Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 1 INDICADORES DE DISTRIBUIÇÃO DE GORDURA CORPORAL ....................... 4 2 MÉTODOS OBJETIVOS DE AVALIAÇÃO NUTRICIONAL ................................. 14 3 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NOS CICLOS DA VIDA ........................................ 27 3.1 Nutrição na Gestação e Lactação ....................................................................... 28 3.2 Avaliação nutricional de recém-nascidos, lactentes e pré-escolares .................. 38 3.3 Avaliação nutricional adolescentes ..................................................................... 47 3.4 Avaliação Nutricional do Adulto .......................................................................... 49 3.5 Avaliação nutricional do idoso ............................................................................. 54 4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 60 3 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 1 INDICADORES DE DISTRIBUIÇÃO DE GORDURA CORPORAL A forma no qual a gordura se distribui pelo organismo é mais importante que a gordura corporal total na determinação do risco individual de patologias de acordo com as pesquisas científicas sobre o assunto. Dessa forma, em indivíduos obesos ou com tendência à obesidade é fundamental dispor de indicadores definindo esse tipo de distribuição. Denomina-se distribuição de gordura corporal do tipo androide (obesidade superior) quando o tecido adiposo está concentrado na região abdominal e ginoide (obesidade inferior) quando esse tecido se concentra mais na região dos glúteos, quadris e coxas. É de relevância clínica identificar a distribuição de gordura, portanto a obesidade androide está associada ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares e metabólicas (CARRIQUIRI, 2003). Circunferência da cintura: É medida no ponto médio entre o rebordo costal inferior e a crista ilíaca ântero-superior. Sua medida está altamente associada ao risco cardiovascular, sendo considerada como normalidade valores menores que 94 cm para homens e 80 cm para mulheres. Circunferência do quadril: É considerada a maior medida passando-se pelos trocânteres. Já foi muito utilizada para a realização da relação cintura/quadril, possuindo consistente associação com risco cardiovascular (valores de normalidade: RCQ ≤ 0,95 em homens e ≤ 0,85 em mulheres), porém vem deixando de ser usada, a medida da circunferência da cintura tem demonstrado uma correlação mais legítima. Relação cintura-quadril (RCQ): O cálculo é feito a partir das medidas da cintura e do quadril para verificar o risco de doenças cardiovasculares. Essa é outra medida podendo ser aferida com o auxílio de uma fita métrica. A relação cintura- quadril é calculada dividindo a medida da circunferência da cintura em centímetros pela medida da circunferência do quadril em centímetros. O índice de corte para risco cardiovascular é igual ou maior que 0,85 para mulheres e 0,90 para homens um número mais alto demonstra maior risco, quanto menor o valor da relação, melhor. 5 A avaliação da composição corporal permite diagnosticar possíveis anormalidades nutricionais proporcionando maior eficiência nas intervenções. O acompanhamento longitudinal dos componentes corporais, de massa magra e gordura corporal possibilita compreender suas modificações resultantes de várias alterações metabólicas, além de identificar de forma precoce os riscos à saúde associados a níveis excessivamente altos ou baixos de gordura corporal total e a perda de massa muscular. A composição corporal é usada juntamente com outros fatores de avaliação para fornecer uma descrição precisa da saúde geral de um indivíduo. As diferenças no tamanho do esqueleto e a proporção da massa corporal magra podem contribuir para as variações de peso corporal entre os indivíduos de altura similar. Por exemplo, atletas musculosos podem ser classificados como sobrepeso, pois seu excesso de massa muscular, não sua massa adiposa, aumenta seu peso. Os adultos mais velhos tendem a ter densidade óssea menor e massa corporal magra reduzida e, portanto, podem pesar menos do que os adultos mais jovens da mesma altura. A variação na composição corporal existe entre os diferentes grupos populacionais assim como dentro do mesmo grupo. A maioria dos estudos de composição corporal realizadas em brancos podem não ser válidas para outros grupos étnicos. A determinação da composição corporal tem grande importância na prática clínica e na avaliação de populações, devido, principalmente, à associação da gordura corporal com diversas alterações metabólicas. Estudos demonstram que a quantidade de tecido adiposo e sua distribuição corporal estão associadas a elevados valores de pressão arterial, dislipidemias, com concentrações superiores de triglicerídeos e reduzidas de colesterol de alta densidade (HDL), intolerância à glicose e resistência insulínica, as quais contribuem para a elevação do risco cardiovascular. Diante da influência da quantidade de gordura corporal no estado de saúde dos indivíduos, são indispensáveis métodos capazes de avaliar, de forma precisa e confiável, a quantidade de gordura corporal em relação à massa corporal total. A escolha do método a ser utilizado dependerá de quais compartimentos se pretende determinar e de aspectos como, custo, validade, aplicabilidade do método e grau de treinamento necessário ao avaliador. 6 Bioimpedância elétrica A bioimpedância elétrica (BIA) é um método de avaliação nutricional, que realiza a análise da composição corporal, por meio da resistência e a reactância dos compartimentos corporais a correntes elétricas de baixa voltagem. Através de equações preditivas, o método é apropriado para estimar a porcentagem de gordura corporal e massa magra. Contudo, requer atenção, pois sua utilização possui limitações referentes as alterações hídricas corporais. A BIA está indicada na análise da composição corporal de pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) entre 16 e 34 kg/m2, passíveis de aferição de peso e estado adequado de hidratação. No quadro 1 estão descritas, de maneira resumida, as principais vantagens e limitações da BIA. Quadro 1 – Vantagens e limitações da utilização da Bioimpedância. Fonte: Heyward; Stolarczyk; Costa (2000). 7 Parâmetros bioquímicos A importância pelos marcadores bioquímicos como ajudantes na avaliação do estado nutricional surge na medida em que evidenciam alterações bioquímicas antecipadamente, anteriores às lesões celulares ou orgânicas. Contudo, alguns fatores e condições podem limitar o uso desses indicadores, como utilizaçãode algumas drogas, condições ambientais, estado fisiológico, estresse, injúria e processo inflamatório. No entanto, tais indicadores possuem restrições por sofrerem influência de várias patologias, pela sua baixa especificidade para os problemas nutricionais, pela interação droga/nutriente e pela ingestão recente, entre outras causas. Deste modo, é recomendado não aplicar, isoladamente, os indicadores bioquímicos para estabelecer o diagnóstico nutricional. A avaliação do estado nutricional é importante para o diagnóstico da desnutrição, principalmente nas fases iniciais ou ainda quando há dúvidas na interpretação de dados subjetivos. Tem como objetivo identificar a presença de distúrbios nutricionais, possibilitando intervenção adequada e/ou precoce, de modo a promover a recuperação e/ou manutenção das condições de saúde e nutrição do indivíduo (BRASIL, 2005). Proteínas séricas As proteínas são fundamentais para as finalidades reguladoras e estruturais. Um homem adulto de referência (70kg) tem 10 a 13 kg de proteínas retendo funções estruturais, reguladoras e mediadoras da resposta imune. Não existe estoque de proteínas dispensáveis no corpo humano. Sendo assim, a perda da mesma resulta em ausência de elementos estruturais essenciais, assim como perda de funções. A maioria das proteínas humanas estão ligadas no músculo esquelético, compreendendo cerca de 30% a 50% das proteínas totais, seguida das viscerais (18%). Albumina: Sua principal função é manter a pressão coloidosmótica do plasma sanguíneo e carrear pequenas moléculas. Apesar de muito utilizada na prática clínica, sua vida média a torna um índice pouco sensível às rápidas variações do https://www.sinonimos.com.br/antecipadamente/ 8 estado nutricional do indivíduo. O intervalo de tempo para repetir a dosagem deve ser no mínimo de 20 dias. Os valores de referência para albumina estão descritos abaixo: Normal Depleção leve Depleção moderada Depleção grave 3,5g/dL 3,0 a 3,5g/dL 2,4 a 2,9g/dL < 2,4g/dL Transferrina: Possui como função transportar o ferro do plasma. Apresenta como limitações o fato de estar incorporada na carência de ferro, hepatites agudas e sangramentos crônicos. Apresenta-se reduzida em várias anemias, doenças hepáticas crônicas, neoplasias, por ser uma proteína de fase aguda negativa, na presença de processo inflamatório e infeccioso. Os valores de referência para essa proteína estão descritos abaixo: Depleção leve Depleção moderada Depleção grave 150- 200 mg/dL 100- 150 mg/dL <100 mg/dL Pré- albumina: É responsável pelo transporte de hormônios da tireoide, mas geralmente é saturada com a proteína carreadora do retinol e com a vitamina A. Possui vida média curta o que a torna um índice bastante sensível para a identificação da restrição proteico ou energética. Seus valores de referência são: Normal Depleção leve Depleção moderada Depleção grave 20mg/dL 10-15mg/dL 5-10mg/dL <5mg/dL Proteína transportadora de retinol: Transporta a vitamina A na forma retinol. Sua vida média curta a torna um índice muito sensível para a identificação da restrição proteica ou energética. 