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Teorias da Adolescência Antropologia Cult.

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A Antropologia Cultural e a Adolescência
Durante os últimos anos da década de 20 e em principio da de 30, um grande número de estudos de campo antropológico de sociedades primitivas abriu uma nova dimensão ao pensamento acerca do desenvolvi​mento da personalidade, o processo de socialização e os instintos humanos. Dois livros de Margaret Mead (1901- ). Coming of Age In Samoa (73) e Growing Up in New Guinea (75), são relevantes para nossa análise. Nós nos preocuparemos particularmente com o primeiro, uma vez que se dedica inteiramente ao período da adolescência. 
As descobertas da antropologia cultural constituem um sério desafio às proposições teóricas anteriores - especialmente as de G. Stanley Hall e Sigmund Freud - as quais afirmavam que certos padrões importantes no desenvolvimento e comportamento dos seres humanos são universais e partem da natureza humana. Desde que se conhecia relativamente pouco sobre a estrutura social de sociedades primitivas antes destas investigações antropológicas, as teorias da adolescência tinham muito prontamente presumido que o padrão de desenvolvimento nas culturas ocidentais mais analisadas podia ser identificado com o universo da natureza humana. Por outro lado, os antropólogos culturais foram estimulados em sua teorização e investigações por hipóteses derivadas da psicanálise. Conseqüentemente, a Influência recíproca entre a teoria psicanalítica mais recente e a antropologia cultural tem sido proveito​sa e estimulante. As idéias teóricas dessas duas escolas de pensamento convergiram em notável extensão, durante a última década. O reconhecimento mútuo e a evidência das pesquisas produziram o aparecimento de idéias teóricas, nas quais as posições extremas do determinismo ambiental e do universalismo genético cederam lugar a uma posição intermediária, na qual fatores biogenéticos e forças ambientais são pesados com mais cuidado, e reconhecidos como interagindo mutuamente. Fazendo-se a comparação dos escritos recentes de Erikson (19) e Mead (79) encontra-se um certo grau de acordo que não se poderia imaginar ao se comparar a teoria psicanalítica anterior com os trabalhos dos antropólogos culturais no final da década de 1920 e no início da de 1930. Contudo, para facilitar a compreensão dos argumentos controversos em sua perspectiva histórica, consideraremos em primeiro lugar a posição antropológica inicial, uma vez que ela foi um desafio e um estímulo a muitas teorias evolutivas subseqüentes. As modificações mais recentes serão consideradas a seu devido tempo. 
Coming of Age in Samoa é um estudo empírico de campo. A obra usa a metodologia antropológica, mas não possui uma teoria claramente estabelecida do desenvolvimento adolescente. Contudo, Ruth Benedict (1887-1948) em Continuities and Discontinuities in Cultural Conditioning (7) nos fornece uma teoria explícita do desenvolvimento, do ponto de vista da antropologia cultural. Esta teoria do condicionamento cultural pode ser facilmente relacionada com o estudo da adolescência em Samoa, de Mead. Combinando os trabalhos teóricos de Benedict com o estudo empírico de Mead, pode-se derivar uma exposição sistemática referente à importância dos fatores culturais no processo do desenvolvimento. O "relativismo cultural" - um termo mais apropriado para os primeiros trabalhos de Mead do que para os mais recentes - contribui com novas e importantes idéias para a compreensão dos fenômenos da adolescência. Ele acentua a importância das instituições sociais e dos fatores culturais no desenvolvimento humano e descreve os rituais da pubescência, bem como as experiências dos adolescentes em sociedades primitivas. 
O ser humano mostra muito maior plasticidade que os animais inferiores. Isto justifica o progresso alcançado pelas espécies humanas, bem como as grandes diferenças interculturais. A constituição biológica do homem não determina padrões particulares de comportamento; as células germinais não transmitem cultura. Poucas, ou talvez nenhuma das características humanas são universais; mesmo que universais, tais características podem não ser determinadas biogeneticamente. Uma forma precoce de comportamento condicionado - a que Benedict chama de "traço que vem do berço" - pode ter-se tornado uma instituição universal, como, por exemplo, restrição ao casamento exógamo. (8) 
Benedict oferece uma maneira teórica de relacionar o sistema de vida de uma determinada sociedade ao crescimento e desenvolvimento da personalidade individual. (7) Ela vê o crescimento como um processo gradual e contínuo. O recém-nascido, para sobreviver, depende de outras pessoas. Desta dependência infantil, deve evoluir para um estado de relativa independência; como adulto terá que prover e proteger a sua descendência que então dependerá dele. O padrão pelo qual a criança obtém independência varia de cultura para cultura. Em algumas, tal como a americana, a diferença entre a criança e o adulto é profundamente acentuada por instituições legais e sociais. A mudança de um sistema de relação interpessoal para outro cria a descontinuidade no processo do crescimento. Lewin (que será discutido no Capítulo VII) também atentou para as dificuldades do adolescente em termos da dicotomia existente entre crianças e adultos. 
Um exemplo desta descontinuidade em nossa sociedade é a ênfase na natureza não-sexuada (ou, de acordo com Freud, deveríamos falar da restrição social da expressão sexual da criança) em contraste com as atividades sexuais dos adultos. A criança nunca, ou raramente, assiste a um nascimento, a uma relação sexual, a uma morte; a gravidez é camuflada, a evacuação é velada com pudicícia, à amamentação ao seio feita às escondidas, e as meninas têm sua primeira menstruação sem mesmo saber o que significa. A criança obtém informações muito incompletas sobre o ciclo vital dos sexos. 
