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Autora: Profa. Iara Carvalho Faria Colaboradoras: Profa. Mônica Teixeira Profa. Carolina Kurashima Avaliação Nutricional © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) F224a Faria, Iara Carvalho. Avaliação Nutricional / Iara Carvalho Faria. – São Paulo: Editora Sol, 2023. 140 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Antropometria. 2. Peso. 3. Medidas. I. Título. CDU 796.012.1 U518.50 – 23 Professora conteudista: Iara Carvalho Faria Graduação em Nutrição pela Universidade Paulista (UNIP) concluída em 2002. Mestrado em Alimentos e Nutrição pela Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas obtido em 2008. Especialização em Formação em Ensino a Distância pela Universidade Paulista realizada em 2017. Doutoranda em Clínica Médica pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas. Experiência em nutrição clínica-hospitalar e atendimento em consultório e ambulatório. É professora na UNIP desde 2007. Atua como coordenadora do curso de Nutrição em Campinas/SP pela mesma Instituição. Profa. Sandra Miessa Reitora Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração e Finanças Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia Vice-Reitor de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora das Unidades Universitárias Profa. Silvia Gomes Miessa Vice-Reitora de Recursos Humanos e de Pessoal Profa. Laura Ancona Lee Vice-Reitora de Relações Internacionais Prof. Marcus Vinícius Mathias Vice-Reitor de Assuntos da Comunidade Universitária UNIP EaD Profa. Elisabete Brihy Profa. M. Isabel Cristina Satie Yoshida Tonetto Prof. M. Ivan Daliberto Frugoli Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. M. Deise Alcantara Carreiro Profa. Ana Paula Tôrres de Novaes Menezes Projeto gráfico: Revisão: Prof. Alexandre Ponzetto Aline Ricciardi Ingrid Lourenço Avaliação Nutricional APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................................9 1.1 Prontuários ............................................................................................................................................ 12 1.2 Termos técnicos e médicos ............................................................................................................... 14 2 INTRODUÇÃO AO ESTUDO ANTROPOMÉTRICO ................................................................................... 18 2.1 Técnicas de tomadas de medidas .................................................................................................. 20 2.1.1 Peso corporal ........................................................................................................................................... 21 2.1.2 Estatura ....................................................................................................................................................... 24 2.1.3 Circunferências ........................................................................................................................................ 27 2.1.4 Dobras cutâneas ...................................................................................................................................... 33 2.1.5 Músculo adutor do polegar (MAP) .................................................................................................. 39 2.2 Parâmetros e índices utilizados em antropometria ............................................................... 40 2.2.1 Peso ideal ................................................................................................................................................... 40 2.2.2 Índice de massa corporal (IMC) ......................................................................................................... 41 2.2.3 Circunferência muscular do braço e área muscular do braço corrigida .......................... 42 2.2.4 Relação cintura/quadril (RCQ) ........................................................................................................... 42 2.2.5 Razão cintura/estatura (RCEst) ......................................................................................................... 42 2.2.6 Percentual de gordura corporal (%GC) .......................................................................................... 43 2.2.7 Peso corrigido por edema e/ou ascite ............................................................................................ 43 3 ANTROPOMETRIA DE GESTANTES ............................................................................................................. 44 3.1 Medidas ................................................................................................................................................... 45 3.2 Indicadores antropométricos........................................................................................................... 45 3.3 Diagnóstico nutricional da gestante ............................................................................................ 50 4 ANTROPOMETRIA DE CRIANÇAS (0 A 10 ANOS) ................................................................................ 53 4.1 Medidas .................................................................................................................................................... 54 4.2 Índices e indicadores ........................................................................................................................... 55 4.3 Diagnóstico nutricional da criança ............................................................................................... 76 Unidade II 5 ANTROPOMETRIA DE ADOLESCENTES .................................................................................................... 83 5.1 Medidas ................................................................................................................................................... 86 5.2 Índices e indicadores ........................................................................................................................... 87 5.3 Diagnóstico nutricional do adolescente ..................................................................................... 94 Sumário 6 ANTROPOMETRIA DE ADULTOS ................................................................................................................. 94 7 ANTROPOMETRIA DE PESSOAS IDOSAS ...............................................................................................112 8 AVANÇOS EM ANTROPOMETRIA E CASOS ESPECIAIS ....................................................................120 8.1 Avanços em antropometria ..........................................................................................................120 8.1.1 Pesagem hidrostática ..........................................................................................................................121 8.1.2 Pletismografiadobras cutâneas. A variabilidade individual influencia no percentual de gordura corporal, portanto não existem valores exatos de adequação por gênero ou idade, mas utilizam-se intervalos de valores sugeridos (Tirapegui; Ribeiro, 2009). 2.2.7 Peso corrigido por edema e/ou ascite Em pacientes com edema e/ou ascite clinicamente detectados, há necessidade de calcular o peso seco, em que a retenção de peso hídrico é descontada do peso atual aferido em balança na avaliação nutricional. O desconto deve ser realizado de acordo com o descrito nas tabelas posteriores, sendo esses valores aplicáveis a adultos e pessoas idosas. Segundo Reis e Calixto-Lima (2015, p. 64), [...] edema refere-se ao acúmulo anormal de líquido no espaço intersticial [...], ocorre principalmente nos membros inferiores, podendo também estar presente no corpo inteiro, situação denominada edema generalizado ou anasarca. Quando o edema se localiza na cavidade abdominal, é definido como ascite. Tabela 2 − Estimativa de retenção hídrica conforme a localização do edema Edema Excesso de peso Tornozelo (+) ±1 kg Panturrilha (++) 1 a 3 kg Joelho (+++) 3 a 4 kg Raiz da coxa (++++) 4 a 6 kg Anasarca 7 a 12 kg Adaptada de: Reis e Calixto-Lima (2015, p. 64). 44 Unidade I Tabela 3 − Peso a ser descontado conforme retenção hídrica e ascite Intensidade Edema periférico Ascite Leve 1,0 2,2 kg Moderada 5,0 6,0 kg Grave 10,0 14,9 kg Adaptada de: Reis e Calixto-Lima (2015, p. 64). 3 ANTROPOMETRIA DE GESTANTES A gestação é uma fase da vida com grande vulnerabilidade nutricional devido ao aumento expressivo das necessidades nutricionais, além de ser caracterizada por alterações orgânicas, com repercussões funcionais, metabólicas, físicas, emocionais, comportamentais e alimentares. Essas mudanças visam atender ao período gestacional, trabalho de parto e período de lactação (Silva; Mura, 2014). A avaliação do estado nutricional da gestante é importante para caracterizar as condições nutricionais da mulher e, indiretamente, o crescimento do feto, complementando a atenção pré-natal. Uma gestação a termo dura em torno de 40 semanas, sendo o primeiro trimestre compreendido entre a concepção e a 13ª semana, em que ocorrem pequenas alterações fisiológicas que marcam o início do ganho de peso. O segundo trimestre, da 14ª a 26ª semana, apresenta mudanças corporais mais evidentes. E no terceiro trimestre, a partir da 27ª semana, ocorre o desenvolvimento mais acelerado do feto e, consequentemente, maior ganho de peso materno (Brasil, 2016). O crescimento e desenvolvimento do feto, bem como o progresso da gestação, são afetados pela qualidade da alimentação e estado nutricional da gestante, tanto antes quanto ao longo da gravidez. Contudo, no primeiro trimestre a saúde do embrião depende do estado nutricional pré-gestacional da mãe; e, no segundo e terceiro trimestres, o estado nutricional do feto sofre interferência direta das condições ambientais, sendo fundamentais um estilo de vida adequado e ganho de peso materno (Fazio et al., 2011). Os componentes dessa massa aumentada na gestante estão distribuídos, segundo Silva e Mura (2014, p. 277), em “feto (28%), membranas fetais e líquido amniótico (22%), depósito de gordura (9%), aumento de mamas (14%) assim como de edema e do volume sanguíneo (27%)”. O conhecimento da idade gestacional faz-se importante, pois o estado nutricional gestacional é avaliado com base nas semanas de gestação. A idade gestacional pode ser obtida a partir de exames realizados durante a gravidez ou estimada baseada na data da última menstruação − DUM, que quer dizer primeiro dia de sangramento do último ciclo menstrual. O ganho de peso recomendado e alcançado para a gravidez é proporcional à semana de gestação (Brasil, 2011). 45 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Na primeira consulta nutricional, deve ser feita a aferição do peso e da estatura da mulher, além do cálculo da semana gestacional para prever o ganho de peso até o final da gestação (Brasil, 2011). O estado nutricional da gestante pode ser feito utilizando, além do peso e altura, a circunferência do braço e a dobra cutânea do tríceps. O valor do IMC deve ser calculado e, posteriormente, avaliado por semana gestacional (Vitolo, 2014; Tirapegui; Ribeiro, 2009). 3.1 Medidas O peso deve ser aferido em todas as consultas de pré-natal, utilizando os mesmos procedimentos para pesagem já descritos anteriormente, para adultos. É importante usar um equipamento com precisão, obtendo, assim, o peso mais exato possível. A altura da gestante pode ser aferida conforme técnica para medida de pacientes em pé; nas adultas, apenas na primeira consulta; já na gestante adolescente, pelo menos trimestralmente, devido à continuidade do crescimento da mãe (Brasil, 2011). Estudos recentes não comprovam a correlação da circunferência do braço com o crescimento fetal, por esse motivo não é avaliada com frequência como parte da avaliação nutricional. Em relação à dobra cutânea tricipital, seu valor é proporcional ao IMC, sendo considerada um marcador indireto de reservas de gordura corporal, indicando uma estimativa da gordura subcutânea relacionando-se com o volume de gordura corporal (Silva; Mura, 2014). 3.2 Indicadores antropométricos No Brasil, o nomograma de Rosso foi adotado nos serviços de saúde pelo Ministério da Saúde para avaliação do estado nutricional materno gestacional até o ano 2000. Rosso (1985) realizou um estudo multicêntrico com dados coletados nos Estados Unidos, validação no Chile e no Brasil, para caracterização do estado nutricional da gestante. A proposta aplicava um nomograma para determinar a adequação peso/altura e, em seguida, classificar a gestante em baixo peso, eutrofia, sobrepeso ou obesidade. O autor indicava que o ganho de peso no período gestacional deveria ser de 20% da massa corporal total da mulher. Esse método utiliza as medidas do peso, altura e idade gestacional, assim, no nomograma (figura a seguir), marca-se o número equivalente à altura (primeira coluna) e traça-se uma reta passando-se pelo peso atual (segunda coluna) até atingir o percentual de peso correspondente na terceira coluna. Posteriormente, no gráfico, devem ser marcados os pontos de percentual e a idade gestacional. A localização desse ponto indica o estado nutricional da gestante (Brasil, 1998). As limitações da curva de Rosso envolvem a falta de referência para mulheres com estatura 175 cm, com peso maior que 100 kg, idade gestacional menor que 10 semanas e não se aplica a adolescentes. 