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Trabalho NP1

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David Myers em sua obra “Psicologia” 9ª ed. 2012, no capítulo 6, págs.173 a 217, 
aborda o tema “Sensação e Percepção”. Dentro do escrito, foi possível a compreensão dos 
diversos processos e mecanismos vinculados ao nosso corpo e como tais processos são 
apresentados na prática. 
Partindo de sua obra, serão analisados e relacionados, dois contos de autoria do 
renomado médico e professor de neurologia e psiquiatria, Oliver Sacks “A Mulher 
Desencarnada” e “O Homem que confundiu sua mulher com um chapéu”. 
No livro “O homem que confundiu sua mulher com um chapéu”. São Paulo: Cia das 
Letras, 1997. 1ª Ed. de Oliver Sacks, ele apresenta uma narrativa cômica e ao mesmo tempo 
técnica no âmbito da medicina, dada não só ao público voltado a área da saúde, mas também, 
como complemento e lição à todos aqueles em busca de leitura enriquecedora e de qualidade, 
é nesta obra que está o conto que dá nome ao livro e, relata a história de um homem chamado 
Dr. P. que sofre de Agnosia visual, um tipo de perda de visão da mente, em que a pessoa vê o 
objeto, uma pessoa, porém, não sabe seu significado ou de quem se trata. É por meio dessa 
narrativa que será possível estabelecer uma relação entre sensação e percepção. 
Primeiramente, entende-se por sensação, o processo fisiológico de ligação entre o 
ambiente e o organismo, mais precisamente, entre o sistema nervoso e estímulos do ambiente 
que estamos inseridos. Segundo Myers (2012) entendemos isso também como processamento 
bottom-up, ou de baixo para cima, ou seja, os receptores sensoriais analisam determinado 
estímulo e os enviam para uma integração cerebral desta informação sensorial. Isto, nada mais 
é que, “sentir na pele” e “compreender no cérebro”. Sentir e compreender, são palavras 
chaves no entendimento de sensação e percepção, visto que, uma está ligada a outra e quando 
há uma “falha” nessa ligação, vemos casos como o de Dr. P. A percepção caracateriza-se 
como o processo de organização de nossas experiências ou informações sensoriais, por meio 
da integração cerebral dessa informação, ou ainda segundo Myers (2012) processsamento top-
down, de cima para baixo, um nível mais elevado de compreensão da mente que guardamos 
resoluções ou memórias prévias, um exemplo seria a construção da percepção com base em 
nossas expectativas e experiências. O conto de Oliver Sacks mostra no seguinte trecho, a 
“falha” desses mecanismos apresentada pela doença de Dr. P : (...) Naturalmente, o cérebro é 
uma máquina e um computador — tudo o que afirma a neurologia clássica é correto. Mas 
nossos processos mentais, que constituem nosso ser e vida, não são apenas abstratos e 
mecânicos, mas também pessoais, e nisto envolvem não só classificar e categorizar, mas 
também continuamente julgar e sentir. Se estes dois últimos estão ausentes, nos tornamos 
semelhantes aos computadores, como era o dr. P. E, analogamente, se apagamos o 
 