Em contraste, a criança de Samoa segue um padrão de crescimento relativamente contínuo. O jovem tem oportunidade de assistir a um parto ou uma morte próxima de casa, e muitos jovens já viram fetos parcialmente desenvolvidos, a abertura de cadáveres, e vislumbres ocasionais de atividades sexuais. A criança não é considerada basicamente diferente do adulto. A vida sexual não é reprimida ou inibida pela sociedade, mas ao contrário, é considerada natural e agradável. Perversão, homossexualidade, promiscuidade e outras atividades sexuais, que devido ao estigma social e moral desviam o desenvolvimento emocional para a neurose na sociedade americana, ou que podem resultar em casamento insatisfatório, são relativamente inofensivas em Samoa; são consideradas como "simples jogo" (73), sem qualquer estigma moral. Na sociedade de Sa​moa, a maioria das experiências segue um curso de desenvolvimento relativamente gradual e contínuo, sem interrupções graves, interferências ou restrições. Em contraste, nas sociedades ocidentais, muitas experiências permitidas aos adultos são proibidas às crianças. Atitudes, valores e habilidades que as crianças, aprenderam devem ser desaprendidos quando se tornam adultos. 
Benedict discute três aspectos específicos de descontinuidade versus continuidade no condicionamento cultural. As maiores mudanças nas sociedades ocidentais ocorrem durante a adolescência. Elas são: 
Papel ou status responsável versos papel não responsável. 
Dominação versos submissão. 
Papéis sexuais contrastantes. (7, p. 143) 
A diferença entre o comportamento contínuo e descontínuo no desenvolvimento do status não-responsável para o status responsável pode ser demonstrada pelo problema ·do trabalho e da diversão. Na sociedade americana, especialmente nas áreas urbanas, trabalho e diversão são considerados separados, distintos. Uma criança não dá qualquer contribuição no sentido de trabalho à Sociedade, pois ela é proibida por lei de fazê-lo. Mas quando os jovens de ambos os sexos atingem a maturidade, devem competir, em pé de igualdade, com os outros adultos. Em algumas sociedades pr1rnitivas, o desenvolvimento do status não-responsável para o responsável é muito mais gradual.Diversão e trabalho não são necessariamente separados; freqüentemente, envolvem as mesmas atividades. Entre os índios Ximenes, o menino recebe o arco e a flecha quando nasce. À medida que cresce, o arco e a flecha vão sendo aumentados proporcionalmente a seu crescimento. Sua primeira contribuição de uma ave para a refeição familiar é celebrada com uma festa. A contribuição do pequeno índio é valorizada e comemorada, mesmo que seu pai tenha trazido um búfalo para casa. Seu status também não muda quando final​mente ele traz para casa um búfalo. (7)
Em Samoa, as meninas, algumas com apenas seis ou sete anos de idade, são responsáveis pelo cuidado e disciplina dos irmãos mais novos. Assim, cada menina se socializa e desenvolve sua responsabilidade por seu precoce envolvimento nos afazeres familiares. Os meninos desde cedo, aprendem tarefas simples como pescar nos recifes e remar, enquanto que as meninas, depois de dispensadas de suas tarefas de babá de seus irmãos e irmãs novos, trabalham nas plantações e ajudam a car​regar os alimentos para o povoado. Nenhuma mudança básica ocorre no período da adolescência; o grau de responsabilidade aumenta e a quantidade e qualidade do trabalho aumentam à medida que a criança se torna fisicamente mais forte e madura. Em nossa sociedade - especialmente nas comunidades urbanas e suburbanas - a mudança da diversão não ​responsável para o trabalho de responsabilidade geralmente ocorre durante a adolescência, antes como uma mudança repentina: Isto é freqüentemente parte dos conflitos adolescentes. 
A diferença entre submissão e domínio é até mesmo maior em nos​sa cultura. A criança deve se libertar de sua submissão infantil e adotar a atitude oposta de domínio na sua fase adulta. ·A submissão à autoridade parental é freqüentemente reforçada por ligações emocionais que serão difíceis de romper mais tarde. A importância que damos ao respeito pela autoridade parental e pela autoridade de· pessoas mais velhas cria fortes elementos de descontinuidade, desde que a criança submissa deve ela própria, tornar-se um pai ou mãe dominante. As piadas típicas americanas sobre maridos dominados pelas mulheres é uma indicação da freqüência do problema e da dificuldade envolvida na realização desta mudança. 
Durante a adolescência, ocorre uma mudança súbita e repentina da submissão para o domínio; freqüentemente, é pequeno o lapso de tempo entre a Saída do adolescente da casa de seus pais, e a formação de sua própria família. Por vezes esta mudança é conscientemente percebida pelo adolescente como sendo uma descontinuidade, pois que ele está a ponto de deixar sua casa, e recebeu pouco treinamento para a independência. De acordo com Erikson, é a "mamãe" que aumenta a diferença entre o estado infantil e o estado adulto, a tal ponto que o ·jovem rapaz e a jovem moça se consideram mal preparados para a vida. (18) Em contraste, algumas sociedades primitivas possuem padrões de condiciona​mento continuo no que diz respeito à submissão e domínio. Benedict re​lata um caso entre os índios Crow, em que um pai se orgulhava da obstinação de seu filho, embora tivesse sido ele, o pai, quem fora ridicularizado. "Ele será um homem" dizia o pai. Teria ficado perplexo ante a idéia de que seu filho devesse mostrar um comportamento que, obvia​mente, o tornaria ridículo aos olhos de seus amigos, se fosse um adulto. (7, p. 145) Na sociedade de Samoa uma menina de seis ou sete anos de idade domina seus irmãos menores como sua ama-seca, mas ela própria pode ainda estar sob o domínio de irmãs mais velhas. Quanto mais velha se torna, mais crianças ela domina e sofre menos o domínio das que a restringiam e disciplinavam. Se o jovem entra em conf1ito com seus pais, ele simplesmente se muda para a casa ou aldeia de seu tio sem qualquer estigma social, moral ou emocional. Os pais têm apenas uma in​fluência limitada sobre os seus próprios filhos, a disciplina é sempre tarefa de um irmão mais velho. Como resultado, a sociedade de Samoa não conhece o forte conflito emocional entre o domínio e a submissão que freqüentemente irrompe durante a adolescência em nossa sociedade. 