46 Unidade I A) B) Figura 23 − Nomograma e curva de Rosso Fonte: A) e B) Rosso (1985, p. 649; 650). O estado nutricional pré-gestacional pode ser classificado com base no IMC a fim de prescrever o ganho de peso adequado semanal e total para cada gestante de acordo com a categoria que iniciou a gestação, sendo baixo peso, peso adequado, sobrepeso ou obesidade. As recomendações utilizadas como padrão de referência são as preconizadas pelo Instituto de Medicina, publicadas em 1990, sendo reformuladas e atualizadas em 2009, disposta na tabela a seguir (IOM, 2009). Contudo essa recomendação foi elaborada com base numa população de mulheres americanas saudáveis, que podem não representar mulheres de países em desenvolvimento, bem como a dependência do peso e estatura informados ou aferidos no 1º trimestre de gestação, que podem ser dados menos confiáveis. Para minimizar esse viés, a OMS sugere que quando o peso pré-gestacional não é informado pela gestante, o peso aferido ainda no primeiro trimestre da gestação pode ser adotado (WHO, 1995). 47 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Tabela 4 − Projeção de ganho de peso de acordo com o estado nutricional pré‑gestacional Estado nutricional pré-gestacional IMC pré-gestacional (kg/m2) Ganho de peso total (kg)* Ganho de peso por semana no 2º e 3º trimestre (kg) Baixo peso0,3 Obesidade ≥ 30,0 5 a 9 0,2 * Os cálculos incluem ganho de 0,5 a 2,0 kg no primeiro trimestre. Adaptada de: IOM (2009, p. 254). Atualmente, o Ministério da Saúde utiliza o método de Atalah Samur et al. (1997) para avaliação nutricional de gestantes, composto por uma tabela e um gráfico, dispostos na tabela e na figura a seguir. O diagnóstico do estado nutricional da gestante pode ser realizado conforme a idade gestacional, utilizando a tabela; o acompanhamento durante a gestação da evolução do peso pode ser feito pelo gráfico (Mussoi, 2017). A utilização do IMC torna fácil a compreensão da avaliação nutricional ao longo da gestação, pois ele é utilizado para avaliar o estado nutricional de outros grupos populacionais. A curva de Atalah foi elaborada considerando que nas duas primeiras semanas de gestação, os valores de IMC de 20,25 e 30 kg/m2, respectivamente, indicavam limites para baixo peso, sobrepeso e obesidade. O instrumento foi validado com cerca de 700 gestantes atendidas na rede pública de saúde do Chile, em que as unidades de IMC do gráfico foram associadas com o ganho cumulativo de peso como menor risco para a mãe e para o feto. O gráfico de Atalah possui um eixo horizontal com os valores de semana gestacional e, no eixo vertical, os valores IMC (Atalah Samur et al., 1997). Entre as vantagens em relação aos outros métodos, estão independência de informação do peso pré-gestacional e possibilidade de diagnóstico nutricional em qualquer momento da atenção pré-natal, pois possibilita monitoramento do estado nutricional pelo traçado de acompanhamento no gráfico, aplicável independentemente da estatura da mulher (Vitolo, 2014). Tabela 5 − Avaliação do estado nutricional da gestante segundo IMC por semana gestacional Semana gestacional Baixo peso (BP) IMC ≤ Peso adequado (A) IMC entre Sobrepeso (S) IMC entre Obesidade (O) IMC ≥ 6 19,9 20,0-24,9 25,0-30,0 30,1 8 20,1 20,2-25,0 25,1-30,1 30,2 10 20,2 20,3-25,2 25,3-30,2 30,3 11 20,3 20,4-25,3 25,4-30,3 30,4 12 20,4 20,5-25,4 25,5-30,3 30,4 13 20,6 20,7-25,6 25,7-30,4 30,5 48 Unidade I Semana gestacional Baixo peso (BP) IMC ≤ Peso adequado (A) IMC entre Sobrepeso (S) IMC entre Obesidade (O) IMC ≥ 14 20,7 20,8-25,7 25,8-30,5 30,6 15 20,8 20,9-25,8 25,9-30,6 30,7 16 21,0 21,1-25,9 26,0-30,7 30,8 17 21,1 21,2-26,0 26,1-30,8 30,9 18 21,2 21,3-26,1 26,2-30,9 31,0 19 21,4 21,5-26,2 26,3-30,9 31,0 20 21,5 21,6-26,3 26,4-31,0 31,1 21 21,7 21,8-26,4 26,5-31,1 31,2 22 21,8 21,9-26,6 26,7-31,2 31,3 23 22,0 22,1-26,8 26,9-31,3 31,4 24 22,2 22,3-26,9 27,0-31,5 31,6 25 22,4 22,5-27,0 27,1-31,6 31,7 26 22,6 22,7-27,2 27,3-31,7 31,8 27 22,7 22,8-27,3 27,4-31,8 31,9 28 22,9 23,0-27,5 27,6-31,9 32,0 29 23,1 23,2-27,6 27,7-32,0 32,1 30 23,3 23,4-27,8 27,9-32,1 32,2 31 23,4 23,5-27,9 28,0-32,2 32,3 32 23,6 23,7-28,0 28,1-32,3 32,4 33 23,8 23,9-28,1 28,2-32,4 32,5 34 23,9 24,0-28,3 28,4-32,5 32,6 35 24,1 24,2-28,4 28,5-32,6 32,7 36 24,2 24,3-28,5 28,6-32,7 32,8 37 24,4 24,5-28,7 28,8-32,8 32,9 38 24,5 24,6-28,8 28,9-32,9 33,0 39 24,7 24,8-28,9 29,0-33,0 33,1 40 24,9 25,0-29,1 29,2-33,1 33,2 41 25,0 25,1-29,2 29,3-33,2 33,3 42 25,0 25,1-29,2 29,3-33,2 33,3 Fonte: Brasil (2011, p. 25). 49 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Figura 24 − Gráfico de IMC – segunda semana de gestação Fonte: Brasil (2011, p. 28). 50 Unidade I O estado nutricional da gestante influi diretamente na saúde, no crescimento e no desenvolvimento adequado do (s) feto (s), em seu peso (s) ao nascerem, nas chances de prematuridade, na mortalidade e morbidade neonatal. O estado nutricional inadequado e o ganho de peso insuficiente ou em excesso podem trazer riscos adicionais à gestação (Fazio et al., 2011). Portanto, no caso de gestação múltipla, o ganho ponderal da gestante deve ser adequado, afetando de forma positiva o peso ao nascer das crianças. A proporção das gestações gemelares entre os nascidos vivos no Brasil está constante desde a década de 1990 até 2016, em torno de 2,0%. O comprometimento do crescimento fetal e o peso do feto ao nascer estão relacionados à ingestão dietética inadequada. Por outro lado, o ganho de peso excessivo pode prejudicar o estado nutricional materno, nem sempre oferecendo mais nutrientes aos fetos (Soares et al., 2019). A gestação única é dividida em três períodos exatos, trimestrais; enquanto a gemelar tem seus períodos divididos de forma diferenciada: até a 20ª, da 20ª a 28ª e > 28ª semana. Em relação ao IMC pré-gestacional, a gestante gemelar é considerada com baixo peso quando o valor estiver 29,0 kg/m2. O ganho de peso em gestação gemelar deve ser acompanhado pelo profissional, conforme tabela a seguir, que descreve o ganho de peso total de acordo com o período (Luke et al., 2003). Tabela 6 − Objetivo de ganho de peso em gestação gemelar IMC (kg/m2) pré-gestacional (gestação gemelar) Ganho de peso até a 20ª semana (kg) Ganho de peso até a 28ª semana (kg) Ganho de peso entre a 28ª e a 38ª semana (kg) Baixo peso horizontal ou descendente: ganho de peso inadequado (gestante de risco)”. • Inclinação para o traçado da curva: irá variar de acordo com o estado nutricional inicial da gestante, conforme figura a seguir. • Gestantes adolescentes: para elas, que engravidaram dois ou mais anos após a menarca (em geral, maiores de 15 anos), a interpretação dos dados é equivalente à das adultas. Para as que engravidaram menos de dois anos após a menarca, é provável que muitas sejam classificadas como de baixo peso; nesse caso, a altura deve ser aferida mensalmente devido à fase de crescimento (Brasil, 2011). A gestante adolescente é sempre considerada em risco nutricional. 52 Unidade I * Observação: as linhas em azul foram desenhadas aleatoriamente apenas para exemplificar as possíveis tendências de inclinação das curvas. Figura 25 − Avaliação do traçado da curva de acompanhamento do estado nutricional da gestante, segundo o gráfico de IMC por semana gestacional Fonte: Brasil (2011, p. 27). O acompanhamento da evolução do ganho de peso da gestante deve ser feito mensalmente, assim como as consultas de pré-natal, verificando se esse ganho está adequado em função do estado nutricional da gestante no início da gravidez; além das orientações nutricionais de acordo com a avaliação antropométrica, clínica, bioquímica e dietética. 53 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 4 ANTROPOMETRIA DE CRIANÇAS (0 A 10 ANOS) As ações básicas em saúde são integradas pela avaliação nutricional em crianças, sendo um instrumento importante e indispensável, pois o crescimento e desenvolvimento ocorrem de forma expressiva nessa faixa etária (Tirapegui; Ribeiro, 2009). De acordo com o Ministério da Saúde (Brasil, 2011, p. 13): Os índices antropométricos são utilizados como o principal critério desse acompanhamento. Essa indicação baseia-se no conhecimento de que o desequilíbrio entre as necessidades fisiológicas e a ingestão de alimentos causa alterações físicas nos indivíduos, desde quadros de desnutrição até o sobrepeso e a obesidade. A avaliação do estado nutricional por meio da antropometria pode ser realizada desde o nascimento, no qual, durante os primeiros dias de vida, ocorre a perda de 10% do peso do recém-nascido a fim de compensar a retenção hídrica que acontece no nascimento, porém, é recuperado do 7º ao 10º dia de vida. O crescimento adequado do récem-nascido a termo deve compor em torno de 30 g/dia de peso e 5 cm/mês no comprimento. Posteriormente, no primeiro ano de vida, seu peso triplica em relação ao do valor do nascimento e ocorre aumento de 50% no comprimento. O peso demonstra de forma global o conteúdo de músculos, pele, ossos e desenvolvimento de órgãos internos, podendo ser proporcional ao tempo para indicar dados mais efetivos. O comprimento indica o crescimento longitudinal, e o perímetro cefálico é uma medida indireta do crescimento cerebral. Em lactentes, usualmente, utilizam-se esses três parâmetros (Silva; Mura, 2014). As crianças em fase pré-escolar, com idade de 2 a 6 anos, têm um período de diminuição do ritmo de crescimento, sendo inferior ao dos dois primeiros anos de vida (cerca de 2 a 3 kg/ano e 5 a 7 cm/ano). Já, na idade escolar, que compreende a faixa etária de 7 a 10 anos, o ritmo de crescimento é constante, com ganho mais acentuado de peso próximo ao início da adolescência. Durante a fase escolar, o ganho de peso é proporcionalmente maior que o crescimento estatural (Sociedade Brasileira de Pediatria, 2018). Modificações importantes ocorrem no formato corporal dos 6 meses até a puberdade, no qual as extremidades crescem mais rapidamente do que o tronco, e o ponto médio da altura passa do umbigo para a sínfise púbica. Os membros inferiores aumentam mais em proporção que o tronco, e a gordura corporal, que era de 25% na criança de 6 meses, começa a reduzir-se com 1 a 3 anos de idade, coincidindo com o processo de andar, mantendo essa gordura estável por toda a infância. Em relação à massa muscular, ela se desenvolve lentamente nos primeiros anos de vida, aumenta para 35% do peso corporal total aos 5 anos e 40% nos homens adultos (Silva; Mura, 2014). Na avaliação antropométrica de crianças, as medidas mais utilizadas são peso e altura, porém outras medidas antropométricas podem ser utilizadas para complementar, de acordo com a faixa etária, como perímetro cefálico, torácico e braquial e as dobras cutâneas do tríceps e subescapular, além da circunferência da cintura (Reis; Calixto-Lima, 2015). 54 Unidade I 4.1 Medidas A avaliação do peso ao nascer é o primeiro diagnóstico nutricional, feito imediatamente após o nascimento, mostrando os problemas nutricionais ocorridos durante a gestação (Brasil, 2011). A classificação pode ser feita, conforme tabela a seguir. Tabela 7 − Classificação do recém‑nascido conforme o peso de nascimento Classificação Peso (g) Peso extremamente baixo 4.500 Adaptada de: Mussoi (2017, p. 20). A avaliação do peso do recém-nascido deve ser feita 1x/dia, quando recebe uma nutrição adequada, aumenta de 20 g a 40 g ao dia, já o comprimento precisa ser reavaliado 1x/semana, espera-se crescimento de 1 cm por semana. As crianças menores de 2 anos devem ser pesadas e medidas na presença da mãe ou do responsável, que auxiliarão na retirada da roupa da criança e na tomada da medida, ela deve estar completamente despida, já que a fralda molhada pode representar até 20% do peso de uma criança (Brasil, 2011). O peso da criança de até 2 anos deve ser realizado na balança pediátrica com ela deitada ou sentada, enquanto aquelas com mais de 2 anos são avaliadas em pé, utilizando a balança de plataforma, mecânica ou digital. A aferição do comprimento de crianças com até 24 meses é feita em decúbito dorsal com antropômetro horizontal, as crianças maiores são medidas em pé com o uso do estadiômetro. Segundo Mahan e Raymond (2018, p. 452), o perímetro cefálico “é uma medida padrão para avaliação seriada do crescimento em crianças desde o nascimento até 36 meses”. Essa medida é realizada com fita métrica em milímetros no maior perímetro da cabeça da criança, que fica acima das sobrancelhas e em torno da proeminência occipital por trás do crânio, com atenção para que a fita esteja no mesmo nível em ambos os pontos supracitados e leve pressão para comprimir apenas o cabelo. A criança deve estar na posição anatômica ou sentada, e o medidor na sua lateral (Mahan; Raymond, 2018; Sampaio, 2012). O perímetro torácico é uma medida utilizada em crianças de até 5 anos, deitada ou sentada, e a fita métrica deve permanecer ao nível dos mamilos. Após a fita ser posicionada, a criança deverá manter os braços relaxados ao longo do corpo e a leitura deve ser feita ao final da expiração (Reis; Calixto-Lima, 2015; Sampaio, 2012). 55 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL A circunferência do braço é pouco precisa para avaliação do estado nutricional, mais utilizada na fase pré-escolar. A aferição é realizada ao redor do ponto médio do braço, seu valor é empregado no cálculo de circunferência muscular do braço. A medida da circunferência da cintura é realizada com a fita métrica como objetivo de verificar a adiposidade central, um fator de risco aumentado para doenças crônicas não transmissíveis na vida adulta. Valores aumentados na infância estão relacionados à resistência à insulina e alteração no perfil lipídico (Tirapegui; Ribeiro, 2009; Reis; Calixto-Lima, 2015). Em crianças de até 10 anos, as dobras do tríceps e subescapular podem ser aferidas utilizando o mesmo procedimento já descrito, para posterior comparação com os valores das tabelas de referência de acordo com idade e gênero. A DCT tem correlação com a adiposidade e permite avaliar a composição corporal, já que a gordura subcutânea constitui grande parte da gordura corporal total (Reis; Calixto-Lima, 2015). 