Prévia do material em texto
QUESTOES https://www.tecconcursos.com.br/materias/economia-e-financas-pu blicas/economia-politica-classica https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/disciplinas/ec onomia-economia/fundamentos-macroeconomicos/questoes Tema 1 - Conceitos básicos de economia O estudo de qualquer ciência começa com uma série de conceitos básicos. Em economia, iniciaremos falando sobre as escolhas das pessoas sobre como alocar recursos, dado que há limites no que podem fazer. Apresentaremos também a evolução da ciência econômica ao longo do tempo e descreveremos os caminhos que estão sendo desenvolvidos. 1-Primeiros conceitos econômicos Economia vem do grego e significa casa e lei. Mas também gerir ou administrar. Daí entendemos o sentido de regras da casa ou administração doméstica. https://www.tecconcursos.com.br/materias/economia-e-financas-publicas/economia-politica-classica https://www.tecconcursos.com.br/materias/economia-e-financas-publicas/economia-politica-classica https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/disciplinas/economia-economia/fundamentos-macroeconomicos/questoes https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/disciplinas/economia-economia/fundamentos-macroeconomicos/questoes Mas o que é, de fato, economia? Economia é uma ciência social que estuda a produção, a distribuição, a acumulação e o consumo de bens e serviços. Ela busca entender como indivíduos, empresas, governos e nações fazem escolhas sobre como alocar recursos para satisfazerem suas necessidades e como podem se organizar e coordenar esforços para alcançar o melhor resultado possível. Recorde-se que a economia é a ciência social que estuda como o indivíduo e a sociedade fazem a opção de como utilizar recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, de maneira a distribuí-los entre as inúmeras pessoas e os grupos da sociedade. Por sua vez, das distintas concepções e con- ceitos de economia política, adota-se aqui Riddell et al. (2011),3 na qual assinalam que a “economia política” tem como enfoque principal a preocupação com as relações do sistema econômico e suas instituições com o resto da so- ciedade e o desenvolvimento social. Para os autores, ela é sensível à influência de fatores extraeconômicos, como as instituições políticas e sociais, a moral e a ideologia, na determinação de eventos econômicos. Nesse sentido, a economia política tem um escopo muito mais amplo do que a economia tradicional. A Economia é o estudo da forma como as sociedades utilizam recursos escassos para produzir bens e serviços que possuem valor para distribuí‐los entre indivíduos diferentes. scassez e eficiência Se pensarmos nas definições, descobriremos duas ideias‐chave que permeiam toda a ciência econômica: os bens são escassos e a sociedade deve usar os seus recursos de forma eficiente. De fato, as preocupações so‐bre economia não desaparecem por conta da existência de escassez e do desejo de eficiência. Escassez e eficiência Se pensarmos nas definições, descobriremos duas ideias‐chave que permeiam toda a ciência econômica: os bens são escassos e a sociedade deve usar os seus recursos de forma eficiente. De fato, as preocupações sobre economia não desaparecem por conta da existência de escassez e do desejo de eficiência. Imagine um mundo sem escassez. Se pudessem ser produzidas quantidades infinitas de qualquer bem, ou se os desejos humanos fossem completamente satisfeitos, quais seriam as consequências? As pessoas não se preocupariam em ampliar os seus orçamentos limitados, porque teriam tudo o que quisessem. As empresas não precisariam se preocupar com o custo da mão de obra ou com assistência médica; os governos não precisavam se preocupar com tributos, despesas ou poluição, porque ninguém se importaria. Além disso, dado que cada um poderia ter tanto quanto desejasse, ninguém se preocuparia com a distribuição de renda entre as diferentes pessoas ou classes. Em tal paraíso de abundância, todos os bens seriam gratuitos, tal como a areia do deserto ou a água do mar na praia. Todos os preços seriam zero e os mercados, desnecessários. De fato, a economia deixaria de ser um assunto útil. Mas nenhuma sociedade atingiu a utopia das possibilidades ilimitadas. O nosso mundo é um mundo de escassez, repleto de bens econômicos. Em uma situação de escassez, os bens são limitados relativamente aos desejos. Um observador objetivo terá de concordar que, mesmo após dois séculos de rápido crescimento econômico, a produção nos Estados Unidos não é suficientemente grande para satisfazer os desejos de todos. Se o leitor somar todos os desejos, descobrirá rapidamente que não existem bens e serviços suficientes para satisfazer mesmo uma pequena parcela dos desejos de consumo de todos. A produção nacional dos Estados Unidos teria de aumentar muito antes que o americano médio pudesse viver no nível médio de um médico ou de um jogador de beisebol da primeira liga. Fora dos Estados Unidos, em especial na África, centenas de milhões de pessoas passam fome e privação material. Dada a existência de desejos ilimitados, é importante que uma economia faça o melhor uso dos seus recursos limitados. E isso nos leva à noção fundamental de eficiência. Eficiência corresponde à utilização mais eficaz dos recursos de uma sociedade na satisfação dos desejos e das necessidades da população. Em contrapartida, considere uma economia com monopólios sem controle ou com poluição prejudicial à saúde, ou com corrupção governamental. Uma economia assim produzirá menos do que seria possível sem a existência desses problemas, ou produzirá um conjunto distorcido de bens, o que deixará os consumidores em uma situação pior do que a que existiria se tal não ocorresse – em qualquer caso ocorre uma alocação ineficiente de recursos A eficiência econômica exige que uma economia produza a mais elevada combinação de quantidade e qualidade de bens e serviços dados a sua tecnologia e seus recursos escassos. Uma economia produz de maneira eficiente quando o bem‐estar econômico de nenhum indivíduo pode ser melhorado sem que o de outro indivíduo fique pior A essência da ciência econômica é compreender a realidade da escassez e, então, conceber como organizar a sociedade de modo a corresponder ao uso mais eficiente dos recursos. É nisso que reside a contribuição específica da ciência econômica. Mas o que é uma ciência? Ciência é uma forma de compreender o mundo, assim como a religião, a intuição e o senso comum. Porém, a ciência produz conhecimento por meio de experimentos e teorias. Por exemplo, por meio da teoria geocêntrica, a astronomia estudou a Terra como fixa no centro do universo, e todos os outros corpos celestes orbitavam ao seu redor. Essa teoria foi substituída no século XVI pelo Heliocentrismo- ou seja, o Sol está no centro e todos os demais astros celestes orbitam ao seu redor- sistematizado por Nicolau Copérnico, após observações e aprofundamentos de estudos que existiam desde a Grécia Antiga. Portanto, existem diversas teorias nas quais não é necessário acreditar, porque já foram substituídas ou até desacreditadas. Em contrapartida, outras forma reforçadas e aprimoradas, como a cartografia. apor exemplo, o mapa de Çatal Huyuk, elaborado provavelmente em 6.200 AEC, é uma prova de que a humanidade sempre utilizou meios para se guiar. Com a evolução da humanidade e dos mapas, você acreditaria que o mundo é bidimensional ao olhar um aplicativo de mapas em seu celular? Certamente, não! A teoria nada mais é do que uma ferramenta imperfeita. Baseada na realidade observada (natural, social, econômica etc.), seu o objetivo é ser útil para explicar o fenômeno estudado. Assim, muitas vezes, ela pode ser reduzida a simplificações grosseiras. O precursor da ciênciapropostas previamente para os problemas econômicos. II A mão invisível e a harmonia do mercado Os clássicos viam como positivos os resultados que decorriam naturalmente das forças econômicas. Nesse período, surgiu a noção de uma “mão invisível do mercado”, ou seja, forças que naturalmente convergiriam para um equilíbrio eficiente sem precisar de intervenção estatal. III Rupturas com o mercantilismo A visão clássica de um sistema econômico harmonioso destoava das crenças mercantilistas e escolásticas de que o mercado era caracterizado por desequilíbrios que exigiam intervenções e restrições. Essa visão otimista do funcionamento dos mercados é um dos principais traços do pensamento clássico. Outra característica do pensamento clássico é seu interesse no crescimento econômico. Essa preocupação levou seus teóricos a estudarem os mercados e o sistema de preços sob a ótica da alocação de recursos. Os economistas clássicos compreenderam a formação de mercados e preços relativos para entenderem seu impacto no crescimento econômico. Para Adam Smith (1996), o objeto de estudo da economia estava indicado no título completo da sua obra: é uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações. Nesse contexto, as riquezas eram os bens que possuíam valor de troca. Logo, distinguia-se o valor de uso do valor de troca das mercadorias, sendo que este último era determinado pela quantidade de trabalho necessária para produzi-las. Assim, a Escola Clássica enfatizava a importância da produção — colocando em segundo plano o consumo e a demanda. Em termos gerais, os pensadores clássicos refutaram as tradições mercantilistas e as doutrinas fisiocratas. Eram contra as concepções mercantilistas de que a riqueza é constituída pelo entesouramento de ouro e de prata, e contra as ideias fisiocratas de que somente a agricultura produz valor. É dessa crítica que a Escola Clássica elabora a teoria do valor-trabalho, revelando que todas as atividades em uma economia produzem valor e que a riqueza de uma nação é resultado dos valores de troca (SANDRONI, 2005). Dessa maneira, Adam Smith (1996) revelou que o crescimento da riqueza de uma nação depende basicamente da produtividade do trabalho. Essa produtividade, por sua vez, é função do grau de especialização ou da divisão do trabalho, determinado pela expansão do mercado e do comércio (SMITH, 1996). Por isso, Adam Smith concluiu que era fundamental, em qualquer nação, a remoção de todas as barreiras ao comércio interno e externo. Para ele, essa política liberal conduziria invariavelmente ao desenvolvimento das forças produtivas e ao sucesso do que ele chamou de “mão invisível” (SMITH, 1996). Logo, as regulamentações estatais mercantilistas levavam a economia ao retrocesso. Essas análises teóricas foram também defendidas por David Ricardo, que colocou o trabalho como um determinante do valor de troca. Nas suas reflexões, David Ricardo observou ainda uma contradição entre o valor de troca e o preço relativo das mercadorias. Essa contradição só seria resolvida anos mais tarde por Karl Marx, ao analisar a transformação do valor de troca em preço de produção (RASMUSSEN, 2006). Além do mais, David Ricardo formulou o conceito de vantagem comparativa e demonstrou que o comércio internacional é uma situação de “ganho–ganho” para os países envolvidos. Essa visão clássica destruiu a equivocada teoria do mercantilismo, que defendia que o colonialismo deveria beneficiar apenas a metrópole à custa da colônia. David Ricardo analisou também o fenômeno econômico dos retornos decres-centes. Assim, ele revelou por que os custos tendem a crescer, em determinado momento, quando você aumenta os níveis de produção. Teóricos da economia política clássica Conheça um pouco mais das contribuições dos principais teóricos da economia política clássica: Adam Smith Um dos principais diferenciais de Adam Smith em relação aos autores que lhe antecederam foi seu empenhou em construir sua teoria de forma sistemática, como fez em A riqueza das nações. Suas principais contribuições para o campo do pensamento econômico envolvem o desenvolvimento do conceito de divisão do trabalho e a exposição de que o interesse individual racional e a concorrência podem conduzir ao desenvolvimento econômico. Além disso, suas obras também abordaram temas como teoria do valor, conceitos de excedente, teoria dos salários e distribuição. Os escritos de Smith exploraram uma infinidade de temas, uma vez que a macroeconomia da época se preocupava com um escopo mais amplo dos determinantes do crescimento, que não abarcavam apenas fatores econômicos, mas também culturais, políticos, sociológicos e históricos. Thomas Malthus O pensamento clássico também ganhou contribuições suas, embora ele seja mais conhecido por sua teoria da população. Em suas obras, Malthus discorreu sobre distribuição de renda e consumo improdutivo e apontou os riscos de uma crise de superprodução frente à falta de demanda ― ideia que foi retomada por Keynes quase um século depois. Já Thomas Malthus acrescentou ao corpo teórico da Escola Clássica a perspectiva de que a produção de alimentos cresce em progressão aritmética, enquanto a população tenderia a uma ampliação em progressão geométrica, o que acarretaria pobreza e fome generalizada. Para ele, as pestes, as epidemias e mesmo as guerras encarregam-se de equilibrar a situação. O desdobramento econômico desse princípio da população é de que, com o número de trabalhadores crescendo acima da proporção do aumento da oferta de trabalho no mercado, o preço do trabalho (salário) tende a cair, ao mesmo tempo em que o preço dos alimentos tende a elevar-se (SANDRONI, 2005). Apesar de polêmico e muito criticado, o princípio da população de Thomas Malthus foi incorporado por outros economistas clássicos, supondo que a oferta da força de trabalho era inexaurível, sendo limitada apenas pelo fundo de salários. Além disso, Thomas Malthus demonstrou que o nível de atividade numa economia dependida da demanda efetiva, uma ideia que mais tarde seria desenvolvida por Keynes. A teoria malthusiana é uma teoria econômica que defende que o crescimento populacional é superior à produção de alimentos, o que pode causar fome e miséria. Foi elaborada por Thomas Robert Malthus, um economista e demógrafo inglês do século XVIII. Teoria malthusiana ● A população cresce em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos cresce em progressão aritmética. ● ● A população superaria a oferta de alimentos, resultando em problemas como a fome e a miséria. ● ● A melhoria da humanidade é impossível sem limites severos à reprodução. ● Malthus e a pobreza ● Malthus acreditava que, sempre que houvesse um suprimento de alimentos adequado, a população explodiria até que a comida se tornasse insuficiente. ● O equilíbrio seria atingido por meio de fome, doenças e guerra. Malthus e a tecnologia ● Essas teorias foram amplamente desacreditadas pelas inovações na tecnologia agrícola. ● No entanto, continuam influentes no campo da biologia evolutiva. David Ricardo e John Stuart Mill Outro importante pensador clássico foi John Stuart Mill, que analisou principalmente as teses de Thomas Malthus e David Ricardo. Além do mais, John Stuart Mill deu sequência aos estudos de seu pai, o pensador inglês James Mill. No que se refere à teoria do valor, John Stuart Mill procurou demonstrar como o preço é determinado pela igualdade entre demanda e oferta e como a demanda recíproca de produtos afeta os termos do intercâmbio entre os países. Ele lançou também a ideia da elasticidade da demanda — expressão introduzida mais tarde por Alfred Marshall — para analisar as possibilidades alternativas de comércio (SANDRONI, 2005). por fim, cabe destacar que John StuartMill foi o único pensador clássico a abandonar o rigor doutrinário do liberalismo e do individualismo. Ele afirmava que deveria haver menor dependência da natureza e maior grau de intervenção governamental para a resolução de determinados problemas econômicos. Por exemplo, John Stuart Mill defendia, para contrabalançar o poder dos grandes empresários, o fortalecimento dos sindicatos e o recurso à greve. Defendia também que a renda, por constituir um excedente, deveria ser submetida à tributação (SANDRONI, 2005 O economista David Ricardo era contemporâneo de Malthus e acrescentou à teoria econômica a seguinte noção: há ganhos na troca internacional para as duas partes que comercializam, mesmo que uma seja mais competitiva que a outra. Em outras palavras: é economicamente vantajoso para as duas partes comercializarem bens, mesmo que uma delas consiga produzir mais de todos os bens com a mesma quantidade de recursos. Essa ideia foi aprimorada posteriormente por John Stuart Mill sob a forma de vantagens comparativas. Os escritos de Ricardo trataram de muitos outros tópicos, como as teorias do valor, dos salários, de lucros e aluguel, da acumulação, do desenvolvimento econômico e de moeda e bancos. Ricardo também levantou a questão sobre as leis naturais que determinariam a distribuição do produto entre as classes da sociedade. As noções de utilitarismo começaram a ser desenvolvidas, sendo posteriormente incorporadas à teoria econômica. De maneira geral, a teoria afirma que ações que maximizam a felicidade e o bem-estar são boas, e que a utilidade é uma propriedade de um bem ou objeto capaz de produzir um benefício ou prazer. Jeremy Bentham e John Stuart Mill foram alguns dos filósofos a desenvolver o conceito do utilitarismo. Mill é considerado o último dos grandes economistas clássicos do período. Na teoria de renda da terra de David Ricardo, o avanço tecnológico é fixo, de maneira que terras mais próximas dos centros urbanos sempre seriam ocupadas anteriormente às mais afastadas, já que estas últimas teriam maiores custos de produção e menor fertilidade. De acordo com a teoria de renda da terra de David Ricardo, a renda da terra é determinada pela diferença de produtividade entre as terras de pior qualidade e as terras de melhor qualidade. As terras de pior qualidade são aquelas que requerem mais trabalho e capital para produzir a mesma quantidade de produto. No caso de terras mais próximas dos centros urbanos, as distâncias são menores, o que significa que os custos de transporte são reduzidos. Além disso, essas terras geralmente possuem maior fertilidade natural, o que significa que são mais produtivas. Portanto, as terras mais próximas dos centros urbanos sempre seriam ocupadas anteriormente às mais afastadas, já que estas últimas teriam maiores custos de produção e menor fertilidade. A teoria de renda da terra de David Ricardo é baseada em três pressupostos básicos: ● A terra é um recurso limitado e não renovável; ● A produtividade da terra diminui à medida que mais terra é utilizada; ● A demanda por produtos agrícolas é constante. Com base nesses pressupostos, Ricardo argumentou que a renda da terra é determinada pela diferença de produtividade entre as terras de pior qualidade e as terras de melhor qualidade. As terras de pior qualidade são aquelas que requerem mais trabalho e capital para produzir a mesma quantidade de produto. No caso de terras mais próximas dos centros urbanos, as distâncias são menores, o que significa que os custos de transporte são reduzidos. Além disso, essas terras geralmente possuem maior fertilidade natural, o que significa que são mais produtivas. Portanto, as terras mais próximas dos centros urbanos sempre seriam ocupadas anteriormente às mais afastadas, já que estas últimas teriam maiores custos de produção e menor fertilidade. É importante ressaltar que a teoria de Ricardo é uma simplificação da realidade. Na prática, a renda da terra é influenciada por uma série de fatores, como o avanço tecnológico, as políticas governamentais e as condições climáticas. Pensamento econômico evolução do pensamento econômico, desde suas origens até a economia política clássica, destacando as contribuições dos principais pensadores como Adam Smith e David Ricardo. A filosofia econômica de John Stuart Mill (1806-1873) fornece reflexões muito interessantes sobre os dilemas que marcaram as sociedades dos países centrais à medida que se industrializaram e ganharam força ao longo do século XIX. Como os seus antecedentes intelectuais, Mill argumenta a favor dos mercados livres e ressalta a importância da concorrência como um meio para prover um maior nível de bem-estar da sociedade. Acreditava, porém, que havia uma certa necessidade da intervenção estatal na economia quando isso se justificasse por razões de necessidades sociais e justiça geral. Mill foi um advogado do igualitarismo na esfera econômica. Isso implicava uma forte convicção na importância da meritocracia e do esforço e responsabilidade individual, o que, por sua vez, pressupunha uma certa igualdade de oportunidades . Para Mill (1848), todos deveriam ter o mesmo ponto de partida para perseguir sucesso econômico. Por isso, favorecia impostos sobre heranças – sendo visto como uma forma de enriquecimento injusta, pois não implicava nenhum esforço do indivíduo –, e argumentava sobretudo a favor do acesso igual à educação. Sem isso não haveria como falar em meritocracia. Mill também defendia a democracia econômica como uma situação na qual os trabalhadores seriam responsáveis por gerir a produção e compartilhar seus frutos de maneira igualitária. Isso tem algumas semelhanças com os seus contemporâneos filósofos marxistas, porém Mill rejeitava veementemente a aversão do socialismo à concorrência, que na visão dele constitui um meca-nismo central na geração de riqueza. Os pensamentos liberais do John Stuart Mill convergem