9 Índice Creatinina-Altura (ICA) O índice de creatinina-altura é a medida indireta da massa muscular e do nitrogênio corporal. É utilizado para estimar a massa muscular, sendo assim um indicador de catabolismo proteico, apresentando correlação positiva entre ICA, área muscular do braço (AMB) e massa corporal magra. É calculado a partir do volume urinário de 24 horas. Considerações sobre a taxa de excreção de creatinina urinária relacionada à massa muscular do indivíduo: A creatinina é um metabólito derivado da hidrólise não enzimática da creatina e da fosfocreatina Ela é um composto encontrado quase exclusivamente no tecido muscular (98%) e é sintetizada a partir dos aminoácidos glicina e arginina, no fígado, pâncreas, cérebro, baço, glândula mamária e rim, indo depois para os músculos. Sua síntese depende das vitaminas B12 e ácido fólico. Considerando que o conteúdo de creatina no músculo é constante, quando um indivíduo consome uma dieta livre de creatinina, o pool muscular é igual ao excretado, possibiltando a análise do compartimento proteico somático. Uma vez formada, a creatinina não possui função biológica específica e é excretada via renal. Avaliação da Competência Imunológica Existe uma consistente relação entre estado nutricional e sistema imunológico. A alimentação inadequada provoca a diminuição do substrato para a produção de imunoglobulinas e células de defesa, sua síntese fica diminuída proporcionalmente ao estado nutricional. Com isso, a avaliação imunológica pode auxiliar na identificação das alterações nutricionais. No hemograma, o teste para avaliar a competência imunológica é a contagem total de linfócitos (CTL) ou linfocitometria, que determina as reservas imunológicas momentâneas, indicando as condições do mecanismo de defesa celular orgânica. Pode ser calculada a partir do leucograma. Uma das limitações da CTL é que a mesma sofre influência de fatores não nutricionais como infecções, algumas patologias (cirrose, hepatite, queimaduras, entre outros) e medicações. https://www.sinonimos.com.br/analise/ 10 Consumo alimentar As avaliações do consumo alimentar são realizadas para subsidiar a elaboração e implementação de um plano nutricional, e devem fazer parte de um protocolo assistencial de avaliação nutricional, cujo objetivo deve ser estimar se a ingestão alimentar está adequada ou insuficiente e identificar hábitos ou ingestão excessiva de alimentos com baixo teor de nutrientes. A avaliação individualizada do consumo alimentar requer inicialmente um propósito claramente definido para orientar a escolha do método de pesquisa. Fatores como o estado geral do indivíduo, a evolução do quadro clínico e os motivos da necessidade de orientação nutricional orientam a escolha do método de avaliação do consumo alimentar. Em relação a vitamina C, folato, cálcio, potássio, zinco e fibras, apresentam ingestão inadequada, ou seja, abaixo de 50%, o que já era esperado por se tratarem de nutrientes presentes em frutas e vegetais frescos, alimentos geralmente escassos na alimentação do idoso (MULLER; NITSCHKE, 2005) Assim, no contexto da prática clínica, podem ser identificados três objetivos distintos para a avaliação do consumo alimentar: a avaliação quantitativa da ingestão de nutrientes, do padrão alimentar individual, do consumo de alimentos ou grupos alimentares. A definição, pelo profissional, de mais de um objetivo pode levar à necessidade de aplicação de mais de um método, é preciso notar que isso pode resultar em uma consulta nutricional longa e exaustiva. Métodos retrospectivos São métodos que colhem a informação do passado imediato ou a longo prazo e estão associados à alimentação habitual, ou seja, com o consumo padrão no qual o indivíduo mantém rotineiramente em um período de tempo prolongado. Para esta investigação, utilizam-se a frequência alimentar, história dietética e recordatório de 24h periódico/seriado. Segundo Busnello (2007), a deficiência vitamínica é a falta de suprimento de uma vitamina para atender às necessidades de um organismo, a mesma se inicia com a diminuição celular e tecidual da forma ativa da vitamina. 11 Recordatório 24 horas (R24h) O R24h consiste em definir e quantificar todos os alimentos e bebidas ingeridas no período anterior à entrevista, podendo ser as 24 horas precedentes ou, mais comumente, o dia anterior. O questionamento sobre o dia anterior geralmente facilita a recordação, pois o sujeito pode usar vários parâmetros durante a entrevista, como o horário em que acordou ou foi dormir ou sua rotina de trabalho, por exemplo. Além de descrever o tipo de alimento consumido, é necessário responderdetalhadamente sobre o tamanho e o volume da porção consumida. Para favorecer esse processo, o profissional poderá utilizar álbuns de fotografias, modelos tridimensionais de alimentos ou de medidas caseiras. O alimento pode ser registrado em unidades específicas, como: uma fatia, uma banana média, uma bala, um pacote de biscoito. Essa forma de quantificação tem se aprimorado bastante, pois conta com softwares, tabelas de medidas caseiras, álbuns fotográficos possuindo diferentes formas de porcionamento e marcas comerciais de alimentos tradicionais. O método recordatório de 24 horas de coleta de dados exige que os indivíduos se lembrem especificamente dos alimentos ingeridos e das quantidades consumidas nas últimas 24 horas. As informações são então analisadas pelo indivíduo ou profissional que as solicitou. Os problemas comumente associados a este método de coleta de dados incluem: Uma incapacidade de recordar com precisão os tipos e as quantidades de alimentos ingeridos; Uma dificuldade em determinar se o dia que está sendo descrito representa o consumo típico de um indivíduo; A tendência do indivíduo de superestimar ou subestimar o consumo alimentar. História dietética ou história alimentar Trata de uma ampla entrevista que determina descrever a ingestão dos alimentos sob as concepções qualitativa e quantitativa, na qual é recolhido informações referentes aos hábitos alimentares atuais e passados, tratamento dietético anterior, modificações nas condições de vida e na ingestão alimentar, 12 preferências, intolerâncias e aversões alimentares. Além destes aspectos, são observados também fatores como estilo de vida (tabagismo, consumo de álcool e sedentarismo) e uso de medicamentos e/ou suplementos. A análise pode incluir o recordatório de 24h, registro alimentar (se possível) ou o questionário de frequência alimentar. É bastante útil em atendimentos de primeira consulta. No quadro 2 mostra suas vantagens e limitações . Quadro 2 – Vantagens e limitações da história alimentar. Fonte: Kamimura (2005). Métodos prospectivos São aqueles que registram informações presentes e estão associados à dieta atual, ou seja, ao consumo alimentar em um curto período de tempo corrente. Os métodos utilizados dentro dessa categoria são o recordatório 24h, registro alimentar diário, pesagem da dieta e o orçamento familiar. Registro alimentar estimado O indivíduo registra, no momento de consumo, todo o alimento e bebidas ingeridos em um período que varia de um dia a uma semana. Costuma-se utilizar o registro de três dias, incluindo um dia do final de semana. As quantidades ingeridas 13 são estimadas em medidas caseiras pelo indivíduo e depois convertidas em gramas (CAMARGOS et al., 2015). No quadro 3 mostra suas vantagens e desvantagens. Quadro 3 – Vantagens e limitações do registro alimentar por estimativa. Fonte: Kamimura (2005). Registro alimentar pesado A confiabilidade e validade dos métodos de consumo alimentar são significativamente importantes na prática nutricional. Quando a atenção está voltada para a dieta, os indivíduos podem alterar consciente ou inconscientemente a sua ingestão ou simplificar o registro ou impressionar o entrevistador, diminuindo assim a validade das informações. A validade das informações dos métodos de consumo alimentar de indivíduos obesos muitas vezes é questionável, porque eles tendem a subestimar a ingestão. O mesmo pode ser verdade para as crianças, indivíduos com transtornos alimentares, gravemente enfermos, aqueles que abusam de drogas ou álcool, indivíduos confusos e aqueles cujo consumo é imprevisível. O registro alimentar pesado é semelhante ao registro alimentar estimado, porém, ao invés de utilizar medidas caseiras, os alimentos são pesados. Esse método aumenta a precisão do tamanho das porções e consequentemente dos nutrientes ingeridos, porém, exige tempo, pode restringir a escolha dos alimentos, o consumo pode ser alterado nos dias de registro, apresenta um custo elevado e é de difícil aplicabilidade na rotina. 