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CONTEÚDO-TEORIA GERAL DA PROPRIEDADE

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TEORIA GERAL DA PROPRIEDADE 
 
 
Aula 1 
 
 
Aspectos Sociais e Filosóficos. Noção Geral de Propriedade. 
 
 
 
No conjunto das instituições sociais e jurídicas a 
propriedade se projeta como uma das mais relevantes, pois permite a satisfação das 
necessidades primárias e complementares do ser humano, favorece o 
desenvolvimento da cultura e do progresso, além de apresentar profundas 
implicações na questão social. Se a propriedade privada funciona, de um lado, como 
instrumento de satisfação pessoal, estímulo ao trabalho e a criatividade, favorece, 
de outro, a concentração das riquezas em detrimento da distribuição dos bens. Ao 
mesmo tempo, abre um imenso campo de litígio de toda ordem, ensejando ações 
cíveis e criminais. Trata-se do mais completo dos direitos subjetivos, núcleo dos 
direitos reais. 
Por esses motivos, o seu estudo tido é objeto apenas de 
algumas ciências particulares, como o Direito, a Economia, a Antropologia e a 
Sociologia, mas fundamentalmente da Filosofia, que é a sede das discussões 
ideológicas em tomo da pessoa e da sociedade. As controvérsias ideológicas giram 
em torno da propriedade imobiliária, especialmente devido à possibilidade de 
concentração. Quanto à coisa móvel em geral, indiscutível a legitimidade de sua 
apropriação, pois negá-la seria o mesmo que impedir a sobrevivência da pessoa. 
A evolução histórica da propriedade revela uma 
progressiva superação do individualismo em prol da justiça social. A preocupação 
atual é a de atenuar os excessos do capitalismo, impondo-se a propriedade uma 
função social. 
 
Há diversas posições que tentam explicar a propriedade, 
corno a de um grupo que situa a propriedade como direito natural (com origem 
antiquíssima). A teoria mais antiga é a da ocupactio, sustentada por jurisconsultos 
romanos. 
Outro fundamento da propriedade seria uma convenção 
tácita firmada pelos membros da sociedade, segundo a qual cada um deveria em 
nome da paz social, respeitar as coisas adquiridas pelos demais. Essa teoria se 
assemelha a do contrato social, exposta por Jean Jacques Rousseau, mas diferindo 
da anterior por não considerar os tempos primitivos, mas a sociedade já constituída 
e cada membro com os seus bens e posses. 
O trabalho também tem sido invocado como fundamento 
da propriedade, pois as riquezas nascem de alguma atividade do ser humana. Tal 
concepção foi exposta por Locke. Contudo há limitações nela, pois não justifica que 
a propriedade pode nascer de fatores diversos, como a herança, a ocupação, o 
aluvião e do próprio efeito multiplicador do patrimônio. Essa teoria seria mais 
aplicável nos tempos primitivos do que no presente. 
Outra concepção em relação aos fundamentos da 
propriedade reside na imperiosa necessidade de as pessoas assegurarem a sua 
conservação, apropriando-se para sua própria sobrevivência. 
Por fim, o fundamento último da propriedade estaria no 
direito original de liberdade e de conservação, considerando aí como conceito mais 
fundamental para a vida humana. Na Encíclica Mater et Magistra, o papa Joao XXIII 
identificou a propriedade privada como instituto de Direito Natural: 
 
 
"... de nada valeria reconhecer ao homem o direito de agir 
livremente no campo econômico, sem que lhe fosse 
reconhecida, ao mesmo tempo, a liberdade da escolha e do 
emprego dos meios necessários ao exercício desse direito.” 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIA GERAL DA PROPRIEDADE 
 
 
Aula 2 
 
 
O Direito de propriedade na antiguidade. 
 
 
Ao longo da história a propriedade foi objeto das mais 
variadas formas de organização. Houve povos que não chegaram a conhecer a 
propriedade privada, variando entre eles, seja para admitir o domínio em relação ao 
rebanho, seja não reconhecendo o domínio sobre terras. Algumas tribos distribuíam 
as terras, para o seu cultivo, sem que se estabelecesse vinculo de domínio e, 
anualmente, os membros trocavam essas terras. A propriedade limitava-se aos 
frutos das colheitas. Entre os gregos as regras eram inversas: havia o domínio sobre 
as terras e o condominio quanto à colheita. 
Tanto na Grécia como em Roma, duas instituições se 
mantinham inseparáveis: a família e o direito de propriedade. Havia uma relação o 
muito forte entre a família e o solo ocupado, não se cogitando de mudança de lugar, 
salvo por motivos excepcionais. A casa era considerada propriedade da família e 
não de qualquer um de seus membros. 
Para Fustel de Coulanges, "não foram as leis, mas a 
religião o que primeiramente garantiu o direito de propriedade". 
Em Esparta, uma das cidades-estado gregas, chegou-se 
a vedar a venda das terras, pelo que a propriedade assumia caráter de coisa 
inalienável. 
Em Roma, a Lei das XII Tábuas não ofereceu uma 
definição de propriedade. Os institutos jurídicos como um todo sofreram diversas 
alterações ao longo dos tempos, haja vista a longeva duração do império. Houve, 
tempos que em Roma, apenas os cidadãos romanos poderiam assumir a 
propriedade, enquanto aos não romanos era acessível apenas a posse para fins 
comerciais. Quanto ao objeto da propriedade tratou-se de coisa móvel, não havia 
restrições. Em relação aos imóveis eram suscetíveis de domínio apenas as terras 
localizadas em território italiano. Ao lado da quiritária, havia a propriedade pretória, 
também conhecida por bonitária, que podia ser adquirida através da usucapião, 
transformamdo-se em propriedade quiritária. O tempo de posse era de um ou dois 
anos, sendo também uma das exigências a cidadania romana, excetuando-se os 
não romanos que tivessem a posse do jus comercii. 
Denominava-se res publicae a coisas pertencentes ao 
Estado, como as praças, as ruas, os teatros. Elas sujeitavam-se a regras próprias de 
proteção. 
Relativamente às terras pertencentes às províncias, 
podiam ser tanto como res publicae como aerarium populi romani ou do fiscus. 
Na Idade Média, os suseranos, visando à defesa de seus 
domínios contra possíveis invasões, firmavam pactos para a distribuição de terras 
mediante um pagamento como apoio bélico para defesa. Pelo sistema vigente pós-
roma, os suseranos conservavam o domínio eminente, enquanto os feudatários, ou 
vassalos, permaneciam com o domínio útil. Havia o escambo por troca de alimentos. 
O sistema feudal praticamente foi extinto no mundo 
ocidental logo após a Revolução Francesa em 1789 e a declaração de 
independência dos Estados Unidos da América do Norte. O Código de Napoleão 
traça a concepção individualista da propriedade. 
 A propriedade privada consolidou-se como garantia dada 
pelo Estado, fruto das influências do pensamento liberal que nortearam a formação 
desses dois países, após ambas as revoluções. Não podemos também deixar de 
lembrar da Magna Charta Libertatum como documento importante para a garantia e 
previsibilidade do domínio privado sobre bens e a limitação e respeito ao Estado ou 
autoridades. 
 Esses valores perderam força ao longo do século XIX 
com o desenvolvimento industrial e com as doutrinas socializantes, os quais 
atribuem um sentido social ao domínio privado ou, até a abolição completa da 
propriedade privada. 
 
 
 
 
 
TEORIA GERAL DA PROPRIEDADE 
 
 
Aula 3 
 
 
Disposições gerais sobre a Propriedade 
 
 
 
O vocábulo propriedade, subjetivamente considerado, 
consiste no poder de usar, gozar e dispor da coisa com exclusão de outrem. O que 
incluem o poder de reavê-la de quem quer que seja. Como dito em outras aulas, 
entre os direitos de caráter patrimonial, revela-se como o mais completo e 
importante. É o instituto de Direito Privado que regula o domínio sobre as coisasem 
geral, definindo os direitos e os deveres do proprietário. Nesta condição é integrante 
do Direito das Coisas e referencial para os demais direitos reais. 
Enquanto o direito subjetivo da propriedade abrange, em 
tese, a plena disponibilidade da coisa, os demais direitos reais contém uma apenas 
ou algum tipo de poder sobre ela. O usufrutuário, por exemplo, tem o direito de usar 
e fruir da coisa, mas não pode aliená-la. 
Trata-se da configuração dos elementos do jus utendi, 
fruendi et abutendi, o direito de usar, fruir e dispor da coisa. Caso esses três 
elementos estejam consolidados numa pessoa, a relação de domínio dela é plena. O 
usufrutuário, como exemplo, tem o direito de usar e tirar os frutos que a coisa 
propiciar (incluindo os civis e naturais) enquanto o direito de disposição da coisa fica 
pertencendo ao nu-proprietário. 
O direito de propriedade é vasto, pois encampa todos os 
poderes possíveis sobre a coisa, ressalvados apenas os limites impostos pelas leis a 
favor do interesse social. Já houve tempos que o direito de propriedade se dizia 
como absoluto, mais por sua validade erga omnes, oponível a qualquer pessoa e 
não no sentido de franquear ao titular ilimitados poderes sobre a coisa. 
 Embora a ordem constitucional garanta a propriedade 
privada, a cada dia surgem novas limitações ao exercício desse direito, ditadas pelo 
interesse social e, principalmente pela finitude dos bens e pelo excessivo acúmulo 
deles em mãos de uns poucos. Coube ao Estado, de diversos modos, tentar 
proporcionar a todos o acesso aos bens da vida, o que inclui a limitação social ao 
domínio. 
Desta forma, o titular da propriedade passar a ocupar o 
polo ativo da relação jurídica, sendo que a coletividade figura no polo passivo e 
como detentora do dever juridico de respeitar a propriedade e o seu exercício. 
 Reconhecida a feição social da propriedade, o titular 
desta possui dever de ordem social, que lhe impõe a utilização da coisa na forma de 
sua destinação. O exercício do direito de propriedade além de sua natural finalidade 
e em detrimento de terceiros, constitui ilícito. O seu irregular uso pode configurar 
certas ilicitudes, previstas no Direito de Vizinhança e em regras administrativas. 
Há certas divergências nas correntes do pensamento 
jurídico, sendo que para alguns, o direito de propriedade incide apenas sobre bens 
corpóreos, enquanto para outra o objeto se estenderia também aos incorpóreos, 
neste caso, a propriedade literária, artística e científica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 4 
 
 
Conceito de Propriedade 
 
 
 
 
 O atual Código Civil brasileiro não contém uma 
definição de propriedade, mas apenas a enumeração dos poderes do proprietário, 
junto ao artigo 1.228: 
 
 
"O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa e o direito de reavê-lá de 
quem quer que injustamente a possua ou detenha.” 
 
