
mobilizar vários tipos de conhecimentos armazenados na nossa
memória.
Acompanhe nossa reflexão a respeito.
Dizer que utilizamos estratégias, no processamento textual, sig-
nifica que realizamos, ao mesmo tempo, vários procedimentos
interpretativos orientados para os objetivos que pretendemos atin-
gir num determinado texto. Tais procedimentos implicam três sis-
temas de conhecimento (KOCH, 2002, p. 48):
Você saberia dizer como isso ocorre
e que conhecimentos são esses?
conhecimento lingüístico
conhecimento enciclopédico
conhecimento interacional
Conhecimento lingüístico
Se você respondeu que diz respeito ao conhecimento gramati-
cal e ao lexical, necessário para a adequada articulação som-senti-
do, acertou. É esse conhecimento que acionamos, por exemplo,
para organizar o material lingüístico na superfície textual, utilizan-
do os recursos coesivos que a língua nos proporciona, selecionan-
do as palavras adequadas ao tema e/ou aos modelos cognitivos
ativados. Como exemplo, vejamos a relevância do conhecimento
lingüístico para a compreensão do Texto 1, a seguir.
Glossário
Você saberia dizer o que significa um
conhecimento propriamente lingüístico?
38 LETRAS (Português e Espanhol) – Licenciatura
Texto 1:
As cobras. Luís Fernando Veríssimo.
Disponível em: http://www.portalliteral.terra.com.br . Acesso em: 27/8/07.
A compreensão dessa tirinha implica observar a relação entre a
idéia 1 É o lucro que estimula o empreendimento [quadrinho 1], e
a idéia 2 — o lucro deve sempre ser honesto [quadrinho 2],
estabelecida pelo elemento coesivo – mas -, conjunção que expres-
sa oposição relativamente ao esperado. No caso, como as Cobras
tinham respondido Certo, Certo à afirmação de Queromeu, o
corrupião corrupto, sobre o lucro, o esperado seria que elas concor-
dassem com ele.
Entretanto, o uso do mas expressa justamente a oposição à res-
posta esperada. No terceiro quadrinho, que completa o sentido
global do texto, é preciso saber o que significa dogmatismo para
entender a reação irônica de Queromeu, personagem que represen-
ta “... um assumido criminoso do colarinho branco.
Ele até se orgulha disso, defen-
dendo os direitos de seus pares:
“Se todo mundo rouba no Bra-
sil, por que corrupto não pode
roubar?”.
Para ver outros textos exemplificativos, consulte um dos nossos
livros-texto, nas Referências indicadas para o Módulo I: Leitura e
Produção de Textos.
dogmatismo
[4] [...] qualquer
pensamento ou atitude que
se norteia por uma adesão
irrestrita a princípios tidos
como incontestáveis.
Dicionário Eletrônico
Houaiss.
KOCH, Ingedore G. V. &
ELIAS, Vanda M. Ler e
compreender: os sentidos
do texto. São Paulo:
Contexto, 2006 .p. 40-42.
Conhecimento enciclopédico
ou conhecimento de mundo
Se a sua resposta levou em conta a palavra
“mundo”, você está na pista certa. Trata-se de
conhecimentos gerais sobre o mundo, assim
como de conhecimentos relativos a experiências
pessoais, a eventos situados no tempo e no
espaço. São esses conhecimentos que possibilitam ao produtor/
autor inscrever sentidos no texto. Observe o Texto 2:
E, agora, você saberia dizer
que conhecimento é esse?
Saiba mais
Acesse o site http://
www.portalliteral.terra.com.br, para saber
mais sobre as personagens de
Luís Fernando Veríssimo.
Saiba mais
39Leitura e Produção de Textos
Texto 2:
Níquel Náusea – Fernando Gonsales
Disponível em: http://www2.uol.com.br/niquel/benedito.shtml. Acesso em: 28/8/07.
Agora, REFLITA: o que precisamos saber para entender esse
texto? O que devemos levar em conta na leitura dos enunciados
mas por que diabos eles querem saber quantas patas tem uma
aranha? Vendidos! [quadrinhos 2 e 3]?