em larga medi-da com ideias que têm sido cada vez mais prevalentes nos debates do libera-lismo econômico hoje em dia. Enquanto até 2000 havia uma forte tendência em ressaltar a importância do crescimento econômico a qualquer custo, as crises econômicas de 2008 e 2020, a crescente desigualdade no mundo e os lados negativos da globalização econômica têm levado cada vez mais libe-rais a apontar a necessidade de suplementar as forças do mercado com um grau de intervenção em prol de questões sociais. Hoje, instituições frequen-temente associadas ao liberalismo econômico, como o Banco Mundial, a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Fórum Econômico Mundial, aceitam as premissas de que a desigualdade social deve ser combatida e de que a educação universal é um meio abso-lutamente central nesse sentido. O social-liberalismo de John Stuart Mill, portanto, é uma corrente ideológica cada vez mais presente, e é defendida sobretudo por observadores que ressaltam a combinação de sucesso econômico, competitividade e uma forte proteção social nos Estados de bem-estar social do norte da Europa. Por fim, Mill também parece estar à frente do seu tempo em suas reflexões sobre o valor intrínseco do meio ambiente. Destacava como o crescimento econômico desenfreado inevitavelmente iria prejudicar o meio ambiente e, consequentemente, as precondições para a vida humana saudável. Essas ideias têm ganhado força ao longo das últimas décadas e têm levado inclusive ao surgimento de perspectivas que ressaltam os limites do crescimento econômico e a importância de medir progresso em forma de bem-estar humano em vez do tamanho da economia. Também compartilham traços fundamentais com as perspectivas interdisciplinares so-bre o conceito do antropoceno, que parte do pressuposto de que, por moldar fundamentalmente a face da Terra, o ser humano tem se tornado uma forçada natureza que deve ser assim analisada. O social-liberalismo de John Stuart Mill, portanto, é uma corrente ideológica cada vez mais presente, e é defendida sobretudo por observadores que ressaltam a combinação de sucesso econô-mico, competitividade e uma forte proteção social nos Estados de bem-estar social do norte da Europa. Por fim, Mill também parece estar à frente do seu tempo em suas reflexões sobre o valor intrínseco do meio ambiente. Destacava como o crescimento econômico desenfreado inevitavelmente iria prejudicar o meio ambiente e, consequentemente, as precondições para a vida humana saudável. Essas ideias têm ganhado força ao longo das últimas décadas e têm levado inclusive ao surgimento de perspectivas que ressaltam os limites do crescimento econômico e a importância de medir progresso em forma de bem-estar humano em vez do tamanho da economia. Também compartilham traços fundamentais com as perspectivas interdisciplinares so-bre o conceito do antropoceno, que parte do pressuposto de que, por moldar fundamentalmente a face da Terra, o ser humano tem se tornado uma força da natureza que deve ser assim analisada. Revolução marginalista e ortodoxia Revolução marginalista ou utilitarista Acompanhe, neste vídeo, a revolução marginalista do final do século XIX, destacando de que maneira economistas como Jevons, Menger e Walras transformaram a economia clássica em neoclássica ao introduzirem a análise marginal e enfocarem a alocação de recursos e a maximização da utilidade individual. O final do século XIX testemunhou o nascimento da teoria microeconômica moderna. Essa época foi marcada pela elaboração de um conjunto de ferramentas analíticas que transformou a economia clássica em neoclássica. A análise marginal, atualmente presente nos livros de microeconomia, pode ser considerada uma ferramenta muito importante. Além disso, a matemática foi incorporada de maneira definitiva na análise econômica. Jevons, Menger e Walras são alguns dos principais nomes associados a essa mudança radical na forma de conceber a teoria econômica. À medida que a teoria marginalista se desenvolveu, a estrutura da teoria econômica se modificou, de modo a elaborar um sistema muito diferente do exposto pela economia clássica. O interesse dos economistas clássicos no crescimento econômico deu lugar à alocação de recursos. O centro do sistema neoclássico girava em torno do problema da alocação de recursos escassos, dados os seus possíveis usos alternativos. Os marginalistas aceitavam a abordagem utilitarista e, a partir dela, reformularam a análise do comportamento humano, que foi construído a partir de cálculos racionais, visando à maximização da utilidade individual. Saiba Mais A compreensão marginalista revela outra face distinta da abordagem neoclássica: a mudança no agente econômico como objeto de análise. Os clássicos tinham como objeto principal agentes econômicos coletivos, como as classes sociais e o governo. Os marginalistas se concentravam em agregados sociais mínimos: a unidade tomadora de decisão, como consumidores, famílias ou firmas. Ortodoxia neoclássica A revolução marginalista se espalhou pelo mundo ocidental, impactando significativamente o pensamento econômico. No contexto político-econômico, a Europa Ocidental experimentava um momento de desenvolvimento industrial e capitalista. Em conjunto, esses fatores estabeleceram as bases para a economia neoclássica. Alfred Marshall foi um matemático que ofereceu enorme contribuição ao pensamento econômico com a publicação de seu livro Princípios de economia (1890). Sua obra pode ser entendida como uma reformulação geral da teoria econômica produzida até então, pois sintetizou a análise clássica e a abordagem marginalista de custo e utilidade e elaborou um mecanismo de análise econômica. Uma de suas principais contribuições para o campo foi sua análise de equilíbrio parcial, que conseguiu unir várias partes da teoria econômica até então analisadas separadamente. Ele fez a importante distinção entre os períodos da economia, diferenciando o curto do longo prazo. Por último, ele introduziu e aprimorou uma série de conceitos que são utilizados na análise econômica, como propriedades da curva de demanda, distinção de retornos crescentes e decrescentes e maximização do bem-estar ― temas abordados até hoje em cursos de economia. Curiosidade O americano Irving Fisher também utilizou a matemática de forma extensiva em sua análise econômica. No entanto, seu trabalho estava voltado para a macroeconomia. Ele propôs a versão mais conhecida da equação quantitativa da moeda, e sua contribuição central para a teoria econômica foi a teoria sobre juros. Há até a equação de Fisher, batizada em sua homenagem. As transformações da revolução marginalista e da ortodoxia neoclássica para a economia Confira, neste vídeo, a transformação ocorrida na economia do século XIX com a introdução da análise marginal e a matematização, culminando na síntese de Marshall, que moldou a teoria econômica contemporânea. Keynes em diante Economia keynesiana A Primeira Guerra Mundial foi um conflito de dimensões até então desconhecidas pela humanidade. Na esfera econômica, seus impactos envolveram a interrupção do comércio e de pagamentos internacionais, e levaram governos a realizar intervenções econômicas até então inimagináveis. Uma produção de larga escala foi realizada para atender às necessidades de guerra, gerando enormes dívidas nacionais. A profundidade das crises vivenciadas no período entre guerras não tinha precedentes. A crise econômica de 1929 eclodiu nos Estados Unidos. O desemprego atingiu níveis recordes e se tornou persistente. O descontentamento social não tardou a aparecer, e a tradição clássica ortodoxa de pensamento econômico não estava preparada para lidar com essa situação. O pensamento neoclássico havia se estruturado em torno da Lei de Say, que previa que o pleno emprego era o estado normal de funcionamento da economia. Se houvesse afastamento do nível de emprego considerado normal, não seria de grande magnitude, e o próprio sistema econômico providenciaria uma resposta que faria o emprego retornar ao seu nível normal. No entanto, a realidade parecia bastante distante do que previa o pensamento econômico. A ociosidade na força de trabalho e na capacidade da indústria alcançaram proporções incomuns e havia poucos indícios de que a situação estava caminhando para se corrigir. Comentário Apesar da enorme distância entre as premissas neoclássicas e os eventos do mundo real, os economistas neoclássicos ofereciam uma justificativa para essas supostas anormalidades no funcionamento da economia. A persistência dos altos níveis de desemprego poderia ser explicada pela rigidez no sistema econômico, que paralisava o mecanismo de ajuste natural. Segundo eles, a inflexibilidade dos salários, causada, principalmente, pela estrita adesão ao salário mínimo por influência dos sindicatos, não permitia que a economia seguisse sua trajetória natural. Assim, se os salários baixassem, empregadores contratariam mais trabalhadores, e a economia voltaria ao nível de pleno emprego. No início do século XX, a análise econômica retomou o interesse dos economistas clássicos em economia agregada, ou seja, nas teorias macroeconômica e monetária. John Maynard Keynes, um economista britânico, revolucionou as esferas acadêmica e política com as ideias que propôs em seu livro A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. O pensamento keynesiano, com ênfase na política fiscal, foi tão influente que dominou a política econômica dos EUA e de diversas outras nações ocidentais no período. De certa forma, as ideias de Keynes se assemelham em vários aspectos às escolas que antecederam os economistasclássicos ― a mercantilista e a fisiocrata. A ideia de que a poupança tende a causar baixo consumo e depressão econômica, interrompendo o fluxo circular da renda, já havia sido apontada por economistas anteriores a Adam Smith e seus seguidores. Keynes também rompeu com a escola clássica em sua descrença na Lei de Say: diferentemente dos clássicos, ele não acreditava que a oferta cria sua própria demanda. Entre as principais ideias expressas em sua teoria geral, estão: ● A teoria da preferência pela liquidez: ofereceu uma explicação para os determinantes da taxa de juros sob a ótica do mercado de moeda. ● A teoria da demanda efetiva. ● A noção de um efeito multiplicador na economia: é devida ao componente do consumo na renda. ● A relação entre poupança e investimento. Boa parte desses conceitos está presente nos cursos contemporâneos de macroeconomia. As ideias desenvolvidas por Keynes representaram uma mudança na meta da política pública: estabilização dos preços altos para manutenção do nível de renda e emprego. Keynesianismo O keynesianismo surgiu no momento em que a economia mundial sofria os efeitos adversos da crise de 1929, durando toda a década de 1930 até o início da Segunda Guerra Mundial. Nessa escola do pensamento econômico, a intervenção do Estado na vida econômica é fundamental, e as políticas básicas são sugeridas na principal obra de John Maynard Keynes, A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. As visões do keynesianismo propunham solucionar os problemas econômicos, em especial o problema do desemprego, pela intervenção estatal — desencorajando, assim, o entesouramento, em prol das despesas produtivas e dos gastos agregados. Em outras palavras, o Estado tinha na economia, sobretudo, em períodos de crise/depressão econômica, a função de manter elevados a demanda e o consumo agregados Com a demanda agregada elevada era possível manter os investimentos públicos e privados aquecidos. Além do mais, esse cenário permitia manter a taxa de juros baixa — beneficiando novos investimentos. Em termos práticos, as grandes despesas governamentais seriam responsáveis pela retomada de uma economia em crise/depressão econômica De fato, sob o estímulo de grandes gastos do Estado, impostos pela Segunda Guerra Mundial, a crise do desemprego nas décadas de 1930 e 1940 deu lugar à falta de mão-de-obra na maioria dos países. Em poucas palavras, diferentes economistas keynesianos passaram a defender que o capitalismo poderia ser salvo, desde que os governos soubessem fazer uso de seu poder de cobrar impostos, reduzir juros, contrair empréstimos e gastar dinheiro Conforme Sandroni (2005), após a Segunda Guerra Mundial, o pensamento keynesiano converteu-se em ortodoxia, ou seja, em teoria dominante, tanto para os economistas quanto para a maioria dos políticos. Nesse contexto, o keynesianismo econômico lançou raízes, sobretudo, nos Estados Unidos. Isso porque os Estados Unidos estavam temerosos de que o fim da Segunda Guerra pudesse provocar uma nova recessão econômica em todo o mundo capitalista. Assim sendo, o foco conceitual do keynesianismo econômico estava na atuação a longo prazo do Estado, mediante o uso sistemático de políticas monetárias e fiscais expansionistas. A chamada teoria do declínio das oportunidades de investimento seria corrida pelo Estado, evitando que a economia capitalista entrasse constantemente em crises/depressões. Portanto, o Estado interventor seria fundamental — inclusive — para garantir a sobrevivência sistêmica do capitalismo. OBS: O neoliberalismo econômico nada mais é do que o resgate de diversos conceitos e ideais do liberalismo clássico. Como a escola liberal clássica, os neoliberais acreditam que a vida econômica é regida por uma ordem natural formada a partir das livres decisões individuais e cuja mola-mestre é o me-canismo de preços Para termos uma visão geral dos princípios keynesianos, vamos considerar os conceitos mais importantes da escola, que são: a teoria da distribuição, segundo a produtividade marginal; a economia da dívida; a teoria da taxa de juros; o princípio da demanda efetiva; a propensão marginal a consumir e multiplicador; e a determinação dos dispêndios de investimento Na teoria da distribuição, segundo a produtividade marginal, Keynes endossava e defendia a teoria da distribuição baseada na produtividade marginal (neoliberal ou neoclássica). Logo, o salário é igual ao produto marginal do trabalho. Keynes argumentava que, para aumentar o emprego, os salários teriam que baixar, e os lucros teriam que aumentar. Assim sendo, o comportamento maximizador de lucros motivaria os capitalistas a empregar trabalhadores até o seu salário igualar-se ao valor do produto marginal Na economia da dívida, Keynes demonstrou que os gastos do governo, financiados por empréstimos, seriam muito mais eficazes para estimular a procura agregada do que os gastos financiados pela tributação — já que a tributação retirava recursos que seriam gastos de outra maneira (SILVA, 2010). Um exemplo observado por ele foi o desempenho dos Estados Unidos, depois da Segunda Guerra Mundial, que melhorou e muito com a expansão maciça e acelerada do endividamento público Na teoria da taxa de juros, Keynes trouxe à luz as razões pelas quais não se podia confiar que a taxa de juros equilibrasse automaticamente a poupança e o investimento. Ele afirmava que a taxa de juros não canalizava automaticamente as poupanças para os investimentos, da maneira concebida pelos neoclássicos. Logo, a procura de moeda não apenas como algo racional, mas também uma necessidade psicológica básica — tanto que concebia o juro como o preço para que um indivíduo se privasse da liquidez, não como recompensa pela abstinência. No princípio da demanda efetiva, a ideia era o oposto da lei de Say. Assim, quem determinava o volume da produção e do emprego era a demanda efetiva, que não é apenas a demanda efetivamente realizada, mas ainda o que se espera que seja gasto em consumo e investimento. Nessa visão, a expectativa dos capitalistas é muito importante. Nessa situação, a demanda efetiva pode ser maior ou menor que a capacidade produtiva de um país, em determinado momento. Por isso, a busca pelo pleno emprego torna-se um dos objetivos da macroeconomia, um objetivo que deve ser alcançado por vontades políticas Por fim, o custo dos bens de capital, o rendimento monetário esperado e a taxa de juros do mercado. Ele compreendeu que as expectativas regem a escala de procura de investimento. São as expectativas de longo prazo que determinam a capacidade dos empresários de estimar rendas futuras e, assim, realizar seus investimentos no presente. O economista John Maynard Keynes (1883-1946) está entre as figuras mais proeminentes do chamado liberalismo moderno. Keynes trabalhou durante a primeira década do século XX. Ele observou que a convicção nas forças de mercados descontrolados poderia levar ao colapso econômico – como foi o caso na Grande Depressão (1929-1933) –, mas também que a iniciativa estatal poderia atenuar e reverter essa situação – como ocorreu nos EUA com o New Deal (1933-1937) e durante a transição da indústria dos EUA para o país poder se engajar na Segunda Guerra Mundial. Keynes ressalta fortemente a importância de o Estado estimular a economia em períodos de crise e recessão econômica por meio de investimentos em programas sociais e obras públicas. Antes era comum pensar que a taxa de crescimento econômico oscilava naturalmente e que nada poderia ser feito para evitar isso. Keynes discorda desse pensamento e afirma que, se o governo gastasse o suficiente para “aquecer a economia” e fazer o dinheiro girar quando os atores privados fossem mais resilientes em contratar e fazer investimentos, seria possível manter um ritmo constante de crescimentopositivo (Keynes, 1936). No plano internacional, Keynes defendia que o problema recorrente de desequilíbrios comerciais fosse endereçado por meio de uma organização internacional, cujo trabalho seria regular as taxas de câmbio internacionais. Dessa forma, seria possível garantir que nenhum país ficasse sem divisas externas. Os pensamentos de Keynes foram muito importantes para definir a ordem econômica internacional após a Segunda Guerra Mundial. Teve participação destacada na conferência de Bretton Woods, na qual os pilares do sistema monetário, financeiro e comercial internacional foram definidos (Ruggie, 1982). A destruição do continente europeu demandava uma grande necessidade de prover os meios necessários para reconstrução, algo que somente o governo norte-americano poderia fornecer. As ideias de Keynes, portanto, ganharam uma espécie de “extensão internacional” por meio da ajuda do Plano Marshall, que se constituiu em uma massiva ajuda dos EUA para a reconstrução da Europa. Numa perspectiva estratégica, o plano teve o objetivo de evitar que a miséria econômica levasse países europeus a se aproximar do comunismo e da União Soviética. Mas, pela ótica econômica, o Plano Marshall também teve o papel de criar importantes parceiros comerciais para os EUA na Europa Ocidental e assim garantir que vínculos comerciais mais duradouros entre os dois lados do Atlântico do Norte. O pensamento de Keynes teve fortes reflexos nas instituições da ordem mundial pós-Segunda Guerra, mas também teve muito fôlego dentro dos países ocidentais. Em muitos deles, o Estado teve uma participação econômica mais direta, e a transferência de renda e aumento salarial dos trabalhadores garantiram que as indústrias tivessem grandes mercados internos sobre os quais puderam crescer. As décadas de 1950 e 1960 foram de fato um período em que muitos países desenvolvidos puderam vivenciar o maior crescimento econômico ininterrupto da sua história. As ideias de Keynes de deixar o mercado operar enquanto puder, mas não ter medo de fazer o Estado intervir quando for necessário, estiveram fortemente presentes nas políticas econômicas que levaram ao crescimento desses países. Isso pode parecer um pouco com o estatismo econômico – que iremos explorar em seções seguin-tes –, mas o keynesianismo ainda costuma ser tratado dentro do arcabouço geral de filosofia econômica liberal. Isso se deve, principalmente, à visão de Keynes de não subjugar as forças do mercado, mas corrigir e estimular o seu comportamento quando julgado pertinente. Mais tarde, contrariando o pensamento liberal (que se afirmara como crítica ao mercantilismo), Keynes foi buscar aos mercan-tilistas a ideia de governo da economia, conferindo a estes autores uma nova modernidade. Eles não foram, por certo, os primeiros teóricos da ciência económica, mas foram talvez, como Keynes salientou, os “primeiros pioneiros do pensamento económico”, não sendo descabido reconhecer que há “elementos de verdade científica contidos na doutrina mercantilista”. Economia depois de Keynes Entre as décadas de 1940 e 1970, muitos economistas aprimoraram as ideias de Keynes, enquanto alguns se opuseram a elas. A influência mais importante do trabalho de Keynes foi sua incorporação em forma de síntese na estrutura geral de princípios econômicos aceitos. Uma das maiores contribuições nesse aspecto foi o livro Fundamentos da análise econômica (1947), de Paul Samuelson. Essa obra explicava as ideias e os princípios do pensamento econômico em conjunto com os princípios ortodoxos dos economistas neoclássicos. Outros, no entanto, discordavam de Keynes, como Milton Friedman, um grande defensor da eficiência dos mercados e da interferência mínima dos governos. Uma de suas maiores contribuições para a economia foi sua teoria da renda permanente. No período subsequente, durante as décadas de 1970 e 1980, outras teorias ganharam força: a teoria das expectativas racionais, de Robert Lucas, e as ideias da economia pelo lado da oferta. Ambas as teorias se utilizam das premissas neoclássicas básicas e desafiam as proposições teóricas da economia keynesiana. 