 
 Esse texto é quase uma reprodução do artigo 524 
do antigo Código Civil. A propriedade admite uma gama de faculdades asseguradas 
pela ordem jurídica ao titular do direito subjetivo. Tais atribuições não são 
fragmentadas, mas fazem parte de um conjunto unitário, que confere ao titular o 
amplo poder sobre a coisa. 
Usar significa tirar proveito das utilidades que a 
coisa oferece, sem destruí-la, derivado da própria posse do objeto. É o jus utendi 
romano. 
Já o direito de gozar, ou jus fruendi, confere ao 
proprietário o poder de perceber os frutos que a coisa produz. Ao valer-se de tal 
faculdade, o dono deve estar na posse da coisa. O exercício desse poder implica 
também o de uso. Graças a esse poder o proprietário, que cultivou a terra, 
semeando-a, procede à colheita de seus frutos. Os frutos, todavia, não se limitam 
aos naturais, produzidos pela terra, mas alcançam também os rendimentos que a 
coisa produz, como os aluguéis, daí o termo frutos civis. Há ainda os que defendem 
a existência de frutos industriais, derivados de uma atividade manufatureira. 
No caso da locação, verifica-se o 
desmembramento dos poderes inerentes ao domínio: enquanto o proprietário 
permanece com o jus fruendi, o jus utendi fica em poder do locatário. 
O poder de disposição da coisa, correspondente ao 
jus abutendi, consiste na capacidade de o proprietário se desfazer do objeto, seja 
consumindo-o, alienando-o ou dando-lhe qualquer outra destinação, atendidos os 
requisitos de lei. 
O proprietário tem ainda, o direito de reaver a 
coisa, podendo va-ler-se da chamada ação reivindicatória, a fim de receber o que e 
seu de quem injustamente o possua. Quando o dispositivo legal se refere a "quem 
quer que injustamente a possua ou detenha", o legislador não restringe o poder da 
chamada posse injusta, que se caracteriza pela forma violenta, clandestina ou 
precária de aquisição. 
Isso foi empregado com acepção bem ampla, como 
ação contrária ao valor justiça ou prática juridicamente condenável. 
Mesmo quando duas ou mais pessoas são 
proprietárias de uma coisa, formando-se um condomínio, diz-se que a propriedade é 
exclusiva, pois cada um dos titulares pode afastar a ação de terceiros sobre o bem. 
O artigo 1.314 do Código civil garante a casa condômino, amplos poderes sobre a 
coisa, como o de usá-la, reivindicá-la de terceiro e defender a sua posse. 
 Portanto, diz-se que a propriedade é plena quando 
reuni todos os poderes previstos na lei civil. Ao proprietário não cabe o ônus da 
prova, pois a presunção o favorece. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 5 
 
 
Características da Propriedade 
 
 
 
A doutrina indica, de uma forma geral, as seguintes 
características básicas da propriedade: 
 
a) exclusividade; 
b) perpetuidade; 
c) generalidade; 
d) caráter absoluto; 
e) elasticidade. 
 
A exclusividade significa que o titular do direito detém 
poderes sobre a coisa com exclusão de outrem. 
Já a perpetuidade revela que o direito de propriedade não 
é, obrigatoriamente, sujeito ao tempo ou de caráter transitório, podendo ser 
transmitido inter vivos ou causa mortis. 
A propriedade é geral, vez que a seu titular tudo é 
permitido nos limites da lei, aplicando-lhe a norma da liberdade, de modo que não 
lhe for proibido, licitamente, poderá ser praticado. É um direito oponível a todos, 
possuindo validade erga omnes. 
No passado distante, quando predominava a filosofia 
individualista da propriedade, esse direito era dotado de poucos limites, mas tal fase 
se encontra diminuída nos tempos atuais, substituída pelo princípio de solidariedade 
que deve existir nas relações sociais explicitado na função social da propriedade 
privada, que impede, entre outras coisas, o exercício irregular desse direito subjetivo 
em detrimento do interesse da coletividade. Portanto, não significa de modo algum 
ausência de limites, pois já é admitida a possibilidade de o proprietário incidir em 
abuso de direito. 
Há autores que apontam a elasticidade como um das 
características da propriedade, envolvida em determinadas situações. Esta teria a 
capacidade de retornar a plenitude de seus poderes, quando se extinguisse um 
direito real limitador. Como exemplo, podemos citar a extinção do usufruto pelo 
falecimento do seu titular, quando então a propriedade volta a ser plena, deixando 
de ser apenas uma nua-propriedade, conforme expressa o artigo 1.410, inc. I, do 
Código Civil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 6 
 
 
Função Social da Propriedade esuas especificações 
 
 
As necessidades criadas por mutações sociais induziram 
o legislador a modernizar o conceito de propriedade, compatibilizando-o com as 
exigências da época, mormente para incutir-lhe um sentido mais social. 
Esse avanço é visível na comparação dos conceitos 
emitidos no Código Civil de 1916 com o atual Código de 2002. O primeiro, pelo 
artigo 524, limitou-se a indicar os atributos da propriedade — jus utendi, fruendi e 
abutendi —, enquanto que o vigente, além de reproduzir tais caracteres no caput do 
artigo 1.228, em seus parágrafos expôs alguns princípios que garantem a função 
social da propriedade. 
Devemos fazer uma análise dos dispositivos introduzidos 
pelo Código Civil de 2002, que implementam da filosofia da função social, os quais 
apontam restrições previstas desde a Constituição Federal como em outras leis 
administrativas. A função social, como atributo da propriedade, integra o elenco dos 
princípios fundamentais da Constituição da República, especificamente no inciso 
XXIII do famoso artigo 5º. 
Ao efetivar formas de aplicar a função social da 
propriedade, o legislador, ao mesmo tempo em que estabeleceu mecanismos de 
conversão da posse em domínio, com a multiplicação para 5 das modalidades de 
usucapião, seja com a desapropriação indireta. 
O primeiro parágrafo do artigo 1.228 do Código Civil 
sublinha o dever juridico de o proprietário preservar, na forma da lei especial, a flora, 
a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e 
artístico, bem como evitar a poluição do ar e das águas. São valores não limitados a 
sociedade brasileira, mas uma conquista da humanidade que, em todos os 
quadrantes, reivindica a proteção aos valores vitais a sua própria sobrevivência. 
Além da figura do abuso de direito como ensejador do ato 
ilícito (artigo 187 do Código Civil), o § 2° do artigo 1.228 particularizou a prática 
desse ilícito em relação propriedade, condenando os atos que não correspondem ao 
uso natural da coisa e que visam a prejudicar outros. 
 A função social obriga que o interesse do proprietário não 
deva prevalecer sobre os da sociedade. Nisto há previsão pelo § 3° do mesmo artigo 
a desapropriação da coisa por iniciativa do poder público, quando houver 
necessidade, utilidade pública ou interesse social. Esse dispositivo tem referencia 
com o previsto no artigo 5°, XXIV da Constituição Federal. Há possibilidade, 
também, de requisição da coisa, havendo perigo público iminente. 
A hipótese de uso da propriedade particular, previsto na 
Constituição da República, art. 5°, inc. XXV. A segurança jurídica do proprietário 
limita-se a certeza de que, desapropriado o bem, deverá recebê-lo previamente uma 
justa indenização em dinheiro. Na hipótese de requisição, ocorrendo dano a coisa, 
haverá indenização. 
Na sequência das disposições do artigo 1.228, o 
legislador cuidou da chamada posse-trabalho ou posse pro labore, cuja previsão 
constitucional está no artigo 184, § 3°. Trata-se de uma situação especialíssima, que 
exige alguns requisitos: 
 
a) o objeto deve consistir de extensa área; 
b) posse ininterrupta e de boa-fé, durante mais de cinco anos, por considerável 
número de pessoas; 
c) execução, pelos possuidores, em conjunto ou separadamente, de obras ou 
serviços de interesse social e economicamente relevantes, a critério do juiz. 
 
Na Exposição dos Motivos do Anteprojeto do Código Civil, 
o professor Miguel Reale nos explicou que: 
 
 
"A lei deve outorgar especial proteção à posse que se traduz 
em trabalho criador, quer este se corporifique na construção de 
uma residência, quer se concretize em investimentos de 
caráter produtivo ou cultural...” 
 
