Buscar

03 web aula SJJ

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

*
SOCIOLOGIA JURÍDICA DO CONFLITO 
Web aula 3 S.J.J.
Luciano Stodulny
*
 
Tanto nas atividades de cooperação como nas de concorrência podem ocorrer conflitos de interesses. Conflitos surgem igualmente nas atividades de concorrência, quando as partes vão além daquilo que lhes é lícito fazer no campo do seu próprio interesse. 
Todos os conflitos que podem surgir na vida social são redutíveis a um desses tipos: conflitos de cooperação, os que ocorrem na atividade de cooperação, e conflitos de concorrência, os que se verificam na atividade de concorrência. O que determina a natureza do conflito é a natureza da atividade. 
*
Sobre o tema, Paulo Nader pondera com propriedade: “O conflito se faz presente a partir do impasse quando os interesses em jogo não logram uma solução pelo diálogo e as partes recorrem à luta, moral ou física, ou buscam a mediação da justiça. Podemos defini-lo como 
oposição de interesses, entre pessoas ou grupos, não conciliados pelas normas sociais. No conflito a interação é direta e negativa. O Direito só irá disciplinar as formas de cooperação e competição onde houver relação potencialmente conflituosa.” Conclui o prestigiado autor: “Os conflitos são fenômenos naturais à sociedade, podendo-se até dizer que lhe são imanentes. Quanto mais complexa a sociedade, quanto mais se desenvolve, mais se sujeita a novas formas de conflito e o resultado é o que hoje se verifica, como alguém afirmou, em que o maior desafio não é o de como viver e sim o da convivência” 
*
 