Uma descontinuidade de grande importância no ciclo da vida é o fato de que a criança deve assumir uma função sexual orientada para a paternidade: Benedict não nega que a função sexual contrastante tem uma importante fonte biológica na distinção entre a esterilidade antes da pubescência, e p. fertilidade, quando chega à maturidade. Contudo, não é a maturidade fisiológica e sim as instituições sociais que determinam se o contraste entre a função sexual da criança e do adulto é experimento de maneira continua ou descontínua. As instituições sociais e experiências culturais canalizam-se e alteram a influência dos fatores fisiológicos. Nossa cultura dá ênfase à descontinuidade da função sexual. As experiências da infância são censuradas e restringidas e o sexo é considerado uma coisa feia. . Até ao casamento, a virgindade e a abstinência sexual são sustentadas como ideais sociais. Mas na noite de núncias espera-se senslbl11dade sexual. A evidência clínica mostra que a jovem recém casada freqüentemente não pode realizar um bom ajustamento sexual depois do casamento porque fracassou em apagar de sua mente idéias de "perigo" e "pecado" relacionadas ao sexo, que lhe foram incutidas durante a adolescência. Benedict define a continuidade no papel sexual como "nada ensinar à criança que deva ser desaprendido mais tarde". (7, p. 146) Mead, ao descrever o desenvolvimento de uma menina em Samoa, dá um exemplo de padrão continuo de expressão sexual; a menina de Samoa não precisa mais tarde rever seus conceitos sobre sexo. Foi-lhe dada a oportunidade de experimentar e de se familiarizar com o sexo sem quase nenhuma limitação, a não ser um rígido tabu que se levanta contra o incesto. A indulgência parental para com a masturbação também foi observada. A moça pós-pubescente dá vazão "a todos os seus interesses... em aventuras sexuais clandestinas". (73, p. 31) Nenhuma repressão ao sexo é feita, e ela, então, adia o seu casamento para que desta forma possa gozar um período despreocupado de adolescência. Não se conhece desajustamento sexual no casamento; impotência psíquica não ocorre. O adolescente não experimenta conflitos morais, e o que chamamos comportamento de "tempestade e tensão" é dificilmente encontrado em Samoa. 
Esta teoria presume que a descontinuidade na educação da criança resulta necessariamente em tensão emocional, enquanto que o condicionamento cultural que é contínuo por natureza é marcado por um cresci​mento lento e gradual. As sociedades que dão ênfase à descontinuidade do comportamento, são descritas como "sociedades de graduação por ida​de". (7) Nestas sociedades estágios no desenvolvimento da criança podem ser observados, desde que um comportamento diferente é· exigido pela sociedade em idades diferentes. As crianças em um determinado grau de idade são agrupadas em instituições formais tais como escolas ou clubes de escoteiros ou em grupos informais de companheiros. Suas atividades são organizadas em tomo de formas de comportamento consideradas desejáveis para aquele nível de idade. Os indivíduos muitas vezes "passam" de um estágio ou nível de idade para outro com o reconhecimento social e celebrações públicas. 
O Adolescente em Samoa 
Mead se preocupa primariamente com a jovem adolescente. Aqui vai um sumário de sua descrição da transição da infância para a idade adulta na sociedade de Samoa. O padrão samoano de criação infantil não mostra qualquer dos sinais de descontinuidade extremada entre a infância e a fase adulta, que podemos observar na América. A criança samoana nas​ce no seio de uma sociedade tolerante, e a tolerância continua a ser uma característica relevante. Quando a criança se torna adulta, as exigências que recaem sobre ela não aumentam muito; são uma continuação do que lhe era exigido anteriormente. O adolescente não sofre nenhuma quebra brusca de suas atividades e expectativas sociais. O ideal da personalidade em Samoapode ser descrito como sendo conformista, cooperativo, submisso, evitando conflitos e problemas, dando pouca importância ao prestigio pessoal e sucesso material. Esta atitude e a falta de pressão produzem comparativamente menor número de desajustamentos e neuroses do que na América. 
A vida em Samoa é calma, casual e sem sentimentos profundos. Ninguém luta por ideais ou sofre por convicções. Aquele que é talentoso em samoa é contido, e o lento é encorajado; a organização familiar é questão de oportunidade e não envolve nenhuma emoção ou lealdade pro​funda. A esposa pode ir para a casa de seus pais e o marido pode escolher uma nova companheira. A mágoa do adultério pode ser harmoniza​da com a troca de alguns tapetes. A sociedade samoana, em contraste com a americana, é homogênea e mostra pouca indicação de mudança social. Nas relações interpessoais há menos ambigüidade de maneiras do que em sociedades mais complexas. Nas sociedades primitivas os padrões de corte são claramente estabelecidos. Conseqüentemente, uma moça em Samoa, num encontro com rapazes, conhece razoavelmente bem quais serão os efeitos que seu sorriso irá produzir como os rapazes reagirão às suas risadas, ao seu modo de abaixar os olhos ou de passar perto de um grupo pisando levemente. Nos Estados Unidos tal maneira de agir pode ser interpretada de muitas formas, e a reação dos rapazes não pode ser predita com muita precisão. Uma moça que passa sorrindo por entre um grupo de rapazes pode ocasionar uma variedade de reações: embaraço, um eventual sorriso, um flerte, um assovio conquistador, um avanço direto, ou até mesmo ser seguida pelas ruas - "não porque cada rapaz experimente sentimentos diversos para com a moça, mas porque cada qual interpreta de maneira diferente a deixa que ela dá". (76, p. 257) Poucas escolhas têm que ser feitas pela criança ou pelo adulto e estas escolhas têm conseqüências menos severas e podem ser revertidas facilmente. Há apenas uma religião em Samoa, e não dúzias, como nos Estados Unidos. Há somente um padrão moral que inclui muito poucas restrições. O adolescente americano experimenta diversos padrões com uma multiplicidade de restrições. Urna importante característica é a falta de especialização de sentimento entre os samoa​nos. Eventuais relações sexuais ocorrem sem que haja fortes elos emocionais e sem desaprovação moral, mas lhes falta o componente romântico que é uma característica do amor adolescente de cultura ocidental. Em Samoa "amor e ódio, ciúme e vingança, mágoa e aflição, são todos resolvidos em questão de semanas". (73, p. 132) A disciplina é uma questão de conveniência; não é sistemática. As punições são aplicadas pela ama-seca e não pelos pais. Há um lento aumento na responsabilidade, e assentimento em aceitar deveres de família à medida que a criança se desenvolve. A menina começa a trabalhar aos seis ou sete anos de ida​de tomando conta de seus irmãos menores. À medida que vai crescendo, aprende a tecer com firmeza, a fazer cata-ventos de folhas de palmeira, a quebrar cocos, a limpar a casa e a trazer água do mar, a espalhar a copra, a tecer e cozinhar. O menino, do mesmo modo, aprende a pescar, plantar taro, a transplantar coqueiros, conduzir com perícia uma canoa entre recifes, a descascar cocos e retirar-lhes a castanha. 