3.Pesquisa econômica atual Pesquisa econômica A pergunta que você deve estar se fazendo neste momento é: Para onde vamos: o que tem sido feito na pesquisa econômica? A economia como ciência teve sua origem há muitos séculos. Ao longo de sua trajetória, seu objeto de análise passou por transformações, bem como seu método e sua abordagem teórica, sendo diretamente influenciada pelos contextos sociais e políticos da época em que seus teóricos viveram. Mais recentemente, no século XX, a economia consolidou o ferramental matemático como instrumento de análise. Isso a distingue das demais ciências sociais, subdividindo-a em duas grandes áreas: macroeconomia e microeconomia. De forma mais específica, você deve estar se perguntando: ● Mas e atualmente, como está a ciência econômica? ● Ela tem o mesmo enfoque e os mesmos métodos de antigamente? ● Quais campos têm sido estudados pela economia, e o que tem sido pesquisado? Pensando em todas essas questões, vamos apresentar algumas áreas da economia que não são muito conhecidas fora da profissão. Citaremos também alguns grandes economistas dos últimos tempos. Ao longo dos anos, conforme a ciência econômica foi se desenvolvendo, novas áreas foram surgindo, principalmente na área da economia aplicada. Os economistas, em vez de focarem as relações econômicas tradicionais como objeto de estudo, passaram a aplicar as teorias desenvolvidas e o ferramental econômico em outras áreas, como educação, saúde, desenvolvimento, política e meio ambiente. Essas novas áreas de pesquisa, muitas vezes, deixam de fazer a clara distinção entre macro e microeconomia, juntando, inclusive, algumas das áreas citadas, como veremos. Teoria dos jogos A ciência econômica busca analisar as decisões individuais e como os indivíduos tomam ótimas decisões. O campo da teoria dos jogos tem como interesse situações em que os indivíduos se comportam estrategicamente, isto é, como as pessoas vão decidir quando as escolhas dos outros interferem no resultado. Exemplo Dois criminosos foram presos pela polícia, que os interroga em salas separadas. Caso apenas um deles confesse individualmente, esse será libertado logo pela sua colaboração, e o outro terá uma pena maior (três anos de prisão). Caso ambos confessem, eles serão condenados a uma pena igual: dois anos de prisão. Se nenhum dos dois confessar, eles receberão apenas a pena por um crime menor (um ano de prisão). Qual será a decisão individual? Qual será o resultado? Claramente, a ação de um dos criminosos influenciará o resultado do outro. Os pioneiros da área são os matemáticos John Von Neumann, John Nash e o economista Oskar Morgenstern. Embora a área seja considerada nova, o desenvolvimento da teoria dos jogos foi uma revolução na economia ao abordar problemas cruciais por meio de modelos matemáticos. Por exemplo, a economia neoclássica tinha grande dificuldade em lidar com a competição imperfeita, como oligopólios. Com o crescimento da teoria dos jogos, foi possível modelar o comportamento competitivo dos agentes. Além disso, a teoria tem uma gama de aplicações, sendo usada em economia, psicologia, biologia evolucionária, guerras e política. https://conteudo.ensineme.com.br/ge/00480/intro?brand=estacio# Economia política Apesar de a economia política como campo de estudo ser uma área antiga, sua vertente contemporânea é bem distinta da anterior. Hoje, a pesquisa estuda como as escolhas de políticas públicas são realizadas por políticos escolhidos por eleitores que compõem uma sociedade (democrática ou não). Uma de suas grandes contribuições foi mostrar que, para explicarresultados econômicos, é preciso olhar além de preços e renda, analisando também a história e a sociologia. Um dos fundadores da área ― como a conhecemos atualmente ― é o italiano Alberto Alesina. Em seus trabalhos, ele atentou para os seguintes aspectos: ● Períodos eleitorais podem gerar comportamento cíclico na atividade econômica. ● Fatores políticos levam ao acúmulo de dívida pública maior do que o socialmente desejável. ● A independência dos bancos centrais, em relação a pressões políticas, era um fator preponderante para a estabilidade macroeconômica. Alesina estabeleceu como a desigualdade de renda poderia ser prejudicial ao crescimento econômico, pois desencadeava conflitos políticos redistributivos. Ele e trouxe o estudo da cultura como um grande determinante de resultados políticos e econômicos. Segundo ele, as mesmas variáveis culturais, sociológicas e históricas que influenciam as escolhas de determinadas formas de instituições podem estar https://conteudo.ensineme.com.br/ge/00480/intro?brand=estacio# correlacionadas à política fiscal. Perguntas como o motivo de os EUA gastarem pouco com bem-estar em comparação à Europa podem ter suas respostas em questões culturais. Assim como Alesina, outros dois italianos, Persson e Tabellini, contribuíram consideravelmente para a área. Eles combinaram o melhor de três diferentes áreas para sugerir uma abordagem unificada em economia política. Veja: Macroeconomia moderna Indivíduos se comportam de forma racional, e suas preferências sobre os resultados econômicos induzem suas preferências sobre políticas. Escolha pública A delegação de decisões políticas para representantes políticos pode resultar em problemas de agência entre políticos e eleitores, que são situações em que uma ação é delegada de um agente para o outro. Em geral, eles possuem objetivos conflitantes, de forma que o resultado ótimo para um não é desejável para outro. Por exemplo, existe um fazendeiro e um agricultor que trabalham em uma fazenda. O objetivo do fazendeiro é maximizar seu lucro, enquanto o do agricultor é maximizar seu bem-estar. No cenário em que o fazendeiro delega o cuidado da plantação para o agricultor, o resultado do lucro dependerá do esforço do agricultor. Na ausência de mecanismos que incentivem o agricultor a se esforçar, buscando a maximização de lucro, o resultado não será o esperado pelo fazendeiro. Na política, isso também ocorre, uma vez que o incentivo dos políticos difere do incentivo dos eleitores. Escolha racional As instituições políticas moldam os processos pelos quais os políticos são eleitos e as políticas públicas são executadas. Economia comportamental Economistas clássicos introduziram a noção de que interesses individuais racionais importam. A teoria contemporânea pressupõe que indivíduos são racionais e tomam decisões com base nas informações disponíveis, fazendo as escolhas que geram maiores ganhos com base em alguma medida de benefício. Partindo do entendimento de escolhas racionais, um consumidor não vai comprar dois pares de sapatos quando precisa apenas de um. Também é razoável supor que as pessoas vão economizar ao longo de suas vidas para garantir uma aposentadoria, e pessoas endividadas cortariam seus gastos em vez de parcelar uma nova televisão no cartão de crédito. Se somos realmente racionais, por que tantas pessoas fazem o oposto do que a teoria supõe? Richard Thaler, um economista norte-americano, e Daniel Kahneman, psicólogo israelense, foram pioneiros em unir economia e psicologia, criando e desenvolvendo o campo da economia comportamental. Ambos foram premiados com o Nobel pelas suas contribuições. A premissa básica é que os seres humanos nem sempre são racionais. Muitas vezes suas escolhas podem ser baseadas em questões subjetivas e culturais, que, em alguns momentos, pesam mais que a racionalidade. Isso não significa que a economia comportamental abandone por completo a noção de racionalidade, mas ela apenas incorpora ao processo de tomada de decisão outros fatores antes desconsiderados. A economia comportamental tenta explicar por que as pessoas não economizam para a aposentadoria, priorizando o consumo no presente. Isso ocorre porque o prazer atual é mais próximo e mais palpável do que o possível sofrimento em um tempo futuro e distante. Thaler explica também o comportamento de manada nos mercados financeiros: quando o mercado está em alta, mais pessoas decidem investir nas ações, o que decorre de um pensamento irracional de que os preços vão subir amanhã porque estão subindo hoje. Outro aspecto da economia comportamental é o nudge, uma espécie de "empurrãozinho" que pode influenciar o processo de tomada de decisão de um indivíduo. Ou seja: é mais provável que as pessoas escolham uma opção específica se ela for a padrão. Exemplo No preenchimento de cadastros, as pessoas estão mais inclinadas a receber e-mails de promoções se essa for a opção padrão, devendo clicar no botão de que não desejam estar na lista desses e-mails para desativar o recebimento, do que se necessitarem clicar em um botão afirmando que desejam estar na lista. Em outras palavras, as pessoas tendem a aceitar a opção que lhes é oferecida, e não arcar com os custos psicológicos da escolha. A premissa básica da economia comportamental é que os seres humanos nem sempre são racionais. Economia política Confira, neste vídeo, análises sobre ciclos eleitorais, dívida pública e influência cultural nas decisões políticas, além de uma abordagem unificada em economia política, revelando como as instituições políticas moldam os processos de tomada de decisão. Desenvolvimento econômico Acompanhe este vídeo, que aborda desde os métodos para promover o crescimento até a análise de variáveis sociais, educacionais e de saúde, destacando a evolução dos modelos e a crescente incorporação de fatores, como progresso tecnológico e qualidade das instituições, enquanto o desenvolvimento econômico enfrenta desafios, como a dupla causalidade e o impacto das culturas e crenças. A economia do desenvolvimento se volta para os países de baixa renda, estudando seu processo de desenvolvimento. Essa área cobre diversos outros campos que afetam o crescimento social e econômico dos países, pois o processo de desenvolvimento econômico é amplo e complexo. Nesse sentido, a economia do desenvolvimento enfoca métodos que promovem o crescimento econômico, as mudanças estruturais e a melhora de aspectos que englobam a população, como condições de saúde, educação e trabalho. O crescimento econômico, em particular, é investigado há muitos anos por economistas da história do pensamento econômico. Como a economia, essa área passou por diversas transformações até se tornar o que é atualmente. Os neoclássicos propuseram alguns modelos de desenvolvimento econômico que frequentemente são vistos nos cursos de macroeconomia e desenvolvimento de um currículo de graduação em economia. Com o passar dos anos, esses modelos foram ficando cada vez mais sofisticados, incorporando mais elementos e variáveis determinantes do crescimento econômico, visando torná-los mais próximos da realidade. Características como crescimento populacional, progresso tecnológico, capital humano e até o papel e a qualidade das instituições foram, pouco a pouco, sendo incorporadas nas equações. Saiba Mais Alguns dos economistas mais importantes a elaborar modelos de desenvolvimento são: Roy Harrod, Evsey Domar, Robert Solow e Paul Romer. Algumas características que foram incorporadas aos poucos às equações são: ● Crescimento populacional ● Progresso tecnológico ● Capital humano ● Papel e qualidade das instituições Daron Acemoglu e James A. Robinson são dois economistas contemporâneosque mostraram evidências empíricas robustas sustentando a tese do papel desempenhado pelas instituições no desenvolvimento econômico, com ênfase nos direitos de propriedade. Outros economistas apontam, entre outros tantos fatores institucionais que impactam o crescimento, para: ● A importância da organização dos sistemas financeiros nacionais. ● O desenho de constituições. ● O tipo de regime de um país (democrático ou autoritário). ● O grau de liberalização comercial de um país. O grande desafio da área é a dupla causalidade que esses fatores costumam apresentar com o crescimento econômico. Instituições melhores levam ao maior crescimento econômico ou países que têm maior crescimento econômico estabelecem melhores instituições? Embora exista um problema de dupla causalidade que dificulte determinar se instituições afetam o crescimento econômico, Daron Acemoglu e James A. Robinson apresentaram evidências empíricas de que as instituições desempenham importante função no desenvolvimento econômico. A preocupação com que os parâmetros e os dados inseridos no modelo explicassem a realidade levou os economistas a elaborarem modelos de desenvolvimento cada vez mais sofisticados. Direitos de propriedade e abertura comercial estão entre os principais determinantes do desenvolvimento econômico. Direitos de propriedade bem definidos geram incentivos ao investimento, e a abertura comercial permite acesso a bens e tecnologias por menor preço, entre diversos outros efeitos. Outra camada do desenvolvimento econômico ― talvez a mais desafiadora ― é a do impacto das culturas e das crenças no crescimento. Nesse caso, o obstáculo é que crenças e costumes são elementos muito difíceis de serem medidos e capturados pelos dados, mas isso não significa que devam ser ignorados. Na última década, a literatura econômica vem desenvolvendo muitos estudos nessa área mostrando como normas sociais, crenças individuais e coletivas influenciam as preferências dos indivíduos, e que as diretrizes variam lentamente ao longo do tempo. Economia da pobreza É outro campo que se propôs a investigar a economia de baixa renda. Os laureados com o Prêmio Nobel de Economia de 2019, Michael Kremer, Esther Duflo e Abhijit Banerjee, fizeram contribuições com uma abordagem experimental para aliviar a pobreza global. Os três economistas publicaram uma série de artigos, muitas vezes em conjunto, utilizando um método bastante empregado na medicina: randomized controled trials (RCTs), ou estudos aleatorizados controlados. De forma resumida, essa abordagem experimental consiste em dividir a população de um estudo em grupos aleatorizados de controle e tratamento para testar a efetividade de determinada política. Os autores realizaram uma série de estudos desse tipo, desenvolvendo uma ferramenta muito poderosa para testar intervenções que podem reduzir a pobreza. Elas variam desde a realização de tutorias corretivas nas escolas, passando pelo fornecimento de redes contra mosquitos para famílias (para prevenir doenças), até políticas de microcrédito. O sucesso dessa abordagem influenciou consideravelmente a forma de avaliar políticas de nossa geração. Embora não apontem um amplo conjunto de conclusões, esses estudos permitem tirar lições simples, mas valiosas, com grandes efeitos para a erradicação da pobreza. Outra vantagem é que, pelo fato de serem estudos controlados, há a possibilidade de verificar possíveis efeitos colaterais não antecipados, colocando na balança, ao final dos experimentos, os benefícios e os custos não antecipados das intervenções. Economia da desigualdade Vamos iniciar entendendo que a desigualdade econômica é um tópico de interesse e uma preocupação de cientistas sociais. Existe uma grande variedade de tipos de desigualdade econômica, muitas vezes medida na forma de distribuição de renda ou riqueza. Ela também pode ser avaliada como desigualdade entre países, regiões ou grupos de pessoas. A lista de pessoas que já estudou esse tópico é extensa. O economista francês Thomas Piketty escreveu o livro O Capital no Século XXI (2013), que aborda o crescimento da desigualdade da riqueza mundial. A obra causou rebuliço no meio acadêmico ao trazer à tona o debate sobre taxação progressiva e tributação da riqueza global como único caminho eficiente para combater a concentração da renda, que, segundo o autor, seria consequência inevitável do capitalismo. Documentando com dados detalhados a evolução histórica da concentração da renda e da riqueza, Piketty desenvolveu uma grande teoria do capital e da desigualdade. Alguns autores já elaboraram estudos rebatendo suas conclusões, mas o debate ainda está em desenvolvimento. Outras áreas voltadas à economia Economia da saúde e da educação São campos da economia que aplicam princípios e métodos econômicos para analisar e compreender os sistemas de saúde e educação. Conheça a seguir suas principais características. Economia da saúde É a área de estudo aplicado que permite uma análise rigorosa e sistemática dos problemas enfrentados na promoção da saúde para todos. Economistas da saúde utilizam as teorias do consumidor, do produtor e da escolha social como ferramenta para entenderem o comportamento dos indivíduos, dos provedores de saúde e de organizações públicas e privadas. Um dos muitos exemplos estudados por economistas da saúde envolve perguntas como: transferências governamentais durante a gravidez melhoram a saúde da criança ao nascer? Economia da educação É a área que estuda questões relacionadas à educação, sejam elas de demanda própria, seu financiamento e sua provisão, ou relacionadas à eficiência comparativa entre diferentes programas e políticas. Uma pergunta que economistas da educação se preocupam em responder é: há uma relação entre escolaridade e resultados no mercado de trabalho? O programa Renda Melhor Jovem, elaborado pelo governo do estado do Rio de Janeiro, era um exemplo de política pública que aplicava o conceito de custo de oportunidade. Será que essa política foi eficaz, possibilitando jovens permanecessem mais tempo na escola para, no futuro, terem um salário melhor no mercado de trabalho? Questões assim também fazem parte das preocupações da área. Outras áreas voltadas à economia Listamos aqui uma série de áreas nas quais a literatura econômica encontra terreno fértil e campo nas últimas décadas. Entretanto, existem muitos outros campos que economistas pode estudar e nos quais podem atuar, o que é uma das grandes vantagens da profissão. Além disso, campos mais clássicos, como macroeconomia e microeconomia, seguem igualmente trazendo novidades. 1 Economia do trabalho Procura entender o funcionamento e a dinâmica dos mercados de trabalho assalariado. 2 Economia ambiental Dedica-se a estudar a escassez dos recursos ambientais, propondo minimizar o impacto causado no meio ambiente. 3 Economia do crime É uma área relativamente nova. Usa o raciocínio econômico para explicar a tomada de decisões em condutas ilícitas. 