14 2 MÉTODOS OBJETIVOS DE AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Avaliação nutricional é um método de diagnóstico clínico muito utilizado para determinar as melhores dietas e as recomendações alimentares a um paciente com algum tipo de patologia. É importante sempre manter a ingestão de nutrientes equivalente à necessidade fisiológica, pois a falta ou o excesso podem gerar problemas, como infecções, insuficiência cardíaca, hipertensão arterial, acidente vascular cerebral, entre outros (ACUNA; CRUZ, 2004). A avaliação do estado nutricional tem por objetivo identificar os distúrbios nutricionais e possibilitar a intervenção adequada. O nutricionista deve conhecer os objetivos gerais do tratamento médico, efetuar a avaliação e consultar os dados clínicos para determinar um diagnóstico nutricional. Com esses dados, deverá definir o nível de assistência em nutrição requerido, de acordo com o risco e a condição clínica do paciente. Os métodos objetivos de avaliação nutricional são considerados indicadores diretos do estado nutricional do indivíduo podendo fornecer tantas informações sobre a ingestão alimentar do paciente quanto, a relação da dieta com o aparecimento de algumas doenças além de ser universalmente aplicável e ter um baixo custo. Porém, podem apresentar desvantagens em relação a exigir um profissional treinado para a aplicação e sofrer alterações que não fossem devido ao estado nutricional propriamente dito. A comparação do consumo habitual com as recomendações de micronutrientes, mediante o cálculo da prevalência de inadequação da ingestão, tem sido uma estratégia utilizada nos inquéritos de saúde e nutrição internacionais para identificar os indivíduos em situação de risco às deficiências nutricionais (FISBERG, 2013, p. 223). A antropometria é um método que permite classificação do peso, da estatura e de outras medidas do corpo humano. Ela representa um importante recurso para a avaliação do estado nutricional do indivíduo e também fornece dados para o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes. O uso de indicadores antropométricos na análise do estado nutricional de indivíduos ou coletividades é a mais adequada e viável para ser adotada em serviços 15 de saúde, considerando as suas vantagens como: baixo custo, a simplicidade de realização, sua facilidade de aplicação e padronização, amplitude dos aspectos analisados, além de não ser invasiva. A avaliação antropométrica é um método de investigação em nutrição baseado na medição das variações físicas de alguns segmentos ou da composição corporal como um todo. É aplicável em todas as fases da vida e permite a classificação de indivíduos e grupos segundo o seu estado nutricional. Uma outra vantagem adicional da utilização de indicadores antropométricos é a grande quantidade de ferramentas e recursos metodológicos e técnicos já disponíveis para a análise da situação nutricional de indivíduos ou populações e, principalmente, para comunicação e comparação dos resultados. Dessa forma, o método antropométrico estimula o agrupamento dos diagnósticos individuais e permite traçar o perfil nutricional dos grupos de situação nutricional mais vulnerável em faixas etárias, regiões ou em nível nacional. A seguir serão mostrados alguns itens que compõem o método antropométrico. Peso O peso corresponde à somatória de todos os componentes corporais e reflete no equilíbrio proteico-energético do indivíduo. Apesar de ser uma das medidas mais simples de ser pesquisada ainda é excessivamente negligenciada pelos profissionais da saúde. Adiante, serão descritas algumas considerações sobre o peso corporal: Peso atual: Para a sua obtenção, em uma balança calibrada de plataforma ou eletrônica, o indivíduo deverá posicionar-seem pé, no centro da base da balança, descalço e com roupas leves. Peso usual: É utilizado como referência na avaliação das mudanças recentes de peso e em casos onde a aferição do peso atual está impossibilitada. Peso ideal ou desejável: O modo mais prático para o cálculo do peso ideal ou desejável é pela utilização do índice de massa corporal (IMC) é calculada a partir da equação 1. 16 Equação 1: Peso ideal ou desejável = IMC desejado x estatura (m)2 Adequação do peso: A porcentagem de adequação do peso ideal ou desejável é calculada a partir da equação 2. Equação 2: Adequação do peso (%) = peso atual x 100 ÷ peso ideal Na tabela 1, é apresentado a classificação do estado nutricional de acordo com a adequação do peso. Tabela 1 – Classificação do estado nutricional segundo adequação do peso. Fonte: Blackburn & Thornton (1979). Peso ajustado: É o peso ideal corrigido para a determinação da necessidade energética e de nutrientes quando a adequação do peso for inferior a 95% ou superior a 115%. É obtida por meio da equação 3. Equação 3: Peso ajustado = (peso ideal- peso atual) x 0,25 + peso atual Peso ideal para amputados: Com a finalidade de corrigir o peso corporal ideal de amputados, deve-se subtrair o peso da extremidade amputada do peso ideal calculado. A figura 1 mostra as porcentagens do peso correspondentes a cada seguimento do corpo: 17 Figura 1 – Porcentagens de peso. Fonte: Modelo proposto por Osterkemp (1995). Estimativa de peso: É possível estimar o peso por meio da equação 4 de Chumlea et al. (1988): Equação 4: Mudança de peso: A perda de peso involuntária compõe uma relevante informação para avaliar a gravidade do problema de saúde haja vista sua elevada correlação com 18 a mortalidade. A determinação da variação de peso é realizada por meio da equação 5. Equação 5: Perda de peso (%)= (peso usual- peso atual) x 100 ÷ peso usual Na tabela 2 apresenta o significado da perda de peso em relação ao tempo. Tabela 2 – Perda de peso em relação ao tempo. Fonte: Blackburn; Thornton (1979). Estatura Estatura é definida como o tamanho ou altura de um ser humano. Sua aferição deve ser realizada, preferencialmente, de forma direta através de um estadiômetro. O método para medição da estatura deve obedecer às seguintes etapas: 1. O paciente deve permanecer de pé ereto, com os braços estendidos ao longo do corpo, a cabeça erguida, olhando para um ponto fixo na altura dos olhos; 2. Com os calcanhares, ombros e nádegas em contato com o antropometria/parede; 3. Com os ossos internos dos calcanhares se tocando, assim como a parte interna de ambos os joelhos, os pés unidos mostram um ângulo reto com as pernas; 4. Abaixar a parte móvel do equipamento, fixando-a contra a cabeça, com pressão satisfatória para comprimir o cabelo. Retirar o paciente, quando tiver certeza de que o mesmo não se moveu; 5. Realizar a leitura da estatura, sem soltar a parte móvel do equipamento. 19 A partir do peso e da estatura, é possível calcular o (IMC), o qual é utilizado em associação (ou não) a outras variáveis antropométricas na avaliação do estado nutricional de populações (ANJOS, 1992). É importante ressaltar que após os quarenta anos de idade ocorre uma redução fisiológica da estatura de 1,0 a 2,5 cm por década, decorrentes da diminuição dos discos intervertebrais, achatamento das vértebras e acentuação da cifose dorsal, lordose e escoliose. Nem sempre temos em mãos os instrumentos necessários para a efetivação do método antropométrico ou o paciente encontra-se incapaz de submeter ao procedimento, como por exemplo, pacientes acamados. Desta forma, podemos lançar mão de cálculos de estimativas de peso, altura e composição corporal conforme veremos a seguir: Altura do joelho: o indivíduo deverá estar em posição supina ou sentado o mais próximo possível da extremidade da cadeira, com o joelho esquerdo flexionado em ângulo reto. O comprimento entre o calcanhar e a superfície anterior da perna na altura do joelho pode ser medido utilizando uma régua de medir crianças ou com um calibrador específico para isso. Tal método é indicado principalmente para utilização em idosos e obtido, de acordo com o gênero, por meio da equações 6 de Chumlea et al. (1988): Equação 6: Extensão dos braços: Os braços devem ficar estendidos formando um ângulo reto com o corpo. Deve-se medir a distância entre os dedos médios das mãos utilizando- se uma fita métrica flexível. A medida obtida corresponde à estimativa de estatura do indivíduo. Estatura recumbente: O indivíduo deverá estar em posição supina e com o leito horizontal completo. Deve-se marcar o lençol na altura da extremidade da cabeça e da base do pé no lado direito do indivíduo com o auxílio de um triângulo, e medir a distância entre as marcas utilizando uma fita métrica flexível. 20 Índice de Massa Corporal (IMC) Nos procedimentos de diagnósticos nutricionais de adultos, a Vigilância Alimentar e Nutricional recomenda o uso da classificação do IMC proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS). As vantagens de se usar tal método para avaliação nutricional de adultos são: Facilidade de obtenção e padronização das medidas de peso e altura, não requer a informação da idade para o cálculo; Possui alta correlação com a massa corporal e indicadores de composição corporal do indivíduo; Não exige comparação com curvas de referência. Outra característica a ser ressaltada é a sua capacidade de predição de riscos de morbimortalidade, especialmente em seus limites extremos. Para o cálculo do IMC, adota-se a equação 7. Equação 7: A tabela 3 apresenta os pontos de corte estabelecidos para adultos, segundo o IMC. Tabela 3 – Pontos de corte estabelecidos para adultos. Fonte: World Health Organization (WHO), 1995. 