Antropologia Cultural e Algumas Questões Teóricas 
É a adolescência um fenômeno biológico ou psicossexual? Os antropólogos culturais consistentemente dão grande importância às diferenças no comportamento humano, nas Instituições sociais, hábitos, mores, rituais, e crenças religiosas em várias sociedades. Subentendida em todas as pesquisas e escritos antropológicos, está a afirmação de que o ambiente no qual a criança nasce, desempenha um papel tremendo no desenvolvimento de sua personalidade. (73) Em outras palavras, os antropólogos culturais acreditam no determinismo cultural. Uma vez que os padrões econômicos, ideológicos e institucionais das sociedades variam grandemente, há justificativa para se falar de relativismo cultural. Um dos objetivos de Benedict é a ajudar a compreender a relatividade nos padrões de cultura. (8) 
Embora os antropólogos culturais salientem o· ambiente cultural e social - os críticos dizem que eles superestimam este fator (4, 16, 90) - eles não negam a influência dos fatores biológicos. Apenas, não dão atenção aos mesmos. Isto pode ser demonstrado pela comparação de Mead entre os adolescentes de sociedades primitivas e em outras mais complexas. "Se deixamos de lado a definição puramente física de maturação e considerarmos a adolescência como um período que se segue à infância e durante o qual o indivíduo se situa na sociedade ficaremos chocados imediatamente pela enorme diferença entre as classificações sociais". (71, p.p. 538-539) Os primeiros trabalhos de Benedict e de Mead deixam de lado os aspectos fisiológicos da pubescência. 
Uma vez que os antropólogos culturais presumem a plasticidade da natureza humana e a importância do ambiente social, segue-se que eles não consideram a pubescência casualmente relacionada com a adolescência. A natureza sooia1 da adolescência é indicada por afirmações tais como: "Em qualquer ponto no qual a sociedade decida acentuar um determinado ajustamento, este será o ponto em que o ajustamento se torna agudo para o indivíduo". (71, p 527) A comparação da adolescência em várias sociedades primitivas demonstra que os problemas dos adolescentes podem ser resolvidos de diferentes maneiras e em diferentes níveis de idade, ou podem até mesmo não existir, Não parece razoável considerar estes problemas inerentes ao desenvolvimento adolescente, (71) Uns poucos exemplos tirados dos trabalhos de Mead e Benedict a respeito de atitudes em várias sociedades, com relação à menstruação, demonstrarão este ponto: 
As tribos indígenas do Norte da Califórnia assumiram a atitude que as moças em fase de menstruação eram perigosas para o povoado porque podiam secar as fontes e assustar a caça. (71) 
Os índios Yuki, no Centro-Norte da Califórnia, acentuavam as vantagens da moça em menstruação; seus rituais eram sempre relacionados com a melhoria das colheitas. Por ficar quieta, a moça menstruada poderia aumenta o suprimento de víveres. Davam maior ênfase aos recursos da sociedade do que à moça individualmente. (71) 
Entre os índios Thompson, a prática de rituais e tabus pela moça em estado de menstruação aumentava as chances dela em ter melhor futuro e uma vida mais feliz. Ela ficava em uma cabana afastada e executava rituais mágicos. (71) 
Nas ilhas Gilbert a moça menstruada foi considerada especialmente propensa à magia inimiga. Sentando-se imóvel e mirando o oeste ela se protegia contra o mal. (71) 
Em Samoa nenhum tabu ou ritual é relacionado com a moça menstruada; as moças não são nem mesmo proibidas de preparar os ali​mentos para as refeições. (71) 
A primeira menstruação em uma índia Apache era considerada una forte bênção sobrenatural. O sacerdote ajoelhava-se diante dela para que, tocando-o, ela o abençoasse... (8) 
Esses exemplos demonstram que a maturidade fisiológica se reconhecia claramente, o é de diferentes maneiras. Os atributos sociais da puberdade fisiológica fazem parte do padrão cultural tradicional. Nos últimos trabalhos de Mead, principalmente em Male and Female (76), verificamos que a posição extrema adotada anteriormente - freqüentemente identificada como sendo o relativismo cultural - sofreu modificações e moderação para incluir alguns aspectos universais do desenvolvimento (Mead prefere denominá-los, "regularidades básicas"), sem modificar substancialmente as conclusões a que chegou em trabalhos anteriores. Esta nova posição poderia ser melhor demonstrada por algumas poucas citações: "existem regularidades básicas de que nenhuma cultura conhecida tem podido escapar". (76, p. 143) "Em todas as sociedades conhecidas, encontramos... alguma manifestação daquilo que os psicanalistas chamam de latência..." (76. p. 109) "A criança não é apenas uma tabula rasa, mas um vigoroso organismo em maturação,com maneiras de se comportar apropriadas à sua idade e resistência. Mas não é um organismo em maturação dentro de uma redoma de vidro..." (76, p. 145) 
O desenvolvimento se processa por estágios ou de forma continua. A resposta a esta pergunta não pode ser dada apenas por duas alternativas opostas, desde que são consideradas possíveis tanto o desenvolvi​mento gradual como o desenvolvimento por estágios, de forma intermitente. 