4.2Índices e indicadores A OMS lançou em 2006 um padrão de crescimento infantil baseado num estudo multicêntrico realizado em seis países (Brasil, Gana, Estados Unidos da América, Índia, Noruega e Omã) com cerca de 8. 500 lactentes e crianças sadias de até 5 anos, contemplando uma combinação de estudo longitudinal entre nascimento e 24 meses e estudo transversal de crianças entre 18 e 71 meses (WHO, 2006). A vantagem dessas curvas em relação às usadas anteriormente é que foram baseadas no crescimento de crianças de diversas etnias e amamentadas. Em 2007, a OMS publicou um novo conjunto de curvas abrangendo a faixa após 5 anos até o final da adolescência, sendo estas elaboradas a partir de um referencial anterior proposto em 1977 pelo National Center for Health Statistics (NCHS), cujos dados foram revistos e reprocessados. Nessa proposta, houve ajuste para correção de problemas em sua utilização e um complemento com dados da amostra de padrões de crescimento infantil da OMS para menores de 5 anos (Silva; Mura, 2014; Tirapegui; Ribeiro, 2009). De acordo com Silva e Mura (2014, p. 413), “as tabelas e curvas de crescimento representam a variabilidade das medidas entre indivíduos sadios de mesma idade, sexo e evolução”, com a padronização dessa referência internacional, é possível avaliar e acompanhar o crescimento das crianças sob condições ambientais ótimas. A utilização desse padrão da OMS (WHO, 2006) é recomendada pelo Ministério da Saúde no Brasil desde 2007, com tabelas e gráficos de evolução de acordo com idade e gênero, peso, comprimento, estatura, IMC. Na avaliação de crianças de 0 a 5 anos, os índices peso para idade (P/I), estatura para idade (E/I), peso para estatura (P/E) e IMC para idade (IMC/I) são os indicadores utilizados. Na faixa de 5 a 10 anos incompletos, aplicam-se peso para idade (P/I), estatura para idade (E/I) e IMC para idade (IMC/I) (Brasil 2011). Para a avaliação dos índices antropométricos da criança (peso por idade, estatura por idade ou IMC), é necessário saber com precisão sua idade em dias ou meses de vida. As informações disponíveis nas curvas de crescimento são em meses. A regra de aproximação que deve ser seguida para as idades não exatas é: 56 Unidade I • Fração de idade até 15 dias: aproxima-se a idade para baixo, isto é, o último mês completado. • Fração de idade igual ou superior a 16 dias: aproxima-se a idade para cima, isto é, para o próximo mês a ser completado (BRASIL, 2011, p. 18). Observação Utilização das curvas: ao colocar os pontos no gráfico desejado, na intersecção desses pontos, o percentil será indicado. O percentil está à direita. É possível verificar o valor acompanhando a linha. Os gráficos de peso por comprimento (0 a 2 anos) ou peso por estatura (2 a 5 anos) são bons indicadores do estado nutricional atual, avaliando a distribuição do peso corporal em relação à altura, ou para detectar deficiência em curto prazo. O percentil encontrado no gráfico será analisado na tabela para classificar o indicador antropométrico. A linha verde corresponde ao percentil 50 (adequado), e a curva de crescimento de uma criança que está crescendo adequadamente tende a seguir um traçado paralelo à linha verde, acima ou abaixo dela. Um traçado horizontal indica que a criança não está crescendo, o que necessita ser investigado. Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2011, p. 15), A Organização Mundial da Saúde apresenta referências de peso/estatura apenas para menores de 5 anos [...]. A partir dessa idade, deve ser utilizado o Índice de Massa Corporal para idade para avaliar a proporção entre o peso e a estatura da criança. 57 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Seguem os gráficos utilizados para meninos e meninas. Figura 26 – Peso por comprimento – meninos (do nascimento aos 2 anos em percentis) Fonte: WHO (2006). Figura 27 – Peso por comprimento – meninas (do nascimento aos 2 anos em percentis) Fonte: WHO (2006). 58 Unidade I Figura 28 – Peso por estatura – meninos (dos 2 aos 5 anos em percentis) Fonte: WHO (2006). Figura 29 – Peso por estatura – meninas (dos 2 aos 5 anos em percentis) Fonte: WHO (2006). O índice peso por idade de 0 a 5 anos e de 5 a 10 anos é indicador do estado nutricional atual, demonstrando o peso da criança em relação ao que deveria ter em determinada idade e indicado para acompanhar ganho de peso. Segundo o Ministério da Saúde (Brasil, 2011, p. 15) “este não é o índice 59 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL antropométrico mais recomendado para a avaliação do excesso de peso entre crianças”. A seguir, os gráficos utilizados para meninos e meninas. Figura 30 – Peso por idade – meninos (do nascimento aos 5 anos em percentis) Fonte: WHO (2006). Figura 31 – Peso por idade – meninas (do nascimento aos 5 anos em percentis) Fonte: WHO (2006). 60 Unidade I Figura 32 – Peso por idade – meninos (dos 5 aos 10 anos em percentis) Fonte: WHO (2007). Figura 33 – Peso por idade – meninas (dos 5 aos 10 anos em percentis) Fonte: WHO (2007). 61 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL O parâmetro de IMC, utilizado mundialmente para todas as populações, não diferencia massa gorda e massa magra, devendo ser avaliado em conjunto com outros índices para um diagnóstico mais adequado. Seguem os gráficos utilizados para avaliar meninas e meninos no IMC/idade de 0 a 5 anos e de 5 a 19 anos. Figura 34 – IMC por idade – meninos (do nascimento aos 5 anos em percentis) Fonte: WHO (2006). Figura 35 – IMC por idade – meninas (do nascimento aos 5 anos em percentis) Fonte: WHO (2006). 62 Unidade I Figura 36 – IMC por idade – meninos (dos 5 aos 19 anos em percentis) Fonte: WHO (2007). Figura 37 – IMC por idade – meninas (dos 5 aos 19 anos em percentis) Fonte: WHO (2007). A análise da curva de estatura/idade expressa o crescimento linear da criança em relação à idade, no qual se verifica o efeitocumulativo de situações adversas sobre o crescimento da criança. Alterações significativas nesse parâmetro ocorrem após longo período de tempo. A seguir, os gráficos E/I para meninas e meninos de 0 a 5 anos e 5 a 19 anos. 63 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Figura 38 – Comprimento/estatura por idade – meninos (do nascimento aos 5 anos em percentis) Fonte: WHO (2006). Figura 39 – Comprimento/estatura por idade – meninas (do nascimento aos 5 anos em percentis) Fonte: WHO (2006). 64 Unidade I Figura 40 – Estatura por idade – meninos (dos 5 aos 19 anos em percentis) Fonte: WHO (2007). Figura 41 – Estatura por idade, meninas (dos 5 aos 19 anos em percentis) Fonte: WHO (2007). 65 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Os pontos de corte da vigilância nutricional no Brasil, determinados pelo Ministério da Saúde, são baseados em recomendações adotadas internacionalmente. As tabelas a seguir apresentam as classificações do estado nutricional de crianças recomendadas pelo Ministério da Saúde (Brasil, 2011) para cada índice antropométrico para menores de 5 anos e de 5 a 10 anos. Esses índices devem ser avaliados em conjunto com outras medidas antropométricas para o diagnóstico nutricional. Tabela 8 − Classificação do estado nutricional de crianças menores de cinco anos para cada índice antropométrico Valores críticos Índices antropométricos para menores de 5 anos Peso para idade Peso para estatura IMC para idade Estatura para idade Percentil 85 e ≤ Percentil 97 > Escore-z +1 e ≤ Escore-z +2 > Percentil 97 e ≤ Percentil 99,9 > Escore-z +2 e ≤ Escore-z +3 Peso elevado para a idade1Sobrepeso Sobrepeso > Percentil 99,9 > Escore-z +3 Obesidade Obesidade 1 Uma criança com a classificação de peso elevado para a idade pode ter problemas de crescimento, mas o melhor índice para essa avaliação é o IMC-para-idade (ou o peso-para-estatura). 2 Uma criança classificada com estatura para idade acima do percentil 99,9 (Escore-z +3) é muito alta, mas raramente corresponde a um problema. Contudo alguns casos correspondem a desordens endócrinas e tumores. Em caso de suspeitas dessas situações, a criança deve ser referenciada para um atendimento especializado. Fonte: Brasil (2011, p. 17). 66 Unidade I Tabela 9 − Classificação do estado nutricional de crianças de 5 a 10 anos para cada índice antropométrico Valores críticos Índices antropométricos para crianças de 5 a 10 anos Peso para idade IMC para idade Estatura para idade Percentil 85 e ≤ Percentil 97 > Escore-z +1 e ≤ Escore-z +2 Sobrepeso > Percentil 97 e ≤ Percentil 99,9 > Escore-z +2 e ≤ Escore-z +3 Peso elevado para a idade1 Obesidade > Percentil 99,9 > Escore-z +3 Obesidade grave 1 Uma criança com a classificação de peso elevado para a idade pode ter problemas de crescimento, mas o melhor índice para essa avaliação é o IMC-para-idade. 2 Uma criança classificada com estatura para idade acima do percentil 99,9 (Escore-z +3) é muito alta, mas raramente corresponde a um problema. Contudo alguns casos correspondem a desordens endócrinas e tumores. Em caso de suspeitas dessas situações, a criança deve ser referenciada para um atendimento especializado. Fonte: Brasil (2011, p. 18). Saiba mais Os gráficos das curvas da OMS em português e o quadro com os valores estão disponíveis no link a seguir: BRASIL. Ministério da Saúde. Curvas de crescimento da Organização Mundial da Saúde - OMS. Brasília, [s.d.]. Disponível em: https://shre.ink/21ZM. Acesso em: 25 ago. 2023. As curvas fazem parte da caderneta da criança e do adolescente. De acordo com Zeferino et al. (2003), o crescimento é vinculado à herança genética dos pais e fortemente influenciado pelo ambiente, inclusive pelas doenças e alimentação. A avaliação única da altura não indicará um crescimento inadequado, já que o crescimento é dinâmico. O cálculo do alvo parental visa verificar a possibilidade de crescimento da criança com aplicação mais efetiva no período de 2-3 anos até 9-10 anos de idade. Para realizar o cálculo do alvo parental, deve-se obter a altura do paciente e de ambos os pais (preferencialmente aferidos): Meninas = Altura da Mãe (cm) + (Altura do Pai (cm) –13)/2 Meninos = Altura da Mãe (cm) + (Altura do Pai (cm) + 13)/2 67 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL O valor encontrado deve ser registrado no gráfico E/I de acordo com o gênero. A margem estabelecida é ±10 cm para meninos e ±9 cm para meninas, determinando assim o intervalo da altura em que 95% dos filhos do casal devem atingir na idade adulta (Zeferino et al., 2003). Não é uma avaliação precisa e deve ser utilizada com cautela, principalmente no repasse da informação aos pais. O peso aproximado para crianças dos 3 aos 10 anos também pode ser calculado, para base de peso utilizando a idade da criança, pela fórmula de idade (anos) × 2 + 9 (Mussoi, 2017). O perímetro cefálico (PC) e o torácico (PT) acompanham o crescimento e desenvolvimento da criança, sendo que até os 6 meses de idade, PC é maior que PT; em seguida, PT é ligeiramente maior que PC. Até os 2 anos, PT = PC = PA (perímetro abdominal) e, posteriormente, passa a predominar o PT. O quociente PT/PC em crianças de 6 a 60 meses deve ser maior que 1. Segundo Reis e Calixto-Lima (2015, p. 317), “o perímetro cefálico permite a identificação de hidrocefalia, microcefalia e craniossinostose”. A medida, em crianças maiores de 1 ano, da circunferência do braço juntamente com a dobra cutânea do tríceps, possibilita o cálculo da circunferência muscular do braço (CMB) pela fórmula: CMB = CB – (DCT x 0,314). O valor encontrado nas crianças pode ser classificado em percentil, conforme idade e gênero, pela tabela a seguir. Tabela 10 − Percentis da circunferência muscular do braço (cm) em crianças Idade (anos) Percentis 5 10 25 50 75 90 95 Homens 1-1,9 11,0 11,3 11,9 12,7 13,5 14,4 14,7 2-2,9 11,1 11,4 12,2 13,0 14,0 14,6 15,0 3-3,9 11,7 12,3 13,1 13,7 14,3 14,8 15,3 4-4,9 12,3 12,6 13,3 14,1 14,8 15,6 15,9 5-5,9 12,8 13,3 14,0 14,7 15,4 16,2 16,9 6-6,9 13,1 13,5 14,2 15,1 16,1 17,0 17,7 7-7,9 13,7 13,9 15,1 16,0 16,8 17,7 18,0 8-8,9 14,0 14,5 15,4 16,2 17,0 18,2 18,7 9-9,9 15,1 15,4 16,1 17,0 18,3 19,6 20,2 Mulheres 1-1,9 10,5 11,1 11,7 12,4 13,2 13,9 14,3 2-2,9 11,1 11,4 11,9 12,6 13,3 14,2 14,7 3-3,9 11,3 11,9 12,4 13,2 14,0 14,6 15,2 4-4,9 11,5 12,1 12,8 13,6 14,4 15,2 15,7 5-5,9 12,5 12,8 13,4 14,2 15,1 15,9 16,5 6-6,9 13,0 13,3 13,8 14,5 15,4 16,6 17,1 7-7,9 12,9 13,5 14,2 15,1 16,0 17,1 17,6 8-8,9 13,8 14,0 15,1 16,0 17,1 18,3 19,4 9-9,9 14,7 15,0 15,8 16,7 18,0 19,4 19,8 Adaptada de: Frisancho (1981, p. 2542). 68 Unidade I A CMB23 4,9 5,4 7,8 9,7 11,7 24 4,9 5,4 7,8 9,7 11,7 25 5 5,4 7,9 9,8 11,8 26 5 5,4 7,9 9,9 11,9 27 5 5,4 7,9 9,9 12 28 5 5,5 8 10 12,1 29 5 5,5 8 10 12,2 30 5 5,5 8,1 10,1 12,3 31 5 5,5 8,1 10,2 12,4 32 5 5,5 8,1 10,2 12,4 33 5 5,5 8,2 10,3 12,5 34 5 5,5 8,2 10,3 12,6 35 5 5,5 8,2 10,4 12,7 36 5 5,5 8,2 10,5 12,8 37 5 5,5 8,3 10,5 12,9 38 5 5,5 8,3 10,6 13 39 5 5,5 8,3 10,6 13,1 40 5 5,5 8,4 10,7 13,2 41 5 5,5 8,4 10,7 13,2 42 5 5,5 8,4 10,8 13,3 43 5 5,5 8,4 10,8 13,4 44 5 5,5 8,5 10,9 13,5 45 5 5,5 8,5 10,9 13,6 46 5 5,5 8,5 11 13,7 47 5 5,5 8,5 11 13,7 48 5 5,5 8,5 11,1 13,8 49 5 5,5 8,6 11,1 13,9 50 5 5,5 8,6 11,2 14 51 5 5,5 8,6 11,2 14,1 71 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Idade (meses) Percentis 1 3 50 85 97 Meninas 52 5 5,5 8,6 11,3 14,2 53 5 5,6 8,7 11,3 14,2 54 5 5,6 8,7 11,4 14,3 55 5 5,6 8,7 11,4 14,4 56 5 5,6 8,7 11,5 14,5 57 5 5,6 8,8 11,5 14,6 58 5 5,6 8,8 11,6 14,7 59 5 5,6 8,8 11,6 14,7 60 5 5,6 8,8 11,7 14,8 Adaptada de: WHO (s.d.c; s.d.d). O percentil encontrado na tabela anterior pode ser classificado em deficit energético ( percentil 85). 