21 Como o IMC não distingue o peso associado ao músculo ou à gordura corporal, deve-se investigar a composição corporal, principalmente quando os valores de IMC estiverem nos limites ou fora da normalidade. Também é importante a interpretação dos pontos de corte do IMC em associação com outros fatores de risco. Esta medida representa a soma das áreas constituídas pelos tecidos ósseis, musculares e gordurosos do braço. Para a sua obtenção, o braço a ser avaliado deve estar flexionado em direção ao tórax, formando um ângulo de 90º. Localizar e marcar o ponto médio entre o acrômio e o olecrano. Solicitar ao indivíduo que permaneça com o braço estendido ao longo do corpo com a palma da mão voltada para a coxa. Contornar o braço com a fita flexível no ponto marcado de forma ajustada evitando compressão da pele ou folga. O resultado obtido é comparado aos valores de referência do NHANES I (National Health and Nutrition Examination Survey). A adequação da CB pode ser determinada por meio da equação 8: Equação 8: Dobras Cutâneas As dobras cutâneas são medidas utilizando um aparelho denominado adipômetro, paquímetro ou plicômetro. Seus valores podem sugerir a composição corporal do indivíduo, porém vem cada vez menos sendo utilizadas, pelo advento de técnicas mais modernas e acuradas. O adipômetro deve ser segurado com a mão direita enquanto a dobra cutânea é levantada com a mão esquerda. Isto não alterará os resultados das medidas. Deve- se cuidar para que apenas a pele e o tecido adiposo sejam separados, a prega é mantida tracionada até que a medida seja completada. A medida é feita, no máximo, até 4 segundos após feito o tracionamento da dobra cutânea. Para a aferição correta das dobras cutâneas é importante levar em consideração as seguintes informações: Ser realizado por profissionais treinados e habilitados; 22 Repetir o procedimento três vezes, utilizando o valor médio das medidas; O pacientedeve estar despido no local da medida; Em pacientes obesos ou edemaciados os valores perdem confiabilidade; Os dados são melhor avaliados em série, perdendo importância a avaliação pontual; Os aparelhos devem estar calibrados e exercer uma pressão de 10g/mm2; Preferencialmente o lado avaliado deve ser o não dominante. A seguir veremos a descrição das medidas de dobras cutâneas da forma que são utilizadas com maior frequência: Dobra Cutânea Tricipital: é medida no mesmo ponto médio localizado para a medida da circunferência braquial. O indivíduo deve estar em pé, com os braços estendidos confortavelmente ao longo do corpo. O adipômetro deve ser segurado com a mão direita. O examinador deve posicionar-se atrás do indivíduo. A dobra cutânea tricipital é realizada com o dedo polegar e indicador, aproximadamente 1 cm do nível marcado e as extremidades do adipômetro são fixadas no nível marcado. Fonte: https://bit.ly/3eToz1V Dobra Cutânea Subescapular: o local a ser medido é justamente no ângulo inferior da escápula. Para localizar o ponto, o examinador deve apalpar a escápula, percorrendo seus dedos inferior e lateralmente, ao longo da borda vertebral até o ângulo inferior ser identificado. É necessário colocar os braços para trás, para que 23 seja identificado mais facilmente o ponto. A dobra cutânea é destacada na diagonal, inclinada aproximadamente num ângulo de 45º com o plano horizontal. Fonte: https://bit.ly/3eToz1V Dobra Cutânea Bicipital: é medida segurando a dobra na vertical, na face anterior do braço, sobre o ventre do bíceps (o ponto a ser marcado coincide com o mesmo nível da marcação para a 3 aferição da circunferência do braço / dobra cutânea tricipital. A dobra é levantada verticalmente 1cm superior à linha marcada (que junta a face anterior do acrômio e o centro da fossa antecubital). As extremidades do adipômetro são posicionadas na linha marcada. O antropometrista deve posicionar-se de frente ao avaliado, ambos em pé. Fonte: https://bit.ly/3eToz1V 24 Dobra Cutânea Supra-ilíaca: é medida na linha axilar média imediatamente superior à crista ilíaca. Alinha-se num ângulo de 45º com o plano horizontal. O adipômetro é aplicado a 1 cm dos dedos que seguram a dobra. Fonte: https://bit.ly/3eToz1V Dobra Cutânea Supra-espinhal: é medida de 5 a 7cm acima da espinha ilíaca. Alinha-se num ângulo de 45° com o plano horizontal. O adipômetro é aplicado a 1cm dos dedos que seguram a dobra. Fonte: https://bit.ly/3eToz1V 25 Dobra Cutânea Abdominal: É determinada paralelamente ao eixo do corpo, dois centímetros a direita da borda da cicatriz umbilical. Fonte: https://bit.ly/3eToz1V Dobra Cutânea da Coxa: É determinada entre o ponto médio entre ligamento inguinal e a borda superior da patela, na face anterior da coxa. Esta medida deve ser feita na direção do eixo longitudinal do corpo. Fonte: https://bit.ly/3eToz1V 26 Dobra Cutânea do Peitoral: É uma medida oblíqua em relação ao eixo longitudinal, na metade da distância entre a linha axilar anterior e o mamilo para homens, e a um terço da distância da linha axilar anterior, para mulheres. Fonte: https://bit.ly/3eToz1V Dobra Cutânea Axilar Média: É localizada no ponto de intersecção entre a linha axilar média e uma linha imaginária transversal na altura do apêndice xifóide do esterno. A medida é realizada obliquamente ao eixo longitudinal, com o braço do avaliado deslocado para trás, a fim de facilitar a obtenção da medida. Fonte: https://bit.ly/3eToz1V 27 Dobra Cutânea da Panturrilha: O avaliado deve estar sentado com a articulação do joelho em flexão de 90º, o tornozelo em posição anatômica e o pé sem apoio. A dobra é pinçada no ponto de maior perímetro da perna, com o polegar da mão esquerda apoiado na borda medial da tíbia. Fonte: https://bit.ly/3eToz1V A lógica para a medida das dobras cutâneas baseia-se no fato de que aproximadamente metade do conteúdo corporal total da gordura fica localizada nos depósitos adiposos existentes diretamente debaixo da pele. Essa gordura localizada está diretamente relacionada com a gordura total. Lohman; Roche; Martorell (1988) afirmaram que um dos meios mais práticos para a avaliação da composição corporal é o uso das dobras cutâneas, isso porque 50 a 70% da gordura corporal está localizada subcutaneamente, e algumas dobras cutâneas têm mostrado relação com a adiposidade corporal total. 3 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NOS CICLOS DA VIDA A avaliação do estado nutricional envolve o exame das condições físicas do indivíduo, o seu comportamento e os componentes bioquímicos dos nutrientes ingeridos, bem como a qualidade e a quantidade deles. Também, é compreendido durante os ciclos da vida, a avaliação nutricional deve direcionar a sua análise para 28 diferentes parâmetros que estão em constante mudança, o nutricionista necessita estabelecer o diagnóstico nutricional respeitando a idade e a fisiologia do paciente. O estado nutricional de um indivíduo é determinado pelo seu nível mais básico de ingestão dietética e conforme os requisitos de nutrientes celulares são satisfeitos. Contudo, ele é suscetível a inúmeros fatores biológicos e sociais que o afetam de forma direta ou indireta. Assim, o estado nutricional reflete o equilíbrio nutricional do organismo, por meio de um conjunto de indicadores específicos. A verificação do tamanho, forma e composição corporal assumiu um significado importante para a saúde pública, devido ao aumento na prevalência mundial da obesidade e a sua relação com a morbidade e mortalidade (SHAMAH et al., 2019). 3.1 Nutrição na Gestação e Lactação A geração de uma vida é um momento especial não somente para a mãe, mas também para toda a família. Assim, há uma grande preocupação do setor de saúde quanto aos cuidados maternos nesse período. Entre os cuidados de grande importância está a nutrição materna, incluindo não somente o estado nutricional, mas também o consumo alimentar, estando este diretamente relacionado ao crescimento e à saúde do bebê. Portanto, avaliar a condição nutricional da gestante em todas as etapas do processo gestacional faz parte de um pré-natal adequado e voltado à prevenção de agravos durante a gestação (VENTURI, 2022). A prática profissional do atendimento à gestante deve considerar o grande aumento da obesidade feminina em todo o mundo, sem esquecer que ainda existe a desnutrição, e essas são duas condições nutricionais que se refletem diretamente na condição de saúde materna e do bebê, elevando o risco de doenças e agravos como diabetes e a hipertensão gestacional, parto prematuro, entre outros. Os cuidados nutricionais com a gestante merecem uma atenção especial e constante no sentido de fazer jus à nobreza desta situação fisiológica. A fase gestacional é o período de maior vulnerabilidade biológica do ciclo reprodutivo da mulher e traz diversas alterações para o organismo materno, não só fisiológicas e físicas, mas emocionais, comportamentais e alimentares. Todas estas alterações trazem reflexos para a saúde da gestante e do bebê. Os profissionais de saúde 29 envolvidos no atendimento às gestantes precisam entender estas alterações e se munir de conhecimentos e práticas, podendo ajudar e orientar as mulheres nesta importante fase da vida ( ALVES, 2010). A gestação é um período em que ocorrem rápidas mudanças fisiológicas para que o corpo consiga gestar um bebê saudável. Nesse período de muitos cuidados, aumenta às necessidades nutricionais da mãe, e a alimentação materna é um fator importante para o adequado desenvolvimento do embrião. Logo, uma mulher desnutrida tende a gerar um bebê mais desnutrido e com uma taxa de mortalidade infantil mais elevada. Já a obesidade materna pode aumentar o risco de diversas complicações,como diabetes e hipertensão gestacional, parto prematuro e abortos espontâneos, defeitos congênitos e macrossomia fetal, além de afetar negativamente a saúde do filho quando adulto (DHANASHREE; ASHWINI; MUBASHIR, 2020). Como o estado nutricional materno afeta diretamente a saúde da gestante e do bebê, diversas diretrizes foram lançadas para o adequado manejo da obesidade e desnutrição na gestação, incluindo abordagem para a intervenção dietética e também para controle de peso. O acompanhamento e controle de peso gestacional é realizado utilizando indicadores antropométricos. Antropometria é um método universalmente aplicável, com a vantagem de não ser invasivo e ter baixo custo, além de apresentar relação direta com o perfil nutricional