Um dos requisitos, a exigência de boa-fé pelos 
compossuidores consiste no desconhecimento da existência de algum impedimento 
ou obstáculo legal a posse. Não cabe aos compossuidores a sua prova, mas, ao 
inverso, será uma atribuição do reivindicante a comprovação de eventual má-fé dos 
ocupantes da extensa área. Caso os compossuidores estejam munidos de justo 
título, a vista do parágrafo único, do artigo 1.201 do Código Civil, haverá a 
presunção de boa-fé. Numa simples analogia com o direito penal, é apropriada a 
comparação com o princípio da inocência. 
Trata-se de uma hipótese mais apropriada a 
desapropriação do que a usucapião, pois há justa indenização fixada pelo juiz, cujo 
pagamento constitui condição essencial para o registro do título de propriedade em 
cartório. Ela se fará nos autos da ação de reivindicação, ajuizada pelo dono do 
imóvel, quando então os citados devem oferecer o seu pleito, comprovando o 
preenchimento de todos os requisitos da lei. Acreditamos que o pedido dos 
compossuidores poderá vir mediante a peça processual da reconvenção. O prazo 
para pagamento deverá ser definido pelo juiz em sua sentença. Quanto não houver 
pagamento, acreditamos que a área deva ser restituída ao seu dono. 
Como se trata de instituto jurídico relativamente novo é 
uma matéria envolta de muitas incertezas, dada a não definição de elementos 
importantes ao pleno conhecimento, cabendo à jurisprudência o fazer. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 7 
 
 
Limites da propriedade. O solo. 
 
 
 
O Código Civil não dimensiona, com exatidão, a 
disponibilidade do subsolo e do espaço aéreo, limitando a atribuir o direito de 
propriedade englobado em relação a sua utilidade. O artigo 1.229 assim estabelece: 
 
 
"A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e 
profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se as atividades que 
sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele 
interesse legítimo em impedi-las." 
 
 
Em síntese, ao mesmo tempo em que a lei tutela o 
proprietário quanto à dimensão vertical útil, veda-lhe o cerceamento do uso por 
terceiros além desse limite. Este dispositivo versa sobre limites ao direito de 
propriedade. 
A interpretação do artigo 1.229 deve ser em conjunto com 
o artigo 1.230, que exclui da propriedade do solo as jazidas, minas e demais 
recursos minerais. Esse dispositivo está em consonância com o disposto no artigo 
176 da Constituição Federal e o artigo 84 do Código de Mineração (Decreto-Lei nº 
227/1967). 
Basicamente a fixação dos limites em cada caso concreto, 
ante as diferenças e respeitando as colocações regionais de cada local deve ser 
conforme a razoabilidade e dentro de imposições feitas pelas leis estaduais e 
municipais. 
O Código Civil italiano, de 1865, retratando a simplicidade 
das edificações de sua época, pelo art. 4446 consagrava a regra pela qual o domínio 
do solo se estendia, sem limites, ao espaço aéreo e ao subsolo. 
 
O espaço aéreo, próprio para a navegação e domínio da 
soberania nacional, cabe a União legislar sobre as condições de seu uso. A parte 
superior do espaço aéreo de navegação deve excluir-se de que possa ser 
patrimônio privado ou mesmo do Estado. 
 A restrição imposta ao proprietário é compatível com a 
função social da propriedade. As regras que disciplinam a propriedade, não se 
esgotam no âmbito do Código Civil, encontrando-se disposições em outros 
estatutos. Ele reproduz vários princípios que ficam dispersos pela legislação 
extravagante. 
 Dispõe o caput do artigo 1.230 do Código Civil que: 
 
 
"A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, os 
potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos por 
leis especiais". 
 
 
Trata-se de um dispositivoinovador em relação ao Código 
de 1916. Dado o interesse social no aproveitamento dessas riquezas, o legislador 
não podia deixar o seu domínio e a sua exploração entregues a iniciativa privada de 
forma livre. A definição de jazida está contida no artigo 40 do Código de Mineração. 
O proprietário do solo tem direito a participação nos 
resultados da lavra, fazendo jus a metade do valor total devido aos Estados, Distrito 
Federal, municípios e órgãos da administração direta da União, de acordo com o 
artigo 11, b, § 10, do Código de Mineração. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 8 
 
 
Descoberta 
 
 
 A descoberta vem disciplinada do artigo 1.233 e seguintes 
do Código Civil. Há um regramento conjunto e inovador em relação à legislação 
anterior. 
 
Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou legítimo 
possuidor. 
Parágrafo único. Não o conhecendo, o descobridor fará por encontrá-lo, e, se não o 
encontrar, entregará a coisa achada à autoridade competente. 
 
Art. 1.234. Aquele que restituir a coisa achada, nos termos do artigo antecedente, terá 
direito a uma recompensa não inferior a cinco por cento do seu valor, e à indenização pelas 
despesas que houver feito com a conservação e transporte da coisa, se o dono não preferir 
abandoná-la. 
 
 
Quem encontra coisa móvel alheia, assume a obrigação 
de devolvê-la ao seu dono ou possuidor. Trata-se de hipótese de coisa perdida, que 
não se confunde com a coisa sem dono, ou res nullius e nem com a coisa 
abandonada, ou res derelictae. Estas, quando encontradas, podem ser apropriadas, 
que se opera mediante a ocupação, disciplinada no artigo 1.263 do Código Civil, 
ressalvada as hipóteses de vedação em lei. 
A diferença entre coisa perdida e coisa abandonada está 
no animus. A perda é não intencional, sem possuidor, sem transformar-se em coisa 
sem dono, enquanto o abandono é despojamento voluntário da coisa. 
Uma das formas de perda da propriedade é pelo 
abandono. Também uma das de sua aquisição é pela ocupação, que é 
assenhoreamento de coisa sem dono. 
 
Sobre a ótica do Direito Penal, podemos extrair as lições 
de Nelson Hungria: 
 
 
"Cumpre acentuar que não se pode considerar perdida a coisa 
que, embora ignorado o exato lugar onde foi parar, continua na 
esfera de custódia do dominus. Assim, o pequeno brilhante 
que se desprendeu de um anel, sem que o percebesse o 
dominus, e foi insinuar-se na greta do assoalho da casa deste, 
não é, sub espécie juris, uma coisa perdida...” 
 
 
 O atual Código Civil denomina descoberta, o achado de 
coisa alheia, enquanto o revogado Código usava o termo invenção. 
 Pelos artigos supracitados, a descoberta enseja fato que 
instaura relação jurídica entre o dono, o possuidor e o descobridor. Este assume a 
obrigação de devolver e, com o adimplemento, adquire o direito à recompensa, 
inclusive com pagamento não inferior a 5 % do valor do objeto restituído. O valor 
será fixado por equidade, devendo o juiz considerar: 
 
 
a) o esforço do inventor para localizar quem perdeu a coisa; 
b) as possibilidades de a coisa ser encontrada por quem a perdeu; 
c) as condições econômicas de ambas as partes. 
d) além disso, terá o direito ao reembolso das despesas de conservação e transporte da 
coisa. 
 
 
Quem perdeu poderá optar entre efetuar os pagamentos 
devidos ao inventor ou abandonar o objeto. O insuperável Pontes de Miranda nos 
explica que: 
 
"o achador pode ser o incapaz, absoluta ou relativamente. 
Porque a achada não é negócio jurídico e nem ato jurídico 
stricto sensu: nela, há o encontrar; elemento puramente fático, 
e a tomada de posse, que e ato-fato juridico... " 
 
 Quando a lei determina restituir a coisa, consagra um 
princípio de ordem moral, de boa-fé. O objeto da descoberta deverá possuir 
expressão econômica ou presumível valor de afeição. Eventualmente, admiti-se que 
poderá ocorrer a aquisição de domínio, fato que se concretiza quando o descobridor 
mantém a posse por tempo suficiente a usucapião, onde a aquisição se opera pela 
prescrição aquisitiva. Desta forma, se admite os efeitos da posse sobre a coisa 
descoberta. 
 No capítulo das coisas vagas, o Código de Processo Civil, 
em seu artigo 1.174, estabelece que na hipótese de o dono da coisa, após a 
descoberta, abandoná-la, o inventor poderá requerer a sua adjudicação. Para que se 
opere a adjudicação, há de haver uma causa especial, ou seja, descoberta seguida 
de abandono. 
 A descoberta, portanto, se materializa quando o inventor 
se apropria da coisa. O interesse na restituição da coisa não se limita ao titular da 
posse ou do domínio, mas se estende a toda sociedade. Prova disso é que o Código 
Penal, pelo inciso II, do seu artigo 169, considera crime a apropriação de coisa 
achada. Se for desconhecido o proprietário para o inventor, este deverá valer-se dos 
meios disponíveis para a sua localização, como o de anúncios escritos ou falados. A 
internet é um instrumento bastante útil nessa empreita. 
 Sendo infrutíferas essas diligências, a coisa achada 
deverá ser entregue a autoridade judiciária ou policial. O juiz também determinará 
que se divulgue a descoberta pela imprensa, inclusive com a possibilidade de 
editais. Transcorrido o prazo de sessenta dias da divulgação e não se apresentante 
o proprietário, a coisa será vendida em hasta pública e o valor apurado, feitas as 
deduções devidas, será do Município onde a coisa foi encontrada. 
Quando a coisa for de reduzido valor econômico, o 
Município poderá desistir de seu direito em favor do inventor, consoante previsto no 
parágrafo único do artigo 1.237 do Código Civil. 
 
 
 
 
 
 
Aula 9 
 
 
Da aquisição da propriedade imóvel 
 
 
 Como um direito subjetivo, a propriedade móvel ou 
imóvel, pressupõe um título que expresse a sua ocorrência ou uma justa causa. 
 
A legislação estabelece um regulamento distinto para as 
aquisições imobiliária e mobiliária, cercando a primeira de maior segurança jurídica, 
ante a sua costumeira maior importância econômica nas pessoas. 
 