72 Unidade I Tabela 13 − Percentis da dobra cutânea subescapular (mm) em crianças (3 a 60 meses) Idade (meses) Percentis 1 3 50 85 97 Meninos 3 5,3 5,7 7,7 9,2 10,8 4 5,2 5,5 7,5 9 10,5 5 5 5,4 7,3 8,8 10,3 6 4,9 5,3 7,2 8,6 10,1 7 4,8 5,2 7 8,4 9,9 8 4,7 5,1 6,9 8,3 9,8 9 4,6 5 6,8 8,1 9,6 10 4,6 4,9 6,6 8 9,5 11 4,5 4,8 6,5 7,9 9,4 12 4,4 4,8 6,5 7,8 9,2 13 4,4 4,7 6,4 7,7 9,2 14 4,3 4,6 6,3 7,6 9,1 15 4,3 4,6 6,2 7,6 9 16 4,3 4,6 6,2 7,5 8,9 17 4,2 4,5 6,1 7,5 8,9 18 4,2 4,5 6,1 7,4 8,9 19 4,2 4,5 6,1 7,4 8,8 20 4,2 4,4 6 7,3 8,8 21 4,1 4,4 6 7,3 8,8 22 4,1 4,4 6 7,3 8,7 23 4,1 4,4 5,9 7,3 8,7 24 4,1 4,4 5,9 7,2 8,7 25 4,1 4,3 5,9 7,2 8,7 26 4,1 4,3 5,9 7,2 8,7 27 4 4,3 5,9 7,2 8,7 28 4 4,3 5,9 7,2 8,7 29 4 4,3 5,8 7,2 8,7 30 4 4,3 5,8 7,1 8,7 31 4 4,3 5,8 7,1 8,7 32 4 4,3 5,8 7,1 8,6 33 4 4,3 5,8 7,1 8,6 34 4 4,2 5,8 7,1 8,6 35 4 4,2 5,8 7,1 8,6 73 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Idade (meses) Percentis 1 3 50 85 97 Meninos 36 4 4,2 5,7 7,1 8,6 37 4 4,2 5,7 7,1 8,6 38 3,9 4,2 5,7 7 8,6 39 3,9 4,2 5,7 7 8,6 40 3,9 4,2 5,7 7 8,6 41 3,9 4,2 5,7 7 8,6 42 3,9 4,2 5,6 7 8,6 43 3,9 4,1 5,6 7 8,6 44 3,9 4,1 5,6 7 8,6 45 3,9 4,1 5,6 6,9 8,6 46 3,9 4,1 5,6 6,9 8,5 47 3,8 4,1 5,6 6,9 8,5 48 3,8 4,1 5,5 6,9 8,5 49 3,8 4,1 5,5 6,9 8,5 50 3,8 4,1 5,5 6,8 8,5 51 3,8 4 5,5 6,8 8,5 52 3,8 4 5,5 6,8 8,5 53 3,8 4 5,5 6,8 8,5 54 3,8 4 5,4 6,8 8,5 55 3,8 4 5,4 6,8 8,5 56 3,7 4 5,4 6,8 8,4 57 3,7 4 5,4 6,7 8,4 58 3,7 4 5,4 6,7 8,4 59 3,7 3,9 5,4 6,7 8,4 60 3,7 3,9 5,4 6,7 8,4 Meninas 3 5,2 5,6 7,8 9,5 11,2 4 5 5,4 7,5 9,2 10,8 5 4,9 5,3 7,3 8,9 10,6 6 4,8 5,2 7,2 8,7 10,4 7 4,7 5,1 7 8,5 10,2 8 4,6 5 6,9 8,4 10 9 4,6 4,9 6,8 8,3 9,8 10 4,5 4,8 6,7 8,1 9,7 11 4,5 4,8 6,6 8 9,6 12 4,4 4,7 6,5 8 9,5 13 4,4 4,7 6,5 7,9 9,4 14 4,3 4,7 6,4 7,8 9,4 74 Unidade I Idade (meses) Percentis 1 3 50 85 97 Meninas 15 4,3 4,6 6,3 7,8 9,3 16 4,3 4,6 6,3 7,7 9,3 17 4,3 4,6 6,3 7,7 9,2 18 4,2 4,5 6,2 7,7 9,2 19 4,2 4,5 6,2 7,6 9,2 20 4,2 4,5 6,2 7,6 9,2 21 4,2 4,5 6,2 7,6 9,2 22 4,2 4,5 6,2 7,6 9,2 23 4,2 4,4 6,1 7,6 9,2 24 4,1 4,4 6,1 7,6 9,2 25 4,1 4,4 6,1 7,6 9,2 26 4,1 4,4 6,1 7,6 9,3 27 4,1 4,4 6,1 7,6 9,3 28 4,1 4,4 6,1 7,6 9,3 29 4,1 4,4 6,1 7,6 9,3 30 4,1 4,4 6,1 7,6 9,4 31 4,1 4,4 6,1 7,6 9,4 32 4,1 4,4 6,1 7,6 9,4 33 4,1 4,3 6,1 7,6 9,5 34 4,1 4,3 6,1 7,6 9,5 35 4 4,3 6,1 7,6 9,5 36 4 4,3 6,1 7,7 9,6 37 4 4,3 6,1 7,7 9,6 38 4 4,3 6,1 7,7 9,7 39 4 4,3 6,1 7,7 9,7 40 4 4,3 6,1 7,7 9,7 41 4 4,3 6,1 7,7 9,8 42 4 4,3 6,1 7,7 9,8 43 4 4,3 6,1 7,7 9,9 44 4 4,3 6,1 7,8 9,9 45 4 4,3 6,1 7,8 10 46 4 4,3 6,1 7,8 10 47 4 4,3 6,1 7,8 10 48 4 4,3 6,1 7,8 10,1 49 4 4,3 6,1 7,8 10,1 50 4 4,2 6,1 7,8 10,2 51 4 4,2 6,1 7,9 10,2 52 3,9 4,2 6,1 7,9 10,3 75 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Idade (meses) Percentis 1 3 50 85 97 Meninas 53 3,9 4,2 6,1 7,9 10,3 54 3,9 4,2 6,1 7,9 10,4 55 3,9 4,2 6,1 7,9 10,4 56 3,9 4,2 6,1 7,9 10,5 57 3,9 4,2 6,1 7,9 10,5 58 3,9 4,2 6,1 8 10,5 59 3,9 4,2 6,1 8 10,6 60 3,9 4,2 6,1 8 10,6 Adaptada de: WHO (s.d.a; s.d.b). O percentil encontrado na tabela 13 pode ser classificado em deficit energético ( percentil 85). 4.3 Diagnóstico nutricional da criança O Ministério da Saúde (Brasil, 2012) preconiza que a antropometria seja realizada com frequência, conforme cronograma de visitas de rotina, para as crianças que não foram classificadas como de alto risco, de acordo com o tempo de vida da criança: 1 semana, 1 mês, 2,4, 6,9, 12,18 e 24 meses. A partir dos 2 anos de idade, as consultas de rotina podem ser anuais. O cronograma pode ser alterado conforme a necessidade nutricional diagnosticada na avaliação nutricional. O crescimento e desenvolvimento da criança podem ser analisados pelos parâmetros descritos, porém o diagnóstico nutricional deve ser realizado com base no maior número possível de indicadores e na correlação dos mesmos. 77 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Resumo O registro dos dados do atendimento nutricional deve ser realizado pelo profissional nutricionista utilizando linguagem adequada e termos médicos que permitam a compreensão da escrita. Esses termos auxiliam a padronização da descrição dos fatos para todos os profissionais da área da saúde. A avaliação nutricional abrange diversos métodos diretos e indiretos, englobando avaliação da composição corporal, exames bioquímicos, exame clínico, semiologia nutricional, avaliação subjetiva e inquéritos alimentares. Entretanto, cada um deve ser selecionado de acordo com as características do paciente e seguir métodos de aplicação para atingir resultados adequados. Várias medidas antropométricas estão descritas na literatura e são bem empregadas na avaliação da composição corporal, contudo as técnicas para realização de peso, estatura, circunferências e dobras cutâneas devem ser seguidas rigorosamente para que erros ocorridos não prejudiquem o diagnóstico do paciente. Com base nos parâmetros aferidos, é possível verificar os índices e indicadores, que envolvem cálculos, aplicação em fórmulas, gráficos e tabelas; facilitando, assim, a classificação mediante gênero e faixa etária. Existem muitos indicadores validados por estudos populacionais, mas a utilizaçãodeve ser cautelosa e baseada no objetivo da avaliação nutricional. As gestantes devem ter seu estado nutricional acompanhado durante o período gestacional mediante análise de, no mínimo, peso e estatura, e posterior comparação com tabelas e gráficos preconizados pelo Ministério da Saúde. Esses parâmetros permitem a verificação do ganho de peso adequado relacionada ao estado nutricional pré-gestacional, prevenindo valores abaixo ou acima do esperado, que podem trazer complicações à mãe e ao feto. A aplicação de antropometria em crianças inicia-se logo ao nascer, com aferição de peso, comprimento e perímetro cefálico, sendo que o acompanhamento do ganho de peso e crescimento linear também são importantes para o recém-nascido, já que se relaciona com o recebimento de nutrição adequada. Nas crianças de 0 a 10 anos, ocorrem grandes mudanças na composição corporal, e esses valores devem ser acompanhados e relacionados com a faixa etária para que intervenções nutricionais sejam 78 Unidade I realizadas quando necessário, considerando também ser a fase de formação do hábito alimentar. O instrumento preconizado internacionalmente para esse acompanhamento são as curvas de crescimento da OMS, que foram disseminadas para utilização no Brasil mediante aplicação de parâmetros para 0 a 5 anos e 5 a 10 anos. Além desses gráficos, algumas medidas de circunferências e dobras cutâneas podem ser aplicadas e analisadas para complementar o diagnóstico nutricional. 79 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Exercício Questão 1. Uma criança (menino, 3 anos), em acompanhamento no ambulatório de nutrição, apresentou os dados a seguir para avaliação do seu estado nutricional. • 1ª consulta: estatura igual a 95 cm e peso igual a 14 kg. • 2ª consulta: estatura igual a 100 cm e peso igual a 14 kg. Figura 42 Considerando os dados apresentados e o gráfico de acompanhamento nutricional, qual é o estado nutricional do menino? A) Adequado, pois os valores de estatura e de peso estão entre os percentis 50 e 15. B) Adequado, pois a curva de crescimento está seguindo um traçado paralelo à linha do percentil 50. C) Inadequado, pois a curva de crescimento apresenta um traçado horizontal, indicativo de que a criança não está crescendo adequadamente. D) Inadequado, pois a curva de crescimento está seguindo um traçado descendente, indicativo de que a criança não está se alimentando corretamente. E) Adequado, pois a curva de crescimento está seguindo um traçado paralelo à linha do percentil 15. Resposta correta: alternativa C. 80 Unidade I Análise da questão O gráfico de peso por estatura (2 a 5 anos) é um bom indicador do estado nutricional atual: ele avalia a distribuição do peso corporal em relação à altura. O percentil 50 corresponde ao estado nutricional adequado. A curva de crescimento de uma criança que está crescendo adequadamente tende a seguir um traçado paralelo à linha do percentil 50, acima ou abaixo dela. Um traçado horizontal indica que a criança não está crescendo adequadamente, e que deve ser investigado o motivo disso. Questão 2. (Enade 2019, adaptada) Uma gestante de 32 anos de idade foi encaminhada para acompanhamento no ambulatório do serviço de nutrição. Na primeira consulta, a nutricionista obteve os seguintes dados que lhe possibilitaram avaliar o estado nutricional da paciente, conforme segue. • Peso pré-gestacional = 62 kg • Altura = 1,60 m • IMC pré-gestacional = 24,2 kg/m2 • Idade gestacional = 7 semanas • Peso atual = 65,3 kg • IMC atual = 25,5 kg/m2 81 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Figura 43 De acordo com os dados apresentados e o gráfico de acompanhamento nutricional, qual é o estado nutricional da gestante, segundo IMC por semana gestacional, e como deve se apresentar o acompanhamento do IMC nas consultas subsequentes? 82 Unidade I A) Sobrepeso; apresentar inclinação descendente para atingir a área de estado nutricional adequado no gráfico. B) Sobrepeso; apresentar inclinação ascendente, semelhante à da curva que delimita a parte inferior da faixa de sobrepeso. C) Sobrepeso; apresentar inclinação ascendente, semelhante à da curva que delimita a parte superior da faixa de sobrepeso. D) Peso adequado; apresentar inclinação ascendente, paralela às curvas que delimitam a área de estado nutricional adequado no gráfico. E) Peso adequado; aproximar-se do limite superior e apresentar inclinação descendente, até atingir o IMC médio esperado para a gestante de acordo com a sua idade gestacional. Resposta correta: alternativa B. Análise das alternativas A gestante apresentava antes da gestação IMC adequado. No entanto, com 7 semanas, houve ganho de peso, e o IMC encontrava-se na faixa inferior do sobrepeso. Desse modo, no decorrer da gravidez, a curva deve ser ascendente, sem perda de peso, e deve acompanhar a curva que delimita a parte inferior da faixa de sobrepeso (onde ela se encontrava com 7 semanas). A) Alternativa incorreta. Justificativa: não é adequado perder peso durante a gestação, para atingir a área de estado nutricional adequado. B) Alternativa correta. Justificativa: durante a gravidez, o peso da gestante deve apresentar inclinação ascendente, próximo à curva que delimita a parte inferior da faixa de sobrepeso. C) Alternativa incorreta. Justificativa: a curva deve ser ascendente, porém não a curva que delimita a parte superior da faixa de sobrepeso. D e E) Alternativas incorretas. Justificativa: o peso não está adequado.por deslocamento de ar.......................................................................................121 8.1.3 Bioimpedância (BIA) ........................................................................................................................... 123 8.1.4 Densitometria de dupla energia (DEXA) ..................................................................................... 125 8.2 Casos especiais ....................................................................................................................................126 7 APRESENTAÇÃO Esta disciplina tem como objetivo estudar os principais métodos para avaliar o estado nutricional do indivíduo, estando ele sadio ou enfermo, bem como de grupos ou populações, com enfoque na antropometria. O presente livro-texto discute os temas de interesse para graduandos em Nutrição em relação à avaliação nutricional, enfatiza a importância de ser realizada de forma adequada pelo profissional, fornecendo fundamento teórico-prático das técnicas antropométricas e auxiliando o desenvolvimento de habilidades para aplicação da antropometria nas diferentes etapas da vida, bem como em casos especiais. Embasa o aluno com as técnicas antropométricas para que ele possa, ao final do curso, optar pela melhor metodologia, com base nos recursos socioeconômicos, assim como no estado fisiológico dos indivíduos. Esperamos que este livro seja útil aos estudantes, e que atinja seus objetivos de maneira a elucidar a antropometria como parte da avaliação nutricional aos futuros profissionais, estimulando-os a atuarem em equipe de forma ética e com embasamento teórico-científico. INTRODUÇÃO A antropometria é componente da avaliação nutricional de indivíduos e coletividades. Este livro-texto abrange as variáveis com foco nos ciclos da vida, sendo essas extremamente úteis na prática clínica. Uma antropometria realizada de forma adequada garantirá a assistência nutricional eficaz a fim de identificar e diagnosticar risco nutricional, auxiliando a prescrição dietética adequada. Inicialmente, temos a introdução à disciplina e ao estudo antropométrico, a antropometria de gestantes e a antropometria de crianças. A antropometria será abordada detalhadamente, bem como a técnica de realização quanto à avaliação dos parâmetros obtidos. A técnica utilizada deve ser selecionada de acordo com a população estudada (gestante, criança, adolescente, adulto, pessoa idosa). O futuro profissional precisa ter o conhecimento do método antropométrico, das técnicas de medição do corpo e de suas partes, além das dificuldades associadas à sua aplicação para a tomada de decisão em sua avaliação nutricional. Em seguida, temos a antropometria de adolescentes, antropometria de adultos, antropometria de pessoas idosas e avanços em antropometria e casos especiais. Os critérios antropométricos utilizados para adolescentes, adultos e pessoas idosas são semelhantes, trazendo classificações específicas para cada faixa etária. Além dessas medidas, abordamos os métodos alternativos de avaliação da composição corporal com uso de equipamentos avançados, trazendo resultados mais detalhados. Finalizamos com uma discussão da aplicação da antropometria em casos especiais (cadeirante, edema, ascite e amputação). 