A questão controversa de estágios versus continuidade é resolvida pela consideração de que o meio ambiente, as instituições sociais, e o padrão específico de condicionamento cultural determinam se o desenvolvimento se faz por estágios ou se é continuo. O ciclo da dependência infantil à independência adulta é "um fato natural e inevitável" (7, p. 142); dessa forma contêm um elemento de descontinuidade. Mas esta transição se processa de formas diferentes em culturas diversas, de forma que nenhuma pode ser considerada natural e universal. Nas culturas ocidentais a sociedade reforça processo de estágios no desenvolvimento através das instituições sociais, organizadas em torno desses estágios - séries escolares, tipos de escolas, e conceito legal e moral do "menor de idade". A transição de um nível de idade ou de escola para o próximo acarreta mudanças já esperadas no comportamento. Estas mudanças são freqüentemente descontínuas por natureza especialmente durante a adolescência, fornecendo apoio à teoria do desenvolvimento por estágios. Por exemplo, não se permite ao jovem de quatorze anos dirigir um automóvel, enquanto se espera freqüentemente que o de dezoito anos o faça. 
Se um rapaz começa a namorar aos dez ou doze anos, é considera​do precoce e os pais ficam preocupados; se aos dezessete ou dezoito ele não namora, os pais se preocupam também. Em Samoa o padrão de desenvolvimento irrestrito, não apressado e não competitivo, permite um desenvolvimento contínuo e gradual sem qualquer "intermitência", e sem quaisquer distúrbios de longo alcance. 
A antropologia cultural questiona a universidade e a validade geral de qualquer teoria de estágios. "As teorias de desenvolvimento por estágios também sofreriam séria revisão se submetidas a testes primitivos. Não apenas as teorias mais grosseiras de tensão e de esforço na puberdade psicológica, ou de um “estágio das coleções” malogram, mas ocorrem ainda muitas variações menores". (77. p. 918) 
Em seus mais recentes escritos, Mead postula que a menstruação constitui uma experiência dramática, uma indicação inquestionável de se haver atingido um novo status social "A primeira menstruação da _ moça marca uma linha divisória entre a infância e a idade adulta". (76, p. 176) Pára o rapaz não há experiência tão especifica, e a sua pubescência é caracterizada por uma longa e lenta série de mudanças do desenvolvimento. 
Como se explicam as diferenças culturais e individuais? Mead afirma que o desenvolvimento da personalidade é "influenciado conjunta​mente por fatores hereditários, culturais e históricos da vida do indivíduo" (74, p. 55) Os antropólogos culturais, apesar de não negarem os fatores hereditários, desprezam-nos em suas considerações teóricas iniciais e não fornecem quaisquer meios para se incorporar a hereditariedade na teoria antropológica. 
A cultura é mais homogênea nas sociedades primitivas; podem-se esperar maiores semelhanças no comportamento dos adolescentes, uma vez que eles têm oportunidades limitadas de fazer escolhas. Seu comportamento pode ser predito mais facilmente do que o dos jovens de uma cidade ocidental moderna, cujas diferenças individuais seriam maiores por causa de: a) heterogeneidade da cultura; b) rapidez nas trans​formações culturais; e c) background cultural e hereditário diversifica​do. Na sociedade primitiva certa formas de comportamento podem ser previstas através do conhecimento do padrão cultural; em uma cidade moderna, o comportamento de um dado indivíduo é menos diretamente condicionado pela cultura total do que pelos padrões subculturais e familiares Isto é melhor compreendido através da abordagem de histórico de caso. 
Certos conjuntos de práticas educacionais se relacionam com padrões de desenvolvimento da personalidade nas sociedades primitivas. (74) Os antropólogos culturais presumem a homogeneidade do padrão educacional de uma determinada sociedade primitiva. Mas os estudos antropológicos demonstraram que grandes diferenças existem entre essas sociedades nos métodos de cuidar da criança, formas de condicionamento cultural, e os tipos de restrições e limitações impostas à juventude. Um determinado padrão cultural, na educação da criança, explica as diferenças interculturais. Mead rejeita a noção psicanalítica inicial de que o desenvolvimento do caráter é determinado por alguns poucos aconteci​mentos importantes na educação da criança, tais como o desmame, treinamento de toalete, hábito de chupar o dedo. Declara que o padrão cultural total e a natureza da interação social - especialmente a continuidade e descontinuidade do condicionamento cultural - são fatores importantes no desenvolvimento da personalidade. (74) Aspectos específicos da educação da criança escolhidos pelos antropólogos para estudo detalhado, em uma dada cultura, não são selecionados porque uma teoria preconcebida presuma que sejam determinantes da personalidade mas sim porque são características importantes e notáveis dessa cultura. Esses importantes padrões na educação da criança podem ser bastante diferentes no processo de socialização de outras sociedades. 