e o bem-estar da gestante e possibilitar prognósticos de situações de risco (AMORIM; LACERDA; KAC, 2007, documento online). Os dados usados para realizar a antropometria são o peso e a estatura. Com esses dados, é realizado o cálculo do índice de massa corporal (IMC), que é colocado em gráficos para diagnosticar se a gestante está classificada, abaixo do peso, eutrófica, com sobrepeso ou obesa. Para uma avaliação nutricional adequada, é importante que o profissional conheça a altura e o peso pré-gestacional, pois assim é possível ter um indicador do estado nutricional pregresso, enquanto o ganho de peso durante a gestação é um indicador do estado nutricional atual. Essas são as formas mais comuns de realizar o monitoramento do estado nutricional durante o período gestacional. É importante considerar a medida da estatura materna, a mesma é um indicador que possibilita avaliar o risco de baixo peso do bebê ao nascer, risco de 30 mortalidade perinatal, neonatal e infantil, além de ser um indicador clínico de complicações obstétricas, embora este não seja um fator de risco modificável. A medida da estatura pode ser feita apenas uma vez para mulheres adultas. Já para gestantes adolescentes, é necessário que seja coletada mais de uma medida. Para não haver riscos, recomenda-se considerar como ponto de corte para a altura materna 150 cm (ZEEGERS et al., 2022). Já o peso materno pré-gestacional avalia o risco inicial para um prognóstico desfavorável da gestação. Nesse âmbito, a obesidade é fator de risco para diabetes e hipertensão. Auxilia também na determinação do ganho de peso recomendado durante a gestação e ajuda no direcionamento das intervenções nutricionais nesse período (DALFRA; BURLINA; LAPOLLA, 2022). Nas situações em que não é possível verificar o peso pré-gestacional, o profissional deve usar o peso autorreferido pela gestante, ou então considerar o peso na primeira consulta do pré-natal, desde que seja antes do final do primeiro trimestre. Com os dados de peso e estatura, é calculado o IMC para então realizar a avaliação nutricional da gestante. O IMC é um índice usado para determinar e monitorar o ganho de peso, preferencialmente comparado ao estado nutricional pré- gestacional. O IMC também está correlacionado com as medidas de gordura corporal e com fatores de risco metabólicos na gestante, embora ocorra aumento de água corporal durante a gestação, tornando a correlação do IMC com as morbidades menos robusta. Ainda assim, este é um parâmetro utilizado para o monitoramento do estado nutricional na gestação (KIM; AYABE, 2022). Em relação aos métodos de classificação de ganho de peso gestacional, existem diferenças conforme o país ou a região geográfica. Na América Latina, são usadas com frequência as curvas de Atalah e a recomendação revisada do Institute of Medicine (IOM). O Ministério da Saúde (BRASIL, 2004) recomenda que a classificação do estado nutricional de gestantes brasileiras seja realizado conforme a referência de Atalah e o ganho de peso seja estimado pela referência do IOM. O IOM publicou diretrizes para a recomendação de ganho de peso em gestantes em 1990, e em 2009 essas recomendações foram revisadas e publicadas (SIMAS et al., 2013). Nessas diretrizes, a recomendação do ganho de peso gestacional deve ser baseada no peso pré-gestacional. Na revisão da recomendação, 31 foram alterados os pontos de corte do IMC, sendo considerados os pontos de corte da Organização Mundial de Saúde (OMS), considerando valores para identificar e tratar sobrepeso e obesidade em adultos. Outra modificação foi a inclusão de uma faixa específica para o ganho de peso de mulheres obesas. A tabela 4 apresenta as mudanças no ganho de peso gestacional entre as duas diretrizes do IOM (1990 e 2009). Tabela 4 – Mudanças feitas nas diretrizes do IOM entre os anos de 1990 e 2009. Fonte: Adaptado de Simas et al. (2013). Apesar de muito bem documentada a classificacao do estado nutricional de gestantes não é específica para gestantes adolescentes, pois nesta fase da vida já ocorre muitas modificações biológicas e inclusive de crescimento. Assim, o Ministério da Saúde sugere que: Para adolescentes que engravidaram dois ou mais anos após a menarca (em geral, maiores de 15 anos), a interpretação dos dados é equivalente a das adultas. Para as que engravidaram com menos de dois anos após a menarca, é provável que muitas sejam classificadas como de baixo peso. Estas devem ter sua altura mensurada em todas as consultas, pois se encontram ainda em fase de crescimento. Também nestes casos, o mais importante é acompanhar o traçado da curva de IMC por semana gestacional, que deverá ser ascendente ao longo das consultas (BRASIL, 2011). Outro fator relacionado à saúde materna e fetal é a alimentação. O consumo de alimentos saudáveis é essencial durante o período pré-gestacional e gestacional, influenciando também a saúde do feto e consequentemente do recém-nascido. A 32 alimentação deve ser rica em nutrientes, sendo composta por uma variedade de alimentos vegetais e frutas. A ingestão de alimentos processados ou ultraprocessados deve ser evitada, pois aumentam o risco de doenças crônicas não transmissíveis, afetando diretamente a saúde da mãe e do feto. O consumo aumentado de alimentos ricos em açúcar aumenta a incidência de bebês com baixo peso ao nascer, enquanto uma alimentação rica em micronutrientes como vitaminas e minerais diminui esse risco. É importante considerar, quando deficiente, a dieta materna pode levar a diversos riscos, como retardo do crescimento intrauterino e alteração da expressão de genes, causando uma programação anormal em relação ao desenvolvimento dos órgãos e tecidos fetais, elevando o risco da criança ter doenças cardiovasculares e metabólicas durante a vida adulta (MARTÍNEZ et al., 2020). Assim, é importante monitorar não somente o estado nutricional como condição e ganho de peso, mas também os exames laboratoriais da gestante, como uma forma de acompanhar se a alimentação está sendo adequada às suas necessidades. Um exemplo é a alta prevalência de anemia durante a gestação, sendo diagnosticada por exames bioquímicos e também por sinais e sintomas associados a um inquérito alimentar, possibilitando então o cruzamento das informações e diagnóstico. Com esses dados é possível que o profissional desenvolva um plano alimentar adequado às necessidades da gestante, proporcionando-lhe bem-estar e qualidade de vida com menores riscos de doenças e agravos durante a gestação e o parto. O Ministério da Saúde (BRASIL, 2011) faz recomendações para avaliação do estado nutricional de gestantes e como classificá-lo. A primeira delas é que sejam monitorados o IMC por semana gestacional e o ganho de peso. A classificação do estado nutricional da gestante deve cumprir os seguintes passos: 1. Calcule o IMC utilizando fórmula 1 (sempre considerando a estatura em metros e o peso em quilogramas): Fórmula 1: IMC = peso ÷ (estatura × estatura) https://www.sinonimos.com.br/classificacao/ 33 2. Calcule a semana gestacional, utilizandoo dia da última menstruação (DUM). Para efeitos de cálculo, ou quando necessário, arredonde a semana gestacional. Exemplo: Se uma gestante estiver com 14 semanas e 1, 2 ou 3 dias, deve-se arredondar para 14 semanas. Já se estiver com 14 semanas e 4, 5 ou 6 dias, arredonda-se para 15 semanas. 3. Transfira o valor do IMC calculado para a curva de IMC para gestantes, conforme apresentada no gráfico 1. Quando encontrar a junção dos pontos entre IMC e semana gestacional, terá o diagnóstico da gestante. 4. Classifique o diagnóstico como baixo peso (BP), adequado (A), sobrepeso (S) ou obesidade (O). Conforme sugerido pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2018), o IMC gestacional deve ser acompanhado e registrado na Caderneta de Saúde da Gestante, conforme demonstrado na gráfico 1. Gráfico 1 – Acompanhamento nutricional da gestante por semana gestacional (IMC) Fonte: Brasil (2018). 34 Outro método de avaliação e acompanhamento é verificar o ganho de peso da gestante conforme o IMC pré-gestacional, cumprindo as seguintes etapas: 1. Cálculo do IMC pré-gestacional; 2. Verificação da recomendação em quilogramas por trimestre de gestação; 3. Cálculo de quanto a gestante já teve de ganho de peso, comparando com a recomendação; 4. Fornecimento de orientações nutricionais para a gestante. Para a etapa 2, de acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2011), as diretrizes para o ganho de peso ideal conforme o trimestre gestacional são apresentadas na tabela 5. Tabela 5 – Ganho de peso (em quilogramas) recomendado durante a gestação Fonte: Brasil (2011). Diagnóstico nutricional da gestante O período reprodutivo da mulher é um momento especial por gerar uma nova vida, mas ao mesmo tempo requer muitos cuidados em relação à nutrição e aos riscos de desenvolvimento de doenças podendo afetar tanto a saúde materna quanto a da criança. A nutrição desempenha uma importante função nesse contexto, sendo um 35 fator de risco modificável e também um fator que ajuda a mitigar os quadros de desnutrição, obesidade e controle de doenças. O ideal seria se a gravidez fosse sempre planejada no qual a saúde materna fosse rastreada e possíveis riscos minimizados. Além disso, o mundo todo vem passando por mudanças no perfil da alimentação, tendo ocorrido um aumento no consumo de alimentos com alta densidade calórica e pobres em micronutrientes. Aliada a baixos índices de atividade física, essa tendência levou a uma mudança no estado nutricional de boa parte da população. Mesmo ainda existindo desnutrição em algumas regiões do mundo, a obesidade vem ganhando destaque na saúde pública (MIELE et al., 2021). Logo, é importante e necessário que o diagnóstico do estado nutricional de gestantes seja realizado o mais breve possível, para possibilitar orientações nutricionais mais adequadas e eficientes. O Ministério da Saúde recomenda que a classificação do estado nutricional de gestantes seja realizada usando o critério de IMC por semana gestacional, conforme apresentado anteriormente no gráfico 1 (BRASIL, 2011). Lactação Durante a lactação, assim como em outros momentos fisiológicos, o estado nutricional deve ser avaliado segundo indicadores antropométricos, dietéticos, bioquímicos, clínicos e funcionais. Ainda que uma importante limitação seja a ausência de padrões de referência para este momento (DAL BOSCO; CONDE, 2013). Atribui-se ao leite materno a prevenção de mais de 6 milhões de mortes em crianças menores de 12 meses a cada ano. Se a amamentação adequada (exclusiva até 6 meses e parcial até o final do primeiro ano de vida) fosse praticada universalmente, mais de 2 milhões de mortes (de um total de 9 milhões) poderiam ser evitadas ( ALVES,2010). No quadro 5 é apresentado as vantagens do aleitamento materno. 