9 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Unidade I A avaliação nutricional realizada de forma adequada é fundamental para uma prescrição dietética coerente. O estado nutricional é o reflexo do equilíbrio entre o consumo alimentar e o gasto energético, que inclui o metabolismo basal para funções orgânicas, atividade física e estados fisiológicos. Visa identificar distúrbios e riscos nutricionais, e também a gravidade deles. Com base nessas informações, podem ser realizadas condutas que possibilitem a manutenção ou a recuperação do estado nutricional. A eficácia das intervenções nutricionais no paciente pode ser monitorada pelos parâmetros envolvidos nessa avaliação nutricional. A competência principal dessa análise envolve avaliar, diagnosticar e acompanhar o estado nutricional baseando-se nas técnicas antropométricas, considerando as condições fisiológicas e a faixa etária (gestante, criança, adolescente, adulto e pessoa idosa). Inicialmente, nossos objetivos são: • Conhecer os componentes do prontuário, bem como os termos técnicos e científicos utilizados em nutrição. • Aplicar técnicas de antropometria e avaliação de gestantes e crianças. • Abordar o método antropométrico, as técnicas de medição do corpo e de suas partes, bem como as dificuldades associadas à sua aplicação. 1 INTRODUÇÃO A avaliação do estado nutricional de indivíduos e grupos populacionais é o ponto inicial do processo de intervenção ou atenção nutricional, podendo ser considerada um instrumento importante de trabalho para o profissional, pois pode ser aplicável a várias áreas de atuação. Considerada um instrumento diagnóstico em nutrição, a avaliação nutricional mede de diferentes formas as condições nutricionais do organismo, influenciada pelos processos de ingestão, absorção, utilização e excreção de nutrientes. Sendo que o estado nutricional é um excelente indicador da qualidade de vida de uma pessoa ou de um grupo populacional e permite o acompanhamento da saúde e a prevenção de doenças em todas as fases da vida (Mussoi, 2017). Os métodos a serem utilizados podem ser diretos, relacionados com a identificação das manifestações orgânicas dos problemas nutricionais ao nível do corpo; ou indiretos, associados com as causas desses problemas. Os métodos diretos podem ser objetivos (análise quantitativa), englobando avaliação da composição corporal, exames bioquímicos e exames clínicos nutricionai; ou subjetivos (análise qualitativa), que abrangem a semiologia nutricional e a avaliação subjetiva (muscular ou global). Já os 10 Unidade I métodos indiretos buscam explicar a ocorrência do problema nutricional, constatando indivíduos ou grupos em risco nutricional, abrangendo dados demográficos, socioeconômicos, culturais, sobre estilo de vida e inquéritos alimentares (Sampaio, 2012). Cada método de avaliação nutricional apresenta suas possíveis limitações de aplicabilidade e vantagens na sua utilização, contudo devem ser discutidos e considerados em associação, aprimorando a acurácia e precisão do diagnóstico. Cabe ressaltar que os parâmetros selecionados para o diagnóstico nutricional devem ser confrontados com referenciais científicos confiáveis. É importante, nesse momento, definir os itens que compõem os métodos diretos e indiretos de avaliação nutricional: • Avaliação da composição corporal: a antropometria pode ser feita por profissional treinado e capacitado, sendo de simples e fácil realização, não invasiva e com o uso de equipamentos de fácil transporte e alta durabilidade. Sua aceitação por parte dos pacientes é ampla e permite verificar a composição corporal humana e os seus diversos constituintes. O termo antropometria tem sua origem do grego anthropo, que significa “homem” e metron, “medida”. Envolve a obtenção de medidas físicas do paciente a fim de relacioná-las com um padrão que reflita o seu crescimento e desenvolvimento. Já a bioimpedância elétrica é um método que se baseia na passagem de uma corrente elétrica de baixa amplitude e alta frequência. Também não invasiva, porém com precisão de resultados influenciados pelo equipamento utilizado, que pode ter um valor de aquisição aumentado (Rossi; Caruso; Galante, 2017). O estudo da composição corporal abrange principalmente as medidas de peso e altura com parâmetros específicos por idade, bem como medidas de circunferências e dobras cutâneas; relevantes e aplicáveis a pacientes saudáveis, com alguma patologia, praticantes de atividade física e atletas. São utilizados equipamentos como balança, estadiômetro, fita antropométrica e adipômetro. • Exames bioquímicos: os indicadores laboratoriais fornecem medidas objetivas das alterações do estado nutricional e podemabranger indicadores hematológicos, proteicos viscerais e somáticos, níveis de colesterol sérico, proteínas da fase aguda, testes de avaliação de competência imunológica e avaliação laboratorial de micronutrientes, entre outros. Os exames bioquímicos apresentam vantagens como detecção precoce de deficiências nutricionais e monitoramento do indivíduo em tratamento. Podem ser solicitados pelo nutricionista, conforme Lei n. 8. 234/1991 (Brasil, 1991), que regulamenta a profissão de nutricionista, o inciso VIII do artigo 4º cita que o nutricionista está habilitado a solicitar os exames laboratoriais necessários ao acompanhamento dietoterápico desde que relacionados com alimentação e nutrição humana. Na interpretação dos resultados encontrados nesses exames laboratoriais, deve-se ter atenção à influência de outras doenças, interação droga/nutriente e ingestão recente (Mussoi, 2017; Sampaio, 2012). • Exame clínico: apresenta baixo custo e simples execução, porém exige treinamento e olhar clínico do avaliador. Envolve o levantamento dos sinais e sintomas do indivíduo. Os sinais clínicos nutricionais relacionam-se com manifestações de uma doença verificadas pelo exame físico. Os sintomas são baseados nos relatos do indivíduo, na anamnese nutricional e não visualizados pelo examinador. Porém, apresenta baixa sensibilidade e especificidade no diagnóstico nutricional, já 11 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL que as doenças podem ocorrer por outras situações de origem não nutricional, e a identificação dos desequilíbrios nutricionais por esse método ocorre em casos graves. Essa etapa da avaliação nutricional deve ser feita de forma minuciosa e bilateral, focando os sinais relacionados às doenças de maior prevalência de acordo com a faixa etária do avaliado, complementando com os dados da anamnese e do consumo alimentar, buscando sinais e sintomas de carência ou excesso de nutrientes, relacionando-os com os hábitos alimentares (Sampaio, 2012). • Semiologia nutricional: um indicador subjetivo, pois tem influência das impressões individuais do avaliador e do avaliado. Deve ser realizado de forma sistêmica e progressiva com o objetivo de determinar as condições nutricionais do paciente, avaliando-o da cabeça aos pés. Na semiologia nutricional checa-se o estado geral do paciente, como sinais vitais, depleção de tecidos e hidratação (Mussoi, 2017). • Avaliação subjetiva: a triagem nutricional tem o objetivo de detectar se há risco nutricional, para que sejam instituídas medidas de intervenção nutricional mais precocemente, consiste na aplicação de um questionário simples e rápido com elementos avaliativos clínicos e antropométricos. As questões envolvem perda de peso recente, modificação na consistência da dieta, presença de sintomas gastrointestinais por mais de duas semanas e perda de gordura subcutânea e de edema (Reis; Calixto-Lima, 2015). • Dados demográficos, socioeconômicos, culturais e estilo de vida: métodos indiretos de avaliação do estado nutricional que estão englobados na anamnese alimentar. As informações coletadas incluem a caracterização do paciente com gênero, idade, faixa etária, histórico pessoal atual e pregresso, antecedentes familiares, escolaridade, ocupação, salário, tabus alimentares, características locais e estilo de vida (atividade física, etilismo e tabagismo etc.) (Sampaio, 2012). • Inquéritos alimentares: são métodos investigativos de informações quantitativas e qualitativas que podem ser retrospectivos e prospectivos. A identificação da ingestão alimentar permite sua comparação com as recomendações nutricionais e determina a falta ou o excesso de consumo de energia, macro e micronutrientes. Deve ser avaliada para que ocorra a intervenção no padrão alimentar baseado nos dados coletados. Várias técnicas podem ser aplicadas, sua escolha pelo profissional varia conforme os objetivos do acompanhamento nutricional e do avaliado nos aspectos memória, alfabetização, motivação para preenchimento e disponibilidade para responder aos instrumentos. O recordatório alimentar de 24 horas, o questionário de frequência alimentar e a história alimentar são os principais instrumentos utilizados para avaliar o consumo alimentar (Reis; Calixto-Lima, 2015). O objetivo da avaliação deverá nortear a escolha do método a ser utilizado, entretanto o profissional deve conhecer adequadamente a aplicação em determinadas situações de saúde do indivíduo, considerar os equipamentos disponíveis, a faixa etária do paciente, a aplicação do indicador e a prática do profissional na utilização do método, visando os problemas a serem investigados. Podendo, assim, identificar o estado nutricional, detectar risco e definir a conduta nutricional, possibilitando mensurar as intervenções realizadas e monitorá-las para melhoria do prognóstico do 12 Unidade I paciente. O ideal é realizar a avaliação seriada, assim o aumento ou redução de alguma medida ou variável analisada será detectado mais facilmente, tornando melhores a avaliação e o prognóstico do estado nutricional para indivíduos ou para a coletividade (Mussoi, 2017). Observação O conhecimento teórico, bem como a aplicação prática da antropometria, é de extrema importância para a atuação do nutricionista. 1.1 Prontuários O prontuário médico, também denominado prontuário do paciente ou do cliente, é o documento em que são registrados os dados fornecidos por ele, pelos responsáveis legais, ou por ambos, e os resultados obtidos em qualquer tipo de exame. Esse registro deve ser realizado periodicamente por todos os profissionais da área de saúde. Considerado um documento de extrema relevância que tem como objetivo demonstrar a evolução da pessoa assistida, podendo, assim, proporcionar um melhor procedimento terapêutico ou de reabilitação, descrevendo todas as medidas envolvidas realizadas pelos profissionais de saúde (Ferreira et al., 2019). Segundo a Resolução CFM n. 1. 638/2002 do Conselho Federal de Medicina (CFM), o prontuário médico é um [...] documento único constituído de um conjunto de informações, sinais e imagens registradas, geradas a partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do paciente e a assistência a ele prestada, de caráter legal, sigiloso e científico, que possibilita a comunicação entre membros da equipe multiprofissional e a continuidade da assistência prestada ao indivíduo (CFM, 2002, p. 2). O preenchimento do prontuário do paciente deve ser baseado nos dados fornecidos em atendimento individualizado e sigiloso, sendo que essas informações só podem tornar-se públicas após seu expresso assentimento, ou o de seu representante legal, ou, ainda, por decisão judicial. Trata-se de uma reunião de documentos referentes à assistência de extrema relevância que traduz o contato e a relação entre o paciente e a equipe de saúde. Portanto os registros devem ser realizados por profissionais que prestaram assistência ao paciente, pois eles resguardam os profissionais quanto à conduta ética e, também, juridicamente, por ser um documento apto à defesa legal (Gomes et al., 2020). O nutricionista, em sua atividade nos estabelecimentos de saúde, deve realizar o registro em prontuário do paciente, de forma física ou eletrônica, com diagnóstico nutricional, prescrição dietética e evolução do estado nutricional. O prontuário tem caráter legal, sigiloso e científico e a finalidade de oferecer elementos para a comunicação entre os diversos profissionais da equipe de saúde, autorizando a integração da equipe multidisciplinar, bem como a ininterrupção da assistência prestada ao paciente (CFN, 2017). 13 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Segundo o CFN (2017), o registro em prontuário deverá “ser preenchido de maneira impessoal, de forma clara, sucinta, informativa, precisa e completa, sem termos populares ou que denotem orientações informais”. A linguagem a ser utilizada deverá ser técnica, permitindo a compreensão de outros profissionais da equipe multidisciplinar, utilizando-sesomente abreviações padronizadas. Monteiro et al. (2019) descrevem que todos os profissionais devem ter entendimento acerca do prontuário do paciente a fim de poder manter a continuidade da assistência e sua legibilidade. Em relação ao conteúdo do prontuário eletrônico e físico, o nutricionista deve seguir as orientações da Resolução CFN n. 594/2017, em que, no atendimento inicial, deverá registrar identificação do paciente; triagem nutricional para avaliação de risco nutricional e nível de atendimento nutricional; identificação do nível de assistência de nutrição; anamnese alimentar e nutricional; intolerâncias, aversões, alergias e restrições alimentares; alterações recentes de peso; medicamentos em uso; queixas, sinais e sintomas relacionados ao sistema digestório; exames bioquímicos anteriores e atuais: [...] V - avaliação do estado nutricional compreendendo: obrigatoriamente, avaliação antropométrica (peso, estatura, Índice de Massa Corporal – IMC) e avaliação dos indicadores clínicos e laboratoriais, quando houver; complementarmente, exame físico nutricional, circunferências, pregas cutâneas e outros métodos para avaliação da composição corporal; VI - hipótese diagnóstico de nutrição, e, se couber, diagnóstico nutricional, com identificação e determinação do estado nutricional do paciente, com indicação do protocolo referencial utilizado; VII - determinação das necessidades nutricionais específicas, quando aplicável, com base na avaliação do estado nutricional realizada; VIII - prescrição dietética: obrigatoriamente, data, horário, características da dieta (valor energético total, consistência da alimentação, composição de macro e micronutrientes mais importantes para o paciente, fracionamento, doses, incluindo volume e gramatura), conforme o caso, assim como outras informações nutricionais pertinentes (CFN, 2017). Em seu trabalho, Ferreira et al. (2019, p. 7) observaram que [...] dados do prontuário médico são frequentemente ilegíveis, não acurados, fragmentados, incompletos, incompreensíveis para o paciente e seus familiares e, algumas vezes, excessivos ou redundantes. O profissional nutricionista deve realizar o registro de seu atendimento no prontuário do paciente, com data e assinatura. Portanto, a capacidade técnico-científica da equipe de saúde é indispensável para registros completos. 