Superar um conflito de interesses é aquilo que chamamos composição. E aí está a segunda grande função social do Direito: compor conflitos. 
Em que consiste a composição de um conflito? 
Não consiste em fazer desaparecer o conflito, porque isso, como já vimos, é impossível. Não se pode evitar o conflito, por mais que se procure preveni-lo. 
*
 O Critério da Composição Voluntária 
É aquele que se estabelece pelo mútuo acordo das partes. Surgindo o conflito, as partes discutem entre si e o resolvem da melhor maneira possível, quase sempre atentando para os próprios deveres e obrigações estatuídos pelas normas do direito. O estudante, por exemplo, entra numa livraria e compra um livro. Ao chegar em casa observa que lhe faltam algumas páginas; volta à livraria, reclama ao vendedor e este, imediatamente, substitui o livro defeituoso por outro perfeito. Houve um conflito de interesses - resolvido por meio da composição voluntária. 
*
A mais moderna legislação processual no mundo todo tem estimulado a composição voluntária como forma de aliviar a sobrecarga do Judiciário. 
No Brasil, a Lei dos Juizados Especiais (Lei nº 9.099/95) prevê expressamente (arts. 21 a 24) uma fase de conciliação, conduzi da via de regra por conciliadores, antes da causa ser submetida ao julgamento do juiz togado. O Código de Processo Civil também estabelece uma audiência prévia de conciliação tanto no procedimento sumário (arts. 277/278) como no ordinário (art. 331). 
Temos ainda a Lei de Arbitragem (Lei nº 9.307/96), da qual poderão valer-se todas as pessoas capazes de contratar para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis. A conciliação e a arbitragem não são, a rigor, formas puras de composição voluntária, uma vez que sempre contarão com a interferência de um terceiro - o conciliador ou o árbitro. São, todavia, formas mistas que estimulam e valorizam a participação dos litigantes na composição do conflito. 
*
O Critério Autoritário 
Por esse critério, cabe ao chefe do grupo - Rei, Cacique, Senhor etc., o poder de compor os conflitos de interesses que ocorrem entre os indivíduos que se encontram sob sua autoridade. Normalmente a autoridade lança mão do seu foro íntimo, do próprio senso de Justiça, daquilo que a consciência lhe inspira, para desempenhar a tarefa de compor conflitos. 
*
Na sociedade de hoje o critério autoritário é ainda utilizado no meio familiar. O chefe da família muitas vezes tem de resolver os conflitos de interesses que surgem entre os seus membros, filhos, parentes, empregados etc., lançando mão de soluções que vai buscar em seu foro íntimo. 
Estes dois critérios, entretanto, são imperfeitos e insuficientes para resolver conflitos de interesses que surgem nas sociedades humanas, quando estas atingem sua forma plenamente evoluída. É aí que se apresenta o terceiro critério, justamente aquele que mais nos interessa. 
*
O Critério da Composição Jurídica e suas Características 
Em suma, para que a composição seja jurídica, tem que ser realizada através de um critério anteriormente estabelecido e perfeitamente enunciado para conhecimento de todos, que atenda à universalidade dos casos que se apresentarem dentro do mesmo tipo. 
Destacamos as duas principais funções que o Direito realiza na sociedade. A primeira é a de prevenir conflitos, que podem ocorrer tanto nas atividades de cooperação como nas de concorrência. Isto ele faz através do adequado disciplinamento das relações sociais. A segunda é a de compor conflitos, que acabam por ocorrer não obstante toda prevenção exercida pelo direito, e isto ele faz através do critério jurídico. 
*
A Função Social do Direito na Atual Ordem Jurídica Brasileira 
A função social do Direito é consagrada no novo Código Civil no seu art. 422 ao dispor que a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. Temos ali uma cláusula geral a ser observada em todo e qualquer contrato, dos mais simples aos mais complexos, e que altera substancialmente o conteúdo da atividade contratual. Exige dos contratantes uma postura mais humana, menos individualista, inaugurando um novo tempo no mundo negocial. Quem contrata não mais contrata apenas com quem contrata; contrata também com a sociedade. Na jornada de Direito Civil promovida pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal foi proposta a seguinte interpretação para esse dispositivo: “A função social do novo Código Civil não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio, quando presentes interesses metaindividuais ou interesse relativo à dignidade da pessoa humana” 
*
Em conformidade com a Constituição, como não poderia deixar de ser, o § lº do art. 1.228 do novo Código Civil submete o exercício do direito de propriedade à sua função social. “O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais”... Ao falar em finalidade social o diploma civil refere-se ao destino social da coisa, seu estado normal de servir ao ser humano. 
*
Mediação conciliação e arbitragem 
Na conciliação, o terceiro não interessado promove entendimentos entre as partes, para que estas cheguem a solução mutuamente satisfatória, mediante transação. Já na mediação o mediador atua de modo a aproximar as partes, inclusive propondo diversas soluções , procurando convencer ambas as partes de conveniência de acolherem uma das propostas e encerrarem o litígio, portanto, na mediação, o papel do terceiro é mais ativo do que na conciliação.