4 Econometria Desenvolve um ferramental mais aplicado do que outras áreas e pesquisas citadas aqui e possui uma gama de possibilidades praticamente infinita. Economias que descrevem e transformam sociedades Assista, neste vídeo, às nuances da economia política, desde os ciclos eleitorais até a influência da cultura nas escolhas políticas, e à economia da pobreza, revelando como estudos experimentais estão transformando a luta contra a pobreza global. TEMA 2 Contas Nacionais e Indicadores Econômicos Propósito Compreender os princípios de contas nacionais e os principais indicadores socioeconômicos permite acompanhar e avaliar a economia nacional e o bem-estar social,o que faz parte do trabalho de cientistas sociais de todas as áreas. Objetivos ● Reconhecer os princípios básicos das contas nacionais. ● Reconhecer indicadores complementares às contas nacionais. Introdução De forma geral, a contabilidade nacional é um sistema contábil que permite a avaliação da economia em certo período de tempo, em seus mais variados aspectos, assim como indicadores socioeconômicos. O Produto Interno Bruto (PIB) é a estatística mais importante do sistema de contas nacionais. Analisar a evolução do PIB é função da teoria macroeconômica, como você poderá estudar em outras oportunidades. As contas nacionais fornecem os insumos, em forma de dados, para que a macroeconomia utilize modelos empíricos e explique a evolução do PIB. Assim como as contas nacionais, os indicadores sociais informam sobre o estado da economia. As contas nacionais monitoram o gasto dos consumidores, as vendas dos produtores, os gastos de investimentos privados e públicos, as compras do governo e outras diversas transações entre setores da economia, permitindo a investigação do motivo pelo qual alguns países são mais ricos ou crescem mais rápido do que outros. O PIB tem algumas limitações, e, por isso, existem outros indicadores socioeconômicos também utilizados para mensurar a situação econômica, como taxa de desemprego, coeficiente de Gini, índice de desenvolvimento humano, índices de preços e taxa de inflação. Produto Interno Bruto – PIB Para começar, vamos analisar a questão a seguir: “Em 2010, o Brasil registrou um crescimento expressivo do PIB, da ordem de 7,5%.” (Fonte: UOL Educação). Refletindo sobre essa informação, o que você entende sobre PIB? O PIB é o indicador mais utilizado para analisar o desempenho de uma economia. Seu objetivo é sintetizar em um único número o valor correspondente à atividade econômica em moeda corrente. Percebemos que o PIB é um indicador essencial e muito útil. Ele é utilizado, preponderantemente, em nossa economia. No Brasil, quem é responsável pelo cálculo do PIB? O PIB é calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a partir de diversos dados, tanto administrativos quanto oriundos de pesquisas domiciliares. Alguns desses dados são produzidos pelo próprio IBGE e outros são provenientes de fontes externas, como o Banco Central e a Fundação Getúlio Vargas. O PIB se refere ao valor agregado de todos os bens e serviços finais produzidos dentro de um país, independentemente da nacionalidade dos proprietários das unidades produtoras desses bens e serviços. O PIB é medido a preços de mercado e pode ser calculado sob três aspectos: pela ótica da produção; pela ótica da renda; pela ótica do dispêndio. É muito comum ainda o cálculo do PIB per capita, que é a relação econômica estabelecida entre o PIB e a população de um país. Além disso, o PIB pode ser calculado nacionalmente, regionalmente ou a nível das estruturas locais (dos municípios, por exemplo). No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calcula e publica as estatísticas do PIB regularmente, de três em três meses (trimestralmente) O PIB é o mais importante indicador do desempenho macroeconômico de um país. Fluxo circular do PIB O PIB é a soma do valor de todos os bens e serviços finais produzidos em um país ao longo de um período de tempo. Uma forma de calcular diretamente o PIB é pesquisar as firmas desta economia e somar o valor de sua produção de bens e serviços finais, ou seja, somando o fluxo de fundos recebidos pelas vendas no mercado de bens e serviços. Mas, afinal, só existe essa forma de cálculo? Cálculo do PIB Veja a seguir uma breve contextualização sobre as variações de cálculo. Podemos visualizar diversas maneiras de calcular o PIB analisando o fluxo circular expandido. O princípio fundamental das contas nacionais é que o fluxo de dinheiro que entra em cada setor ou mercado é igual ao que sai. O princípio fundamental exige que a soma total de fluxos de capital que sai de determinada caixa seja igual à soma total que entra. É uma questão de contabilidade. Observe o fluxo circular na imagem. As famílias têm gastos nos mercados de bens e consumo, e também são proprietárias dos fatores de produção, vendendo o uso destes às firmas e recebendo em troca salários, lucros, juros e aluguéis. As empresas compram e pagam pela utilização desses fatores de produção. A maior parte da renda das famílias é proveniente de salários pela venda da mão de obra. Além dos salários, a renda das famílias é composta por ações (participação na propriedade de empresas), aluguéis (de imóveis, terras e bens de capital) e bônus (títulos de dívidas que pagam juros). Portanto, a renda familiar é composta por salários, aluguéis, juros e lucros. As famílias pagam impostos ao governo e também podem receber transferências governamentais, como no caso de aposentadorias e auxílios sociais. A renda total das famílias após elas pagarem impostos e receberem transferência é conhecida como renda disponível. As famílias não costumam gastar toda sua renda disponível em bens e serviços, de forma que parte da renda disponível é transformada em poupança privada, indo para mercados financeiros. Os mercados financeiros recebem renda tanto das famílias do país em questão, como também do governo e do resto do mundo. Os mercados financeiros são instituições, como bancos, onde indivíduos, governo e empresas podem comprar e vender ações, bônus e fazer empréstimos. O governo destina parte dos impostos às famílias, na forma de transferências. A outra parte das arrecadações tributárias é utilizada para a compra de bens e serviços, e, frequentemente, precisa ser complementada na forma de empréstimos governamentais. Os bens e serviços adquiridos pelo governo variam de equipamentos hospitalares até o pagamento de salário de professores. O “resto do mundo” (todos os demais países) participa comprando bens e serviços produzidos no Brasil, como petróleo, soja e minério de ferro, que são denominadas exportações, ou vendendo bens e serviços ao Brasil, como respiradores hospitalares, combustíveis e automóveis, por meio das importações. Os demais países também realizam transações nos mercados financeiros, seja pela compra de ações de empresas brasileiras por estrangeiros ou por empréstimos de firmas brasileiras com instituições estrangeiras. Além das famílias, as empresas compram máquinas e mão de obra no mercado de bens e serviços para viabilizar a sua produção. A aquisição de máquinas é considerada como gasto em investimentos, uma vez que estão relacionados à capacidade física produtiva. O gasto com aumento de estoques também é considerado investimento, pois contribui para o aumento das vendas futuras de uma firma. Apresentamos a segunda maneira de calcular o PIB: somando as despesas no mercado de bens e serviços! Incluímos também as despesas do governo e os gastos em investimentos realizados pelas firmas. Pela regra fundamental da contabilidade, o fluxo de despesa realizado pelas famílias no mercado de bens e serviços deve ser igual ao que entra no mercado e sai de outras fontes. O fluxo total direcionado ao mercado de bens e serviços é conhecido como gasto agregado, ou seja, a soma dos gastos de consumo, de investimento, das compras governamentais e das exportações, subtraindo as importações. Por fim, podemos calcular o PIB a partir do fluxo de renda das firmas! Essa é a terceira maneira de calcular o PIB: a partir do fluxo de renda das firmas para os mercados de fatores. Nesse fluxo, temos os salários pagos à mão de obra, juros, lucros e aluguéis. Para calcular o PIB, podemos somar o total das rendas dos fatores recebidas pelas famílias e pagas pelas firmas. O PIB pode ser calculado a partir de três prerrogativas: o valor da produçãode bens e serviços finais, os gastos em bens e serviços finais produzidos internamente e a renda de fatores obtidos pelas firmas na economia. Comentário O PIB mede somente bens e serviços finais, a fim de evitar dupla contagem. Considere, por exemplo, que um país produz R$ 100,00 de cevada e R$ 500,00 de cerveja. Nesse caso, o PIB do país será de R$ 500,00, uma vez que o valor da cevada já é considerado no valor da cerveja. Como são contabilizados os bens e serviços? Os bens e serviços finais são contabilizados a preços enfrentados pelo consumidor, levando-se em conta os impostos sobre os produtos comercializados. Uma forma de calcular o valor de todos os bens e serviços finais de uma economia é representado pela soma do valor agregado em cada etapa da produção, em que este valor agregado é igual ao valor do produto da firma menos o valor de todos os bens intermediários utilizados na produção. Assim, existe outra definição: PIB é o total do valor agregado de todas as firmas na economia. Bens usados, estoques e valores imputados Há bens e serviços que são computados de forma especial no PIB. O primeiro deles são os bens usados. Exemplo Quando a Som Livre produz discos do Jorge Benjor e os vende por 15 reais, esse montante é adicionado ao PIB do Brasil. Quando uma pessoa que comprou esse disco resolve revendê-lo, anos depois, por 50 reais, esse valor não entra no cálculo do PIB. Isso acontece porque somente os valores correspondentes a bens e serviços produzidos no momento presente são contabilizados, e a venda do disco do Jorge Benjor reflete apenas a transferência de um ativo, e não um acréscimo à renda da economia. Além de bens usados, os estoques também apresentam uma abordagem diferenciada. A produção de um bem aumentou durante um mês e, ao final deste, ele estragou, pois era perecível, ou foi para estoque. O aumento da produção aumenta o PIB em ambos os cenários. No primeiro, em que o bem estragou, houve maior pagamento de salários, e a não venda do bem reflete em menores lucros. Já no segundo cenário, em que o bem foi para o estoque da firma, é tratado como compra por parte da própria firma, e, portanto, faz parte do PIB. Contudo, a venda desses bens que se encontravam estocados não entra no cálculo. Como a economia é diversa e oferece bens e serviços bastante diferenciados, não é possível, em todos os casos, calcular o PIB desses bens e serviços em preços de mercado. Quando isso acontece, utilizamos uma estimativa do preço, conhecida como valor imputado. Aluguéis, moradias e serviços prestados pelo governo são alguns dos casos nos quais utilizamos valores imputados, em vez de preços de mercado. No caso de moradia, estima-se que a dona do imóvel pague um valor de aluguel para ela mesma, e esse valor é considerado parte do PIB. No caso de moradia, estima-se que a dona do imóvel pague um valor de aluguel para ela mesma, e esse valor é considerado parte do PIB. Embora existam mais casos em que uma imputação seja necessária, em muitos desses não é realizada, como aluguéis de carros e outros bens duráveis, bens e serviços produzidos e consumidos em casa, como refeições, e bens e serviços da economia informal. Ótica da despesa As contas nacionais dividem o PIB em quatro categorias para despesa: ● Consumo (C); ● Investimento (I); ● Compras do governo (G); ● Exportações líquidas (NX). ● Portando, sendo Y o PIB, temos: Y=C+I+G+NX Essa equação é conhecida como identidade das contas nacionais. Consumo O consumo compreende os bens e serviços adquiridos pelos domicílios. Os bens são classificados em duráveis e não duráveis. Duráveis São bens que duram um longo período de tempo, como automóveis e eletrodomésticos. Não duráveis São bens que duram um curto período de tempo, como alimentos e vestuário. Investimento O investimento consiste em bens adquiridos para uso futuro, e pode ser de três naturezas: investimento fixo de empresas, investimento fixo imobiliário e investimento em estoques. O primeiro equivale à compra de nova unidade para produção ‒ por exemplo, equipamentos e maquinários. O segundo consiste na aquisição de uma nova residência para fins de moradia ou de aluguel pelas famílias. Por fim, o investimento em estoques é o aumento de estoques de bens por uma firma. Compras do governo As compras do governo são os bens e serviços adquiridos pelos governos federais, estaduais e municipais, e incluem itens como equipamentos hospitalares e escolares, e serviços prestados por servidores públicos. Não consideramos gasto do governo transferências como previdência e assistência social. Essas transferências não são contabilizadas no PIB, pois apenas realocam uma renda que já existe, e não há transação entre bens e serviços. Exportações líquidas As exportações líquidas são a parte da identidade das contas nacionais que considera o comércio com outros países. Elas são o valor das exportações (o que é vendido para outros países) menos o valor das importações (o que compramos de outros países). As exportações líquidas são negativas quando o valor das importações é maior do que o valor das exportações, e positivas, no caso oposto. Ótica da oferta Para calcular o PIB pela ótica da oferta, somamos os valores agregados totais de cada firma, que é denominado valor adicionado bruto (VAB), e representa o valor da diferença entre o que é produzido e o consumo intermediário. Para chegar ao PIB a preços de mercado, somamos o VAB com impostos indiretos e subtraímos subsídios: PIB=∑VAB+ impostos indiretos - subsídios Para compreendermos melhor, vamos resolver a questão a seguir. Atividade discursiva Seja uma padaria que produza um pão e o venda a R$ 1,00. Para produzi-lo, o padeiro gastou 100g de farinha de trigo e 10ml de água. O custo de R$ 1,00 considera os gastos com os ingredientes para produzi-lo. Suponha que o custo desses ingredientes seja de 30 centavos. Qual será o valor agregado a essa padaria e o valor da sua contribuição para o PIB? Para calcular o valor agregado pela padaria e sua contribuição para o Produto Interno Bruto (PIB), podemos usar a seguinte fórmula: Valor Agregado = Valor da Produção - Custo dos Insumos Contribuição para o PIB = Valor Agregado Primeiro, vamos calcular o valor agregado pela padaria: Valor da Produção = Preço de Venda do Pão Custo dos Insumos = Custo da Farinha de Trigo + Custo da Água Custo dos Insumos = 0,30 (custo dos ingredientes para produzir o pão) Agora, vamos calcular o valor agregado: Valor da Produção = R$ 1,00 Custo dos Insumos = R$ 0,30 Valor Agregado = R$ 1,00 - R$ 0,30 Valor Agregado = R$ 0,70 Portanto, o valor agregado pela padaria é de R$ 0,70. A contribuição para o PIB é igual ao valor agregado, então a contribuição da padaria para o PIB é de R$ 0,70. Ótica da renda O cálculo do PIB, pela ótica da renda, consiste na soma de todas as rendas dos agentes habitantes do país em questão, como salários, juros, lucros e aluguéis. A soma dos juros, lucros e aluguéis é conhecida na contabilidade nacional como excedente operacional bruto (EOB). Portanto, para chegar ao PIB a preços de mercado, devemos somar salários, EOB e impostos indiretos, e subtrair os subsídios, veja: PIB= salários + impostos indiretos - subsídios Fluxo x estoque O PIB é uma medida de fluxo de novos bens e serviços finais produzidos durante certo período de tempo, e não um estoque de riqueza existente em um país. Se um país não produz durante um ano, seu PIB anual é zero. O estoque é uma quantidade medida em certo ponto do tempo, enquanto o fluxo é uma quantidade medida por unidade de tempo. Atividade discursiva Pense numa caixa d’água. A água dentro da caixa é um estoque e equivale à quantidade de água dacaixa em certo período do tempo. Já a água que entra na caixa pelo cano é um fluxo, sendo a quantidade de água adicionada ao longo do tempo. O que podemos considerar sobre a unidade de medida dessas variáveis? As variáveis de estoque, como a quantidade de água dentro da caixa, são medidas em unidades fixas, como litros, metros cúbicos, ou galões. Por outro lado, as variáveis de fluxo, como a quantidade de água que entra na caixa pelo cano, são medidas em unidades de volume por unidade de tempo, como litros por hora, metros cúbicos por segundo, ou galões por minuto. Essas unidades de medida são essenciais para entender e quantificar a dinâmica de entrada e saída de substâncias em um sistema, como no caso da caixa d'água. Veja um exemplo do cálculo do PIB pelas três óticas em uma economia hipotética: PIB real x PIB nominal e o deflator do PIB Como já vimos, o PIB nos possibilita fazer comparações tanto entre nações quanto entre períodos de tempo. Contudo, devemos prestar atenção ao fazermos comparações entre períodos de tempo. Parte do aumento do PIB ao longo do tempo representa um aumento nos preços dos bens e serviços, e não um aumento na quantidade produzida, uma vez que o PIB é calculado em moeda corrente Da mesma forma, uma economia pode estar aumentando, mas seu PIB pode estar caindo se os preços estiverem reduzindo. Para compreender melhor a questão, analise a situação a seguir: Em minhas pesquisas, verifiquei que o PIB do Brasil em 2019, segundo o IPEA Data, foi de 7.256.882,00 milhões de reais, enquanto em 2009 foi de 3.333.039,30 milhões de reais. Todavia, em 10 anos, a economia brasileira não mais que dobrou de tamanho. Para fazermos essa comparação de forma correta, é preciso calcular o PIB real, ou seja, a quantidade de bens e serviços finais que uma economia produziu. PASSO 1 Para entendermos como calculamos o PIB real, vamos imaginar uma economia que produza apenas peixes e cocos. No primeiro ano, o preço do peixe é de R$ 3,00, o do coco é de R$ 1,00, e são produzidos 10 peixes e 25 cocos. No segundo ano, o preço do peixe é de R$ 5,00, o do coco é de R$ 2,00, e são produzidos 15 peixes e 30 cocos. PASSO 2 No primeiro ano, o valor total da produção é de R$ 55,00. No segundo ano, é de R$ 135. O PIB nominal do segundo ano é 145% maior que o do primeiro. Contudo, fica claro, a partir do exemplo, que os preços aumentaram, e mesmo que a quantidade também tenha aumentado, o aumento da quantidade é menor do que 145%. PASSO 3 Para chegarmos ao aumento da quantidade produzida, devemos calcular o PIB como se os preços não tivessem mudado, ou seja, utilizando os preços do primeiro ano e as quantidades do segundo. Assim, o PIB do segundo ano calculado a partir dos preços do primeiro é igual a R$ 75, o que representa um aumento de 36%. Portanto, o PIB real é o valor total de bens e serviços finais produzidos na economia durante um ano, e calculado como se os preços tivessem permanecidos constantes, ou seja, no nível de determinado ano base. O PIB real sempre vem acompanhado de informações do ano-base em questão. Os dados do PIB em que os preços não são ajustados é denominado PIB nominal, isto é, o PIB a preços correntes. Se tivéssemos utilizado o PIB nominal para comparar a economia dos dois anos, como mostrado no exemplo anterior, teríamos encontrado um crescimento de 145%, enquanto, na realidade, a economia cresceu 36%. O PIB real também previne que a variação dos preços distorça o valor da mudança na produção de produtos e serviços ao longo do tempo. Na prática, o ano-base é atualizado periodicamente, a cada cinco anos, para garantir que os preços não estejam demasiadamente defasados. Deflator do PIB Além do PIB nominal e do PIB real, podemos calcular o deflator do PIB, que corresponde à razão entre o PIB nominal e o PIB real. O deflator do PIB reflete o que está ocorrendo com o nível geral de preços da economia. Deflator do PIB= PIB real PIB nominal No exemplo sobre a economia hipotética, a variação do deflator do PIB é de 80% (135 ÷75 = (1,8 – 1) x 100 = 80%). O deflator do PIB representa a variação de preços mais abrangente na economia, pois sintetiza uma medida de preços de todos os bens e serviços produzidos. Como veremos, o deflator é diferente dos índices de preço frequentemente utilizados, porque sua estrutura muda conforme a composição do PIB se altera, enquanto os índices de preço, no geral, possuem uma cesta de bens fixa. Sazonalidade Além do PIB anual, os economistas se interessam pelo PIB de períodos de tempo mais curtos (trimestrais). Contudo, conforme estudamos sua evolução trimestral, logo notamos um padrão sazonal regular. A imagem a seguir ilustra a evolução do PIB trimestral do Brasil entre 2016 e 2019. O número 1 no eixo x representa o primeiro trimestre de 2016, o número 5 representa o primeiro trimestre de 2017, e assim por diante. As linhas pontilhadas marcam o último trimestre de cada ano. Série trimestral do PIB brasileiro. A produção total aumenta durante o ano, com pico no último trimestre, conforme ilustra a imagem anterior. Parte da variação sazonal do PIB reflete a variação na capacidade de produção ao longo do ano. Por exemplo, certos cultivos são produzidos em determinadas estações, assim como indivíduos apresentam preferências sazonais, como a de comprar presentes no Natal, chocolates na Páscoa e viajar no verão. Para estudar as flutuações reais do PIB, tiramos a parte da flutuação previsível atribuída à sazonalidade do PIB. A maior parte das estatísticas é ajustada sazonalmente, ou seja, os dados são ajustados de modo a remover as flutuações sazonais regulares. Portanto, quando observamos flutuações no PIB real ou em outros indicadores, devemos buscar outros fatores além da sazonalidade para explicar tais flutuações. Outros indicadores de renda das contas nacionais PIB per capita PIB per capita é a renda média individual de um país. Para calcular o PIB per capita, dividimos o PIB daquele país pela sua população: Assim como o PIB real, o PIB per capita permite uma melhor comparação entre economias, porque eliminamos o efeito de uma população maior. Assim, um país cuja população é maior terá uma economia maior simplesmente pelo fato de que há mais indivíduos trabalhando. A razão para o PIB ser frequentemente usado para analisar o desempenho econômico é que uma economia com grande produção de bens e serviços é capaz de satisfazer melhor às demandas dos domicílios, empresas e governo. A partir do PIB, podemos comparar o tamanho da economia de países, avaliar a evolução do PIB no tempo, comparando o seu desempenho anual, analisar o PIB per capita etc. Relembrando PIB é um indicador imperfeito da economia, uma vez que existem limitações para o seu cálculo. Portanto, diversos fatores relevantes não são considerados no PIB: distribuição de renda, qualidade de vida, educação, saúde, segurança etc. Produto Nacional Bruto - PNB Além do PIB, existem outros indicadores de renda bastante utilizados que se relacionam com ele. O primeiro deles é o Produto Nacional Bruto (PNB), que considera o valor da produção de propriedade de residentes, ou seja, de brasileiros. A produção de estrangeiros no Brasil é levada em consideração no PIB, mas não no PNB. A produção de brasileiros em países estrangeiros, por exemplo, não é considerada no PIB, mas entra no PNB. PNB = PIB + pagamentos de fatores oriundos do exterior - pagamentos de fatores destinados ao exterior = PIB - RLEE Nessa expressão, a renda líquida enviada ao exterior (RLEE) é a diferença entre pagamentos de fatores destinados ao exterior (como o salário de um norte-americano que trabalha no Brasil) e pagamentos de fatores oriundos do exterior (por exemplo, o salário de um brasileiro quemoderna é Francis Bacon, que, no século XVI, deixou registrado que “saber é poder”. A partir dele e da Revolução Científica Moderna, começa a busca pelo desenvolvimento de um compreensão sistemática da natureza que permita atingir objetivos concretos. Exemplo Se chove, nós nos molhamos. Se determinado medicamento for utilizado, a mortalidade de certa doença https://conteudo.ensineme.com.br/ge/00480/intro?brand=estacio# será reduzida. Assim, há a tentativa de compreender o mundo por meio da relação de causalidade. Mas como sabemos se uma teoria é útil? Geralmente, submetemos a teoria ao teste empírico, ou seja, ela deve explicar determinado conjunto de dados. Por exemplo, se