14 Unidade I Saiba mais A leitura a seguir, do Código de Ética do Nutricionista, complementará esse assunto: CFN. Resolução CFN n. 594, de 17 de dezembro de 2017. Brasília, 2017. Disponível em: https://shre.ink/21My. Acesso em: 25 ago. 2023. 1.2 Termos técnicos e médicos O conceito de terminologia relacionado à atenção à saúde pode ser definido pela norma ABNT ISO/TR 12.300 (2016, p. 6) como “utilizado para indicar a ideia mais ampla da representação linguística sem especificação computacional”. Faz parte do compromisso ético dos profissionais da área da saúde realizar uma prescrição completa, com caligrafia legível e informações claras e compreensíveis por toda a equipe. A padronização da comunicação entre os diferentes profissionais de saúde deve ocorrer com a utilização de termos técnicos e científicos e o uso de siglas e abreviaturas, uma prática universal que objetiva agilizar o registro das informações em prontuário, bem como a comunicação verbal. A escrita de dados clínicos pode ser realizada com a utilização de terminologias médicas padronizadas, contudo deve-se atentar para evitar interpretações errôneas ou falha na comunicação entre os membros da equipe multidisciplinar. Diversos hospitais elaboram manuais próprios para que os termos de interface tenham o mesmo significado para diferentes grupos de usuários e também para amenizar as mudanças de significado que ocorrem ao longo do tempo. A linguagem em ciência da saúde foi descrita por Laguna; Cunãt (2003) em três grandes grupos: • Abreviações: representação de uma palavra ou das palavras de uma frase por alguma ou algumas de suas letras, sendo que a primeira letra sempre será a mesma da inicial da palavra abreviada (por exemplo, anat. por anatomia). • Siglas: um caso particular de abreviação por suspensão. Se forma com as letras iniciais das palavras (por exemplo, CTI – Centro de Terapia Intensiva). São escritas em maiúsculo. • Símbolos: abreviações que respondem a uma convenção internacional estabelecida por organismos competentes (por exemplo, mm – milímetros; Na – Sódio). Os termos médicos são formados por radicais, prefixos e sufixos gregos e latinos, objetivando a simplificação da linguagem e a precisão do significado das palavras para que elas tenham definição própria e um único significado, além de estabelecer intercâmbio científico entre nações com idiomas diferentes, proporcionando alguns termos comuns a todas as línguas de cultura. O conhecimento desses radicais facilita o entendimento e a memorização da terminologia médica, bem como identifica 15 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL o significado de uma palavra. Conhecer o significado de alguns componentes das palavras pode ajudar a interpretação de muitos termos médicos. A simplificação do uso da linguagem pode ser utilizada de forma direta com siglas. Exemplos: AAACH é igual a acianótico, anictérico, afebril, corado, hidratado; BEG é igual a bom estado geral; REG é igual a regular estado geral; PO é igual a pós-operatório; LOTE é igual a lúcido e orientado em tempo e espaço. A simplificação do uso da linguagem pode ser utilizada também de forma indireta, referindo-se a épocas, autores ou nomes de órgãos e doenças, estipuladas por comissões, associações etc., prestigiando ou nomeando pesquisadores ou locais da doença. Em referência aos órgãos e tecidos, as raízes mais utilizadas são: • adeno: glândula; • cardio: coração; • cisto: bexiga; • cole: vias biliares; • cólon: intestino grosso; • colpo: vagina; • entero: intestino delgado; • espleno: baço; • gastro: estômago; • hepato: fígado; • histero: útero; • nefro: rim; • oftalmo: olho; • oofor: ovário; • orqui: testículo; • osteo: osso; 16 Unidade I • oto: ouvido; • pneumo: pulmão; • procto: reto e ânus; • rino: nariz; • salpinge: trompa; • traqueo: traqueia. Outros prefixos podem ser utilizados em várias palavras trazendo o mesmo significado, como dis, que é igual a dificuldade; hiper, igual a acima do normal; lipo, igual a gordura. Segue a definição de alguns sufixos, com exemplo de prefixo mais sufixo: • ectomia: remoção de uma estrutura ou parte dela (exemplo: esplenectomia é a remoção do baço); • pexia: elevação e/ou fixação de um órgão (exemplo: cistopexia é a elevação e fixação da bexiga); • plastia: alteração da forma de um órgão (exemplo: rinoplastia é a correção cirúrgica do nariz); • rafia: sutura (exemplo: herniorrafia é a sutura para correção da hérnia); • scopia: exame através de visualização do interior de uma cavidade (exemplo: broncoscopia é a visualização de traqueia, brônquios e faringe); • stomia: abertura de um orifício (exemplo: traqueostomia é a abertura de um orifício na traqueia); • tomia: incisão, abertura de parede ou órgão (exemplo: colédocotomia é a abertura do colédoco). Existem, ainda, termos cirúrgicos que não seguem os mesmos padrões descritos anteriormente. São alguns exemplos: • Amputação: retirada parcial ou total de um membro ou de um órgão. • Enxerto: inserção de material autógeno, homólogo, heterógeno ou sintético para corrigir defeito ou falha em tecidos ou órgãos. • Exérese: extirpação parcial ou total de um segmento corpóreo. • Anastomose: comunicação cirúrgica realizada entre dois vasos sanguíneos ou entre duas vísceras ocas. 17 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL • Paracentese: punção de um espaço cheio de líquidos com a finalidade de aspirar o líquido aí contido. Na área de nutrição, muitos termos médicos são empregados na avaliação de pacientes em clínicas, ambulatórios ou hospitais. Devem devem ser interpretados, bem como escritosda forma correta para evitar erros na conduta profissional. Alguns deles são: • Cianose: cor azulada de pele ou mucosas causada pela oxigenação insuficiente do sangue. • Deambular: andar, caminhar. • Decúbito: deitado (podendo ser dorsal, lateral ou ventral). • Disfagia: dificuldade de deglutir. • Dispepsia: má digestão. • Dispneia: dificuldade respiratória. • Esteatorreia: presença de gordura nas fezes. • Icterícia: coloração amarela da pele e/ou olhos causados por um aumento na concentração de bilirrubina na corrente sanguínea. • Melena: presença de sangue nas fezes. • MID: membro inferior direito. • MMII: membros inferiores. • MSD: membro superior direito. • MMSS: membros superiores. • NE: nutrição enteral (dieta administrada via sonda alocada no estômago ou no intestino delgado). • NP: nutrição parenteral (solução de nutrientes administrada via cateter na veia). • Odinofagia: dor ao engolir. • Pirose: azia, sensação de calor no estômago. • Polidipsia: muita sede. • Polifagia: muita fome. 18 Unidade I • Poliúria: urina em excesso. • SSVV: sinais vitais (temperatura, pulso, respiração, pressão arterial e dor). Saiba mais Recomendamos a leitura complementar a seguir. POZZOBON, A. Etimologia e abreviaturas de termos médicos: um guia para estudantes, professores, autores e editores em medicina e ciências relacionadas. Lajeado: Univates, 2011. Disponível em: https://shre.ink/21Me. Acesso em: 25 ago. 2023. 2 INTRODUÇÃO AO ESTUDO ANTROPOMÉTRICO A antropometria engloba a obtenção de medidas físicas de um indivíduo a fim de verificar seu crescimento e desenvolvimento, as quais compõem a avaliação nutricional. Tem importante função no monitoramento do estado nutricional, sendo utilizada em pesquisas epidemiológicas e na prática clínica. Estudar a composição corporal humana e os seus diversos constituintes torna-se possível pela aplicação da antropometria, bem como de outros métodos. A massa corporal total é expressa em porcentagens de gordura e massa magra. Esses valores podem ser relacionados com os processos de saúde, doença e qualidade de vida do indivíduo (Sampaio, 2012; Rossi; Caruso; Galante, 2017). A análise da composição corporal descrita por Wang, Pierson e Heymsfield em 1992 estrutura o corpo humano organizando-o em cinco níveis de complexidade: atômico, molecular, celular, órgão-tecidual e de corpo total. A massa corporal total equivale à soma de todos os componentes em cada nível (Carvalho et al., 2018). Fluidos extracelulares Sólidos extracelulares Massa celular Outros Outros Outros Cabeça Hidrogênio Proteína Sangue TroncoCarbono Lipídio Ossos MembrosOxigênio Água Tecido adiposo Músculo esquelético Nível IV (Órgão-tecidual) Nível II (Molecular) Nível I (Atômico) Nível V (Corpo total) Nível III (Celular) Figura 1 − Modelo dos cinco níveis da composição corporal Fonte: Carvalho et al. (2018, p. 239). 19 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL A antropometria é o método mais frequentemente utilizado pela sua facilidade de realização em indivíduos, porém não diferencia tecido adiposo visceral e subcutâneo, sendo considerada pertencente ao nível V (corpo total). Contudo, tem validade para indicação epidemiológica em coletividades (Carvalho et al., 2018). A massa corporal pode ser descrita, considerando a sua composição, nos dois maiores constituintes do volume do corpo denominados de massa gorda, incluindo a gordura de todas as fontes do corpo (inclusive cérebro, esqueleto e tecido adiposo); e massa livre de gordura (MLG), que inclui água, proteína e componentes minerais. Essa massa é alterada com base na fase de crescimento, condição reprodutiva, variação na atividade física e nos efeitos do envelhecimento (Mahan; Raymond, 2018). No quadro a seguir, estão descritas e definidas as terminologias mais comuns de composição corporal. Quadro 1 – Termos relacionados aos estudos da composição corporal Termo Definição Massa gorda Todos os lipídios extraídos do tecido adiposo e outros tecidos do corpo Massa de tecido adiposo Gordura (cerca de 83%) mais as suas estruturas de suporte (cerca de 2% de proteína e cerca de 15% de água) Massa livre de gordura (MLG) ou massa corporal livre de gordura Todos os tecidos e resíduos livres de lipídios, incluindo água, músculos, ossos, tecidos conectivos e órgãos internos Massa corporal magra (MCM) Massa livre de gordura (MLG) mais lipídios essenciais Percentual de gordura Massa gorda expressada como porcentagem da massa corporal total Lipídios essenciais Lipídios compostos (fosfolipídios) necessários para formação da membrana celular (cerca de 10% dos lipídios corporais totais) Lipídios não essenciais Triacilgliceróis encontrados principalmente no tecido adiposo (cerca de 90% dos lipídios corporais totais) Densidade corporal total Total da massa corporal expressada em relação ao total do volume corporal Gordura subcutânea Tecido adiposo acumulado sob a pele Gordura visceral ou tecido adiposo visceral Tecido adiposo acumulado dentro e em volta dos órgãos das cavidades torácica (coração, pulmões) e abdominal (fígado, rins etc. ) Gordura intra-abdominal Gordura visceral na cavidade abdominal Gordura abdominal Gordura subcutânea e visceral na região abdominal Adaptado de: Rossi, Caruso e Galante (2017, p. 77). A massa gorda é a combinação de gorduras essenciais e de armazenamento, sendo que os músculos e a massa esquelética se adaptam para sustentar a carga de tecido adiposo. Para o funcionamento fisiológico, a gordura essencial é armazenada em pequenas quantidades em diversos locais (medula óssea, coração, pulmão, fígado, baço, rins, músculos e sistema nervoso), sendo que ela corresponde a aproximadamente 3% da gordura corporal total nos homens e a 12% nas mulheres, número maior devido ao suporte para a reprodução. Já a reserva de energia no tecido adiposo é a gordura de armazenamento considerada menos essencial, que se acumula na região subcutânea do corpo, bem como em volta dos órgãos, dentro de tecidos e na medula óssea (Mahan; Raymond, 2018). A massa corporal magra aumenta com exercícios, é maior em homens do que em mulheres. Sua quantidade interfere na taxa metabólica de repouso, ou seja, uma redução nela poderia impedir o progresso da perda de massa corporal. O componente mais variável da massa corporal é a água, que 20 Unidade I constitui de 60% a 65%, apresentando seu valor muito influenciado pelo estado de hidratação do paciente (Mahan; Raymond, 2018). Segundo Mahan e Raymond (2018, p. 1438), [...] a gordura corporal total (gordura essencial + gordura de armazenamento) expressa como uma porcentagem de massa corporal associada à média individual está entre 18% e 24% para homens e 25% e 31% para mulheres. Aproximadamente metade do conteúdo corporal total de gordura localiza-se no tecido subcutâneo, assim a aferição de dobras cutâneas apresenta boa correlação com o tecido adiposo subcutâneo e está diretamente relacionada com a gordura corporal total. É um método simples, com baixo custo, mas que exige treinamento para separar a espessura da dobra cutânea de forma adequada dos outros tecidos (Sampaio, 2012; Mussoi, 2017). Mahan e Raymond (2018) descrevem que a homeostase corporal é influenciada pelo tecido adiposo, um tipo especial de tecido conjuntivo formado por adipócitos com pequenas quantidades de proteínas e água, sendo dividido em multilocular e unilocular. O tecido adiposo multilocular, também denominado marrom, possui várias gotículas de gordura em cada adipócito e uma alta quantidade de mitocôndrias contendo ferro. Encontrado em uma proporção considerável em lactentes, fornecendo calor corporal, vai desaparecendo ao longo dos anos, apresentando pequenas quantidades em adultos, principalmente nas áreas escapular e subescapular, desempenhando um papel no controle do gasto energético. Enquanto o tecido adiposo unilocular, que também pode ser chamado de branco, é composto por uma gotícula grande de gorduraem cada adipócito, apresentando função de reserva energética, isolante térmico, proteção e sustentação dos órgãos internos contra pressões externas (Mahan; Raymond, 2018). De acordo com Carvalho et al. (2018, p. 241) [...] a gordura visceral, localizada no tronco, é considerada mais metabolicamente ativa do que a gordura subcutânea e um fator de risco para doenças cardiovasculares, resistência à insulina e diabetes mellitus tipo 2. A quantidade reduzida de gordura subcutânea nas extremidades está associada à proteção ao desenvolvimento de doenças cardiometabólicas. A gordura abdominal é um fator de risco para doenças metabólicas e cardiovasculares, já que o adipócito visceral tem maior capacidade de armazenamento, apresenta número inferior de receptores de insulina e mais sensibilidade à estimulação da lipólise. Assim, o aumento da massa gorda, bem como de gordura abdominal, pode ser relacionado a comorbidades e distúrbios metabólicos (Sampaio, 2012; Carvalho et al., 2018). 