Pela lei brasileira, somente litígios acerca de direitos patrimoniais disponíveis podem ser solucionados pela arbitragem. 
*
O que se evidencia, com os exemplos citados, é que a socialidade não se resume a uma disposição abstrata, mas a um princípio que modernamente alimenta toda a nossa ordem jurídica.
*
CASO 1 
TEXTO 1 - Mediação, conciliação e arbitragem são soluções diferentes para os conflitos. Embora ainda usados impropriamente como sinônimos, a mediação, a conciliação e a arbitragem são conceitos diferentes. No procedimento de mediação, o mediador visa restabelecer o diálogo entre as partes. De acordo com Eliana Tenório, sócia fundadora do TAAB (Tribunal de Alçada Arbitral Brasileiro), o mediador está voltado para a relação entre os envolvidos. Na mediação, quem decide são as partes envolvidas na disputa. “Dois irmãos brigam por causa de uma cadeira.
Nesse caso, o mediador, através de técnicas de abordagem, percebe que restaurar a relação entre os irmãos é o principal ponto, tratar o conflito entre eles e depois buscar a solução para a cadeira”, diz. 
Na conciliação, as partes já se polarizaram sobre a questão, há a identificação clara do problema que deve ser resolvido. A parte já tem o objeto, por exemplo: empregado e empregador discutem o pagamento de verbas trabalhistas. As partes querem obter um bom acordo, definir o quanto e de que forma será feito o pagamento. A solução do conflito é o objetivo do conciliador, ele busca os termos de como será cumprido o acordo. 
A arbitragem surge no momento em que as partes não resolveram de modo amigável a questão. Trata-se de um procedimento de natureza contenciosa e informal. O árbitro decide a controvérsia, um especialista sobre o tema avalia a situação e profere sua decisão. Em geral, o árbitro é eleito pelas partes ou indicado pela câmara arbitral porque tem um grande conhecimento sobre o assunto tratado (Notícias do Última instância. Disponível em  http://ultimainstancia.uol.com.br/noticia/31063.shtml). 
*
TEXTO 2 - O Advogado e a Arbitragem: Aceitação da Inovação no Mundo Jurídico. A imagem criada pela sociedade do "bom advogado" vem contaminada. As partes buscam mesmo que inconscientemente uma pessoa de certa idade, de vestimenta séria e impecável sentada atrás de uma mesa repleta de livros ultrapassados, já amarelados pelo tempo. Pura ilusão tradicionalista. (...) Neste sentido assevera Dalmo de Abreu Dallari: "Assim o Judiciário envelheceu e o que muitos, dentro dele, veneram como tradições, não passa de sinais de velhice".
Na tentativa de desatravancar tais paradigmas certas mudanças legislativas são tomadas. Uma delas foi a regulamentação da arbitragem, pretendendo ser assim uma solução à estagnação do Judiciário. Porém, para que a sociedade a conheça e que tal procedimento ganhe força, cabe ao advogado abrir-se para as exigências mercadológicas de trabalho e aceitar o novo, agindo na busca de conhecimento e tendo flexibilidade para adaptação à novidade. É necessário que ele conheça seus critérios para que possa expor com segurança qual o melhor caminho a ser seguido pela parte: se vale a pena a proposição de uma ação judicial ou a discussão de decisão arbitral. Do mesmo modo que sua participação é essencial à Justiça, o advogado é essencial ao procedimento arbitral, propiciando maior técnica jurídica à defesa das partes, além da fiscalização da atuação dos árbitros.
A advocacia é uma profissão particularmente permeável aos  indicadores de mudanças sociais.  O advogado  deve estar preparado para o futuro. Neste encontro determinístico, ele tem que estar pronto para enfrentar os novos desafios (adaptado de ZABIN, Andirá Cristina Cassoli. Disponível em http://www.sisnet.aduaneiras.com.br/lex/doutrinas/arquivos/170507.pdf).
a) De acordo com o exposto no texto 1, responda: qual é a diferença entre conciliação e mediação?
b) Que espécies de litígios podem ser solucionados por arbitragem? 
c) Explique a revisão de paradigmas de Justiça de que fala o texto 2, com o novo perfil do advogado que esses modelos exigem.
*
QUESTÃO OBJETIVA
Banco é punido por demorar a atender cliente. As longas filas e a demora para atendimento nos bancos continuam gerando polêmica. O Banco A.R. foi condenado pela Justiça do Rio a pagar R$ 1.350,00 por danos morais a L. M.. Motivo: por três vezes, ele foi a uma agência de Petrópolis, em 2006, e teve de esperar por quase uma hora para ser atendido. (...). O voto do juiz Flávio Citro Vieira de Mello, relator do recurso, apontou a violação da Lei Estadual 4223/2003, que estabelece limite de 20 minutos de espera em fila de atendimento, e foi acompanhado pelos juízes Ricardo Andrade e Eduarda Souza Campos (Disponível em www.tjrj.gov.br,  27.04.2007).
 
No que diz respeito ao caso em tela, uma vez instaurado o conflito, qual foi a via eleita pelas partes para compô-lo?
a) Conciliação
b) Mediação
c) Voluntário
d) Judicial
e) Autoritário

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais

Outros materiais