a teoria diz que “se chove, algo se molha”, buscamos uma série de dados sobre “chuva ou sol” e sobre “objeto molhado ou seco”, e vemos se a teoria explica a relação empírica observada. O teste empírico deve sempre ser construído de modo que isole as variáveis relevantes do problema. Em outras palavras, ele deve tomar “tudo mais como constante” para não comprometer o resultado da avaliação. Afinal, é comum haver outras variáveis que afetem as observações, por exemplo, uma superfície pode estar molhada porque alguém a lavou com água encanada. Embora um teste empírico possa ser bem-sucedido, devemos dizer que não rejeitamos a teoria. Não podemos aceitá-la absolutamente porque, desde o princípio, sabemos que ela é imperfeita, mas seguimos com ela enquanto não for rejeitada nem surgir outra mais aperfeiçoada (isto é, que explique melhor os dados). Escolha individual como as escolhas individuais ― guiadas pelos princípios da escassez de recursos, custo real, decisão marginal e oportunidades de melhoria ― são fundamentais em todas as atividades econômicas. Microeconomia Estuda o comportamento de agentes individuais. Exemplo: Qual deve ser a regulação do setor de telefonia para garantir cobertura adequada à população? A microeconomia é o ramo da economia que se concentra no comportamento das unidades individuais, como os consumidores, as empresas, os proprietários de fatores de produção e os governos. Basicamente, a teoria microeconômica tem dois lados analíticos: o da demanda e o da oferta. Enquanto o comportamento microeconômico da demanda é analisado a partir da teoria do consumidor, o comportamento da oferta é estudado a partir da teoria da firma e da teoria dos mercados. Em todos os casos, a microeconomia apresenta uma perspectiva microscópica dos fenômenos econômicos, ou seja, uma análise parcial deles. Neste capítulo, você vai conhecer o objeto de estudo da microeconomia. Além disso, vai compreender o que é o comportamento da demanda e o que é o comportamento da oferta. A microeconomia é o ramo da economia que estuda o comportamento das unidades individuais, como os consumidores, as empresas, os proprietários de fatores de produção e os governos. Em outras palavras, a microeconomia se ocupa da forma como as unidades individuais que compõem a economia — consumidores privados, empresas, trabalhadores, produtores de bens e serviços, etc. — agem e reagem umas sobre as outras Assim, a microeconomia se preocupa em estudar como e por que os agentes econômicos capitalistas agem de determinadas formas. Entre inúmeras perguntas, a microeconomia procura respostas para as seguintes questões: o que determina o preço dos bens e serviços em uma economia? O que determina o quanto de cada mercadoria será produzido? O que determina a maneira pela qual uma família gasta a sua renda? Para Vasconcellos (2009), deve ser observado que a microeconomia não tem seu foco na empresa, portanto não deve ser confundida com a administração. O foco da microeconomia está no mercado no qual as em-presas e os consumidores interagem, analisando os fatores econômicos que determinam tanto o comportamento da demanda quanto o da oferta. Logo, a microeconomia apresenta uma perspectiva “microscópica” dos fenômenos econômicos, ou seja, uma análise parcial desses fenômenos. Enquanto a microeconomia se preocupa mais com uma análise parcial, a macroeconomia foca nos grandes agregados econômicos dentro de uma análise global. É importante você notar que, antes do início do século XX, a economia era uma ciência exclusivamente microeconômica Fundamentalmente, a análise microeconômica pode ser dividida em cinco grandes categorias: 1. a teoria da demanda/procura; 2. a teoria da oferta; 3. a análise das estruturas de mercado; 4. a teoria do equilíbrio geral e do bem-estar; 5. as imperfeições de mercado (as externalidades, os bens públicos e as informações assimétricas). Em resumo, a teoria microeconômica se assenta em três pilares: a demanda, a oferta e o mercado. Nesse contexto, a análise microeconômica acontece em dois mercados: o mercado de bens e serviços, e o mercado dos serviços dos fatores de produção (terra, trabalho e capital). A Economia, hoje, está dividida em duas grandes subáreas: a microeconomia e a macroeconomia. Adam Smith é considerado o fundador da microeconomia, o ramo da economia que trata do comportamento de entidades individuais como os mercados, as empresas e as famílias. Na obra A Riqueza das Nações (1776), Smith analisou como o preço de cada bem era estabelecido, estudou a determinação dos preços da terra, da mão de obra e do capital e investigou os pontos fortes e fracos do funcionamento do mercado. Mais importante ainda, identificou as propriedades notáveis de eficiência dos mercados e explicou como o interesse próprio dos indivíduos atuando em mercados competitivos pode gerar um benefício econômico geral. A microeconomia vai além das preocupações iniciais ao incluir o estudo do monopólio, o papel do comércio internacional, das finanças e muitos outros assuntos vitais. Macroeconomia A macroeconomia é o ramo da economia que se concentra no estudo dos agregados econômicos. Como exemplos desses agregados, você pode considerar a renda nacional, o investimento, o nível geral de pre-ços, a poupança nacional, o consumo, o emprego e o desemprego, o estoque de moeda, a taxa de juros, a taxa de câmbio e o comércio internacional. Na realidade, a macroeconomia é administrada a partir de políticas governamentais, como a política fiscal, a política monetária, a política externa e a política de rendas (controle de preços e salários). As políticas macroeconômicas são as ferramentas que os policy makers ou formuladores de políticas possuem para atingir os objetivos macroeconômicos do governo e, assim, solucionar os problemas econômicos dos mercados como um todo. Neste capítulo, você vai conhecer o objeto de estudo da macroeconomia. Também vai aprender a diferenciar as principais políticas macroeconômicas. Além disso, vai se familiarizar com os indicadores macroeconômicos fundamentais. A macroeconomia é o ramo da ciência econômica que busca estudar a economia como um todo. É a parte da economia que foca no estudo dos agregados econômicos. Entre esses agregados, você pode considerar a renda nacional, o investimento, o nível geral de preços, a poupança nacional, o consumo, o emprego e o desemprego, o estoque de moeda, a taxa de juros, a taxa de câmbio e o comércio internacional O fato de a macroeconomia estudar o comportamento dos agregados econômicos não significa que a análise macroeconômica esteja isolada da análise microeconomia (que estuda a economia dos indivíduos e das empresas). Você deve notar que a separação da análise econômica — em macroeconomia e microeconomia — é somente para fins didáticos. Na prática, ambas as perspectivas andam juntas e se retroalimentam no seu funcionamento Hoje, os estudos macroeconômicos procuram responder aos seguintes problemas econômicos: como reduzir o desemprego? Como controlar a in-flação? Como melhorar a distribuição de renda? Como gerar umtrabalha na Europa). As diferenças entre PIB e PNB podem ser expressivas em alguns países, como também podem quase não existir em outros. Isso acontece devido à composição da economia, ao grau de endividamento externo e à quantidade de empresas multinacionais que remetem lucros aos seus países de origem. Podemos calcular o Produto Nacional Líquido (PNL) a partir da subtração da depreciação do capital, isto é, da parcela do capital que se desgasta ao longo de um período: PNL = PNB - Depreciação do Capital Como a depreciação do capital representa um custo para a produção, por meio da sua subtração, temos o resultado líquido da atividade econômica. Imagine, por exemplo, uma máquina de moer café que precisa de manutenção, pois está com uma peça quebrada. Essa peça quebrada é um exemplo de depreciação do capital. O Produto Nacional Líquido é aproximadamente igual a outro indicador de renda, a Renda Nacional, que mede o quanto ganharam todas as pessoas que integram uma economia. A diferença entre os dois indicadores ocorre devido a uma pequena correção, conhecida como discrepância estatística, ocasionada porque fontes diferentes de dados podem não ser exatamente correspondentes. Em uma economia fechada, ou seja, sem trocas com o exterior, as estimativas de PIB e PNB são idênticas. Crescimento acelerado e períodos de recessão Veja agora uma breve contextualização sobre crescimento x recessão. Fluxo circular do PIB PIB real x PIB nominal e o deflator do PIB Outros indicadores de renda das contas nacionais TEMA 3 Economia Brasileira no Século 21: 2003 em Diante Propósito Entender o governo do Partido dos Trabalhadores é fundamental para entender a economia e o quadro político brasileiro no século XXI, e portanto é fundamental para profissionais de todas as áreas que lidam com a conjuntura político-econômica do país. Objetivos ● Descrever aspectos da economia nos governos Lula. ● Descrever aspectos da economia nos governos Dilma. Introdução A partir do momento em que a economia brasileira logrou sucesso com o Plano Real no combate à inflação, e sobretudo após a crise cambial de 1999, com a implantação do tripé macroeconômico, as prioridades de economistas e os anseios do mercado financeiro e da sociedade como um todo deixaram de ser apenas a manutenção da solidez da estabilidade macroeconômica alcançada. Agora, priorizava-se também o aprofundamento de reformas, tanto do ponto de vista estrutural, como a tributária, a fiscal, a política e a continuidade da previdenciária, como também maior atenção aos conflitos distributivos e à desigualdade social. Em 2003, Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido simplesmente como Lula, chega à presidência da República, causando euforia popular e temor nos mercados financeiros a respeito da manutenção dos fundamentos dos anos FHC (Fernando Henrique Cardoso). Em 2011, Dilma Rousseff herda uma situação econômica confortável, mas não consegue manter uma taxa de crescimento alta após o boom de preços de commodities. A maneira pela qual Dilma escolhe lidar com essas adversidades acaba por perturbar os fundamentos macroeconômicos, o que, somado a uma crise política, leva a seu afastamento do cargo de presidente (impeachment). As escolhas incluíram dois ajustes fiscais; subsídios em demasia, que reforçaram a deterioração das contas nacionais; e algumas políticas de intervenção em mercado, que desagradaram setores importantes para a economia brasileira. Este conteúdo está estruturado em dois módulos, um para cada presidente. No primeiro módulo, há um estudo dos anos Lula e, no segundo, dos anos Dilma. A eleição de Lula Para compreender os anos Lula, é preciso voltar às eleições de 2002, momento em que o Partido dos Trabalhadores (PT) mudou significativamente suas propostas para a economia brasileira. Por um lado, houve documentos e apresentações do partido em que se mantinham claramente as ideias do partido durante a década de 1990 , como calote na dívida externa, suspensão dos juros da dívida interna e nacionalização de empresas (ou seja, reversão das privatizações). Ao longo de 2001 e 2002, porém, o PT não defendeu esses assuntos, como havia feito nas eleições de 1989, 1994 e 1998. A simples possibilidade de se abrir debate a respeito desses temas por parte de nomes do alto escalão do partido – nomes cotados para ocupar cargos no eventual governo do PT – gerava animosidade nos mercados. Percebendo que seria preciso romper a barreira de 30% dos votos, média do desempenho histórico de Lula, mas insuficiente para vencer as eleições, o PT muda gradualmente o discurso, a começar pela escolha do então prefeito de Ribeirão Preto, Antonio Palocci, para a coordenação de campanha de Lula. Palocci era um quadro menos expressivo do comando do partido e mais afastado das decisões centrais, ao mesmo tempo em que tinha bom trânsito entre mercado, políticos e empresários. A esse fato, foram somadas: a “Carta aos brasileiros”, em que o PT se comprometia a manter as conquistas de estabilidade macroeconômica dos anos anteriores; e a escolha de José Alencar (empresário bem sucedido de mineração) para a chapa de Lula na condição de vice-presidente. O PT gradualmente se afastou do seu discurso tradicional, e se aproximou de forças políticas a que antes se opunha, em busca de uma coalização capaz de vencer as eleições. Giambiagi (2011) considera que, além do faro eleitoral, pesaram para essa inflexão dois fatores. O primeiro foi a crise argentina de 2001 e o medo de um efeito contágio, uma vez que, no país vizinho, havia ocorrido uma interrupção do crédito externo. O segundo foi a própria percepção de que a situação externa do Brasil dependeria ainda fortemente dos empréstimos estrangeiros e do FMI (Fundo Monetário Internacional). Sem esses empréstimos, faltaria moeda forte (dólar) no país, e o início do governo Lula poderia sofrer um quadro de depreciação cambial. E essa depreciação, por sua vez, poderia gerar inflação acelerada e risco de insolvência, uma vez que grande parte da dívida era atrelada direta ou indiretamente ao dólar. Saiba Mais Insolvência é a incapacidade de pagamento, como ocorre quando empresas ou o governo não conseguem honrar dívidas em dólar. https://conteudo.ensineme.com.br/ge/02402/intro?brand=estacio# O programa do PT lançado para as eleições de 2002 corrobora essa percepção e leva a uma melhora dos mercados. Porém, em 2002, há uma forte crise cambial, causada em parte pelo chamado “risco Lula”, que adicionou prêmio de risco aos ativos brasileiros – ou seja, os investidores nacionais e internacionais reduziram o interesse em ativos do país dada sua percepção de risco econômico, só aceitando adquiri-los quando houvesse expectativa de um retorno maior. Além disso, houve um conjunto de mudanças regulatórias na gestão cambial por parte do Banco Central, o que também afetou a demanda dos investidores. No segundo semestre de 2002, a taxa de câmbio depreciou para mais de R$3,30 e o risco-país se elevou de 700 para 1400 bps. Os juros futuros dispararam e as LFTs (pós-fixadas) chegaram a cotar 120% ao ano. Isso em um cenário com apenas 20 bilhões de dólares em reservas internacionais, déficit corrente de 5% do PIB e conta capital predominantemente volátil e de curto prazo, com forte caráter especulativo. Em suma: houve grande saída de recursos do país, diante da insegurança dos investidores em relação à economia brasileira, gerando depreciação cambial e aumento dos juros. Para entender melhor: ● BPs são pontos base: simplesmente uma unidade de medida tipicamente usada no mercado financeiro. Por exemplo, se um título tinha um retorno de 5% e passa para 5,50%, houve um aumento de 50 pontos base.´ ● LFTs (Letra Financeira do Tesouro), umtítulo público chamado hoje de Tesouro Selic. É um título pós-fixado, ou seja, sua remuneração não é conhecida de antemão, mas acompanha a taxa Selic, a taxa básica de juros estabelecida pelo Banco Central. Quando a Taxa Selic aumenta, a remuneração da LFT também aumenta, por isso é um título público comprado, em geral, por pessoas que acham que a Selic vai aumentar. ● Nesse contexto, por meio da Circular 3086 do Banco Central, a autoridade monetária remarcou os fundos de investimento a preços de mercado, gerando alta volatilidade dos preços dos títulos públicos, o que aumentou a necessidade de financiamento da dívida interna. A situação foi agravada por mais dois elementos: 1. O Regime Especial de Tributação, que impôs a antecipação do pagamento de impostos atrasados para recompor a arrecadação federal. 2. Os leilões de LFTs casados com oferta de swaps cambiais para conferir hedge aos investidores, de forma que não precisassem sair do país. Se você ainda não estudou esses conceitos, não há problema: basta saber que os swaps cambiais, ofertados pelo Banco Central, funcionam como um seguro contra grandes variações da taxa de câmbio, evitando que o investidor tenha grandes perdas. A primeira medida gerou um aumento do financiamento no mercado de títulos públicos. Já a segunda provocou um aumento da demanda por dólares. Essas medidas conjugadas reforçaram a crise cambial, que durou até o final do ano de 2002. É esse o cenário macroeconômico que Lula encontra em janeiro de 2003, quando assume a presidência. A fase Palocci dos anos Lula: ajuste fiscal e manutenção dos fundamentos macroeconômicos As primeiras medidas O governo Lula inicia-se com um documento do Ministério da Fazenda, sob a gestão de Antonio Palocci, intitulado “Política econômica e reformas estruturais”, que propunha um modelo que combinaria três elementos: desenvolvimento econômico, estabilidade macroeconômica e redirecionamento dos gastos públicos para as classes menos favorecidas. Comentário José Alencar era do setor empresarial, que sofria com altas taxas de juros. Lula buscava conciliar diferentes interesses: tanto a necessidade de controlar a inflação, quanto o investimento produtivo e o crescimento econômico. Na prática, o documento corroborou as intenções expressadas pelo PT na mudança de tom ainda nas eleições de 2002 e acalmou ainda mais as expectativas do mercado. Por outro lado, a nomeação de Henrique Meirelles para a presidência do Banco Central foi um forte sinal de comprometimento com os fundamentos macroeconômicos, uma vez que Meirelles havia sido presidente internacional do Bank Boston e era filiado ao PSDB. Meirelles, embora não tivesse autonomia legal, ganhou status de ministro e gozou de liberdade para manejar a política monetária sem interferência do presidente, muito embora as críticas do vice José Alencar, por vezes, tenham gerado constrangimento. Por seu turno, o governo adotou como primeiras medidas o aumento das metas de superávit primário (Diferença entre receitas e despesas do governo, excetuando despesas financeiras), pois percebeu que o resultado primário necessário para estabilizar a dívida não seria mais o mesmo definido pelo governo anterior em linha com o FMI. Isso porque a dívida já havia se deteriorado com o aumento dos juros, com a contração do PIB (Produto Interno Bruto) e com a expectativa de novos aumentos de juros para combater a inflação. Esse aumento de juros elevou o custo fiscal do serviço da dívida pública. Dessa maneira, as metas de superavit primário aumentaram de 3,75% do PIB para 4,25% em 2003. A meta de 4,25% foi ainda fixada para os anos de 2004, 2005 e 2006, garantindo ainda mais o comprometimento do governo com uma política fiscal restritiva, o que agradava o mercado. Por sua vez, as metas de inflação anunciadas para 2003 e 2004 foram satisfatórias, atendendo às expectativas, sendo de 8,5% para o primeiro ano de governo e de 5,5% para o segundo. A meta maior para o primeiro buscava acomodar os choques cambiais do ano anterior. Com as medidas tomadas pelo governo, o risco-país voltou para 700 bps em março de 2003, depois de ter chegado a mais de 2000 em dezembro de 2002. Entretanto, a taxa de câmbio acumulava alta de 70% em 12 meses e a expectativa de inflação para 2003 estava em 11%, mesmo com Selic a 25% ao final de 2002. Comentário Lembre-se de que a depreciação cambial pode gerar aumento da inflação: bens importados, bens que competem com importados, e bens vendidos ao exterior ficam mais caros. A taxa Selic é um instrumento para combater a inflação: quando aumenta, os investimentos produtivos ficam menos rentáveis em comparação ao mero investimento em títulos públicos. Uma taxa Selic de 25% é extremamente alta, e ainda assim havia o risco de que não fosse suficiente para controlar a inflação. No primeiro semestre de 2003, as medidas de política econômica e a melhora da balança comercial levaram a taxa de câmbio para três reais, uma apreciação significativa. Além disso, o acordo com o FMI foi renovado, mas o governo não precisou acessar a linha de crédito do Fundo, pois o capital externo voltou a entrar no país. A balança comercial superou os 13 bilhões de dólares e o déficit em conta corrente caiu para menos de 8 bilhões. Por seu turno, a maior entrada de capitais foi favorecida pela baixa de juros americanos, que caíram para 1% ao ano: dessa forma, os investidores tinham menos retorno nos Estados Unidos, e passaram a procurar outros países para investir. Dizemos que havia uma grande liquidez (abundância de recursos) no mundo, o que continuou por um longo período. Mesmo assim, sentindo os efeitos do repasse cambial, a inflação chegou a 17% em maio e, a partir daí, começou a arrefecer. Para isso, a política monetária foi bastante restritiva com a taxa básica Selic, que foi de 25% para 26,5% ao ano, para somente após maio, começar a se reduzir, chegando a 8% em 2004. A inflação fechou 2003 em 9,3%, acima da meta, mas bem abaixo do pico das expectativas. As reformas propostas No plano reformista, duas propostas foram encaminhadas ao Congresso Nacional, o que gerou insatisfação na base mais à esquerda dentro do PT. A primeira foi a reforma tributária e a segunda a reforma da Previdência. Segundo Giambiagi (2011), a reforma tributária tinha quatro objetivos: ● Unificação da legislação do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). ● Padronização da Desvinculação de Receitas da União (DRU). ● Renovação da contribuição da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). ● Transformação do COFINS (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) em tributação sobre valor adicionado, não mais em cascata. Já a reforma da Previdência foi voltada para o RPPS (Regime Próprio de Previdência Social, dos funcionários públicos) e tinha as seguintes características: 1. Taxação dos inativos à mesma alíquota dos ativos. 