Enquanto o modo de aquisição imobiliária se opera, pela 
transcrição do título em cartório do registro imobiliário, a propriedade móvel se faz 
pela tradição. 
 
O contrato de compra e venda, em nosso país, estabelece 
apenas direitos e obrigações, diferentemente de outros sistemas, como o françês, 
onde o contrato possui o poder de transmitir a propriedade. 
 
Sua forma pode ser pública, quando lavrada em um 
tabelionato, ou privada. Mesmo em situações especiais, a forma privada, como por 
exemplo, quando há financiamento bancário para a compra do bem e o documento é 
elaborado pelo próprio agente financiador, funciona como instrumento de translação 
do domínio. Trata-se de legislação específica, também permitida quando há a 
compra com uso de recursos contidos na conta do FGTS do comprador. 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 10 
 
 
Formas de aquisição da propriedade. 
 
 
1ª - Aquisição originária e derivada. 
 
 
Importante destacarmos a distinção existente entre 
aquisição originária e derivada. 
Na originária não há transmissão e, para todos os efeitos, 
a propriedade inicia-se com o adquirente. Trata-se de domínio isento de qualquer 
vício anterior, não havendo, por derradeiro, o fato jurídico gerador do imposto de 
transmissão. A usucapião e a acessão natural são exemplos dessa modalidade. 
O Superior Tribunal de Justiça em um aresto já classificou 
também a desapropriação judicial como forma de aquisição originária: 
 
 
“....a expropriatória,mesmo a indireta, corre em benefícios de 
ambas as partes, do particular, que por esse meio busca a 
compensação econômica do esbulho sofrido, e da 
Administração Pública que, embora já tenha a posse do bem 
ocupado, obterá o reconhecimento da efetiva aquisição 
originária da propriedade.”1 
 
 
Há também quem sustente que a usucapião comporta 
divergência doutrinária, pois a aquisição da coisa não apaga os ônus reais 
anteriormente existentes. 
Na aquisição derivada verifica-se uma relação de 
causalidade entre a aquisição e o anterior estado da coisa. Nesta, se faz presente o 
princípio "nemo plus iuris in alium transferre potest quam tapse habet" ou, ninguém 
pode transferir a outrem mais direito do que possui. 
 
 
1 REsp. nº 427427/SC. 2ª Turma, Rel. Min. Franciuli Netto. 
 
Na aquisição derivada, tem-se a perda do direito de 
propriedade pelo antigo titular, mas, em se tratando de direitos reais sobre a coisa 
alheia, dá-se apenas a diminuição no direito de propriedade preexistente. 
 
Tratando-se de imóveis, a aquisição corrente é a derivada 
excetuada as hipóteses de usucapião e desapropriação. 
 
 
 
2ª - Aquisição inter vivos e causa mortis. 
 
 
 
Pertinente ao modo de aquisição derivada, a doutrina 
distingue a forma inter vivos da causa mortis. 
A primeira se opera entre pessoas vivas, derivadas de um 
negócio jurídico elaborado entre as partes. Temos como exemplo, a compra e venda 
e a doação. 
Já a segunda deriva do evento, ou fato jurídico morte, 
quando então se dá a abertura da sucessão. 
Nesta vigora o princípio da automática, prevista no artigo 
1.784 do Código Civil. Entre o evento morte e a sucessão, portanto, não há espaço 
temporal, pois a aquisição é instantânea, ainda que não se tenha definida a 
identidade do sucessor, funcionando o inventário como procedimento, como 
instrumento disso. 
 
 
 
 
 
Aula 11 
 
 
Formas de aquisição da propriedade. 
 
 
3ª - Aquisição a título singular e universal. 
 
 
 
Na sucessão a título singular, adquire-se um bem ou um 
conjunto individualizado de bens e não a totalidade de um patrimônio. Configura-se 
na transmissão causa mortis, quando há legado atribuído, e o legatário sucede 
apenas em algum ou em alguns bens determinados, sem obrigar-se em outro 
sentido do espólio. 
Na sucessão a título universal, o objeto da aquisição é 
formado pela integralidade de um patrimônio, fato passível de ocorrer na sucessão 
legítima, quando os herdeiros assumem também as obrigações do espólio. Quando 
se diz no termo patrimônio, significa a coletividade de bens, móveis, imóveis, 
semovente, direitos, créditos, débitos deixados pelo de cujus. Em havendo dois ou 
mais herdeiros, cada qual será adquirente, a título universal de uma quota parte do 
todo, após paga todas as dívidas, caso essas existam. 
 
 
 
4ª – Aquisição a título gratuito e oneroso. 
 
 
 
Há efeitos práticos na distinção entre a aquisição gratuita 
e a onerosa. 
Na primeira inexiste a contraprestação, típica dos 
contratos unilaterais, onde transmitente é movido pela intenção de liberalidade. 
Na onerosa há obrigações para ambas as partes, tanto 
para aquele que transfere, como para o adquirente do bem, São situações típicas do 
sinalagma, ou dos contratos bilaterais. 
Na transmissão a título oneroso, em caso de 
inadimplemento de qualquer das obrigações, cada parte responde por culpa, 
ressalvadas as exceções legais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 12. 
 
Formas de aquisição da propriedade. 
 
 
Da Usucapião 
 
 
Etimologia e Nótula Histórica 
 
 
Através da usucapião, pode se adquirir tanto a 
propriedade da coisa imóvel quanto da móvel. Ambas as modalidades são reguladas 
separadamente pelo Código Civil. A primeira esta disciplinada, no conjunto dos 
artigos 1.238 a 1.244, enquanto a da coisa móvel, entre os artigos 1.260 a 1.262. 
 Pela etimologia, o termo usucapião tem a sua origem no 
latim usucapio, vocábulo formado pela conjugação de usu, que outrora significava 
possessio (posse) e capere (adquirir). A partir disso, houve uma alteração feita pelo 
Código Civil atual, em atribuir ao termo pelo modo feminino (daí se expressão “a 
usucapião”) em substituição ao emprego do termo masculino, típico do Código 
revogado. Já ouvimos que alguns linguistas admitem as duas hipóteses, ante a 
habitualidade, o que definitivamente pode ter sido incorporado como certo. O 
dicionário Houaiss dá ao vocábulo seu duplo gênero, tanto masculino, quanto 
feminino. 
 Sua origem é exclusivamente romana, onde a usucapio 
era a aquisição da propriedade quiritaria da coisa corpórea (res mancipi ou res nec 
mancipi), pela posse durante um tempo determinado. Essa resultou da unificação 
promovida á época de Ulpiano, da usucapio, que se referia aos fundos itálicos, com 
a praescriptio, aplicável aos fundos provinciais. 
 Seus fundamentos estavam no interesse público de ver a 
propriedade das coisas cercada de definição, permitindo-se aos proprietários, um 
tempo suficiente para a proteção de seus próprios bens. A posse ad usucapionem 
era a possessio civilis que, segundo a Lei das XII Tábuas, devia ser, 
ininterruptamente, de dois anos para os imóveis e de um, para os móveis (usus 
auctoritas fundi biennium, ceterarum term annus usus esto). Esse pouco tempo de 
posse tinha como justificativa de que Roma apresentava, a época, pequena 
extensão geográfica, circunstância que permitia aos proprietários acompanharem o 
estado em que se encontravam seus bens móveis e imóveis, notadamente quanto a 
eventual posse de terceiros. 
 Os que não eram cidadãos romanos, inicialmente, não se 
beneficiavam da usucapio, decisão com intuito de evitar que o patrimônio romano 
fosse adquirido por estrangeiros. Posteriormente, tal preceito foi modificado. 
 Como destaque de algumas características da época: 
 
A - A coisa deveria ser idônea, ou seja, suscetível de ser propriedade quiritaria. 
Caso fossem furtadas ou roubadas não eram res habilis a usucapio, mas uma vez 
reincorporadas a posse do proprietário tomavam-se usucapíveis por esse. 
 
B – Não eram suscetíveis da usucapio, as coisas fora do comércio (res extra 
commercium), os imóveis provinciais, as coisas do fisco, do príncipe e da Igreja. 
 
C – O possuidor deveria ter uma iusta causa, ou seja, o atual justo título, em 
sentido amplo como se fosse através de um ato jurídico que poderia ser, entre 
outros, feitos por meio de compra (pro emptore), por doação (pro donato), por dote 
(pro dote), por legado (pro legato), o abandono (pro derelicto). 
 
 
 Numa fase seguinte, precisamente no período da 
República romana, passou-se a se exigir a bona fides, ou boa-fé, fundamental no 
momento em que ocorra a tradição da coisa. Essa era presumida, cabendo a quem 
alegasse má-fé do postulante, o ônus de comprová-la. 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 13 
 
Formas de aquisição da propriedade. 
 
 
Da Usucapião 
 
 
Conceito 
 
 
Há em toda a doutrina várias conceituações obre a 
usucapião, mas podemos perceber a possibilidade de uma unicidade. Usucapião é 
modalidade de aquisição originária da propriedade, móvel ou imóvel, e de outros 
direitos reais. 
Teremos um foco, nessa aula, apenas a propriedade 
imobiliária. 
A usucapião tem como pressuposto a posse ininterrupta 
da coisa, durante um tempo determinado, variando de acordo com uma de suas 
cincomodalidades previstas no direito brasileiro, quais sejam, especial urbana, 
especial rural, ordinária, extraordinária e coletiva. 
O fato gerador da propriedade é a sentença judicial de 
caráter declaratória. Ela também pode ser alegada como matéria de defesa, diante 
de uma pretensão petitória, muito embora não dispensando a propositura de ação 
própria, salvo em se tratando de usucapião prevista no Estatuto da Cidade (Lei n° 
10.257/01). Neste sentido, a súmula 237 do Supremo Tribunal Federal: 
 
 
 "O usucapião pode ser arguido em defesa". 
 