Para isso, devemos considerar as seguintes informações:
• as personagens são criações do autor de tirinhas;
• as tirinhas são, em geral, publicadas em jornais e
revistas, ou disponibilizadas na internet;
• criada pelo cartunista brasileiro Fernando Gonsales,
a personagem da tirinha acima é Benedito Cujo, um
vestibulando profissional; o sonho dele é passar no vestibular.
Passar longe.
Ao ativar essas informações, interagindo com o autor, por meio
do texto, o leitor atribui um sentido aos enunciados em questão e
a compreensão ocorre de modo satisfatório.
Você se lembra do termo interação que já
usamos na primeira parte deste texto?
Tente conceituar esse termo em seu caderno de anotações,
antes de acompanhar a nossa reflexão a respeito do
conhecimento interacional.
Consulte o Glossário
Conhecimento interacional
O conhecimento interacional diz respeito à dimensão
interpessoal da linguagem, ou seja, às formas de interação por meio
da linguagem, e envolve os conhecimentos: ilocucional,
comunicacional, metacognitivo e superestrutural.
Conhecimento ilocucional: possibilita, de modo direto ou indi-
reto, o reconhecimento dos objetivos pretendidos pelo produtor
do texto em uma determinada situação interacional. Veja o exem-
plo, Texto 3.
Para saber mais sobre
Benedito Cujo e outros personagens de
Fernando Gonsales, acesse o site:
http://www2.uol.com.br/niquel/benedito.shtml
Saiba mais
40 LETRAS (Português e Espanhol) – Licenciatura
Texto 3:
Níquel Náusea – Fernando Gonsales
Disponível em: http://www2.uol.com.br/niquel/benedito.shtml. Acesso em: 28/8/07.
Desta vez, é preciso que observemos o que o autor da tirinha
propõe que consideremos na produção de sentido do texto. Você
sabe por quê? Vejamos:
• no primeiro quadrinho, a personagem Níquel Náusea dispõe-
se a dizer uma “frase feita” para Gatinha, a rata que vive tendo
filhotinhos, e que ele acha uma “gata”;
• no segundo quadrinho, ele diz: “o importante é conservar a
criança que existe dentro de você”, em sentido figurado (“frase
feita”);
• no terceiro quadrinho, Gatinha, demonstra “falta” de conhe-
cimento ilocucional, ao responder: Eu tento, mas elas acabam
nascendo, em sentido literal, o que produz um efeito de sentido
humorístico.
Conhecimento comunicacional
Se a sua resposta foi positiva, acertou, porque o conhecimento
comunicacional também está relacionado aos objetivos desejados
na produção de sentido do texto por meio de recursos adequados
para atingir tais objetivos, como, por exemplo:
• apresentar, numa situação concreta de comunicação, a quan-
tidade de informação necessária para que o interlocutor seja ca-
paz de reconstruir o objetivo da produção do texto;
• selecionar a variante lingüística compatível com a situação de
interação;
• observar a adequação do gênero textual à situação de comuni-
cação.
Você observa algum tipo de relação
entre esse conhecimento e o anterior?
frase feita ou
expressão idiomática:
locução ou frase
cristalizada numa
determinada língua, cujo
significado não é deduzível
dos significados das
palavras que a compõem e
que geralmente não pode
ser entendida ao pé da
letra. [Dicionário Eletrônico
Antônio Houaiss].
Saiba mais
41Leitura e Produção de Textos
Para exemplificar esse tipo de conhecimento, vamos imaginar
que você escreva um bilhete assim:
Que informações estão faltando? Falta identificar: o remetente,
o destinatário, o local e a data. Sem esses dados será impossível
determinar o fato referido no bilhete.
Conhecimento metacognitivo.
O conhecimento metacognitivo possibilita ao produtor garantir
a compreensão do texto e conseguir a adesão do interlocutor a res-
peito dos objetivos pretendidos com esse texto, evitando distúrbi-
os na comunicação. Utiliza, para isso, vários tipos deações lingüís-
ticas, configurando-as no texto por meio de sinais de articulação
ou apoio textuais, como, por exemplo, recursos gráficos, repeti-
ções, paráfrases, parênteses de esclarecimento. Observe, na tirinha
apresentada a seguir (Texto 4), os recursos lingüísticos e gráficos
utilizados para marcar as falas das personagens de Laerte: Gato
(branco) e Gata (preta).