36 Quadro 5 – Vantagens do aleitamento materno. Fonte: Alves (2010). Observe que são muitas as vantagens em relação à saúde física da mãe e do bebê, porém tão nobres quanto essas são as vantagens em relação ao vínculo afetivo e emocional fortalecido entre mãe e filho. A perda de peso após o parto é geralmente maior nos primeiros três meses e naquelas que amamentam ao seio exclusivamente. A taxa média de perda de peso esperada durante a lactação é de 0,5 a 1 Kg/mês. Estudos mostram nutrizes com sobrepeso podem perder até 2 Kg/mês sem prejuízos no volume de leite produzido e no crescimento da criança, não sendo recomendadas perdas superiores a este valor. Dietas com redução de 500 Kcal/dia associadas a exercícios físicos proporcionam perda de peso e de massa gorda, sem efeitos no volume e composição do leite bem como velocidade de crescimento (DAL BOSCO; CONDE, 2013). A perda de peso segura recomendada durante a lactação encontra-se na tabela 6: 37 Tabela 6 – Perda de peso durante a lactação. Fonte: Schuch (2010). A avaliação nutricional de mulheres que amamentam é baseada no controle de peso e no cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) (lembre-se: IMC = Peso (Kg)/Altura(m2 ). Deve-se atentar para cuidados específicos em mulheres com IMC abaixo de 20,3Kg/m2 com 1 mês de pós-parto, pois são consideradas de baixo peso podendo comprometer a produção de leite e as reservas nutricionais (ALVES, 2010). Em populações subdesenvolvidas, com extremo grau de desnutrição, já foram demonstradas variações na composição do leite resultantes de uma baixa disponibilidade de alimentos, perda de peso pós-parto e depleção dos estoques de energia maternos. Isso também é observado em populações bem nutridas onde a composição do leite humano é afetada pela alimentação da mãe (variações no conteúdo total de gorduras, vitaminas entre outros, em função da ingestão materna), porém nunca o suficiente para torná-lo inadequado para o bebê. De maneira geral, espera-se perda de peso materna gradativa ao longo dos 6 meses de amamentação exclusiva, pois há um gasto energético intenso para produção de leite diariamente. As reservas maternas acumuladas durante a gestação são utilizadas para a produção de leite, cuja produção média é algo em torno de 850ml/dia nos primeiros 6 meses. Neste período, a recomendação é manter a alimentação balanceada, com alimentos que já são hábituais. Dietas restritivas podem afetar a produção de leite e contribuir para o desmame precoce. Recomenda-se um adicional de 500Kcal diárias na alimentação da nutriz para garantir boa produção de leite, com exceção das que já estão de sobrepeso ( SCHUCH, 2010). 38 Quanto às crendices de que a produção de leite é afetada por determinados alimentos (canjica, cerveja preta, cuscuz), os profissionais de saúde que prestam assistência às nutrizes têm por responsabilidade esclarecer estas ideias, em alguns casos podem ser prejudiciais ao balanceamento e ao valor nutritivo das refeições. Não se deve incentivar o consumo de álcool, nem fumo e orientar a quantidade permitida de café (máximo 100ml/dia). Portanto o que contribui para uma boa produção de leite é simplesmente alimentação quantitativa e qualitativamente balanceada, com alimentos variados e de todos os grupos, boa ingestão hídrica com mínimo de 4 copos de água/dia, ambiente tranquilo, mãe emocionalmente segura e certa de sua capacidade de amamentar. A produção de leite é afetada negativamente por dietas hipocalóricas e estresse materno. Há uma preocupação atual quanto ao conteúdo de ácidos graxos essenciais da família ômega-3 no leite materno, tendo em vista os inúmeros benefícios no desenvolvimento do sistema nervoso e da retina da lactente. Há estudos que comprovam o aumento da ingestão pela mãe de alimentos ricos nesta gordura promove incremento nas quantidades presentes no leite materno. Incentivar, portanto, a ingestão de peixes 3 vezes por semana, sendo a sardinha uma opção barata e acessível. Outras fontes são o salmão,arenque, cavala, tilápia e atum. 3.2 Avaliação nutricional de recém-nascidos, lactentes e pré-escolares A avaliação nutricional de recém-nascidos, lactentes e pré-escolares se dá a partir da análise e interpretação de parâmetros relacionados à história nutricional e alimentar, ao exame físico, à antropometria e ao exame bioquímico desses grupos etários. A situação alimentar e nutricional de pacientes pediátricos é diagnosticada, principalmente, em razão do acompanhamento do padrão de crescimento desta população, que tem seu desenvolvimento intimamente vinculado às condições de saúde e nutrição. Sendo assim, a avaliação nutricional adequada na infância, torna- se, ainda, mais importante, pois pode atuar no tratamento precoce e no apoio à prevenção de distúrbios de cunho alimentar e nutricional, bem como no risco de morbimortalidade (BRASIL, 2002). 39 Recém-nascido é o termo utilizado para denominar a criança desde o seu nascimento até o 28º dia de vida. Esta fase se caracteriza pelo período neonatal, no qual a maturidade neurológica é um importante indicador da idade gestacional e da atenção que deverá ser dada. Neste momento da vida estão presentes, principalmente, os reflexos generalizados e involuntários (BRASIL, 2011). Além do acompanhamento quanto à evolução do crescimento e do peso, são priorizadas as informações relativas aos cuidados gerais do neonato que, por vezes, não são de conhecimento aprofundado dos pais e cuidadores. Com intuito de ajudar neste processo inicial, o serviço de saúde oferece a chamada caderneta de saúde da criança, desenvolvida pelo Ministério da Saúde. A caderneta da criança é, geralmente, utilizada já na maternidade a fim de favorecer o registro de dados referentes aos primeiros dias de vida, como também o armazenamento seguro e concentrado das informações relevantes durante todo o período da infância, até os nove anos. Os pais terão posse de um documento completo sobre o crescimento e desenvolvimento da criança que deverá ser preenchido a cada atendimento pediátrico, reunindo as curvas de crescimento, os esquema de vacinação e as mais variadas orientações de cuidado em saúde para cada fase desse estágio da vida (BRASIL, 2018a, 2018b). A história ou anamnese nutricional global contempla questões relacionadas ao histórico de saúde e doença dos familiares da criança e de cunho socioeconômico e cultural, bem como sobre o estilo de vida da família e o vínculo do binômio mãe e filho. No que diz respeito à qualidade de vida da família, questiona-se sobre as condições de moradia, saneamento, escolaridade e ocupação dos pais ou cuidadores. Informações sobre a gestação devem ser levantadas, como a realização de consultas durante o pré-natal, intercorrências ao longo da gestação, o uso de medicamentos, suplementos vitamínicos, álcool e drogas. A respeito do próprio recém-nascido, se procura conhecer a idade gestacional, o peso ao nascer e as possíveis intercorrências perinatais. Aspectos relacionados à presença e frequência de regurgitações, bem como ao hábito intestinal e aspecto das fezes devem ser questionados aos pais ou cuidadores. Nesta fase, com relação à história alimentar, é necessário que o profissional de saúde priorize informações sobre o aleitamento materno, podendo, inclusive, ocorrer 40 a observação sobre a mamada com a finalidade de ajustar e corrigir possíveis dificuldades ou problemas relacionados ao posicionamento, pega e sucção durante a amamentação. Ainda, sobre a alimentação, é importante saber se o aleitamento materno é exclusivo e de livre demanda ou se o bebê já recebe, equivocadamente, algum outro tipo de alimento (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2009). Exame físico No exame físico, ocorre a inspeção, palpação, percussão e a auscultação do corpo do indivíduo por um profissional treinado. No exame físico nutricional do recém- nascido, pode-se observar características relativas a distúrbios nutricionais por deficiência ou excesso de origem proteica e energética. De acordo com Taddei (2011) a desnutrição do tipo marasmática é a mais comum no primeiro ano de vida, sendo representada por um emagrecimento importante, com a presença de perda de massa muscular. A apatia, falta de energia e vigor, também, são encontrados em casos graves de desnutrição. Características como cabelos finos podem estar presentes, mas, no recém-nascido, esta observação pode ser dificultada pelo fato da pouca quantidade de cabelo que, no geral, igualmente apresenta um aspecto naturalmente fino. Com relação à obesidade, de maneira oposta, ela é caracterizada pelo excesso de peso e de gordura corporal. A anemia ferropriva é um tipo de carência nutricional ocasionada pela deficiência de ferro. Nos recém-nascidos, ela não costuma ocorrer, porém os recém nascidos prematuros ou de baixo peso se caracterizam como grupo de risco para o desenvolvimento de deficiência desse mineral, dado que o ferro é transportado para o feto no último trimestre de gestação. Outras carências nutricionais como a hipovitaminose A e carência de iodo podem ser presentes no recém-nascido, porém suas consequências são observadas a longo prazo. Seus sinais e sintomas não são passíveis de constatação, quando a criança é ainda recém-nascida (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2009). 