2.1 Técnicas de tomadas de medidas A antropometria apresenta como vantagens a fácil padronização e obtenção, o fato de ser método simples e barato, sensível às alterações do crescimento e com resultados que permitem comparação com outras populações. Para a realização da antropometria, é importante ter um ambiente claro, proporcionar 21 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL privacidade ao indivíduo e à sua família, ter espaço suficiente para permitir o trabalho dos profissionais e a presença da mãe e/ou familiares e conforto térmico (temperatura ambiente entre 18 °C e 22 °C), não prejudicando a avaliação nutricional. Devem ser utilizados equipamentos apropriados, bem como aplicação da técnica correta com atenção e responsabilidade do profissional para obtenção de medidas confiáveis e precisas, evitando erros nos procedimentos, na leitura ou na anotação da medida. O avaliador deve escolher, sempre, um lado do corpo e anotar essa informação no prontuário, zelando para que o mesmo lado seja aferido nos próximos atendimentos (Brasil, 2004; Brasil, 2011). Os equipamentos a serem utilizados variam de acordo com o atendimento a ser realizado, a clientela e a estrutura do local. No entanto alguns deles são essenciais, como balança (pediátrica ou de plataforma), estadiômetro ou infantômetro (antropômetro horizontal), fita métrica de material resistente e adipômetro analógico ou digital; esses equipamentos serão utilizados para aferir peso corporal, estatura, circunferências e dobras cutâneas. 2.1.1 Peso corporal O instrumento utilizado para medir a massa corporal total do indivíduo é a balança, que pode ser eletrônica ou mecânica, desde que seja calibrada periodicamente por assistência técnica seguindo as normas do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). A balança pediátrica deve ser usada para aferição em crianças menores de 2 anos ou até 16 kg, e é importante ter uma precisão mínima de dez gramas, pois pequenas alterações no peso são indicadores nutricionais importantes nessa faixa etária. As balanças tipo plataforma são indicadas para medir todos os pacientes que se mantenham em pé sem ajuda, como crianças com mais de 2 anos, adolescentes e adultos. O posicionamento do equipamento deve ser em local plano, rígido e nivelado, para manter a estabilidade durante o procedimento. As balanças domésticas ou com rodas não são recomendadas devido à baixa acurácia. A calibração da balança deve ser verificada antes de cada avaliação, já que a falta de manutenção pode levar a erros (Brasil, 2011; Mussoi, 2017). O peso aferido na balança pode sofrer variações diurnas (mudanças cíclicas no decorrer do dia), sendo em torno de 1 kg em crianças e 2 kg em adultos. Para minimizá-las, pode-se anotar o horário de medida e realizar a pesagem em jejum, com esvaziamento vesical e intestinal. Outros fatores que podem interferir e devem ser verificados são funcionamento intestinal, período pré-menstrual ou menstrual, horário da última refeição, uso de diuréticos e/ou laxantes, presença de edema e/ou ascite (Pujol, 2011; Sampaio, 2012). Em crianças menores de 2 anos, a balança pediátrica deve ser apoiada sobre uma superfície plana, lisa e firme. Ela deve ser destravada, o profissional precisa verificar a calibração (agulha do braço e fiel nivelados) e colocar um papel descartável para forrar o prato. Após constatar que a balança está calibrada, ela deve ser travada. 22 Unidade I • Despir a criança com o auxílio da mãe ou responsável. • Colocar a criança sentada ou deitada no centro do prato, de modo a distribuir o peso igualmente. Destravar a balança, mantendo a criança parada o máximo possível nessa posição. Orientar a mãe ou responsável a manter-se próximo, sem tocar na criança nem no equipamento. • Mover o cursor maior sobre a escala numérica para marcar os quilos. • Depois mover o cursor menor para marcar os gramas. • Esperar até que a agulha do braço e o fiel estejam nivelados. • Travar a balança, evitando, assim, que sua mola desgaste, assegurando o bom funcionamento do equipamento. • Realizar a leitura de frente para o equipamento com os olhos no mesmo nível da escala para visualizar melhor os valores apontados pelos cursores (Brasil, 2011, p. 33). Para finalizar, o peso deve ser anotado, a criança retirada e os cursores retornados ao zero na escala numérica. Figura 2 − Pesagem de crianças menores de 2 anos em balança mecânica (à esquerda) e balança eletrônica (à direita) Fonte: Brasil (2004, p. 13; 23). Para aferição do peso corporal em maiores de 2 anos, o avaliado deve ficar em pé, com afastamento lateral dos pés e mantendo os braços descontraídos na lateral do tronco. Outras orientações a serem seguidas: 23 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL • A pessoa deve ser pesada com o mínimo de roupa possível e sem sapatos. Solicitar que retire todos os ornamentos e objetos dos bolsos, principalmente chaves, cintos, celulares, óculos etc. • De preferência, realizar a pesagem antes de grandes refeições. • A pessoa deve estar sem calçados (sapato, chinelo, tênis). • Quando se tratar de balança eletrônica, posicionar o indivíduo a ser medido no centro da base da balança, mantê-lo parado e realizar a leitura diretamente do visor. • As balanças mecânicas devem estar travadas antes de sua utilização. • Posicionar o indivíduo a ser medido no centro da base da balança. • Destravar a balança somente após o indivíduo estar posicionado. • Mover o cursor maior sobre a escala numérica para marcar os quilos. • Em seguida, mover o cursor menor para determinar os gramas. • Esperar que a agulha do braço e o fiel estejam nivelados. • Travar a balança para que ela não perca a estabilidade das molas. • Fazer a leitura bem de frente para o equipamento garantindo a precisão da medida e anotar o valor da massa corporal imediatamente. • Retornar os cursores para a posição inicial na escala numérica (Rossi; Caruso; Galante, 2017, p. 80). 24 Unidade I Figura 3 − Pesagem de maiores de 2 anos, adultos e pessoas idosas em balança mecânica e balança eletrônica Fonte: Brasil (2004, p. 41; 51). O conceito de peso pode ser alterado de acordo com o contexto da avaliação: • Peso atual (PA): aferido no momento da avaliação nutricional mediante pesagem em balança. • Peso usual ou habitual (PH): valor referido pelo paciente que habitualmente encontra ao se pesar; às vezes, coincide com o peso atual; geralmente, é aquele mantido por maior tempo. Muito útil para referência em relação a mudanças recentes de peso. • Peso ideal (PI) ou desejável ou teórico: calculado de acordo com as características do indivíduo, como idade, biotipo, gênero e altura. Pode ser calculado pelo índice de massa corporal, biotipologia ou ossatura. 2.1.2 Estatura Como definido por Rossi, Caruso e Galante (2017, p. 81), “o termo altura refere-se à medida do indivíduo em pé, desde a sola dos pés descalços até a parte superior da cabeça, comprimindo os cabelos”;enquanto o comprimento refere-se à medida na posição deitada. As palavras estatura e altura têm o mesmo significado. Segundo Reis e Calixto-Lima (2015, p. 65), “é uma medida linear do corpo humano, que sozinha não configura um indicativo adequado do estado nutricional”. Para realizar essa aferição, podem ser utilizados estadiômetro fixo ou acoplado à balança ou fita métrica inelástica; já para verificar o comprimento, utiliza-se o antropômetro horizontal. 25 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL As crianças menores de 2 anos devem ter o comprimento medido com o paciente deitado em superfície horizontal, firme e lisa, da sola dos pés descalços ao topo da cabeça. Seguindo as normas do Ministério da Saúde (Brasil, 2011), devem ser removidas toucas, fivelas ou enfeites de cabelo. • Deitar a criança no centro do infantômetro, descalça e com a cabeça livre de adereços. • Manter, com a ajuda da mãe/responsável: a cabeça apoiada firmemente contra a parte fixa do equipamento, com o pescoço reto e o queixo afastado do peito, no Plano de Frankfurt (margem inferior da abertura do orbital e a margem superior do meato auditivo externo deverão ficar em uma mesma linha horizontal); os ombros totalmente em contato com a superfície de apoio do infantômetro; os braços estendidos ao longo do corpo. • As nádegas e os calcanhares da criança em pleno contato com a superfície que apoia o infantômetro. • Pressionar, cuidadosamente, os joelhos da criança para baixo, com uma das mãos, de modo que eles fiquem estendidos. Juntar os pés, fazendo um ângulo reto com as pernas. Levar a parte móvel do equipamento até as plantas dos pés, com cuidado para que não se mexam. • Realizar a leitura do comprimento quando estiver seguro de que a criança não se moveu da posição indicada. • Anotar o resultado [...] e retirar a criança (Brasil, 2011, p. 36-37). Encostar cursor na sola dos pés, com calcanhar e pés em 90º Pressionar joelhos (estender pernas) Parte mais alta da cabeça Parte de trás da cabeça Ombros Nádegas Panturrilhas Calcanhares Segurar a cabeça no Plano de Frankfurt Figura 4 − Aferição do comprimento de crianças menores de 2 anos Fonte: Brasil (2011, p. 36). 26 Unidade I Aqueles indivíduos que podem permanecer na posição de pé, como crianças maiores de 2 anos, adolescentes e adultos, devem ser avaliados encostados numa parede ou em antropômetro vertical (Brasil, 2004; Brasil, 2011). Os procedimentos a serem seguidos são: • Os pés devem estar juntos, com os calcanhares, nádegas e ombros encostados na barra escalonada do estadiômetro ou na parede. Os pés devem formar ângulo reto com as pernas. Os ossos internos dos calcanhares devem se tocar bem. • A pessoa deve estar ereta, sem esticar ou encolher a cabeça e o tronco, olhando para frente, fazendo com que o topo da orelha e o ângulo externo do olho formem linhas paralelas ao teto. Os braços devem estar estendidos para baixo, soltos ao longo do corpo, e os pés, unidos e encostados à parede. • Uma barra horizontal ou uma placa de madeira deve ser abaixada para se apoiar sobre o topo da cabeça, que deve estar livre de tiaras, fitas, tranças, bobes e penteados com volume. Deve-se fazer uma ligeira compressão, o suficiente para comprimir o cabelo. • Pode-se utilizar um esquadro para melhor precisão das medidas. • Retire o indivíduo avaliado. • Faça a leitura, e o valor da medida antropométrica obtida deve ser anotado imediatamente, com segurança e boa caligrafia (protocolo). • Registre a medida o mais próximo de 0,5 cm (Rossi; Caruso; Galante, 2017, p. 81). 27 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Parte posterior da cabeça Ombros Nádegas Panturrilhas Calcanhares Figura 5 − Posição adequada para aferição da altura Fonte: Brasil (2011, p. 37). Idealmente, o indivíduo, quando aferido em pé, deve encostar cinco pontos (ou, no mínimo, três deles) do corpo no estadiômetro ou na parede, sendo eles: calcanhares, panturrilhas, glúteos, escápulas e parte posterior da cabeça. A medida da altura de pacientes utilizando esse método pode ser aplicada também em pessoas idosas e gestantes. Lembrete As medidas antropométricas de peso e estatura são amplamente utilizadas em todas as populações, a aplicação adequada das técnicas de medição garante a precisão das variáveis obtidas. 