Texto 4:
Piratas do Tietê – Laerte
Estou aqui, agora.
Pode vir.
Qual a função desse conhecimento? Registre
a sua resposta no caderno de anotações, antes de
acompanhar a nossa reflexão a esse respeito.
Disponível em: www.laerte.com.br . Acesso em 30/8/07.
Eis os recursos utilizados pelo autor e fundamentados no
conhecimento metacognitivo:
• nas falas do Gato: a palavra LUTA sublinhada, retomada três
vezes, e relacionada a três deferentes temas: “...luta contra a
miséria?”; “... luta contra a opressão?”; “...luta por
liberdade?”;
• na fala da Gata: a palavra “ECOLOGIA”, negritada e entre
aspas.
42 LETRAS (Português e Espanhol) – Licenciatura
Conhecimento superestrutural ou
Conhecimento sobre gêneros textuais.
Vejamos.
O conhecimento superestrutural refere-se às superestruturas ou
modelos textuais globais, ou seja, os gêneros textuais. É esse co-
nhecimento que possibilita identificar textos como exemplares
adequados aos diversos eventos da vida social, assim como a orde-
nação ou seqüenciação textual de acordo com os objetivos preten-
didos. Exemplos de gêneros textuais: bilhete, carta, resumo, rela-
tório, horóscopo, fábula.
Esperamos ter evidenciado que a construção de sentidos na
leitura e na produção de textos, atividades altamente comple-
xas, depende de vários tipos de conhecimentos
socioculturalmente determinados e vivencialmente adquiridos
e que constituem o contexto, conceito que estudaremos na pró-
xima subnidade.
ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM
O que você pode dizer para atender o que é pedido nas três
questões abaixo? Coloque seus comentários no FORUM.
1) Ao ingressar num curso superior, na modalidade Educação a
Distância – EaD -, qual é a sua opinião sobre o papel dos textos,
falados e escritos, verbais e não verbais, considerando os temas
pertinentes às áreas de conhecimento a serem trabalhadas durante
esse curso e depois dele?
2) Depois dessas reflexões, recorde como foram as suas aulas de
Língua Portuguesa no Ensino Fundamental e Médio. Tente lem-
brar-se do discurso dos professores, para ver que concepção de
língua e de leitura (rever unidade I) eles adotavam no ensino da
disciplina. Se adotavam a primeira concepção, certamente pergun-
tavam, em algum momento de suas instruções de aula: o que o
autor quis dizer no texto? Se adotavam a segunda concepção, per-
guntavam: o que o texto quer dizer? Ou adotavam as duas concep-
ções, fazendo uma salada?
3) Suponhamos que você seja convidado a escrever um peque-
no artigo sobre o que é e de que depende a leitura, para publicar
Esse tipo de conhecimento refere-se a quê?
Você saberia citar, como exemplos,
os nomes de alguns gêneros textuais?
43Leitura e Produção de Textos
BOFF, Leonardo.
A águia e a galinha:
uma metáfora da
condição humana, 4. ed.
São Paulo: Vozes, 1977.
TODO PONTO DE VISTA É A VISTA DE UM PONTO
Ler significa reler e compreender, interpretar.
Cada um lê com os olhos que tem.
E interpreta a partir de onde os pés pisam.
Todo ponto de vista é a vista de um ponto.
Para entender como alguém lê, é necessário saber como são
seus
Olhos e qual a sua visão de mundo.
Isso faz da leitura sempre uma releitura.
A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam.
Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de
quem olha.
Vale dizer, como alguém vive; com quem convive, que
experiências
tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os
dramas da vida e da morte e que esperanças o animam.
Isso faz da compreensão sempre uma interpretação.
Ler o poema, intitulado “Todo ponto de vista
é a vista de um ponto”, de Leonardo Boff.
