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1 Prof. Paulo Seixas Eficiência Energética Aula 6 Conversa Inicial Estamos nos últimos capítulos de nosso curso, espero que tenha sido claro nos contextos aqui apresentados Os assuntos são muito extensos e, se fôssemos nos estender, ficaríamos por horas debatendo sobre como melhorar nossos ambientes de trabalho, como em serviços de refrigeração, ares-condicionados, iluminação e melhorias de energia – nos quais entram desde a fiação até a investigação dos gastos nas faturas de energia Agora partiremos para o gerenciamento, suas ferramentas, a demanda de energia e o plano integrado de recursos, além de um exemplo prático ocorrido na indústria nacional Gerenciamento energético O gerenciamento energético no setor industrial ou comercial passou a fazer parte dos custos gerenciáveis das empresas, por se tratar de um custo competitivo, que pode ser administrado 2 A eficiência energética está ligada aos conceitos de engenharia, economia e administração em prol dos sistemas energéticos. É com base nesses conhecimentos técnicos que podem ser definidos os objetivos e as ações a serem tomadas para a melhoria de desempenho e redução de perdas nos diversos processos da empresa A gestão energética está sujeita a restrições financeiras e disponibilidades de recursos, como todas as outras gestões. Porém, nesta, há a necessidade de pessoas treinadas, materiais, ferramentas e metodologias, o que envolve os aspectos tecnológicos exigidos, além de diversas áreas de conhecimento A gestão energética deve passar sempre por uma reavaliação para otimização de sua matriz energética, estabelecendo estratégias de curto, médio e longo prazos para aquisição e autoprodução de energia elétrica, além de viabilizar o combustível energético mais apropriado, que pode ser óleo combustível, gás natural (GN), GLP, lenha etc. Criada pelo Decreto n. 99.656/1990 Deve estar presente em cada estabelecimento pertencente a órgão ou entidade da Administração Federal direta e indireta, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista controladas direta ou indiretamente pela União (...) CICE – Comissão Interna de Conservação de Energia (...) que apresente consumo anual de energia elétrica superior a 600.000 KWh (seiscentos mil quilowatts hora) ou consumo anual de combustível superior a 15 teps (quinze toneladas equivalentes de petróleo) Levantar o potencial de redução de despesas com energia, para o que poderá solicitar o suporte técnico do Grupo Executivo do Programa Nacional de Racionalização da Produção e Uso de Energia (Gere), instituído pelo Decreto n. 99.250/1990, e do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel) (...) CICE - Atribuições 3 (...) instituído pela Portaria Interministerial n. 1.877/1985, dos extintos Ministérios das Minas e Energia e da Indústria e do Comércio, quando se tratar de energia elétrica Elaborar o Programa de Conservação de Energia, com suas metas e justificativas para se alcançar a redução de consumo, submetendo-o ao dirigente máximo do órgão ou entidade, e divulgá-lo após sua aprovação Empreender ações visando conscientizar e envolver todos os servidores no Programa de Conservação de Energia CICE - Atribuições Participar da elaboração das especificações técnicas para projetos, construção e aquisição de bens e serviços, bem como das consequentes licitações que envolvam consumo de energia Manter permanente análise dos consumos de energéticos por intermédio das cópias dos comprovantes de pagamentos que lhe serão encaminhadas pelo setor responsável CICE - Atribuições Calcular os consumos específicos dos diferentes energéticos e submetê-los ao Gere, que estabelecerá índices máximos de consumo a serem respeitados Participar da elaboração do Programa de Manutenção Preventiva, visando à otimização do consumo de energéticos Promover avaliação anual dos resultados obtidos e propor programa para o ano subsequente CICE - Atribuições Demanda contratada: demanda de potência ativa obrigatória e continuamente disponibilizada pela distribuidora, no ponto de entrega, conforme valor e período de vigência fixados em contrato, e que deve ser integralmente paga, seja ou não utilizada durante o período de faturamento. É expressa em quilowatts (kW) Resolução Normativa n. 414/2010 Fator de potência: razão entre a energia elétrica ativa e a raiz quadrada da soma dos quadrados das energias elétricas ativa e reativa, consumidas em um mesmo período especificado Resolução normativa n. 414/2010 4 Horário de ponta: período composto por 3 horas diárias consecutivas definidas