 
 
 
 
 Embora tenha o termo prescrição como uma de suas 
palavras definitivas, em nada se assemelha a prescrição como instituto jurídico que 
leva a perda de direitos. Neste sentido, nos demonstra Orlando Gomes: 
 
 
“Diferenciam-se no fim, nos requisitos e nos efeitos, os dois 
institutos não devem ser englobados. Regular a usucapião no 
capítulo da prescrição como uma de suas firmas, é 
desconhecer sua própria natureza" 
 
 
 
 A posse mansa e pacífica, com animus domini (elemento 
subjetivo) deve ser por determinado prazo fixado em lei. Em havendo renúncia, 
acreditamos que deve prevalecer o valor de perda da usucapião, nos termos do 
inciso II do artigo 1275 do Código Civil. Orlando Gomes expressa que “o ato de 
renúncia antes da consumação implica causa de interrupção, ou seja, mata o tempo 
anterior de posse para efeito de usucapião.” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 14 
 
 
Formas de aquisição da propriedade. 
 
 
Da Usucapião 
 
 
Requisitos. 
 
 
 Para obter a declaração de domínio ou propriedade, por 
intermédio da usucapião, o interessado deve satisfazer alguns seguintes requisitos 
expressos como fundamentais pela doutrina: 
 
 
1) O primeiro se refere à capacidade jurídica de fato da 
pessoa, podendo ser tanto a pessoa natural quanto a pessoa jurídica. Também não 
deve haver distinção entre os nacionais e estrangeiros, com fundamento no caput do 
artigo 5° da Constituição Federal. Sempre lembrando, neste último caso em relação 
aos estrangeiros, por estrangeiros subordina-se a lei federal nº 5.709/71 e suas 
alterações posteriores, que estabelece algumas restrições, inclusive no âmbito do 
próprio INCRA.2 
 
 Não há restrição aos absolutamente incapazes, devendo 
sua manifestação de animus domini ser suprida por seus representantes legais 
 
2) O segundo requisito se refere a coisa usucapida. 
Ela deve ser certa e determinada. Temos a exceção clássica de que bens públicos 
não podem ser usucapidos. O artigo 102 do Código Civil é claro ao determinar que: 
 
 
 
2 Recente parecer da Advocacia Geral da União deu uma nova interpretação a lei, limitando as compras de terras por 
estrangeiros, modificando o regime para empresas e investidores do agronegócio do Brasil. O parecer da AGU coloca em 
situação diferenciada as empresas brasileiras daquelas que têm controle estrangeiro. Essas, para realizarem um compra de 
terras, são obrigadas a obedecer um rito, repleto de etapas. 
"Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião" 
 
 
Consideram-se bens públicos aqueles pertencentes 
aos entes federativos brasileiros, a União, Estados, Distrito Federal, Municípios, 
suas autarquias e fundações de direito público, além dos afetados a prestação de 
serviços públicos. 
Em relação as terras devolutas, que são terrenos 
vagos e alienáveis, há divergências na doutrina quanto a possibilidade de serem 
usucapidas. Uma faixa de cento e cinquenta quilômetros de largura ao longo das 
fronteiras de nosso país, pertencem aos respectivos Estados, conforme o artigo 26, 
IV, da Constituição Federal. 
 
Pessoas jurídicas de direito público, também 
podem usucapir bens de domínio particular. 
 Também não podem ser usucapidas as coisas fora 
do comércio, com exceção das inalienáveis por causa mortis ou inter vivos. 
Quanto ao fideicomisso, previsto no artigo 1.951 do 
Código Civil, a propriedade é usucapível apenas em relação ao fiduciário, por ser ele 
que se encontra na posse da coisa. Quando ao fideicomissário, uma vez que o seu 
direito se acha pendente de condição ou termo, não corre a prescrição, nos termos 
do disposto no artigo 199, incisos I e II do Código Civil. 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 15 
 
 
Formas de aquisição da propriedade. 
 
 
Da Usucapião 
 
 
Requisitos. 
 
 
3) O terceiro requisito é a posse, consistente no 
exercício de algum dos poderes inerentes a propriedade. Trata-se de elemento 
central do qual pode se atingir o domínio. A posse pode ser pessoal, pelo próprio 
pretendente a usucapião, como pode ser pelo seu representante ou procurador. O 
inciso II do artigo 1.205 do Código Civil diz que terceiro sem mandato, depende de 
ratificação. 
A posse ad usucapionem deve ser mansa e 
pacífica, portanto, sem oposição. Indispensável que a posse seja pública. Se, 
durante o tempo em que a coisa permaneceu em poder do possuidor o proprietário 
contestar a posse sob qualquer forma, acreditamos que a usucapião se inviabiliza. 
Se houver uma sentença de improcedência da pretensão, transitada em julgado, 
essa oposição será inócua, não impedindo a usucapião. 
A posse adquirida de modo violento ou clandestino 
não geram aquisição de propriedade, enquanto durarem esses atos, conforme 
dispõe o artigo 1.208 do Código Civil. 
De acordo com a doutrina, a posse ad 
usucapionem exige o animus domini, ou seja, que o possuidor exerça o seu poder 
sobre a coisa com a intenção de ser dono, passando isso aos olhos da sociedade. 
Os atos de mera detenção não induzem posse, pois a mantém sob a sua guarda em 
nome de outrem. Temos como exemplo, o caseiro em relação a casa ocupada, o 
motorista em relação ao veículo guiado. 
 
 
 
4) A posse, para ser proveitosa, levando a aquisição da 
propriedade, é preciso que se prolongue no tempo, sendo este variável de acordo 
com a modalidade da usucapião. Deve ser sem interrupções. 
O artigo 1.244 do Código Civil prevê a extensão, para 
efeitos da usucapião, no que couber, das causas que impedem, suspendem ou 
interrompem a prescrição, nos termos dos artigos 197 a 201. 
 Consoante entendimento do Superior Tribunal de Justiça, 
o prazo deve completar-se antes do ajuizamento da ação de usucapião: 
 
 
"Civil. Usucapião. Prazo. O tempo decorrido entre o 
ajuizamento da ação e a sentença não pode ser computado 
para o efeito do usucapião. " 
(REsp. nº 30325/SP, 3ª turma, Rel. Ministro Ari Pargendler, 
julgado em 16.05.2002) 
 
 
 Na comprovação judicial do tempo pelo usucapiente, deve 
haver a caracterização da época em que se verificou o primeiro ato de exercício da 
posse, sem que o tempo intermediário deva ser presumido. Cabe a qualquer 
interessado, provar a interrupção da posse 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 16 
 
 
Formas de aquisição da propriedade. Da usucapião 
 
 
Espécies. Da Usucapião extraordinária. 
 
 
Nas aulas anteriores, uma vez analisados o conceito e 
requisitos da usucapião, passaremos a compreender os seus caracteres 
complementares. 
 
A Usucapião da modalidade extraordinária vem prevista 
no artigo 1.238, sendo que o tempo de posse exigido é de quinze anos. No código 
anterior o prazo era de vinte anos, também tirando a distinção que lá havia entre 
proprietário presente e ausente. Imperioso é que o usucapiente, durante o prazo, 
exerça a posse com animus domini, continuamente e sem oposição.Também não se exige que a posse seja fulcrada em justo 
título e boa-fé, pois ambos são absolutamente presumidos – juris et de jure – de 
nada adiantando ao contestante em juízo, a prova em contrário. 
 
Já no parágrafo único deste artigo, inovou o legislador ao 
formular uma variação do modelo tradicional de usucapião extraordinária, reduzindo 
o prazo de posse para dez anos, desde que o possuidor fixe a sua morada no 
imóvel, realize obras ou serviços de caráter produtivo. 
 
Esses requisitos são alternativos e não conjuntivos. Pelo 
fato de exigir moradia, acreditamos que o legitimado para exercer essa espécie de 
usucapião é somente uma pessoa natural. 
 
Também não há interesse legal em quem edificou a 
moradia, pois a teleologia da lei é a de valorizar a morada e não a de induzir a sua 
construção. 
 
Sobre o requisito de natureza produtiva, o maior 
beneficiado é seja a pessoa que vive em zona rural, embora acreditamos que sobre 
esse fundamento possa ser exercitado em zona urbana. 
 
O Direito Positivo também não fixou qualquer parâmetro 
de avaliação do requisito serviços de caráter produtivo, cabendo ao julgador guiar-se 
pelo valor ou utilidade social do empreendimento. 
 
Seu objetivo maior é a disposição de atribuir um caráter 
social e favorecer, de alguma forma, a crise habitacional e de trabalho. 
 
Havendo procedência na pretensão judicialmente 
deduzida, após o seu trânsito em julgado, constituir-se título a ser registrado no 
Cartório de Registro de Imóveis. E a dicção do artigo 1.238, segunda parte, do 
Código Civil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 17 
 
 
Formas de aquisição da propriedade. Da usucapião 
 
 
Espécies. Da Usucapião Especial Rural 
 
 
 
Também denominada como usucapião pro labore, sua 
origem remonta ao artigo 191 da Constituição Federal de 1988, onde o Código Civil 
de 2002 limitou-se a apenas reproduzi-lo. 
Nesta modalidade o legislador se orientou, 
fundamentalmente, pelo sentido social da propriedade e imperativos de justiça 
social. 
 Para se obter a propriedade por essa espécie, o 
possuidor deverá, além de satisfazer os de caráter geral (capacidade jurídica, res 
habilis, posse contínua, pública e sem oposição, tempo de posse), deverá preencher 
os requisitos de caráter específico, a saber: 
 
 
1 – Negativa de domínio. O possuidor não pode ser proprietário de qualquer imóvel 
rural ou urbano. Esse requisito deve ser preenchimento mediante a apresentação de 
certidão negativa do cartório de registro de imóveis. Contudo, como sabemos que 
esse tipo de certidão se limita as informações da comarca, poderá ser requisitado, 
por exemplo, declaração de bens e renda entregue a Receita Federal. 
 