2.2 O contexto nos processos de construção
de sentidos na leitura e na escrita
Nos processos de leitura e escrita, o texto corresponde a um
projeto de dizer construído em uma dado con-
texto, ou seja, em cada situação comunicativa.
O que é isso: projeto de dizer? A gente faz projeto para dizer algu-
ma coisa? Parece estranho, mas não é. Nós projetamos, sim, o que
e como dizer as coisas, em cada contexto, considerando: quem fala,
com quem, quando, onde, em que condições, com que propósito
etc. E não é só na modalidade escrita, na falada também.
Entendeu?
no jornalzinho criado por uma turma do primeiro ano do seu cur-
so. Para isso, consulte o texto-base e faça as leituras indicadas no
“saber mais”
Para saber mais
44 LETRAS (Português e Espanhol) – Licenciatura
Exemplo. Você é uma mulher. No ponto de ônibus, você preci-
sa pedir uma informação para um homem. Você não o conhece.
Num segundo, você planeja como se dirigir a ele para obter a in-
formação que deseja. Desde o vocativo com que vai se dirigir a ele,
até a entonação da voz, tudo é projetado. Você tem a possibilidade
de dirigir-se a ele com as expressões vocativas: cara; homem, se-
nhor; dito cujo, gostosão, lindo, moço etc. As possibilidades que a
língua lhe oferece são inúmeras. Você escolhe o vocativo mais apro-
priado, mais conveniente para a situação. E tem de fazer isso, pois
se agir de qualquer jeito, pode não obter a informação desejada e
até causar má impressão ou arrumar encrenca. Todo dizer é um
projeto de dizer. Mais um exemplo? Lá vai um na modalidade es-
crita: Texto 5.
Texto 5:
Menino cheio de coisa
Vejam só: aos nove anos e três meses de idade, Serginho está deitado em baixo das
cobertas com uma calça de veludo de duzentos e vinte reais, camiseta de quarenta e
cinco, tênis que pisca quando encosta no solo, óculos de sol com lentes amarelas, taco
de beisebol, jaqueta de náilon lilás, boné da Nike, bola de futebol de campo tamanho
oficial, dois times de futebol e botão, CD dos Tribalistas, joystick, Gameboy, uma caixa
de bombom de cereja ao licor, dois sacos de jujuba, um quebra-cabeça de mil e qui-
nhentas peças, um modelo em escala do “F” cento e dezessete (desmontado), chocolate
pra uma semana, três pacotes de batatinha frita (novidade, com orégano), dois litros de
refrigerante com copo de canudinho combinando, quatro segmentos retos e quatro
curvos de pista de autorama, dois trenzinhos (um de pilha e um de corda), controle
remoto, duas raquetes de pingue-pongue, duas canecas do Mickey e nem adianta seu
pai, do outro lado da porta trancada pelo menino emburrado, dizer que sua mãe já
volta.
Fonte: BONASSI, Fernando. Folha de S. Paulo, 12 mar. 2005. Folhinha.
Na leitura e produção de sentido desse texto, você deve consi-
derar:
a) o contexto lingüístico, ou seja, o co-texto, que já orienta o
nosso olhar na construção da imagem do menino, sugerida no
próprio título: Menino cheio de coisa;
b) o gênero textual miniconto e sua funcionalidade. Como vi-
mos na Unidade I, cada gênero serve para realizar uma forma
de ação. Que ação se faz por meio do miniconto? Certamente
uma ação breve de comunicação de um conteúdo narrativo
ficcional, com fins literários;
c) a tematização proposta no título Menino cheio de coisa, que
situa o protagonista da história nos tempos atuais, mais especifi-
45Leitura e Produção de Textos
camente no contexto das relações familiares, exigindo do leitor
uma compreensão não ingênua da situação. Isso porque não se
trata de relato de uma cena familiar inocente, mas de uma críti-
ca bem humorada à educação das crianças, sustentada nos valo-
res do consumismo;
d) a data da publicação, que situa o relato no tempo: a atual
sociedade de consumo;
e) o meio de veiculação: o jornal Folha de S. Paulo, mais precisa-
mente o Caderno Folhinha, dirigido a crianças e a seus pais. Por
isso, o conto é míni, para uma

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