sentimento e o discernimento, o pessoal, das ciências cognitivas, nós as reduzimos a algo tão 
defectivo quanto o dr. P. — e reduzimos igualmente nossa apreensão do concreto e real. (...). 
Vemos então que há uma “perda” nos processos sensoriais de Dr. P, que posteriormente 
ocasionam percepções distorcidas, ele não mais reconhece rostos, tem dificuldade em 
reconhecer objetos e até a própria mulher, porém não perde sua identidade, não está louco, 
mas já não é o mesmo homem. Há somente uma identificação de sons, cheiros e gostos, é essa 
a realidade enfrentada por Dr. P. Não há um processamento efetivo de suas sensações e 
posterior percepções (...) nós "vemos" como as coisas são em relação umas às outras e a si 
mesmas. Era precisamente essa disposição, esse estabelecimento de relações que faltava ao 
dr. P. (...). 
No mesmo livro “O homem que confundiu sua mulher com um chapéu”, porém em 
outro conto “A mulher desencarnada”, Christina, paciente de Sacks, sofre de Polineurite 
aguda, um tipo excepcional em que a paciente passa a ter um déficit proprioceptivo, a 
propriocepção é a percepção do próprio corpo, e inclui a consciência da postura, do 
movimento, das partes do corpo e das mudanças no equilíbrio, além de englobar as sensações 
de movimento e de posição articular (Kandel, Schwartz,Jessell, 2003). É disso que se trata a 
doença de Christina, ela não possui um reconhecimento da localização espacial de seu corpo. 
Depois de ser internada e tomar antibióticos como pré operatórios, ela sonha que perde seus 
movimentos, como se seu corpo morresse e sua mente, sua essência, continuasse viva. Ela 
sente-se desencarnada, fora da carne, por não identificar mais seu corpo, ilustremos no 
seguinte trecho: (...) Christina não consegue encontrar palavras para descrever esse estado, e 
só pode usar analogias derivadas de outros sentidos: "Sinto que meu corpo está cego e surdo 
para si mesmo... ele não tem o senso de si mesmo" — declaração dela. (...), portanto, é visível 
que houve uma perda sensorial e peceptiva em grande escala, assim como falado 
anteriormente, a sensação é processada pelos estímulos externos que posteriormente são 
enviados ao nosso sistema nervoso e processados ou percebidos por ele, atribuindo 
significado aos nossos sentidos básicos, podemos citar a linguagem, tato, paladar, audição, 
visão e até o próprio ato de caminhar, enfim, fazemos todos os processos aparentemente 
involuntários de quase qualquer ser humano. Cristina não mais adquire, interpreta e organiza 
suas sensações no cérebro como antes, há uma espécie de cegueira corporal. (...) O senso do 
corpo, expliquei-lhe, é dado por três coisas: a visão, os órgãos do equilíbrio (sistema 
vestibular) e a propriocepção — a qual ela perdera. Normalmente, os três trabalham juntos. 
Se um falhar, os outros poderão compensar ou substituir. (...), o trecho mostra como Cristina 
usa sua visão para poder viver dentro de sua atual condição. Ela não sentia mais, porém seu 
 
corpo era ainda reconhecido por meio de sua visão, por exemplo, seus braços poderiam ser 
controlados desde que ela mantivesse seus olhos nele, do contrário, era como se eles não 
existissem ou estivessem fora de seu corpo, não podendo assim, controlá-los. Foi assim, com 
o desenvolvimento de outras habilidades sensoriais, que Cristina adaptou-se a nova realidade, 
por meio de um tratamento, ela passou a ter uma leve percepção de alguns sentidos mas ainda, 
realizava atividades como sentar e andar de maneira treinada e vigilante. 
Assim, conclui-se que sensação e percepção são mecanismos distintos e similares ao 
mesmo tempo, por meio de um processo mental inegavelmente incrível, entendemos isso por 
meio do princípio da Gestalt, onde ambas as histórias demonstram que o que fazemos no 
nosso cérebro, nada mais é do que “pegar” pequenas partes de mundo que observamos e uni-
las para formar estruturas distintas. Esse mecanismo é involuntário, sempre que vemos, 
sentimos ou ouvimos algo. De acordo com a teoria da Gestalt, o cérebro não responde 
separadamente aos elementos individuais, mas sim, conecta-os em um processo mecânico de 
associação. O que acontece em ambas as histórias é uma deficiência dos protagonistas em 
preencher as informações que o meio apresenta os apresenta, ocasionando as doenças 
mencionadas. Não poderíamos dizer com total certeza que um sentido é mais ou menos 
importante que o outro, há um complemento em todos os âmbitos, um está ligado ao outro e 
se algum destes falham, os outros “absorvem” suas funções tentando adaptar-se à nova 
realidade. Nossas sensações e percepções acerca do meio que vivemos estão diretamente 
ligadas à nossa visão de mundo e de quem somos, nossa capacidade de interpretação é 
inegavelmente extraordinária, a maneira como nosso corpo e mente se organizam para 
vivermos e convivermosmostra-se quase perfeito, e mesmo dentro de suas falhas, somos 
ainda capazes de nos superar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Referências Bibliográficas 
 
KANDEL, E. R.; Schwartz, J.H.; Jessell, T.M.Princípios da Neurociência. Manole, 2003. 
MYERS, David G. Psicologia - 9ª Ed. LTC. 2012. 
SACKS, O. O homem que confundiu sua mulher com um chapéu. São Paulo: Cia das Letras, 
1997. 1ª Ed.

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