 
2 – Prazo da posse. O tempo mínimo é de cinco anos período em que o 
usucapiente haverá de exercer a posse com animus domini, sem interrupção, mansa 
e pacificamente. Neste caso, apesar do permissivo do artigo 1.243 do Código Civil, 
alguns não admitem a acessio possessionis. ressalvada a hipótese de sucessão 
hereditária, vez que o preenchimento trabalho e morada possui caráter pessoal e 
incomunicável. É admissível, todavia, esta garantida diante do permissivo do artigo 
1.243; 
 
 
3 – Imóvel rural e sua dimensão. O imóvel objeto da usucapião deve ser uma área 
não superior a cinquenta hectares e situada em zona rural. Talvez alguns 
questionamentos quanto a esse requisito possam ser feitos em algumas cidades, 
ante ao hábito de prefeitos de estenderem a área urbana dessas, por meio de leis 
municipais, com intuito exclusivamente arrecadatórios. A estenderem a área urbana, 
mesmo sem sequer possuir pavimentação, redes de captação de esgoto ou 
distribuição de águas, guias e sarjetas, fazem isso para tentarem aumentar a 
arrecadação do IPTU – Imposto Predial Territorial Urbano, ofendendo regras deste 
imposto contidas no Código Tributário Nacional. 
 
 
4 – Trabalho produtivo e moradia. Durante o tempo de posse, o usucapiente 
deverá desenvolver atividade agropastoril, seja com o seu próprio trabalho ou o de 
sua família. Também é condição essencial a moradia na área. Como a norma 
destaca a área de terras como objeto da usucapião e, ao mesmo tempo, exige a 
moradia no local, subentende-se que a habitação pode preexistir a posse ou ser 
edificada pelo possuidor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 18 
 
 
Formas de aquisição da propriedade. Da usucapião 
 
 
Espécies. Da Usucapião Especial Urbana. 
 
 
Também denominada como usucapião habitacional, 
assim como a espécie estudada da aula anterior, está já tinha previsão no artigo 183 
da Constituição Federal de 1988. Também seu texto foi reproduzido no artigo 90 da 
Lei no 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) e, posteriormente no artigo 1.240 do 
Código Civil. 
Com essa espécie de usucapião, se pretende tutelar as 
dificuldades de acesso a casa própria, problema comum nas cidades brasileiras e 
favorecendo a chamada justiça social. Além dos requisitos comuns as todas as 
espécies, ela tem como requisito: 
 
 
1 – Posse mínima de cinco anos sobre o imóvel. 
 
 
2 – Negativa de domínio. O usucapiente não pode ser proprietário de qualquer 
outro imóvel, seja rural ou urbano, devendo fazer prova neste sentido. Essa 
exigência é compatível com o objetivo social da lei. A fim de evitar abuso, o § 2° do 
art. 1.240 veda a aquisição da propriedade pela segunda vez. 
 
 
3 – Área urbana não superior a duzentos e cinquenta metros quadrados. Há 
limitação da área urbana usucapida para de até duzentos e cinquenta metros 
quadrados, não existindo menção a área construída. O Estatuto da Cidade, que 
entrou em vigor após a Constituição e antes do Código Civil, no seu artigo 90, 
refere-se "área ou edificação urbana de até duzentos e cinquenta metros 
quadrados". A pergunta que surge é se constitui res habilis o prédio com área 
construída superior aquela dimensão, embora em terreno dentro daquele limite? 
Acreditamos que a solução adequada seria a de se restringir a usucapião a área 
construída compatível com as necessidades de quem ocupa o imóvel, mesmo que a 
área construída seja superior a posta no Estatuto da Cidade. 
 
 
4 – Utilização do imóvel como residência própria e de sua família. Pode ser 
residência do pretendente a usucapião como de sua família, quando aquele em 
trabalhar em outra cidade. Esse fato de fora não exclui a posse, uma vez que a 
coisa pode continuar, mesmo assim, sob o controle do usucapiente. 
 
 
5 – A coisa usucapida deve ser localizada em área urbana. Para os fins de 
usucapião, a definição do imóvel urbano não se faz por sua destinação, mas em 
função da região que se localiza no zoneamento municipal. A Jornada de Direito 
Civil, promovida pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal 
aprovou o enunciado n° 85, com seguinte teor: 
 
 
"Para efeitos do artigo 1.240, caput, do novo Código Civil, entende-se por área 
urbana o imóvel edificado ou não, inclusive unidades autônomas vinculadas a 
condomínios edilícios." 
 
 
6 – Pessoa natural como usucapiente. Trata-se de uma exigência implícita neste 
modelo de usucapião, vez que exige como moradia. 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 19 
 
 
Formas de aquisição da propriedade. Da usucapião 
 
 
Espécies. Da Usucapião ordinária. 
 
 
Esta modalidade é subdividida em outras duas 
subespécies, uma que exige dez anos de posse e a outra de cinco. 
A primeira, definida no caput do art. 1.242 do Código 
Civil, exige, além do preenchimentodos requisitos comuns, como justo titulo e boa-
fé 
Podemos considerar como justo titulo o ato jurídico que 
justifica a posse em poder do usucapiente. Pode configurar-se por uma compra, 
permuta, doação, entre outros. Certos acontecimentos podem tornar ineficaz o 
chamado justo titulo. Orlando Gomes indica três causas impeditivas da eficácia: 
 
a) o possuidor firma contrato para aquisição do imóvel com pessoa não proprietária; 
 
b) o negocio é feito com o domino, mas este não estava habilitado para alienar a 
coisa; 
 
c) incidência do vicio de erro no ato negocial. 
 
 
Quanto a boa-fé, esta é tomada em sentido subjetivo, 
além de ser presumida. Trata-se como a crença do usucapiente de que o imóvel lhe 
pertencia de pleno direito, desconhecendo então o vicio impregnado no domínio. 
 
 Lembremos, neste caso, o que preceitua o artigo 2.029 
das Disposições Transitórias do Código Civil: 
Art. 2.029. Até dois anos após a entrada em vigor deste Código, os prazos estabelecidos no 
parágrafo único do art. 1.238 e no parágrafo único do art. 1.242 serão acrescidos de dois 
anos, qualquer que seja o tempo transcorrido na vigência do anterior, Lei no 3.071, de 1o de 
janeiro de 1916. 
 
 
 Os parágrafos mencionados dizem respeito as hipóteses 
em que o prazo é reduzido porque o possuidor estabeleceu no imóvel a sua moradia 
habitual, ou nele realizou obras ou serviços de caráter produtivo. Acrescenta-se 
ainda o artigo 2.030 do Código Civil que: ”O acréscimo de que trata o artigo 
antecedente, será feito nos casos a que se refere o § 4o do art. 1.228.” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 20 
 
 
Formas de aquisição da propriedade. Da usucapião. 
 
 
Espécies. Da usucapião coletiva. 
 
 
O Estatuto da Cidade (Lei Federal n. 10.257, de 
10.07.2001), ao dispor sobre a política urbana, pelo artigo 10 criou a modalidade 
coletiva de usucapião, visando a atender situações especiais, atingindo pessoas 
vivem abaixo da linha de pobreza e a regularizar situações de fato sobre imóveis 
possuídos. 
O imóvel usucapiendo deve situar-se em zona urbana e 
ocupar área superior a duzentos e cinquenta metros quadrados. A posse deve ser 
exercida por pessoas de baixa renda e que vivam coletivamente no local, sem 
divisão interna de espaço, de modo que não se possa identificar o terreno de cada 
um. Os interessados não podem ser proprietários de qualquer imóvel urbano ou 
rural. O prazo estabelecido para a posse, ininterrupta e sem oposição, é de cinco 
anos. Como se observa, não se exige justo titulo e boa-fé dos possuidores. 
A ação de usucapião coletiva pode ser ajuizada por 
qualquer possuidor, isoladamente ou em litisconsórcio originário ou superveniente; 
pelos possuidores, em estado de composse e por associação de moradores da 
comunidade, como substituto processual (art. 12). A entidade deve possuir 
personalidade jurídica e a sua iniciativa há de ser precedida de aprovação em 
assembléia. 
Importante inovação é o fato de a sentença que 
reconhecer a usucapião, alegada em defesa, constituir titulo hábil para o registro em 
cartório de registro de imóveis. 
Estabelecido o condomínio indivisível, os novos proprietários deverão decidir sobre 
os seus interesses, em assembléia, mediante aprovação de, no mínimo, dois terços 
dos condôminos. 
 
Aula 21 
 
 
Formas de aquisição da propriedade. 
 