2.1.3 Circunferências As circunferências, ou perímetros, devem ser realizadas com auxílio de fita métrica flexível, não elástica, com extensão de 2 m e 7 mm de largura, com marcação numérica de ambos os lados e precisão de 1 mm (Rossi; Caruso; Galante, 2017; Brasil, 2011). As medidas mais utilizadas são realizadas em diferentes pontos do tronco, membros superiores e inferiores. Podem indicar crescimento, estabelecendo o padrão muscular, e auxiliar na verificação da distribuição de gordura corporal. As medidas das circunferências são feitas no paciente, se possível, com a pele nua, seca e sem loções e com expiração normal, o avaliador deve manter a fita uniformemente alinhada e exercer leve pressão sobre a pele para ajuste firme, sem comprimir o tecido subcutâneo, e não deve colocar o dedo entre a pele e a fita. As técnicas para medidas são simples, fáceis e amplamente aceitáveis, trazendo vantagens ao método, principalmente em pacientes com quantidade de gordura excessivamente alta, em que 28 Unidade I a medida das dobras cutâneas perde a precisão (Rossi; Caruso; Galante, 2017; Pujol, 2011; Tirapegui; Ribeiro, 2009). As principais medidas de avaliação de circunferências devem ser realizadas pelo profissional posicionado na lateral do paciente, aferidas conforme técnicas descritas (Tirapegui; Ribeiro, 2009; Rossi; Caruso; Galante, 2017; Mahan; Raymond, 2018) e nos locais padronizados conforme ilustrado. Circunferência do pulso Medida no punho direito na região imediatamente após os processos estiloides do rádio e da ulna. Indica o tamanho da ossatura quando associada à estatura. Figura 6 − Marcação da circunferência do punho Fonte: Mussoi (2017, p. 7). Circunferência do braço (CB) Medir no braço direito com o indivíduo em posição anatômica, de lado para o medidor. Inicialmente flexiona-se o braço do indivíduo em direção ao tórax, formando um angulo de 90° com o cotovelo, marcando o ponto médio entre o acrômio e olécrano; em seguida, a circunferência deve ser feita no braço relaxado, paralelo ao longo do corpo. Representa a soma de tecido ósseo, gorduroso e muscular do braço. 29 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Figura 7 − Marcação do ponto médio e medida da circunferência do braço Fonte: Mussoi (2017, p. 83). Circunferência da cintura O indivíduo deverá estar em posição anatômica, obter a medida na distância em torno da área mais estreita da cintura entre a costela mais inferior e a crista ilíaca e acima da cicatriz umbilical. A leitura deverá ser realizada no momento da expiração. Figura 8 − Marcação da circunferência da cintura Fonte: Reis e Calixto-Lima (2015, p. 78). Circunferência abdominal Com o paciente em pé e ereto, medir após expiração na região abdominal de maior perímetro, geralmente na cicatriz do umbigo. Essa medição é utilizada como importante indicador de adiposidade subcutânea e visceral. 30 Unidade I Figura 9 − Marcação da circunferência abdominal Fonte: Reis e Calixto-Lima (2015, p. 64). Circunferência do quadril O medidor deverá estar agachado lateralmente ao indivíduo. Deve-se medir na área mais ampla dos quadris, na maior protuberância das nádegas. Em caso de roupas não leves, comprimir um pouco a fita métrica para minimizar erros. Indicador de gordura subcutânea e tipo de distribuição de gordura; também está associada ao risco de enfermidades, tais como diabetes e doenças cardiovasculares. Figura 10 − Marcação da circunferência do quadril Fonte: Reis e Calixto-Lima (2015, p. 79). 31 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Circunferência da coxa • Proximal: o indivíduo deverá estar na posição ortostática, com as pernas levemente afastadas, aferir imediatamente abaixo daprega glútea. • Medial: na mesma posição, medir no ponto médio entre a prega inguinal e a borda proximal da patela. Figura 11 − Marcação da circunferência da coxa: A) Proximal; B) Medial Fonte: A) Rossi, Caruso e Galante (2017, p. 90); B) Pujol (2011, p. 189). 32 Unidade I Circunferência da panturrilha O indivíduo deverá estar deitado ou sentado, colocar a fita horizontalmente na região de maior perímetro. Figura 12 − Marcação da circunferência da panturrilha Fonte: Rossi, Caruso e Galante (2017, p. 90). A detecção de massa magra pela medida das circunferências dos membros pode ser afetada, já que as medidas incluem pele, tecido adiposo subcutâneo e profundo, ossos, vasos sanguíneos e nervos. A presença de edema também pode alterar todas as medidas de membros e tronco. De acordo com Mahan e Raymond (2018), outra medida que pode ser incluída na avaliação nutricional é a circunferência do pescoço, já que é uma ferramenta de rastreamento não invasiva com facilidade de aplicação. É realizada imediatamente acima da proeminência laríngea com o paciente olhando reto para frente com a fita na horizontal, a leitura é feita lateralmente. Alguns estudos mostraram que em adultos essa medida tem alta associação com circunferência da cintura, massa corporal, índice de massa corporal e porcentagem de gordura corporal e, em crianças e adolescentes, possivelmente tem relação com doenças crônicas associadas à obesidade. 33 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 2.1.4 Dobras cutâneas As medidas das dobras cutâneas, também denominadas pregas cutâneas, determinam os depósitos de gordura subcutânea e são utilizadas para a estimativa de parâmetros da composição corporal. Devem ser feitas em várias regiões a fim de obter um termo médio de sua quantidade, contudo os protocolos para determinação da gordura corporal total utilizam de dois a nove locais de medidas (Mahan; Raymond, 2018; Mussoi, 2017; Rossi; Caruso; Galante, 2017). Para medir as dobras cutâneas, é utilizado um equipamento específico que recebe diversas designações: compasso de dobras cutâneas, espessímetro, plicômetro ou adipômetro (Rossi; Caruso; Galante, 2017). Esse equipamento deve estar calibrado, já que a medida é realizada em milímetros, podendo ser analógico ou digital. A aferição deve ser feita diretamente na pele, que deve estar seca e sem produtos que possam fazer deslizar os dedos do avaliador. Não deve ocorrer logo após a realização de atividade física, pois o deslocamento de fluidos corporais em direção à pele pode influenciar nos resultados (Tirapegui; Ribeiro, 2009). A pega adequada da dobra cutânea inclui destacar uma camada dupla de pele e de tecido adiposo subcutâneo comprimido separando-a do músculo; portanto, quanto mais espessa for essa dobra, menor é a precisão da medida, um achado comum relacionado ao grau de obesidade. A medida da espessura da dobra de gordura é prática e útil, ainda que sua validade dependa da precisão da técnica para medi-la, de sua reprodutibilidade e da variabilidade intra e interindividual (Mussoi, 2017; Rossi; Caruso; Galante, 2017). O método fica limitado na definição do valor total de gordura corporal ou para determinar o grau de obesidade entre obesos mórbidos, considerando que os equipamentos não medem além de 50 mm. Uma série de três medidas deve ser feita pelo avaliador no mesmo local, a fim de minimizar erros e permitir a reprodutibilidade. As técnicas de medida de espessura das dobras cutâneas devem seguir procedimentos padronizados: I – Realizar as medidas sempre no hemicorpo direito do avaliado. II – Identificar e marcar cuidadosamente com lápis dermográfico o ponto anatômico correspondente à dobra cutânea. III – Definir o tecido celular subcutâneo das estruturas mais profundas por intermédio do polegar e do dedo indicador da mão esquerda. IV – Destacar a dobra cutânea e colocar o polegar e o dedo indicador, separados por aproximadamente 8 cm entre si, sobre uma linha perpendicular ao eixo que acompanha a dobra da pele. Quanto mais espesso for o tecido subcutâneo, maior deverá ser a distância entre o polegar e o dedo indicador para destacar a dobra cutânea. V – Elevar a dobra cutânea por volta de 1 cm acima do ponto de medida. 34 Unidade I VI – Manter a dobra cutânea elevada enquanto estiver realizando a medida. VII – Aplicar a borda superior do compasso perpendicular à dobra cutânea e a cerca de 1 cm abaixo do ponto exato de reparo. VIII – Soltar a pressão das hastes do compasso lentamente. IX – Aguardar por volta de 2-3 s depois de soltar a pressão das hastes do compasso para que a leitura da medida seja realizada (Tirapegui; Ribeiro, 2009, p. 47). A realização das dobras nos locais adequados influencia em resultados fidedignos em cálculos em comparação às tabelas referenciais. A seguir, estão descritos os locais de aferição e sua descrição conforme adotados internacionalmente, seguidos da figura de cada dobra. Dobra cutânea do tríceps (DCT) Realizada na face posterior do braço direito, paralelamente ao eixo longitudinal, no ponto que compreende a distância média entre o acrômio e o processo do olécrano da ulna (Mussoi, 2017, p. 104). Figura 13 – Dobra cutânea do tríceps Fonte: Rossi, Caruso e Galante (2017, p. 88). Dobra cutânea do bíceps (DCB) Realizada no ponto médio na face anterior do braço, entre o processo acromial da clavícula e o processo do olécrano da ulna (coincide com o ponto da dobra cutânea tricipital na face posterior do braço) (Mussoi, 2017, p. 104). 35 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Figura 14 − Dobra cutânea do bíceps Fonte: Rossi, Caruso e Galante (2017, p. 88). Dobra cutânea subescapular (DCSE) Feita obliquamente com relação ao eixo longitudinal do corpo, seguindo a orientação dos arcos costais, e localizada 2 cm abaixo do ângulo inferior da escápula (Mussoi, 2017, p. 104). Figura 15 − Dobra cutânea subescapular Fonte: Rossi, Caruso e Galante (2017, p. 88). 36 Unidade I Dobra cutânea abdominal (DCA) “A aferição deve ser realizada, aproximadamente, 2 cm à direita da cicatriz umbilical, paralelamente ao eixo longitudinal do corpo” (Mussoi, 2017, p. 104). Figura 16 − Dobra cutânea abdominal Fonte: Rossi, Caruso e Galante (2017, p. 88). Dobra cutânea axilar média (DCAx) Localizada no ponto de interseção entre a linha axilar média e uma linha imaginária transversal na altura do apêndice xifoide do esterno. Deve ser aferida obliquamente ao eixo longitudinal, com o braço do avaliado para trás, facilitando a obtenção e a leitura da medida (Mussoi, 2017, p. 104). Figura 17 − Dobra cutânea axilar média Fonte: Rossi, Caruso e Galante (2017, p. 88). 37 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Dobra cutânea peitoral (ou torácica) Realizada obliquamente ao eixo longitudinal na metade da distância entre a linha axilar anterior e o mamilo, para homens, e a um terço da linha axilar anterior, para mulheres (Mussoi, 2017, p. 104). Figura 18 − Dobra cutânea peitoral. A) Mulheres; B) Homens Fonte: A) e B) Rossi, Caruso e Galante (2017, p. 90). Dobra cutânea suprailíaca (DCSI) Feita obliquamente com relação ao eixo longitudinal, na metade da distância entre o último arco costal e a crista ilíaca, sobre a linha axilar média. É necessário que o avaliado afaste o braço para trás, a fim de possibilitar boa execução e leitura da medida (Mussoi, 2017, p. 104). 38 Unidade I Figura 19 − Dobra cutânea suprailíaca Fonte: Rossi, Caruso e Galante (2017, p. 88). Dobra cutânea da coxa Realizada no ponto médio entre a prega inguinal e a borda superior da patela. O avaliado deve estar em pé com a perna a ser avaliada relaxada. A medida é realizada na parte anterior da perna sobre o músculo reto femoral (Mussoi, 2017, p. 104). Figura 20 − Dobra cutânea da coxa Fonte: Rossi, Caruso e Galante (2017, p. 88). 39 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Dobra cutânea da panturrilha (DCP) A aferição da dobra cutânea da panturrilha (DCP) deve ser realizada no ponto medial da perna no maior perímetro da panturrilha.O avaliado deve estar sentado, com a articulação do joelho em flexão de 90°, o tornozelo em posição anatômica e o pé com ou sem apoio (Mussoi, 2017, p. 104). Figura 21 − Dobra cutânea da panturrilha Fonte: Rossi, Caruso e Galante (2017, p. 88). Os locais em que as dobras cutâneas refletem melhor a adiposidade são tricipital, bicipital, subescapular, suprailíaca e parte superior da coxa. Os mais úteis são o tríceps e subescapular, pois possuem padrões de referência e correlação elevada com a gordura corporal total e a porcentagem de gordura determinada por outros métodos. Lembrete A aferição das dobras cutâneas é um método prático, mas exige conhecimento e habilidade, a pega adequada influencia na precisão, e o aprimoramento da técnica é realizado mediante treinamento. 2.1.5 Músculo adutor do polegar (MAP) O músculo adutor do polegar (MAP) é um parâmetro antropométrico não convencional que vem sendo incorporado na avaliação de indivíduos saudáveis. Trata-se de um método simples, não invasivo, rápido e de baixo custo que utiliza o adipômetro para aferir a espessura do músculo adutor do polegar (EMAP). A técnica a ser utilizada mantém o paciente sentado com o braço flexionado a aproximadamente 90°, com o antebraço e a mão apoiados sobre o joelho. O EMAP deve ser pinçado no vértice de um triângulo imaginário formado pela extensão do polegar e indicador, no braço dominante (ou não dominante) com mão relaxada, como ilustrado na figura posterior (Mussoi, 2017; Bragagnolo et al., 2009). 40 Unidade I Figura 22 − Aferição da EMAP Fonte: Mussoi (2017, p. 156). É considerada uma medida facilmente reprodutível que avalia de forma direta a ocorrência de atrofia na musculatura da região. Essa atrofia pode ser relacionada à desnutrição com redução das atividades diárias do paciente. 2.2 Parâmetros e índices utilizados em antropometria De acordo com Pujol (2011, p. 184) “os valores obtidos com as medidas antropométricas podem ser utilizados tanto por seu valor absoluto quanto por equações de predição de diferentes componentes corporais”. 2.2.1 Peso ideal Há algum tempo, o peso ideal não pode mais ser considerado como uma meta, pois diversos fatores (individuais, genéticos, metabólicos e psicológicos) influenciam-no, o que dificulta o estabelecimento de um padrão aplicável a todos. Existem várias fórmulas na literatura que utilizam parâmetros diferentes, entretanto a escolha das medidas ou intervalo de valores que definiriam o peso ideal ainda gera controvérsias na literatura (Tirapegui; Ribeiro, 2009). 41 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL A determinação da adequação de peso corporal a partir da compleição óssea ou física pode ser realizada utilizando a circunferência do punho. O cálculo da compleição óssea deve ser feito com os valores em centímetro: estatura dividida pela circunferência do punho. O valor encontrado a classificará em pequena, média ou grande, conforme tabela a seguir: Tabela 1 – Determinação da compleição óssea Compleição Mulheres Homens Pequena > 10,9 > 10,4 Média 9,9 a 10,9 9,6 a 10,4 Grande