pela distribuidora considerando a curva de carga de seu sistema elétrico, aprovado pela ANEEL para toda a área de concessão, com exceção feita aos sábados, domingos, terça-feira de carnaval, sexta-feira da Paixão, Corpus Christi e os seguintes feriados Dia e mês Feriados nacionais Leis federais 01 de janeiro Confraternização Universal 10.607, de 19/12/2002 21 de abril Tiradentes 01 de maio Dia do Trabalho 07 de setembro Independência 12 de outubro Nossa Senhora Aparecida 6.802. de 30/06/1980 02 de novembro Finados 10.607, de 19/12/200215 de novembro Proclamação da República 25 de dezembro Natal Resolução Normativa n. 414/2010 Essa resolução fixa o fator de potência de referência “fR”, indutivo ou capacitivo, como limite mínimo permitido, para as unidades consumidoras do grupo A, o valor de 0,92 (...) Resolução Normativa n. 414/2010 Aos montantes de energia elétrica e demanda de potência reativos que excederem o limite permitido aplicam-se as cobranças estabelecidas nessa resolução, explicando-se bem os cálculos para se chegar a essas cobranças, que serão adicionadas ao faturamento regular de unidades consumidoras do grupo A, incluídas aquelas que optarem por faturamento com aplicação da tarifa do grupo B Ferramentas de gerenciamento energético Existem várias ferramentas que podem ser utilizadas para o gerenciamento de energia Temos o diagrama de Sankey, o diagrama de Pareto, o diagrama de Ishikawa, o diagrama de controle e a medição e verificação São fortemente utilizados nos processos de produção, em que as falhas são elencadas 5 Apresentado no diagnóstico energético, é um tipo específico de fluxograma no qual a largura das setas é proporcional à quantidade do fluxo Nele, visualizamos a energia, o custo ou a transferência de materiais entre processos, por setas diferenciadas Diagrama de Sankey A Análise de Pareto é um método simples e muito poderoso para o gerente, pois o ajuda a classificar e priorizar os seus problemas. Existem poucos itens vitais e muitos itens triviais. O Princípio de Pareto é uma técnica universal para separar os problemas em duas fases: os poucos vitais e os muito triviais Diagrama de Pareto 35,0 55,0 73,0 83,0 91,0 98,0 100,0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 200000 400000 600000 800000 1000000 % R$/ano Estrutura, custos e eletricidade – Área de fornos O diagrama de causa e efeito, também conhecido como diagrama espinha de peixe ou pelo nome de seu idealizador, Ishikawa, foi desenvolvido em 1943 para representar a relação entre um efeito e todas as possibilidades de causas Diagrama de Ishikawa É uma ferramenta utilizada por diversos setores e empresas para o gerenciamento energético e de controle de qualidade, pois estabelece relacionamentos entre as opiniões levantadas em brainstorming ou outra forma de levantamento de dados Diagrama de Ishikawa Grupo de Causas A Grupo de Causas B Grupo de Causas C Causa Causa Causa Causa Causa Causa Causa Causa Causa Grupo de Causas D Grupo de Causas E Grupo de Causas F Problema 6 Controle estatístico do processo é um sistema de monitoramento da qualidade, com o objetivo de verificar a presença de causas especiais A principal ferramenta do CEP são os gráficos de controle. Esses gráficos fornecem um sinal sempre que há a presença de causas especiais(falhas operacionais, que podem causar uma ultrapassagem de demanda, por exemplo), orientando as ações de melhoria Gráfico de controle Pontos fora dos limites de controle indicam a presença de falhas operacionais 20 25 30 35 40 Amostra As estratégias de M&V estão na fase da auditoria energética, quando são identificados os principais sistemas consumidores. Cinco estratégias se sobressaem Medição e Verificação (M&V) Identificação das variáveis independentes: clima, produção, ocupação etc., que podem gerar uma variação da energia e como elas poderão ser medidas e consideradas Identificação dos limites de medição: onde será feita a monitoração e até onde ela surtirá seus efeitos de eficiência energética Escolher qual a opção do Protocolo Internacional de Medição e Verificação (opções A, B, C ou D) que utilizaremos para verificar a economia de energia Definir o modelo do consumo da linha de base: em geral, uma análise de regressão entre o consumo de energia e as variáveis independentes Medição e verificação (M&V) Definir como serão calculadas as economias de energia e a redução das demandas de ponta e fora de ponta 7 Gerenciamento pelo lado da demanda Para o Projeto de Eficiência Energética Gerenciado pelo Lado da Demanda (GLD), aplica-se a mesma metodologia do Manual da ANEEL, segundo