41 Antropometria A antropometria é o parâmetro mais utilizado na avaliação nutricional de recém- nascidos. Com relação a esta avaliação, medidas como estatura, peso, perímetro cefálico e torácico são as mais indicadas nas primeiras semanas de vida. Em crianças de até dois anos de idade é medido o seu comprimento deitado, utilizando-se de um infantômetro ou uma régua antropométrica. A determinação do peso, imediatamente, após o nascimento, com a balança pediátrica, se caracteriza como o primeiro instrumento de avaliação nutricional. Tal medida aponta para possíveis problemas de cunho nutricional que podem ter ocorrido durante a gravidez. Portanto, o peso ao nascer reflete tanto a saúde da mãe, quanto a saúde do concepto, sendo associado à mortalidade infantil e à desnutrição peso menor que 2.500 gramas, referindo-se à classificação baixo peso ao nascer (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1995). Confira no Quadro 4 a classificação dada com relação ao peso dos recém-nascidos ao nascer. Quadro 4 - Classificação do peso ao nascer. Fonte: Adaptado de World Health organization (1995). A prematuridade e o deficit de crescimento intrauterino são situações responsáveis por um baixo peso no nascimento. Diversas são as causas que justificam um crescimento intrauterino insuficiente, como por exemplo o cigarro, álcool, entre outras drogas, hipertensão arterial, doenças infecciosas, idade materna, estado nutricional alterado da gestante, curto intervalo entre partos, entre outras. Com relação à prematuridade, esta é assim chamada, quando a gestação não ocorre dentro do tempo previsto como normal para uma gestação (abaixo de 37 semanas). Por isso, recém-nascidos prematuros ou pré-termos podem ser 42 classificados como pequenos para a idade gestacional, já que não houve tempo suficiente para o crescimento adequado. Aqueles prematuros que atingem um peso satisfatório para a idade gestacional apresentam melhor prognóstico de saúde. Os recém-nascidos considerados a termo (gestação igual ou superior a 37 semanas), também, podem apresentar crescimento restrito no útero e, portanto, acabam classificados como pequenos para a idade gestacional. Eles necessitam de maiores cuidados, pois demonstram maior risco de distúrbios nutricionais, seja de curto ou longo prazo (LOPEZ; CAMPOS, 2007). O peso ao nascer é reduzido de 5 para 10% logo após o nascimento, contudo, o reestabelecimento do peso perdido ocorre de 8 a 10 dias. Para se ter um bom acompanhamento do ganho, no primeiro mês de vida, é precisoestar atento às variações de peso do recém-nascido sendo importante o conhecimento, também, do peso da alta hospitalar. O perímetro cefálico é medido ao redor da cabeça com fita métrica inelástica, sobre o occipício (parte posterior da cabeça), em seu ponto mais proeminente, acima da crista supra-orbitária (parte frontal da cabeça). Valores de referência relativos à mediana (percentil 50) do perímetro cefálico. Alterações de dois desvios padrões para baixo ou para cima, nesta variável, podem indicar problemas de cunho nutricional ou não nutricional. Esta medida é, geralmente, utilizada até o 2º ano de vida e diagnostica patologias, como a microcefalia e a hidrocefalias, bem como retardo no crescimento e desenvolvimento provenientes de prematuridade e má nutrição ( VITOLO, 2008). O perímetro torácico pode ser utilizado de maneira isolada, mas é também uma medida associada ao perímetro cefálico como indicador de desnutrição. Com o uso de fita métrica inelástica, o tórax é mensurado na altura dos mamilos, de modo que se forme um ângulo reto com a coluna vertebral. A relação entre perímetro torácico e perímetro cefálico, basicamente, é igual a um até os seis meses de vida. Uma relação inferior a um é indicativo de desnutrição energético-proteica (VASCONCELOS, 2008). Exame bioquímico No recém-nascido, os exames bioquímicos pertencentes à complementação da avaliação nutricional são limitados, principalmente, no que diz respeito à 43 disponibilidade de pontos de corte definidos para esta faixa etária em específica. A análise laboratorial de proteínas totais e suas frações são passíveis de se realizarem, contudo, apresentam restrições, especialmente, para os pré-termos (BROCK; FALCÃO, 2008). Avaliação nutricional do lactente A criança considerada lactente é aquela que utiliza o leite materno como alimentação recomendada, exclusiva ou não, até os dois anos de idade. Mesmo que o recém-nascido receba leite materno, ele apresenta uma classificação etária específica (0‒28 dias), sendo assim, lactente é aquele no qual se encontra na faixa entre os 29 dias de nascido até completar 2 anos de idade. Este é o período da vida conhecido como primeira infância, acontecem rápidas e importantes transformações no âmbito neuropsicomotor (BRASIL, 2002). Com relação ao crescimento normal, durante este estágio da infância, se tem a permanência de um crescimento elevado, embora inferior ao encontrado na fase intrauterina. Durante seu primeiro ano de vida, especialmente nos primeiros seis meses, a criança apresenta maior velocidade de crescimento. Esta velocidade diminui, a partir do segundo ano, mas segue importante até os cinco anos de idade. O lactente se encontra na fase mais vulnerável com relação ás alterações do crescimento. Tais alterações são, predominantemente, de caráter nutricional e ambiental. Condições desfavoráveis que gerem desnutrição, por exemplo, podem afetar a velocidade de crescimento ou até interrompê-la. Caso o déficit de crescimento ocorra no 1º ano de vida ou até mesmo no 2º, ele é suscetível de ser totalmente recuperado (crescimento compensatório — catch up) (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2009). Exame físico O exame físico nutricional empregado nesta fase diz respeito aos possíveis sinais e sintomas apresentados pelo lactente podendo ter correlação com o estado de alimentação e nutrição. Com relação à desnutrição, a mais predominante é a do tipo marasmo, que é caracterizada por deficiência energética proteica equilibrada 44 acompanhada de deficiência no crescimento e no peso, atrofia muscular, ausência de gordura subcutânea e caquexia. Considerando a obesidade, o excesso de peso é a característica mais marcante e passa a ser comum nesta fase, em que há a introdução de alimento sólidos, muitas vezes, ultraprocessados, como aqueles consumidos pelos adultos da família (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2009). Os distúrbios nutricionais relacionados às vitaminas e aos minerais podem ser mais ou menos aparentes dependendo da gravidade relativa à deficiência ou ao excesso. Antropometria Com relação à avaliação antropométrica, o peso do lactente é avaliado em balança pediátrica mecânica ou eletrônica e o comprimento, em decúbito dorsal, é mensurado por meio do infantômetro ou da régua antropométrica. Em referência ao peso, o cálculo do seu incremento, em lactentes, é um indicador utilizado na avaliação nutricional. É, também, com base nesse incremento que as condutas alimentares podem ser definidas e ajustadas. Durante os primeiros meses de vida, o incremento de peso, em gramas, por dia, deve ser analisado de acordo com os valores de normalidade propostos para ganho ponderal. Ganho ponderal inferior aos valores médios determinados indicam motivo de preocupação e vigilância em relação à situação nutricional e, consequentemente, ao crescimento e desenvolvimento do lactente. A seguir, veja os valores médios para ganho ponderal (g/dia) adequado em lactentes (LOPEZ; CAMPOS, 2007): 1º trimestre: 700 g/mês — 25 a 30 g/dia; 2º trimestre: 600 g/mês — 20 g/dia; 3º trimestre: 500 g/mês — 15 g/dia; 4º trimestre: 300 g/mês — 10 g/dia. Os chamados referenciais antropométricos da infância se apresentam, basicamente, em forma de gráficos e tabelas construídos, a partir de pesquisas populacionais com indivíduos saudáveis. Estes estudos são realizados com a 45 finalidade de desenvolver parâmetros de referências, também conhecidos por valores de normalidade para medidas antropométricas. Elas serão utilizadas como base para comparação dos valores de uma criança ou grupo que se deseja avaliar. Com base nesses valores foram desenvolvidas, portanto, curvas de distribuição do crescimento específicas para sexo e faixa etária que associam medidas entre si ou medidas e dados demográficos, como a idade. As curvas de crescimento desenvolvidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) preveem os seguintes indicadores para fim de diagnóstico nutricional: peso por idade, estatura por idade, peso por