 
Do Registro de Título Translativo. Aspectos Gerais e Históricos 
 
 
 
A forma mais comum de aquisição da propriedade 
imobiliária é a tradição solene, que se opera pelo registro do título translativo no 
Registro de Imóveis da comarca em que o imóvel esteja situado. 
O primeiro Registro Geral foi instituído pela Lei nº 1.237, 
de 24.09.1864. Essa lei vigorou até o advento do Decreto n° 169-A, regulamentado 
pelo Decreto n° 370, ambos do ano de 1.890. Posteriormente, com a promulgação 
do Código Bevilacqua, aqueles diplomas foram revogados. 
Destacamos também que antes disso o Registro Geral, 
chegou a ser criado pela Lei Orçamentária nº 317, de 21.10.1843, mas com caráter 
de registro de hipotecas, contendo uma simples proteção aos credores, para quem a 
terra constituía uma segurança. 
As regras pertinentes aos registros públicos, dada a sua 
amplitude, devem ser objeto de lei especifica, limitando-se o Código Civil ao 
referencial básico. São poucas as disposições contidas neste Código. 
Em Roma, a propriedade nãoo se transferia por força de 
simples contrato e também não adotou um sistema de registros públicos, embora 
houvesse como modalidades de aquisição de propriedade, a mancipatio; a in iurie 
cessio. 
Pelo primeiro, realizado o negócio, este ganhava 
publicidade, com as partes comparecendo perante o libripens (porta-balanca) e de 
cinco testemunhas, que representavam as cinco classes do povo, instituídas por 
Sérvio Túlio (578-534). O adquirente (mancipatio accipiens), com um bastão de 
bronze (rauduscalum), batia em um dos pratos da balança e, ao mesmo tempo, 
pronunciava uma fórmula solene. Tratando-se de imóvel, utilizava-se de algo que o 
simbolizasse, como um torrão ou uma telha de barro; se móvel, o objeto devia estar 
presente. 
Já a segunda modalidade processava-se perante o 
magistrado e como se fosse uma ação. A forma de aquisição se revestia de 
publicidade e possuía natureza abstrata, desvinculada do negócio causal. 
Atualmente, em alguns ordenamentos, como o françês e o 
italiano, a propriedade se adquire pelo negócio juridico, valendo o registro para a 
produção de efeitos perante terceiros. 
O controle da propriedade imobiliária, pelo assentamento 
em registro público, somente é possível diante da possibilidade de identificação de 
cada imóvel por sua localização geográfica, confrontações e medidas, ou seja, pela 
especialização, que é um dos princípios em que se funda o sistema. 
Veículos automotores tem a sua individuação pelo 
número do chassi, vez são objetos de controle de propriedade pelo Estado. 
Para a firmeza jurídica dos negócios imobiliários é 
indispensável à existência dos cartórios especializados, que se sujeitam a 
fiscalização do judiciário. 
Tendo em vista que todos na sociedade possuem dever 
juridico de respeitar os direitos reais, que possuem validade erga omnes, a sua 
publicidade é imprescindível, função cumprida pelos cartórios. 
Conforme o sistema adotado no Brasil, o registro público 
gera uma presunção juris tantum de domínio. O que está registrado prevalece 
enquanto não se prove o contrário judicialmente. Esta é a letra do artigo 1.245, § 2°, 
do Código Civil. 
Enquanto não houver ordem judicial de alteração ou 
cancelamento do registro, este continua a produzir efeitos jurídicos. 
O artigo 252 da Lei dos Registros Públicos é claro neste 
sentido, deixando induvidosa, também, a presunção juris tantum de veracidade dos 
assentamentos públicos ao dispor que, enquanto não cancelado o registro, dele 
continuarão fluindo efeitos jurídicos. 
 
 
 
 
Aula 22 
 
 
Formas de aquisição da propriedade. 
 
 
Do Processo do Registro. 
 
 
O Código de 2002 optou pela denominação genérica de 
registro, acompanhando neste ponto a Lei n° 6.015, de 31 de dezembro de 1973 – 
Lei dos Registros Públicos. 
O oficial do registro possui o dever de verificar se o título 
reveste-se das formalidades legais que lhe são inerentes, abrindo oportunidade ao 
apresentante, se for o caso, para sanar lacuna. Constatada alguma irregularidade, 
haverá de declarar dúvida ao magistrado responsável pela fiscalização do cartório, 
instaurando-seum procedimento, previsto nos artigos 198 e seguintes da Lei de 
Registro Públicos. 
Pelo artigo 1.246 do Código Civil, o registro se torna 
eficaz a partir da apresentação do título e prenotarão no livro denominado protocolo, 
o qual se destina a anotação diária dos títulos que entram em cartório. Assim, a 
aquisição da propriedade se opera no momento da prenotação, pois os efeitos 
jurídicos do registro retroagem aquele ato. Ao ser prenotado, o documento recebe 
um número correspondente à ordem de apresentação. Tal formalidade é importante, 
pois, havendo conflito entre títulos translativos, estes não poderão ser registrados no 
mesmo dia, ganhando prioridade o de número mais baixo. Se formalizados em 
escrituras públicas, onde constem dia e hora da celebração do ato negocial, o 
registro de tais títulos não obedecerá tal critério prevalecendo à ordem das 
lavraturas. Isto é o teor dos artigos 190 a 192 da Lei Especial. 
O registro público deve retratar, com fidelidade, o quadro 
geral da propriedade imobiliária, informando: 
 
a) a descrição das unidades com sua localização, medidas, confrontações, 
eventuais acidentes geográficos; 
b) a titularidade; 
 
c) os ônus reais (hipoteca, anticrese, servidão, usufruto) e penhora. 
 
 
 
Constatada qualquer divergência no registro, a parte 
interessada poderá requerer, judicialmente, a devida retificação. 
Cada unidade imobiliária deve ter a sua matrícula própria, 
com um número de identificação. Deve ser manter inalterável a matrícula, devendo 
ser anotada sobre ela, todas as transferências da titularidade do domínio e ônus que 
recaiam sobre o imóvel. É possível a unificação de matrículas, se dois imóveis 
contíguos possuam o mesmo titular. Em caso de desmembramento, a parte 
destacada deverá ter matricula própria. 
 Objeto do registro é o título. O ato de registro consiste na 
oficialização da transferência de domínio ou de qualquer fato suscetível de registro, 
previsto no elenco do art. 167, I, da Lei dos Registros Públicos. 
Pela averbação, o oficial do cartório faz anotações a 
margem do registro, consignando dados relevantes, como retificação de nome ou de 
metragem, penhora, extinção de direitos reais, unidade, convenção antenupcial, 
promessa de compra e venda, entre outras previstas no inciso II do art. 167, da Lei 
Especial. 
A matrícula, o registro e a averbação são susceptíveis de 
cancelamento, tanto por decisão judicial, como por iniciativa dos interessados e na 
forma legal prevista. 
Relativamente a matricula, ocorre o cancelamento na 
hipótese já examinada de fusão. 
O registro pode ser cancelado na em partes ou na íntegra. 
O cancelamento de hipoteca deve ser expressa pelo 
credor ou seu sucessor, e feita por instrumento público ou particular; procedimento 
administrativo ou contencioso 
 
 
 
Aula 23 
 
 
Princípios vigentes no sistema registral. 
 
 
Os registros públicos se estruturam em conformidade com 
princípios específicos, os quais apresentamos: 
 
 
1) Princípio da especialização: É condição si ne qua non de um registro é a 
individuação do objeto do direito real, pela indicação de seus dados 
essenciais (localização, medidas, confrontações etc.); 
2) Princípio da publicidade: Dada a importância dos assentamentos, seu 
conhecimento deve ser acessível a todas as pessoas. Por solicitação de 
qualquer interessado, o oficial ou seus prepostos devem fornecer certidões, 
indicadoras dos elementos essenciais do registro; 
3) Princípio da continuidade: a sucessão dos registros configura uma corrente 
de titularidades. O transmitente há de ser, necessariamente, o titular do direito 
real, enquanto o adquirente se toma apto a transferir, na forma da lei, o direito 
incorporado ao seu patrimônio; 
4) Princípio da prioridade: na hipótese de serem levados a registro, dois ou mais 
títulos aquisitivos sobre o mesmo objeto, prevalece o apresentado e 
prenotado em primeiro lugar, observadas as disposições dos artigos 190 a 
192 da Lei 6.015/73. 
5) Princípio da adequação: Por forca deste, os assentamentos públicos devem 
espelhar a realidade. Se esta, por qualquer motivo, se modifica 
significativamente, o registro deverá ser retificado a fim de adequar-se as 
novas características do objeto. 
6) Princípio de legitimidade do apresentante. Os registros públicos não se 
praticam oficiosamente, mas apenas por ordem judicial ou a requerimento de 
qualquer pessoa legítima. 
 
 
Aula 24. 
 
 
Formas de aquisição da propriedade imóvel. 
 
 
As acessões. 
 
 Continuando nosso curso em relação às formas de 
aquisição da propriedade imóvel, adentraremos agora no estudo das acessões. 
 Constitui acessão um dos modos originários de aquisição 
da propriedade imobiliária. Ela se forma pela ampliação do objeto de domínio, seja 
por força natural (formação de ilhas, aluvião, avulsão, álveo abandonado) ou por 
artificial (construção, plantação). 
Sob o aspecto legal, ele se configura com um fato jurídico. 
O direito do proprietário se estende parte que acresce, que pode ser propriedade de 
alguém ou não. 
Orlando Gomes e Silvio Rodrigues identificam a acessão 
não apenas pelo aumento do volume, mas também pelo do valor da coisa principal. 
Clóvis Bevilacqua define acessão: 
 
 
"Como o modo originário de adquirir, em virtude do qual fica 
pertencendo ao proprietário tudo quanto se une ou se incorpora 
ao seu bem" 
 
 
 Quanto a sua formação, a doutrina em geral distingue no 
plano legal, duas espécies de acessão: a natural e a industrial ou artificial. 
 A primeira origina-se espontaneamente de movimentos ou 
ação da natureza, englobando a formação de ilhas, a aluvião, a avulsão, o álveo 
abandonado. 
A segunda é decorrência do intelecto humano e refere-se 
as edificações e acessão em plantações. 
Na acessão natural, objeto dos quatro primeiros incisos 
do artigo 1.248 do Código Civil, tem-se uma coisa imóvel ampliando outra da mesma 
classe. A acessão da coisa móvel a imóvel pode ser da espécie industrial. 
Outra modalidade — de móvel a móvel — apresenta-se 
sob as seguintes variações: especificação, confusão, comistão e adjunção, 
reguladas pelo Código Civil, no capítulo Da Aquisição da Propriedade Móvel. 
 