a qual os custos evitados dos clientes são calculados pela precificação da energia economizada e da demanda retirada na ponta pelas tarifas vigentes ao consumidor O gerenciamento pelo lado da demanda tem como objetivo reduzir consumo ou custos para a geração, transmissão e distribuição de energia utilizando diversas estratégias, como gerenciamento de carga, conservação de energia estratégica, geração de energia pelo lado do consumidor, entre outras Gerenciamento pelo lado da demanda Com a aplicação do GLD, é possível um uso mais eficaz dos recursos existentes, incluindo os ambientais, tornando possível postergar ou até mesmo cancelar a construção de novas usinas geradoras de energia elétrica e sua infraestrutura de transmissão Gerenciamento pelo lado da demanda As ações de GLD que interferem diretamente no uso da energia com restrições de carga e tarifas diferenciadas são basicamente três técnicas mundialmente aplicadas na implementação de programas que tenham como meta a melhoria da utilização de recursos energéticos Gerenciamento pelo método direto Gerenciamento pelo método indireto Gerenciamento pelo método incentivado Método direto, indireto e incentivado Para o aumento da eficiência energética com o GLD, considerando-se o gerenciamento de cargas, pode-se destacar as seguintes técnicas Gerenciamento pelo método direto 8 Redução do pico, onde retiram-se equipamentos de maior consumo dos horários de pico de consumo Preenchimento dos vales, que liga equipamentos em horário de baixo consumo geral Mudanças de carga, onde se evita que muitos equipamentos sejam utilizados simultaneamente Medidas de Eficiência energética Conservação estratégica, na qual a demanda é diminuída em todos os períodos; é obtida por meio do aumento da eficiência do uso de energia ou da mudança no padrão de uso Medidas de eficiência energética Crescimento estratégico da carga é a mudança efetuada na curva de carga devido ao aumento de uso da energia elétrica em lugar de outra energia, melhorando a produtividade dos consumidores Curva de carga flexível: podem existir contratos e tarifas específicas com a possibilidade do uso flexível dos equipamentos de consumidores Método baseado em tarifas específicas para cada grupo de consumidores. Os consumidores são beneficiados por novas tarifas e modulam suas cargas voluntariamente para períodos nos quais os preços da energia são mais baratos Gerenciamento pelo método indireto da demanda O resultado do controle interno de carga indireto é a redução da demanda na ponta em um primeiro momento, seguido do aumento de faturamento visto que tarifas apropriadas criam novas necessidades e levam a um aumento do consumo fora do horário de pico No método incentivado, aplica-se o controle de carga diretamente associado à tarifa atual Com a multitarifação, o consumidor pode variar a utilização de seus equipamentos para fora dos horários de ponta, utilizando cargas mais elevadas em horários fora de ponta, pagando tarifas menores; somente as máquinas essenciais serão utilizadas nos horários de ponta, em que há um incremento tarifário Gerenciamento pelo método incentivado 9 A Resolução Normativa n. 414 define horário de ponta como sendo o período composto por três horas diárias consecutivas definidas pela concessionária Com isso, a concessionária pode estabelecer restrições de uso nesses horários. Nos horários fora de ponta, a concessionária possibilita tarifas menores de uso Gerenciamento pelo método incentivado Sistema de compensação de energia elétrica – Net Metering Créditos: Thyago Macson Planejamento integrado de recursos As estratégias para produção, transmissão, distribuição e uso da energia têm um papel enorme na busca de desenvolvimento sustentável. É necessário que a metodologia e técnicas de planejamento do setor elétrico sejam aperfeiçoadas para incorporar, enfatizar alternativas e permitir participação de outros meios envolvidos de uma forma ou outra no processo Planejamento Integrado de Recursos (PIR) Hoje, a preocupação é a busca do uso racional e eficiente de recursos, considerando as opções, do lado da oferta (suprimento) e da demanda (uso final) Neste sentido, o complexo e dinâmico enfoque em torno da eletricidade implica uma abordagem mediante um Planejamento Integrado de Recursos (PIR) Planejamento Integrado de Recursos (PIR) O planejamento do setor elétrico moderno necessita contemplar múltiplos objetivos econômicos, sociais e ambientais. Requer, para tanto, a aplicação de um processo de planejamento mais complexo que integre esses objetivos quase sempre conflitantes e, ao