estatura e Índice de Massa Corporal (IMC) por idade. Quanto ao perímetro cefálico, é medido com o uso de fita métrica inelástica da mesma maneira como é mensurado em recém-nascidos. O mesmo ocorre a respeito da medição do perímetro torácico. No que diz respeito à classificação do estado nutricional com base na relação entre o perímetro torácico e o perímetro cefálico, a partir dos seis meses de vida até os cinco anos, a relação será sempre superior a um. Valores inferiores a um caracterizam-se como indicativo de desnutrição proteica e energética (VASCONCELOS, 2008). A partir do primeiro ano de vida, contemplando, portanto, os lactentes, são previstos valores de referência relativos à medida de circunferência do braço ou circunferência braquial. Segundo a circunferência do braço, é possível determinar a área muscular, com base, também, na utilização de dobras cutâneas, como a dobra tricipital (FRISANCHO, 1981; VITOLO, 2008). Valores de normalidade para a dobra cutânea subescapular, além da dobra cutânea tricipital foram estabelecidos pela OMS para crianças a partir dos três meses de idade (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1995). Exame bioquímico Com relação aos exames laboratoriais observando o estado nutricional dos lactentes, nem todos os parâmetros bioquímicos apresentam pontos de corte definidos para crianças até dois anos de idade. Além disso, o nutricionista deve estar atento às queixas, aos sinais e aos sintomas apresentados pelo indivíduo com o intuito de utilizar esta ferramenta de forma complementar em sua avaliação nutricional. 46 Alguns poucos parâmetros estão estabelecidos para recém-nascidos, ou seja, desde o nascimento até o primeiro mês de vida, enquanto outros estão estabelecidos para lactentes, pré-escolares, escolares e adolescentes.As possíveis deficiências, bem como os excessos de vitaminas e oligoelementos, que comprometem o correto funcionamento do organismo humano podem ser silenciosas no período inicial do quadro. Antes mesmo do aparecimento dos sinais clínicos, os exames bioquímicos são capazes de detectar no sangue as alterações relativas, por exemplo, à inadequação da ingestão ou à absorção de um dado nutriente. Por esse motivo, tem-se o exame bioquímico como ferramenta relevante na prevenção ou tratamento antecipado de distúrbios nutricionais em grupos notoriamente de risco. Contudo, deve-se ter atenção às condições clínicas e de saúde da criança antes da prescrição do exame, já que situações, como a presença de resposta inflamatória ou desequilíbrio hídrico podem alterar, consideravelmente, os resultados dos biomarcadores solicitados (VITOLO, 2008). Avaliação nutricional do pré-escolar Pré-escolar é a classificação etária recebida por crianças de dois a seis anos. Este estágio da infância, também, se caracteriza como segunda infância e revela uma autonomia de caráter neuromotor com o aperfeiçoamento de aspectos comunicativos e locomotivos (BRASIL, 2002). No período que transita entre o 3º ano e o início da puberdade, a criança apresenta uma velocidade de crescimento mais estável no qual demostra, de forma mais íntima, aos aspectos genéticos e hormonais do que aos ambientais. Se até o 2º ano de vida um possível deficit nutricional apresenta grandes chances de ser compensado em termos de crescimento e desenvolvimento, na fase acima dos dois anos de idade a ocorrência de adversidades e uma consequente desnutrição podem apontar para uma reversão menos intensa e provável. A criança se apresenta em constante crescimento e desenvolvimento, o crescimento infantil é um processo dinâmico que é realizado ao longo do tempo e deve ser observado e quantificado diante de múltiplas medidas, em várias ocasiões, seguindo orientação conforme a idade, o gênero e a fase de crescimento. https://www.sinonimos.com.br/notoriamente/ 47 Peso: é uma medida de relevância em pediatria devido à fácil obtenção e pela alta sensibilidade durante os agravos nutricionais agudos e crônicos (WEFFORT; LAMOUNIER, 2009). Estatura: essa medida reflete o estado nutricional atual e pregresso, e sofre alteração e recuperação mais lentas (WEFFORT; LAMOUNIER, 2009). Perímetro Cefálico (PC) e torácico (PT): o perímetro cefálico é uma medida bem utilizada em pediatria no rastreio de microcefalia, macrocefalia ou hidrocefalia. Em termos de avaliação nutricional esta medida só tem valor quando associada ao perímetro torácico como indicador de proporção (PT/PC). Ao nascer, a criança apresenta PT e PC praticamente idênticos (PT/PC = 1). De seis meses até os cinco anos, esta relação deve ser superior a 1 (PT/PC >1). Quando a relação é inferior a um pode-se suspeitar de uma desnutrição energético-proteica (DAL BOSCO, 2013). Perímetro Braquial: a avaliação nutricional baseada no perímetro braquial é útil como instrumento de triagem de crianças de 1 a 5 anos, quando não é viável a aferição do peso e estatura (DAL BOSCO, 2013). Circunferência Abdominal: na infância e na adolescência os riscos associados ao excesso de gordura abdominal ainda estão pouco definidos. Nos casos de obesidade encontrou-se correlação com morbidades como hiperinsulinemia de jejum e o aumento das lipoproteínas plasmáticas (WEFFORT; LAMOUNIER, 2009). Situações Especiais: para crianças com paralisia cerebral e síndrome de down, deve-se utilizar as curvas de crescimento específicas para essas populações, visto que atendem suas peculiaridades e especificidades. 3.3 Avaliação nutricional adolescentes A adolescência é uma fase que se caracteriza por mudanças, entre elas o estirão de crescimento e as alterações na composição corporal. Todas acontecem associadas ao processo de maturação sexual, sendo a idade cronológica dos acontecimentos podendo variar entre os indivíduos, visto depender de processos genéticos, hormonais e ambientais. São considerados adolescentes para os critérios 48 de avaliação nutricional no Brasil, independente do estágio do desenvolvimento puberal, indivíduos de 10 a 20 anos de idade (PRIORE et al, 2010). Nesta fase há aumento de quase todos os órgãos e segmentos corporais, sendo que aproximadamente 20 % da estatura e 50% do peso do adulto são ganhos nesse período. Os indicadores utilizados para avaliar o estado nutricional de adolescentes são os mesmos para as crianças, porém os critérios de aplicação e interpretação dos dados são mais complexos. Adolescentes da mesma idade e sexo podem se encontrar em diferentes estágios de maturação sexual, o que torna difícil a elaboração e utilização de referenciais que privilegiam a grande variação individual quanto à época de aparecimento dos acontecimentos pubertários. Na adolescência, o IMC é mais adequado do que o peso/altura e peso/idade, pois parece refletir melhor as mudanças da forma corporal. O perímetro braquial e as dobras cutâneas, como a do tríceps, podem ser medidas complementares, permitindo melhor avaliação da gordura corporal. Os passos para o diagnóstico individual são: avaliar o adolescente, considerando sua idade em anos e o sexo; proceder à avaliação do IMC em percentis e avaliar o estágio de maturação sexual, segundo os critérios de Tanner (1962). A tabela 7 demonstra as possibilidades para a classificação do estado nutricional de acordo com os percentis do IMC. Tabela 7 – Possibilidades para a classificação do estado nutricional Fonte: Frisancho (1990), OMS (1995), Sisvan (2004). A adolescência é um período marcado por alterações na composição corporal, sendo a puberdade o principal fator determinante das mudanças físicas. Tais mudanças são caracterizadas por aumento do peso, de massa magra e mineral óssea 49 em ambos os gêneros, contudo, o ganho de massa magra é maior no gênero masculino, ao passo que o de gordura é geralmente maior nas meninas. Vários métodos podem ser utilizados para avaliação da composição corporal, entre eles a pesagem hidrostática, tomografia computadorizada, determinação de potássio 40, Oxigênio 18, creatinina urinária, impedância bioelétrica e antropometria. Os métodos antropométricos têm a vantagem de serem inócuos, de baixo custo e de fácil manuseio e transporte. As dobras cutâneas, por exemplo, têm a vantagem sobre as medidas de peso e as circunferências pelo fato de medir mais diretamente a gordura subcutânea (PRIORE et al, 2010). 3.4 Avaliação Nutricional do Adulto A avaliação nutricional completa do adulto abrange, como nos outros ciclos da vida, parâmetros antropométricos, clínicos, bioquímicos e dietéticos. A depender do objetivo do profissional de saúde e das condições de atendimento (unidades de saúde ou nas residências/comunidades) faz-se a escolha de um ou mais métodos associados. Para o rastreamento de doenças crônicas, as aferições dos níveis de pressão arterial e dosagens de glicemia de jejum e do perfil lipídico devem fazer parte das rotinas, quando possível. A avaliação nutricional, nos diferentes ciclos de vida, abrange parâmetros que devem ser avaliados e analisados em conjunto, para que se estabeleça o diagnóstico nutricional preciso e, com isso, seja estabelecido o plano de intervenção mais adequado. Tais parâmetros são compostos por avaliações da história clínica, exame físico e antropométrico, além de parâmetros bioquímicos. Por se tratar de uma avaliação individualizada, a determinação dos parâmetros, que serão utilizados, irá depender do objetivo do profissional de saúde e das condições de atendimento. Estabelecidas essas condições, o nutricionista irá realizar a escolha de um ou mais métodos associados. 50 História clínica De acordo com Silva (2000) para a definição
Compartilhar