Mead em seu último escrito atribui maior importância à herança biogenética como fator determinante do desenvolvimento humano, do que o havia feito em Coming of Age in Samoa e outras publicações anteriores. A herança biológica como fator de desenvolvimento pode concorrer para uma considerável variação de diferenças inter e intraculturais. Mesmo em grupos altamente endógamos e isolados, com uma grande uniformidade nos padrões de educação das crianças, ela encontrou notáveis "diferenças no físico e temperamento aparente". (76, p. 132) Ainda mais ela considera a hipótese de que os mesmos tipos constitucionais que são encontrados em nossa sociedade podem ser também encontrados - em proporções diferentes - em quase, senão em todas, as sociedades. 
Estimulada pelos estudos do crescimento de Gesell (a serem analisados no Capítulo VIII), Mead comparou e contrastou o padrão e a seqüência do crescimento das crianças balinesas com o padrão que Gesell apresentou para as crianças de New Haven, confirmando algumas de suas descobertas e contestando outras. (80) Ela levanta uma questão teórica acerca da extensão em que os padrões inatos de ·maturação sofrem interferências, alterações, ou recebem apoio dos fatores culturais. Sua resposta parece afastar-se das descobertas anteriores em Samoa: "... quando, no curso do desenvolvimento da criança, surge qualquer alternativa diferente das manifestações de desenvolvimento dos ancestrais mamíferos e do gênero humano, esta alternativa tem sido concebida como uma distorção do ser humano pelas pressões culturais". (72, p. 175) 
Assim como os conceitos psicanalíticos mais recentes se expandiram a fim de incluírem determinantes sociais, a teoria antropológica cultural avançou de uma posição anterior de "relativismo cultural" para uma posição teórica mais ampla que leva em consideração os fatores biogenéticos. Embora as duas escolas de pensamento coloquem a ênfase em diferentes determinantes, elas se tornaram altamente compatíveis e complementares. 
Implicações Educacionais 
Embora o sistema de vida de Samoa contraste profundamente com a vida na América, bem como com a vida nas "civilizações mais primitivas" (73), Mead tira conclusões de longo alcance, com importantes implicações educacionais, de seu estudo daquela cultura. 
Em seus últimos escritos Mead inclui entre os fatores responsáveis pelas dificuldades do adolescente na sociedade americana "as contradições e desigualdade da puberdade física". (79, p. 37) Entretanto, ela acentua osfatores sociais. Desde que certas condições culturais nos Estados Unidos produzem tensão, esforço, ansiedade e instabilidade emocional no adolescente, Mead sugere a modificação de tais condições através do planejamento social. 
Nas complexas sociedades ocidentais, caracterizadas por um rápido índice de mudança social e tecnológica, os adolescentes se confrontam com muitas alternativas. Conseqüentemente, situações-problema envolvendo uma escolha autêntica aparecem mais freqüentemente do que nas sociedades primitivas e a possibilidade de uma escolha inadequada aumenta. As dificuldades do adolescente nas sociedades complexas se relacionam com "a presença de padrões conflitantes e a crença de que cada indivíduo deveria fazer suas próprias escolhas, consoante o sentimento de que a escolha é um assunto importante". (73, p. 154) Este conflito de escolha é facilitado pelo fato de que a puberdade fisiológica ocorre atual_ mente mais cedo· do que no passado e de que um grande número de outras formas de comportamento, - encontros, namoro firme, uso de baton, festas dançantes, etc. - lentamente foram se antecipando para idades mais baixas. Ao mesmo tempo as expectativas de uma educação formal prolongada estão aumentando a tal ponto que hoje, 70% dos pais com filhos em idade escolar esperam que os mesmos entrem para a Universidade. (5) A imitação precoce do comportamento adulto, de um lado, e o aumento do período de educação, de outro, prolongaram a adolescência social e criaram um "padrão de cultura adolescente de massa", caracterizado pela conformidade aos padrões do grupo de companheiros e a não-receptividade aos valores e expectativas parentais. Mead sente que a escola secundária contribuiu para a crescente ansiedade do adolescente com relação ao próprio crescimento e o comportamento sexual adequado. O rapaz de maturação, lenta é especialmente vulnerável à ansiedade neste período. Devido à diferença no ritmo de crescimento entre rapazes e moças, ele é forçado se associar a pessoas do sexo oposto, numa época em que não está preparado psicológica ou fisiologicamente para este tipo de relação. Ao invés de desenvolver profundas amizades pessoais e associações com membros de seu próprio sexo, que o ajudariam a desenvolver sua própria identidade masculina, aprende a desconfiar de seus companheiros do sexo masculino e a considerá-los como competidores no pro​cesso do namoro. Conseqüentemente, rapazes e moças começam muito ce​do a depender demasiadamente um do outro "para companhia social e intelectual". (79, p. 44) Mead sente que essa interação heterossexual imatura e precoce, a que a escola secundária leva o rapaz nela recentemente ingressado, contribui para atitudes negativas e hostilidades entre os sexos. Esta integração prepara "a base para as hostilidades às mulheres por parte dos rapazes e, por parte das moças, a pressão em direção ao casamento, combinada com desprezo pejos homens”. (76. p 38)
A importância que nossa sociedade dá aos planos de compras a prestação, ao consumo visível e ao sucesso vocacional precoce ocasionou uma mudança básica de atitude, do economizar dinheiro, adiar desejos e buscar objetivos de longo alcance, para uma acentuação do consumo imediato e satisfação de prazeres que o presente propicia Esta mudança para o consumo imediato de mercadorias foi acompanhada por uma mudança semelhante na atitude com relação ao sexo. Isto leva o rapaz adolescente, em que os desejos sexuais são fortes, mas que ainda não aprendeu a controlá-los, a uma crescente procura de satisfação. O desejo de satisfação imediata do sexo leva-o ao conflito com os valores morais da sociedade. Ela pode satisfazer seu desejo através do casamento (ainda a única forma moral admitida para se conseguir a satisfação sexual), mas o casamento muito cedo entrará em conflito com a continuação de sua educação. Os pais estão freqüentemente dispostos a "financiar" ou "subsidiar" o casamento precoce de seus filhos, trans​formando assim a independência, prematuramente adquirida em um setor, em causa de dependência na esfera econômica. Mead conclui por hipótese que a domesticidade prematura pode impedir o desenvolvimento integral das "capacidades mentais superiores" em ambos os sexos. Um estudante precisa explorar o mundo, estimular sua curiosidade e descobrir quem é; o compromisso emocional e a domesticidade de um casamento precoce podem inibir o desejo de provar, explorar, discutir, pesar e repudiar idéias, sendo que a maturidade intelectual resulta de tais processos. O interesse principal do estudante casado torna-se "passar", "estabelecer-se" e não pesquisar visando ao conhecimento. 