mesmo tempo, considere a utilização dos recursos energéticos alternativos e convencionais o mais amplamente possível 10 Fora do setor elétrico, o PIR pode, por exemplo, exercer, também, seu papel na indicação das melhores alternativas de planejamento da produção de derivados de petróleo. Afinal, hoje, no setor de transporte rodoviário (coletivo e individual), há a opção de escolha entre um veículo de combustão interna, um elétrico ou, ainda, um híbrido. Desse modo, cada vez mais a fonte fóssil petróleo integra-se ao setor elétrico, concorrendo para o mesmo uso final A implementação de medidas de eficiência energética via GLD é a mudança mais comum que se verifica com o uso do PIR. Entretanto, a estrutura de planejamento necessária para as atividades do PIR é projetada para acomodar não só opções de gerenciamento de carga e eficiência nos usos finais, mas, também, medidas de eficiência do lado da oferta, produção independente, geração elétrica convencional e opções de distribuição O PIR pode ser particularmente apropriado para países em desenvolvimento, onde sempre existem severas restrições ao capital e um potencial para redução de demanda ainda não explorado Considerações ambientais representam hoje um papel maior nas decisões de planejamento nesses países, e essas características também podem ser captadas na estrutura do PIR Exemplo de estudos de caso Este caso necessita de atuação para o aumento de eficiência em sistemas de ar comprimido. Foi realizado um estudo na Sociedade Michelin de Participações, Indústria e Comércio Ltda., que é uma empresa do ramo de fabricação de pneus localizada em Itatiaia/RJ Gerenciamento do ar comprimido na Michelin A primeira parte a ser feita foi o estudo da conta do cliente: bandeiras tarifárias. No caso, a tarifa era Horo-Sazonal Azul, Subgrupo A2. As demandas contratadas são de 22.000 kW para fora de ponta e 20.000 kW para ohorário de ponta 11 Para se conseguir a eficiência no sistema de ar comprimido, foi monitorada a demanda de ar, observando-se os equipamentos e as linhas que conduziam o ar comprimido. Ali foram identificados pontos de vazamento, foi verificado que a pressão de trabalho dos compressores estava alta, onde esta foi reduzida em vários pontos Metodologia para implantação do projeto Com essa atitude de estanqueidade dos vazamentos, diminuíram as perdas nas linhas e, com a diminuição dessas perdas e uma redução ainda maior de pressão na tubulação para garantir a pressão necessária aos equipamentos, tem-se como consequência a economia de energia elétrica nesses setores Metodologia para implantação do projeto Parcerias com empresas terceirizadas são bem-vindas para esses procedimentos apontados de medição e regularização das falhas por vazamentos e sobre pressões A eliminação de vazamentos de ar comprimido é uma das primeiras ações a serem feitas, pois tem baixo custo e traz retorno imediato no consumo de energia. Dessa maneira, para manter os bons resultados, é necessária uma monitoração constante, visando manter o nível de vazamentos baixo, dentro de uma faixa aceitável Detalhes da implementação Essas correções podem ser feitas durante as paradas de produção (Natal, Ano-Novo e carnaval), ou em paradas para retrofit (reforma de algumas unidades da fábrica). No caso, foram realizadas nas paradas normais, quando foram feitos os testes de estanqueidade nas linhas dos principais consumidores de energia, para levantar o percentual de vazamentos por área Detalhes da implementação O ganho obtido na contenção dos vazamentos foi utilizado para o pagamento dos custos de mão de obra da terceirizada para a viabilização dos serviços 12 As máquinas trefiladoras úmidas passaram por um ajuste. Foram instaladas válvulas reguladoras de pressão, que podem abaixar a pressão de trabalho dos 8 bar para os 6 bar em seu circuito pneumático Detalhes da implementação Somente com essas reduções de pressão, sem conter todos os vazamentos, constatou- se uma redução de consumo de 26%. Foi feito um teste de estanqueidade nas linhas, no qual foi constatado um vazamento de 113 m³/h, a um custo de R$ 28,00 cada 1.000 m³, trabalhando-se intermitentemente. A perda em vazamentos, por dia era de R$ 76,00 Neste estudo feito na Michelin, houve redução de perdas por vazamentos com a substituição de válvulas do sistema de ar comprimido e, na parte elétrica, houve a substituição dos controles, proporcionando uma economia expressiva de ar comprimido, deixando os equipamentos mais úteis em outras áreas que apresentavam maior demanda, gerando economia de energia Resultados e benefícios alcançados