 
Ilhas. 
 
 
 A primeira hipótese de acessão tratada pelo Código Civil, 
em seu artigo 1.249 é a de formação de ilhas em rios particulares. A definição de 
rios particulares e navegáveis é contida no Código de Águas brasileiro (Decreto n° 
24.643, de 10.07.34). Não se opera acessão em rios navegáveis, uma vez que são 
públicos e pertencem a União ou aos Estados. 
De acordo com o artigo 20, inciso IV, da Constituição 
Federal, as ilhas pluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países são 
bens da União. Aplicando-se o argumento inverso tem-se que as ilhas e lagos 
interiores pertencem aos Estados. 
 Para se saber a quem cabe a acessão, dever-se- 
considerar a linha que divide o álveo em duas partes iguais, a saber: 
 
 
1) Se a ilha formou-se inteiramente de um lado do álveo, o seu domínio será 
adquirido pelo proprietário das terras situadas na margem correspondente. 
Tratando-se de mais de um imóvel com proprietários diversos, a acessão 
pertencerá aos respectivos titulares e na proporção de suas testadas, 
conforme reza o artigo 1.242, II, do Código Civil. 
 
2) Caso a localização da ilha corresponda a passagem do álveo, o direito de 
aquisição será dos proprietários de ambas as margens, proporcionalmente as 
testadas e ate a linha divisória do álveo, conforme reza o artigo 1.242, I. 
 
 
3) Quando as águas de um rio penetramem um terreno particular, formando um 
braço e provocando a formação de ilha, a área correspondente permanecerá 
no patrimônio do titular da propriedade afetada, conforme o artigo 1.242, III, 
do Código Civil. Não é ampliação de domínio, mas de preservação da coisa 
anteriormente existente, modificada por alterações pelo curso das águas. 
Como exceção a essa regra é o contido no artigo 24, parágrafo único, do 
Código de Águas. Quando a redefinição geográfica, formada pelo novo braço, 
constituir corrente navegável ou flutuável, poderá não ocorrer a acessão. 
Interessando-se o Poder Público, a ilha poderá entrar para o seu patrimônio, 
mediante previa indenização. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 25. 
 
 
Formas de aquisição da propriedade imóvel. 
 
 
As acessões. Aluvião 
 
 
 A aluvião é um crescimento de área não aparente, se 
formando de modo não ostensivo, imperceptível. Essa modalidade de acessão se 
configura pela formação de depósitos e aterros, provocada pela ação lenta e 
constante das águas dos rios, junto as propriedades ribeirinhas, aumentando-lhes os 
volumes. 
Temos a espécie denominada aluvião própria e por ficção 
o legislador considera aluvião os acréscimos formados por desvio de águas como 
aluvião imprópria. Ambas as hipóteses estão definidas no caput do artigo 1.250 do 
Código Civil. 
As propriedades são acrescidas, separadamente, de 
acordo com as suas respectivas testadas. Ou seja, os depósitos que se formarem 
em cada terreno, ampliando-os, favorecendo aos seus respectivos proprietários, 
aumentando o seu domínio. 
Três são os seus requisitos: 
 
1 – Entre os terrenos a serem acrescidos e a corrente de água deve haver 
contiguidade; 
 
2 – O acréscimo aos terrenos em decorrência do movimento das águas; 
 
3 – Fenômeno de formação lenta e progressiva; 
 
 Deve-se se ater ao disposto no artigo 16, § 10, do Código 
de Águas, o qual reconhece como públicos dominicais os acréscimos que se 
produzirem nas águas públicas ou dominicais. Se o rio for navegável, a acessão 
provoca um estreitamento no curso do rio com algum prejuízo a navegação, sendo 
que o Poder Público poderia retirar mecanicamente os acréscimos. 
 
 
 
Avulsão 
 
 
 
Também provocado espontaneamente pela natureza, este 
fenômeno ocorre pelo deslocamento abrupto de uma porção de terras, que passa de 
um imóvel para outro, pertencentes à proprietários diversos. 
O artigo 1.251 do Código Civil refere-se com o termo 
prédio, tornado na acepção ampla de imóvel. 
Ela se caracteriza por dois elementos: 
 
1 – Identificabilidade da porção de terra deslocada; 
 
2 – A forma repentina do deslocamento. 
 
 A expressão porção de terras, empregada pelo legislador, 
deve ser interpretada extensivamente e para alcançar qualquer tipo de composição 
do solo. É irrelevante que o prédio ampliado seja fronteiro ou se situe ao lado do que 
se desfalcou, nem que o acréscimo se produza por justaposição ou superposição. 
Se a coisa deslocada não possuir capacidade de 
aderência, o proprietário que a recebe em seu terreno deve observar o disposto no 
artigo 1.233 do Código Civil, devolvendo-a ao seu legítimo dono. 
A propriedade da porção de terra será adquirida pelo 
titular do prédio acrescido, caso indenize o outro proprietário, ou este, ao cabo de 
um ano (decadência), não pleiteie em juízo. 
Havendo possibilidade técnica e interesse das partes, a 
situação pode retomar ao status quo ante, convencionando-se os termos do acordo. 
 
 
Aula 26. 
 
 
Formas de aquisição da propriedade imóvel. 
 
 
As acessões. Álveo abandonado. 
 
 
Cuida o art. 1.252 deste instituto, prescrevendo a respeito 
em conformidade com a fórmula adotada para a formação de ilha. Os efeitos 
jurídicos previstos referem-se apenas a mudança definitiva do leito dos rios. 
Se for um fenômeno transitório, não se aplica a fórmula 
prevista no referido artigo. Igualmente se o fato for provocado por particulares e não 
uma decorrência de forças naturais. 
Considerada a linha divisória do álveo, as terras situadas 
de cada lado pertencerão, respectivamente, aos titulares dos imóveis marginais e na 
proporção das testadas. Se, ligado a este fato, um novo curso de água se forma em 
terras particulares, os proprietários das terras acrescidas não estão obrigados a 
indenização. 
 Prevê o Código de Águas, em seu artigo 27, que se um 
novo curso de água se formar em terras particulares, decorrente de obras públicas 
os proprietários prejudicados serão indenizados pelo Poder Público, que assumirá o 
domínio do alveus derelictus como forma de compensação pelos encargos 
assumidos. 
Na hipótese de o curso do rio ocupar o leito primitivo, os 
titulares das terras abandonadas reassumirão o seu domínio, salvo se a nova 
mudança decorrer de obras públicas, quando então permanecerão no domínio 
público. 
 
 
 
 
 
 
Aula 27. 
 
 
Formas de aquisição da propriedade imóvel. 
 
 
As acessões. Construções e plantações. 
 
 
Como dito em aula anterior de um modo geral, as 
construções e plantações são consideradas como acessões artificiais ou industriais. 
As construções e plantações constituem bens imóveis, 
pois nesta categoria estão enquadrados, por forca do artigo 79 do Código Civil, tanto 
o solo quanto o que se lhe incorpora natural ou artificialmente. 
Também em relação a tais espécies de acessões 
prevalece o principio accessorium sequitur naturam sui principalis. E o solo é 
principal, enquanto as construções e plantações configuram bens acessórios, 
considerando-se as definições do artigo 92. 
As construções e plantações configuram a modalidade de 
acessão de móveis a imóveis. 
O comum é que a matéria-prima, sementes e plantas 
empregadas nas acessões pertençam aos proprietários dos respectivos terrenos. 
Tendo em vista que a experiência ordinariamente revela, 
o legislador criou uma presunção juris tantum, relativamente à construção ou 
plantação, considerando-as realizadas pelos proprietários dos respectivos terrenos e 
as suas expensas. Tratando-se de presunção relativa, desde que haja 
questionamento quanto a autoria de tais acessões ou de seu custeio, a prova 
contrária deverá ser deduzida por quem alega 
Essa presunção exige também a averbação da 
construção. 
Na hipótese de o proprietário do terreno semear, plantar 
ou construir, utilizando-se de sementes, plantas ou material de terceiro, adquirirá a 
propriedade destes, assumindo, porém, a obrigação de efetuar o pagamento 
correspondente. O valor deverá corresponder ao valor da coisa móvel a época em 
que foi incorporada. Haverá a responsabilidade por perdas e danos, caso tenha 
agido de má-fé. 
Já a hipótese considerada no artigo 1.255 do Código Civil, 
trás uma posição diferente: O dono de sementes, plantas ou material emprega 
algum desses produtos em propriedade alheia. Partindo do suposto da 
principalidade do terreno, o legislador atribui ao proprietário deste o direito sobre a 
acessão. 
Diz a lei que, em caso de boa-fé, o titular da coisa móvel 
faz jus a indenização, podendo exercer o direito de retenção. Sobre esse assunto, 
foi a Jornada de Direito Civil, realizada pelo Conselho da Justiça Federal, aprovou o 
enunciado n° 81 com o seguinte teor: 
 
 
"O direito de retenção previsto no artigo 1.219 do Código Civil, decorrente da realização de 
benfeitorias necessárias e úteis, também se aplica as acessões (construções e plantações) 
nas mesmas circunstâncias." 
 
 
O presente tipo

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