2. Aplicação de um redutor para pensões acima de determinado piso de isenção. 3. Aumento das idades mínimas (60 para homens e 55 para mulheres). 4. Definição do mesmo teto do INSS (dos funcionários do setor privado) para os novos servidores públicos, com possibilidade de previdência complementar. Ou seja, o setor público não garantiria aos servidores um valor máximo diferente do que um trabalhador privado obtinha: tanto um quanto outro precisaria recorrer a uma forma adicional de poupança (como a previdência complementar) para receber além do teto. A gestão da dívida pública A partir de setembro de 2004, há novo ciclo de aumentos da taxa de juros (Selic), que saiu de 16% para 19,75% em maio de 2005. A medida foi uma reação para a alta de preços de commodities. Nesse momento, havia a aceleração do crescimento chinês, que foi fundamental para aumentaros preços de commodities em dólar e também a demanda externa para a economia brasileira. Afinal, o que são commodities? Saiba Mais Commodities são bens extraídos diretamente, com pouco ou nenhum processamento, como minério de ferro ou soja. São fundamentais para qualquer país em crescimento, e a China, que começava a acelerar seu processo de crescimento econômico para atingir níveis poucas vezes vistos, demandava quantidades cada vez maiores de commodities brasileiras, o que provoca uma pressão sobre os preços. A política restritiva do BCB (Banco Central do Brasil) tentou evitar aumento da inflação, que estava pressionada pelo preço do petróleo, entre outras commodities, e a redução do hiato do produto. Outros ciclos de aperto nos anos Lula ocorreram entre abril e setembro de 2008 (de 11,25% para 13,75%) por conta do aquecimento da atividade no pré-crise global, e entre abril e junho de 2010 (de 8,75% para 10,75%) como resposta à recuperação acelerada no pós-crise. No plano externo, a melhora dos termos de troca e a abundância de liquidez foram decisivas para a trajetória de apreciação da taxa de câmbio. Nesse contexto, há duas mudanças importantes na gestão da dívida pública e em seu perfil. Com a entrada crescente de fluxo de moeda estrangeira por conta dos efeitos China (alta demanda provoca altos preços) e EUA (baixos juros externos provocam entrada de capitais no Brasil), houve melhora na conta corrente (efeito China) e na conta capital e financeira (efeito EUA). Nesse cenário, o BCB adotou uma política de compra de reservas internacionais esterilizada. Se você ainda não estudou esse tipo de operação, basta saber que o BCB comprava os dólares que entravam no país e os usava para comprar títulos públicos americanos, que compunham as reservas internacionais do Brasil. Para comprar esses dólares, porém, o BCB usa naturalmente a moeda brasileira: reais. Logo, uma entrada de dólares acaba provocando um aumento da quantidade de moeda (reais) em circulação na economia, o que representa um afrouxamento monetário, ou uma redução da taxa Selic. Para evitar essa redução, o BCB precisa comprar esses reais para tirá-los de circulação, e para isso vende títulos públicos, o que “esteriliza” o aumento da oferta de moeda causado pela compra de dólares. Para simplificar: no fim das contas, o BCB simplesmente compra dólares e vende títulos públicos. https://conteudo.ensineme.com.br/ge/02402/intro?brand=estacio# Por um lado, essa venda de títulos públicos era contabilizada como um aumento da dívida bruta (tecnicamente, tratam-se das chamadas operações compromissadas, que têm esse registro contábil). Por outro lado, houve redução da dívida líquida, já que as reservas internacionais são contabilizadas na dívida líquida. Finalmente, o grande ponto positivo nesse caso foi que o Brasil se tornou credor externo líquido, pois o volume em dólares de reservas superou o estoque de passivo externo (pense em dívidas para simplificar) em dólar. Esse estoque parou de aumentar porque o Brasil não fez empréstimos junto ao FMI e a organismos internacionais. A partir desse momento, nota-se uma reversão de um padrão histórico na economia brasileira, já que, antes, um processo de depreciação cambial deteriorava os indicadores fiscais por meio de um aumento da dívida externa. Agora, a depreciação cambial reduzia a dívida! Saiba Mais Uma depreciação da taxa de câmbio aumentava em reais os valores das reservas denominadas em dólares e, assim, o ativo do BCB aumentava em reais sem necessidade de aumento de compras de novos dólares, isto é, sem alterações no estoque do ativo. Na prática, isso se configurou um enorme avanço institucional à medida que mitigava a vulnerabilidade externa do país, sobretudo com a redução do risco de ataques especulativos tão comuns nos anos 1990. Esse aumento de reservas foi elemento-chave no bom enfrentamento da crise global de 2008. É importante pontuarmos que a melhora do perfil da dívida também se deu por outro aspecto no âmbito interno. Com a melhora dos indicadores fiscais, com o comprometimento do governo em manter os pilares da economia e com o cenário externo favorável, a avaliação do país nos mercados externos melhorou. Nessa seara, o Tesouro Nacional aproveitou para trocar títulos indexados à taxa de câmbio ou em dólares por títulos indexados em reais, notadamente, LFTs, por estarem atrelados a uma taxa Selic crescente, ou em NTNs-B (Notas do Tesouro Nacional, título público atrelado à inflação), que garantiam uma parcela pré-fixada atrativa e uma parte flutuante que acompanharia a inflação. Isso foi possível porque o país atraía investidores menos preocupados com instabilidade cambial, e que portanto não precisavam de proteção contra variações cambiais. Na prática, o país atraía investidores que pensavam mais no longo prazo, e que acreditavam nos fundamentos da economia do país. Vale lembrar que a boa avaliação da dívida brasileira culminou em 2008 com a obtenção do grau de investimento por parte das principais agências de rating internacional. Na prática, ainda houve venda de títulos pré-fixados nos momentos de queda esperada na taxa Selic, ou seja, o Tesouro Nacional (TN) ia a mercado resgatar títulos em dólares ou indexados ao câmbio e, assim, vendia novos títulos mais longos e indexados a taxas de juros internas com liquidação em reais. Vamos resumir essa melhoria da situação fiscal. Quando o país tem poucos investidores, é difícil para o governo financiar a dívida pública. É necessário garantir aos investidores proteção contra variações cambiais, e contra mudanças na taxa de juros (Selic). Com um aumento do investimento no país, seja por maior volume de recursos internacionais ou por maior confiança no país, torna-se menos necessário recorrer a esse tipo de proteção, que é boa para os investidores, mas é cara para o país porque gera uma dívida pública instável, por ser muito dependente de fatores conjunturais que afetam os juros e o câmbio. Esse elemento foi muito importante, pois conferiu maior autonomia monetária e fiscal ao governo Lula, que pôde, assim, não ter maiores preocupações com o longo prazo nem com a sustentabilidade fiscal. A fase Mantega: expansão social, crise de 2008 e a mudança de orientação de política econômica Os novos rumos Havia um entendimento dentro do PT e do núcleo duro do governo que o ajuste fiscal e a política de sinalização para “agradar aos mercados”, ao mesmo tempo em que serviria para conciliar classes, seria útil para evitar adversidades no plano financeiro ao novo governo. Essa análise consta em Barbosa (2013), que versa acerca do ajuste ter sido exigido também por conta do fim das arrecadações não recorrentes, como os recursos obtidos com privatizações, ao passo que o aperto da política monetária levaria a uma alta da despesa financeira, com juros da dívida pública. QUESTOES Tema 1 - Conceitos básicos de economia 1-Primeiros conceitos econômicos Exemplo Escolha individual Microeconomia Macroeconomia Existem quatro princípios econômicos contidos na escolha individual: Escassez de recursos Custo real Exemplo Decisão marginal Oportunidades de melhoria Exemplo Exemplo Os quatro princípios da escolha individual para análise econômica PRINCIPIO 1 : ESCASSEZ DE RECURSOS Mercados: interações entre indivíduos Ganhos de mercado Exemplo Movimentação dos mercados em direção ao equilíbrio Exemplo Mercados rumo à eficiência Exemplo Ação governamental em prol do aumento de bem-estar Exemplo Variáveis endógenas e exógenas Escola Clássica 2. História do pensamento econômico Pensamento econômico Surgimento da economia política Mercantilistas Bulionistas (metalistas) Mercantilistas Atenção Precursores da economia política clássicaEconomia política clássica Teóricos da economia política clássica Adam Smith Thomas Malthus David Ricardo e John Stuart Mill Revolução marginalista e ortodoxia Saiba Mais Curiosidade Keynes em diante Comentário Keynesianismo Economia depois de Keynes 3.Pesquisa econômica atual Pesquisa econômica Teoria dos jogos Exemplo Macroeconomia moderna Escolha pública Escolha racional Economia comportamental Exemplo Desenvolvimento econômico Saiba Mais Economia da pobreza Economia da desigualdade Outras áreas voltadas à economia TEMA 2 Contas Nacionais e Indicadores Econômicos Produto Interno Bruto – PIB Fluxo circular do PIB Comentário Bens usados, estoques e valores imputados Exemplo Ótica da despesa Ótica da oferta Ótica da renda Fluxo x estoque PIB real x PIB nominal e o deflator do PIB Deflator do PIB Sazonalidade Outros indicadores de renda das contas nacionais Relembrando Produto Nacional Bruto - PNB Crescimento acelerado e períodos de recessão TEMA 3 Economia Brasileira no Século 21: 2003 em Diante A eleição de Lula Saiba Mais A fase Palocci dos anos Lula: ajuste fiscal e manutenção dos fundamentos macroeconômicos Comentário Comentário Saiba Mais Saiba Mais A fase Mantega: expansão social, crise de 2008 e a mudança de orientação de política econômicacrescimento econômico equilibrado e contínuo? Como reduzir os endividamentos do governo e aumentar os investimentos em infraestrutura? Como melhorar a mobilidade social? Na prática, esses são alguns dos problemas econômicos mais recorrentes. A macroeconomia tem como meta solucioná-los. Analisa a economia de maneira agregada. Exemplo: Por que a inflação aumentou? Em todos os casos, precisamos analisar a escolha individual dos agentes envolvidos. Qualquer questão em economia envolve escolha individual, independentemente de estarmos no campo da micro ou da macroeconomia. Em última instância, até decisões macroeconômicas são baseadas em uma série de decisões individuais sobre o que fazer ou não. Portanto, podemos dizer que economia é sobre escolhas. Quando vamos à feira, há diversos produtos em inúmeras barracas. É pouco provável que tenhamos dinheiro para comprar tudo o que desejamos e, mesmo que tenhamos, é possível que não haja espaço suficiente na geladeira para guardar todos os produtos. Alguém pode argumentar que basta comprar outra geladeira. Contudo, o espaço em sua casa é limitado, de forma que precisamos escolher qual alimento comprar e qual colocar na geladeira. O fato de alguns produtos estarem à venda na feira já envolve uma escolha. O feirante escolheu quais itens levar para a feira, e os produtores agrícolas também escolheram quais cultivariam. Notamos, então, que todas as atividades econômicas passam por escolhas. Existem quatro princípios econômicos contidos na escolha individual: ● Escassez de recursos ● Custo real ● Decisão marginal ● Oportunidades de melhoria O trade-off nada mais é do que um dilema. Conforme Sandroni (2005), em economia, o trade-off define uma situação de escolha conflitante. Isto é, ocorre quando uma ação econômica visa à resolução de determinado problema, mas acarreta — inevitavelmente — outros problemas econômicos. Na maioria dos países, é possível prever as escolhas macroeconômicas a partir do conhecimento prévio da orientação ideológica dos policy makers O outro ramo importante da nossa matéria é a macroeconomia, relacionada ao desempenho global da economia. A macroeconomia nem sequer existia na sua formulação moderna antes de 1936, quando John Maynard Keynes publicou a sua obra revolucionária Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. Nessa época, Inglaterra e os Estados Unidos ainda se debatiam com a Grande Depressão dos anos 1930, com o desemprego afetando mais de um quarto da população ativa norte‐americana. Na sua nova teoria, Keynes desenvolveu uma análise das causas dos ciclos econômicos, com períodos alternados de desemprego e inflação elevada. A macroeconomia examina uma grande variedade de assuntos, tais como a determinação do investimento e do consumo totais, como os bancos centrais fazem a gestão da moeda e das taxas de juro, o que causa as crises financeiras internacionais e por que razão alguns países se desenvolvem rapidamente, enquanto outros ficam estagnados. Embora a macroeconomia tenha progredido muito desde as suas primeiras conclusões, as questões abordadas por Keynes ainda continuam a delimitar o estudo atual da macroeconomia. A macroeconomia é o estudo do comportamento da economia como um todo. Examina as forças que afe tam empresas, consumidores e trabalhadores no seu conjunto. A macroeconomia contrasta com a microe conomia, que estuda os preços, as quantidades e os mercados individualmente. Os anos 1930 marcaram o despertar da ciência da ma croeconomia, fundada por John Maynard Keynes quan do tentava compreender o mecanismo econômico que originou a Grande Depressão. Após a Segunda Guerra Mundial, refletindo tanto o aumento da influência das ideias keynesianas como o receio de outra depressão, o Congresso dos Estados Unidos proclamou formalmente a responsabilidade federal pelo desempenho macroeco nômico e aprovou a Lei do Emprego de 1946, um mar co na legislação, que estipulava: O Congresso, por meio desta, declara que são perma nentes a política e a responsabilidade do governo federal em usar todos os meios admissíveis e compatíveis com as suas necessidades e obrigações... de promover o máximo de emprego, de produção e de poder de compra Todas as análises de política macroeconômica come‐çam por John Maynard Keynes. Keynes (1883 ‐1946) foi um gênio multifacetado, reconhecido nos campos da matemática, da filosofia e da literatura. Além disso, teve tempo para dirigir uma grande companhia de se‐guros, ser conselheiro do Tesouro britânico, ajudar a gerir o Banco de Inglaterra, editar uma revista eco‐nômica mundialmente famosa, colecionar arte mo‐derna e livros raros, iniciar um teatro de repertório e casar com uma brilhante bailarina russa. Foi tam‐bém um investidor que sabia como ganhar dinheiro com uma acertada especulação, tanto para si como para o seu colégio universitário, o King’s College, em Cambridge. A sua principal contribuição, contudo, foi a inven‐ção de uma diferente forma de olhar para a macroeco‐nomia e para a política macroeconômica. Antes de Keynes, a maioria dos economistas e das autoridades econômicas aceitava os altos e baixos dos ciclos eco‐nômicos como algo tão inevitável como as marés. Essas ideias estabelecidas há muito nos deixaram indefesos face à Grande Depressão dos anos 1930. Mas no livro de 1936, Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, Keynes deu um enorme salto intelectual, ao apresen‐tar duplo argumento: primeiro, é possível a persistên‐cia de desemprego alto e de capacidade subutilizada nas economias de mercado; segundo, as políticas fiscal e monetária do governo podem influenciar a produ‐ção e, assim, reduzir o desemprego e encurtar as re‐cessões econômicas. Essas propostas tiveram um impacto explosivo quan‐do Keynes as apresentou pela primeira vez, o que ori‐ginou grande controvérsia e discussão. Nos anos após a Segunda Guerra Mundial, a economia keynesiana passou a dominar a macroeconomia e a política gover‐namental. Desde então, novos desenvolvimentos in‐corporando condicionantes da oferta, expectativas e visões alternativas sobre a dinâmica dos preços e dos salários corroeram o anterior consenso keynesiano. Embora poucos economistas atualmente acreditem que a ação do governo possa eliminar os ciclos econô‐micos – como a Economia de Keynes, certa vez, pare‐cia prometer –, nem a ciência econômica nem a polí‐tica econômica foram as mesmas desde a grande descoberta de Keynes. Com efeito, morto o capitalismo de concorrência e adiantado já o processo de monopolização, a obra de Keynes significou a elaboração teórica correspondente às necessidades do capitalismo, num estádio da sua evolução em que a intervenção do estado no domínio da economia passou a ser entendida, nas palavras deo Professor de Cambridge, “como o único meio de evitar uma completa destruição das instituições económicas actuais.” Escassez de recursos No geral, não podemos ter tudo o que queremos. Nossa renda é limitada, o que restringe o que podemos adquirir. A renda que escolhemos gastar indo ao cinema, por exemplo, equivale à que deixamos de gastar com algum outro bem ou serviço. Todavia, existem alguns indivíduos muito ricos, e você deve estar pensando que eles podem ter tudo. Até eles não podem fazer tudo o que querem, porque há a limitação de tempo: o dia possui apenas 24 horas. Assim, o tempo que escolheremos dedicar a determinada atividade não poderá ser usado a outra. Por exemplo, o tempo que dedicamos ao nosso sono é um momento em que deixamos de trabalhar. Fazer escolhas apenas reflete o fato de que os recursos são escassos. Recurso é qualquer elemento que pode ser usado na produção de um bem. Em economia, geralmente consideramos o trabalho, a terra, o capital físico e o humano (conquistas educacionais e habilidades individuais) como recursos.Podemos afirmar que: Um recurso é escasso quando sua quantidade disponível é insuficiente para satisfazer todos os usos que uma sociedade quer fazer dele. Há diversas formas de tomar decisões. Uma delas é permitir que elas surjam como o resultado de escolhas individuais, o que acontece, normalmente, em economias de mercado. Há também decisões que a sociedade considera que é melhor não serem fruto do resultado de escolhas individuais, porque são prejudiciais na maioria dos casos. Por exemplo, consumir bebida alcoólica e dirigir. Custo real O gasto de adquirir algo envolve também o que dispensamos para realizar a aquisição. Imagine que você prestou vestibular para uma universidade privada e conquistou a aprovação para o curso integral em ciências econômicas. O custo monetário de estudar em uma universidade privada é o valor da mensalidade mais o gasto com passagem, alimentação e material. Mas isso não inclui tudo: esse não é custo real de estar em uma universidade privada. Estudar em tempo integral significa que você está abrindo mão de fazer um curso de inglês pela tarde ou de trabalhar em algum estabelecimento. O custo de desistir de outra atividade se chama custo de oportunidade. Esse é um conceito essencial em economia e se trata do que abdicamos ao deixar de escolher nossa segunda melhor alternativa. O custo real de algo é a soma de seus custos monetário e de oportunidade. Portanto, todo gasto é um custo de oportunidade. Exemplo Em 2011, a Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro formulou o programa Renda Melhor Jovem, que consistia em depósitos na poupança de jovens que cursavam o ensino médio em escolas públicas e eram beneficiados pelo programa e pelo Cartão Família Carioca. Após a conclusão do ensino médio, os jovens poderiam usar essa poupança. A ideia de pagar um valor para eles estudarem tem como base o conceito de custo de oportunidade, pois muitos jovens pobres abandonam a escola para trabalhar e ajudar suas famílias. Decisão marginal Diversas escolhas importantes em nossas vidas começam com a pergunta: “Quanto?”