Com Erikson e outros escritores contemporâneos (18), Mead afirma que a tarefa principal que os adolescentes de hoje encaram é a pro​cura de uma identidade significativa. Esta tarefa é imensuravelmente mais difícil em uma sociedade democrática moderna do que numa sociedade primitiva. O comportamento e os valores dos pais não mais constituem o modelo, uma vez que estão fora de moda, se comparados com os modelos fornecidos pela "mace media". Além disso, o adolescente em processo de autolibertação da dependência parental é não apenas indiferente, mas freqüentemente antagônico ao sistema de valores deles. Desde que se lhe ensinou a avaliar seu comportamento comparando-o com o de seus companheiros de idade, ele passa a desprezar o sistema de valores de seus pais e o troca pelo de seus colegas. A rapidez na mudança social, a exposição aos vários sistemas de valores seculares e religiosos, e a moderna tecnologia fazem o mundo parecer ao adolescente muito complexo, muito relativista, muito imprevisível e muito ambíguo para fornecer-lhe uma estrutura de referência estável. No passado houve um período que tanto Erikson como Mead chamaram de "moratória psicológica", um período do "como se" durante o qual a juventude podia fazer tentativas sem que se lhe exigisse sucesso e sem conseqüências emocionais, econômicas ou sociais A perda de tal período de experimentação sem compromissos durante o qual a juventude pode encontrar-se a si mesma, torna difícil estabelecer a identidade do ego. Como substituto da identidade psicológica a juventude utiliza-se de símbolos dos grupos de companheiros para estabelecer uma semi-identidade por meio de roupas especiais, linguagem própria, e atitudes especiais para com o mundo; no passado estes eram os símbolos de identidade de grupos economicamente desfavorecidos e/ou semicriminosos. Ate mesmo a educação tornou-se funcional e o "sucesso" orientado. Conseqüentemente os objetivos e valores dos adolescentes são dirigidos para o sucesso, a segurança, a gratificação imediata dos desejos, conformidade e aceitação social com pouco campo para experimentação, idealismo, utopismo e martírio pessoal. "O fracasso em adotar o nosso sistema educacional e social... pode ser o responsável por alguns dos seguintes fenômenos: senso de auto-alienação, pro​cura de identidades negativas, etc., características da juventude atual". (79, p 49) 
Mead discute a possibilidade de uma "volta à natureza" no sentido rousseauniano, mas rejeita-a porque pressupõe uma mudança total de nossa estrutura social e de nosso modo de vida. Também rejeita a volta às formas mais primitivas de vida como solução para um determinado caso. Por exemplo, as crianças samoanas assistem, sem qualquer efeito negativo, à reprodução nascimento, e morte. Se um pai americano desse a seus filhos oportunidades semelhantes provavelmente prejudicaria mais do que ajudaria uma vez que nossa sociedade considera estas experiências antinaturais e feias para as crianças. 
Entretanto, Mead advoga maior liberdade e menos ênfase na conformidade à família ao grupo de companheiros e perspectivas comunitárias de forma que o adolescente possa realizar o seu potencial criativo. "Podemos tentar alterar inteiramente nossa cultura e especialmente nossos padrões na educação da criança, de forma a incorporar neles maior variedade de expectativas e maior liberdade para variações". (80, p. 185) Esta alteraçãopode ser alcançada por uma combinação de liberdade e treinamento na prática educacional, que se baseiam tanto na compreensão da "psicodinâmica da maturação" dos estudantes quanto em discernimento adequado dos padrões culturais. 
Mead critica a família americana por sua organização muito fecha​da e seu efeito prejudicial na vida emocional da juventude em crescimento. Acredita que liames familiares muito fortes dificultam a capacidade do indivíduo de viver sua própria vida e fazer suas próprias escolhas. Sugere que "seria desejável mitigar, pelo menos em parte, a forte atuação dos pais na vida de seus filhos e assim e1iminar um dos fatores acidentais mais poderosos nas escolhas vitais de qualquer indivíduo". (73, p, 141) Entretanto, apesar de desaprovar o padrão da família americana, que produz a conformidade e dependência dos filhos, considera a família uma instituição vigorosa e demonstra que é quase universal. Não conhece meio melhor de se formar indivíduos íntegros se não através de um sistema familiar tolerante "no qual o pai diz "sim" e a mãe diz "não" para as mesmas coisas" (78, p, 330) e no qual o adolescente pode ter opiniões contrárias às de seus, pais sem perda de amor, respeito mútuo, ou sem aumentar as tensões emocionais. 
O fazer escolhas é um aspecto importante do crescimento na América, especialmente naquele período em que as necessidades sexuais co​meçam a desempenhar um papel mais importante. O adolescente se confrontará, de forma crescente, com escolhas conflitantes, no campo sexual ou em outros. Esta situação de opção é complicada por uma falta de princípios sociais na sociedade americana. Conseqüentemente, muitas situações de opção produzem ansiedade durante a adolescência. Para re​solver este dilema, um esforço educacional especial deve ser feito a fim de treinar as crianças e adolescentes para as escolhas que terão de fazer: “As crianças devem aprender como pensar, e não o que pensar”. (73, p. 161) Mead pede que se dê maior ênfase à higiene mental e física nas escolas. 