. Não só com relação ao dinheiro, pois essa pergunta se refere também à quantidade. Ou seja, se você está cursando duas disciplinas ― microeconomia e macroeconomia ―, precisa escolher quanto tempo vai dedicar para estudar cada uma delas. Em economia, entendemos escolhas de “quanto?” como uma decisão marginal. Gastar mais tempo estudando microeconomia significa que você possivelmente terá um benefício nessa matéria: tirar uma nota mais alta. Porém, isso também implica menos tempo estudando macroeconomia. Sua decisão envolverá um trade-off, ou seja, comparar entre o custo e o benefício. Essa comparação faz parte da escolha. Como decidir, então, quanto tempo dedicar a cada uma das disciplinas? Você pode não perceber, mas, no geral, decisões desse tipo são tomadas a cada momento. Imagine que as provas de microeconomia e macroeconomia sejam na mesma data. No dia anterior, você decide dedicar metade do tempo à macroeconomia e, a outra metade, para a outra disciplina. Porém, antes de chegar ao fim do tempo destinado à macroeconomia, você nota que é melhor dedicar mais tempo do que o que tinha pensado. À noite, já com sono, você percebe que ainda faltou conteúdo da disciplina, mas ainda está finalizando o de microeconomia. O que fazer? Se você teve nota melhor em uma prova anterior de microeconomia, possivelmente optará por dedicar o tempo disponível restante à macroeconomia. Trata-se de um exemplo de decisões marginais. Elas envolvem um trade-off na margem, isto é, a análise do custo-benefício de um pouco mais de uma atividade e um pouco menos de outra. Muitas decisões no nosso dia a dia são tomadas com base em análises marginais, que desempenham papel fundamental na economia. Se alguém está com sede, decide se vai tomar um copo de água ou não. Após o primeiro copo, ele avalia se ainda quer tomar o segundo, e https://conteudo.ensineme.com.br/ge/00480/intro?brand=estacio# assim por diante. Não tomamos uma decisão apenas entre não beber água ou tomar toda a água da casa, mas também entre um copo ou um gole a mais. A decisão sobre um gole adicional é uma decisão na margem. Oportunidades de melhoria Para começar, observe este caso: Exemplo Todo mês de outubro, os supermercados Guanabara realizam uma promoção de aniversário, que é bastante famosa no Rio de Janeiro. Diversas propagandas passam na televisão, e alguns jornais enviam repórteres para cobrir o evento. Sempre que vemos as notícias, reparamos que há enorme quantidade de pessoas nas lojas. Mas por que, se esses produtos são vendidos normalmente no dia a dia? Segundo os consumidores, os preços durante as promoções são melhores que em qualquer outra época do ano. Assim, quando as pessoas veem uma oportunidade de melhorar sua situação ― nesse caso, por meio da compra de produtos mais baratos ― elas aproveitam. Em geral, ao tentarem prever como os indivíduos se comportarão em alguma situação econômica, profissionais economistas consideram que as pessoas aproveitarão a oportunidade de melhorar suas situações. Assim, elas são exploradas até que se esgotem, isto é, até que tenham sido plenamente aproveitadas pelas pessoas. De modo amplo, o fato de que as pessoas exploram oportunidades de melhorar sua própria situação é uma hipótese largamente adotada em modelos econômicos. Quando houver redução do preço do chocolate, mais consumidores irão comprá-lo. Se o salário de profissionais de engenharia diminuir muito e o dos médicos aumente mais, é provável que alguns alunos do ensino médio deixem de prestar vestibular para engenharia e mudem para medicina. Quando há mudanças nas oportunidades disponíveis e, consequentemente, de comportamento, afirmamos que as pessoas se deparam com novos incentivos. Para economistas, qualquer tentativa de alteração de atitude é fruto de mudanças de incentivos. Portanto, uma política que peça às indústrias que poluam menos só será eficaz se gerar uma mudança de incentivos condizente com o objetivo de redução da poluição. Exemplo Durante a pandemia da covid-19, diversas medidas foram tomadas para seu enfrentamento, como a proibição de frequentar praias e a de sair sem o uso de máscaras. Para que essas medidas tivessem resultado, não bastou pedir à população para mudar de comportamento. Os governos instituíram multas caso as obrigações não fossem cumpridas. Dessa forma, a população teve uma mudança de incentivos. Para reforçar seu aprendizado, assista ao vídeo com uma breve contextualização sobre os princípios econômicos contidos na escolha individual. Os quatro princípios da escolha individual para análise econômica Escolhas individuais são a base do estudo de economia. Partimos delas antes de passar a estudos de agregados maiores Juros, inflação, crescimento, etc. Todos são frutos de um conjunto de escolhas individuais. Escolha individual se baseia em quatro princípios: 1- escassez de recursos: não podemos ter tudo que queremos 2- custo real: custo monetário + custo de oportunidade 3- decisão marginal: decisões na margem, baseadas em um trade-off 4- oportunidades de melhoria: decisões são baseadas nessas oportunidades PRINCIPIO 1 : ESCASSEZ DE RECURSOS Quando um recurso é considerado escasso? Quando ele não é suficiente para suprir todas as necessidades de uma sociedade. Na presença de escassez, a sociedade se ve obrigada a escolher de maneira ótima como utilizar esses recursos. Uma das formas de alocar recursos escassos: mercados competitivos. Nesse caso, os recursos são alocados como resultado das ações de todos os indivíduos nesse mercado. PRINCÍPIO 2 : CUSTO REAL Custo real: Custo monetário+ custo de oportunidade Custo monetárioé o valor em moeda do bem ou serviço adquirido Custo de oportunidade: o que abdicamos ao deixar de escolher nossa segunda melhor alternativa EXEMPLO: escolher entre um carro de marca italiano ou marca alemã Italiano é mais bonito, porém pode dar muitos problemas mecânicos. Carro alemão é menos bonito, mas tem menos chances de dar problemas mecânicos. Ambos tem o mesmo preço. se eu escolho o carro de marca italiana, qual o custo total? Custo total= preço do caro da marca italiana + o quanto eu economizaria com o carro alemao PRINCIPIO 3 = DECISÃO MARGINAL : Uma decisão marginal é aquela que ocorre atravès da analise de custo e beneficio entre as opçoes Ocorre em decisões que respondem perguntas do tipo: quanto? Quanto eu vou estudar para Microeconomia ou Macroeconomia? Quanto tempo vou gastar trabalhando ou descansando? Essas decisões envolvem trade-off= dilemas resolvidos comparando custo e beneficio de cada uma das opções Decisões que resolvem trade-off são decisões marginais A resposta delas é do tipo: “um pouco a mais”. esse é o significado de marginal Exemplo: Para esse número de horas do dia, estou disposto a gastar um pouco a mais de horas com minha familia ao inves de ficar ate mais tarde no escritorio; O BENEFICIO DESSE TIPO DE DECISÃO SUPERA O CUSTO PRINCIPIO 4 : OPORTUNIDADE DE MELHORIA Pessoas se deparam o tempo todo com incentivos. Esses incentivos apontam mudanças de melhoria em suas vidas. Quando pessoas se deparam com incentivos, elas o aproveitam; Exemplo: liquidaçao de supermercado; O princípio é simples: como pessoas sempre estão a procura de oportunidades de melhoria em suas vidas, elas reagem a esses incentivos; voce decidiu estudar economia, voce reagiu a um incentivo nesse processo. exemplo 1 : se voce for aprovado com uma nota boa na materia voce pode buscar um emprego melhor; exemplo 2 : não ser reprovado na matéria pode ser o suficiente para incentivar a estudar, pois reprovar implicaria em fazer essa materia de novo, o que não seria uma melhora em sua vida. Mercados: interações entre indivíduos como a economia de mercado coordena a produção por meio da interação das decisões individuais, destacando a importância do comércio, da moeda, da busca pelo equilíbrio e da eficiência versus equidade. Abordaremos também falhas de mercado e a necessidade de intervenções governamentais quando necessário. Uma economia é o sistema que coordena a produção de muitos agentes. Em uma economia de mercado, isso ocorre sem centralização: cada indivíduo toma sua própria decisão. Todavia, as decisões individuais dependem das decisões dos demais. Portanto, para compreendermos como funciona uma economia de mercado, precisamos entender a interação entre as escolhas individuais. O resultado da escolha de diversas pessoas pode ser bem diferente daquilo que os indivíduos esperariam. O uso de novas técnicas agrícolas é um exemplo. Quando agricultores adotam novas tecnologias, há uma produção tão grande que o resultado é a redução do valor do produto, levando diversos produtores a saírem do mercado. A interação entre indivíduos em uma economia de mercado possui cinco princípios: 1. Ganhos de mercado. 2. Movimentação dos mercados em direção ao equilíbrio. 3. Uso eficiente dos recursos para o alcance dos objetivos da sociedade. 4. Mercados rumo à eficiência. 5. Ação governamental em prol do aumento de bem-estar. Ganhos de mercado São oriundos da divisão de tarefas, conhecida como especialização, ou seja, cada indivíduo se ocupa de poucas atividades. Os mercados permitem que as pessoas se especializem, pois sabem que podem encontrar os bens e serviços que desejam e trocar com outros indivíduos. Imagine que uma pessoa tente suprir sozinha todas as suas necessidades. Ela produz seus tecidos, costura suas roupas, planta seu alimento, pinta seus próprios quadros e constrói sua própria casa. Deve ser possível viver dessa forma, mas parece uma vida bastante dura. A existência do comércio torna possível que os indivíduos dividam tarefas entre si e ofertem bens ou serviços demandados por outras pessoas em troca dos bens e serviços que desejam. Na maioria das sociedades, há poucos indivíduos tentando viver de forma autossuficiente, porque existem ganhos de comércio. Exemplo Duas pessoas, ao trocarem e dividirem, podem obter aquilo que mais desejam. Pode ser que Gabriel seja melhor que Rafael cozinhando, e que esse seja melhor na faxina. Isso permite que Gabriel seja o responsável pela comida e a troque com Rafael por faxina. Moeda costuma ser definida como qualquer ativo que pode ser utilizado facilmente para comprar bens e serviços. Um ativo é líquido quando pode ser convertido em dinheiro vivo de forma simples. Portanto, moeda consiste no próprio dinheiro vivo, que é, por definição, líquido, embora ela também possa ser convertida em outros ativos altamente líquidos. A moeda tem papel fundamental em uma economia, pois gera ganhos de comércio. Isso é possível porque ela permite que trocas indiretas sejam realizadas, acabando com o problema da dupla coincidência de necessidades, que ocorria em um sistema de escambos. Além disso, a moeda tem três funções: 1 Meio de troca Cumpre o papel de um ativo que as pessoas utilizam para trocar bens e serviços. 2 Reserva de valor É uma forma de guardar poder de compra ao longo do tempo. 3 Unidade de conta Representa uma medida que as pessoas utilizam para fixar preços e fazer cálculos econômicos. Movimentação dos mercados em direção ao equilíbrio Aprendemos o princípio que afirma que as pessoas aproveitam oportunidades de melhorar sua situação. Por exemplo, em geral, quando vamos à praia, buscamos um espaço na areia que tenha menos gente para nos instalarmos. No verão, não restam muitos espaços vazios. Isso acontece porque os indivíduos buscam explorar as oportunidades para melhorar de situação. Conforme as pessoas chegam à praia, elas buscam o local mais vazio, até não haver mais nenhum. Todas as oportunidades de melhoria acabaram, pois já foram exploradas. Economistas chamam de equilíbrio a situação em que as pessoas não podem melhorar, fazendo, individualmente, algo diferente. Uma economia está em equilíbrio quando nenhum indivíduo pode melhorar sua situação adotando uma ação diferente. Os mercados, normalmente, alcançam o equilíbrio por meio da mudança de preços, que aumentam ou diminuem, até que todas as oportunidades para melhorar a situação individual tenham se esgotado. Portanto, cada vez que houver uma mudança, a economia se moverá em direção a um novo equilíbrio. Uso eficiente dos recursos para o alcance dos objetivos da sociedade O que importa para economistas não é o dinheiro, mas o bem-estar das pessoas em uma sociedade. Assim, os recursos de uma economia são usados de forma eficiente quando todas as oportunidades de melhorar a situação de cada um são exploradas por completo. Entendemos que uma economia é eficiente quando utiliza todas as oportunidades de melhorar a situação de uma pessoa sem piorar a de outras. Exemplo Mariana mora na zona rural e planta hortaliças. Sua terra é pequena e sua plantação está morrendo por falta de espaço. Pedro, vizinho de Mariana, é proprietário de um latifúndio, e não usa a terra para nada. Claramente, a terra dessa economia está sendo usada de forma ineficiente. Há uma maneira de melhorar a situação de todos: transferindo a plantação de hortaliças de Mariana para as terras de Pedro. Embora essa situação ocorra na vida real, não é simples resolver ineficiências dessa forma, pois essa solução demanda uma reforma agrária, que deveria ser realizada pelo estado. Quando uma economia opera de forma eficiente, os ganhosoriundos do comércio são maximizados, dados os recursos disponíveis. Quando ela é eficiente, a única maneira de melhorar a situação de uma pessoa é piorando a de outra, ou seja, já esgotamos os ganhos de troca. Dado que eficiência é algo ótimo, ela deveria ser o único objetivo em uma economia? A resposta é não. Eficiência não é o único critério que importa. Equidade e justiça também são relevantes. Em geral, há trade-off entre eficiência e equidade, uma vez que políticas que almejam a equidade, muitas vezes, alcançam-na às custas da eficiência. Considere, por exemplo, a política de assentos preferenciais em transportes públicos. Para assegurar que sempre haja assento disponível para grávidas, pessoas com deficiência, idosos e pessoas com crianças de colo, normalmente, há um número reservado de vagas. Muitas vezes, esses assentos ficam vagos, enquanto algumas pessoas ficam em pé. Isso gera ineficiência, mas será que gostaríamos de resolver essa ineficiência deixando as pessoas do grupo preferencial sem assento? Essa situação envolve um trade-off entre eficiência e justiça. Mercados rumo à eficiência Frequentemente, os mercados levam à eficiência ― embora não tenhamos um “planejador central” que se certifique de que a economia esteja operando de forma eficiente. O Estado não precisa gerar eficiência, porque os mercados já cumprem essa função razoavelmente bem. Adam Smith chama isso de mão invisível do mercado. Assim, os incentivos presentes em uma economia de mercado já garantem que os recursos sejam utilizados da melhor maneira possível, sem que haja desperdício de oportunidades. Contudo, há exceções para esse princípio. Quando temos falhas de mercado, a busca individual a partir do interesse próprio piora a situação da sociedade, e o resultado é ineficiente. Isso acontece, em geral, quando a ação individual de uma pessoa tem efeitos colaterais sobre as demais, o que economistas chamam de externalidade. Exemplo Poluição é um exemplo clássico de externalidade negativa. Adam Smith (1996) revelou que o crescimento da riqueza de uma nação depende basicamente da produtividade do trabalho. Essa produtividade, por sua vez, é função do grau de especialização ou da divisão do trabalho, determinado pela expansão do mercado e do comércio (SMITH, 1996). Por isso, Adam Smith concluiu que era fundamental, em qualquer nação, a remoção de todas as barreiras ao comércio interno e externo. Para ele, essa política liberal conduziria invariavelmente ao desenvolvimento das forças produtivas e ao sucesso do que ele chamou de “mão invisível” (SMITH, 1996). Logo, as regulamentações estatais mercantilistas levavam a economia ao retrocesso No seu livro A Riqueza das Nações, Adam Smith (1983) já apontava os efeitos da existência de leis relativas à intervenção do Estado na livre concorrência de mercado. Vem daí a importante expressão “mão invisível”, que Adam Smith formulou ao fazer alusão aos efeitos de um mercado livre. Esse mercado, sem intervencionismo, seria suficiente para regular os preços em prol de uma justa concorrência. Ainda assim, vários autores da AED usaram as bases ideológicas de Adam Smith para dar corpo teórico, em especial, à disciplina da AED. Com a Revolução Inglesa de 1688 e a Revolução Francesa de 1789, abriu--se a era do capitalismo e o caminho para o liberalismo. Nessa conjuntura, a percepção do Estado absolutista entrou em declínio. Assim, o liberalismo passou a ser a palavra de ordem — em especial no plano econômico e político. Em poucas palavras, o liberalismo era o contraditório do absolutismo. Enquanto o absolutismo se caracterizava por um governo de monarcas absolutos e déspotas, em que tudo tinha a cabeça e a mão do Estado, o liberalismo queria um governo pequeno ou um governo que não governasse demasiadamente. Ou seja, o liberalismo não defendia o fim do Estado, mas a redução da sua “mão” — noção que ficou popular com a ideia de Adam Smith da “mão invisível”. Ação governamental em prol do aumento de bem-estar Quando há falhas de mercado, é possível que ações governamentais melhorem o bem-estar da sociedade. Considere uma indústria que produz algo importante, mas gera poluição (por exemplo, usinas termoelétricas que geram energia, mas são muito poluentes). Ela não tem incentivo para levar em conta o custo de sua ação para a sociedade e deixar de poluir. Há duas possíveis respostas para essa situação: ● A sociedade pode subsidiar a adoção de uma nova tecnologia que gere menos poluição. ● O governo pode multar a indústria. Essas alternativas mudam os incentivos da indústria, dando a ela motivos para poluir menos. No entanto, as possíveis soluções vão depender da intervenção do estado. Assim, quando os mercados não funcionam corretamente, a ação do governo pode tornar o resultado mais próximo de algo eficiente, mudando a forma de alocar recursos na sociedade. Em geral, o mercado não funciona corretamente quando há externalidades. Também há falha quando o bem em questão não consegue ser eficientemente administrado pelo mercado. Exemplo Vamos pensar na iluminação pública. Não precisamos pagar para passar sob um poste de luz na rua, o que diminui o incentivo a contribuir para a provisão do serviço. Esse último caso é conhecido como bem público. Alguns agentes econômicos podem ter poder de mercado, como uma empresa monopolista, que poderá restringir o uso de recursos por outros indivíduos para maximizar seu lucro individual. Variáveis endógenas e exógenas O objetivo de um modelo econômico é demonstrar como as variáveis exógenas afetam as endógenas. Vamos primeiro entender o que são e quais as diferenças entre elas. As variáveis endógenas são aquelas que o modelo tenta explicar. Já as exógenas são as que o modelo toma como dadas. A imagem a seguir representa um esquema mais intuitivo para as variáveis: Modelo econômico. De acordo com a imagem, as variáveis exógenas são determinadas fora do modelo, servindo como insumo, enquanto as endógenas são estipuladas dentro do modelo, sendo o seu resultado. Considere um produtor de cogumelos. A demanda por seu produto vai depender de seu preço e da renda dos consumidores. A oferta, por sua vez, vai depender dos preços do cogumelo e dos insumos utilizados na produção. O equilíbrio acontece quando oferta e demanda se igualam. Nesse caso, as variáveis exógenas são a renda individual e o preço dos insumos, e a variável endógena será o preço do cogumelo. Escola Clássica É a Escola Clássica que inaugura a economia como ciência. Ou seja, ela é a origem do pensamento econômico em caráter científico. Nesse sentido, a Escola Clássica surgiu no século XVIII, com a publicação do livro A Riqueza das Nações (em 1776), do escocês Adam Smith. Contudo, a Escola Clássica se consolidou como uma linha de pensamento econômico no século XIX, com o aparecimento de novos pensadores econômicos que expandiram as análises teóricas, como Jeremy Bentham, David Ricardo, Thomas Malthus, James Mill, Jean-Baptiste Say e John Stuart Mill. Para Adam Smith (1996), o objeto de estudo da economia estava indicado no título completo da sua obra: é uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações. Nesse contexto, as riquezas eram os bens que possuíam valor de troca. Logo, distinguia-se o valor de uso do valor de troca das mercadorias, sendo que este último era determinado pela quantidade de trabalho necessária para produzi-las. Assim, a Escola Clássica enfatizava a importância da produção — colocando em segundo plano o consumo e a demanda Em termos gerais, os pensadores clássicos refutaram as tradições mercantilistas e as doutrinas fisiocratas. Eram contra as concepções mercantilistas de que a riqueza é constituída pelo entesouramento de ouro e de prata, e contraas ideias fisiocratas de que somente a agricultura produz valor. É dessa crítica que a Escola Clássica elabora a teoria do valor-trabalho, revelando que todas as atividades em uma economia produzem valor e que a riqueza de uma nação é resultado dos valores de troca Dessa maneira, Adam Smith (1996) revelou que o crescimento da riqueza de uma nação depende basicamente da produtividade do trabalho. Essa produtividade, por sua vez, é função do grau de especialização ou da divisão do trabalho, determinado pela expansão do mercado e do comércio (SMITH, 1996). Por isso, Adam Smith concluiu que era fundamental, em qualquer nação, a remoção de todas as barreiras ao comércio interno e externo. Para ele, essa política liberal conduziria invariavelmente ao desenvolvimento das forças produtivas e ao sucesso do que ele chamou de “mão invisível” (SMITH, 1996). Logo, as regulamentações estatais mercantilistas levavam a economia ao retrocesso. Essas análises teóricas foram também defendidas por David Ricardo, que colocou o trabalho como um determinante do valor de troca. Nas suas reflexões, David Ricardo observou ainda uma contradição entre o valor de troca e o preço relativo das mercadorias. Essa contradição só seria resolvida anos mais tarde por Karl Marx, ao analisar a transformação do valor de troca em preço de produção (RASMUSSEN, 2006). Além do mais, David Ricardo formulou o conceito de vantagem comparativa e demonstrou que o comércio internacional é uma situação de “ganho–ganho” para os países envolvidos. Essa visão clássica destruiu a equivocada teoria do mercantilismo, que defendia que o colonialismo deveria beneficiar apenas a metrópole à custa da colônia. David Ricardo analisou também o fenômeno econômico dos retornos decrescentes. Assim, ele revelou por que os custos tendem a crescer, em determinado momento, quando você aumenta os níveis de produção Outro importante pensador clássico foi John Stuart Mill, que analisou principalmente as teses de Thomas Malthus e David Ricardo. Além do mais, John Stuart Mill deu sequência aos estudos de seu pai, o pensador inglês James Mill. No que se refere à teoria do valor, John Stuart Mill procurou demonstrar como o preço é determinado pela igualdade entre demanda e oferta e como a demanda recíproca de produtos afeta os termos do intercâmbio entre os países. Ele lançou também a ideia da elasticidade da demanda — expressão introduzida mais tarde por Alfred Marshall — para analisar as possibilidades alternativas de comércio. Por fim, cabe destacar que John Stuart Mill foi o único pensador clássico a abandonar o rigor doutrinário do liberalismo e do individualismo. Ele afirmava que deveria haver menor dependência da natureza e maior grau de intervenção governamental para a resolução de determinados problemas econômicos. Por exemplo, John Stuart Mill defendia, para contrabalançar o poder dos grandes empresários, o fortalecimento dos sindicatos e o recurso à greve. Defendia também que a renda, por constituir um excedente, deveria ser submetida à tributação Para entender o pensamento desses quatro autores clássicos da economia: ● Adam Smith: Defendeu a ideia de livre mercado e divisão do trabalho, enfatizando a importância da busca individual pelo lucro para o benefício da sociedade. ● David Ricardo: Contribuiu com a teoria das vantagens comparativas, que explica os benefícios do comércio internacional. ● Karl Marx: Famoso por suas teorias sobre o capitalismo, incluindo a luta de classes e a crítica à exploração do trabalho. ● John Stuart Mill: Defendeu a liberdade individual, mas também reconheceu a necessidade de intervenção do governo para corrigir desigualdades e proteger os mais vulneráveis. Cada autor teve contribuições significativas para o pensamento econômico, abordando diferentes aspectos e perspectivas. Boa parte da análise econômica marxista está em O Capital, de 1867. Foi a partir da teoria do valor-trabalho da Escola Clássica que Karl Marx desenvolveu o conceito de mais-valia como trabalho excedente, não pago, fonte do lucro, do juro e da renda da terra. A mais-valia é um dos conceitos mais importan-tes da Escola Marxista. E é a partir da mais-valia que Karl Marx analisa o processo de acumulação de capital no sistema capitalista, mostrando existir uma correlação entre as crescentes acumulação e concentração de capital e o empobrecimento dos trabalhadores ou proletariados. Para a Escola Marxista, essa é a principal contradição do sistema capitalista. A Escola Neoclássica, ou Marginalista, predominou entre 1870 e a Primeira Guerra Mundial. Os pensadores precursores foram Johann Heinrich von Thünen, Hermann Heinrich Gossen e Antoine Augustin Cournot. Contudo, a Escola Neoclássica reuniu várias gerações de representantes, como William Jevons, León Walras, Alfred Marshall, Vilfredo Pareto, John Bates Clark, Irving Fisher e Jules Dupuit. Também contribuíram ao pensamento neoclássico os austríacos Carl Menger e Eugen von Böhm-Bawerk (SANDRONI, 2005). Segundo Karl Marx (1996), a mais importante característica do capitalismo é ser um modo de produção de mercadorias. Ou seja, a riqueza das sociedades em que domina o modo de produção capitalista aparece como uma imensa coleção de mercadorias, e a mercadoria individual como a sua forma elementar. Assim, a mercadoria se apresenta como o principal elemento universal na sociedade capitalista e serve de mediação a todas as relações sociais. Segundo Karl Marx (1996), o modo de produção capitalista se fundamenta na exploração do trabalho. Todos os arranjos de produção no sistema capitalista objetivam o lucro. Em outras palavras, o lucro é o objetivo central da produção capitalista. Em suma, é o que diferencia a circulação mercantil simples da circulação mercantil capitalista (MARX, 1996) Uma das principais tentativas de formular uma teoria econômica para explicar as razões do desemprego no capitalismo foi de Karl Marx (1996). Para Karl Marx (1996), o desemprego seria uma consequência do próprio processo de acumulação de capital. Assim, os desempregados funcionariam como reguladores das taxas dos salários dos trabalhadores e, logo, das taxas de lucro dos capitalistas. Nesse contexto, Karl Marx (1996) formulou o conceito de “exército industrial de reserva” O exército industrial de reserva é, para Karl Marx, a população excedente relativa, ou uma massa de trabalhadores que seria constantemente desem-pregada pelo progresso/avanço técnico. Na concorrência para a obtenção de empregos, essa massa pressionaria para baixo o nível de salários, impedindo assim a sua elevação. Logo, o sistema capitalista não teria qualquer interesse em extinguir completamente o desemprego Marx via a transição para a sociedade industrial e capitalista como positiva, como um passo necessário para criar as condições a partir das quais os trabalhadores poderiam se unir. Com as grandes mudanças eco-nômicas e sociais que ocorreram na sua época, Marx acreditava que o curso da história era marcado por uma força irresistível que levaria ao progresso. Portanto, como a mudança da sociedade feudal para a sociedade industrial e capitalista tinha sido um progresso, a transição desta última para uma sociedade socialista e, depois, comunista, teria de acontecer como uma con-sequência inevitável das contradições inerentes ao capitalismo, e dos esfor-ços eventuais por parte dos trabalhadores para se livrarem da situação de exploração capitalista. Nesse sentido, era quase como uma lei da natureza para Marx. É interessante observar a crença de Marx de que a paz mundial seria possí-vel no momento em que as classes trabalhadoras chegassem ao poder, visto que a sua solidariedade baseada na condição de trabalhador criaria um laço que superaria a diferença de nacionalidade. Isso não se concretizou, e diferentes conflitos entrepaíses comunistas, como, por exemplo, a União Soviética e a China, de fato se materializaram ao longo do século XX. É talvez um tanto paradoxal que a convivência pacífica, prevista por Marx, entre países socialistas chegou de fato a se concretizar, porém, entre países de democracias liberais, que quase sem exceções não declararam guerra entre eles ao longo das últimas décadas. Na sua teoria sobre os interesses objetivos da classe trabalhadora, Marx parece ter subestimado a força do nacionalismo e suas diferentes expressões ao longo da história, que frequen-temente também foram incorporadas e utilizadas por governos socialistas. . É in-teressante lembrar que os fundadores do pensamento econômico moderno, como Adam Smith e Karl Marx, sempre se referiam à economia política. A separação entre economia e política, portanto, não foi vista como algo viável, pois constituem dois lados da mesma moeda. John Stuart Mill (1806-1873) John Stuart Mill foi o sintetizador do pensamento clássico. Seu trabalho foi o principal texto utilizado para o ensino de Economia no fim do período clássico e no início do período neoclássico. Sua obra consolida o exposto por seus antecessores e avança ao incorporar mais elementos institucionais e definir melhor as restrições, vantagens e funcionamento de uma economia de mercado A filosofia econômica de John Stuart Mill (1806-1873) fornece refle-xões muito interessantes sobre os dilemas que marcaram as sociedades dos países centrais à medida que se industrializaram e ganharam força ao longo do século XIX. Como os seus antecedentes intelectuais, Mill argumenta a favor dos mercados livres e ressalta a importância da concorrência como um meio para prover um maior nível de bem-estar da sociedade. Acreditava, porém, que havia uma certa necessidade da intervenção estatal na economia quando isso se justificasse por razões de necessidades sociais e justiça geral. Mill foi um advogado do igualitarismo na esfera econômica. Isso implicava uma forte convicção na importância da meritocracia e do esforço e respon-sabilidade individual, o que, por sua vez, pressupunha uma certa igualdade de oportunidades. Para Mill (1848), todos deveriam ter o mesmo ponto de partida para perseguir sucesso econômico. Por isso, favorecia impostos sobre heranças – sendo visto como uma forma de enriquecimento injusta, pois não implicava nenhum esforço do indivíduo –, e argumentava sobretudo a favor do acesso igual à educação. Sem isso não haveria como falar em meritocracia. Mill também defendia a democracia econômica como uma situação na qual os trabalhadores seriam responsáveis por gerir a produção e compartilhar seus frutos de maneira igualitária. Isso tem algumas semelhanças com os seus contemporâneos filósofos marxistas, porém Mill rejeitava veementemente a aversão do socialismo à concorrência, que na visão dele constitui um meca-nismo central na geração de riqueza. Os pensamentos liberais do John Stuart Mill convergem em larga medi-da com ideias que têm sido cada vez mais prevalentes nos debates do libera-lismo econômico hoje em dia. Enquanto até 2000 havia uma forte tendência em ressaltar a importância do crescimento econômico a qualquer custo, as crises econômicas de 2008 e 2020, a crescente desigualdade no mundo e os lados negativos da globalização econômica têm levado cada vez mais libe-rais a apontar a necessidade de suplementar as forças do mercado com um grau de intervenção em prol de questões sociais. Hoje, instituições frequen-temente associadas ao liberalismo econômico, como o Banco Mundial, a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Fórum Econômico Mundial, aceitam as premissas de que a desigualdade social deve ser combatida e de que a educação universal é um meio abso-lutamente central nesse sentido. O social-liberalismo de John Stuart Mill, portanto, é uma corrente ideológica cada vez mais presente, e é defendida sobretudo por observadores que ressaltam a combinação de sucesso econô-mico, competitividade e uma forte proteção social nos Estados de bem-estar social do norte da Europa. Por fim, Mill também parece estar à frente do seu tempo em suas reflexões sobre o valor intrínseco do meio ambiente. Destacava como o crescimento econômico desenfreado inevitavelmente iria prejudicar o meio ambiente e, consequentemente, as precondições para a vida humana saudável. Essas ideias têm ganhado força ao longo das últimas décadas e têm levado inclusive ao surgimento de perspectivas que ressaltam os limites do crescimento econômico e a importância de medir progresso em forma de bem-estar humano em vez do tamanho da economia. Também compartilham traços fundamentais com as perspectivas interdisciplinares so-bre o conceito do antropoceno, que parte do pressuposto de que, por moldar fundamentalmente a face da Terra, o ser humano tem se tornado uma força da natureza que deve ser assim analisada. 2. História do pensamento econômico Pensamento econômico Origem da ciência econômica Até a economia se tornar o que é atualmente, a ciência econômica passou por diversas transformações. Além disso, hão há consenso a respeito de quando o pensamento econômico começou. Embora a maior parte das pessoas só tenha ouvido falar de economia como ciência a partir de Adam Smith, pode-se argumentar que nas formas mais rudimentares de civilização já existia algum tipo de pensamento econômico, principalmente se partirmos do pressuposto de que seres racionais já se preocupavam com seu sustento. Assim, é ingênuo pensar que uma civilização antiga como a egípcia, que era caracterizada pela produção e distribuição de parte dos recursos, não tenha desenvolvido algum tipo de ideias econômicas, especialmente quando se considera a existência de comércio (em forma de troca) com outras nações e a propensão egípcia a manter registros escritos. Na Grécia Antiga, Platão já contribuía para o pensamento econômico ao abordar alguns conceitos, como a divisão do trabalho, a teoria da moeda, a produção como base da riqueza do estado (na época, cidade-estado) e até a propriedade comum. Seu discípulo, Aristóteles, também contribuiu para o campo sistematizando sua teoria, mas se opunha a seu mestre quanto à propriedade comum. A Idade Média representa um período de transformações na estrutura da sociedade, e grandes mudanças costumam vir acompanhadas de novas ideias. Seguindo a queda do Império Romano, que era caracterizado por ser escravocrata e ter como base econômica o latifúndio, o período deu origem à forma de organização econômica conhecida como feudalismo. Trabalho e terra passaram a ser transferidos, e não mais vendidos. O feudalismo sofreu muitas transformações ao longo da Idade Média, atingindo seu auge por volta do século X EC. O desenvolvimento de novas técnicas agrícolas aumentou a produtividade das terras, e a Europa vivenciou um período de estabilidade que permitiu o crescimento populacional e a formação de cidades. Essa combinação de fatores deu origem ao mercado independente. A Igreja Católica se tornou a instituição dominante na Europa e, por isso, quase todos os acadêmicos e escritores ocidentais do período eram clérigos. Surgimento da economia política As bases para o capitalismo industrial moderno também foram estabelecidas. A classe mercantil enriqueceu, a aristocracia e o clero começaram a perder influência e a expansão do comércio proporcionou o surgimento de centros comerciais e industriais. Além disso, as universidades foram criadas A esfera de produção se transformou, pois os comerciantes deixaram de ser apenas fornecedores de matérias-primas e se tornaram detentores de meios de produção e empregadores de mão de obra. A alta inflação vigente na Europa no período também influenciou o pensamento econômico. O período é conhecido como pré-mercantilismo,e Jean Bodin esboçou a primeira teoria quantitativa da moeda, em Resposta aos paradoxos de Malestroit (1568), afirmando que a principal causa do aumento dos preços era o aumento do ouro e da prata em circulação. A revolução cultural e científica proporcionou a ascensão do pensamento secular no lugar do religioso. No campo da economia, não foi diferente, pois ela se emancipou da ética e da filosofia política. Influenciado pelo crescimento dos estados-nação e pelos trabalhos de pensadores como Maquiavel, Hobbes e Locke, o pensamento econômico deixou de se preocupar apenas com o comportamento de agentes econômicos individuais e passou a examinar também o estado. Assim, foram estabelecidos os pilares para o pensamento econômico moderno. A economia política emergiu como ciência, e seu objeto de estudo era a atividade pública, tratando da acumulação e do gerenciamento da riqueza, a fim de aumentar a eficiência do estado. O conhecimento passava a ser baseado nos aspectos individuais e empíricos dos objetos. Sir William Petty é considerado um dos pais da economia política moderna, pois foi um defensor e expoente do método empírico e quantitativo. Mercantilistas Outra fase de transformações ocorreu durante o Mercantilismo. No campo do pensamento econômico, foram propostas ideias de um sistema comercial restritivo com o objetivo de aumentar a prosperidade econômica de uma nação. Os pensadores do período podem ser divididos entre: bulionistas (metalistas) e mercantilistas. Confira mais detalhes: Bulionistas (metalistas) Defendiam a regulamentação do câmbio. Por não entenderem a teoria do comércio internacional, enxergavam qualquer saída de metais preciosos como uma desvantagem. Desse modo, advogaram pela proibição da exportação de qualquer espécie que tivesse como consequência a saída de ouro e prata da nação, assim como de importações, especialmente de mercadorias de luxo, que envolvessem pagamentos na forma de metais preciosos. Em contrapartida, defendiam a exportação de mercadorias, como bens manufaturados, que propiciavam a entrada de metais preciosos em seus países como forma de pagamento. Mercantilistas Acreditavam que havia a necessidade de incentivar a troca de mercadorias, buscando alcançar uma balança comercial favorável, isto é, o país deveria exportar mais do que importar. A economia passara a ser política, influenciada pelo maior envolvimento do estado. A nação passou a ser vista como uma grande empresa comercial, o que acarretou a defesa e a adoção de políticas protecionistas. Em geral, o pensamento mercantilista dialogava com o poder do estado ― por exemplo, com ideias de unidade nacional ―, e seus objetivos eram identificados com a riqueza de uma nação. Atenção Teorias sobre a conceituação do valor e monetárias sobre o papel dos juros na economia também foram esboçadas no período estudado. Os principais contribuintes para o pensamento econômico da época foram: Thomas Mun, Antonio Serra e Edward Misselden. A posição teórica mercantilista foi se tornando inadequada frente à acumulação capitalista e ao seu controle sobre a produção, além da difusão do comércio e da competição. Tudo isso resultou na queda dos lucros. Nasceu uma classe capitalista de mestres artesãos que controlava a produção, que conflitava com os interesses dos comerciantes. Essas transformações foram acompanhadas por uma mudança radical na maneira de conceber os fatos econômicos. A intervenção do estado na economia passou a ser vista com suspeita, e a ideia de que o lucro se originava na esfera de produção começou a se disseminar. Além disso, para prosperar, a nova classe de empresários capitalistas precisava abrir mão dos laços morais e ideológicos tradicionais. A partir do final do século XVII, a celebração do individualismo, em conjunto com o desenvolvimento da ética protestante, legitimou a usura e a atividade econômica. Entre os economistas da época, começou a se disseminar a noção de que restrições administrativas na produção criavam mais desvantagens do que vantagens para a coletividade. Eles passaram a defender a intervenção do Estado apenas no reconhecimento e na proteção ao direito de propriedade. Precursores da economia política clássica A política aritmética de sir William Petty, publicada em 1690, marcou o início da economia política clássica, iniciando a crítica ao pensamento mercantilista prévio. Dudley North e Mandeville, influenciados por esse pensamento, atacaram o protecionismo do estado e defenderam o livre comércio. A ênfase mercantilista em uma balança comercial positiva também foi criticada: o comércio internacional não poderia ser uma fonte de perda para nenhuma das partes, uma vez que, sendo uma atividade voluntária, não ocorreria em primeiro lugar se não gerasse ganhos para todos. A teoria também avançou em outros aspectos. Richard Cantillon propôs que a terra era a principal fonte de riqueza, a qual seria produzida com o poder do trabalho empregado. Além disso, ele distinguiu o valor intrínseco do valor de mercado dos bens, o que foi considerado um esboço da teoria de preço e custo. Na França, no final do século XVIII, os conceitos pós-mercantilistas foram aprimorados por um grupo de pensadores, que ficou conhecido como fisiocratas, encabeçados por François Quesnay. As principais contribuições da escola fisiocrata para o pensamento econômico moderno consistem na rejeição do conceito mercantilista de riqueza por meio da troca e no reconhecimento da produção como fonte de riqueza. A invenção do termo e da política do laissez faire e laissez passer também forma duas contribuições significativas, além do Tableau economique (1759), principal obra de Quesnay. Interessado em transformar o setor agrícola em indústria capitalista eficiente, o autor apresentou um modelo quantitativo da produção de mercadorias. Ao distinguir entre trabalho produtivo e improdutivo, ele identificou uma fonte de riqueza no excedente que a terra é capaz de produzir, oriunda do fato de que nela se produz mais do que se consome. Quesnay foi o precursor da acumulação de capital. Seu trabalho também traz a ideia de interdependência entre os setores da economia e a inovadora representação de trocas como um fluxo circular de dinheiro e bens. Desse modo, os fisiocratas foram os primeiros a tentar analisar, de maneira sistemática, a circulação da riqueza na economia. O filósofo David Hume também fez valiosas contribuições ao pensamento econômico. Embora não tenha estruturado suas ideias de maneira sistemática, como os pensadores que viriam depois, suas obras tiveram grande influência na filosofia geral encontrada posteriormente no trabalho de Adam Smith. Suas principais ideias econômicas destacavam o trabalho e a atenção a oscilações e mudanças na economia e apontaram a inter-relação dos fatos econômicos com outras forças sociais. Na parte monetária, Hume descreveu o mecanismo pelo qual uma mudança na quantidade de moeda em circulação alteraria o valor do dinheiro na economia ― assunto debatido até hoje. Economia política clássica Economia clássica é o nome dado ao sistema de teoria econômica desenvolvido a partir do final do século XVIII. Ele foi iniciado com a publicação do livro Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações, mais conhecido simplesmente por A riqueza das nações, de Adam Smith, em 1776. Ele lançou as bases da teoria econômica clássica de livre mercado. Acompanhe, a seguir, o que torna essa obra tão importante! I Evoluções no pensamento econômico clássico A teoria clássica proposta nesse período contrastou fortemente com as tendências anteriores do pensamento econômico. Embora tenham assimilado diversos conceitos estabelecidos por seus antecessores, os economistas clássicos identificaram falhas em todas as soluções