Finalmente, as implicações educacionais que podem ser tiradas da teoria de Benedict a respeito das continuidades e descontinuidades no condicionamento cultural são bastante óbvias: nossas práticas educacionais na família e na escola deveriam acentuar a continuidade, de forma que a criança se condicionasse na infância, ao mesmo conjunto de valores e comportamento que dela se espera na idade adulta, A criança não deveria aprender nada que tivesse de desaprender para se tornar um adulto maduro, Inculcar esta idéia na sociedade atual é obviamente difícil. 
Leta Hollingworth: 
Importância da Continuidade no Desenvolvimento 
Leta Hollingworth (1886-1939) desenvolveu uma teoria de desenvolvimento na adolescência que se tornou bastante influente, especialmente nos Estados Unidos, em seu livro The Psychology of the Adolescent. (47) Foi ainda mais vigorosa do que Mead e Benedict no rebate à idéia de Hall de que a adolescência é um período de tempestade e tensão inevitáveis, Rejeitou o trabalho de Hall como sendo de pouco valor científico e pra​tico. Por outro lado, Hollingworth foi fortemente influenciada por trabalhos mais recentes de antropologias culturais como o demonstra o capitulo sobre "Os Rituais Pubertários", em seu livro. Hollingworth acentuou a idéia da continuidade no desenvolvimento e a gradualidade das mudanças durante o período adolescente. "A criança cresce, por graus imperceptíveis, da infância para a adolescência e o adolescente se torna adulto por graus". (47, p. 1) Isto desafiou a idéia de que existem estágios distintos e profundas linhas divisórias entre as diferentes "épocas", "estágios" e "fases de desenvolvimento". O conceito de continuidade de Hollingworth no crescimento e desenvolvimento está em contraste com as asserções de Rousseau e Hall de que a adolescência é um novo nasci​mento. HalI dissera que, durante a adolescência, o desenvolvimento é mais "intermitente"; funções novas, e que não existiam anteriormente, surgem, enquanto outras funções psíquicas sofrem reconstrução, e "cada característica e faculdade está sujeita ao exagero e ao excesso”. (41, pp. XIII-XIV) Uma citação de Hollingworth pode esclarecer a dicotomia entre o seu ponto de vista e o de Hall. Falando a respeito do pré-pubescente, Hollingworth lança a idéia de que: 
"... a moça pubescente ou o rapaz de treze ou quatorze anos se desenvolvem por graus imperceptíveis; e assim, por uma gradação ainda muito moderada, embora de algum modo, mais evidente, o crescimento total é alcançado, até termos finalmente o ser humano adulto e maduro... A qualidade do organismo é uma constante, que está presente desde o começo até o fim da vida do indivíduo... Este mito largamente divulgado de que cada criança é trocada*, tornando-se puberdade uma personalidade diferente, é sem dúvida uma remanescência do folclore de um cerimonial de renascimento, que constituía uma iniciação formal de nossos ancestrais selvagens à idade adulta do homem e da mulher". (47, pp. 16-17) 
Ela afirmou que uma mudança repentina no status social, que resulta dos ritos de iniciação da puberdade e das cerimônias dos povos primitivos, tornou-se confusa com as mudanças biológicas do desenvolvi​mento orgânico. Em sua posição um tanto quanto extrema, afirmou que não há ligação entre as mudanças biológicas e as mudanças de status social, que atribuiu às instituições sociais e às cerimônias.
E interessante notar a diferença entre a idéia de Hollingworth sobre o desenvolvimento e a dos antropologistas culturais. Hollingworth considerou o desenvolvimento como sendo gradual e contínuo e rejeitou como folclore e mito a idéia de tempestade e tensão e a mudança de personalidade durante a adolescência. Benedict, apesar e ter sustentado que o desenvolvimento é gradual e contínuo por natureza, se não for sujeito à interferência, advogou que os estágios podem ser culturalmente induzi​dos por descontinuidades nos métodos de educação das crianças e na pratica educacional. Benedict objetou que os estágios de desenvolvimento são devidos a padrões específicos da cultura americana e não são universais, como, algumas das teorias mais antigas de desenvolvimento por estágios, haviam proclamado. Mead, concordando com Benedict, assevera que "o adolescente da América sofre o mais alto ponto de pressão e de dificuldade, da mesma forma que um outro conjunto de forças o coloca no mais baixo ponto e pressão em Samoa". (71, p. 538)
Outras teorias debatem o ponto de vista defendido por Hollingworth. Allport desafia a idéia de continuidade no desenvolvimento e a acusa de incorrer no erro de subestimar a freqüência com que alterações radicais da personalidade ocorrem no período de "Sturm und Drang". (1, p. 209), Spranger já sugerira anteriormente que existem três padrões diferentes no ritmo de desenvolvimento que podem acompanhar a pubescência em diferentes indivíduos e presumivelmente em diferentes sociedades. No primeiro desses padrões de desenvolvimento, o período adolescente é caracterizado pela instabilidade e o distúrbio, que correspondem ao conceito de "tempestade e tensão" de Hall. No segundo padrão o adolescente não experimenta um período de "tempestade e tensão", mas antes, um desenvolvimento contínuo e não perturbado de sua personalidade interiorizada e de seu mundo social. No terceiro padrão o desenvolvimento ocorre aos jorros, mas o adolescente luta por importantes objetivos de vida e é capaz de guiar-se a si mesmo, contribuindo destarte ativamente para o seu próprio crescimento.
MUUSS, Rolf E. Teorias da Adolescência. Belo Horizonte/MG: 1986
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